1. Confronting the Challenges of
Participatory Culture: Media Education
for the 21st Century
Autor: Henry Jenkins, director do programa de Estudos
Comparados dos Media no MIT
Joana Seabra
2. Cultura participativa
Mais de metade dos jovens americanos cria conteúdos para os media
1/3 dos jovens americanos utilizadores da internet partilham os conteúdos
que produzem (estudo do Pew Internet & American Life project, 2005)
Práticas educativas Vida comunitária
Media Creators
Processos criativos Cidadania democrática
Emergência de um contexto cultural propício à participação alargada na
produção e distribuição de conteúdos mediáticos
Resultante da absorção e resposta da cultura à explosão das novas
tecnologias dos media
“It matters what tools are available to a culture, but it matters more what that culture
chooses to do with those tools.”
3. O que é a cultura participativa
Poucas barreiras à expressão artística e ao envolvimento cívico
Estimula a criação e partilha do que criamos com os outros
O mentor é uma figura informal (a experiência)
É o lugar onde acreditamos que o nosso contributo realmente interessa
É o espaço onde sentimos um grau de conexão social
A cultura participativa muda o foco da literacia da expressão individual para o
envolvimento social. Reformula as regras que definem o ensino, a
expressão cultural, a vida cívica e o mundo do trabalho.
Oportunidade de aprendizagem
Desenvolvimento de competências
Expressão criativa
Conhecimentos
Envolvimento cívico
Enquadramentos éticos
Consciência política
Auto-confiança
Desenvolvimento económico
4. Cria espaços de afinidade (ensino peer-to-peer)
Sistemas educativos Espaços de afinidade
tradicionais
Educação
Conservadora Experimental
vs.
Estática Inovadora
Estruturas de suporte Estruturas de suporte provisórias
institucionalizadas
“We are
moving away
Instituições imutáveis apesar das Resposta a necessidades de curto
from a world in
which some
consecutivas reformas educativas prazo e interesses pontuais
produce and
many consume
media, toward
Burocráticas e à escala nacional Ad hoc e locais
one in which
everyone has a
more active
stake in the
Não há mobilidade Capacidade de abandono de acordo
cultura that is
com o interesse
produced.”
5. Porquê educação para os media?
Porque não laisser faire?
As crianças e os jovens adquirem as competências necessárias por interacção com a cultura popular.
3 preocupações sugerem, contudo, a necessidade de intervenção pedagógica:
Participation gap
Acesso desigual às
oportunidades, experiências,
O problema da
competências e
conhecimentos que
transparência
prepararão cada jovem para
uma participação a 100%. Ainda que os jovens estejam
(PC/net em casa)
(PC/net cada vez mais à vontade na
utilização dos media, não
O actual sistema educativo não
têm capacidade para analisar
tem resposta para isto.
a forma como os media O desafio/vazio ético
moldam a sua percepção do
“No longer are children and young
people only or even mainly divided by mundo. Ainda estão por definir as
those with or without access. (…)
access.
normas éticas de acção no
They are divided into those for whom
Incapacidade para avaliar o
ciberespaço.
the Internet is an increasingly rich,
rich,
verdadeiro valor de
diverse, engaging and stimulating
diverse, Quem é o wathdog?
wathdog?
determinada informação.
resource and those for whom it
Que mecanismo de defesa
(ex: separação de publicidade de
ex:
remains a narrow, unengaging, if
narrow, unengaging,
têm as crianças e os jovens?
conteúdos não comerciais)
occasionally useful, resource of less
useful,
significance.
significance.
6. Intervir pedagogicamente
Como assegurar que cada criança tem acesso às competências e
experiências necessárias a que se torne um participante activo no
futuro social, cultural, económico e político da nossa sociedade?
Como assegurar a capacidade de cada criança para compreender a
forma como os media condicionam a sua percepção do mundo?
Como garantir que cada criança tem noção dos novos padrões éticos
que alicerçam as suas experiências enquanto media makers e
membros das comunidades online?
Que tipo de ensino pode resolver o gap de participação,
o problema da transparência, os desafios/vazios éticos?
O que é que queremos ensinar às crianças?
7. O que devemos ensinar?
Literacia tradicional
As novas literacias Pesquisa de informação
Competências técnicas
Análise crítica
social skills
Jogo Navegação Transmedia
Simulação
Apropriação
Performance
Cognição distribuída
Inteligência Colectiva Multi-tarefas
Negociação
Networking Análise Crítica
8. Jogo “A game is nothing but a set of problems”
Forma de explorar e adquirir conhecimentos
(carta de jogador de baseball, cidades dos clubes, história da modalidade, estádios arquitectura)
Treino na resolução de problemas: o risco e a consequência
da jogada (decisão e erro) em experiência directa
A “pica” de jogar: envolvimento activo. Uma forte
identificação conduz a um investimento emocional a sério.
