SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  9
Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do grupo

                                                           Katalin Hevesi

      Um conjunto de estudos que evidenciavam o retardo da linguagem de
crianças que viviam em uma instituição, em comparação com crianças educadas em
casa, incitou os observadores a estudar a relação verbal adulto-criança em
coletividade. Diversas pesquisas sobre a linguagem dos trabalhadores dos berçários
e das escolas infantis colocaram em evidência a sucessão de traços negativos na
linguagem dos auxiliares. Constamos que, na maioria das vezes, sua linguagem
consistia em ordens e proibições. Percebemos ainda que freqüentemente as
educadoras dão às crianças repostas impessoais, sem conteúdo, com um vocabulário
pobre. Tudo isso se manifesta, sobretudo com as crianças pequenas, justamente
quando começam a falar e com os recém-nascidos que ainda não falam.

      E. Habinakova constatou que, em 10 berçários de Bratislava, as auxiliares
falavam com as crianças com frases de duas ou três palavras em média e aquilo que
diziam tinha ligação com ordens: esperar ou proibir uma conduta determinada.
Apenas em 1.72% dos casos as palavras expressavam sentimentos positivos.

      B. Tizard e seus colaboradores, depois de analisarem a linguagem de
auxiliares que se ocupavam de crianças de 2 a 5 anos em orfanatos, também
descobriram que a parte mais importante de seus atos de fala tinha um caráter
imperativo: apenas uma pequena parte expressava uma informação, uma explicação
ou uma opinião. As auxiliares falavam menos com as crianças pequenas. Depois dos
três anos, aumentava consideravelmente a quantidade de atos de fala endereçados às
crianças.

      I. Lezine verificou, em suas observações, duas situações opostas. Em um
berçário, durante 10 minutos, a auxiliar apressa as crianças 27 vezes enquanto
comem, repreende-as 10 vezes e apenas 2 vezes lhes dá ânimo ou as consola. Em
outro berçário, também durante 10 minutos, a auxiliar estimula e felicita as crianças
26 vezes e apenas 2 vezes as repreende.

       A enorme diferença constatada entre as duas instituições demonstra que é
muito importante preocupar-se com a linguagem do pessoal.

       Durante duas observações que realizamos nas escolas da infância húngaras
também pudemos ver muitos exemplos negativos. Entre outros, acontecia que as
palavras da auxiliar se tornavam insignificantes precisamente quando queria
expressar um sentimento positivo. Em grupos de crianças que tinham por volta de 2
anos, a auxiliar falava com amabilidade com as crianças que brincavam, mas quando
queria felicitar alguma delas, o fazia sem nenhuma distinção da criança nem da
causa pela qual a felicitava, falava sempre na terceira pessoal, sempre com o mesmo
tom, utilizando sempre as mesmas palavras: “bom menino”, “bonito”... nunca
pronunciava o nome das crianças.

       Em nossa escola – que se conhece pelo nome de Lóczy – os educadores falam
ao recém-nascido, com a criança pequena, sobretudo nos momentos dos cuidados
(troca, alimentação e banho). Nessa situação, é mais fácil que a educadora
“converse” inclusive com um recém-nascido em lugar de falar-lhe mecanicamente.

       Desta maneira a criança pode perceber que há momentos durante o dia nos
quais a educadora apenas está por conta dele, cuida especialmente dele. Fala com
ele, o escuta, espera a sua resposta e reage à sua resposta.

       Dessa forma, a educadora que se acostuma a esta prática, considera natural
informar, inclusive a um recém-nascido de todas as coisas que o afetam e que
afetam a vida do grupo. Explica aquilo que faz com eles, por que o faz... e isso
também com crianças muito pequenas que ainda não obedecem instruções nem
proibições. Desde a primeira infância, as crianças necessitam que a educadora se
preocupe com elas, que lhes fale, não apenas nas horas dos cuidados, mas também
durante os outros momentos do dia. As crianças a procuram com o olhar, depois
com sinais cada vez mais variados de acordo com a idade: pedem a atenção da
educadora com a qual tenham uma relação pessoal durante o cuidado. Mas, para a
educadora, isso significa uma tarefa difícil, pois tem de dividir a sua atenção entre a
criança de quem está cuidando e as outras crianças do grupo.

      Durante anos, muitos grupos de crianças no orfanato suscitaram problemas.
Refletindo sobre essas situações, começamos a nos dar conta de que os educadores
falam com as crianças do grupo, sobretudo quando algo “não funciona”: quando
choram, quando brigam entre si... Essa atitude é compreensível já que o adulto
sente, com razão, que tem de intervir e não cabe que se dirija às crianças que
brincam tranqüilamente. No entanto, nestas condições, as crianças se dão conta de
que, se fazem alguma coisa errada, podem ter a atenção do adulto. Desenvolve-se
implicitamente uma forma da criança demandar a atenção do adulto contra a qual os
próprios adultos lutam.

