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Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
 


            VIVERES URBANOS E HOMOSSEXUALIDADES JUVENIS NARRADAS


                                                                                         Robson Laverdi *


Resumo: Esta comunicação resulta de uma investigação mais ampla sobre experiências
homossexuais masculinas de jovens rapazes em pequenas e médias cidades da região Oeste do
Paraná. A análise constitui-se numa tentativa de historicizar viveres citadinos, na atualidade
entremeados a processos sócio-culturais de maior publicização de alteridades gays. A
existência de um pressuposto quot;mundo gayquot;, por um lado, tem demarcado uma posição política
importante para os movimentos sociais que colocam em causa a existência social dignificada
destes grupos. Por outro, tomada numa perspectiva histórica evidencia silêncios acerca da teia
complexa de vivências constituídas nas tramas citadinas fora dos circuitos das grandes
cidades. Neste sentido, dialoga-se com narrativas produzidas num trabalho de campo de
História Oral, tateando possibilidades de compreensão destas dinâmicas.

Palavras-chave: cidade; homossexualidade; juventude

Abstract: This communication is a result of a longer research on masculine homosexual’s
experiences of young boys in small and medium cities of the West of Paraná State. The
analysis is concerned of historicising the city’s life, in the present time, interlaced to the
sociocultural processes of a bigger publishing of gays otherness. The existence of a supposed
“gay world”, in one hand, has demarcated an important politic position for the social
movements that reach the issue of a dignified social existence of these groups. In the other
hand, in a historical perspective, it evidences an omission concerning to the complex net of
experiences built in the city’s web away from the big cities. Following this direction, it is
dialogued with narratives produced in the field of the Oral History, looking for possibilities of
understanding these dynamic.

Key-words: city; homosexuality; youth


Esta comunicação resulta de uma pesquisa mais ampla sobre experiências de jovens rapazes
homossexuais constituídas nas tramas citadinas de pequenas e médias cidades do Oeste do
Paraná. Afastados dos grandes centros urbanos e das dinâmicas mais visíveis do chamado
“mundo gay”, os viveres de sujeitos de orientação homossexual, assumidos publicamente ou
não, matizam a constituição de territorialidades e experiências relacionais da vida urbana no
entorno e a partir de fazeres e práticas nas múltiplas dimensões da existência social. Toma-se
como aporte teórico-metodológico a preocupação de constituir uma abordagem e uma prática



                                                            
*
  Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Doutor em História Social pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). (e-mail: robson_laverdi@hotmail.com).
 

