O documento discute figuras sonoras na literatura, especificamente aliteração, assonância, paronomásia e onomatopeia. Essas figuras geram efeitos sonoros quando lidas em voz alta e foram muito usadas por poetas simbolistas para sugestão e musicalidade. Cada figura é definida e exemplos são dados para ilustrar seus usos e efeitos na linguagem e poesia.
2. • O que caracteriza as figuras sonoras é a sua função de
gerar efeitos sonoros específicos. Tais figuras são mais
bem identificadas quando as lemos em voz alta.
• Chamam-se figuras de som aquelas que se ligam aos
aspectos fonéticofonológicos das palavras. São
elas: aliteração, assonância,
paronomásia e onomatopeia.
3. • Tais figuras foram muito exploradas pelos poetas
simbolistas lusobrasileiros, como Camilo Pessanha,
Eugênio de Castro, Cruz e Sousa e Alphonsus de
Guimaraens. Além do subjetivismo, do misticismo e da
musicalidade, havia uma certa preocupação com a
sugestão, com o emprego de sensações (sinestesias) e
com a repetição de consoantes e vogais idênticas ou
parecidas.
• Tendo em vista que a música é dos recursos que mais
sugerem e melhor evocam o vago, o indefinível, o
simbolista buscava explorar o conteúdo musical das
palavras. Visando à aproximação da poesia com a
música, os poetas lançaram mão de vários recursos,
como a aliteração e a assonância.
4. • É a repetição proposital e ordenada de sons consonantais
idênticos ou semelhantes. O efeito serve para reforçar a
imagem que se quer transmitir.
• "Esperando, parada, pregada na pedra do porto." (Dalla,
Pallotino, Chico Buarque)
• A reiteração e a sonoridade da consoante oclusiva bilabial /p/,
principalmente no início das palavras, sugerem a fixação, a
imutabilidade da personagem.
"Chove chuva choverando
Que a cidade de meu bem
Está-se toda se lavando."
(Oswald de Andrade)
• Neste exemplo do poeta modernista, a repetição do som
fricativo / ch/ enriquece a ideia de chuva.
5. • A aliteração tem como efeito, geralmente, o reforço do
ritmo que o escritor pretende imprimir à frase. Ela é mais
comum na poesia do que na prosa. Vejamos um
exemplo na prosa de Guimarães Rosa, em que a
aliteração serve para enfatizar o significado central do
texto:
"Boi bem bravo, bate baixo,
bota baba, boi berrando...“
• Nos textos em prosa de caráter não literário, a aliteração
torna-se um defeito (vício de linguagem) e deve ser
evitada. Chama-se colisão: Vejamos um exemplo:
"Prefeituras param no Paraná para contestar medidas."
(Folha de S. Paulo)
6. • É a repetição proposital de sons vocálicos idênticos ou
semelhantes.
"A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga, caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Piraguá." (Gregório de Matos)
• Note que, além das aliterações, existem sons vocálicos
usados repetidamente: a, i, u.
7. • Independente da vogal usada, pode-se levar o assunto
adiante como se fosse um texto comum. Assim:
"A fala atracada à faca
Ataca a graça abalada da traça
Perene que fere, repele
E ensebe esse blefe de pele
Que incide livre, insigne e triste
No horror dos sonhos nos coros
Num sururu de urubus em cruz"
• Com essa sequência alfabética de vogais, o texto pode
continuar, enquanto a imaginação e o divertimento
persistirem
8. • Figura de retórica que consiste no uso de palavras com som p
arecido mas de significado diferente, com o propósitolúdico de
jogar com as palavras ou com o propósito estético de criar a
mbiguidades. A paronomásia é uma figura derepetição que se
cruza frequentemente com o poliptoto, com o trocadilho (enqu
anto aproveitamento do sentido duplode uma palavra) e com
o jogo de palavras.
"Sagres sagrou então a Descoberta
E partiu encoberto a descobrir"
(Miguel Torga)
"Aquela cativa
que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva"
(Camões, Redondilhas)
9. • A paronomásia é também um artifício retórico utilizado n
os trava-línguas infantis:
"Debaixo daquela pipa
Está uma pita.
Pinga a pipa,
Chia a pita,
Chia a pita,
Pinga a pipa."
(Delgado, N. J. 1957. Aspetos curiosos da nossa Etnogra
fia e do nosso Folclore: Jogos Infantis Tradicionais, Leng
alengas e Adivinhas, in "Mensário das Casas do Povo", Li
sboa, ano XI.)
10. • Onomatopeia. Significa imitar um som com um fonema ou
palavra. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza,
barulho de máquinas, o timbre da voz humana fazem parte do
universo das onomatopeias.
• Leia esses versos de Jorge de Lima:
• “(…) foguetes, bombas, chuvinhas,
chios, chuveiros, chiando,
chiando
chovendo
chuvas de fogo
chá – Bum?”
• Observe que o eu lírico construiu o sentido do poema
explorando palavras cujo som dos fonemas lembra a coisa
representada. Ou seja, o que acontece nesses versos é a
imitação, por palavras, do som natural das coisas. Chamamos
essa figura de linguagem de onomatopeia.
11. • Veja outros exemplos:
• “E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o
plic-plic-plic-plic da agulha no pano.” (Machado de Assis)
• “Passa tempo
Tic-tac
Tic-tac
Passa hora chega logo
Tic-tac
Tic-tac
E vai-te embora
Passa tempo
Bem depressa
Não atrasa
Nem demora (…) (Vinícius de Morais)
• “E tia Gabriela sogra grasnadeira grasnou graves grosas de
infâmia.” (Oswald de Andrade)
• Neste último exemplo, a repetição do som das letras “gr” imitam o
som que expressa “raiva”, enfatizando assim o sentido que as
palavras pretendem transmitir.
12. • Exemplos de palavras onomatopaicas:
• Atchim – espirro.
Piu-piu: canto do passarinho
Din-don: o som da campainha
Tibum: o som de alguém caindo
Buá: o choro de alguém
Snif: fungado.