      Quisemos mudar – ou melhor, prevenir – esta situação que se produz muito
facilmente. Queríamos:
      • que os educadores buscassem e percebessem no próprio comportamento
          das crianças em quais momentos as crianças querem que eles estejam por
          elas, e os sinais que fazem para demonstrar isso;

      • que os educadores encontrassem, enquanto as crianças se portam bem, um
          momento que despertasse seu interesse, um momento que pudessem
          comemorar ou do qual pudessem simplesmente falar.

      Os resultados desse trabalho são os que expomos a seguir.

      A pergunta que serviu de ponto de partida foi a seguinte: “quais formas de
comportamento das crianças fazem com que os educadores das instituições estejam
mais freqüentemente por elas e provoquem sua resposta verbal?”

                                Condições das observações
Observamos, uma por uma, quatro educadoras fixas de um mesmo grupo,
cada vez apenas uma educadora estava de serviço, e fizemos 10 observações no
total. No início das observações, o grupo era formado por 8 crianças, mais tarde por
7. A menor tinha 6 meses, as outras tinham entre 13 e 22 meses.

       A observação acontecia em geral no início do almoço e do lanche da tarde. A
educadora atendia as crianças, uma após a outra. Atendê-las queria dizer: almoçar,
trocar fraldas, preparar para o sono, ou, se era depois do sono, trazê-las do jardim
(para o sono, os berços eram colocados em espaço aberto) e trocá-las antes de
merendar.

       Enquanto isto, preparava tudo o que era necessário para dar de comer e vestir
à criança seguinte. Durante esse tempo, as outras crianças brincavam em parte da
sala que estava preparada para sua atividade. De tanto em tanto, a educadora entrava
no espaço de brincar das crianças organizava os brinquedos, às vezes lhes dava
outros, etc.
        A duração de cada observação era de meia hora, repartida em segmentos de
tempo de 5 minutos. Nas 10 observações, que representam um total de 60 segmentos
de tempo, podemos distinguir:
       • 35 segmentos durante os quais a educadora apenas se dedicava
            exclusivamente a atender as crianças;
       • 25 segmentos nos quais, por um lado, cuidava das crianças e, por outro
            lado, fazia outras atividades. Duas vezes foi até o espaço de jogos das
            crianças durante os cinco minutos do segmento.

       As observações contêm:
       • as palavras da educadora: as que direcionava às crianças no espaço de
            brincar;
       • as atividades das crianças: mencionadas pela educadora, atividades que as
            fizeram reagir.
Resultados das observações

      As educadoras dirigiram-se às crianças do grupo em uma média de 45 vezes
durante os 30 minutos:
      • 57.7% dos casos eram reações a formas positivas de comportamento;
      • 32.7% dos casos respondiam a formas negativas de comportamento;
      • 9.9% dos casos diziam algo sem relação com o comportamento das
          crianças.

      Examinemos agora, detalhadamente, as respostas dadas aos comportamentos
positivos que classificamos em três grupos:

                         1. As palavras com que a educadora avisa as crianças que
                            se interessam pela atividade espontânea que estão
                            desenvolvendo (um movimento, uma brincadeira, um
                            barulho, um som...). Nesse caso a iniciativa de contato é
                            da educadora.

      Uma criança chamada Zsolti golpeia com um cubo os ângulos de uma caixa
de brinquedos. A educadora: “Que barulho mais bonito, Zsolti!” Zsolti sorriu.

      Nos exemplos que se seguem, a educadora não reage à atividade geral da
criança, mas, sim, a um momento preciso dessa atividade que achou que cabia
comentar ou reforçar.

      O pequeno Csaba está esticado de bruços no parque, depois se põe de barriga
para cima com um brinquedo na mão. A educadora: “Ei, Csaba! Você se virou? Que
bom que você brinque com essa bola de vime. Quem sabe você será jogador de
handball!”

      Duas crianças jogam os baldinhos para dentro de um cercado. Uma menina,
que se chamava Borika estende o braço e depois de fazer esforços durante alguns
minutos consegue pegar um deles através da grade. A educadora: “Vejo que você
conseguiu pegar o baldinho!”

                         2. As palavras que a educadora dirige à criança que
                            observa.

       É uma transição entre as iniciativas da educadora e as da criança. A criança,
com seu olhar atento, “toma a iniciativa” do contato, chama a atenção da educadora.
Isso se nota sobretudo quando a criança observa a atividade da educadora por
alguma razão concreta.

       É hora de Zsolti comer. Enquanto a educadora leva um companheiro seu ao
jardim para dormir, Zsolti se coloca na porta da sala de brinquedos; quando a
educadora entra, a criança a observa. A educadora: “Zsolti, você já está esperando?
Já preparo tudo, você vai comer e também vai dormir. Agora mesmo arrumo seu
saco de dormir.”

