1. Valores Humanos
nas Organizações
Roberto Pinto
Página na WEB: www.robertopinto.com.br
email: roberto.pinto@uece.br
UECE - CMAAd
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2. 3 Visões de mundo*
Visão Mecânica
Visão dominante até meados do Séc. XVIII
Galileu e Descartes;
Mecânica de Newton;
Teologia Cristã.
Revolução Industrial – reforço e, depois, mudança
Conseqüências Gerais
Reducionismo;
Determinismo;
Linearidade;
Monocausalidade.
Conseqüências para a Teoria Organizacional
Primeiras Teorias (as teorias “duras”);
Teoria de Sistemas (organização transforma insumos em
produtos). *adaptado de Sousa Silva, Peláez e Romero
3. 3 VISÕES DE MUNDO*
Visão Econômica
Visão sempre presente
Reforço após a Revolução Industrial
Até a década de 70 do Séc. XX – organizações geram riqueza;
Final dos anos 70 – Fim da época do industrialismo e início da
globalização.
Conseqüências Gerais
Mundo percebido como mercado;
Prevalência das relações comerciais sobre as relações sociais;
A realidade “objetiva” é a realidade econômica;
Modelos de desenvolvimento centrados na demanda.
Conseqüências para a Teoria Organizacional
Organizações são provedoras de bens e serviços;
Tecnociência – processos, produtos e serviços intensivos em
conhecimento.
*adaptado de Sousa Silva, Peláez e Romero
4. 3 VISÕES DE MUNDO*
Visão Complexa
Visão de natureza orgânica e espiritual
Existente antes da dominação do Capitalismo;
Resgatada a partir da década de 60 do Séc. XX;
Ampliada, aprofundada, transformada e diversificada;
Mundo complexo e dinâmico, com múltiplas dimensões e funções
interconectadas
(espacial, temporal, ecológica, social, econômica, política, instituci
onal, ética e estética);
Relevância da história (passado, presente e futuro conectados);
O contexto é resultado de diferentes percepções dos diversos
grupos de atores sociais.
Conseqüências Gerais
Sustentabilidade, complexidade, diversidade, não-
linearidade, interdependência, multicausalidade.
Conseqüências para a Teoria Organizacional
Preponderância de:
valores, natureza, sociedade, cultura, equidade, participação, inte
*adaptado de Sousa Silva,
ração, construção, talentos humanos, solidariedade. Peláez e Romero
5. Comentários
• As organizações não têm valores per se. Seus valores são
construídos pela interação dos valores dos que a constituem.
Como os valores individuais são desenvolvidos na
sociedade, os valores organizacionais estão sintonizados com
seu local e época, variando de uma organização para outra
conforme sua história, seus mitos, seus heróis... em
suma, conforme sua cultura.
• Valores são objeto de estudo da Ética.
• Para Aristóteles, não se estuda Ética “para saber o que é a
virtude, mas para aprender a tornar-se virtuoso e bom ”
(Arruda, Whitaker & Ramos, 2001. p.41).
• O estudo da Ética nas organizações tem sentido prático, porque
se destina a moldar os comportamentos dos indivíduos e das
corporações e não apenas a obter conhecimento sobre eles.
6. Ética - Conceituação 1
• Ética é a “disciplina filosófica cujo objeto são os juízos de
apreciação quando se aplicam à distinção do bem e do mal”.
(Durozoi & Roussel, 1996. p.171)
• Ética, do grego ethos, significa costume, maneira habitual de
agir, índole. Moral, do latim mos, moris, que também significa
costume, hábito.
• Ética pode ser entendida como a ciência voltada para o estudo
filosófico da ação e da conduta humana, considerada em
conformidade ou não com a reta razão.
(Arruda, Whitaker & Ramos, 2000. p. 41)
• O comportamento ético não se restringe ao que estabelece a
lei, mas constitui também um código moral amplo, comum a
toda sociedade. (Schermerhorn Jr. et al., 1999)
7. Ética - Conceituação 2
• Ética é a disciplina ou campo do conhecimento que define e
avalia o comportamento de pessoas e organizações. Lida com
o que poderia ser diferente do que é, com a aprovação ou
reprovação do comportamento observado em relação ao
comportamento ideal, definido em um código de conduta que
pode ser implícito ou explícito. (Maximiano, 2002. p 416)
• As sociedades democráticas tendem a transformar em norma o
que está sintonizado com os seus valores. Mesmo quando isso
não ocorre, cada sociedade faz os seus valores pairarem
acima das normas escritas.
