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ENCONTRO – ASSISTÊNCIA DOMICILIÁRIA
• Apoio Psico-emocional ao paciente e família
“Nenhum de nós crê na própria morte, ou, o que é o mesmo, nenhum de nós é inconscientemente
convicto da própria imortalidade. Nosso inconsciente não aceita a idéia de dever morrer”
(Sigmund Freud)
Introdução.
Uma das coisas mais difíceis na vida é o preparo para as situações embaraçosas ou
desagradáveis. Por um instinto quase de autodefesa, o homem é muito voltado a antegozar, quase
que exclusivamente, as ocorrências que lhe são favoráveis e benéficas, e por isso prepara-se para
tais. Preparamo-nos para muitas coisas boas que acontecem conosco e com nossos familiares com
euforia:
• o nascimento do filho, seu primeiro dia de aula, sua primeira comunhão, os quinze anos, a
euforia do passar no vestibular, a formatura, o casamento, a vinda do primeiro filho (neto).
• preparamo-nos assim para tudo, que pode ou não acontecer, e nos esquecemos, na maioria das
vezes, de nos preparar para aquilo que é a única, absoluta e permanente verdade ao lado da vida
humana: o seu fim, a morte. Comenta-se que a avestruz, diante do iminente perigo, enterra sua
cabeça na areia para não ver o perigo que se aproxima.
• No entanto, para muitos eventos negativos não nos posicionamos adequadamente e
racionalmente, digamos que isto é natural, pois, afinal de contas, os problemas e dificuldades
que surgem, não são, na maioria, planejados pelo homem. Naturalmente, só ponderam,os para o
futuro aquelas ocorrências que vêm ao encontro de nossa vontade, do nosso bem-estar, de nossa
felicidade. Procuramos sempre adiar e protelar indefinidamente aquilo que possa servir de
atropelo ou aborrecimento ao nosso melhor viver. A pessoa que pensa diferente, voltando-se
apenas para os aspectos negativos da vida, é inclusive classificada como pessimista, de baixo
austral, negativista, mau-humorada.
• Você já pensou porque uma tão grande enxurrada de livros sobre auto-estima, pensamento
positivo, energia contagiante, e outros milhares de livros best-sales são vendidos por preços
exorbitantes e tem larga ala de compradores? E os livros que falam da realidade da morte, do
que acontecerá depois dela?. Você compraria um livro, cujo nome seria: “PREPARE-SE PARA
ESTA VERDADE, VOCÊ VAI MORRER”. É possível que o problema comece na nossa
formação, e no nosso contexto social. Nos projetamos para que nada desolador nos aconteça, até
que um dia acontece com alguém que amamos, com um nosso familiar que nos deixa, uns, pela
enfermidade crônica vai indo lentamente, outros, de forma brusca é levado. E agora? Quando
será nossa vez? Fique absolutamente certo que sua vez chegará. É preciso pois, preparar-nos
para nosso dia, assim, poderemos contribuir e colaborar positivamente e profissionalmente de
forma elitista, solidária e amável junto àqueles que estiverem conosco nos seus últimos dias de
vida.
1
Um casal pode ter passado anos brigando, mas quando um deles morre o outro arranca os
cabelos, lamenta, chora, grita, bate no peito em sinal de pesar, medo e angústia, temendo ainda mais
sua própria morte. Pode ser que o conhecimento disto seja de valia na compreensão de muitos dos
velhos costumes e rituais que sobreviveram aos séculos. Podemos pensar nas cinzas, nas vestes
rasgadas, no véu, nas carpideiras dos velhos tempos, meios não só de implorar piedade para eles, os
chorosos, como também expressões de pesar, tristeza e vergonha, que revelam sentimentos que não
distam muito da raiva e da fúria. A criança de cinco anos que perde a mãe tanto se culpa pelo
desaparecimento dela, como se zanga porque ela a abandonou deixando de atender a seus rogos.
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura, que não podia ser
tocada, os antigos índios americanos falavam dos espíritos do mal e atiravam flechas para o ar para
afugentá-los. Muitas culturas possuem rituais para cuidar da pessoa que morre, os quais se originam
deste sentimento de raiva latente em todos nós, apesar de não gostarmos de admitir isso. A tradição
do túmulo pode advir do desejo de sepultar bem fundo os maus espíritos, e, as pedrinhas que muitos
enlutados jogam como homenagem traduzem símbolos do mesmo desejo. Apesar de chamarmos de
última despedida, a salva de tiros num funeral militar corresponde ao mesmo símbolo ritual dos
índios, ao atirarem aos céus suas flechas. A morte ainda hoje constitui um acontecimento medonho,
pavoroso, um medo universal, mesmo sabendo que podemos dominá-lo em vários níveis.
Em nossa sociedade a morte é encarada como tabu, onde os debates sobre ela são
considerados mórbidos, e as crianças afastadas sob pretexto de seria “demais” para elas. São
mandadas para casa de parentes, dizem que a “mamãe” viajou, tentam protelar uma realidade
dolorosa do aqui e agora, e, em conseqüência danos maiores virão decorrentes de tais posturas, que
infelizmente tem sido aceita por todos. É igualmente insensato dizer que “Deus levou Joãozinho
para o céu por amar as crianças” a uma menina que perdeu seu irmão. Esta menina, ao se tornar
mulher, dificilmente superará sua mágoa contra Deus. Parece que quanto mais avançamos na
ciência, mais tememos e negamos a realidade da morte. Recorremos aos eufemismos; fazemos que
o morto pareça adormecido, mandamos que as crianças saiam, para protegê-las da ansiedade e do
tumulto reinantes na casa, isto quando o paciente tem a felicidade de morrer em seu lar; impedimos
que as crianças visitem seus pais que se encontram a beira da morte nos hospitais; sustentamos
discussões longas e controvertidas sobre dizer ou não dizer a verdade ao paciente, dúvida que
raramente surge quando é atendido pelo médico da família que o acompanhou desde o parto até a
morte e que está a par das fraquezas e forças de cada membro da família.
Há muitas razões para se fugir de encarar a morte calmamente. Uma das mais importantes é
que, hoje em dia, morrer é triste demais sob vários aspectos, sobre tudo é muito solitário, muito
mecânico e desumano. Morrer se torna um ato solitário e impessoal, porque não raro o doente é
removido de seu ambiente familiar e levado as pressas para uma sala de emergência. Ele não sabe
da gravidade de sua doença, é posto numa UTI, num emaranhado de aparelhos, pouco tempo
disponível à visita e ausência de intimidade impedem de comunicar-se com sua família, (isto não é
uma raridade com o doente levado as pressas para a UTI).
2
1. O PACIENTE EM FASE TERMINAL E SUA FAMILIA.
Mudanças no lar e efeitos sobre toda família. Se não levarmos devidamente em conta a
família do paciente, não poderemos ajudá-lo em fase terminal, nem, muito menos, poderemos
ajudá-lo com eficácia. No período da doença, os familiares desempenham papel preponderante, e
suas reações muito contribuem para a própria reação do paciente. A doença grave de um marido e
conseqüente hospitalização pode causar mudanças radicais no lar, as quais a esposa é obrigada a se
adaptar, (os cuidados dela para os filhos, a atenção a ser dada ao esposo, sobretudo à noite quando
o doente está no quarto, suportar e contornar os conselhos dos vizinhos, os compromissos com o
sustento da casa, a satisfação exigida por terceiros (telefonemas e visitas que querem saber do
doente e só fazem perguntas), a ausência de familiares junto ao doente em horários críticos - etc.)
