Este documento resume a peça teatral "O Beijo no Asfalto", de Nelson Rodrigues. A peça é dividida em 3 atos e 13 quadros que descrevem a investigação e interrogatório do personagem Arandir após ele beijar um homem ferido na rua. A peça explora questões como jornalismo sensacionalista, masculinidade e sexualidade.
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PROFESSOR JOSÉ RICARDO LIMA
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Recife,
23 de agosto de 1912
—
Rio de Janeiro,
21 de dezembro de 1980
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“Sou um menino que vê
o amor pelo buraco da
fechadura. Nunca fui
outra coisa. Nasci meni-no,
hei de morrer meni-no.
E o buraco da fecha-dura
é, realmente, a mi-nha
ótica de ficcionista.
Sou (e sempre fui) um
anjo pornográfico.”
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PRINCIPAIS OBRAS
Tragédias Cariocas
Perdoa-me por me traíres
Os sete gatinhos
O beijo no asfalto
Bonitinha, mas Ordinária
Toda Nudez Será Castigada
Peças psicológicas
Vestido de noiva
Viúva, porém honesta
Peças míticas
Álbum de família
Anjo negro
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TEORIZANDO
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O GÊNERO LITERÁRIO
“... pertencerá à Lírica todo poema de extensão
menor, na medida em que se não cristalizem
personagens nítidos e em que, ao contrário, uma voz
central — quase sempre um “Eu” — nele exprimir seu
próprio estado de alma. Fará parte da Épica toda obra
— poema ou não — de extensão maior, em que um
narrador apresentar personagens envolvidos em
situações e eventos. Pertencerá à Dramática toda
obra dialogada em que atuarem os próprios
personagens sem serem, em geral, apresentados por
um narrador”.
(ROSENFELD, Anatol. O teatro épico)
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O GÊNERO LITERÁRIO
Realiza-se com o objetivo de mostrar ações que se
desenrolam diante dos espectadores. Sua principal
característica é, pois, a representação.
Nele não se observa a sucessão numerosa de
acontecimentos para serem narrados (como no
gênero narrativo) nem a profusão de sentimentos
íntimos e pessoais (como no lírico).
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ELEMENTOS INDICATIVOS DO GÊNERO
(Distrito Policial, corresponde à praça da Bandeira. Sala
do delegado Cunha. Este, em mangas de camisa, os
suspensórios arriados, com um escandaloso revólver na
cintura. Entra o detetive Aruba.)
ARUBA (sôfrego e exultante) — O Amado Ribeiro
está lá embaixo!
(Cunha, que estava sentado, dá um pulo. Faz a volta da
mesa.)
CUNHA — Lá embaixo?
RUBRICA: Indicação escrita de como deve ser executado um trecho musical, uma
mudança de cenário, um movimento cênico, uma fala, um gesto do ator, etc.
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O GÊNERO LITERÁRIO
TRAGÉDIA: representa, de modo catastrófico,
acontecimentos que causam no público não só terror,
mas também compaixão.
CATARSE: O efeito moral e purificador da tragédia
clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações
dramáticas, de extrema intensidade e violência,
trazem à tona os sentimentos de terror e piedade dos
espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou
purgação, desses sentimentos.
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O TEATRO DE NELSON RODRIGUES
“Somente a partir de 1943 é que se pode falar da existência
de uma dramaturgia moderna do país, com a encenação de
Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues. Construindo um
universo dramático absolutamente original e irrepetível,
coube a ele apontar caminhos de vanguarda para o teatro
brasileiro. Com efeito, as peças de Nelson Rodrigues são uma
verdadeira suma de novidades: elas mostram brutalmente a
realidade familiar, seja sob a forma naturalista, seja sob a
forma expressionista, desvendam de forma quase
psicanalítica a interioridade mais profunda dos personagens,
apresentam os enredos mediante sofisticados jogos
temporais e possibilitam encenações de grande ousadia”.
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AS TRAGÉDIAS CARIOCAS
É o cotidiano que se oferece como
matéria-prima para o drama — e temos uma
tragédia carioca, portanto, uma tragédia
cotidiana, mas onde não se trata de mostrar,
de ilustrar esse cotidiano, pois este não é, em
última instância, o assunto desta tragédia.
