1. O documento discute a importância da sustentabilidade na construção civil, incluindo minimizar o consumo de recursos, utilizar materiais renováveis e recicláveis, e proteger o meio ambiente.
2. São apresentadas várias soluções sustentáveis como uso de vegetação nativa, sistemas construtivos eficientes, incentivo a transportes sustentáveis, e gestão adequada de resíduos e água.
3. O texto também aborda a certificação ambiental de edifícios, que oferece vantagens como redução de custos
Trabalho de Sustentabilidade na Construção Civil - UFJF
1. 1
Universidade Federal de Juiz de Fora
Faculdade de Engenharia
Departamento de Construção Civil
Sustentabilidade na Construção Civil
Aluna: Fernanda Moreira da Cunha
Juiz de Fora, Novembro de 2016
2. 2
1 Introdução
O mundo vive uma época de grande consumo de recursos naturais para
atender demandas de energia, de transporte, de produção de bens de
consumo e de construções. Vivemos também um tempo de preocupação
com o futuro, já que existem graves reflexos da ação do homem sobre a
natureza: poluição, inundações, extinção de espécies e aquecimento
global, entre outros.
Uma das atividades maiores consumidoras de recursos naturais do
homem é a construção civil (CC). É importante considerar o recente
aumento no número de novas edificações no Brasil, decorrente dos
incentivos econômicos. Esse processo resulta no aumento da demanda
energética no setor de edificações, que já abrange cerca de 45% da
energia consumida, e impacta também na geração de resíduos da
construção, que respondem de 50% a 70% da massa dos resíduos
urbanos.
O grande desafio hoje é construir de maneira mais eficiente, com maior
produtividade e economia, fazendo uso de tecnologias modernas, limpas
e racionais, privilegiando o consumo responsável de recursos renováveis
ou oriundos de produção ecologicamente correta. Em resumo, trata-se de
adotar práticas da construção sustentável.
Construção sustentável é um sistema construtivo que promove alterações
conscientes no entorno, de forma a atender as necessidades de habitação
e uso do homem moderno, harmonizando-se com o clima, a tradição, a
cultura e o ambiente na região, ao mesmo tempo em que conserva a
energia e os recursos, recicla materiais e reduz as substâncias perigosas
ao longo do ciclo de vida do edifício, garantindo qualidade de vida para as
gerações atuais e futuras.
A moderna construção sustentável objetiva:
1. Minimizar o consumo e maximizar a reutilização dos recursos;
2. Utilizar recursos renováveis e recicláveis, mitigando as emissões de
gases responsáveis pelo efeito estufa e reduzindo o custo de
operação;
3. Proteger o ambiente natural;
4. Criar um ambiente de qualidade, saudável e produtivo;
5. Refletir as ideologias dos ocupantes e proprietários.
3. 3
2 Soluções Sustentáveis
Edificação sustentável é não é um modelo para resolver problemas
pontuais, mas uma nova forma de pensar a construção e tudo que a
envolve. É a partir do local de implantação e de todas suas interações
(ecológicas, sociais, econômicas, biológicas e humanas), do perfil do
cliente e das necessidades do projeto, que se define uma obra sustentável.
Dentre as várias formas de se subdividir edificações sustentáveis, pode-se
citar:
2.1 Biodiversidade e ecologia
São soluções para reduzir o impacto sobre o ecossistema local. Exemplos:
Paisagismo com vegetação nativa;
Previsão de telhado verde;
2.2 Acessibilidade, Colaboração e Inclusão
Alternativas para garantir o acesso e inclusão de todos os usuários na
edificação. Exemplos:
Acessibilidade integradora universal a portadores de deficiência;
Prover uma plataforma para educação pública e publicação do
desempenho ambiental da edificação no período.
2.3 Transporte e Mobilidade
Desenvolvimento de um plano de transportes, motivando os usuários a
reduzir o impacto de suas escolhas de transporte:
Promover meios para incentivo à carona;
Conectividade com pontos de transporte público;
Previsão de vias e banheiros para ciclistas;
2.4 Sistemas Estruturais
Para contribuir com a sustentabilidade da edificação, cuidados devem ser
tomados logo na escolha de um sistema estrutural:
Optar por sistemas construtivos industrializados e racionalizados,
como light steel frame; wood frame; drywall; alvenaria estrutural,
pré-moldados de concreto; painéis de EPS; casas-containers;
Garantir, em projeto, estratégias e projeto de manutenção, visando
à economia de recursos econômicos e naturais ligados a
recuperação e reconstrução.
4. 4
Assegurar a durabilidade adequada às condições ambientais locais,
e vida útil condizente com a finalidade da construção, reduzindo a
necessidade de reformas e manutenção.
