A primeira consiste em usar preposições em frases truncadas, omitindo o resto da estrutura preposicional. A segunda é começar frases por infinitivos em vez de verbos conjugados. Estes fenômenos refletem possíveis mudanças sintáticas em curso no português.
14. As cantigas de amor são
composições poéticas em que o trovador
apaixonado presta vassalagem amorosa à
mulher como ser superior, a quem chama
a sua «senhor». Produto da inteligência e
da imaginação, o amor é, geralmente,
«fingido», o que caracteriza estas cantigas
como aristocráticas, convencionais e
cultas. De ambiente palaciano, são
originárias da Provença.
15. O amor era concebido à maneira
cavaleiresca, como um «serviço». Consistia esse
serviço em dedicar à amada os pensamentos, os
versos e os atos. O servidor está para com a
«senhor» como o vassalo para com o suserano. A
regra principal deste «serviço» era, além da
fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os
possíveis para que ninguém sequer suspeitasse
do nome da sua senhora. Mas o que é próprio das
cantigas de amor e do seu modelo provençal é a
distância a que o amante se coloca em relação à
sua amada, a que chama senhor, tornando-a um
objeto quase inacessível. O amor trovadoresco e
cavaleiresco é, por ideal, secreto, clandestino e
impossível.
16. Quanto aos temas, elaboraram os
Provençais o ideal do amor cortês muito
diferente do idílio rudimentar nas margens
dos rios ou à beira das fontes que os
cantares de amigo nos deixam entrever.
Não se trata de uma experiência
sentimental a dois, mas de uma aspiração,
sem correspondência, a um objeto
inatingível, de um estado de tensão que,
para permanecer, nunca pode chegar ao
fim do desejo. Manter este estado de
17. tensão considera-se ser o ideal do
verdadeiro amador e do verdadeiro poeta,
como se o movesse o amor do amor, mais
do que o amor a uma mulher. E não só a
esta dirigem os poetas as suas
implorações, queixas ou graças, mas ao
próprio Amor personificado, figura de
retórica muito comum entre os trovadores
provençais e por eles transmitida aos
galego-portugueses.
18. O trovador imaginava a dama como um
suserano a quem «servia» numa atitude
submissa de vassalo, confiando o seu destino
ao «bom sen» da «senhor». Todo um código de
obrigações preceituava o «serviço» do amador,
que, por exemplo, devia guardar segredo sobre a
identidade da dama, coibindo toda a expansão
pública da paixão (o autodomínio, ou «mesura»,
era a sua qualidade suprema), e que não podia
ausentar-se sem sua autorização. O apaixonado
devia passar provações e fases comparáveis
aos ritos de iniciação nos graus da cavalaria.
19. A este ideal de amor corresponde
certo tipo idealizado de mulher, que
atingiu mais tarde a máxima depuração na
Beatriz de Dante ou na Laura de Petrarca:
os cabelos de oiro, o sereno e luminoso
olhar, a mansidão e a dignidade do gesto,
o riso subtil e discreto.
27. O Aves marcou um golo ao Benfica.
Complemento indireto
a
O Aves marcou-lhe um golo.
28. Vi o programa da manhã.
Modificador restritivo do nome
de
Vi o programa matinal.
29. Nos próximos minutos, assistiremos a
um sketch pornográfico.
Modificador do grupo verbal
em
Que faremos nós nos próximos minutos?
30. O Busto foi desmentido pelo Bruno.
Complemento agente da passiva
por
31. O Bruno desmentiu o Busto.
sujeito complemento direto
O Busto foi desmentido pelo Bruno.
sujeito agente da passiva
32.
33. A primeira consiste em usar-se a
preposição, omitindo o restante grupo
preposicional. Talvez porque, dado o
contexto, fique muito implícito o que se
quer dizer, o locutor pode dar-se ao
luxo de suspender a frase logo depois
de pronunciar a preposição.
34. Ora realística ora caricaturalmente, o
professor Adolfo Coelho (nota que o
nome corresponde, efetivamente, àquele
que se pode considerar o primeiro
linguista português — contemporâneo,
por exemplo, de Eça de Queirós) ou o
apresentador dizem «Podemos não
chegado a»; «Mas estamos a caminhar
para»; «Fiz uma tentativa de»;
«Esperamos estar cá para».
35.
36. A segunda é começar frases por
infinitivos, quando se esperaria o uso
de outro tempo, com pessoa: «Em
primeiro lugar, dizer que [...]»; «Antes
de continuarmos, aplaudir [...]»; «Antes
de mais, registar [...]».
37. (Um pouco à margem deste tique, repara
que nas frases fica claro um dos papéis
que podem ter os grupos
preposicionais, o de conectores: é o
caso de «Em primeiro lugar», «Antes de
continuarmos», «Antes de mais». Outras
classes gramaticais que cumprem
frequentemente esse papel de
estabelecer relações entre segmentos
textuais são a conjunção, o próprio
advérbio.)
38. Os dois fenómenos caricaturados
(suspensão da frase na preposição;
começo da frase por um infinitivo) são
talvez evoluções em curso na língua
portuguesa, relativas a mudanças de
ordem sintática.
41. Tem a ver com (Tem que ver com)
Onde moras?
Dá-me com força
Tenho de ir
42. Compara esta folha com aquela
O gelado de que gosto mais
As pessoas com que falei
Hás de vir
43. Na última linha, o erro não resulta
propriamente de má escolha da
preposição, mas de se flexionar mal a
forma verbal. Como se faz uma analogia
com outras segundas pessoas do
singular, que terminam em –s, cria-se uma
forma terminada em –s, amalgamando a
preposição. É o mesmo processo que leva
a que, por vezes, se use, para a terceira
pessoa do plural, «hadem» (em vez da
forma correta «hão de»).
44. Foi o facto de ele ter mentido que me
agradou.
Apesar de ela ser bonita, é muito feia.
Diz ao polícia que morri.
Gostava de os avisar de que a lontra
adoeceu.
45.
46. «A minha adolescência foi [tem sido]
um céu baixo e pesado, em que existem,
por vezes, pequenas abertas».
Aproveita esta frase num texto
diarístico / memorialístico / introspetivo /
de reflexão autobiográfica.
A frase que pus em cima tem de surgir
em algum ponto do teu texto. (Sublinha-a.)
47. O narrador é de 1.ª pessoa, claro,
mas isso não te vincula ao que
estejas a relatar ou a opinar: o
narrador não tem de corresponder
sempre ao autor.
48.
49. TPC — Estuda ‘Preposição’ nas
folhas da Nova gramática didática de
Português que, em Gaveta de Nuvens,
reproduzi em «Classes de Palavras» (pp.
137-139).