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Especialização em Gestão do Design
             Estudo de Caso: “Reality Shows”




              Docente: Dr. Isaac A. Camargo
          Disciplina: Semiótica e Gestão do Design
    Discente: Jenneffer Priscila Montemor Keffer Avelino




         Londrina, 12 de dezembro de 2009
2


 Análise sobre a semiótica e o design aplicados ao Reality Show, objeto
                                        de estudo “A Fazenda”.


                                           Isaac Antonio Camargo
                              Doutor em Comunicação e Semiótica – PUC/SP
                                  Jenneffer Priscila Montemor Keffer Avelino
         Pós Graduando em Gestão do Design – UEL Universidade Estadual de Londrina


     1. Introdução

 “O instantâneo e o descartável permeiam nossa experiência, desde os utensílios que empregamos no dia a
                                                dia até nossa maneira de pensar, viver e nos relacionar.”
                                                                                                MILLAN.


                                            Dentro da instabilidade do mundo pós-moderno,
                                     caminhando para a geração da informação, alguns fenômenos
                                     midiáticos intrigam as pesquisas comunicacionais. O reality
                                     show é uma das intrigantes invenções pós-modernas da
                                     realidade. Mas seria realmente da realidade? Esse controverso
Figura 1 – Marca de A Fazenda 2
                                     simulacro de imagens tão perceptíveis que nos fazem brincar
de “Deus” ganha espaço no mundo do zapping, assim como o poder da interação
homem-celular, sendo este o cajado do destino daqueles participantes tão “reais”, tão
“humanos”.
          Os poucos artigos que foram publicados sobre esse tema focalizam o efeito
comunicador, político e psicológico dessa experiência. Ivo Lucchesi afirmou em seu
artigo intitulado “Mídia e sedução sem encantamento”, que seriam os realtiys
conseqüências de uma sociedade que respira os feitos da Revolução Industrial e
abdicam da sedução pelo prazer, para simplesmente deleitarem-se com o cotidiano, o
trivial. Surge assim o novo perfil da sedução. Se todo produto tem por premissa seduzir,
o que fazem os publicitários na sociedade non sense? O autor exemplifica dizendo que:



          “Nisto reside o jogo perverso, esquadrinhado na moldura da mídia, cultuando o
"non sense" com o qual a maioria se identifica e sente alívio, em razão de uma vida

também desprovida de maiores expectativas”.
3

       Nesse contexto discordo de Lucchesi, por pensar sermos a sociedade do non
sense, presa em uma sedução ordinária por vivermos desprovidos de maiores
expectativas. Pois neste ponto o autor parece esquecer aquele desejo mais primitivo do
ser humano, a curiosidade. Não queremos ver o trivial, mas sim observar-lo com aquela
tímida sensação de estarmos fazendo algo errado, sensação de criança levada que
quebrou o vaso, adrenalina infantil e tola.

 “Ela é anti-analítica, faz-nos esquecer da terrível sentença de Freud de que o eu não é
 mais senhor em “sua própria casa”- pois o inconsciente nos tira o tapete e denuncia
 como ilusão o domínio que teríamos de nós mesmos e do mundo. Nessa dimensão, a
 imagem é tranqüilizadora, ela nos recentra, nos faz senhores de nossa própria casa - e

 de nosso próprio cinema”. (RIVERA,2008)



       Rivera parece desenhar nesse recorte os anseios mais secretos de quem “finge”
controlar a vida dos “confinados”.