 
Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
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dialógica da feitura da história oral comprometida com o desafio de historicizar as dinâmicas
de significação social a partir das narrativas daqueles as vivenciam.
Inicialmente, é preciso reconhecer as aspirações desafiantes presentes na constituição deste
campo de investigação da homossexualidade. Como destaca Góis (1993, p.1), encontramo-
nos num momento instituinte de um novo cânone para pensar a homossexualidade, sendo este
capaz de retomar questões tradicionais e levantar novas indagações. Nesta direção, sublinhou
o autor quanto à importância da disputa pela adequação da palavra homossexualidade, que
difundiu novos vocábulos como homoerotismo, homoafetividade, homocultura, etc. Esta
análise compartilha com estas preocupações enquanto forjadoras de outras sensibilidades de
apreensão de realidades históricas, que exige de maneira permanente a problematização de
conceitos com os quais operamos nossas investigações.
Neste sentido, Raymond Williams (1979) tem desafiado nossa tentação, consciente ou não, ao
uso de balizas teóricas fixas, que aprisionam as formas e ritmos distintos da transformação
social. O desenho deste horizonte de compreensão neste texto proposto exige a atenção à
historicidade dos conceitos dos quais partimos, encarando-a como todo um “processo social
constitutivo”. Esta acepção requer do pesquisador o comprometimento com o presente do
qual partimos. A memória, pois, longe de ser um reservatório de lembranças (MENESES,
1992) do que teria sido o passado, é entendida como um processo ativo, um trabalho no dizer
de Ecléa Bosi (1994).
Neste solo desta argumentação teórica, e por sua vez de posicionamento político, dialoga-se
com a inspiração de Beatriz Sarlo (2007, p. 9), quando coloca de que, “não se prescinde do
passado pelo exercício da decisão nem da inteligência; tampouco ele é convocado por um
simples ato da vontade. O retorno do passado nem sempre é um momento libertador da
lembrança, mas um advento, uma captura do presente”. Noutras palavras, a análise aqui
proposta, de produção e diálogo com narrativas de jovens gays, coloca-se atenta aos
significados da experiência social vivida, imbricada às transformações de valores e de práticas
constituídas no chão histórico de pequenas e médias cidades do Oeste do Paraná. Do mesmo
modo, coloca-se numa posição de atenção sensível à interlocução com os aportes frutíferos
lançados pelo crítico literário italiano Alessandro Portelli. Compartilha, assim, com suas
notações teóricas comprometidas com uma feitura dialógica desta metodologia, por sua vez
menos preocupada com eventos do que com significados (Portelli, 1997, p. 31).
Do conjunto de dez relatos produzidos, dois mostraram-se muito preciosos para discutir tais
dinâmicas. Estas narrativas chamam a atenção para trajetórias individuais situadas em
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espacialidades sociais forjadas por valores e modos de viver constituídos nas inter-relações do
rural e do urbano.
Williams dedicou zelo especial à problemática das inter-relações campo e cidade. Em sua
obra O campo e a cidade na história e na literatura (1988), ao discutir relações e interações
entre campo e cidade, sublinhou a necessidade de cautela para que não as compreendamos
enquanto realidades ensimesmadas presas a universos culturais fechados e estáticos. Como
diz o autor, o campo e a cidade são realidades históricas em transformação em si mesmas e
em suas inter-relações. Em suas próprias palavras, “temos uma experiência social concreta
não apenas do campo e da cidade, em suas formas mais singulares, como também de muitos
tipos de organizações sociais e físicas intermediárias e novas” (1988, p. 387). Cumpre assim
destacar a vitalidade do sentido lançado de superar apreensões estanques que desconsideram
as múltiplas formas da transformação social.
De modo desafiador, argumenta ainda “o contraste entre campo e cidade é, de modo claro,
uma das principais maneiras de adquirirmos consciência de uma parte central de nossa
experiência e das crises de nossa sociedade. Por conseguinte, ressalta que “isto, porém, dá
origem à tentação de reduzir a variedade histórica de formas de interpretação dos chamados
símbolos e arquétipos, ou seja, de abstrair até mesmo estas formas tão evidentemente sociais e
dar-lhes um status basicamente psicológico ou metafísico” (Williams, 1988, p. 387).
Imbrica-se neste olhar o sentido que se depreende de Sarlo (2007, p. 24-25) quando observa
que “a narração da experiência está unida ao corpo e à voz, a uma presença real do sujeito na
cena do passado.” Até porque, “a narração inscreve a experiência numa temporalidade que
não é a de seu acontecer (ameaçado desde seu próprio começo pela passagem do tempo e pelo
irrepetível), mas a de sua lembrança. A narração também funda uma temporalidade, que a
cada repetição e a cada variante torna a se atualizar”.
Os relatos foram originados de um trabalho de campo realizado nos meses de março e abril de
2007. Neste trabalho de campo tive o primeiro contato com este grupo com interesse de
investigação e produção de entrevistas gravadas. Num primeiro momento, imaginava
encontrar dificuldades para a obtenção dos testemunhos, tendo em vista a força dos
preconceitos e discriminações vividas pelo grupo nos diversos meios sociais.
Desde o início me preocupei com os riscos da exposição pública destes jovens, que poderia
gerar prejuízos às suas relações sociais e de trabalho. Optei, assim, por facultar-lhes a
utilização do nome verdadeiro ou de um pseudônimo de sua sugestão. Apenas dois deles
disseram não encontrar problemas quanto ao uso de nomes verdadeiros. Os demais acharam
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por bem serem referenciados pelos pseudônimos. Nesta discussão todos os nomes utilizados
são fictícios, com algumas supressões indicadas pelos próprios entrevistados.
O primeiro dos relatos foi o de Gilvan, que tinha 20 anos quando o entrevistei, embora a
fisionomia lhe desse alguns anos a mais. O contato foi intermediado por outro entrevistado, da
de mesma idade, natural de [suprimido pelo autor], distrito do município de Terra Rocha. O
