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A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO PCC NA MÍDIA
Vagner de Alencar Silva (IC) Denise Cristine Paiero (Orientadora)
Apoio: PIBIC Mackenzie


Resumo

Este artigo visa a compreender a construção da imagem pública do Primeiro Comando da Capital
(PCC) a partir da criação de fatos jornalísticos e de sua repercussão na imprensa brasileira. Para
isso, analisamos os veículos Folha de S. Paulo e Jornal Nacional, escolhidos por serem considerados
um dos meios de comunicação, impresso e televisivo, mais influentes do país. Selecionamos alguns
episódios específicos, recortados, principalmente, nos períodos em que o grupo ganhou mais
destaque pela mídia, tornando-se praticamente notícia obrigatória. Os períodos analisados partiram,
desde o surgimento da facção na mídia, em maio de 1997, até o estopim do PCC, quando os ataques
gerados pela facção criminosa pararam a cidade de São Paulo, em maio de 2006. Buscamos
compreender os elementos que foram utilizados pelo grupo criminoso para chamar a atenção dos
jornalistas e dos veículos de comunicação e como os resultados das ações protagonizadas pelo PCC,
quando cobertos pela mídia, acabaram se repetindo em outras ações que buscaram a mesma
visibilidade, provocando, assim, uma realimentação entre jornalismo e facção criminosa. O objetivo
também e, principalmente, foi verificar como a mídia jornalística ao desempenhar seu papel de
informar teve papel significativo para o crescimento e a disseminação da imagem do PCC.

Palavras-chave: Jornalismo, PCC, mídia


Abstract

The aim of this article is to comprehend the construction of the public image of Primeiro Comando da
Capital (PCC) – First Capital Comando da Capital – from journalistic soucers and press repercussions
by analyzing the materials of Folha de S. Paulo and Jornal Nacional specially during the period when
the group has become prominent, since its first appearance in the media in May 1997 until the climax
when PCC has attacked the city of Sao Paulo causing a huge chaos. Our efforts were employed
towards the elements used by such criminal group to call the attention of journalists and
communication vehicles causing as result a scheme of feedback for the journalisms and this criminal
organization. The goal of this article is also and mainly was to determine how the journalistic sources
contribute to enlarge image of and growth of the PCC.

Key-words: Journalism, PCC, media




                                                                                                     1
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


INTRODUÇÃO

O Primeiro Comando da Capital (PCC) é hoje considerado a facção criminosa mais perigosa
do Brasil. O surgimento do grupo aconteceu durante um jogo de futebol no “Pinheirão”, na
tarde de 31 de agosto de 1993.

                       “Eram 8 presos, transferidos da capital por problemas disciplinares, para ficar em
                       Taubaté – até então, temido pela classe carcerária”. Os detentos permaneciam 23
                       horas ininterruptas dentro da cela. Os oito estavam sendo punidos pela má conduta
                       no antigo presídio e pelo fato de ter vindo de São Paulo o time foi chamado de
                       Comando da Capital (SOUZA, 2006, p. 93)

Estima-se que hoje o PCC tenha cerca de 130 mil membros, dentro e fora das prisões. Um
verdadeiro “sindicato do crime” que comanda rebeliões, fugas, resgates, assaltos,
seqüestros, assassinatos e o tráfico de drogas. (online¹)

Mas mais forte que a presença de fato da facção no controle do crime em várias regiões de
São Paulo, do Brasil e até do exterior (sabe-se que hoje há representantes do PCC atuando
em Portugal) foi a imagem que ele criou a partir de fatos que tinham a intenção de buscar
visibilidade.

Ao longo da sua história, o PCC já foi responsável por eventos espetaculares, que não
poderiam passar despercebidos pelo jornalismo, como megarrebeliões em presídios,
ataques simultâneos a órgãos públicos, incêndios a ônibus, sequestro de jornalista e até a
suspensão da rotina na cidade de São Paulo, que aconteceu em maio de 2006. Todos,
eventos que mais que o terror em si, visavam à sua expansão pelos meios de comunicação.

A mídia jornalística, ao cumprir sua função de informar, teve e tem, ainda que
involuntariamente, papel fundamental para a disseminação e o fortalecimento da imagem do
PCC, sendo responsável por grande parte de seu crescimento e do destaque que a facção
recebeu ao longo dos últimos anos.

Nesta pesquisa, o que analisamos foi especificamente a mediação da relação
PCC/sociedade e seu impacto na vida social. Para isso, consideramos que

                       a forma como a prática jornalística, ao atender a certos padrões, acaba por servir
                       aos propósitos de potencialização dos atos terroristas o que, evidentemente, tem
                       grande impacto no interior da comunicação e na organização da vida cotidiana, seja
                       pelo papel desempenhado pela mídia como organizadora do tempo cotidiano quanto
                       pela afirmação de Luhmann (1997) de que tudo que sabemos do mundo sabemos
                       por meio da mídia. (Paiero, 2009, p.5)

Procuramos compreender o cenário midiático em que o PCC atua e de que forma ele
explora a tendência à espetacularização da notícia na elaboração dos seus eventos que
buscam visibilidade. Sobre a ideia de espetáculo, Guy Debord afirma: “Toda a vida das
sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma




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imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça
da representação”. (1992, p.12)

Ainda segundo o autor, o espetáculo é o que move a sociedade contemporânea. Isso está
presente inclusive, e, sobretudo, nos produtos midiáticos, onde a exposição e o consumo do
espetáculo se dão de fato.

Arbex (2002) traz um conceito parecido ao analisar a construção da notícia nos veículos de
comunicação contemporâneos e observar que, de fato, no jornalismo, tudo se transforma
em um grande show, no qual os elementos espetaculares se sobrepõem ao interesse
público.

Para este trabalho, a fim de compreendermos como se constrói a imagem pública do PCC
no jornalismo, analisamos a cobertura, desde seu surgimento, dos episódios em que a
facção teve mais destaque. Não recortamos, portanto, um período sequencial para análise,
mas períodos específicos.

A importância da presente pesquisa se deu de maneira a compreender o papel do
jornalismo para a formação e o fortalecimento da imagem da facção criminosa. Buscamos
entender como o jornalismo, ao cumprir sua função, acaba por servir aos interesses
daqueles que se colocam contra a sociedade.

Para fazermos nossas análises buscamos, primeiro, identificar quando o PCC foi criado.
Para isso, utilizamos livros que trataram sobre o surgimento da facção e de seu
crescimento, como Sindicato do Crime (2006), do repórter investigativo Percival de Souza,
obra resultante de uma detalhada investigação para descobrir o que envolve o crime
organizado.

Outra obra que embasou nossa pesquisa inicial foi PCC- A Facção (2006), de Fátima de
Souza, jornalista que realizou reportagens nos principais presídios de São Paulo para a TV
Bandeirantes, na década de 1990.

Os livros Showrnalismo (2002) de José Arbex; Mídia e pânico (2002), de Malena Contrera e
Cultura de Massas no Século XX (1990), de Edgar Morin, serviram como base teórica para a
compreensão da cobertura noticiosa, transformada em espetáculo e alimentadora desses
mesmos espetáculos.

Para a análise de mídia, foi feito o clipping de todo o material jornalístico produzido para a
cobertura dos episódios selecionados e coletados nos jornais Folha de S.Paulo e Jornal
Nacional.

Alguns episódios foram destacados para nossas análises, escolhidos, principalmente,
devido à repercussão e a ação espetacular realizadas pela facção.


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1. Mídia, sociedade e violência

Como explica Malena Contrera (2002), a relação entre sociedade e mídia deve ser
compreendida pela forma como acontece o estabelecimento de vínculos no processo de
comunicação contemporânea, ou seja, quando falamos em meios sociais cada vez mais
extensos e complexos. Segunda ela, em virtude de horários e espaços quase sempre sem
sincronia, é preciso verificar como se dão esses caminhos, por meio de vínculos. “(...) todo
código é um corpo que precisa de meios eficientes (concretos ou virtuais) por onde transitar,
confirmando e fortalecendo sua validez. (p. 47)

Para Morin (1990) a cultura de massa gera o preceito de consumo máximo, por ser
constituída por um conjunto formado por normas, símbolos e imagens é destinada a um
“aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas internas
da sociedade” (p.14).

A mídia desempenhou papel estratégico para a transformação e criação de um novo modelo
de estética. Na sociedade contemporânea, sob a alimentação do poder simbólico, ela é
construída pela presença espetacular dos acontecimentos e pela massificação da
visibilidade. Conforme explica Arbex: “(...) Os meios de comunicação de massa – diz Debord
– são apenas “a manifestação superficial mais esmagadora” da sociedade do espetáculo”
(2002, p. 69).

Para Guy Debord, o espetáculo é formado pela multiplicação de ícones e imagens,
principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais
políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem
comum.

Sob esse cenário de hiperdesenvolvimento dos suportes abstratos, Contrera afirma que os
meios eletrônicos de comunicação obtiveram papel fundamental para a extensão espacial,
pela forma praticamente instantânea com que eles atingem a sociedade (2002, p. 49). Para
Arbex, os meios midiáticos contemporâneos passaram somente a não “embelezar” a
realidade da vida, “mas substituí-la pela relação entre homem e a vida encenada pela mídia
[...] A mídia produz a abolição da memória mediante a sua substituição pelo show da
memória” (2002, p. 268)

A televisão passou a obter uma linguagem própria, por essa razão tornou-se responsável
pela maneira pela modificação na forma de recepção dos gêneros veiculados. Conforme
Arbex (2009), nos programas de telejornais “as notícias são apresentadas por belas
mulheres, ou por ‘âncoras’ que funcionam como showmen, não tendo importância o fato de
eles saberem ou não de que trata a notícia lida no telepromter.” Para o autor, o importante é
como se dão o impacto da imagem e o ritmo de transmissão: “(...) no caso do telenoticiário,


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as imagens reiteram uma certa percepção do mundo. O que se fixa, na memória do
telespectador, são flashes.”

