4. A Corte portuguesa foi desde cedo
um importante centro de atividade
musical.
5. Contam-se:
- as fanfarras de carácter militar ou cerimonial que marcavam os
acontecimentos importantes, como a entrada ou saída do monarca, de um
visitante importante, da abertura das cortes ou a chegada de um novo prato à
mesa real durante um banquete.
6. Charamela
Esta música era executada com instrumentos altos como charamelas ,
trompetes ou tímpanos.
Trompete
Tímpanos antigos (séc.
XIX)
8. Os executantes estavam organizados em corporações de ministreis de
tradição medieval, dirigidas por dignatários com títulos solenes como
“rei das charamelas”; “rei dos trompetes” “rei dos ministreis”.
9. Damião de Góis, na Crónica do Rei D. Manuel diz que o rei quando
estava em conselho, durante a sesta ou quando ia para a cama, ouvia
música.
10. Aos domingos ou feriados almoçava e jantava ao som de música de
charamelas , sacabuxas , cornetas, violinos, harpas e tambores.
Em dias de festa, a refeição do rei era acompanhada por trombetas e
tambores.
sacabuxa Corneta
11. Havia, também, músicos mouros que cantavam e tocavam alaúdes
e tambores bem como charamelas, harpas e violinos e os jovens
nobres dançavam enquanto o rei comia.
12. A música vincava a importância social das pessoas. Os duques de
Bragança usaram este meio para marcar a sua proeminência social.
13. Descrição do banquete do duque D. Teodósio
em 1542
A abundância e delicadeza da comida servida a todos era grande.
Ao mesmo tempo, ouviam-se trombetas, charamelas e menestréis e
depois uma música de instrumentos e vozes de tal forma
harmoniosa que a comida se tornava mais gostosa.
20. Os instrumentos dos músicos da Casa Real raramente eram especificados nos
documentos oficiais. No entanto, aparece, no reinado de D. Afonso V, um
tocador de alaúde (Lopo de Condeixa) mencionado entre 1459 e 1464 e um
mestre de órgãos ( Manuel Pires, o Rombo, mencionado entre 1453 e 1461 (
Viterbo, 1932:3-4, 136-138. 454-455).
21. Contudo, pensa-se que e os músicos que tocavam na capela do rei
seriam frequentemente chamados para tocar no palácio, em diversas
alturas.
22. No reinado de D. João II merecem destaque as referências
musicais nas Crónicas de Garcia de Resende (também ele
músico) onde se descreve um dos banquetes dados em Évora
pelo rei:
quando levavam à mesa del-Rei as iguarias principais […]
“o estrondo das trombetas, atambores, charamelas e
sacabuxas e de todolos menestreis era tamanho que se não
ouviam, e isto se fazia cada vez que el-Rei, a Rainha, o
Príncipe, a Princesa bebiam e vinham as primeiras iguarias à
mesa”. Garcia de Resende.
23. De acordo com as ideias expressas por Castiglione em Il Corteggiano e
posteriormente, por outras obras, por toda a península Ibérica, o
duque D. Teodósio I de Bragança torna-se patrono na sua casa de “
lições de leitura, escrita, gramática, música, dança, esgrima e
equitação.”
24. Entre as mulheres, a Infanta D. Maria, filha do rei D. Manuel I ,
mulher muito culta, teve como professora Ângela Sigéia, de grande
erudição em línguas clássicas e literatura e “muito versada na arte da
música e instrumentos de tal forma que podia competir com os mais
eminentes professores”.
A Infanta D. Catarina, duquesa de Bragança recebeu no seu palácio a
celebrada embaixada japonesa que visitou a Europa entre 1584-85
“colocou os seus servos a tocar e a cantar música honesta, diante
deles”.
25. Também as mulheres ligadas à corte, como a rainha D. Leonor, viúva de D. João
II, dispunham de afamados músicos como Diogo Gonçalves ou Fernão
Rodrigues e fez-se retratar como doadora no Panorama de Jerusalém, tábua
oferecida pelo imperador Maximiliano I, com aerofones na cena de Cristo a
caminho do Calvário (exposta no Museu Nacional do Azulejo); ou D. Leonor, 3.ª
consorte de D. Manuel I, identificada como mulher de rara cultura que cantava
e tocava alaúde e clavicórdio.
A música fazia parte da educação e formação dos consortes e dos infantes.
27. As fontes que chegaram até nós revelam a quase absoluta inexistência
de manuscritos contendo tratados musicais [baseados em Boécio], antes
de 1500 o que deixa adivinhar o grande peso da oralidade no ensino.
28. Enquanto os ministreis eram de origem humilde, em alguns casos, escravos negros
ou mouros, os músicos da corte tinham origem nobre. Conhecemos Luís de
Victoria “excelente tocador de viola” ao serviço de outro filho de D. Manuel, D.
Luís. Era considerado por Pedro Andrade Caminha “ o melhor músico deste tempo
e um notável poeta”.
Alexandre de Aguiar servia a Casa Real e os seus dotes musicais granjearam-lhe o
epíteto de “Orpheus e Amphion” deste tempo.