• Se a norma escrita fosse suficiente, bastariam as leis e outros
normativos para eliminar da sociedade comportamentos
condenáveis ou indesejáveis.
8. Visões de Ética
• Visão utilitarista - obtenção de benefícios para o maior
número de pessoas. Na ética empresarial - considerar as
consequências de uma decisão, considerando o conjunto de
todos os públicos de interesse (stakeholders);
• Visão individualista – opção que melhor atenda aos
interesses particulares, no longo prazo. Na ética empresarial -
não seria adequada uma decisão que, mesmo atendendo
interesses imediatos, viesse a implicar perdas futuras;
• Visão dos direitos morais - tem como moldura os direitos
fundamentais da pessoa humana. Na ética empresarial - não
se devem violar direitos como vida, liberdade, privacidade e
expressão;
• Visão de justiça - tratamento igualitário. Na ética empresarial -
não adotar conduta discriminatória de qualquer natureza.
9. Distinção entre Ética e Moral - 1
• Os valores são apreendidos no convívio social. Portanto,
decorrem dos costumes (mores).
• Se os limites éticos decorrem dos costumes, esses
limites podem mudar, já que os costumes mudam
geográfica e temporalmente. O que é lícito em um lugar
e tempo, pode não o ser em outros.
• A medida-limite é: “não fazer a outrem o que não se
gostaria que lhe fizessem”. O julgamento perfeito para
o limite do que seja adequado ou inadequado é o
próprio sentimento do que é justo ou injusto para si
mesmo.
• Esta é a "regra de ouro”, conhecida desde Confúcio,
passando por todos os que trataram de Ética e Moral,
incluindo Jesus Cristo, Kant e os filósofos atuais.
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10. Distinção entre Ética e Moral - 2
Segundo Fontes (2003, p. 2):
• Ética - disciplina normativa que tem como objetivo
estabelecer princípios, regras e valores para regular a ação
humana, tendo em vista a sua harmonia. A ética
sepreocupa não como são os homens, mas como eles
devem ser.
• Moral - conjunto de valores que uma sociedade foi
formando e que os indivíduos tendem a sentir como uma
obrigação que lhes é exterior.
OBS - Essa distinção está longe de ser consensual. Para
alguns filósofos, trata-se apenas de dois aspectos de
uma só coisa. A ética é a teoria, e a moral é a sua
realização prática.
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11. Ética dos Indivíduos
Desenvolvimento moral dos indivíduos, cfe. Piaget (1932):
• 1a Etapa - Moral de Obrigação heterônoma (entre os 2 e os 6
anos): a criança vive numa atitude unilateral de respeito
absoluto em relação aos mais velhos. As normas são
totalmente exteriores à criança.
• 2a Etapa - Moral da Solidariedade entre iguais (entre os 7 e
os 11 anos): Quando o respeito deixa de ser unilateral e passa
a ser recíproco, baseado na noção de igualdade. As normas
são rigidamente seguidas.
• 3a Etapa - Moral de eqüidade-autonomia (a partir dos 12
anos): surge a atenção pelo outro, a compaixão e o altruísmo.
A moral passa a ser autônoma e o respeito às normas se dá
por convicção individual.
12. Ética Organizacional - 1
• Ética Organizacional é uma das vertentes aplicadas da Ética e
trata da qualidade das relações da organização com o seu
ambiente, considerando que ali estão contidos os seus diversos
públicos de interesse, os chamados stakeholders.
• Enfatiza as decisões nas quais muitos fatores envolvidos não
fazem parte das regras, dependendo exclusivamente da avaliação
do agente que delibera. (Abex & Oliveira, 2004)
• Diferentemente das demais “[...] trata de uma área do
empreendimento humano cujos praticantes, na sua maioria, não
gozam de um estatuto profissional, e de cujos motivos muitas
vezes se pensa (e se diz) serem muito pouco nobres.”
(Salomon, 2003)
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13. Ética Organizacional - 2
O desenvolvimento moral das organizações cfe. Maximiano (2002):
• Pré-convencional - este primeiro estágio é caracterizado pela
busca da satisfação das próprias necessidades e expectativas.
A expressão típica é “cada um por si”. Este posicionamento
busca amparo em certo “darwinismo social”, que o justificaria
pela “seleção natural” das organizações mais aptas.
• Convencional - o segundo estágio se caracteriza pelo
cumprimento, por conveniência, da lei e de outras normas de
comportamento estabelecidas no ambiente
organizacional, sejam estas explícitas ou implícitas. Esta é a
ética das convenções.