2. A violência na mídia

Trabalhamos com o conceito de violência, compreendendo sua presença antes e após o
processo de hominização. Para isso, utilizamos os conceitos de René Girard (1990) para
explicar a violência nas sociedades. Para ele, os instintos são canalizados pela cultura.
Segundo Contrera, essa relação entre instinto e cultura encontra suas válvulas de escape
nos meios de comunicação de massa contemporâneos.

Naturalmente, o homem tem uma predisposição à violência. Por outro lado, a vida em
sociedade programada pela cultura, depende do controle da violência para existir. A cultura,
portanto, controla a violência humana. Essa violência, agora controlada, precisa ser
canalizada.

O desejo de violência acontece quando é despertado por uma série de fatores que
relacionam aspectos culturais e biológicos. Para René Girard (1990), a violência quem está
presente na base da cultura humana.

O instinto violento é caracterizado por mudanças corporais, próprias para preparar o homem
para a luta e não pode ser considerado como um simples reflexo, cujos efeitos
desapareceriam assim que o estímulo deixasse de agir. Segundo Girard “é mais difícil
apaziguar o desejo de violência que desencadeá-lo, principalmente nas condições normais
de vida em sociedade” (GIRARD, 1990, p. 14).

Segundo Edgar Morin (1990), a cultura controla e dá argumentos para os instintos e desejos
de violência para que esses sejam canalizados: “A vida cotidiana está submetida às leis; os
instintos e desejos são reprimidos; os medos, camuflados [...] os instintos se tornam
violência e os medos angústia”

Nos dias de hoje, a violência encontra seu espaço de propagação nos meios de
comunicação de massa. Para Contrera, os meios de comunicação de massa transformaram
no “altar de sacrifícios de nosso tempo”, ou seja, ela está presente em diversas situações
comunicativas, colocadas na mídia contemporânea, através de todos os veículos midiáticos,
apresentando-se praticamente como uma “temática obsessiva”. como A abordagem da
violência na mídia está relacionada ao modo como é tratada, “como se ela estivesse
presente na mídia sob a forma de tema, de assunto, como se fosse apenas mais uma
pauta.” (Contrera, 2004, p. 89)




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3. A História e os movimentos do PCC

Inicialmente, o PCC atuou por três anos na clandestinidade, porém ao longo de uma
década, desde sua fundação, a facção aumentou, de maneira expressiva, o número de
filiados. No ano de 1997, o PCC contava com oito mil homens. Em 2006, apenas nos
presídios, o comando registrava 120 mil.

O massacre na Casa de Detenção, em 1992, onde mais de cem detentos foram mortos, foi
uma das causas que levaram oito detentos da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté a
fundar o PCC. Com o propósito de defender os direitos dos presidiários, o grupo criou uma
espécie de sindicato no qual reivindicariam às péssimas condições às quais eram
submetidas nas cadeias. (SOUZA, 2007, p. 15)

O PCC aumentava o número de filiados de forma rápida e vertiginosa, o que gerou,
posteriormente, o “ornograma do PCC”, determinando as responsabilidades de cada
integrante. Por meio da cobrança de caixinha mensal, os membros pagavam uma
determinada quantia. O valor arrecadado era destinado a compra de armas, drogas, o
pagamento de funcionários das cadeias e policiais corruptos. (SOUZA, 2007, p. 26). No ano
de 1997, os veículos de comunicação passaram a cobrir as ações do PCC, que passou a
ganhar destaque nos veículos de comunicação.

Em 2001, a facção determinou um estatuto, composto por dezesseis itens, que
estabeleciam os princípios vigentes pela organização. O item 11 do documento prevê que o
lema absoluto “A Liberdade, a Justiça e a Paz”. Segundo Percival de Souza (2006), “o crime
organizado construiu seu formato, estabeleceu seus códigos, criou uma nova linguagem,
avançou sobre funcionários de presídios, sobre juízes, policiais, promotores, advogados e
sobre jornalistas” (p. 13)

Em 11 de julho de 2000, a Penitenciária de Presidente Bernardes foi palco para uma
rebelião orquestrada pelo PCC. O evento recebeu cobertura ao vivo de vários veículos de
comunicação e repercutiu na mídia durante dias. Pode-se dizer que esse evento fez com
que o PCC se tornasse pauta obrigatória para o jornalismo e ficasse conhecido do grande
público.

Um semestre depois, em 18 de fevereiro de 2001, o Primeiro Comando da Capital organizou
uma megarrebelião, evento esse jamais visto em toda a história do Brasil e do mundo.
Foram trinta presídios rebelados simultaneamente. Para Souza, “a instalação do crime
organizado dentro da prisão é a grande novidade penitenciária do século XXI” (p. 11).

Entretanto, embora eventos que já intensificavam o poder da facção ao longo dos anos,
foram os ataques ocorridos entre os dias 13 e 16 de maio de 2006, quando detentos
tomaram várias unidades prisionais do Estado de São Paulo, eclodindo uma enorme


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rebelião. “Uma alavanche de ataques e mortes. Policiais civis, militares, carcereiros, guardas
civis metropolitanos e ate bombeiros tombavam em vários pontos de São Paulo,
assassinados pelo PCC” (Souza, 2006, p. 285)

No dia 29 de novembro de 2009, o canal Discovery Channel apresentou o documentário
“São Paulo sob ataque”, uma recapitulação dos eventos que mergulharam o Estado e uma
situação de pânico, em maio de 2006, segundo sinopse do canal pago.

Ainda no ano de 2006, em 13 de agosto, outro episódio protagonizado pelo PCC foi o
sequestro do repórter da Rede Globo, Guilherme Portanova, e do técnico Alexandre Coelho
Calado. A exigência para libertação dos sequestrados era espaço para a leitura de um
manifesto no TV Globo, que foi concedido pela emissora.

METODOLOGIA

Nosso estudo foi constituído pelo jornal Folha de S.Paulo, escolhido por ser publicado na
cidade de São Paulo, onde a facção surgiu e realizou a maior parte de suas ações que
mereceram destaque, e também por estar entre um dos veículos impressos mais influentes
e de maior circulação do Brasil, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC).
Analisamos ainda o Jornal Nacional, que é o telejornal mais visto do Brasil, alcançando em
média 35 pontos diários no Ibope.

Nosso objetivo foi investigar como e quando o PCC passou a ganhar visibilidade e que
elementos foram utilizados pela facção para chamar a atenção de jornalistas e veículos de
comunicação, a ponto de suas ações se tornarem notícia obrigatória. Outro ponto que
observamos foi a repetição das imagens dos eventos espetaculares gerados pelos
criminosos e o seu efeito potencializador sobre as ações do PCC.          Ao mesmo tempo,
observamos como os resultados de uma ação do PCC, quando cobertos pela mídia,
acabam se repetindo em outras ações que buscam a mesma visibilidade, provocando,
assim, uma realimentação entre jornalismo e facção criminosa.

O primeiro período recortado foi o mês de maio de 1997, quando a Folha de S. Paulo
publicou as primeiras matérias acerca do PCC. Observamos que episódios levaram a mídia
a cobrir os atos da facção e que tratamento receberam. Em seguida, foi analisada a rebelião
no presídio Presidente Bernardes em julho de 2000.

Posteriormente, analisamos a cobertura aos ataques do PCC que ocorreram entre os dias
13 e 16 de maio 2006. Outro episódio de estudo foi o sequestro do repórter da Rede Globo,
Guilherme Portanova, e do técnico Alexandre Coelho Calado, em 13 de agosto de 2006,
cuja exigência para libertação dos reféns pelos sequestrados era espaço para a leitura de
um manifesto no TV Globo, o que foi concedido pela emissora.




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Analisamos ainda outros eventos que se mostraram relevantes ao longo da pesquisa. Foi
realizada uma análise qualitativa de conteúdo das mídias pesquisadas, observando,
principalmente, pontos como: os elementos destacados pelo jornalismo nos textos e
imagens apresentados pelas publicações / programa; os valores-notícia atrelados à
cobertura midiática desses episódios; a forma como nome do PCC foi citado; o tipo de fonte
que foi ouvida nessa cobertura; como se deu a repetição de imagens ou dos mesmos
padrões de imagens geradas pelo PCC na cobertura midiática; como uma cobertura de
destaque acaba pautando outros atos do PCC.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Verificamos, portanto, textos e imagens sobre o PCC nos episódios selecionados e também
os elementos destacados pela cobertura.

1. Jornal Folha de S. Paulo

1.1 Primeiras publicações

Até 22 de maio de 1997, a Folha de S. Paulo referia-se à sigla PCC como “Plano de
Classificação de Cargos”. No dia 25, o jornal mencionou pela primeira vez o Primeiro
Comando da Capital, no Caderno Cotidiano. Na mesma data, ainda com as sub-retrancas:
“Organização prega rebelião em presídios”, “Em 85, grupo foi investigado”, o jornal faz as
primeiras referências ao PCC, que até o final daquele ano foi tratado por “suposta
organização criminosa.” Nesse momento, é possível perceber que em nenhum há referência
às siglas do comando. Por outro lado, por ser a primeira aparição do PCC, até então não
conhecido, pode-se considerar que o jornal repercutiu de forma significativa o nome do
grupo.