segundo é o de Maicon, de 24 anos. Nascido numa cidade bem pequena próxima a Marechal
Cândido Rondon, cujo nome pediu para não ser revelado.
Procurei lidar com as entrevistas de trajetórias individuais, que observei como emblemáticas
em relação ao conjunto das que foram realizadas, como dimensões da experiência social
relacionada aos viveres e às identidades que se constituem na processualidade e na mudança.
De qualquer modo, como pondera Williams (1979, p.158), é preciso atentar para o fato de que
“qualquer descrição das ‘situações’ é manifestadamente social, mas como descrição de prática
cultural ainda é evidentemente incompleta.”
Maicon, de 24 anos, em seu relato começou informando a origem rural de seus pais, que “são
do interior”, expressão muito usada para designar o meio rural. Filho de uma família de
pequenos-proprietários rurais, formada além dele e os pais, outros irmãos do sexo masculino.
Neste meio familiar e rural viveu até completar os 17 anos, depois se mudando para Marechal
Cândido Rondon para estudar e trabalhar. Até esta fase da vida “tinha uma vida normal,
assim, ajudava meus pais em casa, estudava à noite e assim sempre”. Embora tenha vivido no
campo até o fim adolescência, o relato de Maicon silenciou este passado, atribuindo apenas
aos pais o passado e presente rurais.
Maicon “ajudava na roça”, somente quando “era preciso”, todavia, “sempre menos que os
meus irmãos”. Caso contrário, era “trabalho mais feminino, no caso”. De sua parte, “eu
sempre preferi fazer o serviço que a minha mãe fazia. Lavar a casa, arrumar a casa, passar
pano nos móveis.” A família toda se ocupava na lida da roça. Inclusive, “a minha mãe então
ia pra a roça e eu fazia o serviço de casa. Preferia fazer o serviço de casa e ela e os meus
irmãos iam fazer o serviço na roça. Daí eu fazia o almoço, lavava a casa, fazia mais o serviço
doméstico”.
Sem rodeios relatou Maicon que “na questão sexual, eu sempre gostei de piá [criança], mas eu
nunca me manifestei por medo que meus pais descobrissem.” Desde pequeno, “eu acho assim,
eu sempre tive curiosidade, mas eu não gostei da [primeira] experiência. Eu achei que, era
muito difícil aceitar uma coisa que em casa a gente aprendeu que não é certo, entende? Certo
seria você namorar com uma menina, casar com uma menina, enfim.” Insistindo neste ponto,
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num sôfrego de culpa concluiu: “a criação a gente aprendeu muito isso: que o que é certo e o
que não é tão certo assim”.
É bem verdade que Maicon ainda convive com um sentimento de culpa em relação à sua
orientação sexual. O peso dos valores preconizados pelos pais sobre os ombros o torna refém
de sentimentos confusos: “ainda penso, não sei?! Acho que a gente vive muitas
transformações, então os conceitos mudam muito. Eu gosto, mas ao mesmo tempo eu não me
sinto à vontade cem por cento.” Tanto “em relação aos meus pais, ao que os outros vão pensar
e... eu mesmo acho que pela minha criação, eu mesmo não aceito. Não me aceito!”.
Além das dificuldades de lidar com os valores familiares heterossexuais arraigados e com sua
própria auto-aceitação, Maicon vive hoje na cidade de costas para o seu passado rural. Como
mesmo verbalizou: “não sei, eu não gosto de ter vivido no interior”. Interessa sublinhar o
modo como Maicon expressou seu sentimento de pertença. Noutras palavras, não se trata,
portanto, de somente não gostar da vida no “interior”, mas fundamentalmente de não conviver
com a idéia de um dia tê-la vivido. E assim finalizou: “gosto muito de viver aqui na cidade,
trabalhar na cidade. Gosto daqui. Meus amigos todos são daqui. Eu não tenho amizades em
[suprimida a pedido do entrevistado]. Eu me identifico mais com as pessoas daqui.”
Pesa no testemunho de Maicon uma questão de mais longo alcance e profundidade. Em
Marechal Cândido Rondon, percebe-se a existência, ainda que não generalizada, de um
sentido depreciador de práticas e valores inerentes ao viver rural. A vida na colônia, o núcleo
básico da vida rural, desde os anos 1970 passou a receber no espaço urbano uma plêiade dos
estigmas modelados pelo sentido de atraso.
Aqui é preciso um parêntese. A segunda geração dos migrantes sulinos que ocuparam a
região, como é o caso de Maicon, passou a vivenciar com profundidade as ambigüidades
relativas à difícil permanência no campo, ora reelaborando valores de pertença à terra, ora
incorporando sentidos poderosos de hierarquização positivada da vida na cidade em
detrimento da vida tida como atrasada do campo. De algum modo esta problemática requer
uma investigação com mais acuidade.
Um argumento síntese no relato de Maicon é revelador de uma conflituosidade de valores
produtora de outras expectativas de inserção no meio urbano. “Eu acho assim: que se eu
tivesse ficado no interior eu não teria conseguido estudar tanto quanto eu estudei”, referindo-
se ao curso superior que concluíra muito recentemente.
Foi na roça que Maicon sentiu os primeiros desejos pelos “piás”, no entanto foi na cidade que
passou a viver uma vida de conflitos dolorosos de ambigüidade identitária, em face dos
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valores morais arraigados que trazia das relações sociais e familiares herdados de sua
experiência rural. Até mesmo porque “eu sempre tentei preservar a imagem de homem,
porque a gente sempre pensa em ter uma imagem do correto, de ser homem, de ser uma
pessoa formal.” Entretanto, na vida urbana as sociabilidades abriram possibilidades concretas
experimentação da homossexualidade. Na contraparte da ambigüidade vivida:
                         Só que assim, eu tinha um amigo [de acordo com ele heterossexual] e a gente saía
                         pra andar na cidade, dar umas voltas. E ele fez amizade com alguns gays. Então, eu
                         acabei chegando junto. [...] Mas ele, não sei como, conhecia e eu acabei
                         conhecendo também. Aí a gente começou a sair, beber na praça juntos e com isso eu
                         fui conhecendo mais gente, conhecendo alguns meninos e alguns gays, e eles
                         acabavam ficando com os gays e foi assim que eu também acabei ficando.


