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ARQUIDOCESE DE NATAL
SEMINÁRIO DE SÃO PEDRO
FACULDADE DOM HEITOR SALES
INTRODUÇÃO
A SAGRADA ESCRITURA
A INTERPRETAÇÃO
DA BÍBLIA NA IGRAJA
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA
Jecione da Silva Melo
Natal, 21 de junho de 2012
A INTERPRETAÇÃO
DA BÍBLIA NA IGRAJA
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA
O estudo da Bíblia e como a alma da Teologia, assim diz o
Vaticano II referindo-se a uma palavra do papa Leão XIII. Este
estudo já mais chega ao fim; cada época deverá de um modo novo e
próprio, procurar compreender os Livros sagrados. Tudo o que limita
nosso horizonte e nos impede de olhar e escutar o que está para
além do meramente humano deve ser rompido. Este documento nos
presenteou com uma síntese, que permanece determinante
constituída pelas intuições perenes da teologia dos santos Padres e
pelos novos conhecimentos metodológicos modernos. A Palavra
divina é Palavra eterna, que é contemporânea a qualquer época. A
palavra bíblica provém de um passado real, mas não somente
passado, porém igualmente da eternidade de Deus. Ela nos introduz
na eternidade divina, ao qual pertencem o passado, o presente e o
futuro.
JOSEPH CARDEAL RATZINGER
O problema da interpretação da Bíblia não é uma interpretação
moderna como algumas vezes ser quer crer. A Bíblia mesmo que sua
interpretação apresenta dificuldades. Ao lado de textos límpidos, ela
comporta passagens obscuras. O problema é, portanto, antigo, mas
ele se acentuou com o desenrolar do tempo. Por isso que o método
histórico-científico é o método indispensável para o estudo científico
do sentido dos textos antigos. Mas nenhum método científico para o
estudo da Bíblia está à altura de corresponder à riqueza total dos
textos bíblicos. Qualquer que seja a sua validade, o método histórico-
científico não pode pretender ser suficiente a tudo. Por isso que é
necessário também a análise retórica, a análise narrativa, a análise
semiótica que por sua vez estuda os princípios e os níveis da
aprendizagem bíblica.
As abordagens diferenciam do método histórico-crítico, mas da
maior unidade interna dos textos. Uma delas é a abordagem baseada
na Tradição. Tendo em vista que a Bíblia não se apresenta como
conjunto de textos desprovidos de relações entre si, mas como um
composto de testemunhos de uma mesma e grande Tradição.
Abordagem canônica entende por bem conduzir uma tarefa
teológica de interpretação partindo do quadro específico da fé: a
Bíblia em seu conjunto. Ela interpreta cada texto bíblico à luz do
Cânon das Escrituras, da Bíblia enquanto recebida como norma de fé
por uma comunidade de fiéis. Já as abordagens através das ciências
humanas acredita que para comunicar a Palavra de Deus traçou um
caminho através dos condicionamentos psicológicos das diversas
pessoas que compuseram os escritos bíblicos. A abordagem
sociológica vê uma união nos textos bíblicos como uma conexão de
relação recíproca com as sociedades nas quais eles nascem.
Abordagem através da antropologia cultural, pois procura definir as
características dos diferentes tipos de homens no ambiente social.
As abordagens textuais são sempre dependentes das
mentalidades e das preocupações de seus leitores. Convém que eles
o façam com discernimentos. Nestes aspectos se destacam algumas
abordagens, dentre elas a teologia da libertação, movimento
teológico que teve início nos anos 70, a partir das circunstâncias
econômicas, sociais e políticas. A abordagem feminista que nasceu
por volta do fim do século XIX nos Estados Unidos como comitê de
revisão da Bíblia. A unidade delas provém do tema comum, isto é, a
libertação da mulher e a conquista de direitos iguais aos homens.
A leitura fundamentalista. Teve início com a reforma, com uma
preocupação de fidelidade ao sentido literal da Escritura. Se bem que
o em alguns aspectos o fundamentalismo tem razão em insistir sobre
a inspiração divina na Bíblia. O problema dessa leitura é a recusa em
levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica. Neste
meio não se deve confundir o sentido literal e o “literalismo” ao qual
aderem os fundamentalistas. O sentido literal é indispensável para
definir o sentido preciso dos textos tais como foram produzidos por
seus autores. Ou seja, é aquele que foi expresso diretamente pelos
autores humanos inspirados.
