O documento relata sobre o 6o Nordestão das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) realizado em Itabuna, Bahia, com a participação de representantes de todos os estados do Nordeste. O evento teve como objetivo qualificar a participação dos romeiros no 13o Encontro Intereclesial e promover reflexões sobre justiça, profecia e a serviço da vida no Nordeste. Várias oficinas e atividades foram realizadas abordando temas como ecologia, políticas públicas e desafios atuais.
CEBs 6o Nordestão defende justiça e profecia no Nordeste
1. Comunidade Eclesiais de Base (CEBs) - 6º Nordestão das CEBs - Itabuna/BA - Julho 2012 - Nº 01
2. Sustentabilidade, partilha, Vários Olhares
“O encontro está muito rico, o grande destaque são os assessores. Pois
memória a serviço da vida já os conhecia os nome , e aqui os encontrei todos juntos. Enquanto
jovem percebo que é necessário maior articulação com a CEB's. Nordeste
“Justiça e Profecia a Serviço da Vida no Nordeste” foi a faz a diferença no Brasil.”
grande motivação que trouxe romeiros e romeiras de todos Ângela Maria
os estados do Nordeste, à Diocese de Itabuna no Sul da Pastoral da Juventude - Teresina/PI
Bahia, para realizarem o 6º Nordestão das CEBs, no período
de 19 a 22 de julho de 2012, com a intensa participação dos “O encontro está riquíssimo quanto a partilha de informações. A
representantes de cada um dos cinco regionais nas oficinas comunidade é muito acolhedora.”
temáticas, plenárias, na fila do povo e nas celebrações. As Amanda - Pernambuco - NE2
reflexões foram abordadas de maneira muita profunda
pelos excelentes assessores que se fizeram presente no “A junção de várias culturas enriquece o encontro , levarei novos
encontro. experiências para minha diocese. Conhecimento nunca é demais.”
Viabilizar a realização do 6º Nordestão das CEBs; Francielly Pernambuco - NE2
qualificar a participação dos Romeiros e Romeiras do
Nordeste para intervenção no 13º Intereclesial, além de
proporcionar reflexão e atuação consistente e aprofundada “Gosto muito, e está sendo muito importante, principalmente as questões
sobre subtemas relativos ao tema “Justiça e Profecia a sociais discutidas em grupo. Onde foi mostrado que a comunidade unida
Serviço da Vida no Nordeste; obter um melhor tudo pode.”
conhecimento das culturas e povos do Nordeste, seus Maria Aparecida - Nova Olinda/PE
problemas e suas aspirações, para a construção do 13º
Intereclesial das CEBs e fortalecer a participação e
autonomia dos participantes, para o enfrentamento das “Percebo que o nordeste é forte em fé e está engajada no serviço do
dificuldades e quebras de paradigmas que surgem no Reino.Apesar das dificuldades vividas no dia-a-dia em busca da mudança
decorrer da caminhada, foram os objetivos que nortearam o para todos.”
evento. Cirlene Sasso- Terezinha/PI - NE4
A ecologia, as políticas públicas, os grandes projetos que
agridem as comunidades tradicionais, profetas e profetisas
de ontem e de hoje, os desafios e as perspectivas no campo e O que diz o povo
na cidade, os movimentos sociais a serviço da vida no
“Falta às CEB's a sabedoria de se unir às pastorais sociais.” Ir. Rosa (Diocese de
Nordeste, e a busca da sustentabilidade foram os temas
Jequié)
abordados nas oficinas.
As palavras da oração do 13º Intereclesial foram também “Percebe-se o distanciamento de Movimentos Sociais e CEB's ligada à questão
a tônica em todas as reflexões, abordadas desde a análise da política com a ascensão do PT ao poder e a cooptação de movimentos e
conjuntura: “Denunciando a economia neoliberal dos sindicatos”. Pe. Mariano ( Piauí)
grandes projetos depredadores, da seca, da cerca, do
“Vejo a diferença na participação deste Nordestão para o 10º Intereclesial de
consumismo e da exclusão”. Ilhéus, no entanto as famílias estão tendo mais noção de comunidade”.
Um batalhão de voluntários anônimos formaram as Expedito (Quixadá-CE)
diversas equipes de serviço que deram todo o suporte a este
grandioso evento, e de forma silenciosa e competente “Há falta de articulação e de identidade de Base, proponho uma pastoral de
abrilhantaram ainda mais o sucesso do 6º Nordestão das conjunto”. Gil (Maranhão)
CEBs.