29. A figura do jovem pagem que toca viola, com maiores ou
menores dotes, capaz de cantar fazendo-se acompanhar à viola
tocada por si próprio com maiores ou menores dotes, é uma
figura recorrente no teatro Vicentino.
30. Na verdade, a música era parte integrante do teatro, com destaque para o
Vicentino.
São conhecidas obras musicais como o vilancete do espanhol Penalosa, “Nina
erguedme los ojos” e a obra prima como o romance “Nina era la Infanta”
ambos mencionados em “ Cortes de Júpiter”. O vilancete “Nunca fué pena
mayor” do compositor flamengo Juan de Urrede é citado em três peças de Gil
Vicente, entre os quais na Barca da Glória ou o moteto “Clamabat autem
mulier Cananea” de Pedro Escobar com o qual acaba o Auto da Cananeia.
31. Farsa de Inês Pereira
LATÃO : Ora oivi, e oivireis. Escudeiro, cantareis Alguma boa cantadela. Namorai esta donzela e
esta cantiga direis:
Canta o Judeu
«Canas do amor, canas, canas do amor Polo longo dum rio Canaval vi florido, Canas do amo.»
Canta o Escudeiro o romance «Mal me quieren en Castilla» e diz Vidal:
VIDAL:Latão, já o sono é comigo Como oivo cantar guaiado, Que não vai esfandegado...
LATÃO :Esse é o Demo que eu digo! Viste cantar Dona Sol: Pelo mar voy a vela, Vela vay pelo
mar?
VIDAL: Filha Inês, assi vivais Que tomeis esse senhor Escudeiro cantador E caçador de pardais,
Sabedor revolvedor Falador gracejador Afoitado pela mão, E sabe de gavião... Tomai-o por meu
amor. Podeis topar um rabugento, Desmazelado, baboso, Descancarado, brigoso, Medroso,
carapatento. Este escudeiro, aosadas, Onde se derem pancadas, Ele as há-de levar Boas, senão
apanhar.. Nele tendes boas fadas.
32. MÃE : Quero rir com toda a mágoa Destes teus casamenteiros! Nunca vi
Judeus ferreiros Aturar tão bem a frágoa. Não te é milhor mal por mal, Inês,
um bom oficial, Que te ganhe nessa praça, Que é um escravo de graça, E
mais casas com teu igual?
LATÃO: Senhora, perdei cuidado: O que há-de ser há-de ser; E ninguém pode
tolher O que está determinado.
VIDAL: Assi diz Rabi Zarão.
MÃE: Inês, guar'-te de rascão! Escudeiro queres tu?
INÊS: Jesu, nome de Jesu! Quão fora sois de feição!
Já minha mãe adivinha... Folgastes vós na verdade Casar à vossa vontade? Eu
quero casar à minha.
MÃE : Casa, filha, muit'embora.
ESCUDEIRO: Dai-me essa mão, senhora.
INÊS: Senhor de mui boa mente.
33. Há ainda referência a várias danças populares como a folia, a chacota, a baixa
ou a alta das quais chegaram até nós várias versões com variedade vocal e
diferentes combinações instrumentais.
Através destas referencias depreendemos que Gil Vicente tinha vastos
conhecimentos musicais.
34. D. Afonso V tinha vários músicos ao seu serviço: cantores, trombetas,
charameleiros, tamborileiro, alaudista, citaleiro e um menestrel.
Em 1463 foi nomeado para rei dos charamelas Johan de Reste e entre as suas
obrigações contava-se ensinar e adestrar os moços na charamela, na viola de
arco e noutros instrumentos.
35. • Os músicos da corte, por vezes, viajavam no séquito das princesas mas,
outras vezes, também o faziam por vontade própria.
• Nas festas e banquetes há ainda notícia de bailes com música de
menestréis.
• Música alta era a música ao ar livre, cerimonial e militar, com
instrumentos mais sonoros, enquanto a música baixa era música de
corte, particularmente de dança, com instrumentos mais suaves.
• A música religiosa ocupava um papel preponderante nas instituições da
corte.
36. • Nos finais do século XIV surgem ainda as capelas privativas de
príncipes e grandes senhores.
• A chancelaria de D. Afonso V refere a contratação de Manuel Pires
como mestre de órgão e o envio de Álvaro Afonso a Inglaterra para
obter uma cópia do regimento da Capela Real.
• Há ainda referência a obras escritas por Álvaro Afonso, Gomes Aires,
João de Lisboa e Tristiano de Silva.
• No reinado de D. João II surgem referência à utilização de charamelas
e sacabuxas nas igrejas para além dos órgãos.
Órgão renascentista da Sé de Évora
37. • Temos notícia que em 1544 o nome do titular do cargo de professor
de música era Mateus de Aranda.
44. https://www.youtube.com/watch?v=RdQIxQLly3U - Seis Canciones
Populares Sefardíes: II. Adonenu, Elohenu (Tetuán)
https://www.youtube.com/watch?v=YGUzbV6-2hs - Música
Sefardí/Sephardic Music "Yo en estando"
45. Bibliografia:
• Nery, Rui Vieira, Castro, Paulo Ferreira de Castro, History of music,
synthesis of portuguese culture, Europália, 1991, Portugal, INCM
• www.academia.edu/.../Iconografia_Musical_na_Pintura_Retabular_
e_M...