O documento analisa os planos econômicos dos candidatos à presidência brasileira em 2014, comparando suas propostas e como elas abordam a desigualdade social. Apesar de discursos semelhantes, os modelos econômicos diferem, e é importante avaliar qual programa melhor atenderá às necessidades do país e quais classes sociais cada um atrai. A desigualdade deve ser o foco da análise para se entender os problemas econômicos brasileiros e escolher a via mais adequada para sua redução.
1. A DESIGUALDADE SOCIAL NOS PLANOS ECONÔMICOS DOS CANDIDATOS DE 2014
Lucas Bertolo !
São Paulo, 14 de Outubro de 2014. !
Um dos candidatos à presidência do Brasil, insiste, desde o primeiro turno das eleições, em
tornar pauta principal a situação econômica do país. O debate sobre o tema pode ajudar-nos a com-parar
os diferentes modelos econômicos propostos pelos candidatos ainda em disputa. É ingênuo ler
os dois programas como se ambos fossem resultar na mesma coisa. Há, decerto, no debate político a
ser exposto na grande mídia, semelhanças inegáveis na esfera do discurso humanitário, de defesa do
interesse do povo, de atenção às reivindicações básicas (como melhora na saúde e na educação), em
suma, pode-se dizer que a superfície de ambos os projetos de governo refletem parecidos matizes. !
Mas quando adentra-se na esfera dos modelos econômicos, as duas vias não encontram-se, e
disso é possível inferir qual programa é mais fiel ao seu discurso, ou ainda qual programa sustentará
melhor o que foi dito em campanha. É preciso, então, pôr na balança os projetos, para analisar quais
propostas correspondem mais ou menos às necessidades imediatas do país. Imprescindível é a leitu-ra
da atmosfera deixada pelo primeiro turno, também, visto que os votos demonstram a quais class-es
sociais cada um dos programas mostrou-se mais atraente. !
“Já era tempo de recolocar a questão da desigualdade no centro da análise econômica”, diz o
economista Thomas Piketty, no início d’O Capital no século XXI. Tal frase deve servir de guia para,
à nossa maneira, analisarmos o problema econômico brasileiro. O tema central do economista não é
para a esquerda nenhuma novidade, mas a atual onda conservadora faz necessária a sua reincidência
— tanto aqui, no país que elegeu o Congresso mais conservador desde o golpe, como na França, em
processo de ascese de candidatos da extrema-direita, como nos Estados Unidos, onde a falta de uma
expressividade progressista mina qualquer projeto mais humanista de governo. !
Cristalizada a questão no seio de nossa pauta principal, é preciso averiguar as candidaturas a
fim de tentar extrair a via mais adequada para a redução desta mazela. No entanto, e a esquerda sabe
bem disso, não há um plano de governo que esboça uma consistente saída da situação que aumenta,
por conta de suas políticas econômicas, a desigualdade social. Na era do capitalismo patrimonial, as
candidaturas parecem flertar, uma mais, outra menos, com a consolidação de uma administração das
propriedades públicas em benefício das privadas, ou ainda com a garantia de um modelo liberal que
assegure a manutenção e o desenvolvimento das fortunas da poderosa minoria do país. “O contraste
entre o discurso meritocrático oficial e a realidade parece aqui particularmente extremo”, continua o
economista. !
Ainda que o modelo econômico do atual governo apresente uma visada mais igualitarista, no
que tange a redução da desigualdade entre as classes baixas e médias baixas, o que incide em signi-ficativa
mudança na vida alienada do trabalhador em sua relação com as mercadorias, a resignação,
dos dois últimos governos, ou seja, a aceitação da sociedade capitalista tal como ela é, ainda causa
enjoo à esquerda. Isso explica, em parte, a opção da juventude de esquerda (às vezes da direita, mas
por outros motivos), pelo voto nulo. Já dizia Marx, em O Capital, “melhorar o vestuário, a alimen-tação,
o tratamento e aumentar seu peculium não abole a relação de dependência e a exploração do
escravo”, e ainda mais, “o tamanho e o peso dos grilhões de ouro que o empregado forjou para si
permitem que eles o apertem um pouco menos”. Infelizmente, diante de nossa situação, devem ser
frisadas as palavras “um pouco menos”, que para muitos já é suficiente para uma tomada de decisão
na eleição deste ano — inclusive para mim.