       A educadora diz a Kati que lhe dará banho à tarde. Quando ouve a palavra
banho, Margo ouve e olha para a educadora. “Margo, você também tomará banho
esta tarde”, lhe diz a educadora.

       A educadora coloca Csaba em um outro espaço de brinquedos. A pequena
Eszti vai até o corrimão que os separa, se debruça ali e fica olhando. A educadora:
“Trouxe o Csaba para cá, a partir de agora ele vai brincar aqui.”

                         3. As palavras da educadora em resposta a uma criança.

       A iniciativa de contato é da criança: todos emitem sons ou palavras dirigindo-
se à educadora e ela lhes responde. É possível que apenas queiram chamar a atenção,
mas o que aqui é importante é que seja a criança que tome a iniciativa do contato
quando necessita que a educadora se volte para ela.
A pequena Kriszti chama risonha a educadora dizendo “egi”. “Estou vendo,
estou vendo Kriszti”, sorri a educadora respondendo para a criança.

       A pequena Kati mostra a educadora um brinquedo que está em sua mão
dizendo duas sílabas “da-da”. A educadora: “o que você tens, Kati, um lenço
colorido? É verde e tem um pedaço vermelho, olhe!”

       A busca de contato tem uma razão bem definida quando a criança pede ajuda
com sons ou com gestos.
       A pequena Margo pede atenção da educadora dizendo “ti” e mostrando que
seu tênis está desamarrado. A educadora: “Eu vou amarrar para você, já sei que
havia prometido. Que bom que você me lembrou.”

       Andris diz “hoppa” e mostra para a educadora sua boneca que caiu do outro
lado do corrimão. A educadora: “Você quer a boneca? Vou pegar para você quando
terminar de ajudar a Kriszti. Mas chegue mais perto e veja se você pode alcançá-la
através da grade.”

       Freqüentemente, as crianças se dirigiam à educadora quando percebiam um
fato ou quando ao seu redor acontecia alguma coisa que queriam comunicar a ela.
Por exemplo, olhavam como a educadora se ocupava de seus companheiros:

       Bori chama a atenção da educadora fazendo um som “tii”. Esta acaba de dar
de comer a uma criança. A educadora: “Csabika comeu muito bem, depois Zsolti vai
comer”. Borika aponta Zsolti. A educadora: “O Zsolti vai comer.”

       Margo observa enquanto seu companheiro Andris come e diz “chá”. A
educadora: “Chá. Fiz este chá para Andris. Depois de lanchar, também vou dar um
chá para você.”

       As crianças também se dirigiam à educadora quando encontravam um objeto
que lhes parecia interessante.
As crianças mostravam que de seu brinquedo – um cãozinho – caíam pedaços
de espuma. A educadora vai até lá e os recolhe. Esztike diz “pega”. A educadora:
“Vou pegá-los e jogá-los no cesto de lixo”.

         Andris mostra para a educadora uma meia que tirou dizendo “sapato”. A
educadora: “Meia, Andris, vou vesti-la de novo em você. Veja que seu pé precisa
dela.”

         Algumas vezes as crianças também reagiam às coisas que a educadora dizia
ao seu companheiro. Quando a educadora fala de desenho, Esztie aponta o seu
desenho pendurado na parede dizendo “este”. A educadora: “Sim, Esztie, esse que
você me mostra é o seu desenho.”

         Desses exemplos podemos deduzir que, no momento da investigação, essas
crianças se expressavam, por um lado, com palavras (fragmentos de palavras), por
outro lado, com grupos de sons e com gestos. Uma vez que o tema deste estudo é a
relação entre a educadora e as crianças, não separamos, dentre as iniciativas das
crianças, as expressões verbais das expressões pré-verbais quando tinham função
similar.

         Caberiam   novas   investigações     para   saber   qual   é   a   função,   no
desenvolvimento da linguagem das crianças, do exercício intensivo dos meios de
expressão pré-verbais.

         Nos processos verbais encontramos, com especial freqüência, respostas dadas
às crianças quando estas se dirigiam à educadora. Essas respostas significam 38.2%
do conjunto de palavras das educadoras e 66.6% das reações positivas a
comportamentos. Essa informação corrobora a impressão que havíamos formado
durante as observações: entre as formas positivas de comportamento das crianças, a
expressão de sons é a que mais faz com que a educadora fale com a criança quando
não está diretamente cuidando dela.
Se a educadora entende a importância desses pequenos diálogos, inclusive os
mais curtos, na vida das crianças, terá atenção em sua resposta e deixará de
responder apenas contra as formas negativas de comportamento como fazia antes.
Essa atitude da educadora repercute no comportamento das crianças do grupo:
confirma para as crianças as formas desejáveis de chamar a atenção e estimula o
desenvolvimento da relação verbal. Dando resposta à sua iniciativa, se oferece à
criança não apenas muitas informações e explicações gerais, mas também
informações ligadas ao fato para o qual elas apontam e no momento preciso em que
aquilo as preocupa.