CARACTERÍSTICAS DA INTERPRETAÇÃO CATÓLICA
A exegese católica não procura se diferenciar por um método
científico particular. Ela reconhece que um dos aspectos dos textos
bíblicos é o de ser a obra dos autores humanos. Todos os métodos e
abordagem científicas permitem melhor compreender o sentido dos
textos no contexto linguístico, literal, sociocultural, religioso e
histórico. O que a caracteriza é que ela se situa conscientemente na
tradição viva da Igreja, cuja primeira preocupação é a fidelidade à
revelação atestada pela Bíblia. Sua interpretação encontra-se, assim,
em continuidade com o dinamismo da interpretação que se manifesta
no interior da própria Bíblia e que se prolonga em seguida na vida da
Igreja.
Os autores do Novo Testamento reconhecem no Antigo um
valor de revelação divina. Eles proclamam que esta revelação
encontrou sua realização na vida, no ensinamento e, sobretudo na
morte e ressurreição de Jesus Cristo, fonte de perdão e de vida
eterna. As relações não são de simples correspondência material,
mas de iluminação recíproca e de progresso dialético.
Os primeiros discípulos de Jesus sabiam que não estavam à
altura de compreender imediatamente em todos os seus aspectos a
totalidade do que tinha recebido. Com perseverança de um
aprofundamento e de uma explicitação progressiva da revelação
recebida, eles reconheciam nisso a influência e a ação do “Espírito da
verdade”, que Cristo lhes havia prometido para guiá-los em direção à
plenitude da verdade.
Guiada pelo Espírito Santo à luz da Tradição, a Igreja discerniu os
escritos que devem ser olhados como santa Escritura “tendo sido
escrito sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus por autor. O
discernimento de um “cânon” das Escrituras foi a conclusão e longo
processo.
Discernindo o Cânon das escrituras, a Igreja discernia a definia
sua própria identidade, de maneira que as escrituras são doravante
um espelho no qual a Igreja pode constantemente redescobrir sua
identidade. Os Padres da Igreja, que tiveram um papel particular no
processo de formação do Cânon, tiveram igualmente um papel
fundador em relação à tradição viva que sem cessar acompanha e
guia a leitura e interpretação que a Igreja faz das Escrituras. Nos
Padres da Igreja, a leitura da Escritura e sua interpretação ocupam
lugar considerável. Isto é, as homilias e os comentários, mas também
as obras de controvérsia e de teologia. Os Padres consideram Bíblia
antes de tudo como Livro de Deus, obra única de um único autor.
Preocupados antes de tudo em viver da Bíblia, os Padres contentam-
se muitas vezes em utilizar o texto bíblico mais comum no meio
deles. Os Padres da Igreja praticam de maneira mais ou menos
frequente o método alegórico a fim de dissipar o escândalo que
poderia ser provado em certos cristãos.
A tarefa dos exegetas por sua vez, comporta vários aspectos. É
uma tarefa da Igreja, pois ela consiste em estudar e explicar a santa
Escritura de maneira a colocar todas as riquezas à disposição dos
pastores e dos fiéis. Os exegetas têm também de explicar o alcance
cristológico, canônico e eclesial dos escritos bíblicos. Os exegetas
devem explicar também a relação que existe entre a Bíblia e a Igreja,
pelo fato de que a Bíblia exprime uma oferta de salvação apresentada
por Deus a todos os homens, a tarefa dos exegetas.
Tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo
assim não lhes pertence como um monopólio, pois na Igreja essa
interpretação apresenta aspectos que vão além da análise científica
dos textos. Essa convicção de fé tem como consequência a prática da
atualização e da inculturação da mensagem bíblica. Assim, desde os
primórdiosda Igreja, a leitura das Escrituras foi integrante da liturgia
cristã, por um lado herdeiro da liturgia sinagogal. A liturgia da
palavra é um elemento decisivo na celebração de cada um dos
sacramentos da Igreja. Ela não consiste numa simples sucessão de
leituras, pois deve comportar igualmente tempos de silêncio e de
oração. Como ta,bem a explicação da Palavra de Deus na catequese,
que deve partir de um contexto histórico da revelação divina para
apresentar personagens e acontecimentos do Antigo e do Novo
testamento à luz do plano de Deus.