Comentário.
• Agrava-se a situação quando o doente é colocado na UTI: visitas em horários pré-
determinados e as intercorrências no horário, o doente idoso e o procedimento pelo hospitalar
(questão de gênero)
• O paciente terminal nada sabe da gravidade de sua doença. O que poderá ocorrer em
decorrência d este desconhecimento, tanto para ele, como para sua família e trabalho? (Terá
ele tempo para por em ordem sua casa? Leia Isaias cap. 38)
• A dignidade do morrer em casa. Menos traumático para a família? A família sofre tanto
quanto o doente.
O que mais se observa em um atendimento a nível hospitalar é a forte influência que os
sentimentos de perda, ocorridos ao longo da vida do paciente, têm em relação à doença existente,
perda esta, presente na vida do ser humano de uma forma em geral, pois desde o nascimento ele
passa por perdas, as quais são desestruturantes para a personalidade do indivíduo.
A criança ao nascer, perde o elo de ligação com a mãe, com o corte do cordão umbilical, o
qual é substituído pelo seio materno, este irá paulatinamente sendo substituído, por outros símbolos
ao longo da vida. Os símbolos são representações, que buscam substituir o objeto faltante, na
tentativa de diminuir a angústia causada pela perda do objeto real, como por exemplo: a mãe,
quando sai do campo de visão de um bebê, este sente como uma perda (como na brincadeira do
esconde-esconde), inicialmente, quando muito nova, a criança chora, posteriormente consegue
perceber que em determinados momentos pode ficar sem a mãe, sem que isto signifique para ela
estar em perigo e aprende que este objeto perdido (aqui representado pela mãe), voltará para o seu
campo de visão, ou seja, para a sua segurança.
Cada indivíduo possui uma forma individual de elaborar suas perdas; acontecimentos
semelhantes podem resultar em experiências diferentes. Isto faz de cada ser humano um ser único e
que se constitui a partir das suas experiências de vida.
Com as perdas surge a necessidade da elaboração do luto. Fator importante para a
elaboração dessas perdas, o qual na maioria das vezes, não são “trabalhados”, (terapeuticamente) e
voltam de uma forma dolorida e muito sofrida, com a hospitalização. No entanto, quando bem
3
vivido, traz ao indivíduo uma sensação de plenitude, de fechamento e permite que as experiências
sejam vivenciadas de forma menos dolorosas; sentimento já presente no estado da hospitalização.
A hospitalização traz para o paciente e sua família, sentimentos de insegurança, insatisfação,
confinamento, medo, invasão... No hospital ele sabe que está doente e que sua vida está sendo
controlada por pessoas estranhas, sentimentos que os deixam ou muito nervosos e irritados ou
acanhados e com medo. Medo principalmente do desconhecido e a partir dele muitos
questionamentos surgem, como: Será que eu tenho uma doença grave? Será que vou morrer?
Quando poderei ir para casa? Esses e outros questionamentos estão sempre muito presentes no
discurso do paciente. Discurso esse, através do qual, com uma escuta diferenciada, pode-se, como
facilitador, ajudá-lo neste momento de dor e sofrimento. Num atendimento hospitalar feito a nível
psicológico, a “escuta”, já salientada, anteriormente, é a ferramenta utilizada, pelo psicólogo, com o
intuito de permitir ao doente entrar em contato com a sua história de vida, trazendo à tona fatos e
experiências que tiveram grande responsabilidade na sua constituição quanto pessoa,
principalmente sobre a pessoa na qual cada um se transformou.
É importante salientar que o trabalho feito com pacientes internados em um hospital é
“agora”, pois hoje ele está internado e amanhã pode não mais estar lá. O imediatismo, e a prontidão
são necessários dentro de um trabalho a nível hospitalar. O doente não espera. Naquele momento
ele precisa de você.
Objetivos do tratamento no final da vida
Certamente, o final da vida de qualquer pessoa deve ser uma oportunidade para se reafirmar
e celebrar o valor da vida, assim como aquilo que a pessoa realizou, as posições que tomou e o que
significou para os demais.
Para o profissional da saúde, talvez mais importante que qualquer outro princípio ao tratar os
pacientes terminais, é fundamental tornar o tratamento individualizado. Isso pode ser efetuado
somente quando ele conhece o paciente, respondendo às suas necessidades e interesses,
acompanhando, o ritmo do paciente e permitindo que ele molde a maneira pela qual aqueles que o
atendam se comportem.
Weisman e Hackett cunharam o termo “morte apropriada”. Para obter a morte apropriada, os
pacientes devem:
1) estar relativamente livres de dor;
2) ter as funções da maneira mais eficaz possível, dentro dos limites de sua possibilidade;
3) reconhecer e resolver conflitos residuais;
4) cumprir aqueles desejos restantes que sejam compatíveis com suas condições e ideais de ego;
5) ser capazes de passar o controle para outros em quem tenham confiança.
Por exemplo, uma mãe que se depare com a morte prematura deve determinar o que e como
dirá a seus filhos algo sobre sua doença e a aproximação da morte; ela deve tentar entender suas
4
reações, dar apoio e preparar seus filhos para seus futuros sem ela. O que ela quer que eles saibam e
se lembrem a seu respeito? Cuidar de seus filhos, cônjuge e amigos, fazer planos para eles e
trabalhar para isso pode ocupá-la construtivamente, dando-lhe objetivos concretos de serem
atingidos e um modo de sustentar sua auto-estima.
A ajuda que reúne todos no fortalecimento e na melhora das relações recíprocas aborda o
aspecto mais assustador da morte: a perda que determina uma sensação de abandono. A tarefa
fundamental para aqueles que amam a pessoa que está morrendo é fazer o que podem para tornar o
tempo mais confortável e significativo para o paciente. Elas podem ajudar o ente querido a atingir
um momento do qual se orgulhem, participar de modo a que elas próprias se orgulhem de sua
conduta durante este tempo e começar a preparar, para si mesmas, um memorial do ente querido
com o qual possam viver pelo restante de suas vidas.
Assistência ao paciente terminal
A Organização Mundial da Saúde define assistência paliativa (hospice care) como “a
assistência total ativa de pacientes cuja doença não seja responsiva a tratamentos curativos”. Essa
definição não se refere à morte iminente do paciente, o que é um reconhecimento de que essa
questão é tão perturbadora para alguns pacientes, que estes não aceitarão a assistência em questão,
mesmo quando seja desesperadamente necessária. Esse é um impasse comum a enfrentar. Pode ser
necessário solicitar ao paciente uma aceitação de tal assistência para benefício da família e,
ocasionalmente, médico e família podem solicitar assistência em instituição, apesar da oposição do
paciente. Os objetivos da assistência paliativa podem ser simplesmente expressos como a
minimização agressiva das cargas do paciente e a maximização da qualidade de vida. A segunda,
em geral, é um esforço para maximizar a independência do paciente, bem como um esforço intenso
para ajudar o paciente a tirar o máximo de seus relacionamentos. Embora a maior parte do pessoal
que dá assistência à saúde considere que o intuito do tratamento paliativo seja o conforto físico,
apenas isso é muito inadequado, pois a minimização do sofrimento pessoal requer consideração e
esforços maiores.
