SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  14
Télécharger pour lire hors ligne
Homenagem ao poeta



Créditos: Luiz Gonzaga Pinheiro



Música: eu não sei porque te quero
O poeta Luiz Gonzaga Pinheiro disse
  certa vez: não entendo porque sendo a
 infância a época em que mais sofri, seja
  considerada hoje, a que fui mais feliz.
  No lugar de curtir minha maturidade,
    estou sempre tentando encarnar o
    menino que fui. Que mágica tem a
infância que nos prende e não nos deixa
               envelhecer?
Por isso seus poemas
   sempre nos remetem
  à infância. São como
algodão doce, a primeira
  vez que vemos o mar,
  barulho de chuva no
 telhado quando se está
  sob lençol quentinho
O palhaço

O velho palhaço subiu no picadeiro com um
      enorme saco de algodão cheio de
                macaquices.
         Deu uma flor para a Lívia
           um sorriso para o Neo
        uma pirueta para meus netos
escorregou em uma lágrima e caiu de pernas
                  para o ar.
           Depois imitou um coxo
             fingiu-se de médico
         disse que falava com Deus
 e quase fez uma criança saltar da cadeira
                  de rodas.
        Quando desceu do picadeiro
      foi que a vida voltou a fechar as
                 mandíbulas.
O vento

  O vento vinha ventando alucinado,
 incomodando as folhas e os pequenos
grãos de areia. Ao encontrar a fresta da
 minha janela se espremeu, assobiou e
  entrou uivando como um fantasma.
Tudo isso apenas para beijar meu rosto.
Escolas

Falta às escolas da minha terra a metade
                 da vida.
               O verbo frio
            equações certeiras
 meandros de serras e de corpos lá estão.
       Mas falta o imponderável
               O Espírito
     para dançar sobre as infinitas
              possibilidades
    de utilização do que é ensinado.
O tempo
     O tempo, com sua fome voraz
      desgasta todas as pedras
         das catedrais.
     Deixa os telhados limosos
     os corpos velhos, nodosos,
          com espirais.
    O tempo come toda mentira
       puxa, encolhe, estira
        no seu leva e traz.
     Vomita qualquer ofensa
e ao mostrar que o amor compensa
            se satisfaz.
O cata-vento

O cata-vento pega qualquer
            vento
      seja fraco, seja forte
       venha do sul, caia do
            norte
          só não pega
   o vento frio da morte.
Passarinho

 Quando fazia o curso de engenharia na
   Universidade Federal do Ceará, ao
  passar sob uma árvore, um filhote de
    passarinho caiu do ninho e ficou
balançando junto aos meus pés. Botei os
livros no chão, tirei os surrados sapatos
    e quase me esborrachei tentando
recolocá-lo no ninho. Esse presente que
      eu dei à vida jamais esqueci.
Persistência

    Mesmo com todas as
       desesperanças a
espreitar-me a cada esquina o
         menino que
teima em morar em mim ainda
           persiste.
Seja o que quer que fizeres
Se colocas Deus à parte
Terás feito o que quiseres
Nunca uma obra de arte.



                              Romélia e Luiz
Espera

      Dor já sofri tanta
  Ora no corpo, ora na alma
Que hoje nada mais me espanta
  Nem uma possível calma
Meu olhar ainda
persegue as pipas; o que
 me resta de cabelos, o
   vento livre; os pés
gostam da água do mar,
  da areia. Parece que
     ainda espero a
 adolescência chegar.
Homenagem ao escritor e poeta cearense
      Luiz Gonzaga Pinheiro

Contenu connexe

Tendances (19)

Homenagem a meu pai
Homenagem a meu paiHomenagem a meu pai
Homenagem a meu pai
 
Tempo do sacho
Tempo do sachoTempo do sacho
Tempo do sacho
 
Fragmentos
FragmentosFragmentos
Fragmentos
 
Mães São Anjos
Mães São AnjosMães São Anjos
Mães São Anjos
 
As Dores do Mundo
As Dores do MundoAs Dores do Mundo
As Dores do Mundo
 
Feliz por nada, de Martha Medeiros
Feliz por nada, de Martha MedeirosFeliz por nada, de Martha Medeiros
Feliz por nada, de Martha Medeiros
 