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  • 1. ARQUIDOCESE DE NATAL SEMINÁRIO DE SÃO PEDRO FACULDADE DOM HEITOR SALES INTRODUÇÃO A SAGRADA ESCRITURA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IGRAJA PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA Jecione da Silva Melo Natal, 21 de junho de 2012
  • 2. A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IGRAJA PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA O estudo da Bíblia e como a alma da Teologia, assim diz o Vaticano II referindo-se a uma palavra do papa Leão XIII. Este estudo já mais chega ao fim; cada época deverá de um modo novo e próprio, procurar compreender os Livros sagrados. Tudo o que limita nosso horizonte e nos impede de olhar e escutar o que está para além do meramente humano deve ser rompido. Este documento nos presenteou com uma síntese, que permanece determinante constituída pelas intuições perenes da teologia dos santos Padres e pelos novos conhecimentos metodológicos modernos. A Palavra divina é Palavra eterna, que é contemporânea a qualquer época. A palavra bíblica provém de um passado real, mas não somente passado, porém igualmente da eternidade de Deus. Ela nos introduz na eternidade divina, ao qual pertencem o passado, o presente e o futuro. JOSEPH CARDEAL RATZINGER O problema da interpretação da Bíblia não é uma interpretação moderna como algumas vezes ser quer crer. A Bíblia mesmo que sua interpretação apresenta dificuldades. Ao lado de textos límpidos, ela comporta passagens obscuras. O problema é, portanto, antigo, mas ele se acentuou com o desenrolar do tempo. Por isso que o método histórico-científico é o método indispensável para o estudo científico do sentido dos textos antigos. Mas nenhum método científico para o estudo da Bíblia está à altura de corresponder à riqueza total dos textos bíblicos. Qualquer que seja a sua validade, o método histórico- científico não pode pretender ser suficiente a tudo. Por isso que é necessário também a análise retórica, a análise narrativa, a análise semiótica que por sua vez estuda os princípios e os níveis da aprendizagem bíblica. As abordagens diferenciam do método histórico-crítico, mas da maior unidade interna dos textos. Uma delas é a abordagem baseada na Tradição. Tendo em vista que a Bíblia não se apresenta como conjunto de textos desprovidos de relações entre si, mas como um composto de testemunhos de uma mesma e grande Tradição.
  • 3. Abordagem canônica entende por bem conduzir uma tarefa teológica de interpretação partindo do quadro específico da fé: a Bíblia em seu conjunto. Ela interpreta cada texto bíblico à luz do Cânon das Escrituras, da Bíblia enquanto recebida como norma de fé por uma comunidade de fiéis. Já as abordagens através das ciências humanas acredita que para comunicar a Palavra de Deus traçou um caminho através dos condicionamentos psicológicos das diversas pessoas que compuseram os escritos bíblicos. A abordagem sociológica vê uma união nos textos bíblicos como uma conexão de relação recíproca com as sociedades nas quais eles nascem. Abordagem através da antropologia cultural, pois procura definir as características dos diferentes tipos de homens no ambiente social. As abordagens textuais são sempre dependentes das mentalidades e das preocupações de seus leitores. Convém que eles o façam com discernimentos. Nestes aspectos se destacam algumas abordagens, dentre elas a teologia da libertação, movimento teológico que teve início nos anos 70, a partir das circunstâncias econômicas, sociais e políticas. A abordagem feminista que nasceu por volta do fim do século XIX nos Estados Unidos como comitê de revisão da Bíblia. A unidade delas provém do tema comum, isto é, a libertação da mulher e a conquista de direitos iguais aos homens. A leitura fundamentalista. Teve início com a reforma, com uma preocupação de fidelidade ao sentido literal da Escritura. Se bem que o em alguns aspectos o fundamentalismo tem razão em insistir sobre a inspiração divina na Bíblia. O problema dessa leitura é a recusa em levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica. Neste meio não se deve confundir o sentido literal e o “literalismo” ao qual aderem os fundamentalistas. O sentido literal é indispensável para definir o sentido preciso dos textos tais como foram produzidos por seus autores. Ou seja, é aquele que foi expresso diretamente pelos autores humanos inspirados. CARACTERÍSTICAS DA INTERPRETAÇÃO CATÓLICA A exegese católica não procura se diferenciar por um método científico particular. Ela reconhece que um dos aspectos dos textos bíblicos é o de ser a obra dos autores humanos. Todos os métodos e abordagem científicas permitem melhor compreender o sentido dos textos no contexto linguístico, literal, sociocultural, religioso e histórico. O que a caracteriza é que ela se situa conscientemente na tradição viva da Igreja, cuja primeira preocupação é a fidelidade à