• Pós-convencional - o terceiro estágio corresponde ao
idealismo moral, quando as regras são cumpridas por convicção
e não por obrigação. É o estágio mais avançado no
desenvolvimento ético organizacional
14. Ética Organizacional - 3
Ética Corporativa, cfe. Melé (2003):
• A teoria apresenta, principalmente, dois grandes enfoques:
• Deontologista (de deon, dever), centrado nos deveres a
cumprir;
• Teleologista (de teleos, fim), geralmente em forma de
utilitarismo, que se fixa exclusivamente nas consequências
da ação.
• Há um terceiro enfoque: a ética das virtudes, que não se fixa
em norma concreta, mas no desenvolvimento de virtudes no
sujeito através da ação, e no papel da virtude da prudência ou
sabedoria prática para determinar o que fazer em cada
situação.
15. Paralelo do Desenvolvimento Moral
• indivíduos X organizações
ETAPAS
MORAL DA MORAL DE
MORAL DE
SOLIDARIEDADE EQUIDADE-
OBRIGAÇÃO
ENTRE IGUAIS AUTONOMIA
INDIVÍDUOS HETERÔNOMA
• O respeito deixa de • Surge a atenção
(Piaget, 1932) • As normas são
ser unilateral e passa pelo outro, a
totalmente exteriores à
a ser baseado na compaixão e o
criança
noção de igualdade altruísmo
PÓS-
PRÉ-CONVENCIONAL CONVENCIONAL CONVENCIONAL
ORGANIZAÇÕES • Cada um por si • Cumprimento da • Cumprimento da
(Maximiliano, 2002) • Darwinismo norma por norma por
organizacional conveniência convicção
16. Ética nas organizações
Conceitos
• Comportamento ético: Construído por cada um de nós pela
permanente procura da liberdade universal e do bem coletivo.
• A moral diz respeito ao domínio do dever; a ética, ao domínio do ser.
• A ética está mais próxima da sabedoria do que da razão, mais próxima
da compreensão do que deve ser o bem do que da formulação de
princípios que devam ser seguidos.
• Uma pessoa sábia (ou virtuosa) é a que conhece o que é o bem e o
põe espontaneamente em prática.
Adaptado de Depto de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra
(página na WEB)
17. Ética nas organizações
Desenvolvimento Moral:
• indivíduos X organizações
ETAPAS
MORAL DA MORAL DE
MORAL DE
SOLIDARIEDADE EQUIDADE-
OBRIGAÇÃO
ENTRE IGUAIS AUTONOMIA
INDIVÍDUOS HETERÔNOMA
• O respeito deixa de • Surge a atenção
(Piaget, 1932) • As normas são
ser unilateral e passa pelo outro, a
totalmente exteriores à
a ser baseado na compaixão e o
criança
noção de igualdade altruísmo
PRÉ-CONVENCIONAL CONVENCIONAL PÓS-
ORGANIZAÇÕES • Cada um por si CONVENCIONAL
• Cumprimento da
(Maximiliano, 2002) • Darwinismo norma por • Cumprimento da
organizacional conveniência norma por convicção
18. A razão da espiritualização nas
organizações
Conceitos:
• Espiritualização ≠ Religião
• Religião ≈ Religar (religio em Latim);
• Espiritualização = ato ou efeito de espiritualizar;
• Espírito (em Latim, spiritus ) significa respiração ou sopro;
• Espiritualização, então, é o ato ou efeito de atribuir espírito, isto
é, sopro da vida;
• Espiritualização organizacional, assim, é animar as
organizações, dotá-las de vida com sentido.
• O verbo animar tem origem na palavra ânima que, em
Latim, significa alma. Animar é, pois, dotar de alma, de vida.
19. A razão da espiritualização nas
organizações
Entendendo:
• Espiritualização de uma organização decorre do modo como ela se
vê no seu ambiente, estabelecendo relações harmônicas com seus
públicos de interesse e tendo um comportamento alinhado com a
sustentabilidade.
• Trata-se, principalmente, da compreensão e da atitude de como
transformar recursos em bens e serviços necessários e desejados
pelo ambiente, reduzindo a produção de resíduos e reparando os
prejuízos causados pelos resíduos que inevitavelmente produzir.
20. A razão da espiritualização nas
organizações
Entendendo:
• Uma organização espiritualizada compreende o mundo pela visão
da complexidade, onde passado, presente e futuro constituem um
todo e onde as distâncias só existem geograficamente.
