O documento discute alfabetização e letramento, abordando: 1) A dificuldade de uma criança em aprender a ler através da soletração; 2) A importância de métodos na educação para guiar o processo de alfabetização; 3) Equívocos como acreditar que apenas leitura e produção de textos sejam suficientes para alfabetizar sem ensinar o sistema alfabético.
3. “Respirei, meti-me na soletração, guiado por Mocinha.
Gaguejei sílabas um mês. No fim da carta elas se
reuniam, formavam sentenças graves, arrevesadas, que me
atordoavam.
Eu não lia direito, mas, arfando penosamente, conseguia
mastigar os conceitos sisudos: “A preguiça é a chave da
pobreza
– Quem não ouve conselhos raras vezes acerta – Fala pouco
e bem: ter-te-ão por alguém”. Esse Terteão para mim era um
homem, e não pude saber que fazia ele na página final da
carta. – Mocinha, quem é Terteão? Mocinha estranhou a
pergunta. Não havia pensado que Terteão fosse homem.
Talvez fosse. Mocinha confessou honestamente que não
conhecia Terteão. E eu fiquei triste, remoendo a promessa de
meu
pai, aguardando novas decepções.”
(Graciliano Ramos – Infância)
14. • [...] os métodos viraram palavrões. Ninguém
podia mais falarem método fônico, método
silábico, método global, pois todos eles caíram
no purgatório, se não no inferno. Isso foi uma
consequência errônea dessa mudança de
concepção de alfabetização.
Magda Soares
16. Segundo Magda Soares
“... É um absurdo não ter método na educação.
Educação é, por definição, um processo dirigido a
objetivos. Só vamos educar os outros se
quisermos que eles fiquem diferentes, pois
educar é um processo de transformação das
pessoas. Se existem objetivos, temos de
caminhar para eles e, para isso, temos de saber
qual é o melhor caminho. Então, de qualquer
teoria educacional tem de derivar um método que
dê um caminho ao professor.
É uma falsa inferência achar que a teoria
construtivista não pode ter método assim como é
falso o pressuposto de que a criança vai aprender
a ler e escrever só pelo convívio com textos.”
O ambiente alfabetizador não é suficiente.
22. • Mas, afinal, em que consiste realmente um
processo de alfabetização na perspectiva do
letramento?
• Como conciliar o trabalho com o ensino do
sistema alfabético de escrita com as situações
de leitura e produção de textos?
• Como possibilitar situações de leitura e
produção de textos a sujeitos que ainda não
sabem ler e escrever de forma autônoma?
23.
24. Alguns equívocos...
• Alguns professores entendem que alfabetizar
letrando é utilizar a leitura de diferentes
textos apenas como pretexto para o trabalho
com palavras que, após escolhidas do texto
lido, são divididas em sílabas para depois ser
trabalhadas valendo-se do estudo das famílias
(ou padrões) silábicas.
25.
26. • Outros acreditam que, apenas com a
oportunização da leitura e produção coletiva
de textos, os alunos que ainda não dominam o
sistema de escrita podem vir a, sozinhos,
apropriar-se desse conhecimento.
• Sendo assim, não oportunizam atividades de
reflexão sobre a palavra nem sistematizam o
ensino do sistema de escrita alfabético.