Fornecendo enfermagem no domicílio, apoio aos familiares, aconselhamento espiritual,
tratamento da dor, assistência médica e alguns cuidados com o paciente internado, programas de
hospice care nos Estados Unidos serviram a aproximadamente 340 mil pacientes terminais em
1994, dos quais 80% tinham quadros de neoplasia. O paciente médio inscreveu-se cerca de um mês
antes da morte. Nos Estados Unidos, o Medicare requer que 80% dos dias em hospice care sejam
passados em casa, o que significa que, para se qualificar, os pacientes terminais devem ter uma casa
e uma família capaz de proporcionar assistência. Quanto mais intensivos os serviços de suporte,
melhor para o paciente, para os familiares e os profissionais de saúde.
As características essenciais do hospice care para pacientes com câncer são descritas por
Billings. Os programas para pacientes terminais comumente servem de igual maneira a pacientes
com Aids ou câncer, ou pacientes terminais com outras afecções, inclusive portadores de doenças
cardiovasculares e pulmonares, AVC, demência e insuficiência orgânica crônica. Ainda não se sabe
se poderá ser efetuado dentro das contenções fiscais da assistência à saúde contemporânea.
5
Abordagem abrangente ao possível controle do sofrimento pessoal no final da vida
Apoio: Copyright 1998 © - NeuroPsicoNews
Essa problemática relacionada ao paciente terminal recebeu um estudo muito detalhado pela
psiquiatra e tenatóloga Elizabeth Kubler-Ross, partindo da prática, conversando e entrevistando
pacientes com câncer, Kubler-Ross descobriu que, em geral, esses pacientes passam por cinco fases,
desde quando desencadeia a moléstia até o fim da vida:
1. primeira reação começa com a NEGAÇÃO,
2. a segunda fase é a de REVOLTA,
3. superada a revolta, o paciente entra na fase de BARGANHA,
4. essa fase vai até que o doente entra em DEPRESSÃO,
5. superadas essas quatro fases, ele entra na fase de ACEITAÇÃO.
“A morte é também um caminho de separação, um perder os próprios objetos de amor, um
romper ligações afetivas mais importantes, os apegos aos objetos de amor sobre os quais se apóia
a própria identidade: o trabalho, as relações, os projetos, a casa, os hábitos, os pontos de
referências, o próprio corpo, a imagem de si, a autonomia, as raízes... a vida” (Pe. Anísio Baldessin).
2. A FAMÍLIA, DEPOIS QUE SE DEU A MORTE.
O pai voltou do funeral. Por trás da janela, seu filho de sete anos, olhos arregalados, amuleto
pendurado no pescoço, mergulhado em pensamentos difíceis demais para sua idade. O pai pegou-o
nos braços e o menino perguntou: “onde está a mamãe?”. “No céu”,respondeu o pai, apontando para
o azul imenso. O menino ergueu os olhos e se quedou a contemplar o céu em silêncio. Sua mente
confusa lançou um brado na noite: “onde está o céu?”. Não ouviu resposta. E as estrelas pareciam
lagrimas ardentes daquela escuridão taciturna. (Tagore – o fugitivo, parte II, XXI).
“Um bom conselho, dado na hora certa, é tão valioso quanto uma bandeja de prata coberta de
maçãs de ouro. O conselho que o amigo dá de coração é agradável como um perfume suave”
(Pv. 25:11; 27:9).
Vale ressaltar que a pessoa enferma enfrenta profunda turbulência na sua vida psicológica e
emocional. Bem sabemos que todo o desequilíbrio emocional intenso exerce grande influência na
vida física do indivíduo, produzindo-lhe graves e sérios problemas. Todos os doentes estão sujeitos
a sérios distúrbios emocionais, bem como seus familiares são por eles afetados. A capelania
hospitalar objetiva assim alcançar também a família do paciente
Desta forma, todo hospital ou casa de saúde deve se preocupar, não somente com a saúde
física do doente, mas também com a saúde emocional e espiritual. É o homem no seu todo e não
apenas no seu físico que necessita dos cuidados hospitalares
6
A enfermidade, seja ela causada por um acidente ou qualquer alteração física, tende a provocar
no homem surpresas desagradáveis. A maior dor sentida num hospital nem sempre é a dor física,
mas,é a dor da solidão, é a dor do abandono, é a dor da rejeição, é a dor de sentir-se inválido e
dependente de pessoas desconhecidas. É uma espécie particular de dor e solidão. No hospital o
doente, como SER HUMANO, sofre inúmeras agressões:
1. O paciente, como pessoa humana é tirada de seu ritmo normal de vida
2. Interrompe seus planos, confundindo seus alvos
3. Desestabiliza sua situação financeira
4. Desprotege-o da intimidade de sua família
5. Distancia-o de seus amigos
6. Tira-lhe a roupa e lhe dão nova roupagem (como se sente o paciente com as roupas do
hospital?)
7. Todos, de alguma forma, exercem autoridade sobre ele: enfermagem, higienização, manutenção,
serviços gerais, nutrição, etc...
8. É, algumas vezes, quando impossibilitado de ser removido, literalmente despido na enfermaria
para o banho ou mudança de sua roupa, causando-lhe sentimentos de vergonha, por sentir-se
exposto também aos demais doentes do seu quarto.
9. É acometido por um sentimento de intranqüilidade, inquietude, insegurança e solidão.
10. Ficam ausentes também todos os sons, aromas, e percepções visuais do seu ambiente usual
11. Muitas vezes em lugar do seu nome, recebe um número ou o nome científico da gravidade de
sua doença
12. O hospital é um local estranho, entre pessoas desconhecidas, onde o paciente como pessoa
humana perde sua identidade e autonomia.
Sua mente fervilha com inúmeras perguntas que ecoam sem encontrar respostas. Em poucos
instantes, todos os seus dias passam como um filme em sua mente. Para que avaliar cada
pensamento, cada ato de sua vida passada? Será que valeu a pena? Será que o que pensou ser vida
até agora era mesmo viver? Será que sua corrida atrás de prazeres fúteis e passageiros pode dar
sentido à sua vida? Qual a sua razão de viver? Como viver agora se lhe amputarem um dedo, um
braço ou uma perna? Como continuar a viver se for constatado que tem um tumor maligno?
Psicólogos e psiquiatras são chamados, numa tentativa de ajudar o paciente a encontrar suas
próprias respostas, mas como? Nenhum remédio receitado pode aliviar sua mente da culpa, da
tensão, da necessidade do encontro pessoal com Deus. Nada e nem ninguém pode preencher este
vazio. Só o próprio Deus pode preencher. Deus pode e Deus deseja. Para o doente sua vida é mais
importante do que qualquer coisa. Nada é para ele mais importante do que ele mesmo. Não lhe
interessa os acidentes ecológicos, nem a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, nem os
problemas decorrentes da alta do dólar, muito menos a fome e violência que avassala a sociedade.