• Não se fala de culpa, mas de responsabilidade.
• Todas as pessoas e organizações são cobradas pela desarmonia
que instalarem no universo. Em contraposição, são recompensadas
pela harmonização ou re-harmonização que proporcionarem.
• Para organizações, a exemplo do que acontece com as
pessoas, está em funcionamento a lei de ação e reação.
21. A razão da espiritualização nas
organizações
Entendendo:
• Quando uma organização se espiritualiza, seu funcionamento
transcende os aspectos negociais e materiais, porque sua missão
passa a fazer sentido, interna e externamente.
• Os gestores e colaboradores compreendem qual deve ser o papel
daquela organização no seu espaço de atuação e passam a focar
as ações organizacionais na direção indicada pela missão.
• Os stakeholders externos, por sua vez, percebem a organização
caminhando no sentido do atendimento das suas necessidades e
expectativas e se dispõem a manter com ela relações duradouras e
mutuamente compensadoras.
22. A razão da espiritualização nas
organizações
Entendendo:
• Uma organização espiritualizada ultrapassou os estágios iniciais
do desenvolvimento moral e adota – por virtude, por convicção –
uma atitude responsável em relação aos elementos do seu
ambiente.
• Uma organização espiritualizada está eticamente
desenvolvida, avançada.
24. Espiritualização e Estratégia
• Uma organização espiritualizada retira da palavra estratégia sua
conotação militar de procedimento para levar vantagem sobre um inimigo.
• Uma organização espiritualizada não tem inimigos. Ela enxerga seu
ambiente de ação como um espaço favorável à realização de alianças
estratégicas, inclusive com seus concorrentes.
• Esse tipo de organização convive melhor em clusters e arranjos
produtivos, em que a competição convive com a cooperação.
• Nas estratégias das organizações espiritualizadas, está presente a busca
por relações do tipo ganha-ganha, em que os players envolvidos, embora
procurem tirar o máximo proveito do “jogo”, não o fazem em detrimento
dos demais participantes.
• Uma organização espiritualizada não coloca em risco a sobrevivência dos
parceiros de “jogo” e muito menos compromete a possibilidade de
encontrá-los em parcerias futuras. A durabilidade das relações, com
ganhos permanentes, está acima da ganância exagerada e da busca por
ganhos imediatos.
25. Espiritualização e Gestão de Pessoas
• Uma organização espiritualizada incorpora e faz transparecer nos
seus processos operacionais, nas suas filosofias e nas suas
políticas a atenção, o respeito e a coerência na importância que
dá aos seus recursos humanos. Essa atitude está expressa a
partir das suas declarações de missão e de valores.
• Nesse tipo de organização, seu corpo profissional pode contar
com um ambiente de trabalho com qualidade física – em termos
de espaço, iluminação, temperatura e ergonomia dos
equipamentos – e social, onde as pessoas possam conviver e
trabalhar em um clima organizacional saudável, protegido de
assédios e favorável à participação e ao desenvolvimento pessoal
e profissional.
• Em uma organização espiritualizada, transparece o respeito pelas
individualidades e diversidades. As questões de
gênero, raça, credo religioso e opção sexual, por exemplo, não
interferem na importância e nas oportunidades que são dadas aos
colaboradores.
26. Espiritualização e Gestão de Pessoas
• Uma organização espiritualizada entende que as organizações são
criadas para servirem às pessoas. Não foram as pessoas criadas
para servirem às organizações. Organizações são pessoas
trabalhando para outras.
• Em uma organização espiritualizada entende que os recursos
humanos são os únicos que têm vontade e desenvolvem suas
atividades a partir dos níveis de motivação e comprometimento. As
pessoas que fazem parte de uma organização são atores que com
ela transacionam, em um processo de mútua influência.
Portanto, não são meras peças sobre as quais incide a vontade dos
gestores.
• Uma organização espiritualizada compreende que cada indivíduo é
um mundo em si mesmo, diferente dos demais. Mais do que isso:
cada um é diferente de si mesmo, ao longo do tempo.
• Completam o “pacote” a assistência à saúde dos colaboradores e
suas famílias e pagamento em dia de salários dignos e compatíveis
com as atribuições e a contribuição individual e de equipe.
27. Espiritualização e
Responsabilidade Socioambiental
• Uma organização espiritualizada pauta toda sua atuação pelos
parâmetros de responsabilidade socio-ambiental;
• Uma organização espiritualizada está em nível avançado de
desenvolvimento moral e segue suas diretrizes de RSA, por
convicção.