   2. Um pouco da história dos Realitys


       Foi no ano de 1992 que a televisão mundial presenciou a criação do primeiro
programa televisivo que prometia mostrar a convivência de pessoas comuns, estranhas
umas às outras e vivendo juntas em um “cativeiro”. Suas vidas eram filmadas e expostas
para todos. Esta foi a estréia do primeiro reality show da história, um programa
produzido e veiculado pela MTV, o “The Real World” (Na Real), em Nova Iorque nos
Estados Unidos (MUNIZ et. al., 2002)
       No Brasil a MTV apostou no reality “Na real”
e posteriormente os SBT emplacou com “A Casa dos
Artistas”, mas o grande precursor dos reality shows
no Brasil foi o conhecido Big Brother (Figura 2),
criado originalmente por John de Mol sócio da
Endemol e Joop van den Ende em 1999, na Holanda.       Figura 2 – Marca do BBB

O termo Big Brother já fora usado por George Orwell, em seu livro de 1984, para
designar um olho eletrônico que espionava as pessoas com o intuito de manter o
domínio de um estado totalitário sobre tudo e todos (MILLAN, 2006). Coincidência ou
4

não, o Big Brother Brasil dispõe à venda um brinquedo que se caracteriza por ser um
robô monocular (Figura 3), um olho eletrônico que igualmente espiona.
                                                              O cinema também especulou a ideia do
                                                 confinamento não autorizado e lançou em 1998 o
                                                 filme The Truman Show roteiro original de
                                                 Andrew Niccon, onde a vida do personagem
                                                 principal sempre foi um reality show manipulado.
                                                 Enquanto Truman vivia preso no simulacro de sua
Figura 3 – Robôs do Big Brother Brasil           própria vida e sem fazer a menor ideia disso ele
interagia de maneira real aos fenômenos à sua volta. Decodificando os signos como
realidade.
           Experimentar a realidade é apenas a forma como decodificamos corretamente o
que se passa, através da prova dos acontecimentos universais presentes na realidade que
nos são transmitidos por meio de signos. A verdade, do ponto de vista da semiótica
seria, basicamente, representar corretamente a realidade.
           Para Peirce a função do signo é criar um simulacro da realidade sem, no entanto
especular sobre ela no mundo físico, tarefa reservada à ciência metafísica:

             "Fique entendido que o que temos a fazer enquanto estudantes de
    fenômenologia é simplesmente abrir os olhos do espírito e olhar bem os fenômenos e
    dizer quais suas características, quer o fenômeno seja externo, quer pertença a um
    sonho, ou uma idéia geral e abstrata da ciência” (PIERCE, 1974).


      3. Rivalidade e Estratégia


           Ao passo em que o BBB (Big Brother Brasil) chega a sua 10ª edição a Rede
Record trabalha para ganhar espaço no mundo dos realitys importando o programa
conhecido como The Farm traduzido no Brasil como A Fazenda (Figura 1), que segue
em sua 2ª edição. The Farm é um reality show criado originalmente na Suécia pelo
produtor sueco Strix. Semelhante ao BBB (Globo1) e a Casa dos Artistas (SBT2) esse
confinamento possui um cenário diferente e tarefas um tanto inusitadas para os
competidores. Ao contrário do BBB os “confinados” da fazenda são celebridades