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AS TRAGÉDIAS CARIOCAS
Um dos fortes elemen-tos
que remontam ao
cotidiano carioca em O
beijo no asfalto é o jornal
sensacionalista Última
hora.
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AS DIVISÕES DA PEÇA
ATO: subdivisão da ação de uma peça, que em
geral compreende uma unidade temporal e
desenvolve um estágio, ou fase, do conflito e da
trama entre os personagens.
QUADRO: designa um cenário fixo em tempo
contínuo que pode prevalecer durante várias
cenas. Ao se mudar o cenário ou o tempo de
representação (aurora para o crepúsculo, por
exemplo) muda-se o quadro.
A peça tem 3 atos, divididos em 13 quadros.
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ENREDO
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O FATO (Não faz parte da ação da peça)
Rio de Janeiro, Praça da Bandiera, 1961.
O repórter Amado Ribeiro assiste a uma cena
inusitada na rua: um rapaz (Arandir) corre até um
homem caído junto ao meio-fio e beija-o na boca.
Amado vê aí a oportunidade de um artigo
sensacionalista para o seu jornal.
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A partir de agora serão utilizadas, como ilustração para os eslaides, imagens da
adaptação de O beijo no asfalto para os quadrinhos, publicada pela Editora Nova
Fronteira em versão grafic novel, com desenhos de Arnaldo Branco e Gabriel Góes.
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1º ATO, 1º QUADRO — Delegacia
Dirige-se à delegacia e com-vence
o delegado a interrogar
o autor do beijo.
Ele pretende transformar o
episódio em algo que venda
seu jornal. Aliado ao chefe de
polícia, força o rapaz a um
interrogatório e publica foto e
noticiário escandaloso sobre
ele.
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1º ATO, 2º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Aprígio, sogro de Arandir, que também havia
assistido à cena, vai até a casa da filha Selminha
avisá-la de que seu marido chegará mais tarde, pois
está prestando depoimento à polícia sobre o
acontecido.
No diálogo com o pai, Selminha constata — mais
uma vez — que Aprígio não pronuncia o nome de
Arandir.
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1º ATO, 2º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Dália, a irmã adolescente de Selminha, mora na
casa dos cunhados desde que eles voltaram da lua de
mel.
Aprígio suspeita da masculinidade de Arandir, mas
Selminha o defende.
Ao pedir a Dália que confirme a felicidade do casal,
Selminha acaba revelando ao pai uma coisa que a
irmã havia lhe dito tempos antes.
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1º ATO, 2º QUADRO — Casa de
Selminha e Arandir
Selminha afirma ser a
pessoa mais feliz do mun-do,
ao lado de Arandir.
Aprígio vai embora.
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1º ATO, 3º QUADRO —
Delegacia
Arandir é interrogado de
maneira humilhante e
violenta pelo delegado
Cunha. Participam da cena
o repórter Amado Ribeiro,
o comissário Barros, o
detetive Aruba e um
fotógrafo.
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1º ATO, 4º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Selminha e Dália conversam sobre o pai, e Aprígio.
Dália tem uma suspeita para o motivo de o pai não
pronunciar o nome de Arandir.
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1º ATO, 4º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Arandir chega em casa. Conta o fato e o depoimento
para a esposa e a cunhada.
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2º ATO, 1º QUADRO — Casa de
Selminha e Arandir
Dona Matilde, a vizinha,
mostra a Selminha e Dália o
jornal, com a reportagem
sobre Arandir.
No texto, havia uma acu-sação
importante.
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2º ATO, 2º QUADRO — Escritório
da firma onde trabalha Arandir
Arandir é humilhado no
serviço. Nenhum colega o
defende.
Dona Judith, a datilógrafa,
acha que um dia um homem
parecido com o atropelado
foi até o jornal e transforma
sua dúvida em certeza
absoluta.
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2º ATO, 3º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Nunca conversa com Aprígio, Selminha mais uma
vez defende Arandir. Diz que confia absolutamente
nele. Que se o marido tivesse um caso com outro
homem, ele diria a ela.
Conta-lhe sobre o dia em que Arandir,
acidentalmente, flagrou Dália nua, tomando banho.