“É necessário se reapaixonar por este jeito de ser Igreja das CEB's. Parece que
Este informativo traz um pouco de toda esta riqueza Cristo desceu da cruz e nós fomos para o seu lugar de tanto que estamos
partilhada nestes dias, que também foram e estão calejados”. Nonato (CE)
d i s p o n i b i l i z a d o s n o b l o g :
6nordestaodascebs.blogspot.com.br, e no Facebook: “Há necessidade de unir as pastorais que nasceram das CEB's e divulgar mais,
6nordestao, no Youtube. pois estão escondidas e acabaram perdendo a essência”. Estévão
“As CEBs não são o futuro da Igreja. É que sem a CEBs a
“As CEB's não perderam a essência, o que é bonito não se perde. Talvez
Igreja não tem futuro”. fragmentada, mas não sem essência. Por isso houve a formação da ARES
(Associação para o Resgate de Camacã) como saída para não acabar o espírito
das CEB's”. Genário (Camacã-BA)
Haroldo Heleno
Assessor Diocesano das CEBs
em Itabuna - BA
Impressão: Gráfica Vital
Tiragem: 1.000 exemplares.
Todas as matérias são de responsabilidade das Comunidades Eclesiais de Base (6º Nordestão), com exceção das matérias assinadas.
3. O jornal A Estação em Itabuna mas alguma coisa ficou. Nos anos 90 a pelos militares, mas em geral, as
entrevistou o monge Marcelo Barros, Venezuela e a partir do começo deste ditaduras hoje têm outra cara, a cara
que falou sobre os profetas e profetizas século em 2002, Hugo Chaves, e todo econômica, é a Ditadura do
de ontem e de hoje, homenageando o um caminho que se chama bolivariano Neoliberalismo, e as têm que ser
padre Comblin. porque vem de Simon Bolívar, o grande proféticas em lutar contra isso e
libertador da América no começo do anunciar esse caminho novo. No lugar
A Estação - A gente está passando por século XIX, 1807-1808. Então, nós da ALCA, a ALBA; no lugar de Tratados
uma série de mudanças políticas na temos hoje realmente pessoas, mas eu com os EUA, olhar pra frente e não
América Latina, desde golpe, ditadura, não queria ficar destacando querer um desenvolvimentismo que
esquerdas que passam a se alinhar à presidentes como Hugo Chaves na polui a natureza, que cria mais
direita, a entrada da América Latina ou Venezuela, Evo Morales na Bolívia, desigualdades, que destrói a
a tentativa de entrada da América Rafael Correa no Equador, porque eu humanidade. Procurar um
Latina nessa rota desenvolvimentista e queria destacar as comunidades desenvolvimento sim, porque isto teria
aí vem essa temática Justiça e Profecia indígenas, as comunidades negras, os que ter todo o mundo, mas a partir da
a serviço da vida no Nordeste e o grupos, as comunidades de CEB's, justiça, da igualdade, da ecologia e da
senhor vem falar profetas e profetisas grupos de base que estão numa paz.
de ontem e de hoje, então diante dessa perspectiva muito boa, muito bonita pra
conjuntura de América Latina quem são transformar o mundo. A Estação – E o ecumenismo?
os profetas e profetisas de hoje, onde é Marcelo Barros – Isto não se faz sem
que eles estão, o que eles estão fazendo, A Estação - Qual a responsabilidade das ecumenismo, o ecumenismo, este
como é que eles atuam? Projeto de Deus da
Marcelo Barros – Eu unidade de todos os
acredito que na América seres humanos, em todas
Latina e no Caribe, a as religiões e todas as
profecia hoje tem que vir culturas, faz parte
através da justiça social, essencial da vocação das
e justiça social e política, CEB's.
n u m a m u da n ç a d a s
estruturas, e quem fez A Estação – Qual a
isto primeiro foi Cuba, é expectativa do senhor
claro que eu não vou pra 6º Nordestão?