1 2
      Emissoras de TV responsáveis pelos citados programas.
2
5

(algumas até um tanto desconhecidas3) e estão “presos” em uma fazenda, onde devem
executar tarefas diárias para o bom andamento da vida rural.
           Esse redesign do programa tem como finalidade alterar um pouco o curso
psicosocial dos realitys, trazer o
cotidiano rural para dentro dos lares
metropolitanos e observar famosos
desorientados          tentado       realizar     as
tarefas campestres. Essas atividades
acabam          gerando       vários      conflitos
internos além de criar uma nuance
cômica ao programa, como podemos
                                                        Figura 4 – Anúncio de revista divulgando A fazenda
observar no anúncio para revista
(Figura 4) utilizado na divulgação do quadro. A grande resposta a sociedade pós-
moderna está no resultado da transformação midiática, sua fragmentação e distribuição
são grandes estímulos aceitos pelo telespectador contemporâneo.
           A rivalidade entre as emissoras fica presente em um dos teasers4 de A fazenda 2,
onde observa-se o elemento figurativo da vaca atacando uma câmera muito semelhante
ao signo de representação utilizado pelo BBB. Essa briga por audiência, apesar de ser
hostil, deve estimular os programas a buscarem novos formatos para driblar a
concorrência. Como podemos observar no quadro abaixo pouco são as diferenças
significativas entre os dois programas.
        Critério               A Fazenda 1                   BBB 9                           Observações
    Apresentador          Britto Jr.                  Pedro Bial
    Audiência             40 pontos                   32 pontos                   Índice do BB9 e A Fazenda 1
                                                                                  na final dos respectivos
                                                                                  programas.
    Câmeras               36                          44
    Cotidiano             Rural                       Urbano
    Decisão               Votos do Público            Votos do Público            Ambas possuem triagem
                                                                                  interna.
    Horário               21:00                       22:00                       Horário do bloco de domingo.
    Formato               Blocado                     Blocado
    Participantes         14 celebridades             14 anônimos
    Provas                Semanais                    Semanais                    Possuem objetivos diferentes.
    Prêmio                R$ 1 milhão                 R$ 1 milhão
Tabela 1 – Quadro comparativo entre A Fazenda 1 e o BB 9


3
    Opinião pessoal da autora Jenneffer Keffer.
4
    Anúncio veiculado em TV, grande gerador de curiosidade. Para assistir o citado teaser use o seguinte
link: http://www.youtube.com/watch?v=95cQfmuPWWk
6

       As características mais distintas ficam por conta dos participantes, ambiente e
provas realizadas. O que certamente é um risco tratando-se de investimentos tão
semelhantes voltados ao entretenimento.
       As facetas empregadas pelos realitys estão se emoldurando em uma tendência
bastante parecida com a dos novos formatos do cinema, dispensando a linearidade tão
apreciada pelos filmes antigos e criando um panorama mental de seqüência, onde a
ordem não é mais ditada pelos acontecimentos cronológicos, mas sim por sua relevância
cênica. Essa tendência de quebra dos padrões modernos é observada nos realitys por sua
utilização do natural como foco. Não mais vemos atores e seus textos decorados, mas o
“improviso” do viver.


   4. Conclusão


       A relevância estética do contrapeso ao BBB está justamente na geração curiosa
de não estarmos observado apenas “pessoas comuns” em um confinamento de resort,
mas os nervos tensificados de atores ou fenômenos midiáticos dentro de um contexto
atípico de suas vidas, o meio rural. Nessa relevância aprofundam-se as experiências
entre espectador e programa. Para o filósofo Paul Virillio, “vivemos hoje uma separação
cada vez maior entre a imediatez da retransmissão (da mídia) e nossa capacidade de
compreender e avaliar o instante presente”(1993). Com o efeito da efemeridade e do
imediatismo, os padrões estéticos televisivos vão sofrendo bruscas mudanças até
encontrarem a formula perfeita que englobe dinamismo e conteúdo. Os realitys estão
longe de serem um programa de informação, são pouco substanciais e enfrentam a
crítica ferrenha da busca pelo equilíbrio intelectual dos programas de televisão.
       O ponto positivo desse objeto de estudo é sem dúvida sua capacidade de
expressão e interação, atingindo as massas ele consegue promover torcidas que
acreditam estarem “decidindo” quem ganha ou perde.
 "(A telepresença é) um meio de expressar, em nível estético, as mudanças culturais
 advindas do controle remoto, visão remota e troca de informações audiovisuais em
 tempo real, num contexto em que os participantes são convidados a experimentar
 mundos remotos, inventados a partir de perspectivas e escalas diferentes das
 humanas" (Eduardo Kac, in Santaella, 1996).
Dentro do universo sistêmico da interação, o computador se mostra o objeto mais
completo de vivênciamento real-irreal humano. Como ocorre em cada surgimento de
7