          Os viveres homossexuais na cidade em muitos casos são vividos, como deixa ver
Maicon, numa espécie de clandestinidade, pois “existem muitas pessoas que não se assumem
na rua aqui na cidade”. Na construção do relato expõe sentidos ampliados deste viver. Nos
termos que colocou, uma coisa é assumir a homossexualidade “na rua” da cidade, a outra na
cidade como um espaço social menos comprometedor. Ao distinguir o comportamento de
“pessoas’ não assumidas publicamente, a narrativa de Maicon parece apontar uma margem de
diferença entre a forma de inserção pública nas relações homossexuais na cidade, que deixa
entender como sua, daquelas práticas não constituídas nos diferentes grupos existentes na
cidade.
          No plano das sociabilidades a experimentação de outras relações possibilitadas pelo
viver urbano desencadeia descobertas. Por exemplo, “aqui na cidade a maioria dos meninos
acabam ficando com gays. Eu até acho, às vezes eu até fico assustado com a quantidade de
rapazes que ficam com gays. Eu achava que isso era coisa de cidade grande”.
          No relato de Maicon surpreende a riqueza das dinâmicas que constituem as
territorialidades gays na cidade, pois “a gente queria se reunir, queria abrir, ter o nosso
espaço”. Lembrou assim, da ocupação sob a forma de ponto de encontro, que o seu grupo
fazia nas noites de final de semana na Avenida Rio Grande do Sul, na altura central de uma
das vias mais movimentadas de Marechal Cândido Rondon:
                         A gente se reunia todo mundo junto era umas quinze pessoas ou mais, mais. A gente
                         se reunia, a gente não tinha medo de ser xingado. A gente ficava lá na avenida para
                         ter o nosso espaço também. Eu acho assim, precisam ter pessoas que enfrentam o
                         preconceito, que vão, que dão a cara pra bater para a coisa começar a abrir pra
                         gente. Tentar tornar mais natural, tentar mostrar que a gente existe.


          Como fez notar Maicon as territorialidades não se restringiam ao espaço urbano:
                         Mas a gente também tinha uma vez um ponto de encontro na casa de um amigo
                         nosso que morava no interior. Então, todo esse pessoal do comércio que é vendedor,
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                       que é não sei o que, acabava freqüentando. [...] Aconteciam festas e essas pessoas
                       iam.