2.5 Poluição
Atitudes para mitigação da poluição no canteiro de obras. São exemplos:
Gerenciamento e mitigação de poluição sonora, vibrações, por
escoamento da água da chuva e por poeira;
2.6 Energia e Emissões
Durante a construção, pode-se monitorar o uso de energia durante a
construção e definir metas mensais para a construtora. Durante a
operação do edifício, podemos citar:
Projeto visando orientação solar adequada para melhor
aproveitamento da iluminação natural;
Apropriação de ventilação natural promovendo a ventilação por
cobertura, ventilação cruzada e/ou o efeito chaminé;
Controle da radiação solar através de sombreamento adequado das
aberturas;
Luzes coletivas ligadas a sistemas de detecção de movimento;
Sistema solar de aquecimento de água;
Sistemas alternativos de geração de energia elétrica, como painéis
fotovoltaicos e por biomassa.
Desenvolver estratégias passivas para o condicionamento térmico
da edificação, como telhados verdes e resfriadores/aquecedores
por termoacumuladores.
Prover isolamento térmico e capacidade térmica adequados para as
vedações externas e internas, conforme bioclima da região;
2.7 Materiais
São formas de se buscar o uso racional de materiais e o uso de produtos e
tecnologias ambientalmente amigáveis:
1. Reduzir o desperdício de materiais, através de adequados
processos de especificação, armazenamento, controle de qualidade
e transporte.
2. Seleção de materiais com resistência adequada às condições
ambientais locais, reduzindo a necessidade de troca e manutenção.
3. Usar de matéria-prima local, produtos artificias e naturais,
economizando-se energia de transporte e colaborando para o
5. 5
crescimento econômico local. Ex. Produtos industrializados
regionais; Tintas de solo; Madeira local reflorestada;
4. Seleção de produtos com menor consumo energético, e/ou
certificação ambiental, como os Tijolos Ecológicos (de solo e
cimento) em detrimento dos tijolos cerâmicos e madeiras
certificadas por instituições de credibilidade, como a FSC.
5. Uso de materiais reciclados ou reaproveitados - Produtos
cerâmicos, cimentícios, vidros ou polímeros compostos total ou
parcialmente de material reciclado. Exemplo: Telhas Ecológicas,
revestimentos cerâmicos compostos por resíduos, concretos
sustentáveis.
2.7.1 Matrizes Cimentícias Sustentáveis
O concreto convencional utiliza Cimento, que sozinho responde por 5%
das emissões de CO2 devido às altas energias necessárias para produção
do clinker; areia de rio e rochas britadas, que promovem um forte
impacto no ecossistema, além de emissões de CO2 com transporte; Água
potável; Aditivos químicos, em sua maioria derivados do petróleo e
Adições minerais.
Diversos pesquisadores têm se empenhado em contribuir com a
sustentabilidade das matrizes cimentícias. Dente as soluções atualmente
disponíveis, podemos citar:
I. Substituição total o parcial do cimento por geopolímeros e
Pozolanas.
II. Uso de agregados reciclados e/ou de menor impacto ambiental,
como Escória de Aciaria, Pó de pedra, Concretos e cerâmicas
recicladas (resíduos de construção ou demolição), entre outros.
III. Uso de outras fontes de água como: Água de chuva; Água de reuso
industrial (ex. lavagem de betoneiras, dos processos de corte ou
jateamento);
IV. Maior uso de aditivos, que promovem um concreto de melhor
qualidade, menor consumo de cimento e/ou água, menor índice de
patologias e maior durabilidade.
V. Fibras poliméricas (nylon, polipropileno), de vidro ou de aço
podem ser substituídas por materiais reciclados, como Borracha de
Pneu e Resíduos de garrafa pet triturados;
6. 6
2.8 Lixo e Resíduos
Uma cidade de médio porte gera de 700 a 1.000 toneladas de RCC por dia.
Entre as soluções para prevenir e evitar os impactos de resíduos da CC
sobre o meio ambiente, pode-se citar:
Eliminar → Reduzir as fontes de produção de lixo e restringir o uso
de materiais sem potencial de reciclagem (ex. utilizando elementos
pré-fabricados).
Reduzir → minimizar o uso de substâncias com capacidade de
contaminação (como derivados de petróleo), materiais não
racionais (como tijolos cerâmicos) e embalagens (comprando
produtos a granel, devolução de paletes aos fornecedores);
armazenamento adequado para evitar danos e quebras.