Acima da media
Acima da mediaAcima da media
Acima da media
 
Naturalismo
Naturalismo Naturalismo
Naturalismo
 
Celebre a vida
Celebre a vidaCelebre a vida
Celebre a vida
 
Curve Se Diante Da Beleza
Curve Se Diante Da BelezaCurve Se Diante Da Beleza
Curve Se Diante Da Beleza
 
Celebreavida
CelebreavidaCelebreavida
Celebreavida
 
Celebreavida
CelebreavidaCelebreavida
Celebreavida
 
Torne Se Oceano
Torne Se OceanoTorne Se Oceano
Torne Se Oceano
 
*** Um Oceano ***
***  Um  Oceano ******  Um  Oceano ***
*** Um Oceano ***
 
Um Oceano
Um OceanoUm Oceano
Um Oceano
 
Apresentação Carol
Apresentação CarolApresentação Carol
Apresentação Carol
 
Cantico negro dito por
Cantico negro dito porCantico negro dito por
Cantico negro dito por
 
Um Oceano
Um OceanoUm Oceano
Um Oceano
 
Arte De Ser Feliz
Arte De Ser FelizArte De Ser Feliz
Arte De Ser Feliz
 

Similaire à Homenagem

Reflexões e interferências
Reflexões e interferênciasReflexões e interferências
Reflexões e interferênciasRegina Gouveia
 
Revista encontro literário edital 01.2011
Revista encontro literário   edital 01.2011Revista encontro literário   edital 01.2011
Revista encontro literário edital 01.2011Ailton
 
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBesaf Biblioteca
 
Sem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_acenoSem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_acenoHBMenezes
 
Atelier de poesia 9ºA
Atelier de poesia 9ºAAtelier de poesia 9ºA
Atelier de poesia 9ºAFlora Ferreira
 
A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1PeroVaz
 
Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book AMEOPOEMA Editora
 
Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..
Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..
Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..Edson Marques
 
Sem Ao Menos Um Aceno
Sem Ao Menos Um AcenoSem Ao Menos Um Aceno
Sem Ao Menos Um Acenoguesta47b474
 
Livro de poesia 7 a para blogue
Livro de poesia 7 a para blogueLivro de poesia 7 a para blogue
Livro de poesia 7 a para blogueVeronica Baptista
 
Figuras de Linguagem
Figuras de LinguagemFiguras de Linguagem
Figuras de LinguagemJairo Coêlho
 

Similaire à Homenagem (20)

Kathársis2009
Kathársis2009Kathársis2009
Kathársis2009
 
Reflexões e interferências
Reflexões e interferênciasReflexões e interferências
Reflexões e interferências
 
Revista encontro literário edital 01.2011
Revista encontro literário   edital 01.2011Revista encontro literário   edital 01.2011
Revista encontro literário edital 01.2011
 
Como um Estalo
Como um EstaloComo um Estalo
Como um Estalo
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
Ria5
Ria5Ria5
Ria5
 
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
 
Sem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_acenoSem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_aceno
 
Atelier de poesia 9ºA
Atelier de poesia 9ºAAtelier de poesia 9ºA
Atelier de poesia 9ºA
 
Poema de mil faces
Poema de mil facesPoema de mil faces
Poema de mil faces
 
A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1
 
Semana poesia
Semana poesiaSemana poesia
Semana poesia
 
Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book
 
Desnho
DesnhoDesnho
Desnho
 
Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..
Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..
Não espere a próxima primavera para sentir o perfume de todas as flores..
 
Sem Ao Menos Um Aceno
Sem Ao Menos Um AcenoSem Ao Menos Um Aceno
Sem Ao Menos Um Aceno
 
Livro de poesia 7 a para blogue
Livro de poesia 7 a para blogueLivro de poesia 7 a para blogue
Livro de poesia 7 a para blogue
 
Figuras de Linguagem
Figuras de LinguagemFiguras de Linguagem
Figuras de Linguagem
 
Slides Arte De Ser Poeta
Slides Arte De Ser PoetaSlides Arte De Ser Poeta
Slides Arte De Ser Poeta
 
Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014
 

Plus de Prefeitura de Fortaleza (20)