um novo meio comunicacional o temor de que este substitua aquele envolve as
gerações, porem todos sabemos que a o rádio não desapareceu após o advento da
televisão, apenas teve que se reestruturar e criar um novo conceito. O mesmo está
ocorrendo com os formatos da TV e sua briga com a interatividade do computador.
Nesse paralelo os realitys aprenderam a se beneficiar de ambas as tecnologias.
Invadindo o meio virtual para divulgar e aproximar o público de seus participantes.
       Conclui-se que o redesign proposto para gerar competitividade ao reality show
BBB, surte efeito dentro do sistema de interação e conectividade, onde “A fazenda”
pode apresentar um programa com mesma proposta e atingir um nicho de experiências
totalmente diferente.
       Esse pensamento voltado para a gestão do design precisa ser pensado como um
todo, calculando benefícios em longo prazo e abastecendo a teia das inovações, sendo o
design um aliado para sublinhar uma empresa no mercado, garantindo o diferencial
necessário a sua sobrevivência.


   5. Referências Bibliográficas


ANDACHT, Fernando. El Reality Show: Una perspectivaanalítica de la televisión.
Bogotá, Colômbia: Grupo Editorial Norma, 2003.


GARCIA, Deomara & VIEIRA, Antoniella & PIRES, Cristiane. Explosão do
fenômeno: reality show. Resumo disponível na Internet:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/garcia-deomara-reality-show.pdf (em 07/12/2009).


LUCCHESI, Ivo. Mídia e sedução sem encantamento. Observatório da Imprensa nº
162, 2002.


MILLAN, Marília Pereira Bueno. Reality shows: uma abordagem psicossocial.
Psicol. cienc. prof., jun. 2006, vol.26, no.2, p.190-197. ISSN 1414-9893.


MILLAN, M.P.B. Tempo e Subjetividade no Mundo Contemporâneo -
Ressonâncias na Clínica Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
8

MUNIZ, D., REIS, G., COSTA, L., NOVAS, L. A espetacularização da vida privada
nos reality shows veiculados pela televisão. Resumo disponível na Internet:
http://www.facom.ufba.br (em13/09/2002).


PEIRCE, Charles Sanders. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974.


RIVERA, Tânia. Cinema, imagem e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2008.


SANTAELLA, Lucia. Cultura das Midias. São Paulo: Experimento, 1996.


VIRILLIO, Paul. O Espaço Crítico. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.


   6. Internetografia


Winkipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Farm
BBB - http://bbb.globo.com/
A Fazenda - http://afazenda.r7.com/

