1. E quando eu for crescido
à minha escola hei-de voltar
para mostrar aos meus filhos
como gostei de estudar.
E eu hei-de continuar
sempre, sempre a aprender
porque é destino do homem
aprender até morrer.
Amanhã entro na escola
e há uma estrela lá fora
a iluminar a noite
até ao romper da aurora.
E eu sei que a sua luz
não me irá abandonar
mas onde será que eu pus
o telescópio de brincar?
José Jorge Letria
Eu vou para a escola
Porto, Ambar, 2001
Eu EEEuuu vvvvoooouuuu ppppaaaarrrraaaa aaaa eeeessssccccoooollllaaaa
Eu hoje vou para a escola
mas já aprendi a contar
levo mochila e cadernos
e dez lápis para afiar.
Vou fazer novos amigos
companheiros para brincar
vou escrever e fazer contas
para depois não me enganar.
Confesso que estou nervoso
pois é um dia diferente
tanta coisa para aprender,
tantos anos pela frente.
2. Ontem eu nem quis comer
pensei que estava doente
o que estava era nervoso
e um pouco impaciente.
Levei horas a juntar
o recheio da mochila
escolhendo lápis, borrachas
e o lugar na minha fila.
O meu pai veio dizer-me
que é algo muito importante
uma pessoa nesta idade
ser menino e ser estudante.
A minha mãe, comovida,
lembrou-se do primeiro dia
em que entrou na sua escola
pela mão da minha tia.
E até o meu avô
quis passar por nossa casa
lembrando que quem não estuda
é sempre quem mais se atrasa.
E fez-me um grande discurso
sobre o valor de estudar:
“quem não estuda não aprende
e depois perde o lugar”.
Falou de amigos seus
que eram inteligentes
vou tentar marcar golos
e ficar entre os melhores.
Se houver um campo na escola
também quero fazer desporto
que a cabeça só está bem
se também estiver o corpo.
Levo cadernos e lápis
na mochila que vou estrear
e um retrato dos meus pais
para me acompanhar.
Começa uma vida nova
nesta vida de criança
quando eu entrar na escola
também começa a mudança.
Até o meu cão Pipocas
irá aprender comigo
pois que aquilo que sabemos
partilha-se com um amigo.
Eu agora vou dormir
que amanhã é outro dia
vou sozinho e vou seguro
sem levar avô ou tia.
Vou para a escola aprender
como quem escuta do vento
os segredos bem guardados
que tem o conhecimento.
3. Levo cadernos, borrachas
na minha mochila às cores
e um “bom dia” sonoro
para saudar professores.
Eu não quero ser campeão
que a escola não dá uma taça
se houver só competição
aprender já não tem graça.
Eu agora vou para a escola
e vou tornar-me estudante
todos em casa me dizem
como isso é importante.
Vou ver menos televisão
mas também não perco nada
porque o tempo de aprender
não é só de bonecada.
Eu não quero ficar fechado
na escola o tempo inteiro
também vou fazer visitas
com programa e com roteiro.
Quero ir ver os museus
e a vida que há lá fora
não se aprende só na escola
durante um dia ou uma hora.
Eu agora vou para a escola
e como os bons jogadores
mas nunca chegaram ao fim
por serem muito indolentes.
E para eu não me esquecer
falou-me da reguada
que era no seu tempo
o terror da pequenada.
E contou-me que hoje em dia
na nossa sociedade
já não há castigos desses
por existir liberdade.
Eu de tudo tomei nota
como se fosse uma lição
também a vida nos mostra
que é mestre de educação.
Já tenho a mochila pronta
e sei o caminho de cor
e até sei que a minha escola
já tem um computador.
Também já me explicaram
que é uma coisa com valor
terem dado à minha escola
o nome de um escritor.
Eu não sei o que irei ser
não faço a menor ideia
porque os sonhos desta idade
correm como os fios de areia.
4. Um dia temos um sonho
que se desfaz como fumo
e aquele que permanece
é que vai traçar o rumo.
Eu só espero que tanto estudo
por fim não me vá tirar
a vontade que eu tenho
de continuar a brincar.
Talvez vão dar-se bem
o estudo e a brincadeira
um completa o outro
sem nenhum ser só canseira.
Eu gostava que a escola
fosse um sítio de prazer
onde apeteça ficar
para sonhar e aprender.
Eu ainda não conheço
os professores que vou ter
talvez vão ser meus amigos
se a escola for para valer.
Não tenho medo da escola
mesmo antes de lá entrar
pois o que vou lá fazer
há-de ser para me ajudar.
Tenho uma prima mais velha
que da escola tinha medo
mas não dizia a ninguém
chorando sempre em segredo.
Levou tempo a vencer
esse medo tão esquisito
que sem sabermos porquê
deixa um aluno aflito.
E não me levem a mal
a minha forma de estar
sei que vou passar o tempo
com muito para perguntar.
E mesmo com esta idade
sei que é assim que está bem
se fosse só para decorar
não dava gozo a ninguém.
No tempo do meu avô
eu sei que era diferente
mas muita coisa mudou
na cabeça desta gente.
Eu não sei o que irei ser
quando escolher a profissão
mas da escola quero falar
sempre com satisfação.
Eu agora vou para a escola
que o tempo é de aprender
e sei que não é defeito
sentir gosto de saber.