No mesmo instante, foi até a esposa e relatou o
acontecido.
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2º ATO, 3º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Selminha pergunta ao pai se ele já amou de
verdade, pois acredita que faria tudo para defender
Arandir. A resposta de Aprígio é reveladora.
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2º ATO — Velório do atropelado
No velório do atropelado, o repórter Amado Ribeiro
retarda o enterro para chantagear a viúva. Ameaça a
mulher dizendo que sabe tudo sobre o amante dela.
Depois de vê-la, apavorada, jurar inocência, Amado
induz o depoimento da mulher: "Seu marido tinha um
amigo, chamado Arandir, amigo esse que a senhora
está reconhecendo pela fotografia".
A nosso ver, este trecho da peça poderia ser classificado como outro quadro,
pois houve mudança de cenário. Mas o texto de Nelson Rodrigues não faz essa
divisão e não o relaciona na lista das partes constitutivas do 2º ato.
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2º ATO, 4º QUADRO — Quarto de Selminha e Arandir
Arandir conta à esposa as humilhações que sofreu
no trabalho. Pediu demissão.
Ela lhe fala sobre os trotes que recebeu, sobre os
olhares acusadores dos vizinhos.
Selminha mostra-se desconfiada do marido e recusa
seus beijos.
Dália chega e logo em seguida ouve-se um barulho
no portão. É a polícia.
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3º ATO, 1º QUADRO — Casa da Boca do Mato
O delegado Cunha, o repórter Amado e o inspetor
Aruba haviam “sequestrado” Selminha e a estão
interrogando, em casa “de um amigo”, num lugar
chamado Boca do Mato. Arandir havia fugido.
A viúva do atropelado é colocada diante de
Selminha e, forçada pelos policiais, diz que seu marido
e Arandir eram amantes, que havia os flagrado
tomando um banho juntos. A viúva sai.
Selminha faz revelações importantes.
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3º ATO, 1º QUADRO — Casa da Boca do Mato
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3º ATO, 1º QUADRO — Casa da Boca
do Mato
Selminha xinga os policiais,
acusa-os de serem criminosos.
Tenta defender Arandir, dizendo
que ele é homem.
Os policiais acusam Arandir de
ser bissexual e violentam Selmi-nha.
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3º ATO, 2º QUADRO — Casa de
Selminha e Arandir
Aprígio chega, perguntando
por Selminha. Dália afirma que a
irmã foi presa.
Aprígio e Dália discutem por
causa de Arandir.
No meio da discussão, uma
acusação importante.
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3º ATO, 3º QUADRO — Quarto do
repórter Amado Ribeiro
Conversa entre Amado e
Aprígio sobre o casamento de
Arandir e Selminha.
O jornalista afirma que a filha
de Aprígio não é mulher para
Arandir e deixa escapar uma
sugestão cheia de maldade, que
será fundamental para o
desfecho da trama.
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3º ATO, 4º QUADRO — Casa de Selminha e Arandir
Arandir liga para a casa e, através de Dália, pede
que Selminha o encontre no hotel. Ela exita.
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3º ATO, 5º QUADRO — Quarto de hotel
Dália vai ao hotel onde está Arandir e se declara ao
cunhado. Diz que sempre o amou e que morreria com
ele, caso fosse necessário.
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3º ATO, 5º QUADRO — Quarto de hotel
Arandir expulsa a cunhada do quarto de hotel.
Aprígio chega. Arandir acusa o sogro de nunca
apoiar seu casamento com Selminha. Diz que vai
buscar sua esposa.
Aprígio diz a Arandir que o perdoaria por tudo,
menos pelo beijo no asfalto, declara seu amor a
Arandir e assassina o genro com um tiro.
Aprígio aproxima-se do cadáver e finalmente
pronuncia o nome de seu amado: Arandir!
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3º ATO, 5º QUADRO — Quarto de hotel
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ANÁLISE
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O NÚCLEO FAMILIAR
APRÍGIO
R ARANDIR
SELMINHA DÁLIA
DESEJO SEXUAL
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• “Uma figura jovem, de uma sofrida
simpatia que faz pensar num coração
atormentado e puro.” (pág. 22)
ARANDIR
• “Essa é a imagem fina de uma moça,
de uma intensa feminilidade.” (pág.
