O documento discute conceitos básicos de análise do discurso, comparando-a com a "Novalíngua" criada no livro 1984 para controlar ideologicamente a sociedade. Explica que discurso implica aspectos sociais e ideológicos fora da língua e que a análise do discurso considera o sujeito discursivo e as condições de produção como fatores fundamentais.
2. Noções de Análise do
Discurso
Antes de começar a análise das músicas
convém que saibamos alguns conceitos,
básicos, sobre o método da Análise do
Discurso, ao mesmo tempo em que
orientamos os alunos a prestarem atenção
ao caráter de oposição entre este e a
“Novalíngua”, língua oficial de Oceania,
criada para satisfazer às necessidades
ideológicas da sociedade totalitária
descrita no romance “1984”.
3. Comecemos com a noção de Discurso,
o que está em curso, portanto não é
estanque, que não é língua nem
texto ou tão pouco fala, mas
necessita desses elementos para ter
uma existência material. Discurso
implica uma exterioridade à língua,
isto é a aspectos sociais e
ideológicos contidos nas palavras.
4. Para a AD, existe a noção de
sujeito discursivo, polifônico, cujo
discurso é constituído do
entrecruzamento de diferentes
discursos em oposição, portanto
heterogêneos e mutáveis.
5. Para quem as condições de
produção são um dos fatores
fundamentais e nelas são
determinantes os aspectos
históricos, sociais e
ideológicos.
6. Na “Novalíngua”, língua criada na
sociedade do romance “1984” como
meio de controle ideológico, seu
vocabulário é construído de modo a
fornecer a expressão exata aos
interesses do Partido, excluindo
todos os outros significados, ou
possibilidades de se chegar a eles.
7. Tanto no romance “1984” como
no Brasil pós-golpe de 1964 é
possível perceber algumas
semelhanças nos métodos de
tortura e delação, como
políticas de curto prazo para
controle da população por
parte do Estado.
8. Enquanto em “1984” a estratégia
adotada pela criação da
“Novalíngua” como política de
longo prazo para diminuir a
extensão do pensamento,
diminuindo o número e os
sentidos das palavras ao mínimo,
reduzindo as ambiguidades e
significados implícitos foi
vencedora,
9. No Brasil, a estratégia da utilização da
Censura Federal não logrou o mesmo
êxito, pois deixou brechas por onde a
Música Popular Brasileira, entre
outras manifestações da cultura,
fazendo uso dos efeitos de sentido do
discurso puderam penetrar e
denunciar à Nação a conspiração a
que estava submetida, como
demonstramos nas músicas
analisadas.
10. Contudo, ha que se permanecer
alerta, pois, com o avanço das
tecnologias de comunicação,
vemos aumentar,
exponencialmente, as
possibilidades de manipulação
do inconsciente coletivo.
11. “1984 não é apenas mais um livro sobre política, mas
uma metáfora do mundo que estamos
inexoravelmente construindo. Invasão de
privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o
controle total dos indivíduos, destruição ou
manipulação da memória histórica dos povos e
guerras para assegurar a paz já fazem parte da
realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário
antevisto em 1985, o indivíduo não terá qualquer
defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell,
porque seus escritos são capazes de alertar as
gerações presentes e futuras do perigo que ocorrem
e de mobilizá-las pela humanização do mundo”.
(contra capa do Livro - 1984/ George Orwell;
tradução Wilson Velloso. 29 ed. Cia Editora Nacional,
2005).