No hospital todo seu interesse é ele mesmo e o que sucederá a ele. É compreensível sua atitude,
podemos dizer que ele tem razão. Afinal para que existe hospital? médicos? Toda infra-estrutura
técnica e tecnológica? Se o homem consegue grandezas na ciência e tecnologia, por que não
consegue sarar sua enfermidade?
7
É aí que o capelão como Ministro da Palavra de Deus, faz parte da equipe multidisciplinar,
tornando-se responsável pelo atendimento espiritual, fraterno, amigo, solidário ao paciente. É aí que
o capelão com sua habilidade deve transmitir o Evangelho da Paz, da esperança, da fé. Deve
complementar o atendimento dispensado ao indivíduo por parte dos médicos e da enfermagem.
O paciente tem o direito de ser “validado”.
1. Como pessoa humana.
2. Como pessoa humana em estado de debilidade física e emocional.
3. Como pessoa humana feita à imagem e semelhança de Deus, o Eterno Criador.
4. Como pessoa humana que no seu “silêncio” fala alto, grita e quer ser ouvido.
O capelão é, quando solicitado, encarregado de ministrar os cuidados religiosos e ajudar a
pessoa enferma a reencontrar o equilíbrio perdido ou alterado. De igual modo é de sua
responsabilidade ajudar o doente a aceitar a realidade da doença que o acometeu bem como as suas
conseqüências. O paciente não pode considerar-se vítima da sorte, como também não deve aceitar
passivamente a doença. A pessoa doente precisa aceitar a enfermidade dentro do quadro geral da
vida humana que é limitada.
O paciente através da capelania vai descobrir que a doença também revela fatores
positivos e significativos. O capelão deve incutir no paciente o senso de tranqüilidade e confiança,
preparando-o de forma amável, para o tratamento que se seguirá. A pessoa doente, devido ao seu
estado de saúde abalado, carece por direito adquirido, humano e legal, de amizade, compreensão e
amor, e ela espera encontrar tudo isso no hospital como um todo, e especialmente no capelão, que
para ela é o Ministro da Palavra de Deus.
“Um coração ansioso deixa o homem frustrado e derrotado, mas uma palavra amiga de ânimo e
simpatia renova as forças” (Provérbios. 12:25 - Bíblia Viva)
“O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra dita há seu tempo, quão boa é. Favo
de mel são as palavras agradáveis, doçura para a alma e saúde para os ossos”
(Provérbios 15:23; 16:24).
O que você vê, Enfermeira?
O que você vê enfermeira, o que você vê? O que você está pensando quando você me olha?
Uma velha rabugenta, pouco inteligente, inconstante de hábitos, com olhar distante!
Que cospe seu alimento e nada replica, quando você diz em voz alta “Eu quero que você tente”.
Que parece não observar as coisas que você faz, e sempre está perdendo uma meia do sapato.
Que, resistindo ou não, deixa você fazer o que quer.
8
Com banho e alimentação durante o longo dia a preencher.
É isto que você está pensando, é isto que você vê?
Então abra seus olhos, você não está olhando para mim.
Eu Ihe direi quem sou, como eu sinto aqui tão tranqüila.
Como me movimento a seu comando, como eu como à sua vontade.
Eu sou uma pequena criança de dez anos com um pai e uma mãe, irmãos e irmãs, que se amam uns
aos outros.
Uma jovem de dezesseis anos com asas a seus pés, sonhando que a qualquer instante encontrará o
amor.
Uma noiva aos 20 anos, meu coração dá um salto, relembrando os votos que eu prometi manter.
Aos 25 anos agora eu tenho filhos, que necessitam de mim para construir um lar feliz e seguro.
Uma mulher de trinta, minha prole agora cresce rápido. Ligados uns aos outros com laços eternos.
Aos quarenta, meus filhos agora irão partir, porém meu marido permanece a meu lado para que eu
não me lamente.
Aos cinqüenta, mais uma vez bebês brincam a minha volta. Novamente nos conhecemos.
crianças, meu único amor e eu.
Dias negros me acompanham, meu marido está morto, eu olho para o futuro,
eu estremeço com receio, por meus filhos, ocupados em construir sua própria família.
E eu recordo os anos e o amor que eu tive.
Eu sou uma senhora idosa agora, e a natureza é cruel, é seu gracejo fazer a pessoa idosa parecer
boba.
O corpo desagrega, a graça e o vigor desaparecem, e agora há uma pedra onde
anteriormente tinha um coração.
Mas no interior desta velha carcaça, uma jovem calma habita,
e agora novamente meu coração exaurido expande-se.
Eu relembro as alegrias, eu relembro a dor, e eu estou amando e vivendo a vida novamente,
eu penso nos anos, todos muito poucos, passados tão rápidos,
e aceito a realidade que nada pode durar.
Então, abra seus olhos, enfermeira...
Abra e veja, não sou uma velha rabugenta, olhe mais perto.
Veja-me.
(Anônimo. Tem sido relatado que esse poema foi encontrado com os pertences de uma senhora idosa que morreu em
uma enfermaria em Ireland, do Journal of Gerontological Nursing, 2:26, junho, 1976).
9
Cuidado no adeus à vida
Você é presença mesmo sabendo o que todos sabem: Estou morrendo! Você acredita e cuida
de mim, tenha ou não cura. Você sabe perder tempo comigo, embora eu não tenha forças para lhe
agradecer você me faz sentir como alguém único e muito especial. Você não se concentra no meu
mau humor ou doença, mas me trata com dignidade de pessoa. você não me vê apenas como um
moribundo, mas como alguém vivo Você diz “Boa-noite”, que não significa “adeus”, mas me
transmite a certeza de que voltará pela manhã. Você é capaz de fortalecer minha fé, de que a vida
não termina com a morte! Pe. Passini, Camiliano.
Sigamos o conselho do apóstolo Paulo: “Sorri com os que sorriem e chorai com os que
choram” (Rm.12:15). Faremos melhor pastoral do luto quando descobrimos que é muito difícil
chorar sozinho, chorar sem alguém a quem possamos encostar a cabeça.
CONSULTAS BIBLIOGRÁFICAS RECOMENDADAS.
1. ADAMS, Jay E. Conselheiro Capaz, São Paulo, Editora Fiel Ltda, 1977.
2. VARGAS, Heber Soares, Psicologia do Envelhecimento, Porto Alegre, RS, BYK Editorial,
1983.
3. KUBLER-ROSS, Elisabeth, Sobre a Morte e o morrer, São Paulo, Martins Fontes, 8a
edição,
1977.
4. BALDESSIM, Anísio, Como Fazer Pastoral da Saúde, São Paulo, Edições Loyola, 2000.
5. RUDIO, Franz Victor, Orientação Não-Diretiva na Educação, no Aconselhamento e na
Psicoterapia, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 13ª
Edição, 1999.
6. YOUNG, Jack, Cuidados Pastorais em Hora de Crise, São Paulo, Juerp, 1988.
7. ROCHA, P. Alberto, Manual da Comunicação com os Doentes, Petrópolis, 1983.
8. AITKEN, Eleny Vassão de Paula, No Leito da Enfermidade, São Paulo, 3a
Edição, 1977.