15)
SELMINHA
• “Adolescente cuja graça leve parece
esconder uma alma profunda.” (pág.
16)
DÁLIA
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APRÍGIO
Aprígio é mais uma personagem frustrada
da galeria interminável do autor.
Homossexual enrustido, ele fez a filha
acreditar nas notícias do jornal para poder
ficar para sempre com o genro. Quando
percebe que a paixão sentida por Dália é
ainda maior que a de Selminha, mente
para a caçula que o atropelado já estava
morto quando foi beijado.
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APRÍGIO
Ou seja, Arandir não beijou para satisfazer o
último desejo de um agonizante e sim para
satisfazer seu próprio desejo homossexual.
Aprígio garante ainda que os dois eram
amantes. Para completar, atira em Arandir,
objeto de seu amor, por causa da
impossibilidade de assumir seu sentimento.
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APRÍGIO
Mediante um mundo tão preconceituoso, o
covarde Aprígio vê no crime a única
possibilidade de libertação e paz interior.
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O NÚCLEO DOS “VILÕES”
AMADO
• Repórter: presencia o beijo na boca entre os dois
homens e transforma a história do último desejo
de um agonizante em manchete principal.
CUNHA
• Delegado: violento, corrupto, espancou uma
mulher grávida e esta perdeu o filho. Vê na
reportagem de Amado uma forma de
esquecerem sua história.
ARUBA
• Investigador: compactua com Amado e Cunha,
na tentativa de incriminar Arandir pelo “beijo no
asfalto”.
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Na estreia de O beijo no asfalto,
Fernanda Montenegro (Selminha)
contracena com Maria Esmeralda
(Dália) e Zilka Salaberry (D.
Matilde).
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O NÚCLEO DOS “VILÕES”
REPÓRTER AMADO RIBEIRO
DELEGADO CUNHA
INVESTIGADOR ARUBA
COMISSÁRIO BARROS
FOTÓGRAFO
Todos eles, de alguma
forma, ajudam a contar
a mentira que Arandir ti-nha
um caso homoafeti-vo
com o morto. Com
exceção do FOTÓGRA-FO,
que apenas cumpre
as ordens dos demais,
todos são violentos, au-toritários
e, de alguma
forma, corruptos.
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COLEGAS DE ARANDIR
WERNECK
SODRÉ
PIMENTEL
DONA JUDITH
Todos eles acreditam na
reportagem do jornal e,
de alguma forma, de-monstram
o seu precon-ceito
contra Arandir.
Mesmo conhecendo o
rapaz “de perto”, nin-guém
o defende, o
apoia ou dão crédito a
ele.
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A “REDE DE INTRIGAS”
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Dona Judith, a datilógrafa, acha que um dia um
homem parecido com o atropelado foi até o jornal e
transforma sua dúvida em certeza absoluta.
Werneck, colega de escritório, lidera o coro dos
detratores e começa a constranger Arandir no dia
seguinte à manchete do Última Hora.
Dona Matilde, vizinha, simboliza o coro dos
fofoqueiros, típicas figuras que adoram bisbilhotar a
tragédia alheia.
A viúva, com medo de ver publicado no jornal o fato
de ter um amante, testemunha contra Arandir,
forjando um banho dele junto com seu ex-marido.
DONA
JUDITH
WERNECK
DONA
MATILDE
A
VIÚVA
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AMADO
A pior de todas as personagens é, sem dúvida, o
repórter corrupto Amado Ribeiro, resumido por
Nelson Rodrigues como um "cafajeste dionisíaco".
Cruel, maligno, inescrupuloso e sensacionalista, ele
compensa seu vazio interior com abuso de poder.
Compra provas, inventa testemunhas, se aproveita
de situações e ingenuidades, planta informações,
enfim, é uma escola sobre como o Jornalismo não
deve ser exercido.
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SELMINHA
No meio desta confusão, a única pessoa que
poderia lutar contra os fatos e acreditar em Arandir é
sua mulher, Selminha.
Frágil e bastante feminina, ela ama Arandir desde
garotinha e sempre confiou muito nele.