“Children often feel locked out of the worlds described in their
text books through the despersonalized and abstract
prose used to describe them. Games construct compelling
worlds players move through. Players feel a part of those
worlds and have some stake in the events unfolding.”
9. Simulação A capacidade para interpretar e construir modelos do mundo real
Expansão da capacidade cognitiva pela criação de mundos virtuais: a
simulação introduz a criança na lógica de funcionamento do mundo
real.
Observação e experiência directa: incentivo à alteração, intervenção
sobre a realidade.
(Jogo César III: “Não quero estudar Roma no liceu. Eu construo Roma todos os dias no meu
jogo”. – A distinção entre classe sociais. Discussão com o pai. “Uma classe social
corresponde à distância a que te encontras do Senado; eu sei que na realidade não é bem
assim, é mais a distância a que estás dos senadores, mas é mais ou menos o mesmo”)
Quanto mais interessante me parece uma actividade, mais tempo
perco com ela: maior disponibilidade para a aprendizagem.
Os estudantes têm de aprender a interpretar e manipular as
simulações que experimentam, por forma a construírem as suas
próprias chaves de interpretação do mundo real.
10. Performance A capacidade de adoptar identidades alternativas com o
objectivo de improvisar e descobrir
Assumir identidades fictícias, permite às crianças desenvolverem um
conhecimento mais aprofundado sobre si mesmas e sobre o seu papel na
sociedade. (ex.: fazer de escrava ou de burro no Natal)
Identidade projectada
- a criança identifica-se e assume-se como sendo a personagem
- a criança vê na personagem um espelho reflector dos seus próprios valores e
escolhas (ex.: japanese pop character)
A auto-representação no blogue: capacidade de reinventar repetidamente o Eu,
facilitada pela possibilidade de actualizar constantemente o blogue e pelo
anonimato
ROLE-PLAY: a performance improvisada é uma competência chave que equilibra resolução de
problemas com expressão criativa, convidando a criança a reinventar-se a si e ao mundo e
permitindo-lhe examinar um mesmo problema de múltiplas perspectivas.
11. Apropriação Capacidade para extrair e misturar conteúdos mediáticos
Apropriação e transformação são mais do que pura pirataria (Napster
generation). São intemporais ainda que a era digital facilite os 2
processos.
Não derruba o ideal do artista autêntico e autónomo.
Envolve análise e comentário.
É o ponto de partida para criadores pouco experientes: permite-lhes
soltar a criatividade, sem o peso da página em branco.
12. Multi-tarefas “Scanear” a realidade
É preciso “scanear” toda a paisagem informativa e não cingir a observação a um só
elemento.
O “scrawl” das notícias televisivas: o ecrã é um mosaico, cada quadradinho com o seu bit de
informação relevante, nenhum deles nos oferecendo a imagem completa
Caçador
Homem da quinta
Vs. “Scaneia” uma paisagem complexa em
Segue uma sequência de tarefas que
buscas de pistas que o levem a descobrir a
requerem atenção localizada
presa
Durante séculos as escolas produziram homens da quinta. Hoje exige-se às crianças também
as competências do caçador. Uma observação “multi-tarefas” é uma forma de monitorizar e
responder ao mar de informação circundante.
Os jovens têm de aprender a relacionar informação vinda de várias direcções e a formular
modelos baseados em informação parcial, fragmentada e intermitente.
13. Cognição distribuída Capacidade de interagir com
ferramentas que expandem o potencial intelectual de cada um
Formas de externalização da memória (bases de dados) ou de
processos (a soma na calculadora) muito úteis em momentos de
decisão estratégica.
Os estudantes precisam de aprender a pensar com e através das
ferramentas de que dispõem, da mesma forma que precisam de reter
informação no seu cérebro.
A inteligência é uma capacidade individual, mas também uma
capacidade cognitiva por onde perpassam “brain, body and world”.
14. Inteligência colectiva “Everyone knows something,
nobody knows everything”
O trabalho em equipa define o mundo laboral de hoje. Cada um é chamado
como expert para resolver um problema de todos, que nunca conseguiria
resolver sozinho (um crime).
A partilha de conhecimentos atinge um maior grau de sofisticação quando
pensamos no online (um filme).
Até hoje o ensino produziu especialistas em resolver problemas de forma
autónoma: indivíduos e não equipas de trabalho.
Problemas de larga escala só poderão ser resolvidos por equipas.
“Minimally, schools should be teaching students to thrive in both
worlds: having a broad back-ground on a range of topics, but also knowing
when they should turn to a larger community for relevant expertise. They
must solve problems on their own but also how to expand their intellectual
capacity by working on a problem within a social community.”