9. JUNIOR, Almir dos Santos, Quando a Morte hegar, Rio de Janeiro, Juerp,1991
10. WHITE, John e Ken Blue, Restaurando o Ferido, São Paulo, Editora Vida.
11. KUSHNER, Harold, Quando coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas, São Paulo, Nobel.
Pr. José Linaldo de Oliveira
Capelão do HOSPITAL DE ÁVILA – E-mail: j.linaldo@uol.com.br
10

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Capelania home care

  • 1. ENCONTRO – ASSISTÊNCIA DOMICILIÁRIA • Apoio Psico-emocional ao paciente e família “Nenhum de nós crê na própria morte, ou, o que é o mesmo, nenhum de nós é inconscientemente convicto da própria imortalidade. Nosso inconsciente não aceita a idéia de dever morrer” (Sigmund Freud) Introdução. Uma das coisas mais difíceis na vida é o preparo para as situações embaraçosas ou desagradáveis. Por um instinto quase de autodefesa, o homem é muito voltado a antegozar, quase que exclusivamente, as ocorrências que lhe são favoráveis e benéficas, e por isso prepara-se para tais. Preparamo-nos para muitas coisas boas que acontecem conosco e com nossos familiares com euforia: • o nascimento do filho, seu primeiro dia de aula, sua primeira comunhão, os quinze anos, a euforia do passar no vestibular, a formatura, o casamento, a vinda do primeiro filho (neto). • preparamo-nos assim para tudo, que pode ou não acontecer, e nos esquecemos, na maioria das vezes, de nos preparar para aquilo que é a única, absoluta e permanente verdade ao lado da vida humana: o seu fim, a morte. Comenta-se que a avestruz, diante do iminente perigo, enterra sua cabeça na areia para não ver o perigo que se aproxima. • No entanto, para muitos eventos negativos não nos posicionamos adequadamente e racionalmente, digamos que isto é natural, pois, afinal de contas, os problemas e dificuldades que surgem, não são, na maioria, planejados pelo homem. Naturalmente, só ponderam,os para o futuro aquelas ocorrências que vêm ao encontro de nossa vontade, do nosso bem-estar, de nossa felicidade. Procuramos sempre adiar e protelar indefinidamente aquilo que possa servir de atropelo ou aborrecimento ao nosso melhor viver. A pessoa que pensa diferente, voltando-se apenas para os aspectos negativos da vida, é inclusive classificada como pessimista, de baixo austral, negativista, mau-humorada. • Você já pensou porque uma tão grande enxurrada de livros sobre auto-estima, pensamento positivo, energia contagiante, e outros milhares de livros best-sales são vendidos por preços exorbitantes e tem larga ala de compradores? E os livros que falam da realidade da morte, do que acontecerá depois dela?. Você compraria um livro, cujo nome seria: “PREPARE-SE PARA ESTA VERDADE, VOCÊ VAI MORRER”. É possível que o problema comece na nossa formação, e no nosso contexto social. Nos projetamos para que nada desolador nos aconteça, até que um dia acontece com alguém que amamos, com um nosso familiar que nos deixa, uns, pela enfermidade crônica vai indo lentamente, outros, de forma brusca é levado. E agora? Quando será nossa vez? Fique absolutamente certo que sua vez chegará. É preciso pois, preparar-nos para nosso dia, assim, poderemos contribuir e colaborar positivamente e profissionalmente de forma elitista, solidária e amável junto àqueles que estiverem conosco nos seus últimos dias de vida. 1
  • 2. Um casal pode ter passado anos brigando, mas quando um deles morre o outro arranca os cabelos, lamenta, chora, grita, bate no peito em sinal de pesar, medo e angústia, temendo ainda mais sua própria morte. Pode ser que o conhecimento disto seja de valia na compreensão de muitos dos velhos costumes e rituais que sobreviveram aos séculos. Podemos pensar nas cinzas, nas vestes rasgadas, no véu, nas carpideiras dos velhos tempos, meios não só de implorar piedade para eles, os chorosos, como também expressões de pesar, tristeza e vergonha, que revelam sentimentos que não distam muito da raiva e da fúria. A criança de cinco anos que perde a mãe tanto se culpa pelo desaparecimento dela, como se zanga porque ela a abandonou deixando de atender a seus rogos. Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura, que não podia ser tocada, os antigos índios americanos falavam dos espíritos do mal e atiravam flechas para o ar para afugentá-los. Muitas culturas possuem rituais para cuidar da pessoa que morre, os quais se originam deste sentimento de raiva latente em todos nós, apesar de não gostarmos de admitir isso. A tradição do túmulo pode advir do desejo de sepultar bem fundo os maus espíritos, e, as pedrinhas que muitos enlutados jogam como homenagem traduzem símbolos do mesmo desejo. Apesar de chamarmos de última despedida, a salva de tiros num funeral militar corresponde ao mesmo símbolo ritual dos índios, ao atirarem aos céus suas flechas. A morte ainda hoje constitui um acontecimento medonho, pavoroso, um medo universal, mesmo sabendo que podemos dominá-lo em vários níveis. Em nossa sociedade a morte é encarada como tabu, onde os debates sobre ela são considerados mórbidos, e as crianças afastadas sob pretexto de seria “demais” para elas. São mandadas para casa de parentes, dizem que a “mamãe” viajou, tentam protelar uma realidade dolorosa do aqui e agora, e, em conseqüência danos maiores virão decorrentes de tais posturas, que infelizmente tem sido aceita por todos. É igualmente insensato dizer que “Deus levou Joãozinho para o céu por amar as crianças” a uma menina que perdeu seu irmão. Esta menina, ao se tornar mulher, dificilmente superará sua mágoa contra Deus. Parece que quanto mais avançamos na ciência, mais tememos e negamos a realidade da morte. Recorremos aos eufemismos; fazemos que o morto pareça adormecido, mandamos que as crianças saiam, para protegê-las da ansiedade e do tumulto reinantes na casa, isto quando o paciente tem a felicidade de morrer em seu lar; impedimos que as crianças visitem seus pais que se encontram a beira da morte nos hospitais; sustentamos discussões longas e controvertidas sobre dizer ou não dizer a verdade ao paciente, dúvida que raramente surge quando é atendido pelo médico da família que o acompanhou desde o parto até a morte e que está a par das fraquezas e forças de cada membro da família. Há muitas razões para se fugir de encarar a morte calmamente. Uma das mais importantes é que, hoje em dia, morrer é triste demais sob vários aspectos, sobre tudo é muito solitário, muito mecânico e desumano. Morrer se torna um ato solitário e impessoal, porque não raro o doente é removido de seu ambiente familiar e levado as pressas para uma sala de emergência. Ele não sabe da gravidade de sua doença, é posto numa UTI, num emaranhado de aparelhos, pouco tempo disponível à visita e ausência de intimidade impedem de comunicar-se com sua família, (isto não é uma raridade com o doente levado as pressas para a UTI). 2