Porém sua fragilidade acaba se mostrando fraqueza
e já na primeira notícia ela acaba duvidando da
heterossexualidade do marido.
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SELMINHA
Recusa beijos e, quando
inevitável, limpa a boca com
as costas da mão.
Não aceita visitar o marido
no hotel e defende a
hipótese de que ele é
"gilete" (bissexual).
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DÁLIA
Ama Arandir?
Apenas deseja Arandir?
Quer simplesmente dispu-tá-
lo com a irmã?
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ARANDIR
Arandir condenou-se à morte no momento em que
desejou penhorar a aliança para ter em mãos o
dinheiro que permitiria à mulher praticar o aborto.
Envolveu-se ele numa trama, de que resultou ser
assassinado.
Ironicamente, novo ciclo deve iniciar-se, quando
Selminha der à luz o filho de Arandir. O nascimento
responde à morte. (MAGALDI 1992: 79)
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TEMPO
Numa história de ação linear, o tempo é
cronológico.
Diante do espectador desenrolam-se as ações
decorrentes do gesto de Arandir, que se vão tornando
cada vez mais tensas, até culminar com seu
assassinato.
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A LINGUAGEM
Os diálogos são curtos, reticentes. Proliferam as
frases incompletas, próprias da comunicação
coloquial. O discurso é direto, como convém à obra
dramática moderna.
Apesar de, às vezes, violenta, mais pela ação do que
pelos termos empregados, não é escatológica, não há
palavrões.
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A LINGUAGEM
O máximo que se encontra vem do delegado Cunha,
quando diz: “ Ai, meu cacete! ...”
Já as frases curtas, entrecortadas, emprestam
velocidade e ação ao texto. Uma ou outra vez, algum
clichê, ao que parece usado de forma irônica e
consciente.
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TEMÁTICAS
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CORRUPÇÃO POLICIAL
Na peça temos dois representantes da polícia: o
delegado Cunha e o detetive Arruba.
Esses, através da sua imposição autoritária e por
vezes violenta, conseguem forjar depoimentos e
conseguir testemunhas para reforçar a irreal história
de intimidade entre o atropelado e Arandir.
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JORNALISMO MARROM
O repórter Amado Ribeiro, enxerga nesse acidente,
uma possibilidade de promover a si próprio e ao
jornal no qual trabalha.
E por isso, conta com a cumplicidade de Cunha para
tramar a história que transformará o destino de todos
os personagens da peça.
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O MORALISMO VELADO
A imprensa e polícia aproveitando do ato generoso
de Arandir, se unem para divulgar uma história
inverídica e demasiada rentável.
Ao invés de divulgarem o altruísmo o
desprendimento do ato, que pode ser visto como
uma extrema-unção àquele que agonizava, foi
preferível engendrar um romance homossexual.
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O MORALISMO VELADO
A virilidade de Arandir é questionada por diversas
vezes (por colegas do trabalho, vizinhos e até esposa),
mas ele talvez seja o único homem que seja, de
fato, heterossexual.
O delegado Cunha, demonstrando sempre seu lado
viril, menciona em um dado momento que ele
prefere “as magrinhas”, “as ossudas”, ou seja,
podemos entender que gosta daquelas sem curvas,
sem atributos.
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O MORALISMO VELADO
Lembrando que o mesmo bate em mulheres e é
extremamente ríspido com as mesmas. Isso pode
ser lido muito mais do que desvio de caráter.
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HOMOSSEXUALIDADE
Existe, ainda, um alerta contra o preconceito,
especialmente de ordem sexual: o burguês não
aceita a homossexualidade, mesmo quando, no
íntimo, deseja-a (Aprígio).
Pode ser visto também como um libelo contra as
arbitrariedades cometidas pelas autoridades —
arrogantes, prepotentes, amorais e imorais.
Não seria demasiado afirmar que um dos temas
centrais é o sexo ou a sexualidade conduzindo as
ações humanas, pois o comportamento de todos os
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SEXUALIDADE CONDUZINDO AS AÇÕES HUMANAS
Não seria demasiado afirmar que um dos temas
centrais é o sexo ou a sexualidade conduzindo as
ações humanas, pois o comportamento de todos os
personagens está ligado a ele: do repórter, do
delegado, de Aprígio, de Dália...