  • 4. revelação atestada pela Bíblia. Sua interpretação encontra-se, assim, em continuidade com o dinamismo da interpretação que se manifesta no interior da própria Bíblia e que se prolonga em seguida na vida da Igreja. Os autores do Novo Testamento reconhecem no Antigo um valor de revelação divina. Eles proclamam que esta revelação encontrou sua realização na vida, no ensinamento e, sobretudo na morte e ressurreição de Jesus Cristo, fonte de perdão e de vida eterna. As relações não são de simples correspondência material, mas de iluminação recíproca e de progresso dialético. Os primeiros discípulos de Jesus sabiam que não estavam à altura de compreender imediatamente em todos os seus aspectos a totalidade do que tinha recebido. Com perseverança de um aprofundamento e de uma explicitação progressiva da revelação recebida, eles reconheciam nisso a influência e a ação do “Espírito da verdade”, que Cristo lhes havia prometido para guiá-los em direção à plenitude da verdade. Guiada pelo Espírito Santo à luz da Tradição, a Igreja discerniu os escritos que devem ser olhados como santa Escritura “tendo sido escrito sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus por autor. O discernimento de um “cânon” das Escrituras foi a conclusão e longo processo. Discernindo o Cânon das escrituras, a Igreja discernia a definia sua própria identidade, de maneira que as escrituras são doravante um espelho no qual a Igreja pode constantemente redescobrir sua identidade. Os Padres da Igreja, que tiveram um papel particular no processo de formação do Cânon, tiveram igualmente um papel fundador em relação à tradição viva que sem cessar acompanha e guia a leitura e interpretação que a Igreja faz das Escrituras. Nos Padres da Igreja, a leitura da Escritura e sua interpretação ocupam lugar considerável. Isto é, as homilias e os comentários, mas também as obras de controvérsia e de teologia. Os Padres consideram Bíblia antes de tudo como Livro de Deus, obra única de um único autor. Preocupados antes de tudo em viver da Bíblia, os Padres contentam- se muitas vezes em utilizar o texto bíblico mais comum no meio deles. Os Padres da Igreja praticam de maneira mais ou menos frequente o método alegórico a fim de dissipar o escândalo que poderia ser provado em certos cristãos.
  • 5. A tarefa dos exegetas por sua vez, comporta vários aspectos. É uma tarefa da Igreja, pois ela consiste em estudar e explicar a santa Escritura de maneira a colocar todas as riquezas à disposição dos pastores e dos fiéis. Os exegetas têm também de explicar o alcance cristológico, canônico e eclesial dos escritos bíblicos. Os exegetas devem explicar também a relação que existe entre a Bíblia e a Igreja, pelo fato de que a Bíblia exprime uma oferta de salvação apresentada por Deus a todos os homens, a tarefa dos exegetas. Tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo assim não lhes pertence como um monopólio, pois na Igreja essa interpretação apresenta aspectos que vão além da análise científica dos textos. Essa convicção de fé tem como consequência a prática da atualização e da inculturação da mensagem bíblica. Assim, desde os primórdiosda Igreja, a leitura das Escrituras foi integrante da liturgia cristã, por um lado herdeiro da liturgia sinagogal. A liturgia da palavra é um elemento decisivo na celebração de cada um dos sacramentos da Igreja. Ela não consiste numa simples sucessão de leituras, pois deve comportar igualmente tempos de silêncio e de oração. Como ta,bem a explicação da Palavra de Deus na catequese, que deve partir de um contexto histórico da revelação divina para apresentar personagens e acontecimentos do Antigo e do Novo testamento à luz do plano de Deus.