HEVESI, K., Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do
grupo. In: FLAK, J. (org.). Educar os três primeiros anos: a experiência de Loczy.
Araraquara: Junqueira e Marin, 2004

Contenu connexe

Similaire à Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do grupo

Ana rasteiro reflexão ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadora
Ana rasteiro reflexão  ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadoraAna rasteiro reflexão  ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadora
Ana rasteiro reflexão ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadorarasteiro
 
Jogos e-brincadeiras-na-educacao-infantil
Jogos e-brincadeiras-na-educacao-infantilJogos e-brincadeiras-na-educacao-infantil
Jogos e-brincadeiras-na-educacao-infantilMARCOS SOUSA
 
Cuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anos
Cuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anosCuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anos
Cuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anosPatricia Costa
 
Sexualidade na educação infantil
Sexualidade na educação infantilSexualidade na educação infantil
Sexualidade na educação infantilMary Lopes
 
Brigas no bercario.pdf tcc
Brigas no bercario.pdf tccBrigas no bercario.pdf tcc
Brigas no bercario.pdf tccMichelle Lima
 
Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...
Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...
Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...Claudinéia Barbosa
 
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarA ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarCatiaDuarte_1
 
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarA ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarmargarida_branco
 
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarA ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarAna Teresa
 
Coleção primeira infância folheto 11 o ritmo da criança
Coleção primeira infância   folheto 11 o ritmo da criançaColeção primeira infância   folheto 11 o ritmo da criança
Coleção primeira infância folheto 11 o ritmo da criançaAline Melo de Aguiar
 
Inserçao da criança na creche
Inserçao da criança na crecheInserçao da criança na creche
Inserçao da criança na crecheFatinha Bretas
 
Fundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantilFundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantilmarkettisobral
 
Fundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantilFundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantilmarkettisobral
 
PRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptx
PRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptxPRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptx
PRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptxSEDF
 

Similaire à Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do grupo (20)

Ana rasteiro reflexão ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadora
Ana rasteiro reflexão  ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadoraAna rasteiro reflexão  ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadora
Ana rasteiro reflexão ufcd 3275 ana rasteiro corrigida pela mediadora
 
Planejamento setembro
Planejamento setembroPlanejamento setembro
Planejamento setembro
 
Jogos e-brincadeiras-na-educacao-infantil
Jogos e-brincadeiras-na-educacao-infantilJogos e-brincadeiras-na-educacao-infantil
Jogos e-brincadeiras-na-educacao-infantil
 
Cuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anos
Cuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anosCuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anos
Cuidados apropriados em termos de desenvolvimento para crianças dos 0 aos 3 anos
 
Cuidados ..
Cuidados ..Cuidados ..
Cuidados ..
 
Sexualidade na educação infantil
Sexualidade na educação infantilSexualidade na educação infantil
Sexualidade na educação infantil
 
Brigas no bercario.pdf tcc
Brigas no bercario.pdf tccBrigas no bercario.pdf tcc
Brigas no bercario.pdf tcc
 
Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...
Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...
Sexualidade Infantil - Claudinéia da Silva Barbosa. Curso de Psicologia Escol...
 
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarA ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
 
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarA ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
 
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincarA ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
A ludoterapia e_a_importancia_do_brincar
 
Apres SemináRio Modelo
Apres SemináRio ModeloApres SemináRio Modelo
Apres SemináRio Modelo
 
Talita
TalitaTalita
Talita
 
Coleção primeira infância folheto 11 o ritmo da criança
Coleção primeira infância   folheto 11 o ritmo da criançaColeção primeira infância   folheto 11 o ritmo da criança
Coleção primeira infância folheto 11 o ritmo da criança
 
Inserçao da criança na creche
Inserçao da criança na crecheInserçao da criança na creche
Inserçao da criança na creche
 
Fundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantilFundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantil
 
Fundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantilFundamentos da educação infantil
Fundamentos da educação infantil
 
Curso Teoria do Apego
Curso Teoria do ApegoCurso Teoria do Apego
Curso Teoria do Apego
 
PRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptx
PRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptxPRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptx
PRÉ-ESCOLA TERAPÊUTICA LUGAR DE VIDA.pptx
 
Autismo
AutismoAutismo
Autismo
 

Plus de Miriam Camargo

Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]
Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]
Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]Miriam Camargo
 