dizer pra você que Marcelo Barros – O
profeta é Fidel Castro Nordestão é um
porque ele não fez isto encontro que está
sozinho e nem de cima preparando para o 13º
pra baixo, é todo um Encontro Intereclesial
povo, é toda uma das CEB's, portanto o
c o m u n i d a d e , e n c o n t ro d o B ra s i l
movimentos dando a inteiro, e nesse sentido, a
vida. Quantas pessoas perspectiva melhor é
deram a vida na que esse processo se faça
Revolução Cubana? Mas nas bases, que o pessoal
CEB's nessa iniciativa profética de
conseguiram fazer um país. Quando a volte animado, porque hoje em dia no
denunciar e anunciar? A gente vê uma
gente chega no aeroporto a primeira Brasil, a muitas vezes a gente pensa
onda denuncista de algum movimento,
coisa que a gente vê numa grande placa assim: as CEB's é muito bonita, o estilo
mas e o anúncio? Qual a
que tem na estrada diz assim: BEM muito bom, nós estamos muito de
responsabilidade das CEBs no anúncio,
VINDO AO PRIMEIRO TERRITÓRIO acordo, mas parece que já passou,
do anúncio do Reino?
LIVRE DAS AMÉRICAS. Cuba há 53 anos parece que hoje me dia, o que tem vez na
Marcelo Barros – Eu acredito que as
que enfrenta uma guerra como se fosse igreja são os movimentos carismáticos,
CEB's surgiram a partir da Conferência
uma formiga e um elefante. Cuba é deste são os movimentos espiritualistas, as
Episcopal da América Latina (CELAM),
tamaninho (gesto com a mão), pobre, missas show do padre esse, do padre
em Medelín na Colômbia em 1968 como
pequena, e não é vencida pelo império aquele, e as CEB's não têm vez. Então
um gesto e um caminho profético
norte americano, o maior império que quando a gente vem pra cá, e vai
justamente para apoiar os movimentos
já houve na história, mais poderoso, acontecer isso, e encontra com 500
libertadores, a Teologia da Libertação
mais armado, porque tem armas pessoas, dos mais diversos pontos do
que tava surgindo naquela época contra
atômicas, maior do que o próprio Nordeste e todos animados e todos
as ditaduras, e nesse sentido foi muito
Império Romano antigamente. Depois estimulados por esta caminhada em
profético naquele tempo. Hoje, a gente
de Cuba nós tivemos a Nicarágua comum, e aí não, a gente volta pra casa e
não tem mais essas ditaduras militares
Sandinista, que se libertou da ditadura diz: tava pensando que nós éramos tão
do jeito de antigamente, embora no
do Somoza e fez uma vida um país pouquinhos, tão fracos, tão... né? E não
Paraguai tenha havido um Golpe de
realmente a partir dos pequenos, somos, somos pequenos, somos pobres,
Estado feito pelo próprio Congresso e
também muita guerra dos EUA, nem mas estamos juntos, estamos lutando e
em Honduras um Golpe de Estado feito
pode levar pra frente muitos projetos, vamos continuar resistindo.
4. Romeiros e Romeiras CEB's e Movimentos Sociais:
no campo e na cidade A Serviço da Vida no Nordeste
Esta oficina foi coordenada por Maria das Chagas e iniciada
com a apresentação de Yara Nauy, irmã de Galdino Pataxó, que
falou sobre sua dor ao perder seu irmão e da luta dos povos
indígenas. Frei Gilvander começou falando sobre a separação
que vem ocorrendo entre as CEB's e os Movimentos Sociais,
ressaltando a ideia da beleza e seguimento do Evangelho que
geram este casamento. Ainda rememora o Vaticano II e a
CELAM (Conferência Episcopal da América Latina) com a
preferência pelos pobres e o incentivo ao protagonismo.
Algumas pessoas relataram sobre suas experiências de mais
de quarenta anos de CEB's: José Alves (Diocese de Bacabal-MA),
Lourdes Dias Paiva Nogueira (Diocese de Imperatriz-MA) e Pe.
Felício.
Gilvander encerrou salientando a necessidade das CEB's
voltar a aparecer e de todos levantarem a sua causa.
“Precisamos fazer uma microcomunicação mais forte, utilizar
os meios disponíveis para mostrar a nossa cara”.
No dia 20, às 14h, o Pastor Marcos Monteiro Assessor da
tenda Romeiros e Romeiras no campo e na cidade, de forma
muito bem humorada apresentou-se fazendo um
questionamento: “como um Pastor da Igreja Batista é
convocado para falar de Romaria?”. Segundo ele “é um
privilégio participar do momento, já que faço a experiência da
caminhada com os peregrinos.” E destacou que a vocação do
ser humano é caminhar.