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  • 1. Especialização em Gestão do Design Estudo de Caso: “Reality Shows” Docente: Dr. Isaac A. Camargo Disciplina: Semiótica e Gestão do Design Discente: Jenneffer Priscila Montemor Keffer Avelino Londrina, 12 de dezembro de 2009
  • 2. 2 Análise sobre a semiótica e o design aplicados ao Reality Show, objeto de estudo “A Fazenda”. Isaac Antonio Camargo Doutor em Comunicação e Semiótica – PUC/SP Jenneffer Priscila Montemor Keffer Avelino Pós Graduando em Gestão do Design – UEL Universidade Estadual de Londrina 1. Introdução “O instantâneo e o descartável permeiam nossa experiência, desde os utensílios que empregamos no dia a dia até nossa maneira de pensar, viver e nos relacionar.” MILLAN. Dentro da instabilidade do mundo pós-moderno, caminhando para a geração da informação, alguns fenômenos midiáticos intrigam as pesquisas comunicacionais. O reality show é uma das intrigantes invenções pós-modernas da realidade. Mas seria realmente da realidade? Esse controverso Figura 1 – Marca de A Fazenda 2 simulacro de imagens tão perceptíveis que nos fazem brincar de “Deus” ganha espaço no mundo do zapping, assim como o poder da interação homem-celular, sendo este o cajado do destino daqueles participantes tão “reais”, tão “humanos”. Os poucos artigos que foram publicados sobre esse tema focalizam o efeito comunicador, político e psicológico dessa experiência. Ivo Lucchesi afirmou em seu artigo intitulado “Mídia e sedução sem encantamento”, que seriam os realtiys conseqüências de uma sociedade que respira os feitos da Revolução Industrial e abdicam da sedução pelo prazer, para simplesmente deleitarem-se com o cotidiano, o trivial. Surge assim o novo perfil da sedução. Se todo produto tem por premissa seduzir, o que fazem os publicitários na sociedade non sense? O autor exemplifica dizendo que: “Nisto reside o jogo perverso, esquadrinhado na moldura da mídia, cultuando o "non sense" com o qual a maioria se identifica e sente alívio, em razão de uma vida também desprovida de maiores expectativas”.
  • 3. 3 Nesse contexto discordo de Lucchesi, por pensar sermos a sociedade do non sense, presa em uma sedução ordinária por vivermos desprovidos de maiores expectativas. Pois neste ponto o autor parece esquecer aquele desejo mais primitivo do ser humano, a curiosidade. Não queremos ver o trivial, mas sim observar-lo com aquela tímida sensação de estarmos fazendo algo errado, sensação de criança levada que quebrou o vaso, adrenalina infantil e tola. “Ela é anti-analítica, faz-nos esquecer da terrível sentença de Freud de que o eu não é mais senhor em “sua própria casa”- pois o inconsciente nos tira o tapete e denuncia como ilusão o domínio que teríamos de nós mesmos e do mundo. Nessa dimensão, a imagem é tranqüilizadora, ela nos recentra, nos faz senhores de nossa própria casa - e de nosso próprio cinema”. (RIVERA,2008) Rivera parece desenhar nesse recorte os anseios mais secretos de quem “finge” controlar a vida dos “confinados”. 2. Um pouco da história dos Realitys Foi no ano de 1992 que a televisão mundial presenciou a criação do primeiro programa televisivo que prometia mostrar a convivência de pessoas comuns, estranhas umas às outras e vivendo juntas em um “cativeiro”. Suas vidas eram filmadas e expostas para todos. Esta foi a estréia do primeiro reality show da história, um programa produzido e veiculado pela MTV, o “The Real World” (Na Real), em Nova Iorque nos Estados Unidos (MUNIZ et. al., 2002) No Brasil a MTV apostou no reality “Na real” e posteriormente os SBT emplacou com “A Casa dos Artistas”, mas o grande precursor dos reality shows no Brasil foi o conhecido Big Brother (Figura 2), criado originalmente por John de Mol sócio da Endemol e Joop van den Ende em 1999, na Holanda. Figura 2 – Marca do BBB O termo Big Brother já fora usado por George Orwell, em seu livro de 1984, para designar um olho eletrônico que espionava as pessoas com o intuito de manter o domínio de um estado totalitário sobre tudo e todos (MILLAN, 2006). Coincidência ou