II mostra de trabalho da região sul 2003
II mostra de trabalho da região sul 2003II mostra de trabalho da região sul 2003
II mostra de trabalho da região sul 2003Miriam Camargo
 
Prova%20 geografia%203º%20ano[1]
Prova%20 geografia%203º%20ano[1]Prova%20 geografia%203º%20ano[1]
Prova%20 geografia%203º%20ano[1]Miriam Camargo
 
Pai posso dar um soco nele
Pai posso dar um soco nelePai posso dar um soco nele
Pai posso dar um soco neleMiriam Camargo
 
Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]
Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]
Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]Miriam Camargo
 
Africa3[1] fotos maravilhosas
Africa3[1] fotos maravilhosasAfrica3[1] fotos maravilhosas
Africa3[1] fotos maravilhosasMiriam Camargo
 
Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]
Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]
Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]Miriam Camargo
 
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...Miriam Camargo
 
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...Miriam Camargo
 
Avisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia Transformadora
Avisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia TransformadoraAvisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia Transformadora
Avisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia TransformadoraMiriam Camargo
 
ExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul Iii
ExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul IiiExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul Iii
ExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul IiiMiriam Camargo
 
Cemei BríGida ChináGlia Costa DecoraçãO De N Atal
Cemei BríGida ChináGlia Costa   DecoraçãO De N AtalCemei BríGida ChináGlia Costa   DecoraçãO De N Atal
Cemei BríGida ChináGlia Costa DecoraçãO De N AtalMiriam Camargo
 
entrevista com a Professora Maria Malta
entrevista com a Professora Maria Maltaentrevista com a Professora Maria Malta
entrevista com a Professora Maria MaltaMiriam Camargo
 
Toda Criança tem Direitos
Toda Criança tem DireitosToda Criança tem Direitos
Toda Criança tem DireitosMiriam Camargo
 
Indicadores de qualidade para a Educação Infantil
Indicadores de qualidade para a Educação InfantilIndicadores de qualidade para a Educação Infantil
Indicadores de qualidade para a Educação InfantilMiriam Camargo
 

Plus de Miriam Camargo (20)

Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]
Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]
Se a escola_fosse_uma_orquestra[1]
 
Caderno de receitas
Caderno de receitasCaderno de receitas
Caderno de receitas
 
II mostra de trabalho da região sul 2003
II mostra de trabalho da região sul 2003II mostra de trabalho da região sul 2003
II mostra de trabalho da região sul 2003
 
Dinossauros do brasil
Dinossauros do brasilDinossauros do brasil
Dinossauros do brasil
 
Prova%20 geografia%203º%20ano[1]
Prova%20 geografia%203º%20ano[1]Prova%20 geografia%203º%20ano[1]
Prova%20 geografia%203º%20ano[1]
 
Pai posso dar um soco nele
Pai posso dar um soco nelePai posso dar um soco nele
Pai posso dar um soco nele
 
Leitura no eja
Leitura no ejaLeitura no eja
Leitura no eja
 
Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]
Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]
Revista da turma da m¶nica sobre drogas[1]
 
Africa3[1] fotos maravilhosas
Africa3[1] fotos maravilhosasAfrica3[1] fotos maravilhosas
Africa3[1] fotos maravilhosas
 
Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]
Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]
Proposta formacao continuada_diretrizes_2010[1]
 
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
 
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
Diretrizes%20 Curriculares%20 Nacionais%20para%20a%20 Educacao%20 Infantil[1]...
 
Conae%20brasilia[1]
Conae%20brasilia[1]Conae%20brasilia[1]
Conae%20brasilia[1]
 
Conae%20brasilia[1]
Conae%20brasilia[1]Conae%20brasilia[1]
Conae%20brasilia[1]
 
Avisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia Transformadora
Avisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia TransformadoraAvisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia Transformadora
Avisa 17 Viver A Arte Uma Experiencia Transformadora
 
ExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul Iii
ExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul IiiExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul Iii
ExposiçãO No SalãO Interno Do Naed Sul Iii
 
Cemei BríGida ChináGlia Costa DecoraçãO De N Atal
Cemei BríGida ChináGlia Costa   DecoraçãO De N AtalCemei BríGida ChináGlia Costa   DecoraçãO De N Atal
Cemei BríGida ChináGlia Costa DecoraçãO De N Atal
 
entrevista com a Professora Maria Malta
entrevista com a Professora Maria Maltaentrevista com a Professora Maria Malta
entrevista com a Professora Maria Malta
 
Toda Criança tem Direitos
Toda Criança tem DireitosToda Criança tem Direitos
Toda Criança tem Direitos
 
Indicadores de qualidade para a Educação Infantil
Indicadores de qualidade para a Educação InfantilIndicadores de qualidade para a Educação Infantil
Indicadores de qualidade para a Educação Infantil
 

Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do grupo

  • 1. Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do grupo Katalin Hevesi Um conjunto de estudos que evidenciavam o retardo da linguagem de crianças que viviam em uma instituição, em comparação com crianças educadas em casa, incitou os observadores a estudar a relação verbal adulto-criança em coletividade. Diversas pesquisas sobre a linguagem dos trabalhadores dos berçários e das escolas infantis colocaram em evidência a sucessão de traços negativos na linguagem dos auxiliares. Constamos que, na maioria das vezes, sua linguagem consistia em ordens e proibições. Percebemos ainda que freqüentemente as educadoras dão às crianças repostas impessoais, sem conteúdo, com um vocabulário pobre. Tudo isso se manifesta, sobretudo com as crianças pequenas, justamente quando começam a falar e com os recém-nascidos que ainda não falam. E. Habinakova constatou que, em 10 berçários de Bratislava, as auxiliares falavam com as crianças com frases de duas ou três palavras em média e aquilo que diziam tinha ligação com ordens: esperar ou proibir uma conduta determinada. Apenas em 1.72% dos casos as palavras expressavam sentimentos positivos. B. Tizard e seus colaboradores, depois de analisarem a linguagem de auxiliares que se ocupavam de crianças de 2 a 5 anos em orfanatos, também descobriram que a parte mais importante de seus atos de fala tinha um caráter imperativo: apenas uma pequena parte expressava uma informação, uma explicação ou uma opinião. As auxiliares falavam menos com as crianças pequenas. Depois dos três anos, aumentava consideravelmente a quantidade de atos de fala endereçados às crianças. I. Lezine verificou, em suas observações, duas situações opostas. Em um berçário, durante 10 minutos, a auxiliar apressa as crianças 27 vezes enquanto comem, repreende-as 10 vezes e apenas 2 vezes lhes dá ânimo ou as consola. Em
  • 2. outro berçário, também durante 10 minutos, a auxiliar estimula e felicita as crianças 26 vezes e apenas 2 vezes as repreende. A enorme diferença constatada entre as duas instituições demonstra que é muito importante preocupar-se com a linguagem do pessoal. Durante duas observações que realizamos nas escolas da infância húngaras também pudemos ver muitos exemplos negativos. Entre outros, acontecia que as palavras da auxiliar se tornavam insignificantes precisamente quando queria expressar um sentimento positivo. Em grupos de crianças que tinham por volta de 2 anos, a auxiliar falava com amabilidade com as crianças que brincavam, mas quando queria felicitar alguma delas, o fazia sem nenhuma distinção da criança nem da causa pela qual a felicitava, falava sempre na terceira pessoal, sempre com o mesmo tom, utilizando sempre as mesmas palavras: “bom menino”, “bonito”... nunca pronunciava o nome das crianças. Em nossa escola – que se conhece pelo nome de Lóczy – os educadores falam ao recém-nascido, com a criança pequena, sobretudo nos momentos dos cuidados (troca, alimentação e banho). Nessa situação, é mais fácil que a educadora “converse” inclusive com um recém-nascido em lugar de falar-lhe mecanicamente. Desta maneira a criança pode perceber que há momentos durante o dia nos quais a educadora apenas está por conta dele, cuida especialmente dele. Fala com ele, o escuta, espera a sua resposta e reage à sua resposta. Dessa forma, a educadora que se acostuma a esta prática, considera natural informar, inclusive a um recém-nascido de todas as coisas que o afetam e que afetam a vida do grupo. Explica aquilo que faz com eles, por que o faz... e isso também com crianças muito pequenas que ainda não obedecem instruções nem proibições. Desde a primeira infância, as crianças necessitam que a educadora se preocupe com elas, que lhes fale, não apenas nas horas dos cuidados, mas também durante os outros momentos do dia. As crianças a procuram com o olhar, depois
  • 3. com sinais cada vez mais variados de acordo com a idade: pedem a atenção da educadora com a qual tenham uma relação pessoal durante o cuidado. Mas, para a educadora, isso significa uma tarefa difícil, pois tem de dividir a sua atenção entre a criança de quem está cuidando e as outras crianças do grupo. Durante anos, muitos grupos de crianças no orfanato suscitaram problemas. Refletindo sobre essas situações, começamos a nos dar conta de que os educadores falam com as crianças do grupo, sobretudo quando algo “não funciona”: quando choram, quando brigam entre si... Essa atitude é compreensível já que o adulto sente, com razão, que tem de intervir e não cabe que se dirija às crianças que brincam tranqüilamente. No entanto, nestas condições, as crianças se dão conta de que, se fazem alguma coisa errada, podem ter a atenção do adulto. Desenvolve-se implicitamente