       Mesmo aqueles jovens não assumidos publicamente, que faziam muita questão de
manter no anonimato a sua orientação sexual freqüentavam estes encontros. Vale destacar que
o conhecimento da homossexualidade camuflada dos colegas que não se assumiam era
utilizado com efeito aglutinador de pessoas do meio, portadores de diferentes experiências e
maneiras de lidar com a questão na cidade. Observou Maicon neste sentido de que até
“pessoas que jamais queriam que a identidade de gay fosse descoberta. Mas assim, como a
gente sabia, eles acabavam freqüentando também; acabavam indo.”
       Das trajetórias de vida analisadas, a do Maicon foi aquela que mais se mostrou
articulada a vivências de grupos no meio gay. Muito diferentemente do que se poderia crer,
em vista de sua inserção nestas relações, este jovem contou não ter vivido experiências
noutros espaços. Pois “nunca saí da cidade para freqüentar alguma coisa gay. Eu tenho
curiosidade. Mas ao mesmo tempo eu tenho medo. Não sei medo do quê!? Medo do que eu
vou encontrar. Aqui [em Marechal Cândido Rondon] pra mim é uma coisa natural. Eu vou
numa outra cidade já eu não me sinto bem.”
       Afora a insegurança e outras indefinições que povoam a cabeça de Maicon, a cidade
de Marechal Cândido Rondon, a despeito da imagem de conservadorismos enraizados,
constituiu-se num espaço ampliado de vivência de sociabilidades que significam muito para
ele como também de:
                       Todos nós que participamos do grupo ou as pessoas que eu tenho amizade, acho
                       que todos, com o passar dos anos, como se eu pegar cinco anos atrás eu acho que a
                       questão gay aqui em Marechal era bem mais escondida que hoje. Hoje em dia é
                       mais aberta, a gente têm os nossos amigos, a gente sai, tenta assim ter uma vida
                       social sem discriminação, apesar de que existe. Mas já está bem mais fácil viver do
                       que alguns anos atrás.


Em relação às tensões narradas e à processualidade dos viveres gays na experiência social
tecida nas pequenas cidades, cumpre considerar a marcas de suas territorialidades e
protagonismo, ainda que por vezes esmaecidas por imagens literárias e midiáticas idealizadas
que as tornam essencializadas como próprias do meio urbano. Por conseguinte, demarcam
outras espacialidades sociais que ultrapassam limites geográficos e horizontes semióticos pré-
configurados de rural e de urbano.
       O repertório narrativo das memórias/experiências de rapazes homossexuais
entrevistados evidenciou uma riqueza de significações deste “processo social constitutivo” de
inter-relações embebidas pelos universos culturais do rural e do urbano, presentes nas cidades
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focadas por esta análise. Assumir-se como gay e viver esta orientação sexual na esfera
pública, não se constitui apenas conquanto numa teia endógena de valores familiares
heterossexistas arraigados de incompreensão e conservadorismo.
       O vivido se faz candente nas experimentações inter-relacionais entre os espaços da
vida fica familiar, do trabalho e do lazer, aditivada pela migração do campo para a cidade,
muitas vezes pouco relacionadas com a necessidade de afirmação da orientação homossexual.
Assim como, também, pelo diálogo com os códigos afirmados sócio-culturais situados noutras
ambiências e situações vividas na cidade, oxigenados por valores circunscritos naqueles
espaços considerados como próprios do “mundo gay”.
       A decisão de assumir a orientação homossexual na esfera pública, como fez Gilvan, ou
de vivê-la na clandestinidade de territórios urbanos, no caso de Maicon, constituem
processualidades que transbordam o âmbito do núcleo familiar pré-figurado, por vezes
idealizado, em tensão com outras determinações presentes nestas espacialidades citadinas.
       De um modo instigante, Gilvan demonstrou não necessitar da vida urbana para se
expressar, muito menos para viver os calorosos ideais propugnados pelas bandeiras de luta do
movimento homossexual organizado. Ao mesmo tempo, cumpre reconhecer que embora a
migração para a pequena cidade de Assis Chateaubriand não estivesse programada, esta
representou um salto de qualidade, tanto em relação ao emprego estável que conseguiu,
quanto da possibilidade de viver outras sociabilidades reconhecidas por ele como mais
significativas para sua existência homossexual.
       Noutra direção, Maicon deixou claro que a cidade sempre lhe representou uma senda
de livre expressão e inserção/ascensão social possibilitados pelos estudos e pelo trabalho. Ao
narrar sua trajetória não poupou as palavras pra dizer o pouco ou quase nulo significado que o
meio rural tem para sua vida, motivo que o fizera sintetizar “não sei, eu não gosto de ter
vivido no interior”. Há nesta formulação uma clara depreciação do campo em detrimento do
urbano que optara viver, o que necessariamente não lhe impingiu uma melhor condição de
vida enquanto homossexual. Até porque, a cidade, mesmo como um lugar de expectativas não
lhe permitiu ainda viver em plenitude e com dignidade a sua orientação, até porque “não me
aceito!”.
       No plano mais amplo das questões evidenciadas pelas narrativas, vale sublinhar que os
viveres analisados foram sublinhados como experiências instituintes, permeadas de tensões
entre valores e significações construídas em meio a relações e valores em transformação. Tais
experiências reelaboram de múltiplas maneiras os sentidos fixos dos estigmas, preconceitos e
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discriminações que violentam a vida destes jovens que experimentam a orientação sexual
dentro e fora do “mundo gay”.