1.2 Rebelião Presidente Bernardes

Na cobertura da rebelião de Presidente Bernardes, onde cinco presos foram mortos durante
a ação, é possível observar à tendência teve apenas duas citações ao PCC, na matéria
publicada no dia 14 de julho de 2000. “As mortes ocorreram no início da rebelião, quando os
50 presos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) conseguiram fugir da área do
‘seguro’” (Folha de S. Paulo, C3, 14/07/2000)

                       “Uma rebelião em 24 presídios de São Paulo deixou ontem pelo menos 8 mortos e
                       22 feridos. Cerca de 27 mil presos – quase a metade dos 60 mil condenados que
                       cumprem pena no Estado – começaram a dominar, por volta das 12h, penitenciárias
                       em 19 cidades. Foi a maior rebelião na história do país” (Folha de S. Paulo, C1, 19
                       de fevereiro de 2001)




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1.3 Megarrebelião simultânea

Em 17 de fevereiro de 2001, com a megarrebelião que envolveram 29 presídios,
simultaneamente, a Folha de S. Paulo passou a dar maior visibilidade às ações geradas
pela facção. As manchetes aparecem sempre com o nome do grupo criminoso e as imagens
também passar a receber um maior enfoque pelo veículo: “PM ocupa Detenção e retira
líderes do PCC” (17/02/2001), “PCC lidera 27 mil presos em 19 cidades de SP na maior
rebelião da história do país” e “Prova de Fogo” (19/02/2001)


1.4 PCC para a cidade de São Paulo

Em maio de 2006, a sucessão de eventos gerados pelo PCC, que duraram quatro dias e
interromperam o funcionamento da cidade de São Paulo, ganharam enorme repercussão
pela mídia, evidenciando, por sua vez, o caráter espetacular na cobertura desses. No dia 13
de maio de 2006, a Folha de S. Paulo estampou em quatro páginas, no caderno Cotidiano,
as manchetes: “PCC ataca e mata policiais após transferências” e “Polícia pretendia isolar a
cúpula do PCC”.

No dia 14 de maio de 2006, a facção ganhou visibilidade e recebeu grande destaque
levando a manchete de capa: “Ataques do PCC deixam 30 mortos”. O Caderno Cotidiano
apresentou uma edição especial. Por meio da subretranca “guerra urbana”, a explicitação
dos números foram cada vez mais presentes na cobertura da Folha de S. Paulo. A
manchete “Maior ataque do PCC faz 30 mortos” é o destaque do caderno referido sobre a
imagem do chapéu ensangüentado de um policial.

                       No maior ataque já realizado contras as forças de segurança de São Paulo, a facção
                       criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) provocou a morte de 30 pessoas,
                       feriu outras 24, bombardeou delegacias, metralhou carros e bases da Polícia Militar,
                       de guardas municipais e até do Corpo de Bombeiros, e ainda promoveu 24 rebeliões
                       simultâneas em presídios da região metropolitana e do interior do Estado, segundo o
                       governo.
                       (FACÇÃO promove 63 atentados em 24 horas, Folha de S. Paulo, 13 de maio de
                       2006, São Paulo. Cotidiano, p. A2)

Nesta edição, o caderno repercute em nove páginas, os eventos protagonizados pelo PCC,
apontando a análise de especialistas, a posição do Governo Estadual, a repercussão das
redes sociais e o desdobramento dos ataques.
No dia 15 de maio de 2006, a imagem de um ônibus incendiado ilustrou a capa da Folha de
S. Paulo, e novamente o PCC é o centro das atenções por meio da manchete “PCC faz
mais de 150 atentados e provoca 80 motins; 74 morrem”. O destaque às estatísticas de
visitas, mortos e atentados é algo que também chama atenção, pois é a outra evidência de
que, não somente a importância dada à facção pela promoção da sigla PCC, mas à
contribuição que o veículo midiático, no decorrer da sua cobertura, por meio da explicitação



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desses índices acabou por ajudar com que o comando criminoso solidificasse ainda mais
sua imagem perante a sociedade.
A presença de imagens de ônibus em chamas, rebelião de presidiários e o nome da facção
mostrado do alto é verificação de a mídia desempenhou papel significativo para que a
facção continuasse a promover outros atentados. Dentre as 17 páginas, nas quais foram
retratadas a atuação do PCC nesse dia, foi possível observar das imagens referidas.                     No
caderno Cotidiano, a manchete “PCC ataca ônibus e bancos, promove megarrebelião e
amplia medo no Estado” é dividida em três orações, de modo que ilustre as imagens
destacadas e os números de indicavam “74 mortes, 156 ataques e 80 rebeliões”.

As manchetes atribuídas aos atentados comprovam como a cobertura feita acabou
atribuindo outros eventos da facção. A repetição das imagens de fogo e fumaça feitas pelos
integrantes evidenciaram a relação, que involuntariamente ou não, acabou por agir
mutuamente entre a cobertura jornalística e os ataques do comando criminoso.

No quarto dia de ataques, as expressões “medo”, “terror” e “pânico” continuaram
comumente a serem veiculadas nas matérias cobertas jornal. No dia 16 de maio de2006, a
manchete de capa da Folha de S. Paulo avisa que o “Temor de novos ataques causa pânico
e fecha escolas e lojas”.

                        “Uma onda de pânico fez parar ontem a maior e mais rica cidade do país e espalhou
                        choque e medo pelo Estado de São Paulo. No quarto dia de terror provocado pela
                        facção criminosa PCC contra bases policiais, assassinatos e rebeliões. Mas (sic)
                        ataques a ônibus, fóruns a madrugada foram amplificados ao longo do dia por
                        rumores e trotes e fizeram escolas, lojas e repartições publicas fechar em cascata.O
                        clima de medo perdurou ate a noite, quando bares, restaurantes e ate
                        supermercados 24 horas deixaram de funcionar” (MEDO de ataques para São
                        Paulo, Folha de S. Paulo, 16 de maio de 2006, São Paulo. Cotidiano, p C1)



O caderno Cotidiano, sob chapéu “guerra urbana”, levou a manchete ao qual enfatizava que
“o medo de ataques para São Paulo”. E novamente, os números na cor vermelha ganharam
tanto destaque, quanto as imagens de fogo e de bandeiras com o nome PCC.

2. Jornal Nacional

A análise do telejornal foi feita com base no arquivo do site do telejornal, com base na
disponibilização das notícias veiculadas no site acerca do Primeiro Comando da Capital,
selecionadas por palavras-chaves. No site do telejornal não há todos os vídeos das notícias
que analisaremos. Entretanto, apesar da ausência da exibição das cenas nas reportagens,
há a transcrição das matérias repercutidas, de modo que a análise não se torne menos
fidedigna. Nestes casos, que serão explicitados, não faremos, portanto, a análise das
imagens veiculadas.




                                                                                                         10
Universidade Presbiteriana Mackenzie


2. 1 - O nome do PCC

A expressão PCC aparece em 22 de agosto de 2001, referindo-se ao Plano de Cargos e
Carreira do governo aos servidores públicos. Apenas um trimestre depois, em 12 de
novembro de 2001, o telejornal menciona a sigla do Primeiro Comando da Capital, como “a
quadrilha PCC, que domina presídios paulistas”. Um mês depois, o telejornal já apontava o
PCC como a maior facção criminosa de São Paulo”.

É possível observar que, gradualmente, a facção adquiriu repercussão no telejornal,
passando a se tornar notícia obrigatória. O comando, por sua vez, utilizou de recursos para
ganhar visibilidade na mídia, tais como a utilização de fogo, a repetição de imagens, a
rebelião de vários presídios.

O PCC passava a alimentar o Jornal Nacional da mesma forma que o telejornal se nutria
com as ações da facção. Entre os dias 12 de novembro de 2001 e 09 de março de 2002
foram encontradas doze retrancas no programa. Em todas elas o Primeiro Comando da
Capital é citado pelas siglas da facção. Ao longo das reportagens desse período, a
cobertura midiática do veículo utilizou de elementos aos quais evidenciaram o destaque
dado à facção e a forma a qual o telejornal emitia os valores-notícia embutidos em suas
reportagens sobre o PCC. A utilização de expressões com sensacionalismo também foram
utilizadas, para que mais do que promover a facção, fossem destacados elementos que
chamassem a atenção do telespectador. Vejamos como o Jornal Nacional destacou a
imagem do PCC ao público.

2.2. Manchetes no Jornal Nacional

Os seguintes textos foram publicados no Jornal Nacional, nos meses de fevereiro e março
de 2002:

Guerra das facções – Homens ligados ao PCC - Primeiro Comando da Capital - assumiram
a responsabilidade pelas mortes. A sigla da facção foi escrita nos pátios. Num lençol, o
nome de um dos chefes da maior rebelião da história do país, que foi transferido para um
presídio do Distrito Federal. (18/02/2002)

- Assassinado um dos fundadores da organização criminosa – Hoje um dos fundadores da
organização criminosa PCC foi assassinado. De manhã, no extremo oeste do estado, um
dos fundadores do PCC foi assassinado na cadeia por membros da própria facção.
(19/02/2002)

- Violência em São Paulo – Entre os mortos o homem que chefiava o comboio, Djalma
Gomes, integrante do PCC - facção criminosa que atua dentro e fora de presídios em São
Paulo. (05/03/2002)



                                                                                         11
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


- Bombas em São Paulo – Desde o começo do ano prédios da justiça e da administração
penitenciária foram alvos de atentados assumidos pelo PCC. 08/mar/2002

- PCC assume mais um atentado – O PCC, facção que age nos presídios, promoveu três
rebeliões no estado. [...] Mais um ato de ousadia da facção criminosa, o PCC, mostra que o
crime organizado não se intimida, diante da reação da polícia de São Paulo. (09/03/2002)

Durante a série de atentados à cidade de São Paulo, no mês de maio de 2006, o Jornal
Nacional, em nenhum momento, é citada a sigla da facção. O Primeiro Comando da Capital
passou então a ser denominado pelo jornal de maior audiência do país como “a facção
criminosa”.

No dia 18 de maio de 2006, o apresentador do Jornal Nacional, Willian Bonner, entrevistou,
ao vivo, o então governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo. O jornalista destaca a
ocasião dos atentados como sendo “a crise”. Da mesma forma, os repórteres que entraram
na programação informaram notícias em referência ao comando como “os ataques”. O
Governador Cláudio Lembo mencionou o movimento como “essa gente má”.

Assim, fica claro perceber que o ajudou a construir a imagem do PCC, divulgando suas
ações e enfatizando àquilo que para a facção criminosa seria seu propósito principal.
Embora o telejornal tenha deixado de utilizar a sigla PCC, o PCC ainda assim ganhava
visibilidade e destaque.

Veja abaixo, o texto veiculado no telejornal, entre os dias 13 e 15 de maio de 2006.

