O documento discute como os jovens são representados em revistas de notícias portuguesas entre 2000-2008. As revistas raramente abordam questões relacionadas aos jovens e suas escolhas profissionais. Quando o fazem, geralmente retratam jovens de forma desigual, dependendo de fatores como classe social e acesso à educação.
1. Samira Ortet, Márcia Bento, Ana Beatriz Ferreira, Patrícia Valério
Sociologia da Educação I – Licenciatura Educação e Formação
Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
MEDIA E EDUCAÇÃO
2. Jovens e vocações e as suas escolhas – Vídeo montado com peças televisivas por Samira Ortet, Ana Beatriz Ferreira, Márcia Bento e Patrícia Valério
APRESENTAÇÃO
3. OS FATORES SOCIAIS NAS DECISÕES INDIVIDUAIS
Família
Escola
Amigos
Media
4. Qual o enquadramento nacional das profissões, que caminho tem seguido o país. Como se reflete na educação, como se caracteriza a sociedade portuguesa.
O EMPREGO E O ENSINO
6. VALORES DA E PÓS MODERNIDADE
Como se realiza a entrada no mundo laboral?
Passagem do pleno emprego para a flexibilização e desemprego estrutural
Confronto de valores relacionados com o trabalho
Valores materialistas
Valores pós-materialistas
Como se realizou a transição entre os valores
Essa transição está ou não relacionada com crise económica e desemprego
7. VALORES MODERNOS E PÓS MODERNOS
Segurança física
Segurança económica
Atribuição de sentido
Desenvolvimento pessoal
Sentimentos de pertença
Sentimentos de auto-estima
VALORES MATERIALISTAS
VALORES PÓS MATERIALISTAS
8. SISTEMA DE EMPREGO
Dos anos 60 para os anos 90
Agricultura e indústria perdem peso na população activa portuguesa
42% da geração que frequentou o ensino médio no inicio da década de 90 descendia de pais com habilitações ao nível do ensino básico
23,4% de empresários e dirigentes eram filhos de pais operários
9. SISTEMA DE EMPREGO
Em 2001 as profissões intelectuais quadruplicaram 2,8% para 8,6%
Operários não especializados mantém os 30% de quase 50 anos
De 2000 a 2010 predominam prestadores de serviços pouco qualificados, sector transformativo tradicional, pequenas empresas e administração pública
Crescente dinamismo banca e seguros
Emergência do imobiliário
Sector das novas tecnologias
12. STATUS SOCIAL
O Sistema de Ensino Superior, geralmente considerado um dos principais canais de promoção da mobilidade – apesar de ter crescido massivamente nas últimas décadas, e acolher hoje um volume significativo de estudantes provenientes dos estratos da classe média-baixa e trabalhadora -, debate-se com indefinições diversas e muitos jovens que o frequentam, vêem-se perante a impossibilidade de aceder a uma profissão que lhes garanta um estatuto socioprofissional substancialmente superior ao das suas famílias de origem.