Referências bibliográficas:
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras,
    1994.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro:
    Civilização Brasileira, 2003.
GÓIS, João Bôsco Hora. Desencontros: as relações entre os estudos sobre a
    homossexualidade e os estudos de gênero no Brasil. In: Revista Estudos Feministas.
    Florianópolis:         UFSC,          Jan./June 2003,       capturado    do        site:
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2003000100021, em
    4 de fevereiro de 2008.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A história, cativa da memória? Para um mapeamento da
    memória no campo das Ciências Sociais. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros.
    São Paulo: IEB, nº 34, 1992.
PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho: algumas reflexões sobre a ética
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SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Cia das
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WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
__________________. O campo e a cidade na história e na literatura. São Paulo: Cia das
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Robson Laverdi

  • 1. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS   VIVERES URBANOS E HOMOSSEXUALIDADES JUVENIS NARRADAS Robson Laverdi * Resumo: Esta comunicação resulta de uma investigação mais ampla sobre experiências homossexuais masculinas de jovens rapazes em pequenas e médias cidades da região Oeste do Paraná. A análise constitui-se numa tentativa de historicizar viveres citadinos, na atualidade entremeados a processos sócio-culturais de maior publicização de alteridades gays. A existência de um pressuposto quot;mundo gayquot;, por um lado, tem demarcado uma posição política importante para os movimentos sociais que colocam em causa a existência social dignificada destes grupos. Por outro, tomada numa perspectiva histórica evidencia silêncios acerca da teia complexa de vivências constituídas nas tramas citadinas fora dos circuitos das grandes cidades. Neste sentido, dialoga-se com narrativas produzidas num trabalho de campo de História Oral, tateando possibilidades de compreensão destas dinâmicas. Palavras-chave: cidade; homossexualidade; juventude Abstract: This communication is a result of a longer research on masculine homosexual’s experiences of young boys in small and medium cities of the West of Paraná State. The analysis is concerned of historicising the city’s life, in the present time, interlaced to the sociocultural processes of a bigger publishing of gays otherness. The existence of a supposed “gay world”, in one hand, has demarcated an important politic position for the social movements that reach the issue of a dignified social existence of these groups. In the other hand, in a historical perspective, it evidences an omission concerning to the complex net of experiences built in the city’s web away from the big cities. Following this direction, it is dialogued with narratives produced in the field of the Oral History, looking for possibilities of understanding these dynamic. Key-words: city; homosexuality; youth Esta comunicação resulta de uma pesquisa mais ampla sobre experiências de jovens rapazes homossexuais constituídas nas tramas citadinas de pequenas e médias cidades do Oeste do Paraná. Afastados dos grandes centros urbanos e das dinâmicas mais visíveis do chamado “mundo gay”, os viveres de sujeitos de orientação homossexual, assumidos publicamente ou não, matizam a constituição de territorialidades e experiências relacionais da vida urbana no entorno e a partir de fazeres e práticas nas múltiplas dimensões da existência social. Toma-se como aporte teórico-metodológico a preocupação de constituir uma abordagem e uma prática                                                              * Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). (e-mail: robson_laverdi@hotmail.com).    
  • 2. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 2   dialógica da feitura da história oral comprometida com o desafio de historicizar as dinâmicas de significação social a partir das narrativas daqueles as vivenciam. Inicialmente, é preciso reconhecer as aspirações desafiantes presentes na constituição deste campo de investigação da homossexualidade. Como destaca Góis (1993, p.1), encontramo- nos num momento instituinte de um novo cânone para pensar a homossexualidade, sendo este capaz de retomar questões tradicionais e levantar novas indagações. Nesta direção, sublinhou o autor quanto à importância da disputa pela adequação da palavra homossexualidade, que difundiu novos vocábulos como homoerotismo, homoafetividade, homocultura, etc. Esta análise compartilha com estas preocupações enquanto forjadoras de outras sensibilidades de apreensão de realidades históricas, que exige de maneira permanente a problematização de conceitos com os quais operamos nossas investigações. Neste sentido, Raymond Williams (1979) tem desafiado nossa tentação, consciente ou não, ao uso de balizas teóricas fixas, que aprisionam as formas e ritmos distintos da transformação social. O desenho deste horizonte de compreensão neste texto proposto exige a atenção à historicidade dos conceitos dos quais partimos, encarando-a como todo um “processo social constitutivo”. Esta acepção requer do pesquisador o comprometimento com o presente do qual partimos. A memória, pois, longe de ser um reservatório de lembranças (MENESES, 1992) do que teria sido o passado, é entendida como um processo ativo, um trabalho no dizer de Ecléa Bosi (1994). Neste solo desta argumentação teórica, e por sua vez de posicionamento político, dialoga-se com a inspiração de Beatriz Sarlo (2007, p. 9), quando coloca de que, “não se prescinde do passado pelo exercício da decisão nem da inteligência; tampouco ele é convocado por um simples ato da vontade. O retorno do passado nem sempre é um momento libertador da lembrança, mas um advento, uma captura do presente”. Noutras palavras, a análise aqui proposta, de produção e diálogo com narrativas de jovens gays, coloca-se atenta aos significados da experiência social vivida, imbricada às transformações de valores e de práticas constituídas no chão histórico de pequenas e médias cidades do Oeste do Paraná. Do mesmo modo, coloca-se numa posição de atenção sensível à interlocução com os aportes frutíferos lançados pelo crítico literário italiano Alessandro Portelli. Compartilha, assim, com suas notações teóricas comprometidas com uma feitura dialógica desta metodologia, por sua vez menos preocupada com eventos do que com significados (Portelli, 1997, p. 31). Do conjunto de dez relatos produzidos, dois mostraram-se muito preciosos para discutir tais dinâmicas. Estas narrativas chamam a atenção para trajetórias individuais situadas em
  • 3. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 3   espacialidades sociais forjadas por valores e modos de viver constituídos nas inter-relações do rural e do urbano. Williams dedicou zelo especial à problemática das inter-relações campo e cidade. Em sua obra O campo e a cidade na história e na literatura (1988), ao discutir relações e interações entre campo e cidade, sublinhou a necessidade de cautela para que não as compreendamos enquanto realidades ensimesmadas presas a universos culturais fechados e estáticos. Como diz o autor, o campo e a cidade são realidades históricas em transformação em si mesmas e em suas inter-relações. Em suas próprias palavras, “temos uma experiência social concreta não apenas do campo e da cidade, em suas formas mais singulares, como também de muitos tipos de organizações sociais e físicas intermediárias e novas” (1988, p. 387). Cumpre assim destacar a vitalidade do sentido lançado de superar apreensões estanques que desconsideram as múltiplas formas da transformação social. De modo desafiador, argumenta ainda “o contraste entre campo e cidade é, de modo claro, uma das principais maneiras de adquirirmos consciência de uma parte central de nossa experiência e das crises de nossa sociedade. Por conseguinte, ressalta que “isto, porém, dá origem à tentação de reduzir a variedade histórica de formas de interpretação dos chamados símbolos e arquétipos, ou seja, de abstrair até mesmo estas formas tão evidentemente sociais e dar-lhes