- Alerta máximo em São Paulo – No começo do sábado, os principais criminosos são
transferidos para um presídio de segurança máxima. Um deles é Marcos Camacho, o
Marcola. Acusado de orquestrar a onda de rebeliões e ataques. (13/05/2006)

- Medo em São Paulo – Vamos aos números, que lembram uma guerra: 184 ataques em
todo o estado; 56 ônibus queimados; 8 agências bancárias pelo menos destruídas; 43
policiais e cidadãos assassinados. E 38 suspeitos de envolvimento com esses crimes
também morreram em confronto com a polícia. Ao todo, 81 mortos. (15/05/2006)

- Mapa da violência (15/05/2006)

- Números da violência (16/05/2006)

Não foi possível encontrar nenhuma referência a sigla “PCC” nos arquivos do telejornal, nos
anos 2003 a 2005. Todavia, o que fica claro, é o declínio quanto à divulgação da imagem do
PCC no telejornal no período posterior




                                                                                              12
Universidade Presbiteriana Mackenzie


2.3 Sequestro do jornalista Guilherme Portanova

No caso do sequestro do repórter Guilherme Portanova e o auxiliar técnico Alexandre
Coelho Calado estavam numa padaria na zona sul da cidade quando foram capturados por
dois homens armados. Ambos pararam para tomar café depois de trabalhar no plantão da
madrugada.

Calado foi liberado na noite de sábado levando um DVD com uma gravação do Primeiro
Comando da Capital (PCC). O auxiliar técnico recebeu a orientação para que o material
fosse veiculado na íntegra pela emissora, para garantir a vida do repórter Guilherme
Portanova que permaneceu no cativeiro.

O jornalista Cesar Trali, em caráter de Plantão na programação da Rede Globo, informou o
comunicado do PCC, de 3m36s, exibido à 0h28 de sábado do dia 13 de agosto de 2006.

Na exibição do vídeo, enquanto um homem encapuzado faz a leitura do texto, é possível

observar por meio de letras grandes, escritas de cor preta na parede branca, por detrás do

suposto líder da facção, a frase “PCC: Luta pela Justiça...” A filmagem é focalizada

inicialmente no homem, de modo que, ao final do discurso, é dado destaque ao nome PCC

na parede. Veja o fragmento do discurso do sequestrador retirado do site (Youtube, online²)

                        “Como integrante do Primeiro Comando da Capital, o PCC, venho pelo único meio
                       encontrado por nós, para transmitir um comunicado para a sociedade e os
                       governantes. [...] Não estamos pedindo nada mais do que está dentro da lei. Se
                       nossos governantes, juízes, desembargadores, senadores, deputados e ministros
                       trabalham em cima da lei, que se faça justiça em cima da injustiça que é o sistema
                       carcerário, sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem
                       escola, enfim, sem nada. Pedimos aos representantes da lei que se faça um mutirão
                       judicial, pois existem muitos sentenciados com situação processual favorável, dentro
                       do princípio da dignidade humana. O sistema penal brasileiro é, na verdade, um
                       verdadeiro depósito humano, onde lá se jogam seres humanos como se fossem
                       animais. [..] Queremos que a lei seja cumprida na sua totalidade. Não queremos
                       obter nenhuma vantagem. Apenas não queremos e não podemos sermos [sic]
                       massacrados e oprimidos. Queremos que: 1) as providências sejam tomadas, pois
                       não vamos aceitar e não ficaremos de braços cruzados pelo que está acontecendo
                       no sistema carcerário. Deixamos bem claro que nossa luta é contra os governantes
                       e os policiais. E que não mexam com nossas famílias que não mexeremos com as
                       de vocês. A luta é nós e vocês”.



O comunicado gerou bastante discussão entre outros meios de comunicação e acabou por
representar a força a qual o PCC parecia deter naquele momento, pois havia sido capaz de
colocar a maior rede de televisão brasileira à rendição de suas vontades, buscando
disseminar sua imagem perante a um público cada vez maior. Esse acontecimento acabou
por representar a força a qual o PCC parecia deter naquele momento, pois havia sido capaz
de colocar a maior rede de televisão brasileira à rendição de suas vontades, buscando
disseminar sua imagem perante a um público cada vez maior.


                                                                                                        13
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


CONCLUSÃO

Ao longo deste artigo procuramos demonstrar como a mídia, a fim de desempenhar seu
papel jornalístico, contribuiu para disseminar e fortalecer a imagem do PCC e como o
jornalismo, ao atuar no cumprimento de seu papel de informar, foi e teve papel fundamental
para pautar o PCC e, de forma mútua, utilizar-se dessa visibilidade para servir a si própria.

A superexposição dos eventos gerados pelo PCC, desde seu surgimento até o mês de maio
de 2006 – período de maior ascensão do grupo criminoso – nos mostrou que, de fato, a
imagem pública do PCC adquiriu visibilidade, à medida em que a repetição de imagens e da
divulgação desses eventos acabava por gerar outros eventos, solidificando ainda mais a
imagem da facção criminosa. Pudemos observar, segundo Arbex (2002), que a
comunicação contemporânea tem transformado o jornalismo em um grande show,
alimentado, por meio de eventos espetaculares, e alimentando o interesse do público.

No cenário em que a violência ambientou a atuação a PCC, tão comumente notada durante
sua atuação, pudemos verificar, com base nas conceituações de Malena Contrera, que os
meios de comunicação se transformaram no “altar de sacrifícios de nosso tempo”, aos quais
os veículos de comunicação apresentam a violência de maneira massiva. Isso pode ser
comprovado nas ações do grupo criminoso, que utilizou de seus ataques para ganhar
ascensão na mídia, de modo que a imprensa não poupasse a veiculação desses eventos.

A Folha de S. Paulo, desde a primeira matéria, veiculada em maio de 1997, foi uma das
responsáveis por colocar o PCC no centro das atenções durante anos. Por meio de
manchetes e imagens que, na grande maioria das vezes, colocou à sociedade um contexto
sob a ideia de pânico, medo e, consequentemente, espetáculo. Os ataques da facção, em
maio de 2006, foram sinônimo da relação mútua entre o comando e a cobertura midiática.
Através da utilização de recursos para ganhar visibilidade na mídia, tais como a utilização de
fogo, a repetição de imagens, a rebelião de vários presídios foi certa a visibilidade gerada
pelo jornal, ao qual o PCC tornou-se notícia obrigatória.

No Jornal Nacional, ao longo dos anos, o telejornal passou a tratar o Primeiro Comando da
Capital sob a utilização de expressões com teor de sensacionalismo. O uso excessivo e
repetitivo uso da sigla da facção fizeram parte do modo com o programa cobriu o PCC. Para
Arbex (2006), a importância da televisão está relacionada ao impacto da imagem e o ritmo
de transmissão. Sobre essa ideia, como verificado anteriormente, ele aponta que “(...) no
caso do telenoticiário, as imagens reiteram uma certa percepção do mundo. O que se fixa,
na memória do telespectador, são flashes.”         No caso do PCC, a facção passou a
protagonizar seus eventos em horários específicos, geralmente em horário nobre, para a




                                                                                                14
Universidade Presbiteriana Mackenzie


garantia da presença e cobertura em tempo real dos veículos de comunicação, exibindo
essas ações normalmente de maneira espetacular.

Concluiu-se este artigo, portanto, que, de fato, durante a cobertura midiática o PCC teve
enorme influência dos veículos de comunicação que o cobriram durante seu período de
atuação. Foi possível notar o crescimento da facção da última década e como ela passou a
se beneficiar da cobertura feita pela imprensa. É importante destacar que os veículos
estudados veiculam a sigla PCC, quando estritamente necessário. O Primeiro Comando da
Capital, como no início de seu surgimento, passou a ser mencionado como “grupo
criminoso”, ou “facção criminosa”. Nesse sentido, observamos que a mídia passou perceber
de que estava sendo usada pelo grupo e que a promoção do PCC estava diretamente ligada
à maneira ao qual os veículos de comunicação alimentavam-se dos ataques do comando,
uma vez que a veiculação dos mesmos somente fortalecia a imagem do PCC.

Desse modo, pudemos verificar neste artigo, que, de fato, a mídia jornalística foi
responsável pelo destaque que a facção adquiriu entre o período de 1997 a 2006,
principalmente entre os dias 13 e 15 de maio de 2006, período em que a cobertura do PCC
ganhou cadernos especiais na Folha de S. Paulo, manchetes com referência à sigla do
comando e imagens de fogo, incêndios e violência. Do mesmo modo, no Jornal Nacional, as
retrancas referidas ao PCC durantes seus ataques identificaram uma postura mais
espetacular em sua veiculação. Portanto, embora tenha a função de informar tais
acontecimentos, a mídia teve papel decisivo para a construção da imagem do PCC ao longo
dos anos.

REFERÊNCIAS

ARBEX JR, José. Showrnalismo: A notícia como espetáculo. São Paulo: Casa Amarela,
2002.

COMO        FUNCIONA           O   PCC    –     Instituto      Marconi.      Disponível     em
http://www.institutomarconi.com.br/pcc.htm. Acesso em 10 jun. 2010

CONTERA, Malena Segura. Mídia e Pânico: saturação da informação, violência e crise
cultural     na       mídia.       São    Paulo:        Annablume:         Fapesp,        2002.
DEBORD,     Guy.   A    sociedade    do   espetáculo.   São      Paulo:   Contraponto,    1992
GIRARD, René. A violência e o sagrado sacrifício. Tradução de Martha Conceição Gambini.
São Paulo: Paz e Terra; UNESP, 1990.

JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em http://www.folhaonline.com.br. Acesso em
22 de maio de 2010.




                                                                                             15
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


JORNAL NACIONAL. Disponível em http://g1.globo.com/jornal-nacional/. Acesso em 20 mai.
2010.

MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Séc. XX: o espírito do tempo. 8ª ed. São Paulo:
Forense Universitária, 1990.