13. STATUS SOCIAL
O sucesso educacional, no plano da formação superior, é o elemento fundamental no estímulo à mobilidade social
O sucesso educacional é a ligação mais forte entre o capital humano e a produtividade laboral
Em Portugal, as habilitações alcançadas pelos pais – nomeadamente o facto de o pai ter ou não o ensino secundário completo – são o factor mais influente na conclusão de um curso superior por parte do filho
In “A Classe Média: Ascenção e Declínio” (Estanque,2012)
14. MOBILIDADE, IMOBILIDADE E REPRODUÇÃO SOCIAL
Mobilidade social associada a classe média
Mudanças de estrutura do emprego e os efeitos sociais relacionados
Oportunidades ao dispor dos mais talentosos
Acesso com base no mérito posições socioprofessionais mais compensatorias
15. PONTO CHAVE: EDUCAÇÃO
“os níveis educacionais e as características ocupacionais das variáveis demográficas são considerados referências para a definição dos valores do trabalho. A educação é ponto chave em todas as estratégias de desenvolvimento e o esforço de modernização na sociedade portuguesa foi notório nas últimas décadas.” (Ponte, 2012)
18. Cristina Ponte
Observatório (OBS*) Journal, vol.6 – nº4 (2012), 077-107
*CIMJ, FCSH – Universidade Nova de Lisboa
Jovens e escolhas vocacionais em magazines informativos portugueses (2000-2008)
19. MEDIA: A REVISTA GENERALISTA
Capacidade de surpreender
Fornecer temas (in)esperados
Confirmação de impressões
Espelho onde leitores se encontram
Domínios de interesse dos leitores
Convocação directa
Sugestão indentitária
20. MEDIA: A REVISTA GENERALISTA
Quem são os leitores:
Durante décadas a imprensa diária foi associada ao leitor adulto, do sexo masculino, cidadão culto e letrado
As revistas penetram mais nas leitoras adultas, pela sua linguagem:
Uso de expressões defensivas
Recurso à avaliação emocional mais do que á avaliação intelectual
Uso de intensificadores de expressão, diminutivos e adjectivos
Artigos de comportamento, resportagem, testemunhos, perfis e histórias exemplares
21. “Este efeito de espelho é realizado pela escrita e pela imagem”
PODIA SER VOCÊ!
22. Revista semanal
Ano 52 semanas – 52 edições
Leitores
Classe Média, Média Baixa
Zona Sul e Grande Lisboa
Revista semanal
Ano 52 semanas – 52 edições
Leitores entre os 25 e os 44 anos
Classe Alta, Média Alta, Média Baixa
Quadros Médios e Superiores
Residentes em regiões Urbanas
Revista semanal Ano 52 semanas – 52 edições Leitores todas as classes Território Nacional e Madeira
AS REVISTAS GENERALISTAS
23. 0S JOVENS, ESCOLHAS VOCACIONAIS E O TRABALHO
Com que frequência se fala(va) do tema em revistas informativas de grande circulação?
Como se falava de emprego juvenil entre 2000 e 2008?
Em que momentos aparecem referenciadas as opções vocacionais?
Quais as perspectivas profissionais dos jovens?
Que jovens aparecem?
Que jovens estão ausentes?
Como são apresentados os jovens?
28. SER JOVEM EM “REVISTA”
Jovens em plural
Idade, geração, histórias da atualidade:
Oportunidades/desafios ensino superior
Precariedade laboral
Vivências geracionais na recessão e crise
Jovens que se distinguem
Enfoque em projectos e desempenhos:
Notável sucesso escolar
Artistas
Cientistas
Desportistas de Alta Competição
Contexto Cosmopolita
Experiência de vida transcende fronteiras
Busca pelo saber, beleza e vigor
GERACIONAL – 17 PEÇAS
EXCEPCIONAL – 18 PEÇAS
29. “São apolíticos, consumistas e um pouco menos letrados que os seus colegas Europeus. Recusam o individualismo e ainda não se desligaram da “roupa de marca”. Em Portugal, a geração que sucede à X adora o telemóvel, a Net e os Chats. Mas só agora começa a ter comportamentos“à la Britney Spears”:Sexo seguro ou só depois do casamento…”
in Visão N.º481 – 23 a 28 Maio 2002
JOVENS – A GERAÇÃO
30. “Individualistas e consumistas,
cultivam mais corpo do que os livros.
não passam sem as novas tecnologias.