Para Marcos, o Antigo Testamento revela que Javé é o
próprio peregrino, também Abraão que caminha seguindo a
sua vocação e os evangelhos que nos apresentam o
caminhante por excelência que é Jesus.
O pastor encerra dizendo: “Aprender a ser gente é aprender a
caminhar, é ser humano, é, sobretudo, a vocação universal. Os
nômadessão caminhantes desde os primórdios e tem muito a
nos ensinar. Se tudo no mundo se move, portanto caminhar é
viver.”
“Ele era um grande líder”: afirma irmã de Galdino Pataxó
Yaranauy Pataxó, irmã do índio Galdino Pataxó, morto em de abril e ainda denunciou a FUNAI e o Governo Federal por
Brasília há 12 anos, após ser queimado por jovens da classe tentar esconder o incidente. Yaranauy lamentou ainda a perda
média, filhos de autoridades, que alegaram em sua defesa dos pais que faleceram, segundo ela, de depressão, após o
terem pensado se tratar de um mendigo (como se isto fosse incidente.
coerente) esteve presente no VI Nordestão de CEB's e relatou Este relato nos faz refletir: Quantos índios, pobres e sem
todo o sofrimento pelo qual sua família passou durante aquele terra, irão morrer para que haja a partilha da terra de forma
episódio. Inicialmente, ela cantou um “mantra”, depois falou de justa e igualitária em nosso país?
seu irmão, adjetivando-o de grande líder, dono de uma
sabedoria que ela atribui a um dom de Deus. Yaranauy Pataxó
se emocionou ao falar da terra conquistada em um território
que compreende terras nos municípios de Camacan, Pau-Brasil
e Itajú do Colônia totalizando 54 mil km², dizendo ser o legado
de Galdino para seu povo que doou sangue pela vida, além de
outras 21 lideranças torturadas e mortas com requintes de
crueldade. Yaranauy lembrou também das três filhas de
Galdino, hoje adolescentes e que eram crianças quando ele
morreu e de todo o sofrimento enfrentado por perder seu pai
ainda pequenas. Ela afirmou não ter raiva dos executores de
seu irmão, inclusive desejando um futuro bom para eles em um
mundo justo, como o idealizado por seu povo. Creditou a Deus o
fato de Galdino ter sobrevivido até a família chegar a Brasília,
pois ele foi queimado no dia 19 de abril de 1997 e somente veio
à óbito quando seus pais o encontraram no hospital no dia 21 Yaranauy se emociona ao fala do irmão
5. Pastor fala da participação nas CEBs
O Pastor Marcos Monteiro, de Feira de ecumenismo, um movimento ecumênico falou saia deste lugar porque eu não estou
Santana/BA, assessor da oficina Romeiros e institucional, em que como você mesmo neste lugar.
Romeiras no Campo e na Cidade: desafios e disse as organizações enfrentam crises (risos) Eu fique com uma vontade imensa de
perspectivas, concedeu entrevista ao jornal imensas. As grandes instituições rir por dentro de mim porque as pessoas
A Estação em Itabuna, homenageando a ecumênicas, os grandes movimentos pensam que a migração religiosa acontece
beata Maria de Araújo. ecumênicos estão em crise, as igrejas por questão de doutrina, por questão de
também, as igrejas estão menos ecumênicas conhecimento, de busca de acesso de
A Estação - Pastor Marcos logo no inicio das no sentido de que nessa voracidade de satisfação e às vezes não é, às vezes é por
CEB's nas músicas e nos poemas a gente mercado elas disputam os fiéis como quem uma percepção de injustiça nas pequenas
sempre ouvia falar nas CEB's como a igreja disputa a sua própria sobrevivência, como re l a ç õ e s . E l a c o m c a tó l i c a e s t ava
dos pequenos, a festa dos pequenos e o se tivessem se sentindo ameaçadas por uma defendendo o pobre para vender os
senhor vem tratar da temática Romeiros e falta de sentido e elas se dilaceram, as santinhos pra se tornar evangélica é uma
Romeiras no Campo e na Cidade: desafios religiões hoje brigam mais do que contradição, mas é dessas contradições que
e perspectivas. Então, eu gostaria que o antigamente, por outro lado, há na prática o ecumenismo se alimenta
senhor fizesse uma relação desta temática no convívio das pequenas pessoas, nos fundamentalmente somos humanos, filhos
Justiça e profecia a serviço do NE e os movimentos sociais uma convivência do mesmo Deus caminhantes da vida,
pequenos do NE. Quem são estes pequenos ecumênica que desafia as perspectivas dos encantados com o chão e com Sol e neste
do NE, e porque discutir esta temática grandes. Na nossa oficina, na nossa encantamento, nessa junção, todos somos
dentro do Nordestão? caminhada, encontrei num momento a ecumênicos, habitantes da mesma terra
Marcos Monteiro – Primeiro Hundira, é figura da Dalvanira. Dalvanira, aquela caminhantes com o mesmo Deus com
meu privilégio estar participando das CEB's, mulher da Assembleia de Deus, quando nós mesmo Jesus cristo, e novamente, são os
sempre fui fascinado pelas CEB's e no ano pensamos em Assembleia de Deus pequeninos que nos arrastam a saber que o
passado teve encontro mais de perto pensamos em uma Igreja onde existe ecumenismo é indestrutível porque é
assessorando o encontro da CEB's aqui em resistência em contatos até mesmo entre vocação humana.