PAIERO, Denise. São Paulo Re-signada: Um dia de caos na maior cidade do país in Os
Meios da Incomunicação. São Paulo: Annablume, 2011 (no prelo).

_______________. A estrutura simbólica do terror. Monografia apresentada no curso de
Doutorado do Programa de Estudos Pós-graduados de comunicação e Semiótica da PUC-
SP, para a disciplina Estudos Culturalistas da Comunicação. São Paulo, 2009

RABIGER, M. 2005. Uma Conversa com Professores e Alunos sobre a Realização de
Documentários. In: M. MOURÃO & A. LABAKI (Orgs.). O Cinema do Real. São Paulo,
Cosac Naify.

SOUZA, Fatima. PCC – A Facção. São Paulo: Record, 2006.

SOUZA, Percival de. O Sindicato do Crime. São Paulo: Ediouro, 2006.

YOUTUBE,              PCC           na           rede.            Disponível              em:
http://www.youtube.com/watch?v=cdRLBuEYrQo&feature=related. Acesso em 15 mai. 2010




Contato: vagnerdealencarsp@hotmail.com e denise@mackenzie.br




                                                                                            16

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A construção da imagem do PCC na mídia

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO PCC NA MÍDIA Vagner de Alencar Silva (IC) Denise Cristine Paiero (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo Este artigo visa a compreender a construção da imagem pública do Primeiro Comando da Capital (PCC) a partir da criação de fatos jornalísticos e de sua repercussão na imprensa brasileira. Para isso, analisamos os veículos Folha de S. Paulo e Jornal Nacional, escolhidos por serem considerados um dos meios de comunicação, impresso e televisivo, mais influentes do país. Selecionamos alguns episódios específicos, recortados, principalmente, nos períodos em que o grupo ganhou mais destaque pela mídia, tornando-se praticamente notícia obrigatória. Os períodos analisados partiram, desde o surgimento da facção na mídia, em maio de 1997, até o estopim do PCC, quando os ataques gerados pela facção criminosa pararam a cidade de São Paulo, em maio de 2006. Buscamos compreender os elementos que foram utilizados pelo grupo criminoso para chamar a atenção dos jornalistas e dos veículos de comunicação e como os resultados das ações protagonizadas pelo PCC, quando cobertos pela mídia, acabaram se repetindo em outras ações que buscaram a mesma visibilidade, provocando, assim, uma realimentação entre jornalismo e facção criminosa. O objetivo também e, principalmente, foi verificar como a mídia jornalística ao desempenhar seu papel de informar teve papel significativo para o crescimento e a disseminação da imagem do PCC. Palavras-chave: Jornalismo, PCC, mídia Abstract The aim of this article is to comprehend the construction of the public image of Primeiro Comando da Capital (PCC) – First Capital Comando da Capital – from journalistic soucers and press repercussions by analyzing the materials of Folha de S. Paulo and Jornal Nacional specially during the period when the group has become prominent, since its first appearance in the media in May 1997 until the climax when PCC has attacked the city of Sao Paulo causing a huge chaos. Our efforts were employed towards the elements used by such criminal group to call the attention of journalists and communication vehicles causing as result a scheme of feedback for the journalisms and this criminal organization. The goal of this article is also and mainly was to determine how the journalistic sources contribute to enlarge image of and growth of the PCC. Key-words: Journalism, PCC, media 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÃO O Primeiro Comando da Capital (PCC) é hoje considerado a facção criminosa mais perigosa do Brasil. O surgimento do grupo aconteceu durante um jogo de futebol no “Pinheirão”, na tarde de 31 de agosto de 1993. “Eram 8 presos, transferidos da capital por problemas disciplinares, para ficar em Taubaté – até então, temido pela classe carcerária”. Os detentos permaneciam 23 horas ininterruptas dentro da cela. Os oito estavam sendo punidos pela má conduta no antigo presídio e pelo fato de ter vindo de São Paulo o time foi chamado de Comando da Capital (SOUZA, 2006, p. 93) Estima-se que hoje o PCC tenha cerca de 130 mil membros, dentro e fora das prisões. Um verdadeiro “sindicato do crime” que comanda rebeliões, fugas, resgates, assaltos, seqüestros, assassinatos e o tráfico de drogas. (online¹) Mas mais forte que a presença de fato da facção no controle do crime em várias regiões de São Paulo, do Brasil e até do exterior (sabe-se que hoje há representantes do PCC atuando em Portugal) foi a imagem que ele criou a partir de fatos que tinham a intenção de buscar visibilidade. Ao longo da sua história, o PCC já foi responsável por eventos espetaculares, que não poderiam passar despercebidos pelo jornalismo, como megarrebeliões em presídios, ataques simultâneos a órgãos públicos, incêndios a ônibus, sequestro de jornalista e até a suspensão da rotina na cidade de São Paulo, que aconteceu em maio de 2006. Todos, eventos que mais que o terror em si, visavam à sua expansão pelos meios de comunicação. A mídia jornalística, ao cumprir sua função de informar, teve e tem, ainda que involuntariamente, papel fundamental para a disseminação e o fortalecimento da imagem do PCC, sendo responsável por grande parte de seu crescimento e do destaque que a facção recebeu ao longo dos últimos anos. Nesta pesquisa, o que analisamos foi especificamente a mediação da relação PCC/sociedade e seu impacto na vida social. Para isso, consideramos que a forma como a prática jornalística, ao atender a certos padrões, acaba por servir aos propósitos de potencialização dos atos terroristas o que, evidentemente, tem grande impacto no interior da comunicação e na organização da vida cotidiana, seja pelo papel desempenhado pela mídia como organizadora do tempo cotidiano quanto pela afirmação de Luhmann (1997) de que tudo que sabemos do mundo sabemos por meio da mídia. (Paiero, 2009, p.5) Procuramos compreender o cenário midiático em que o PCC atua e de que forma ele explora a tendência à espetacularização da notícia na elaboração dos seus eventos que buscam visibilidade. Sobre a ideia de espetáculo, Guy Debord afirma: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação”. (1992, p.12) Ainda segundo o autor, o espetáculo é o que move a sociedade contemporânea. Isso está presente inclusive, e, sobretudo, nos produtos midiáticos, onde a exposição e o consumo do espetáculo se dão de fato. Arbex (2002) traz um conceito parecido ao analisar a construção da notícia nos veículos de comunicação contemporâneos e observar que, de fato, no jornalismo, tudo se transforma em um grande show, no qual os elementos espetaculares se sobrepõem ao interesse público. Para este trabalho, a fim de compreendermos como se constrói a imagem pública do PCC no jornalismo, analisamos a cobertura, desde seu surgimento, dos episódios em que a facção teve mais destaque. Não recortamos, portanto, um período sequencial para análise, mas períodos específicos. A importância da presente pesquisa se deu de maneira a compreender o papel do jornalismo para a formação e o fortalecimento da imagem da facção criminosa. Buscamos entender como o jornalismo, ao cumprir sua função, acaba por servir aos interesses daqueles que se colocam contra a sociedade. Para fazermos nossas análises buscamos, primeiro, identificar quando o PCC foi criado. Para isso, utilizamos livros que trataram sobre o surgimento da facção e de seu crescimento, como Sindicato do Crime (2006), do repórter investigativo Percival de Souza, obra resultante de uma detalhada investigação para descobrir o que envolve o crime organizado. Outra obra que embasou nossa pesquisa inicial foi PCC- A Facção (2006), de Fátima de Souza, jornalista que realizou reportagens nos principais presídios de São Paulo para a TV Bandeirantes, na década de 1990. Os livros Showrnalismo (2002) de José Arbex; Mídia e pânico (2002), de Malena Contrera e Cultura de Massas no Século XX (1990), de Edgar Morin, serviram como base teórica para a compreensão da cobertura noticiosa, transformada em espetáculo e alimentadora desses mesmos espetáculos. Para a análise de mídia, foi feito o clipping de todo o material jornalístico produzido para a cobertura dos episódios selecionados e coletados nos jornais Folha de S.Paulo e Jornal Nacional. Alguns episódios foram destacados para nossas análises, escolhidos, principalmente, devido à repercussão e a ação espetacular realizadas pela facção. 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 1. Mídia, sociedade e violência Como explica Malena Contrera (2002), a relação entre sociedade e mídia deve ser compreendida pela forma como acontece o estabelecimento de vínculos no processo de comunicação contemporânea, ou seja, quando falamos em meios sociais cada vez mais extensos e complexos. Segunda ela, em virtude de horários e espaços quase sempre sem sincronia, é preciso verificar como se dão esses caminhos, por meio de vínculos. “(...) todo código é um corpo que precisa de meios eficientes (concretos ou virtuais) por onde transitar, confirmando e fortalecendo sua validez. (p. 47) Para Morin (1990) a cultura de massa gera o preceito de consumo máximo, por ser constituída por um conjunto formado por normas, símbolos e imagens é destinada a um “aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas internas da sociedade” (p.14). A mídia desempenhou papel estratégico para a transformação e criação de um novo modelo de estética. Na sociedade contemporânea, sob a alimentação do poder simbólico, ela é construída pela presença espetacular dos acontecimentos e pela massificação da visibilidade. Conforme explica Arbex: “(...) Os meios de comunicação de massa – diz Debord – são apenas “a manifestação superficial mais esmagadora” da sociedade do espetáculo” (2002, p. 69). Para Guy Debord, o espetáculo é formado pela multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum. Sob esse cenário de hiperdesenvolvimento dos suportes abstratos, Contrera afirma que os meios eletrônicos de comunicação obtiveram papel fundamental para a extensão espacial, pela forma praticamente instantânea com que eles atingem a sociedade (2002, p. 49). Para Arbex, os meios midiáticos contemporâneos passaram somente a não “embelezar” a realidade da vida, “mas substituí-la pela relação entre homem e a vida encenada pela mídia [...] A mídia produz a abolição da memória mediante a sua substituição pelo show da memória” (2002, p. 268) A televisão passou a obter uma linguagem própria, por essa razão tornou-se responsável pela maneira pela modificação na forma de recepção dos gêneros veiculados. Conforme Arbex (2009), nos programas de telejornais “as notícias são apresentadas por belas mulheres, ou por ‘âncoras’ que funcionam como showmen, não tendo importância o fato de eles saberem ou não de que trata a notícia lida no telepromter.” Para o autor, o importante é como se dão o impacto da imagem e o ritmo de transmissão: “(...) no caso do telenoticiário, 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie as imagens reiteram uma certa percepção do mundo. O que se fixa, na memória do telespectador, são flashes.” 