  • 4. 4 não, o Big Brother Brasil dispõe à venda um brinquedo que se caracteriza por ser um robô monocular (Figura 3), um olho eletrônico que igualmente espiona. O cinema também especulou a ideia do confinamento não autorizado e lançou em 1998 o filme The Truman Show roteiro original de Andrew Niccon, onde a vida do personagem principal sempre foi um reality show manipulado. Enquanto Truman vivia preso no simulacro de sua Figura 3 – Robôs do Big Brother Brasil própria vida e sem fazer a menor ideia disso ele interagia de maneira real aos fenômenos à sua volta. Decodificando os signos como realidade. Experimentar a realidade é apenas a forma como decodificamos corretamente o que se passa, através da prova dos acontecimentos universais presentes na realidade que nos são transmitidos por meio de signos. A verdade, do ponto de vista da semiótica seria, basicamente, representar corretamente a realidade. Para Peirce a função do signo é criar um simulacro da realidade sem, no entanto especular sobre ela no mundo físico, tarefa reservada à ciência metafísica: "Fique entendido que o que temos a fazer enquanto estudantes de fenômenologia é simplesmente abrir os olhos do espírito e olhar bem os fenômenos e dizer quais suas características, quer o fenômeno seja externo, quer pertença a um sonho, ou uma idéia geral e abstrata da ciência” (PIERCE, 1974). 3. Rivalidade e Estratégia Ao passo em que o BBB (Big Brother Brasil) chega a sua 10ª edição a Rede Record trabalha para ganhar espaço no mundo dos realitys importando o programa conhecido como The Farm traduzido no Brasil como A Fazenda (Figura 1), que segue em sua 2ª edição. The Farm é um reality show criado originalmente na Suécia pelo produtor sueco Strix. Semelhante ao BBB (Globo1) e a Casa dos Artistas (SBT2) esse confinamento possui um cenário diferente e tarefas um tanto inusitadas para os competidores. Ao contrário do BBB os “confinados” da fazenda são celebridades 1 2 Emissoras de TV responsáveis pelos citados programas. 2
  • 5. 5 (algumas até um tanto desconhecidas3) e estão “presos” em uma fazenda, onde devem executar tarefas diárias para o bom andamento da vida rural. Esse redesign do programa tem como finalidade alterar um pouco o curso psicosocial dos realitys, trazer o cotidiano rural para dentro dos lares metropolitanos e observar famosos desorientados tentado realizar as tarefas campestres. Essas atividades acabam gerando vários conflitos internos além de criar uma nuance cômica ao programa, como podemos Figura 4 – Anúncio de revista divulgando A fazenda observar no anúncio para revista (Figura 4) utilizado na divulgação do quadro. A grande resposta a sociedade pós- moderna está no resultado da transformação midiática, sua fragmentação e distribuição são grandes estímulos aceitos pelo telespectador contemporâneo. A rivalidade entre as emissoras fica presente em um dos teasers4 de A fazenda 2, onde observa-se o elemento figurativo da vaca atacando uma câmera muito semelhante ao signo de representação utilizado pelo BBB. Essa briga por audiência, apesar de ser hostil, deve estimular os programas a buscarem novos formatos para driblar a concorrência. Como podemos observar no quadro abaixo pouco são as diferenças significativas entre os dois programas. Critério A Fazenda 1 BBB 9 Observações Apresentador Britto Jr. Pedro Bial Audiência 40 pontos 32 pontos Índice do BB9 e A Fazenda 1 na final dos respectivos programas. Câmeras 36 44 Cotidiano Rural Urbano Decisão Votos do Público Votos do Público Ambas possuem triagem interna. Horário 21:00 22:00 Horário do bloco de domingo. Formato Blocado Blocado Participantes 14 celebridades 14 anônimos Provas Semanais Semanais Possuem objetivos diferentes. Prêmio R$ 1 milhão R$ 1 milhão Tabela 1 – Quadro comparativo entre A Fazenda 1 e o BB 9 3 Opinião pessoal da autora Jenneffer Keffer. 4 Anúncio veiculado em TV, grande gerador de curiosidade. Para assistir o citado teaser use o seguinte link: http://www.youtube.com/watch?v=95cQfmuPWWk