Itabuna e a gratidão que eu tenho de me
permitir em participar deste instante é A Estação – Qual a sua expectativa do
muito grande, é uma fascinação, é um senhor para este Nordestão?
privilégio, me ofereceram o tema Romeiros e Marcos Monteiro – Eu já encontrei o que eu
romeiras no campo e na cidade eu acho queria, gente, e estou encontrando
paradoxo e um desafio porque um romeiro é novamente aqui Hundira. Em um encontro
sempre visto com desconfiança pela minha de pessoas eu sempre fico fascinado porque
herança protestante, evangélica visto com as histórias me alimentam, e alimentam a
um ingênuo, um supersticioso, um cristão minha caminhada. Um encontro desses é
de segunda categoria, alguém que vai muito pequeno, muito pequeno mesmo,
manipulado por interesses outros ou aquele porque o que você chama de pequeninos
assim que não conhece realmente, que vai, deve ser gente grande como as que
que erra o caminho, e eu gosto desta ideia do encontrei pelo caminho, como Ana Maria
errante, errar é a esperança, aquele que erra por exemplo que você vai conversando e vai
que sai errante, que sai caminhando, abre conversando e ela vai tirando do baú as
possibilidade de desconstrução do histórias de vida dela que você vai se
estabelecido, do fixado, do imóvel, o cristão sentindo pequeno. Uma pessoa que se
movente, o cristão é aquele que se movimenta para ir para Nicarágua
movimenta e novamente a sabedoria tem de participar da reconstrução de um país com
ser entendida e encontrada fora das uma nova proposta. Uma pessoa que não
academias, fora dos palácios, fora das evangélicos, imagine assim em contatos encontra impecílio nas dificuldades, uma
instituições, no cotidiano dos pequeninos. católicos ou até no macro ecumenismo, há pessoa que luta, que batalha, nos deixa a nós,
Encontrar os pequeninos é muito mais do uma resistência, mas Dalvanira na sua que somos intelectuais que temos uma vida
que uma espécie de evangelização, uma simplicidade falava da luta, ela estava no mais ou menos equilibrada nos deixa em
espécie de buscar ajudá-los num meio de um acampamento sem terra, falava xeque, nos deixa assim... Complicam a nossa
empoderamento como a gente faz. Eu creio da luta dos sem terra como uma prática vida porque nós quando encontramos,
que pelo contrário, numa relação não ecumênica. Todos os religiosos, todas as quando entramos num encontro desse de
ingênua, numa relação crítica, é encontrar religiões, todo mundo participava, ela falava CEB's, com você diz, quando nós nos
conjuntamente as raízes de nós mesmos, é muito, Dalvanira, era uma figura assim encontramos com a igreja dos pequenos nós
nos achar como humanos, como seres, e sorridente, uma figura amável, e eu fiquei não temos o direito a ostentar uma
nesse sentido justiça, profecia e caminho curioso sobre esta mulher que falava de sabedoria que na verdade não nos pertence,
estão muito juntos, porque caminhar é Deus o tempo todo e falava com Deus o que pertence ao mundo, pertence a todos e
próprio dos ser humano, é próprio de tempo todo. E comecei a conversar e às vezes essa sabedoria está escondida
humanos e humanas, a civilização da pressa, perguntar a ela: nestas relações que nós nunca seremos
a civilização do automóvel, é um pouco que - Você já era assim antes? Você era de outra responsáveis se nunca nos aproximarmos
contrariada nesta perspectiva do caminhar, religião? Você era assim antes? Você já falava desses pequenos. Eu venho falar sobre
o ser humano é um ser que caminha, que com Deus antes? romaria, gente, eu acho assim que o pessoal
coloca o corpo na direção do novo, do não Aí ela disse: - Eu era católica eu já falava com e talvez no Mistério da Graça de Deus me