2. A violência na mídia Trabalhamos com o conceito de violência, compreendendo sua presença antes e após o processo de hominização. Para isso, utilizamos os conceitos de René Girard (1990) para explicar a violência nas sociedades. Para ele, os instintos são canalizados pela cultura. Segundo Contrera, essa relação entre instinto e cultura encontra suas válvulas de escape nos meios de comunicação de massa contemporâneos. Naturalmente, o homem tem uma predisposição à violência. Por outro lado, a vida em sociedade programada pela cultura, depende do controle da violência para existir. A cultura, portanto, controla a violência humana. Essa violência, agora controlada, precisa ser canalizada. O desejo de violência acontece quando é despertado por uma série de fatores que relacionam aspectos culturais e biológicos. Para René Girard (1990), a violência quem está presente na base da cultura humana. O instinto violento é caracterizado por mudanças corporais, próprias para preparar o homem para a luta e não pode ser considerado como um simples reflexo, cujos efeitos desapareceriam assim que o estímulo deixasse de agir. Segundo Girard “é mais difícil apaziguar o desejo de violência que desencadeá-lo, principalmente nas condições normais de vida em sociedade” (GIRARD, 1990, p. 14). Segundo Edgar Morin (1990), a cultura controla e dá argumentos para os instintos e desejos de violência para que esses sejam canalizados: “A vida cotidiana está submetida às leis; os instintos e desejos são reprimidos; os medos, camuflados [...] os instintos se tornam violência e os medos angústia” Nos dias de hoje, a violência encontra seu espaço de propagação nos meios de comunicação de massa. Para Contrera, os meios de comunicação de massa transformaram no “altar de sacrifícios de nosso tempo”, ou seja, ela está presente em diversas situações comunicativas, colocadas na mídia contemporânea, através de todos os veículos midiáticos, apresentando-se praticamente como uma “temática obsessiva”. como A abordagem da violência na mídia está relacionada ao modo como é tratada, “como se ela estivesse presente na mídia sob a forma de tema, de assunto, como se fosse apenas mais uma pauta.” (Contrera, 2004, p. 89) 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 3. A História e os movimentos do PCC Inicialmente, o PCC atuou por três anos na clandestinidade, porém ao longo de uma década, desde sua fundação, a facção aumentou, de maneira expressiva, o número de filiados. No ano de 1997, o PCC contava com oito mil homens. Em 2006, apenas nos presídios, o comando registrava 120 mil. O massacre na Casa de Detenção, em 1992, onde mais de cem detentos foram mortos, foi uma das causas que levaram oito detentos da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté a fundar o PCC. Com o propósito de defender os direitos dos presidiários, o grupo criou uma espécie de sindicato no qual reivindicariam às péssimas condições às quais eram submetidas nas cadeias. (SOUZA, 2007, p. 15) O PCC aumentava o número de filiados de forma rápida e vertiginosa, o que gerou, posteriormente, o “ornograma do PCC”, determinando as responsabilidades de cada integrante. Por meio da cobrança de caixinha mensal, os membros pagavam uma determinada quantia. O valor arrecadado era destinado a compra de armas, drogas, o pagamento de funcionários das cadeias e policiais corruptos. (SOUZA, 2007, p. 26). No ano de 1997, os veículos de comunicação passaram a cobrir as ações do PCC, que passou a ganhar destaque nos veículos de comunicação. Em 2001, a facção determinou um estatuto, composto por dezesseis itens, que estabeleciam os princípios vigentes pela organização. O item 11 do documento prevê que o lema absoluto “A Liberdade, a Justiça e a Paz”. Segundo Percival de Souza (2006), “o crime organizado construiu seu formato, estabeleceu seus códigos, criou uma nova linguagem, avançou sobre funcionários de presídios, sobre juízes, policiais, promotores, advogados e sobre jornalistas” (p. 13) Em 11 de julho de 2000, a Penitenciária de Presidente Bernardes foi palco para uma rebelião orquestrada pelo PCC. O evento recebeu cobertura ao vivo de vários veículos de comunicação e repercutiu na mídia durante dias. Pode-se dizer que esse evento fez com que o PCC se tornasse pauta obrigatória para o jornalismo e ficasse conhecido do grande público. Um semestre depois, em 18 de fevereiro de 2001, o Primeiro Comando da Capital organizou uma megarrebelião, evento esse jamais visto em toda a história do Brasil e do mundo. Foram trinta presídios rebelados simultaneamente. Para Souza, “a instalação do crime organizado dentro da prisão é a grande novidade penitenciária do século XXI” (p. 11). Entretanto, embora eventos que já intensificavam o poder da facção ao longo dos anos, foram os ataques ocorridos entre os dias 13 e 16 de maio de 2006, quando detentos tomaram várias unidades prisionais do Estado de São Paulo, eclodindo uma enorme 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie rebelião. “Uma alavanche de ataques e mortes. Policiais civis, militares, carcereiros, guardas civis metropolitanos e ate bombeiros tombavam em vários pontos de São Paulo, assassinados pelo PCC” (Souza, 2006, p. 285) No dia 29 de novembro de 2009, o canal Discovery Channel apresentou o documentário “São Paulo sob ataque”, uma recapitulação dos eventos que mergulharam o Estado e uma situação de pânico, em maio de 2006, segundo sinopse do canal pago. Ainda no ano de 2006, em 13 de agosto, outro episódio protagonizado pelo PCC foi o sequestro do repórter da Rede Globo, Guilherme Portanova, e do técnico Alexandre Coelho Calado. A exigência para libertação dos sequestrados era espaço para a leitura de um manifesto no TV Globo, que foi concedido pela emissora. METODOLOGIA Nosso estudo foi constituído pelo jornal Folha de S.Paulo, escolhido por ser publicado na cidade de São Paulo, onde a facção surgiu e realizou a maior parte de suas ações que mereceram destaque, e também por estar entre um dos veículos impressos mais influentes e de maior circulação do Brasil, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC). Analisamos ainda o Jornal Nacional, que é o telejornal mais visto do Brasil, alcançando em média 35 pontos diários no Ibope. Nosso objetivo foi investigar como e quando o PCC passou a ganhar visibilidade e que elementos foram utilizados pela facção para chamar a atenção de jornalistas e veículos de comunicação, a ponto de suas ações se tornarem notícia obrigatória. Outro ponto que observamos foi a repetição das imagens dos eventos espetaculares gerados pelos criminosos e o seu efeito potencializador sobre as ações do PCC. Ao mesmo tempo, observamos como os resultados de uma ação do PCC, quando cobertos pela mídia, acabam se repetindo em outras ações que buscam a mesma visibilidade, provocando, assim, uma realimentação entre jornalismo e facção criminosa. O primeiro período recortado foi o mês de maio de 1997, quando a Folha de S. Paulo publicou as primeiras matérias acerca do PCC. Observamos que episódios levaram a mídia a cobrir os atos da facção e que tratamento receberam. Em seguida, foi analisada a rebelião no presídio Presidente Bernardes em julho de 2000. Posteriormente, analisamos a cobertura aos ataques do PCC que ocorreram entre os dias 13 e 16 de maio 2006. Outro episódio de estudo foi o sequestro do repórter da Rede Globo, Guilherme Portanova, e do técnico Alexandre Coelho Calado, em 13 de agosto de 2006, cuja exigência para libertação dos reféns pelos sequestrados era espaço para a leitura de um manifesto no TV Globo, o que foi concedido pela emissora. 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Analisamos ainda outros eventos que se mostraram relevantes ao longo da pesquisa. Foi realizada uma análise qualitativa de conteúdo das mídias pesquisadas, observando, principalmente, pontos como: os elementos destacados pelo jornalismo nos textos e imagens apresentados pelas publicações / programa; os valores-notícia atrelados à cobertura midiática desses episódios; a forma como nome do PCC foi citado; o tipo de fonte que foi ouvida nessa cobertura; como se deu a repetição de imagens ou dos mesmos padrões de imagens geradas pelo PCC na cobertura midiática; como uma cobertura de destaque acaba pautando outros atos do PCC. RESULTADOS E DISCUSSÕES Verificamos, portanto, textos e imagens sobre o PCC nos episódios selecionados e também os elementos destacados pela cobertura. 1. Jornal Folha de S. Paulo 1.1 Primeiras publicações Até 22 de maio de 1997, a Folha de S. Paulo referia-se à sigla PCC como “Plano de Classificação de Cargos”. No dia 25, o jornal mencionou pela primeira vez o Primeiro Comando da Capital, no Caderno Cotidiano. Na mesma data, ainda com as sub-retrancas: “Organização prega rebelião em presídios”, “Em 85, grupo foi investigado”, o jornal faz as primeiras referências ao PCC, que até o final daquele ano foi tratado por “suposta organização criminosa.” Nesse momento, é possível perceber que em nenhum há referência às siglas do comando. Por outro lado, por ser a primeira aparição do PCC, até então não conhecido, pode-se considerar que o jornal repercutiu de forma significativa o nome do grupo. 