um status basicamente psicológico ou metafísico” (Williams, 1988, p. 387). Imbrica-se neste olhar o sentido que se depreende de Sarlo (2007, p. 24-25) quando observa que “a narração da experiência está unida ao corpo e à voz, a uma presença real do sujeito na cena do passado.” Até porque, “a narração inscreve a experiência numa temporalidade que não é a de seu acontecer (ameaçado desde seu próprio começo pela passagem do tempo e pelo irrepetível), mas a de sua lembrança. A narração também funda uma temporalidade, que a cada repetição e a cada variante torna a se atualizar”. Os relatos foram originados de um trabalho de campo realizado nos meses de março e abril de 2007. Neste trabalho de campo tive o primeiro contato com este grupo com interesse de investigação e produção de entrevistas gravadas. Num primeiro momento, imaginava encontrar dificuldades para a obtenção dos testemunhos, tendo em vista a força dos preconceitos e discriminações vividas pelo grupo nos diversos meios sociais. Desde o início me preocupei com os riscos da exposição pública destes jovens, que poderia gerar prejuízos às suas relações sociais e de trabalho. Optei, assim, por facultar-lhes a utilização do nome verdadeiro ou de um pseudônimo de sua sugestão. Apenas dois deles disseram não encontrar problemas quanto ao uso de nomes verdadeiros. Os demais acharam
  • 4. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 4   por bem serem referenciados pelos pseudônimos. Nesta discussão todos os nomes utilizados são fictícios, com algumas supressões indicadas pelos próprios entrevistados. O primeiro dos relatos foi o de Gilvan, que tinha 20 anos quando o entrevistei, embora a fisionomia lhe desse alguns anos a mais. O contato foi intermediado por outro entrevistado, da de mesma idade, natural de [suprimido pelo autor], distrito do município de Terra Rocha. O segundo é o de Maicon, de 24 anos. Nascido numa cidade bem pequena próxima a Marechal Cândido Rondon, cujo nome pediu para não ser revelado. Procurei lidar com as entrevistas de trajetórias individuais, que observei como emblemáticas em relação ao conjunto das que foram realizadas, como dimensões da experiência social relacionada aos viveres e às identidades que se constituem na processualidade e na mudança. De qualquer modo, como pondera Williams (1979, p.158), é preciso atentar para o fato de que “qualquer descrição das ‘situações’ é manifestadamente social, mas como descrição de prática cultural ainda é evidentemente incompleta.” Maicon, de 24 anos, em seu relato começou informando a origem rural de seus pais, que “são do interior”, expressão muito usada para designar o meio rural. Filho de uma família de pequenos-proprietários rurais, formada além dele e os pais, outros irmãos do sexo masculino. Neste meio familiar e rural viveu até completar os 17 anos, depois se mudando para Marechal Cândido Rondon para estudar e trabalhar. Até esta fase da vida “tinha uma vida normal, assim, ajudava meus pais em casa, estudava à noite e assim sempre”. Embora tenha vivido no campo até o fim adolescência, o relato de Maicon silenciou este passado, atribuindo apenas aos pais o passado e presente rurais. Maicon “ajudava na roça”, somente quando “era preciso”, todavia, “sempre menos que os meus irmãos”. Caso contrário, era “trabalho mais feminino, no caso”. De sua parte, “eu sempre preferi fazer o serviço que a minha mãe fazia. Lavar a casa, arrumar a casa, passar pano nos móveis.” A família toda se ocupava na lida da roça. Inclusive, “a minha mãe então ia pra a roça e eu fazia o serviço de casa. Preferia fazer o serviço de casa e ela e os meus irmãos iam fazer o serviço na roça. Daí eu fazia o almoço, lavava a casa, fazia mais o serviço doméstico”. Sem rodeios relatou Maicon que “na questão sexual, eu sempre gostei de piá [criança], mas eu nunca me manifestei por medo que meus pais descobrissem.” Desde pequeno, “eu acho assim, eu sempre tive curiosidade, mas eu não gostei da [primeira] experiência. Eu achei que, era muito difícil aceitar uma coisa que em casa a gente aprendeu que não é certo, entende? Certo seria você namorar com uma menina, casar com uma menina, enfim.” Insistindo neste ponto,
  • 5. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 5   num sôfrego de culpa concluiu: “a criação a gente aprendeu muito isso: que o que é certo e o que não é tão certo assim”. É bem verdade que Maicon ainda convive com um sentimento de culpa em relação à sua orientação sexual. O peso dos valores preconizados pelos pais sobre os ombros o torna refém de sentimentos confusos: “ainda penso, não sei?! Acho que a gente vive muitas transformações, então os conceitos mudam muito. Eu gosto, mas ao mesmo tempo eu não me sinto à vontade cem por cento.” Tanto “em relação aos meus pais, ao que os outros vão pensar e... eu mesmo acho que pela minha criação, eu mesmo não aceito. Não me aceito!”. Além das dificuldades de lidar com os valores familiares heterossexuais arraigados e com sua própria auto-aceitação, Maicon vive hoje na cidade de costas para o seu passado rural. Como mesmo verbalizou: “não sei, eu não gosto de ter vivido no interior”. Interessa sublinhar o modo como Maicon expressou seu sentimento de pertença. Noutras palavras, não se trata, portanto, de somente não gostar da vida no “interior”, mas fundamentalmente de não conviver com a idéia de um dia tê-la vivido. E assim finalizou: “gosto muito de viver aqui na cidade, trabalhar na cidade. Gosto daqui. Meus amigos todos são daqui. Eu não tenho amizades em [suprimida a pedido do entrevistado]. Eu me identifico mais com as pessoas daqui.” Pesa no testemunho de Maicon uma questão de mais longo alcance e profundidade. Em Marechal Cândido Rondon, percebe-se a existência, ainda que não generalizada, de um sentido depreciador de práticas e valores inerentes ao viver rural. A vida na colônia, o núcleo básico da vida rural, desde os anos 1970 passou a receber no espaço urbano uma plêiade dos estigmas modelados pelo sentido de atraso. Aqui é preciso um parêntese. A segunda geração dos migrantes sulinos que ocuparam a região, como é o caso de Maicon, passou a vivenciar com profundidade as ambigüidades relativas à difícil permanência no campo, ora reelaborando valores de pertença à terra, ora incorporando sentidos poderosos de hierarquização positivada da vida na cidade em detrimento da vida tida como atrasada do campo. De algum modo esta problemática requer uma investigação com mais acuidade. Um argumento síntese no relato de Maicon é revelador de uma conflituosidade de valores produtora de outras expectativas de inserção no meio urbano. “Eu acho assim: que se eu tivesse ficado no interior eu não teria conseguido estudar tanto quanto eu estudei”, referindo- se ao curso superior que concluíra muito recentemente. Foi na roça que Maicon sentiu os primeiros desejos pelos “piás”, no entanto foi na cidade que passou a viver uma vida de conflitos dolorosos de ambigüidade identitária, em face dos
  • 6. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 6   valores morais arraigados que trazia das relações sociais e familiares herdados de sua experiência rural. Até mesmo porque “eu sempre tentei preservar a imagem de homem, porque a gente sempre pensa em ter uma imagem do correto, de ser homem, de ser uma pessoa formal.” Entretanto, na vida urbana as sociabilidades abriram possibilidades concretas experimentação da homossexualidade. Na contraparte da ambigüidade vivida: Só que assim, eu tinha um amigo [de acordo com ele heterossexual] e a gente saía pra andar na cidade, dar umas voltas. E ele fez amizade com alguns gays. Então, eu acabei chegando junto. [...] Mas ele, não sei como, conhecia e eu acabei conhecendo também. Aí a gente começou a sair, beber na praça juntos e com isso eu fui conhecendo mais gente, conhecendo alguns meninos e alguns gays, e eles acabavam ficando com os gays e foi assim que eu também acabei ficando. Os viveres homossexuais na cidade em muitos casos são vividos, como deixa ver Maicon, numa espécie de clandestinidade, pois “existem muitas pessoas que não se assumem na rua aqui na cidade”. Na construção do relato expõe sentidos ampliados deste viver. Nos termos que colocou, uma coisa é assumir a homossexualidade “na rua” da cidade, a outra na cidade como um espaço social menos comprometedor. Ao distinguir o comportamento de “pessoas’ não assumidas