  • 3. 1. O PACIENTE EM FASE TERMINAL E SUA FAMILIA. Mudanças no lar e efeitos sobre toda família. Se não levarmos devidamente em conta a família do paciente, não poderemos ajudá-lo em fase terminal, nem, muito menos, poderemos ajudá-lo com eficácia. No período da doença, os familiares desempenham papel preponderante, e suas reações muito contribuem para a própria reação do paciente. A doença grave de um marido e conseqüente hospitalização pode causar mudanças radicais no lar, as quais a esposa é obrigada a se adaptar, (os cuidados dela para os filhos, a atenção a ser dada ao esposo, sobretudo à noite quando o doente está no quarto, suportar e contornar os conselhos dos vizinhos, os compromissos com o sustento da casa, a satisfação exigida por terceiros (telefonemas e visitas que querem saber do doente e só fazem perguntas), a ausência de familiares junto ao doente em horários críticos - etc.) Comentário. • Agrava-se a situação quando o doente é colocado na UTI: visitas em horários pré- determinados e as intercorrências no horário, o doente idoso e o procedimento pelo hospitalar (questão de gênero) • O paciente terminal nada sabe da gravidade de sua doença. O que poderá ocorrer em decorrência d este desconhecimento, tanto para ele, como para sua família e trabalho? (Terá ele tempo para por em ordem sua casa? Leia Isaias cap. 38) • A dignidade do morrer em casa. Menos traumático para a família? A família sofre tanto quanto o doente. O que mais se observa em um atendimento a nível hospitalar é a forte influência que os sentimentos de perda, ocorridos ao longo da vida do paciente, têm em relação à doença existente, perda esta, presente na vida do ser humano de uma forma em geral, pois desde o nascimento ele passa por perdas, as quais são desestruturantes para a personalidade do indivíduo. A criança ao nascer, perde o elo de ligação com a mãe, com o corte do cordão umbilical, o qual é substituído pelo seio materno, este irá paulatinamente sendo substituído, por outros símbolos ao longo da vida. Os símbolos são representações, que buscam substituir o objeto faltante, na tentativa de diminuir a angústia causada pela perda do objeto real, como por exemplo: a mãe, quando sai do campo de visão de um bebê, este sente como uma perda (como na brincadeira do esconde-esconde), inicialmente, quando muito nova, a criança chora, posteriormente consegue perceber que em determinados momentos pode ficar sem a mãe, sem que isto signifique para ela estar em perigo e aprende que este objeto perdido (aqui representado pela mãe), voltará para o seu campo de visão, ou seja, para a sua segurança. Cada indivíduo possui uma forma individual de elaborar suas perdas; acontecimentos semelhantes podem resultar em experiências diferentes. Isto faz de cada ser humano um ser único e que se constitui a partir das suas experiências de vida. Com as perdas surge a necessidade da elaboração do luto. Fator importante para a elaboração dessas perdas, o qual na maioria das vezes, não são “trabalhados”, (terapeuticamente) e voltam de uma forma dolorida e muito sofrida, com a hospitalização. No entanto, quando bem 3
  • 4. vivido, traz ao indivíduo uma sensação de plenitude, de fechamento e permite que as experiências sejam vivenciadas de forma menos dolorosas; sentimento já presente no estado da hospitalização. A hospitalização traz para o paciente e sua família, sentimentos de insegurança, insatisfação, confinamento, medo, invasão... No hospital ele sabe que está doente e que sua vida está sendo controlada por pessoas estranhas, sentimentos que os deixam ou muito nervosos e irritados ou acanhados e com medo. Medo principalmente do desconhecido e a partir dele muitos questionamentos surgem, como: Será que eu tenho uma doença grave? Será que vou morrer? Quando poderei ir para casa? Esses e outros questionamentos estão sempre muito presentes no discurso do paciente. Discurso esse, através do qual, com uma escuta diferenciada, pode-se, como facilitador, ajudá-lo neste momento de dor e sofrimento. Num atendimento hospitalar feito a nível psicológico, a “escuta”, já salientada, anteriormente, é a ferramenta utilizada, pelo psicólogo, com o intuito de permitir ao doente entrar em contato com a sua história de vida, trazendo à tona fatos e experiências que tiveram grande responsabilidade na sua constituição quanto pessoa, principalmente sobre a pessoa na qual cada um se transformou. É importante salientar que o trabalho feito com pacientes internados em um hospital é “agora”, pois hoje ele está internado e amanhã pode não mais estar lá. O imediatismo, e a prontidão são necessários dentro de um trabalho a nível hospitalar. O doente não espera. Naquele momento ele precisa de você. Objetivos do tratamento no final da vida Certamente, o final da vida de qualquer pessoa deve ser uma oportunidade para se reafirmar e celebrar o valor da vida, assim como aquilo que a pessoa realizou, as posições que tomou e o que significou para os demais. Para o profissional da saúde, talvez mais importante que qualquer outro princípio ao tratar os pacientes terminais, é fundamental tornar o tratamento individualizado. Isso pode ser efetuado somente quando ele conhece o paciente, respondendo às suas necessidades e interesses, acompanhando, o ritmo do paciente e permitindo que ele molde a maneira pela qual aqueles que o atendam se comportem. Weisman e Hackett cunharam o termo “morte apropriada”. Para obter a morte apropriada, os pacientes devem: 1) estar relativamente livres de dor; 2) ter as funções da maneira mais eficaz possível, dentro dos limites de sua possibilidade; 3) reconhecer e resolver conflitos residuais; 4) cumprir aqueles desejos restantes que sejam compatíveis com suas condições e ideais de ego; 5) ser capazes de passar o controle para outros em quem tenham confiança. Por exemplo, uma mãe que se depare com a morte prematura deve determinar o que e como dirá a seus filhos algo sobre sua doença e a aproximação da morte; ela deve tentar entender suas 4
  • 5. reações, dar apoio e preparar seus filhos para seus futuros sem ela. O que ela quer que eles saibam e se lembrem a seu respeito? Cuidar de seus filhos, cônjuge e amigos, fazer planos para eles e trabalhar para isso pode ocupá-la construtivamente, dando-lhe objetivos concretos de serem atingidos e um modo de sustentar sua auto-estima. A ajuda que reúne todos no fortalecimento e na melhora das relações recíprocas aborda o aspecto mais assustador da morte: a perda que determina uma sensação de abandono. A tarefa fundamental para aqueles que amam a pessoa que está morrendo é fazer o que podem para tornar o tempo mais confortável e significativo para o paciente. Elas podem ajudar o ente querido a atingir um momento do qual se orgulhem, participar de modo a que elas próprias se orgulhem de sua conduta durante este tempo e começar a preparar, para si mesmas, um memorial do ente querido com o qual possam viver pelo restante de suas vidas. Assistência ao paciente terminal A Organização Mundial da Saúde define assistência paliativa (hospice care) como “a assistência total ativa de pacientes cuja doença não seja responsiva a tratamentos curativos”. Essa definição não se refere à morte iminente do paciente, o que é um reconhecimento de que essa questão é tão perturbadora para alguns pacientes, que estes não aceitarão a assistência em questão, mesmo quando seja desesperadamente