Reutilizar → reutilizar produtos, envolvendo múltiplos usos de um
produto em sua forma original, com ou sem recondicionamento;
Reciclar → aproveitar as oportunidades de reciclagem, como as
usinas de reciclagem de agregados, fornecedores de gesso que
reciclam as sobras e associações de catadores de papelão de
embalagens;
Descartar → separados conforme o tipo e de forma responsável,
conforme a legislação do município.
2.9 Água
Diversas medidas podem ser tomadas para reduzir o consumo de água
durante a construção e após a entrega da edificação. Algumas são:
Instalação de um sistema de captação de água da chuva;
Instalação de sistemas de reuso de águas cinzas e tratamento de
águas negras;
Uso de equipamentos ou dispositivos economizadores de água,
como prolongadores, acionamento hidromecânico (tempo para
fechamento) ou por sensor de presença; registros reguladores de
vazão e válvulas de descarga com acionamento seletivo;
3 Comprando conscientemente
São questionamentos para o consumo responsável de materiais de CC:
O produto é feito em parte ou totalmente a partir de material
reciclado?
A fonte/matéria-prima do material é sustentável?
O produtor / empresa é sustentável/certificado?
7. 7
O produto é feito a partir de um material que pode ser reciclado
após a utilização?
A compra é energeticamente eficiente?
Toda essa embalagem é realmente necessária?
Quais são os requisitos de eliminação para o produto?
Para evitar ardis em relação a produtos falsamente sustentáveis, o
engenheiro responsável pelas compras deve compreender bem o produto
em questão e exigir comprovação técnica e/ou certificações externas de
credibilidade da sustentabilidade alegada.
4 Certificações
Os métodos para avaliação ambiental de edifícios surgiram na década de
1990 com a intenção de encorajar o mercado a obter níveis superiores de
desempenho ambiental. Este processo abrange auditorias por órgãos
externos de credibilidade. Os selos ainda enfrentam sérios desafios, como
o alto custo dos sistemas sustentáveis, da consultoria de projeto e da
execução. Ainda assim, eles têm conquistado cada vez mais o mercado,
devido às suas vantagens:
Para o empreendedor: Diferencial do mercado, fortalecendo o
marketing; aumento da Credibilidade do edifício, incorrendo em
Aumento da velocidade de venda e locação; e manutenção do valor
do patrimônio a longo tempo;
Para o comprador: Custo operacional reduzido (Economia de água
e energia), Conforto, saúde e estética; Maior valor patrimonial ao
longo do tempo
Sócio-ambientais: Menor consumo dos recursos naturais; Redução
de poluição e da geração de resíduos - respeito ao ecossistema no
qual está inserido.
Os selos mais procurados no Brasil, com as devidas adaptações para os
sistemas brasileiros, são:
LEED – Leadership in Energy and Environmental Design - 1217
edificações registradas para o selo LEED, das quais, 380
certificadas
PROCEL EDIFICA - certificou 3217 edificações
Certificação Alta Qualidade Ambiental – AQUA - 235
empreendimentos (industriais, loteamentos, hospitais) e 395
edifícios certificados
8. 8
De modo geral, os selos apresentam um sistema de pontos e níveis/
categorias (ou etiquetas) de certificação, conforme os pontos alcançados
em áreas chave. A metodologia em geral envolve a análise de diversas
categorias como: local e construção (relação com o entorno, impacto do
canteiro de obras, escolha integrada de produtos e sistemas); gestão
(energia, água, resíduos de uso e operação e manutenção); conforto
(higrotérmico, acústico, visual e olfativo); saúde (qualidade sanitária dos
ambientes, do ar e da água) e inovação.
As certificações exigem o pagamento de uma taxa de cadastro (ex. para o
LEED é 600 dólares), mais o custo de consultoria para a obra, em função
da área construída. São realizadas visitas por auditores e o construtor é
obrigado a fornecer uma série de documentos comprobatórios, desde as
contas de água e energia, a comprovação da compra de materiais
certificados, até a certificação de treinamento de segurança dos
funcionários.
5 Desempenho das edificações
“Entregar obras dentro do prazo e custo planejados” é a meta de
empresas e profissionais da construção no mundo inteiro. As empresas
de construção precisam manter sua vantagem competitiva, buscando
constantemente eficiência produtiva e melhoria na qualidade de seus
produtos e processos. Assim, investir no desempenho de edificações é
imprescindível.
Fundamentalmente, o propósito de uma edificação é proporcionar abrigo
para atividades que não poderiam ser desenvolvidas no ambiente
externo. Edificações são projetadas e construídas para (1) proteger
pessoas e equipamentos dos elementos como chuva, vento, neve e calor;
(2) promover um ambiente cuja configuração (espaço, mobília,
temperatura, iluminação, qualidade do ar, etc.) seja adequada para as
atividades que nele são desenvolvidas; e (3) promover a infraestrutura
(eletricidade, água, sistemas de remoção de resíduos) necessária para que
estas ações ocorram de forma eficiente e segura.