mas também são capazes dos
sentimentos mais nobres, política é que não:
metade dos 375 mil novos eleitores não tenciona
votar, nas próximas eleições”
JOVENS – A GERAÇÃO
31. “Têm as melhores qualificações de sempre e vivem no país europeu com o menor número de licenciados. Mesmo assim, os jovens portugueses não arranjam emprego ou esbarram na precariedade. Retrato de uma geração adiada. “
In Visão N.º 782 28 de Fevereiro de 2008
JOVENS – A GERAÇÃO
32. JOVENS – A GERAÇÃO
Jovens no plural, como grupo de idade e geração
Histórias marcadas pela atualidade
Oportunidades e desafios de estudante no contexto do ensino superior
Precariedade laboral
Vivências geracionais num ciclo de recessão e crise económica
Duas narrativas distintas
Condição dos jovens estudantes
Retrato geracional com interesses e preocupações dos jovens e empregabilidade (destaque após 2005)
33. JOVENS – A GERAÇÃO
Diversidade de oportunidades dos jovens
Valorização
Mobilidade social
Optimismo
Competitividade
Calculismo
Ambição
Valores materialistas
Pai: Eng.º Civil Mãe: Empresária
É um dos futuros génios da Nação. […] O avô é o seu ídolo:”Era uma pessoa de poucas posses mas subiu a pulso na vida.
In Domingo 14/12/2002
Pai: Empresário Mãe: Bancária Reformada
Escolheu o curso de Estudos Africanos com o secreto sonho de trabalhar numa ONG e judar aquele país (Angola)
In Domingo 14/12/2002
34. JOVENS – A GERAÇÃO
“As trajectórias e as escolhas vocacionais (ou a sua ausência) em excertos nas legendas de imagens de jovens fotografados nos seus ambientes, evidenciam as diferenças entre os meios, capitais educacionais, as perspectivas de futuro:” (Ponte, 2012)
Sofia Marques 1.º Ano de Medicina A média de 19,73 valores valeu-lhe um prémio
Puto da Musgueira
Aluno do Ensino recorrente
“Era um rebelde”: Abandonou a escola aos 15 anos sem saber ler nem escrever
35. OS EXCEPCIONAIS – vocação e esforço
Vocação pressentida desde cedo
Valores idealistas, pós materialistas
envolvimento afectivo/desenvolvimento pessoal
Sinais de transmissão cultural por parte das famílias
Predominância de meios socioeconómicos mais favorecidos e com maior capital cultural
“Eu sempre gostei de matemática, mas tive uma professora primária que me incentivava e a minha mãe também gostava dessa disciplina”
In Domingo 22/10/2000
36. OS EXCEPCIONAIS – redes e trajectórias
As redes sociais, as influências de professores, os conhecimentos do meio e as hipóteses económicas de ir estudar para fora do país são especialmente importantes para os jovens cientistas. Claramente há quem um capital social mais alargado ou mais restrito, em relação com a posse de capital económico e cultural, recorrendo de novo aos conceitos de Bourdieu. As oportunidades decorrentes não são iguais para todos”
Além dos amigos, Miguel Santos conta aínda com o forte apoio dos pais In Domingo 22/10/200
Michelle tinha apenas 9 anos quando os pais foram abordados por um olheiro norte- americano
37. OS EXCEPCIONAIS - vivências
Em discurso directo
Enfoque na paixão e num tempo sem horários
Despojamento e recusa de valores materiais
“Que tem um trabalho como o meu é uma pessoa de sorte, porque é como se tivesse um hobby, e não um empreso na verdadeira acepção da palavra. Quando existe um desafio para vencer trabalha-se 24 horas sem cansaço e com as mais alta motivação” In Domingo Magazine 01/01/2006
“Gosto muito do que faço. Faço-o durante 12 horas/dia. Nunca paramos porque a ciência é isso mesmo. In Domingo Magazine 03/12/2006
38. OS EXCEPCIONAIS – iniciativa e pioneirismo
Sucesso associado ás habilitações académicas
Sucesso associado à credibilidade dos graus académicos
Outras formas de considerar o sucesso:
Perfis de sucesso de jovens sem formação universitária
Jovens de sexo feminino que optam por profissões tradiconalmente masculinas
Jovens imigrantes com excecional rendimento escolar
39. OS EXCEPCIONAIS – cá dentro/lá fora
Sobretudo jovens cientistas
Contrastes de políticas públicas de intervenção nas ciências e artes
“O ambiente universitário inglês é mais dinâmico. Contactamos com pessoas que publicam em grandes revistas”
In Visão 16/08/2001
“Continua a faltar uma aposta clara na ciência, financiamento que chegue a tempo e horas e o fortalecimento da carreira de investigação” In Visão 25/08/2005
41. CARACTERIZAÇÃO
Revelou-se uma escassa atenção e espaço editorial atribuido a problemáticas associadas a jovens e à sua consideração enquanto agentes dessas escolhas.