1.2 Rebelião Presidente Bernardes Na cobertura da rebelião de Presidente Bernardes, onde cinco presos foram mortos durante a ação, é possível observar à tendência teve apenas duas citações ao PCC, na matéria publicada no dia 14 de julho de 2000. “As mortes ocorreram no início da rebelião, quando os 50 presos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) conseguiram fugir da área do ‘seguro’” (Folha de S. Paulo, C3, 14/07/2000) “Uma rebelião em 24 presídios de São Paulo deixou ontem pelo menos 8 mortos e 22 feridos. Cerca de 27 mil presos – quase a metade dos 60 mil condenados que cumprem pena no Estado – começaram a dominar, por volta das 12h, penitenciárias em 19 cidades. Foi a maior rebelião na história do país” (Folha de S. Paulo, C1, 19 de fevereiro de 2001) 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie 1.3 Megarrebelião simultânea Em 17 de fevereiro de 2001, com a megarrebelião que envolveram 29 presídios, simultaneamente, a Folha de S. Paulo passou a dar maior visibilidade às ações geradas pela facção. As manchetes aparecem sempre com o nome do grupo criminoso e as imagens também passar a receber um maior enfoque pelo veículo: “PM ocupa Detenção e retira líderes do PCC” (17/02/2001), “PCC lidera 27 mil presos em 19 cidades de SP na maior rebelião da história do país” e “Prova de Fogo” (19/02/2001) 1.4 PCC para a cidade de São Paulo Em maio de 2006, a sucessão de eventos gerados pelo PCC, que duraram quatro dias e interromperam o funcionamento da cidade de São Paulo, ganharam enorme repercussão pela mídia, evidenciando, por sua vez, o caráter espetacular na cobertura desses. No dia 13 de maio de 2006, a Folha de S. Paulo estampou em quatro páginas, no caderno Cotidiano, as manchetes: “PCC ataca e mata policiais após transferências” e “Polícia pretendia isolar a cúpula do PCC”. No dia 14 de maio de 2006, a facção ganhou visibilidade e recebeu grande destaque levando a manchete de capa: “Ataques do PCC deixam 30 mortos”. O Caderno Cotidiano apresentou uma edição especial. Por meio da subretranca “guerra urbana”, a explicitação dos números foram cada vez mais presentes na cobertura da Folha de S. Paulo. A manchete “Maior ataque do PCC faz 30 mortos” é o destaque do caderno referido sobre a imagem do chapéu ensangüentado de um policial. No maior ataque já realizado contras as forças de segurança de São Paulo, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) provocou a morte de 30 pessoas, feriu outras 24, bombardeou delegacias, metralhou carros e bases da Polícia Militar, de guardas municipais e até do Corpo de Bombeiros, e ainda promoveu 24 rebeliões simultâneas em presídios da região metropolitana e do interior do Estado, segundo o governo. (FACÇÃO promove 63 atentados em 24 horas, Folha de S. Paulo, 13 de maio de 2006, São Paulo. Cotidiano, p. A2) Nesta edição, o caderno repercute em nove páginas, os eventos protagonizados pelo PCC, apontando a análise de especialistas, a posição do Governo Estadual, a repercussão das redes sociais e o desdobramento dos ataques. No dia 15 de maio de 2006, a imagem de um ônibus incendiado ilustrou a capa da Folha de S. Paulo, e novamente o PCC é o centro das atenções por meio da manchete “PCC faz mais de 150 atentados e provoca 80 motins; 74 morrem”. O destaque às estatísticas de visitas, mortos e atentados é algo que também chama atenção, pois é a outra evidência de que, não somente a importância dada à facção pela promoção da sigla PCC, mas à contribuição que o veículo midiático, no decorrer da sua cobertura, por meio da explicitação 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 desses índices acabou por ajudar com que o comando criminoso solidificasse ainda mais sua imagem perante a sociedade. A presença de imagens de ônibus em chamas, rebelião de presidiários e o nome da facção mostrado do alto é verificação de a mídia desempenhou papel significativo para que a facção continuasse a promover outros atentados. Dentre as 17 páginas, nas quais foram retratadas a atuação do PCC nesse dia, foi possível observar das imagens referidas. No caderno Cotidiano, a manchete “PCC ataca ônibus e bancos, promove megarrebelião e amplia medo no Estado” é dividida em três orações, de modo que ilustre as imagens destacadas e os números de indicavam “74 mortes, 156 ataques e 80 rebeliões”. As manchetes atribuídas aos atentados comprovam como a cobertura feita acabou atribuindo outros eventos da facção. A repetição das imagens de fogo e fumaça feitas pelos integrantes evidenciaram a relação, que involuntariamente ou não, acabou por agir mutuamente entre a cobertura jornalística e os ataques do comando criminoso. No quarto dia de ataques, as expressões “medo”, “terror” e “pânico” continuaram comumente a serem veiculadas nas matérias cobertas jornal. No dia 16 de maio de2006, a manchete de capa da Folha de S. Paulo avisa que o “Temor de novos ataques causa pânico e fecha escolas e lojas”. “Uma onda de pânico fez parar ontem a maior e mais rica cidade do país e espalhou choque e medo pelo Estado de São Paulo. No quarto dia de terror provocado pela facção criminosa PCC contra bases policiais, assassinatos e rebeliões. Mas (sic) ataques a ônibus, fóruns a madrugada foram amplificados ao longo do dia por rumores e trotes e fizeram escolas, lojas e repartições publicas fechar em cascata.O clima de medo perdurou ate a noite, quando bares, restaurantes e ate supermercados 24 horas deixaram de funcionar” (MEDO de ataques para São Paulo, Folha de S. Paulo, 16 de maio de 2006, São Paulo. Cotidiano, p C1) O caderno Cotidiano, sob chapéu “guerra urbana”, levou a manchete ao qual enfatizava que “o medo de ataques para São Paulo”. E novamente, os números na cor vermelha ganharam tanto destaque, quanto as imagens de fogo e de bandeiras com o nome PCC. 2. Jornal Nacional A análise do telejornal foi feita com base no arquivo do site do telejornal, com base na disponibilização das notícias veiculadas no site acerca do Primeiro Comando da Capital, selecionadas por palavras-chaves. No site do telejornal não há todos os vídeos das notícias que analisaremos. Entretanto, apesar da ausência da exibição das cenas nas reportagens, há a transcrição das matérias repercutidas, de modo que a análise não se torne menos fidedigna. Nestes casos, que serão explicitados, não faremos, portanto, a análise das imagens veiculadas. 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie 2. 1 - O nome do PCC A expressão PCC aparece em 22 de agosto de 2001, referindo-se ao Plano de Cargos e Carreira do governo aos servidores públicos. Apenas um trimestre depois, em 12 de novembro de 2001, o telejornal menciona a sigla do Primeiro Comando da Capital, como “a quadrilha PCC, que domina presídios paulistas”. Um mês depois, o telejornal já apontava o PCC como a maior facção criminosa de São Paulo”. É possível observar que, gradualmente, a facção adquiriu repercussão no telejornal, passando a se tornar notícia obrigatória. O comando, por sua vez, utilizou de recursos para ganhar visibilidade na mídia, tais como a utilização de fogo, a repetição de imagens, a rebelião de vários presídios. O PCC passava a alimentar o Jornal Nacional da mesma forma que o telejornal se nutria com as ações da facção. Entre os dias 12 de novembro de 2001 e 09 de março de 2002 foram encontradas doze retrancas no programa. Em todas elas o Primeiro Comando da Capital é citado pelas siglas da facção. Ao longo das reportagens desse período, a cobertura midiática do veículo utilizou de elementos aos quais evidenciaram o destaque dado à facção e a forma a qual o telejornal emitia os valores-notícia embutidos em suas reportagens sobre o PCC. A utilização de expressões com sensacionalismo também foram utilizadas, para que mais do que promover a facção, fossem destacados elementos que chamassem a atenção do telespectador. Vejamos como o Jornal Nacional destacou a imagem do PCC ao público. 2.2. Manchetes no Jornal Nacional Os seguintes textos foram publicados no Jornal Nacional, nos meses de fevereiro e março de 2002: Guerra das facções – Homens ligados ao PCC - Primeiro Comando da Capital - assumiram a responsabilidade pelas mortes. A sigla da facção foi escrita nos pátios. Num lençol, o nome de um dos chefes da maior rebelião da história do país, que foi transferido para um presídio do Distrito Federal. (18/02/2002) - Assassinado um dos fundadores da organização criminosa – Hoje um dos fundadores da organização criminosa PCC foi assassinado. De manhã, no extremo oeste do estado, um dos fundadores do PCC foi assassinado na cadeia por membros da própria facção. (19/02/2002) - Violência em São Paulo – Entre os mortos o homem que chefiava o comboio, Djalma Gomes, integrante do PCC - facção criminosa que atua dentro e fora de presídios em São Paulo. (05/03/2002) 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 - Bombas em São Paulo – Desde o começo do ano prédios da justiça e da administração penitenciária foram alvos de atentados assumidos pelo PCC. 08/mar/2002 - PCC assume mais um atentado – O PCC, facção que age nos presídios, promoveu três rebeliões no estado. [...] Mais um ato de ousadia da facção criminosa, o PCC, mostra que o crime organizado não se intimida, diante da reação da polícia de São Paulo. (09/03/2002) Durante a série de atentados à cidade de São Paulo, no mês de maio de 2006, o Jornal Nacional, em nenhum momento, é citada a sigla da facção. O Primeiro Comando da Capital passou então a ser denominado pelo jornal de maior audiência do país como “a facção criminosa”. No dia 18 de maio de 2006, o apresentador do Jornal Nacional, Willian Bonner, entrevistou, ao vivo, o então governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo. O jornalista destaca a ocasião dos atentados como sendo “a crise”. Da mesma forma, os repórteres que entraram na programação informaram notícias em referência ao comando como “os ataques”. O Governador Cláudio Lembo mencionou o movimento como “essa gente má”. Assim, fica claro perceber que o ajudou a construir a imagem do PCC, divulgando suas ações e enfatizando àquilo que para a facção criminosa seria seu propósito principal. Embora o telejornal tenha deixado de utilizar a sigla PCC, o PCC ainda assim ganhava visibilidade e destaque. Veja abaixo, o texto veiculado no telejornal, entre os dias 13 e 15 de maio de 2006. - Alerta máximo em São Paulo – No começo do sábado, os principais criminosos são transferidos para um presídio de segurança máxima. Um