estabelecido, na direção da errância. Deus, Deus já falava comigo do mesmo jeito colocou uma chance de aprender um pouco
A Estação - O senhor falou da sua tradição e foi Deus que mandou sair daquela igreja. mais sobre isso, porque um rapaz que mora
evangélica, e agente vê que por mais que se Eu disse: - E porque Deus mandou sair dessa em Juazeiro estava me ensinando um pouco
tente, estão esvaziados os espaços de igreja? E ela disse: sobre Romaria, então assim, a minha
tentativa de construção ecumênica. Como é - Eu estava lá na minha comunidade e experiência com peregrinos e peregrinas do
que o senhor vê as CEB's e a construção do dirigente da comunidade expulsou um Nordeste é uma experiência menor diante
ecumenismo? rapaz que estava um santinho na da imensa peregrinação que o povo fez e faz
Marcos Monteiro- É interessante, há um comunidade, naquele momento Deus me todo dia.
6. Na plenária da sexta-feira, 20, a social, seja na família, na comunidade,
coordenadora Graça Pereira convocou no sindicato, na associação ou no
os regionais a fazerem suas município”.
apresentações, para que todos tivessem Para ele, o Estado brasileiro,
noção dos participantes, de onde são e “continua a ser de caráter elitista,
quais expectativas dos mesmos com patrimonialista, clientelista e
relação ao tema “As Ceb's e as Políticas autoritário”. A Constituição Federal em
Públicas”. Em seguida, o professor seu artigo 1º, § 1º diz que: Todo poder
Renato Thiel falou da importância do emana do povo, que o exerce por meio de
tema para os representantes de cada representantes ou diretamente, nos
comunidade presente buscando termos da Constituição. “Assim, existem
desconstruir algumas ideias sobre as algumas conquistas dos movimentos
Políticas Públicas, ao mesmo tempo, com defeito, ou seja, aprender como sociais, mas que não são devidamente
apresentou o expositor do tema, o Pe. utilizar as Políticas Públicas para o bem aproveitadas, como a lei de iniciativa
João Maria do Maranhão. da comunidade”. Acerca do tema, o popular, o Ministério Público, a ação
João Maria iniciou sua exposição padre enfatizou que toda política é popular, o plebiscito, o direito a
fazendo uma explicação do significado pública e por isso todos devem se informação, o conselho de gestão nas
da oficina, que tem como função perguntar: o que é política? Nesse políticas públicas, entre outras.” Conclui
“corrigir, consertar o que está errado, contexto, “a política é a organização de Pe. João Maria.
uma necessidade em qualquer espaço
Espiritualidade Ecológica
Na oficina “Espiritualidade Ecológica”, na sexta-feira, 20, coordenada pela
Irmã Gerusa Félix, após as apresentações dos participantes, houve um
momento de reflexão sobre o trabalho evangelizador e em defesa da vida do
povo que o homenageado, Padre Cícero, realizava nas comunidades pobres
do nordeste, mais especificamente, em Juazeiro-Pe. Em seguida, o Frei
Luciano Bernardi apresentou o tema “A fé cristã e a Ecologia”, e enfatizou que
a Igreja passou a observar o quanto é importante se preocupar com a ecologia
diante da realidade atual e que a ecologia é um novo meio de Deus na vida do
povo. Ao falar sobre as principais preocupações ecológicas: ecológico-
ambiental, ecológico social, ecológico integral e ecológico-mental, Luciano
acrescenta que a população mundial só saldará esta dívida com a “moeda”
cuidado com a natureza, e finaliza: “Pagando esta dívida não estaremos
perdendo, mas ganhando em vida. Ou mudamos ou morremos. Essa
mudança é necessária e urgente. Nela há esperança e vida para nós e para a
terra”.