A inocência
A inocênciaA inocência
A inocência
 
A inocência
A inocênciaA inocência
A inocência
 
Deslumbramento
DeslumbramentoDeslumbramento
Deslumbramento
 
Homenagem
HomenagemHomenagem
Homenagem
 
Homenagem
HomenagemHomenagem
Homenagem
 
Homenagem
HomenagemHomenagem
Homenagem
 
Homenagem
HomenagemHomenagem
Homenagem
 
Força
ForçaForça
Força
 
Saudade
SaudadeSaudade
Saudade
 
Saudades
SaudadesSaudades
Saudades
 
Fuga
FugaFuga
Fuga
 
A razão
A razãoA razão
A razão
 
A razão
A razãoA razão
A razão
 
Força
ForçaForça
Força
 
Jacuipe
JacuipeJacuipe
Jacuipe
 
Coisas que aprendi com a vida
Coisas que aprendi com a vidaCoisas que aprendi com a vida
Coisas que aprendi com a vida
 
Navegante
NaveganteNavegante
Navegante
 
Preferências
PreferênciasPreferências
Preferências
 
Visita de um amigo
Visita de um amigoVisita de um amigo
Visita de um amigo
 
Gato segunda
Gato segundaGato segunda
Gato segunda
 

Homenagem

  • 1. Homenagem ao poeta Créditos: Luiz Gonzaga Pinheiro Música: eu não sei porque te quero
  • 2. O poeta Luiz Gonzaga Pinheiro disse certa vez: não entendo porque sendo a infância a época em que mais sofri, seja considerada hoje, a que fui mais feliz. No lugar de curtir minha maturidade, estou sempre tentando encarnar o menino que fui. Que mágica tem a infância que nos prende e não nos deixa envelhecer?
  • 3. Por isso seus poemas sempre nos remetem à infância. São como algodão doce, a primeira vez que vemos o mar, barulho de chuva no telhado quando se está sob lençol quentinho
  • 4. O palhaço O velho palhaço subiu no picadeiro com um enorme saco de algodão cheio de macaquices. Deu uma flor para a Lívia um sorriso para o Neo uma pirueta para meus netos escorregou em uma lágrima e caiu de pernas para o ar. Depois imitou um coxo fingiu-se de médico disse que falava com Deus e quase fez uma criança saltar da cadeira de rodas. Quando desceu do picadeiro foi que a vida voltou a fechar as mandíbulas.
  • 5. O vento O vento vinha ventando alucinado, incomodando as folhas e os pequenos grãos de areia. Ao encontrar a fresta da minha janela se espremeu, assobiou e entrou uivando como um fantasma. Tudo isso apenas para beijar meu rosto.
  • 6. Escolas Falta às escolas da minha terra a metade da vida. O verbo frio equações certeiras meandros de serras e de corpos lá estão. Mas falta o imponderável O Espírito para dançar sobre as infinitas possibilidades de utilização do que é ensinado.
  • 7. O tempo O tempo, com sua fome voraz desgasta todas as pedras das catedrais. Deixa os telhados limosos os corpos velhos, nodosos, com espirais. O tempo come toda mentira puxa, encolhe, estira no seu leva e traz. Vomita qualquer ofensa e ao mostrar que o amor compensa se satisfaz.
  • 8. O cata-vento O cata-vento pega qualquer vento seja fraco, seja forte venha do sul, caia do norte só não pega o vento frio da morte.
  • 9. Passarinho Quando fazia o curso de engenharia na Universidade Federal do Ceará, ao passar sob uma árvore, um filhote de passarinho caiu do ninho e ficou balançando junto aos meus pés. Botei os livros no chão, tirei os surrados sapatos e quase me esborrachei tentando recolocá-lo no ninho. Esse presente que eu dei à vida jamais esqueci.
  • 10. Persistência Mesmo com todas as desesperanças a espreitar-me a cada esquina o menino que teima em morar em mim ainda persiste.
  • 11. Seja o que quer que fizeres Se colocas Deus à parte Terás feito o que quiseres Nunca uma obra de arte. Romélia e Luiz
  • 12. Espera Dor já sofri tanta Ora no corpo, ora na alma Que hoje nada mais me espanta Nem uma possível calma
  • 13. Meu olhar ainda persegue as pipas; o que me resta de cabelos, o vento livre; os pés gostam da água do mar, da areia. Parece que ainda espero a adolescência chegar.
  • 14. Homenagem ao escritor e poeta cearense Luiz Gonzaga Pinheiro