Atualmente, famílias e organizações possuem expectativas cada vez
maiores para suas edificações. Proprietários esperam que seus
investimentos resultarão em construções que suportam seus negócios,
aumentando a produtividade dos funcionários, os lucros e a imagem
corporativa, de forma sustentável, acessível, adaptável a novos usos,
energeticamente eficiente e de fácil manutenção. Usuários esperam que
9. 9
as edificações sejam confortáveis, funcionais, seguras e não afetem sua
saúde.
Assim, é desejo de toda a sociedade que as edificações atendam as
expectativas dos usuários durante uma vida útil determinada e cumpram
suas funções técnica e socioeconômica para cada empreendimento no
país. O desempenho de uma edificação é sua capacidade de cumprir essas
expectativas.
O desempenho em edificações requer um esforço conjunto de todas as
partes ligadas ao processo da construção civil. O tema envolve questões
técnicas complexas, bem como interesses políticos e econômicos para
atender as exigências de usuários de imóveis – as quais podem ser
subjetivas e de difícil mensuração.
6 Ciclo de Vida
Para avaliar opções e oportunidades de economia de recursos em uma
edificação, pode-se utilizar a metodologia de análise do ciclo de vida de
edificações (ACV). Esta ferramenta tem sido aceita pela comunidade
internacional como uma base legítima sobre a qual comparar materiais,
tecnologias, componentes e serviços. A ACV aborda desde a extração e
fabricação dos materiais de construção, transporte até o canteiro,
construção da edificação (fase pré-operacional), uso e manutenção
durante a vida útil (fase operacional) e demolição e disposição dos
materiais empregados (fase pós-operacional). Em todas as etapas existe
um requisito de energia e emissão de CO2 para a sua realização.
O estudo da Análise de Ciclo de Vida (ACV). As Normas ISO 14000, que
propõem um padrão global de certificação e identificação de produtos e
serviços no segmento ambiental, já incorporam a ACV. As normas mais
difundidas são: ISO 14040 – Gestão Ambiental, ACV, Princípios e
Estruturas e ISO 14044 - Gestão ambiental - ACV - Requisitos e
orientações.
7 Panorama Atual
Recentemente, a construção ganhou normas próprias no âmbito da
sustentabilidade, por meio do sistema ISO. São elas as normas ISO 21930
(2007) - Sustentabilidade na construção civil – Declaração ambiental de
produtos para construção e a ISO 15392 (2008) – Sustentabilidade na
construção civil – Princípios gerais.
São desafios da evolução sustentável da CC no Brasil, atualmente:
10. 10
O tradicionalismo do setor;
O desestímulo fiscal das entidades reguladores;
Falta de consultoria e fornecedores especializados;
Falta de mão-de-obra qualificada;
Falta de interesse em aplicar soluções sustentáveis, por parte dos
profissionais e dos clientes;
Valor alto de alguns materiais certificados e das certificações
ambientais;
Ao mesmo tempo, o setor gradualmente caminha para um patamar mais
ambientalmente responsável:
Aumento das edificações certificadas a cada ano;
Disseminação do uso de sistemas construtivos racionais, com
consequente maior número de fornecedores e menores preços;
Estímulo, na forma de canais de crédito, à implantação de Sistemas
de Gestão da Qualidade nas obras.
Crescimento do uso de tecnologias BIM e softwares de simulação
energética de edificações;
Legislação mais rigorosa e mais municípios adotando planos de
gerenciamento de resíduos;
Aumento do preço dos insumos convencionais da construção, como
cimento e agregados, devido à alta demanda nos últimos anos e à
exaustão de minas e maior distância de transporte.
Novas gerações de consumidores e fornecedores com maior
conscientização ambiental;
Maior divulgação das soluções sustentáveis nacionais e
internacionais a partir de revistas técnicas e sites da área;
Visando a um cenário da CC com sistemas e componentes técnica,
econômica e ambientalmente viáveis, é necessário a conscientização
contínua de consumidores e de profissionais em todos os níveis. Com o
aumento da demanda por soluções sustentáveis, cresce também o
mercado de fornecedores e insumos. Estímulo das agências
regulamentadoras também é imprescindível, na forma de redução de
impostos, linhas de crédito e capacitação de profissionais. Assim, as
instituições de ensino superior possuem papel fundamental na educação
de jovens engenheiros rumo a um futuro mais ecologicamente
responsável.