uma forma da criança demandar a atenção do adulto contra a qual os próprios adultos lutam. Quisemos mudar – ou melhor, prevenir – esta situação que se produz muito facilmente. Queríamos: • que os educadores buscassem e percebessem no próprio comportamento das crianças em quais momentos as crianças querem que eles estejam por elas, e os sinais que fazem para demonstrar isso; • que os educadores encontrassem, enquanto as crianças se portam bem, um momento que despertasse seu interesse, um momento que pudessem comemorar ou do qual pudessem simplesmente falar. Os resultados desse trabalho são os que expomos a seguir. A pergunta que serviu de ponto de partida foi a seguinte: “quais formas de comportamento das crianças fazem com que os educadores das instituições estejam mais freqüentemente por elas e provoquem sua resposta verbal?” Condições das observações
  • 4. Observamos, uma por uma, quatro educadoras fixas de um mesmo grupo, cada vez apenas uma educadora estava de serviço, e fizemos 10 observações no total. No início das observações, o grupo era formado por 8 crianças, mais tarde por 7. A menor tinha 6 meses, as outras tinham entre 13 e 22 meses. A observação acontecia em geral no início do almoço e do lanche da tarde. A educadora atendia as crianças, uma após a outra. Atendê-las queria dizer: almoçar, trocar fraldas, preparar para o sono, ou, se era depois do sono, trazê-las do jardim (para o sono, os berços eram colocados em espaço aberto) e trocá-las antes de merendar. Enquanto isto, preparava tudo o que era necessário para dar de comer e vestir à criança seguinte. Durante esse tempo, as outras crianças brincavam em parte da sala que estava preparada para sua atividade. De tanto em tanto, a educadora entrava no espaço de brincar das crianças organizava os brinquedos, às vezes lhes dava outros, etc. A duração de cada observação era de meia hora, repartida em segmentos de tempo de 5 minutos. Nas 10 observações, que representam um total de 60 segmentos de tempo, podemos distinguir: • 35 segmentos durante os quais a educadora apenas se dedicava exclusivamente a atender as crianças; • 25 segmentos nos quais, por um lado, cuidava das crianças e, por outro lado, fazia outras atividades. Duas vezes foi até o espaço de jogos das crianças durante os cinco minutos do segmento. As observações contêm: • as palavras da educadora: as que direcionava às crianças no espaço de brincar; • as atividades das crianças: mencionadas pela educadora, atividades que as fizeram reagir.
  • 5. Resultados das observações As educadoras dirigiram-se às crianças do grupo em uma média de 45 vezes durante os 30 minutos: • 57.7% dos casos eram reações a formas positivas de comportamento; • 32.7% dos casos respondiam a formas negativas de comportamento; • 9.9% dos casos diziam algo sem relação com o comportamento das crianças. Examinemos agora, detalhadamente, as respostas dadas aos comportamentos positivos que classificamos em três grupos: 1. As palavras com que a educadora avisa as crianças que se interessam pela atividade espontânea que estão desenvolvendo (um movimento, uma brincadeira, um barulho, um som...). Nesse caso a iniciativa de contato é da educadora. Uma criança chamada Zsolti golpeia com um cubo os ângulos de uma caixa de brinquedos. A educadora: “Que barulho mais bonito, Zsolti!” Zsolti sorriu. Nos exemplos que se seguem, a educadora não reage à atividade geral da criança, mas, sim, a um momento preciso dessa atividade que achou que cabia comentar ou reforçar. O pequeno Csaba está esticado de bruços no parque, depois se põe de barriga para cima com um brinquedo na mão. A educadora: “Ei, Csaba! Você se virou? Que bom que você brinque com essa bola de vime. Quem sabe você será jogador de handball!” Duas crianças jogam os baldinhos para dentro de um cercado. Uma menina, que se chamava Borika estende o braço e depois de fazer esforços durante alguns
  • 6. minutos consegue pegar um deles através da grade. A educadora: “Vejo que você conseguiu pegar o baldinho!” 2. As palavras que a educadora dirige à criança que observa. É uma transição entre as iniciativas da educadora e as da criança. A criança, com seu olhar atento, “toma a iniciativa” do contato, chama a atenção da educadora. Isso se nota sobretudo quando a criança observa a atividade da educadora por alguma razão concreta. É hora de Zsolti comer. Enquanto a educadora leva um companheiro seu ao jardim para dormir, Zsolti se coloca na porta da sala de brinquedos; quando a educadora entra, a criança a observa. A educadora: “Zsolti, você já está esperando? Já preparo tudo, você vai comer e também vai dormir. Agora mesmo arrumo seu saco de dormir.” A educadora diz a Kati que lhe dará banho à tarde. Quando ouve a palavra banho, Margo ouve e olha para a educadora. “Margo, você também tomará banho esta tarde”, lhe diz a educadora. A educadora coloca Csaba em um outro espaço de brinquedos. A pequena Eszti vai até o corrimão que os separa, se debruça ali e fica olhando. A educadora: “Trouxe o Csaba para cá, a partir de agora ele vai brincar aqui.” 3. As palavras da educadora em resposta a uma criança. A iniciativa de contato é da criança: todos emitem sons ou palavras dirigindo- se à educadora e ela lhes responde. É possível que apenas queiram chamar a atenção, mas o que aqui é importante é que seja a criança que tome a iniciativa do contato quando necessita que a educadora se volte para ela.