CEB's na busca da sustentabilidade
O Assessor Reginaldo Figueredo sustentabilidade de cada um dos sustentabilidade, desprendimento
formador do Curso de Formação de presentes à tenda. Vários foram os das coisas materiais, aprendizado,
Formadores em Economia Solidária, “nós” (desafios) desatados: desafio para as atividades de
desenvolvimento de Projetos Sociais: desperdício, consumo exagerado, artesanato, novas alternativas para os
Cacos e Cores. Começou os trabalhos cuidado com os problemas da jovens do meio rural, desigualdade
com a dinâmica dos “nós”. Uma corda comunidade, reaproveitamento das social, violência, desistência. Chamou
com vários nós foi colocada no chão e “coisas”, o artesanato como meio de a atenção para a responsabilidade de
os presentes foram estimulados pelo vida, o descarte indevido do lixo, cada um sobre a temática, enfatizando
palestrante a irem ao centro da sala e, agricultura familiar, aquisição de que a sustentabilidade é uma questão
pegando a corda, desatasse um dos experiências para levar para as de liberdade e que é o ser humano que
nós, identificando naquele ato comunidades, individuaissusemo e está gerando problemas que
simbólico, qual o nó da comodismo, ampliação do conceito de dificultam a sustentabilidade.
8. Aqui nas terras baianas de Itabuna, fomos a chegar a estas conclusões. Vimos que é necessário e
acolhidos pelos irmãos e irmãs com o sabor gostoso de urgente a modificação da estrutura da sociedade brasileira
cacau e acarajé. Muitas famílias abriram suas portas e seus que não está organizada para incluir os pobres, homens e
corações para abrigar os romeiros e romeiras do campo e mulheres em situação de exclusão social. Não seremos
da cidade das CEBs nordestinas. Somos cerca de 300 CEBs, seguidoras de Jesus se não estivermos atentos/as a
pessoas, entre povos indígenas, quilombolas, leigos/as, estes clamores. Devemos lembrar que não há esperança
religiosos/as, padres, pastores evangélicos e bispos, sem luta.“Esperamos enquanto lutamos. Lutamos
convocados pelo tema “Justiça e profecia a serviço da vida enquanto esperamos!” Como símbolo da nossa esperança,
no Nordeste”. queremos destacar a presença dos/as jovens e o seu grito
O VI Nordestão das CEBs tem como objetivo contra toda violência e extermínio da juventude.
“fortalecer a relação e a articulação na grande região Saímos deste VI Nordestão, fortalecido/as e
Nordeste, subsidiando as equipes regionais de CEBs na luta convencidos/as de que não podemos deixar cair a profecia,
pelo fortalecimento da organização para a melhoria das como nos pediu Dom Helder Câmara. Seguimos sob a
condições de vida das comunidades”. Para concretização proteção de São José, padroeiro da Diocese de Itabuna, na
deste objetivo durante estes três dias refletimos as alegria da conquista da terra indígena Pataxó, confirmando
seguintes tendas temáticas: a) Espiritualidade Ecológica; b) o legado do mártir Galdino.
CEBs e Políticas Públicas; c) Profetas e
Profetizas de Ontem e de Hoje; d) Romeiros
e Romeiras no Campo e na Cidade – desafios
e perspectivas; e) CEBs e Movimentos
Sociais a Serviço da Vida no Nordeste; f)
CEBs na Busca da Sustentabilidade.
As tendas temáticas tiveram a
pretensão de nos fazer olhar o chão do
Nordeste, sua diversidade, seu jeito próprio
de ser, rezar e lutar e nos questionar, como
CEBs, à luz da Palavra de Deus, como temos
nos posicionado frente aos grandes desafios
dos tempos de hoje: grandes projetos
governamentais que não contemplam a
vontade do povo, comodismo, degradação
ambiental, cultura do medo, crises
(econômica, ecológica, energética, política).
Juntos descobrimos algumas pistas para o
fortalecimento das comunidades.
A s p i s t a s n o s i n d i c a ra m a
necessidade de continuarmos apostando na
formação de lideranças populares,
aprofundar a consciência crítica e da luta de
classes, continuar promovendo as romarias
da terra e da água, criar espaços de vivência
da espiritualidade peregrina, orante e
profética, contribuir na organização do povo
para a construção de um novo Estado,
discutir a passagem de uma democracia
representativa para uma democracia
participativa direta.
A análise de conjuntura e a
discussão do tema central muito nos ajudou