  • 6. 6 As características mais distintas ficam por conta dos participantes, ambiente e provas realizadas. O que certamente é um risco tratando-se de investimentos tão semelhantes voltados ao entretenimento. As facetas empregadas pelos realitys estão se emoldurando em uma tendência bastante parecida com a dos novos formatos do cinema, dispensando a linearidade tão apreciada pelos filmes antigos e criando um panorama mental de seqüência, onde a ordem não é mais ditada pelos acontecimentos cronológicos, mas sim por sua relevância cênica. Essa tendência de quebra dos padrões modernos é observada nos realitys por sua utilização do natural como foco. Não mais vemos atores e seus textos decorados, mas o “improviso” do viver. 4. Conclusão A relevância estética do contrapeso ao BBB está justamente na geração curiosa de não estarmos observado apenas “pessoas comuns” em um confinamento de resort, mas os nervos tensificados de atores ou fenômenos midiáticos dentro de um contexto atípico de suas vidas, o meio rural. Nessa relevância aprofundam-se as experiências entre espectador e programa. Para o filósofo Paul Virillio, “vivemos hoje uma separação cada vez maior entre a imediatez da retransmissão (da mídia) e nossa capacidade de compreender e avaliar o instante presente”(1993). Com o efeito da efemeridade e do imediatismo, os padrões estéticos televisivos vão sofrendo bruscas mudanças até encontrarem a formula perfeita que englobe dinamismo e conteúdo. Os realitys estão longe de serem um programa de informação, são pouco substanciais e enfrentam a crítica ferrenha da busca pelo equilíbrio intelectual dos programas de televisão. O ponto positivo desse objeto de estudo é sem dúvida sua capacidade de expressão e interação, atingindo as massas ele consegue promover torcidas que acreditam estarem “decidindo” quem ganha ou perde. "(A telepresença é) um meio de expressar, em nível estético, as mudanças culturais advindas do controle remoto, visão remota e troca de informações audiovisuais em tempo real, num contexto em que os participantes são convidados a experimentar mundos remotos, inventados a partir de perspectivas e escalas diferentes das humanas" (Eduardo Kac, in Santaella, 1996). Dentro do universo sistêmico da interação, o computador se mostra o objeto mais completo de vivênciamento real-irreal humano. Como ocorre em cada surgimento de
  • 7. 7 um novo meio comunicacional o temor de que este substitua aquele envolve as gerações, porem todos sabemos que a o rádio não desapareceu após o advento da televisão, apenas teve que se reestruturar e criar um novo conceito. O mesmo está ocorrendo com os formatos da TV e sua briga com a interatividade do computador. Nesse paralelo os realitys aprenderam a se beneficiar de ambas as tecnologias. Invadindo o meio virtual para divulgar e aproximar o público de seus participantes. Conclui-se que o redesign proposto para gerar competitividade ao reality show BBB, surte efeito dentro do sistema de interação e conectividade, onde “A fazenda” pode apresentar um programa com mesma proposta e atingir um nicho de experiências totalmente diferente. Esse pensamento voltado para a gestão do design precisa ser pensado como um todo, calculando benefícios em longo prazo e abastecendo a teia das inovações, sendo o design um aliado para sublinhar uma empresa no mercado, garantindo o diferencial necessário a sua sobrevivência. 5. Referências Bibliográficas ANDACHT, Fernando. El Reality Show: Una perspectivaanalítica de la televisión. Bogotá, Colômbia: Grupo Editorial Norma, 2003. GARCIA, Deomara & VIEIRA, Antoniella & PIRES, Cristiane. Explosão do fenômeno: reality show. Resumo disponível na Internet: http://www.bocc.ubi.pt/pag/garcia-deomara-reality-show.pdf (em 07/12/2009). LUCCHESI, Ivo. Mídia e sedução sem encantamento. Observatório da Imprensa nº 162, 2002. MILLAN, Marília Pereira Bueno. Reality shows: uma abordagem psicossocial. Psicol. cienc. prof., jun. 2006, vol.26, no.2, p.190-197. ISSN 1414-9893. MILLAN, M.P.B. Tempo e Subjetividade no Mundo Contemporâneo - Ressonâncias na Clínica Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
  • 8. 8 MUNIZ, D., REIS, G., COSTA, L., NOVAS, L. A espetacularização da vida privada nos reality shows veiculados pela televisão. Resumo disponível na Internet: http://www.facom.ufba.br (em13/09/2002). PEIRCE, Charles Sanders. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974. RIVERA, Tânia. Cinema, imagem e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. SANTAELLA, Lucia. Cultura das Midias. São Paulo: Experimento, 1996. VIRILLIO, Paul. O Espaço Crítico. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. 6. Internetografia Winkipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Farm BBB - http://bbb.globo.com/ A Fazenda - http://afazenda.r7.com/