  • 7. A pequena Kriszti chama risonha a educadora dizendo “egi”. “Estou vendo, estou vendo Kriszti”, sorri a educadora respondendo para a criança. A pequena Kati mostra a educadora um brinquedo que está em sua mão dizendo duas sílabas “da-da”. A educadora: “o que você tens, Kati, um lenço colorido? É verde e tem um pedaço vermelho, olhe!” A busca de contato tem uma razão bem definida quando a criança pede ajuda com sons ou com gestos. A pequena Margo pede atenção da educadora dizendo “ti” e mostrando que seu tênis está desamarrado. A educadora: “Eu vou amarrar para você, já sei que havia prometido. Que bom que você me lembrou.” Andris diz “hoppa” e mostra para a educadora sua boneca que caiu do outro lado do corrimão. A educadora: “Você quer a boneca? Vou pegar para você quando terminar de ajudar a Kriszti. Mas chegue mais perto e veja se você pode alcançá-la através da grade.” Freqüentemente, as crianças se dirigiam à educadora quando percebiam um fato ou quando ao seu redor acontecia alguma coisa que queriam comunicar a ela. Por exemplo, olhavam como a educadora se ocupava de seus companheiros: Bori chama a atenção da educadora fazendo um som “tii”. Esta acaba de dar de comer a uma criança. A educadora: “Csabika comeu muito bem, depois Zsolti vai comer”. Borika aponta Zsolti. A educadora: “O Zsolti vai comer.” Margo observa enquanto seu companheiro Andris come e diz “chá”. A educadora: “Chá. Fiz este chá para Andris. Depois de lanchar, também vou dar um chá para você.” As crianças também se dirigiam à educadora quando encontravam um objeto que lhes parecia interessante.
  • 8. As crianças mostravam que de seu brinquedo – um cãozinho – caíam pedaços de espuma. A educadora vai até lá e os recolhe. Esztike diz “pega”. A educadora: “Vou pegá-los e jogá-los no cesto de lixo”. Andris mostra para a educadora uma meia que tirou dizendo “sapato”. A educadora: “Meia, Andris, vou vesti-la de novo em você. Veja que seu pé precisa dela.” Algumas vezes as crianças também reagiam às coisas que a educadora dizia ao seu companheiro. Quando a educadora fala de desenho, Esztie aponta o seu desenho pendurado na parede dizendo “este”. A educadora: “Sim, Esztie, esse que você me mostra é o seu desenho.” Desses exemplos podemos deduzir que, no momento da investigação, essas crianças se expressavam, por um lado, com palavras (fragmentos de palavras), por outro lado, com grupos de sons e com gestos. Uma vez que o tema deste estudo é a relação entre a educadora e as crianças, não separamos, dentre as iniciativas das crianças, as expressões verbais das expressões pré-verbais quando tinham função similar. Caberiam novas investigações para saber qual é a função, no desenvolvimento da linguagem das crianças, do exercício intensivo dos meios de expressão pré-verbais. Nos processos verbais encontramos, com especial freqüência, respostas dadas às crianças quando estas se dirigiam à educadora. Essas respostas significam 38.2% do conjunto de palavras das educadoras e 66.6% das reações positivas a comportamentos. Essa informação corrobora a impressão que havíamos formado durante as observações: entre as formas positivas de comportamento das crianças, a expressão de sons é a que mais faz com que a educadora fale com a criança quando não está diretamente cuidando dela.
  • 9. Se a educadora entende a importância desses pequenos diálogos, inclusive os mais curtos, na vida das crianças, terá atenção em sua resposta e deixará de responder apenas contra as formas negativas de comportamento como fazia antes. Essa atitude da educadora repercute no comportamento das crianças do grupo: confirma para as crianças as formas desejáveis de chamar a atenção e estimula o desenvolvimento da relação verbal. Dando resposta à sua iniciativa, se oferece à criança não apenas muitas informações e explicações gerais, mas também informações ligadas ao fato para o qual elas apontam e no momento preciso em que aquilo as preocupa. HEVESI, K., Relação através da linguagem entre a educadora e as crianças do grupo. In: FLAK, J. (org.). Educar os três primeiros anos: a experiência de Loczy. Araraquara: Junqueira e Marin, 2004