15. Avaliação crítica Capacidade de aferir a credibilidade de
diferentes fontes de informação e a qualidade da informação
“The new mediated landscape of mainstream news sources, collaborative
blog projects, unsourced news sites, and increasingly sophisticated marketing
techniques aimed at ever-younger consumers demand that students be
taught how to distinguish fact from fiction, argument from
documentation, real from fake, and marketing from enlightenment.quot;
O ciberespaço é um mundo onde toda a gente pode colocar tudo. Da mesma forma
que aprendemos a distinguir um poema de um ensaio temos de aprender a distinguir
informação de desinformação.
O ciberespaço define-se tanto pela desinformação como pelos mecanismos que
permitem corrigi-la.
Os jovens têm de aprender não só a avaliar a qualidade das diferentes fontes de
informação, mas também a perceber como os interesses e pontos de vista enformam
a informação, como a desinformação é perpetuada ou corrigida.
16. Navegação transmedia A capacidade para ler e
expressar-se através de todos os media
“Pokémon is something you do, not just something you read or watch or consume.”
A mesma informação, as mesmas histórias, as mesmas personagens, os
mesmos mundos em múltiplas formas de representação.
Os novos media creators têm de saber navegar por diferentes formas de
representação (a palavra escrita e falada, a fotografia, a imagem em
movimento, a música, os modelos 3D…) para escolherem a melhor para
comunicar “aquilo”. A composição deixou de ser textual.
É preciso aprender a pensar através do media e esquecer o lápis e a folha de
papel.
17. Networking A capacidade para pesquisar, sintetizar e divulgar
informação
Um bom estudante deixou de ser aquele que detém um elevado grau de
conhecimentos, para passar a ser aquele que sabe navegar na torrente de
informação, contínua e ininterruptamente actualizada, do mundo de hoje.
(google)
Networking é saber identificar potenciais fontes de informação.
Networking é, mais do que isso, sintetizar, combinar diferentes fontes na
produção de um conhecimento novo, com valor acrescentado. (ex.: definição do
local mais apropriado para a construção de um novo hospital em S. Francisco)
Os jovens têm de apreender o funcionamento do networking, utilizando-o de
acordo com os seus objectivos de trabalho. Para isso, precisam de:
- perceber os contextos sócio-culturais em que diferentes informações
emergem;
- saber quando confiar ou não no outro como filtro seleccionador da
informação relevante.
18. Negociação Capacidade de negociação e deliberação para
além da diferença
Negociação entre diferentes pontos de vista
Negociação entre diferentes comunidades (cibernautas)
O novo media creator deve procurar, nas suas produções, não perpetuar os
estereótipos construídos pelos media (raça, classe, sexo, religião).
“It becomes increasingly critical to help students acquire skills in
understanding multiple perspectives, respecting and even embracing
diversity of views, understanding a variety of social norms, and negotiating
between conflicting options.”
É necessário contrariar o “diálogo de surdos”. (os tradicionais
debates de prós e contras na sala de aula – relação é fixada a priori como
antagónica e irreconciliável)
19. Que competências exige o séc. XXI?
Que assegurem a
participação das novas
comunidades emergentes
no seio da nova sociedade
“networked”.
Competências
Que assegurem aos
estudantes a utilização de Que facilitem a troca de
novas ferramentas de informação entre as
simulação, de novos diferentes comunidades e a
dispositivos de informação, capacidade de
de novas networks sociais. movimentação por entre as
diferentes plataformas
mediáticas e networks
sociais.
20. Quem?
*Modelo de educação para os media proposto por Thoman and Jolls (2005)
Escolas
Exigência multidisciplinar
1. Quem criou a mensagem?
2. Que técnicas criativas foram utilizadas para atrair a minha atenção?
3. Quantas pessoas entendem a mensagem de forma diferente de mim?
4. Que estilos de vida, valores e pontos de vista estão representados – ou omitidos – nesta mensagem?
5. Porque é que esta mensagem foi enviada?
É determinante a participação
Programas activa de cada indivíduo
Pais
na selecção, criação,
extra-curriculares reformulação, análise e
divulgação dos conteúdos Orientação nas escolhas de
Espaço de análise crítica do que mediáticos
utilização dos media e ajuda na
“lêem”, de criação e de reflexão
antecipação das consequências
É importantíssimo sabermos
sobre aquilo que produzem situar o que produzimos das escolhas feitas
no seu contexto social,
cultural e legal.
21. Notas finais
A educação para os media marca presença na realidade de alguns jovens, mas
ainda não é central na experiência educativa de todos os estudantes.
Estaremos a criar a nova elite cultural? A aprofundar o hiato?
Como aplicarmos os princípios base elencados ao percurso curricular dos
jovens? Como fazê-los chegar à fronteira entre as actividades realizadas dentro
do portão da escola e fora do portão da escola?
O que é que está ao nosso alcance fazer (através das escolas, dos programas
extra-curriculares, do acompanhamento em casa) para darmos com as crianças
o pontapé de saída e aos jovens oferecermos a oportunidade de crescerem e se
desenvolverem como participantes activos e comunicadores com ética?