necessária. Esse é um impasse comum a enfrentar. Pode ser necessário solicitar ao paciente uma aceitação de tal assistência para benefício da família e, ocasionalmente, médico e família podem solicitar assistência em instituição, apesar da oposição do paciente. Os objetivos da assistência paliativa podem ser simplesmente expressos como a minimização agressiva das cargas do paciente e a maximização da qualidade de vida. A segunda, em geral, é um esforço para maximizar a independência do paciente, bem como um esforço intenso para ajudar o paciente a tirar o máximo de seus relacionamentos. Embora a maior parte do pessoal que dá assistência à saúde considere que o intuito do tratamento paliativo seja o conforto físico, apenas isso é muito inadequado, pois a minimização do sofrimento pessoal requer consideração e esforços maiores. Fornecendo enfermagem no domicílio, apoio aos familiares, aconselhamento espiritual, tratamento da dor, assistência médica e alguns cuidados com o paciente internado, programas de hospice care nos Estados Unidos serviram a aproximadamente 340 mil pacientes terminais em 1994, dos quais 80% tinham quadros de neoplasia. O paciente médio inscreveu-se cerca de um mês antes da morte. Nos Estados Unidos, o Medicare requer que 80% dos dias em hospice care sejam passados em casa, o que significa que, para se qualificar, os pacientes terminais devem ter uma casa e uma família capaz de proporcionar assistência. Quanto mais intensivos os serviços de suporte, melhor para o paciente, para os familiares e os profissionais de saúde. As características essenciais do hospice care para pacientes com câncer são descritas por Billings. Os programas para pacientes terminais comumente servem de igual maneira a pacientes com Aids ou câncer, ou pacientes terminais com outras afecções, inclusive portadores de doenças cardiovasculares e pulmonares, AVC, demência e insuficiência orgânica crônica. Ainda não se sabe se poderá ser efetuado dentro das contenções fiscais da assistência à saúde contemporânea. 5
  • 6. Abordagem abrangente ao possível controle do sofrimento pessoal no final da vida Apoio: Copyright 1998 © - NeuroPsicoNews Essa problemática relacionada ao paciente terminal recebeu um estudo muito detalhado pela psiquiatra e tenatóloga Elizabeth Kubler-Ross, partindo da prática, conversando e entrevistando pacientes com câncer, Kubler-Ross descobriu que, em geral, esses pacientes passam por cinco fases, desde quando desencadeia a moléstia até o fim da vida: 1. primeira reação começa com a NEGAÇÃO, 2. a segunda fase é a de REVOLTA, 3. superada a revolta, o paciente entra na fase de BARGANHA, 4. essa fase vai até que o doente entra em DEPRESSÃO, 5. superadas essas quatro fases, ele entra na fase de ACEITAÇÃO. “A morte é também um caminho de separação, um perder os próprios objetos de amor, um romper ligações afetivas mais importantes, os apegos aos objetos de amor sobre os quais se apóia a própria identidade: o trabalho, as relações, os projetos, a casa, os hábitos, os pontos de referências, o próprio corpo, a imagem de si, a autonomia, as raízes... a vida” (Pe. Anísio Baldessin). 2. A FAMÍLIA, DEPOIS QUE SE DEU A MORTE. O pai voltou do funeral. Por trás da janela, seu filho de sete anos, olhos arregalados, amuleto pendurado no pescoço, mergulhado em pensamentos difíceis demais para sua idade. O pai pegou-o nos braços e o menino perguntou: “onde está a mamãe?”. “No céu”,respondeu o pai, apontando para o azul imenso. O menino ergueu os olhos e se quedou a contemplar o céu em silêncio. Sua mente confusa lançou um brado na noite: “onde está o céu?”. Não ouviu resposta. E as estrelas pareciam lagrimas ardentes daquela escuridão taciturna. (Tagore – o fugitivo, parte II, XXI). “Um bom conselho, dado na hora certa, é tão valioso quanto uma bandeja de prata coberta de maçãs de ouro. O conselho que o amigo dá de coração é agradável como um perfume suave” (Pv. 25:11; 27:9). Vale ressaltar que a pessoa enferma enfrenta profunda turbulência na sua vida psicológica e emocional. Bem sabemos que todo o desequilíbrio emocional intenso exerce grande influência na vida física do indivíduo, produzindo-lhe graves e sérios problemas. Todos os doentes estão sujeitos a sérios distúrbios emocionais, bem como seus familiares são por eles afetados. A capelania hospitalar objetiva assim alcançar também a família do paciente Desta forma, todo hospital ou casa de saúde deve se preocupar, não somente com a saúde física do doente, mas também com a saúde emocional e espiritual. É o homem no seu todo e não apenas no seu físico que necessita dos cuidados hospitalares 6
  • 7. A enfermidade, seja ela causada por um acidente ou qualquer alteração física, tende a provocar no homem surpresas desagradáveis. A maior dor sentida num hospital nem sempre é a dor física, mas,é a dor da solidão, é a dor do abandono, é a dor da rejeição, é a dor de sentir-se inválido e dependente de pessoas desconhecidas. É uma espécie particular de dor e solidão. No hospital o doente, como SER HUMANO, sofre inúmeras agressões: 1. O paciente, como pessoa humana é tirada de seu ritmo normal de vida 2. Interrompe seus planos, confundindo seus alvos 3. Desestabiliza sua situação financeira 4. Desprotege-o da intimidade de sua família 5. Distancia-o de seus amigos 6. Tira-lhe a roupa e lhe dão nova roupagem (como se sente o paciente com as roupas do hospital?) 7. Todos, de alguma forma, exercem autoridade sobre ele: enfermagem, higienização, manutenção, serviços gerais, nutrição, etc... 8. É, algumas vezes, quando impossibilitado de ser removido, literalmente despido na enfermaria para o banho ou mudança de sua roupa, causando-lhe sentimentos de vergonha, por sentir-se exposto também aos demais doentes do seu quarto. 9. É acometido por um sentimento de intranqüilidade, inquietude, insegurança e solidão. 10. Ficam ausentes também todos os sons, aromas, e percepções visuais do seu ambiente usual 11. Muitas vezes em lugar do seu nome, recebe um número ou o nome científico da gravidade de sua doença 12. O hospital é um local estranho, entre pessoas desconhecidas, onde o paciente como pessoa humana perde sua identidade e autonomia. Sua mente fervilha com inúmeras perguntas que ecoam sem encontrar respostas. Em poucos instantes, todos os seus dias passam como um filme em sua mente. Para que avaliar cada pensamento, cada ato de sua vida passada? Será que valeu a pena? Será que o que pensou ser vida até agora era mesmo viver? Será que sua corrida atrás de prazeres fúteis e passageiros pode dar sentido à sua vida? Qual a sua razão de viver? Como viver agora se lhe amputarem um dedo, um braço ou uma perna? Como continuar a viver se for constatado que tem um tumor maligno? Psicólogos e psiquiatras são chamados, numa tentativa de ajudar o paciente a encontrar suas próprias respostas, mas como? Nenhum remédio receitado pode aliviar sua mente da culpa, da tensão, da necessidade do encontro pessoal com Deus. Nada e nem ninguém pode preencher este vazio. Só o próprio Deus pode preencher. Deus pode e Deus deseja. Para o doente sua vida é mais importante do que qualquer coisa. Nada é para ele mais importante do que ele mesmo. Não lhe interessa os acidentes ecológicos, nem a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, nem os problemas decorrentes da alta do dólar, muito menos a fome e violência que avassala a sociedade. No hospital todo seu interesse é ele mesmo e o que sucederá a ele. É compreensível sua atitude, podemos dizer que ele tem razão. Afinal para que existe hospital? médicos? Toda infra-estrutura técnica e tecnológica? Se o homem consegue grandezas na ciência e tecnologia, por que não consegue sarar sua enfermidade? 7