publicamente, a narrativa de Maicon parece apontar uma margem de diferença entre a forma de inserção pública nas relações homossexuais na cidade, que deixa entender como sua, daquelas práticas não constituídas nos diferentes grupos existentes na cidade. No plano das sociabilidades a experimentação de outras relações possibilitadas pelo viver urbano desencadeia descobertas. Por exemplo, “aqui na cidade a maioria dos meninos acabam ficando com gays. Eu até acho, às vezes eu até fico assustado com a quantidade de rapazes que ficam com gays. Eu achava que isso era coisa de cidade grande”. No relato de Maicon surpreende a riqueza das dinâmicas que constituem as territorialidades gays na cidade, pois “a gente queria se reunir, queria abrir, ter o nosso espaço”. Lembrou assim, da ocupação sob a forma de ponto de encontro, que o seu grupo fazia nas noites de final de semana na Avenida Rio Grande do Sul, na altura central de uma das vias mais movimentadas de Marechal Cândido Rondon: A gente se reunia todo mundo junto era umas quinze pessoas ou mais, mais. A gente se reunia, a gente não tinha medo de ser xingado. A gente ficava lá na avenida para ter o nosso espaço também. Eu acho assim, precisam ter pessoas que enfrentam o preconceito, que vão, que dão a cara pra bater para a coisa começar a abrir pra gente. Tentar tornar mais natural, tentar mostrar que a gente existe. Como fez notar Maicon as territorialidades não se restringiam ao espaço urbano: Mas a gente também tinha uma vez um ponto de encontro na casa de um amigo nosso que morava no interior. Então, todo esse pessoal do comércio que é vendedor,
  • 7. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 7   que é não sei o que, acabava freqüentando. [...] Aconteciam festas e essas pessoas iam. Mesmo aqueles jovens não assumidos publicamente, que faziam muita questão de manter no anonimato a sua orientação sexual freqüentavam estes encontros. Vale destacar que o conhecimento da homossexualidade camuflada dos colegas que não se assumiam era utilizado com efeito aglutinador de pessoas do meio, portadores de diferentes experiências e maneiras de lidar com a questão na cidade. Observou Maicon neste sentido de que até “pessoas que jamais queriam que a identidade de gay fosse descoberta. Mas assim, como a gente sabia, eles acabavam freqüentando também; acabavam indo.” Das trajetórias de vida analisadas, a do Maicon foi aquela que mais se mostrou articulada a vivências de grupos no meio gay. Muito diferentemente do que se poderia crer, em vista de sua inserção nestas relações, este jovem contou não ter vivido experiências noutros espaços. Pois “nunca saí da cidade para freqüentar alguma coisa gay. Eu tenho curiosidade. Mas ao mesmo tempo eu tenho medo. Não sei medo do quê!? Medo do que eu vou encontrar. Aqui [em Marechal Cândido Rondon] pra mim é uma coisa natural. Eu vou numa outra cidade já eu não me sinto bem.” Afora a insegurança e outras indefinições que povoam a cabeça de Maicon, a cidade de Marechal Cândido Rondon, a despeito da imagem de conservadorismos enraizados, constituiu-se num espaço ampliado de vivência de sociabilidades que significam muito para ele como também de: Todos nós que participamos do grupo ou as pessoas que eu tenho amizade, acho que todos, com o passar dos anos, como se eu pegar cinco anos atrás eu acho que a questão gay aqui em Marechal era bem mais escondida que hoje. Hoje em dia é mais aberta, a gente têm os nossos amigos, a gente sai, tenta assim ter uma vida social sem discriminação, apesar de que existe. Mas já está bem mais fácil viver do que alguns anos atrás. Em relação às tensões narradas e à processualidade dos viveres gays na experiência social tecida nas pequenas cidades, cumpre considerar a marcas de suas territorialidades e protagonismo, ainda que por vezes esmaecidas por imagens literárias e midiáticas idealizadas que as tornam essencializadas como próprias do meio urbano. Por conseguinte, demarcam outras espacialidades sociais que ultrapassam limites geográficos e horizontes semióticos pré- configurados de rural e de urbano. O repertório narrativo das memórias/experiências de rapazes homossexuais entrevistados evidenciou uma riqueza de significações deste “processo social constitutivo” de inter-relações embebidas pelos universos culturais do rural e do urbano, presentes nas cidades
  • 8. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 8   focadas por esta análise. Assumir-se como gay e viver esta orientação sexual na esfera pública, não se constitui apenas conquanto numa teia endógena de valores familiares heterossexistas arraigados de incompreensão e conservadorismo. O vivido se faz candente nas experimentações inter-relacionais entre os espaços da vida fica familiar, do trabalho e do lazer, aditivada pela migração do campo para a cidade, muitas vezes pouco relacionadas com a necessidade de afirmação da orientação homossexual. Assim como, também, pelo diálogo com os códigos afirmados sócio-culturais situados noutras ambiências e situações vividas na cidade, oxigenados por valores circunscritos naqueles espaços considerados como próprios do “mundo gay”. A decisão de assumir a orientação homossexual na esfera pública, como fez Gilvan, ou de vivê-la na clandestinidade de territórios urbanos, no caso de Maicon, constituem processualidades que transbordam o âmbito do núcleo familiar pré-figurado, por vezes idealizado, em tensão com outras determinações presentes nestas espacialidades citadinas. De um modo instigante, Gilvan demonstrou não necessitar da vida urbana para se expressar, muito menos para viver os calorosos ideais propugnados pelas bandeiras de luta do movimento homossexual organizado. Ao mesmo tempo, cumpre reconhecer que embora a migração para a pequena cidade de Assis Chateaubriand não estivesse programada, esta representou um salto de qualidade, tanto em relação ao emprego estável que conseguiu, quanto da possibilidade de viver outras sociabilidades reconhecidas por ele como mais significativas para sua existência homossexual. Noutra direção, Maicon deixou claro que a cidade sempre lhe representou uma senda de livre expressão e inserção/ascensão social possibilitados pelos estudos e pelo trabalho. Ao narrar sua trajetória não poupou as palavras pra dizer o pouco ou quase nulo significado que o meio rural tem para sua vida, motivo que o fizera sintetizar “não sei, eu não gosto de ter vivido no interior”. Há nesta formulação uma clara depreciação do campo em detrimento do urbano que optara viver, o que necessariamente não lhe impingiu uma melhor condição de vida enquanto homossexual. Até porque, a cidade, mesmo como um lugar de expectativas não lhe permitiu ainda viver em plenitude e com dignidade a sua orientação, até porque “não me aceito!”. No plano mais amplo das questões evidenciadas pelas narrativas, vale sublinhar que os viveres analisados foram sublinhados como experiências instituintes, permeadas de tensões entre valores e significações construídas em meio a relações e valores em transformação. Tais experiências reelaboram de múltiplas maneiras os sentidos fixos dos estigmas, preconceitos e
  • 9. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 9   discriminações que violentam a vida destes jovens que experimentam a orientação sexual dentro e fora do “mundo gay”. Referências bibliográficas: BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. GÓIS, João Bôsco Hora. Desencontros: as relações entre os estudos sobre a homossexualidade e os estudos de gênero no Brasil. In: Revista Estudos Feministas. Florianópolis: UFSC, Jan./June 2003, capturado do site: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2003000100021, em 4 de fevereiro de 2008. MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A história, cativa da memória? Para um mapeamento da memória no campo das Ciências Sociais. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB, nº 34, 1992. PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho: algumas reflexões sobre a ética na história oral. In: Projeto História. São Paulo, PUC, nº 15, 1997. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Cia das Letras, Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007. WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. __________________. O campo e a cidade na história e na literatura. São Paulo: Cia das Letras, 1990.