deles é Marcos Camacho, o Marcola. Acusado de orquestrar a onda de rebeliões e ataques. (13/05/2006) - Medo em São Paulo – Vamos aos números, que lembram uma guerra: 184 ataques em todo o estado; 56 ônibus queimados; 8 agências bancárias pelo menos destruídas; 43 policiais e cidadãos assassinados. E 38 suspeitos de envolvimento com esses crimes também morreram em confronto com a polícia. Ao todo, 81 mortos. (15/05/2006) - Mapa da violência (15/05/2006) - Números da violência (16/05/2006) Não foi possível encontrar nenhuma referência a sigla “PCC” nos arquivos do telejornal, nos anos 2003 a 2005. Todavia, o que fica claro, é o declínio quanto à divulgação da imagem do PCC no telejornal no período posterior 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie 2.3 Sequestro do jornalista Guilherme Portanova No caso do sequestro do repórter Guilherme Portanova e o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado estavam numa padaria na zona sul da cidade quando foram capturados por dois homens armados. Ambos pararam para tomar café depois de trabalhar no plantão da madrugada. Calado foi liberado na noite de sábado levando um DVD com uma gravação do Primeiro Comando da Capital (PCC). O auxiliar técnico recebeu a orientação para que o material fosse veiculado na íntegra pela emissora, para garantir a vida do repórter Guilherme Portanova que permaneceu no cativeiro. O jornalista Cesar Trali, em caráter de Plantão na programação da Rede Globo, informou o comunicado do PCC, de 3m36s, exibido à 0h28 de sábado do dia 13 de agosto de 2006. Na exibição do vídeo, enquanto um homem encapuzado faz a leitura do texto, é possível observar por meio de letras grandes, escritas de cor preta na parede branca, por detrás do suposto líder da facção, a frase “PCC: Luta pela Justiça...” A filmagem é focalizada inicialmente no homem, de modo que, ao final do discurso, é dado destaque ao nome PCC na parede. Veja o fragmento do discurso do sequestrador retirado do site (Youtube, online²) “Como integrante do Primeiro Comando da Capital, o PCC, venho pelo único meio encontrado por nós, para transmitir um comunicado para a sociedade e os governantes. [...] Não estamos pedindo nada mais do que está dentro da lei. Se nossos governantes, juízes, desembargadores, senadores, deputados e ministros trabalham em cima da lei, que se faça justiça em cima da injustiça que é o sistema carcerário, sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada. Pedimos aos representantes da lei que se faça um mutirão judicial, pois existem muitos sentenciados com situação processual favorável, dentro do princípio da dignidade humana. O sistema penal brasileiro é, na verdade, um verdadeiro depósito humano, onde lá se jogam seres humanos como se fossem animais. [..] Queremos que a lei seja cumprida na sua totalidade. Não queremos obter nenhuma vantagem. Apenas não queremos e não podemos sermos [sic] massacrados e oprimidos. Queremos que: 1) as providências sejam tomadas, pois não vamos aceitar e não ficaremos de braços cruzados pelo que está acontecendo no sistema carcerário. Deixamos bem claro que nossa luta é contra os governantes e os policiais. E que não mexam com nossas famílias que não mexeremos com as de vocês. A luta é nós e vocês”. O comunicado gerou bastante discussão entre outros meios de comunicação e acabou por representar a força a qual o PCC parecia deter naquele momento, pois havia sido capaz de colocar a maior rede de televisão brasileira à rendição de suas vontades, buscando disseminar sua imagem perante a um público cada vez maior. Esse acontecimento acabou por representar a força a qual o PCC parecia deter naquele momento, pois havia sido capaz de colocar a maior rede de televisão brasileira à rendição de suas vontades, buscando disseminar sua imagem perante a um público cada vez maior. 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 CONCLUSÃO Ao longo deste artigo procuramos demonstrar como a mídia, a fim de desempenhar seu papel jornalístico, contribuiu para disseminar e fortalecer a imagem do PCC e como o jornalismo, ao atuar no cumprimento de seu papel de informar, foi e teve papel fundamental para pautar o PCC e, de forma mútua, utilizar-se dessa visibilidade para servir a si própria. A superexposição dos eventos gerados pelo PCC, desde seu surgimento até o mês de maio de 2006 – período de maior ascensão do grupo criminoso – nos mostrou que, de fato, a imagem pública do PCC adquiriu visibilidade, à medida em que a repetição de imagens e da divulgação desses eventos acabava por gerar outros eventos, solidificando ainda mais a imagem da facção criminosa. Pudemos observar, segundo Arbex (2002), que a comunicação contemporânea tem transformado o jornalismo em um grande show, alimentado, por meio de eventos espetaculares, e alimentando o interesse do público. No cenário em que a violência ambientou a atuação a PCC, tão comumente notada durante sua atuação, pudemos verificar, com base nas conceituações de Malena Contrera, que os meios de comunicação se transformaram no “altar de sacrifícios de nosso tempo”, aos quais os veículos de comunicação apresentam a violência de maneira massiva. Isso pode ser comprovado nas ações do grupo criminoso, que utilizou de seus ataques para ganhar ascensão na mídia, de modo que a imprensa não poupasse a veiculação desses eventos. A Folha de S. Paulo, desde a primeira matéria, veiculada em maio de 1997, foi uma das responsáveis por colocar o PCC no centro das atenções durante anos. Por meio de manchetes e imagens que, na grande maioria das vezes, colocou à sociedade um contexto sob a ideia de pânico, medo e, consequentemente, espetáculo. Os ataques da facção, em maio de 2006, foram sinônimo da relação mútua entre o comando e a cobertura midiática. Através da utilização de recursos para ganhar visibilidade na mídia, tais como a utilização de fogo, a repetição de imagens, a rebelião de vários presídios foi certa a visibilidade gerada pelo jornal, ao qual o PCC tornou-se notícia obrigatória. No Jornal Nacional, ao longo dos anos, o telejornal passou a tratar o Primeiro Comando da Capital sob a utilização de expressões com teor de sensacionalismo. O uso excessivo e repetitivo uso da sigla da facção fizeram parte do modo com o programa cobriu o PCC. Para Arbex (2006), a importância da televisão está relacionada ao impacto da imagem e o ritmo de transmissão. Sobre essa ideia, como verificado anteriormente, ele aponta que “(...) no caso do telenoticiário, as imagens reiteram uma certa percepção do mundo. O que se fixa, na memória do telespectador, são flashes.” No caso do PCC, a facção passou a protagonizar seus eventos em horários específicos, geralmente em horário nobre, para a 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie garantia da presença e cobertura em tempo real dos veículos de comunicação, exibindo essas ações normalmente de maneira espetacular. Concluiu-se este artigo, portanto, que, de fato, durante a cobertura midiática o PCC teve enorme influência dos veículos de comunicação que o cobriram durante seu período de atuação. Foi possível notar o crescimento da facção da última década e como ela passou a se beneficiar da cobertura feita pela imprensa. É importante destacar que os veículos estudados veiculam a sigla PCC, quando estritamente necessário. O Primeiro Comando da Capital, como no início de seu surgimento, passou a ser mencionado como “grupo criminoso”, ou “facção criminosa”. Nesse sentido, observamos que a mídia passou perceber de que estava sendo usada pelo grupo e que a promoção do PCC estava diretamente ligada à maneira ao qual os veículos de comunicação alimentavam-se dos ataques do comando, uma vez que a veiculação dos mesmos somente fortalecia a imagem do PCC. Desse modo, pudemos verificar neste artigo, que, de fato, a mídia jornalística foi responsável pelo destaque que a facção adquiriu entre o período de 1997 a 2006, principalmente entre os dias 13 e 15 de maio de 2006, período em que a cobertura do PCC ganhou cadernos especiais na Folha de S. Paulo, manchetes com referência à sigla do comando e imagens de fogo, incêndios e violência. Do mesmo modo, no Jornal Nacional, as retrancas referidas ao PCC durantes seus ataques identificaram uma postura mais espetacular em sua veiculação. Portanto, embora tenha a função de informar tais acontecimentos, a mídia teve papel decisivo para a construção da imagem do PCC ao longo dos anos. REFERÊNCIAS ARBEX JR, José. Showrnalismo: A notícia como espetáculo. São Paulo: Casa Amarela, 2002. COMO FUNCIONA O PCC – Instituto Marconi. Disponível em http://www.institutomarconi.com.br/pcc.htm. Acesso em 10 jun. 2010 CONTERA, Malena Segura. Mídia e Pânico: saturação da informação, violência e crise cultural na mídia. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2002. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. São Paulo: Contraponto, 1992 GIRARD, René. A violência e o sagrado sacrifício. Tradução de Martha Conceição Gambini. São Paulo: Paz e Terra; UNESP, 1990. JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em http://www.folhaonline.com.br. Acesso em 22 de maio de 2010. 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 JORNAL NACIONAL. Disponível em http://g1.globo.com/jornal-nacional/. Acesso em 20 mai. 2010. MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Séc. XX: o espírito do tempo. 8ª ed. São Paulo: Forense Universitária, 1990. PAIERO, Denise. São Paulo Re-signada: Um dia de caos na maior cidade do país in Os Meios da Incomunicação. São Paulo: Annablume, 2011 (no prelo). _______________. A estrutura simbólica do terror. Monografia apresentada no curso de Doutorado do Programa de Estudos Pós-graduados de comunicação e Semiótica da PUC- SP, para a disciplina Estudos Culturalistas da Comunicação. São Paulo, 2009 RABIGER, M. 2005. Uma Conversa com Professores e Alunos sobre a Realização de Documentários. In: M. MOURÃO & A. LABAKI (Orgs.). O Cinema do Real. São Paulo, Cosac Naify. SOUZA, Fatima. PCC – A Facção. São Paulo: Record, 2006. SOUZA, Percival de. O Sindicato do Crime. São Paulo: Ediouro, 2006. YOUTUBE, PCC na rede. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=cdRLBuEYrQo&feature=related. Acesso em 15 mai. 2010 Contato: vagnerdealencarsp@hotmail.com e denise@mackenzie.br 16