  • 8. É aí que o capelão como Ministro da Palavra de Deus, faz parte da equipe multidisciplinar, tornando-se responsável pelo atendimento espiritual, fraterno, amigo, solidário ao paciente. É aí que o capelão com sua habilidade deve transmitir o Evangelho da Paz, da esperança, da fé. Deve complementar o atendimento dispensado ao indivíduo por parte dos médicos e da enfermagem. O paciente tem o direito de ser “validado”. 1. Como pessoa humana. 2. Como pessoa humana em estado de debilidade física e emocional. 3. Como pessoa humana feita à imagem e semelhança de Deus, o Eterno Criador. 4. Como pessoa humana que no seu “silêncio” fala alto, grita e quer ser ouvido. O capelão é, quando solicitado, encarregado de ministrar os cuidados religiosos e ajudar a pessoa enferma a reencontrar o equilíbrio perdido ou alterado. De igual modo é de sua responsabilidade ajudar o doente a aceitar a realidade da doença que o acometeu bem como as suas conseqüências. O paciente não pode considerar-se vítima da sorte, como também não deve aceitar passivamente a doença. A pessoa doente precisa aceitar a enfermidade dentro do quadro geral da vida humana que é limitada. O paciente através da capelania vai descobrir que a doença também revela fatores positivos e significativos. O capelão deve incutir no paciente o senso de tranqüilidade e confiança, preparando-o de forma amável, para o tratamento que se seguirá. A pessoa doente, devido ao seu estado de saúde abalado, carece por direito adquirido, humano e legal, de amizade, compreensão e amor, e ela espera encontrar tudo isso no hospital como um todo, e especialmente no capelão, que para ela é o Ministro da Palavra de Deus. “Um coração ansioso deixa o homem frustrado e derrotado, mas uma palavra amiga de ânimo e simpatia renova as forças” (Provérbios. 12:25 - Bíblia Viva) “O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra dita há seu tempo, quão boa é. Favo de mel são as palavras agradáveis, doçura para a alma e saúde para os ossos” (Provérbios 15:23; 16:24). O que você vê, Enfermeira? O que você vê enfermeira, o que você vê? O que você está pensando quando você me olha? Uma velha rabugenta, pouco inteligente, inconstante de hábitos, com olhar distante! Que cospe seu alimento e nada replica, quando você diz em voz alta “Eu quero que você tente”. Que parece não observar as coisas que você faz, e sempre está perdendo uma meia do sapato. Que, resistindo ou não, deixa você fazer o que quer. 8
  • 9. Com banho e alimentação durante o longo dia a preencher. É isto que você está pensando, é isto que você vê? Então abra seus olhos, você não está olhando para mim. Eu Ihe direi quem sou, como eu sinto aqui tão tranqüila. Como me movimento a seu comando, como eu como à sua vontade. Eu sou uma pequena criança de dez anos com um pai e uma mãe, irmãos e irmãs, que se amam uns aos outros. Uma jovem de dezesseis anos com asas a seus pés, sonhando que a qualquer instante encontrará o amor. Uma noiva aos 20 anos, meu coração dá um salto, relembrando os votos que eu prometi manter. Aos 25 anos agora eu tenho filhos, que necessitam de mim para construir um lar feliz e seguro. Uma mulher de trinta, minha prole agora cresce rápido. Ligados uns aos outros com laços eternos. Aos quarenta, meus filhos agora irão partir, porém meu marido permanece a meu lado para que eu não me lamente. Aos cinqüenta, mais uma vez bebês brincam a minha volta. Novamente nos conhecemos. crianças, meu único amor e eu. Dias negros me acompanham, meu marido está morto, eu olho para o futuro, eu estremeço com receio, por meus filhos, ocupados em construir sua própria família. E eu recordo os anos e o amor que eu tive. Eu sou uma senhora idosa agora, e a natureza é cruel, é seu gracejo fazer a pessoa idosa parecer boba. O corpo desagrega, a graça e o vigor desaparecem, e agora há uma pedra onde anteriormente tinha um coração. Mas no interior desta velha carcaça, uma jovem calma habita, e agora novamente meu coração exaurido expande-se. Eu relembro as alegrias, eu relembro a dor, e eu estou amando e vivendo a vida novamente, eu penso nos anos, todos muito poucos, passados tão rápidos, e aceito a realidade que nada pode durar. Então, abra seus olhos, enfermeira... Abra e veja, não sou uma velha rabugenta, olhe mais perto. Veja-me. (Anônimo. Tem sido relatado que esse poema foi encontrado com os pertences de uma senhora idosa que morreu em uma enfermaria em Ireland, do Journal of Gerontological Nursing, 2:26, junho, 1976). 9
  • 10. Cuidado no adeus à vida Você é presença mesmo sabendo o que todos sabem: Estou morrendo! Você acredita e cuida de mim, tenha ou não cura. Você sabe perder tempo comigo, embora eu não tenha forças para lhe agradecer você me faz sentir como alguém único e muito especial. Você não se concentra no meu mau humor ou doença, mas me trata com dignidade de pessoa. você não me vê apenas como um moribundo, mas como alguém vivo Você diz “Boa-noite”, que não significa “adeus”, mas me transmite a certeza de que voltará pela manhã. Você é capaz de fortalecer minha fé, de que a vida não termina com a morte! Pe. Passini, Camiliano. Sigamos o conselho do apóstolo Paulo: “Sorri com os que sorriem e chorai com os que choram” (Rm.12:15). Faremos melhor pastoral do luto quando descobrimos que é muito difícil chorar sozinho, chorar sem alguém a quem possamos encostar a cabeça. CONSULTAS BIBLIOGRÁFICAS RECOMENDADAS. 1. ADAMS, Jay E. Conselheiro Capaz, São Paulo, Editora Fiel Ltda, 1977. 2. VARGAS, Heber Soares, Psicologia do Envelhecimento, Porto Alegre, RS, BYK Editorial, 1983. 3. KUBLER-ROSS, Elisabeth, Sobre a Morte e o morrer, São Paulo, Martins Fontes, 8a edição, 1977. 4. BALDESSIM, Anísio, Como Fazer Pastoral da Saúde, São Paulo, Edições Loyola, 2000. 5. RUDIO, Franz Victor, Orientação Não-Diretiva na Educação, no Aconselhamento e na Psicoterapia, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 13ª Edição, 1999. 6. YOUNG, Jack, Cuidados Pastorais em Hora de Crise, São Paulo, Juerp, 1988. 7. ROCHA, P. Alberto, Manual da Comunicação com os Doentes, Petrópolis, 1983. 8. AITKEN, Eleny Vassão de Paula, No Leito da Enfermidade, São Paulo, 3a Edição, 1977. 9. JUNIOR, Almir dos Santos, Quando a Morte hegar, Rio de Janeiro, Juerp,1991 10. WHITE, John e Ken Blue, Restaurando o Ferido, São Paulo, Editora Vida. 11. KUSHNER, Harold, Quando coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas, São Paulo, Nobel. Pr. José Linaldo de Oliveira Capelão do HOSPITAL DE ÁVILA – E-mail: j.linaldo@uol.com.br 10