Tendência para publicação das temáticas num momento de agenda de acontecimentos reduzida – verão
Clara desigualdade por tipo de revista
42. CARACTERIZAÇÃO
Domingo,
associa-se ao jornal popular – constitui-se como um espelho para aqueles que, em contextos de menores capitais educacionais e de desfavorecimento económico, se empenham em “virar o destino”.
Noticias Magazine
distingue-se pela quase ausência de atenção a este tema.
Visão
Com uma voz rápida, reduzida e redutors, apresenta imagem de jovens com condições de progressão nos seus estudos, de desenvolvimento das suas capacidades intelectuais e de redes sociais. O que no final causa a deceção aos jovens ao tentarem entrar no mercado de trabalho.
43. CARACTERIZAÇÃO
Essa diferença é transversal a ambas as grandes narrativas identificadas:
a dos jovens excecionais
dos jovens enquanto grupo e geração.
44. CARACTERIZAÇÃO
Embora com marcas de diálogo, o discurso destas revistas é dominado pela voz editorial
É marcadamente influenciada pela agenda política
É repleta de detalhes aparentemente banais e de impressões que fornecem um background sobre a sociedade envolvente
Revela a forma como o jornalismo está a trabalhar estas problemáticas e como as poderia trabalhar de forma a:
Estimular a reflexão acerca dos temas
Apelar à participação dos jovens
45. ENTÃO QUAL O VERDADEIRO PAPEL DOS MEDIA NAS DECISÕES VOCACIONAIS?
46. M. Benedita Portugal e Melo
Sociologia da Educação Revista Luso-Brasileira ano 2 n 4 Dezembro 2011
Escolhas escolares e opções profissionais – entre a família a escola e os amigos, que papel desempenham os media?
47. ENTÃO QUAL O PAPEL DOS MEDIA?
A sua influência depende sempre de um conjunto diversificado de factores
Fazendo-se sentir no plano das intenções, conhecimentos, crenças ou opiniões
Têm o poder de nos dizer sobre que assuntos devemos pensar e como devemos pensar sobre esses mesmo assuntos
48. FONTES UTILIZADAS PELOS ALUNOS
Fontes de Informação
N
%
Mãe
981
55,3
Amigos
973
54,8
Professores
969
54,6
Psicólogos/Orientadores Vocacionais
962
54,3
Internet
822
46,3
Pai
816
46,0
Outros familiares
503
28,4
Irmãos
395
22,30
TV
281
15,80
Revistas
171
9,60
Jornais
164
9,20
Fonte: Inquérito aos alunos 2009 – ICS (Melo, 2011)
49. QUE FONTES UTILIZAM OS JOVENS?
Fontes de Informação
N
%
Mundo Escolar (professores, orientadores)
1309
73,0
Família ( pai, mãe, irmãos, outros)
1206
67,9
Amigos
973
54,8
Internet
822
46,3
Media Tradicionais (TV, revistas, jornais)
386
21,5
Fonte: Inquérito aos alunos 2009 – ICS (Melo, 2011)
50. QUE FONTES UTILIZAM OS JOVENS?
A influência dos media é mediada e amenizada por outras redes informativas
No caso de estudantes de meios sociais cultural e económicamente privilegiados, a família, mais concretamente a mãe, desempenha uma papel relevante no seu processo de escolha
No caso de estudantes sem acesso a “bússolas parentais” (por ausência de recursos culturais), irmãos ou outros familiares, assim como pares e a escola são as referências
51. QUE FONTES UTILIZAM OS JOVENS?
Os media (novos e tradicionais) são uma fonte complementar de in(formação) de recurso
Utilizada ao nível da consolidação e reorientação
A internet é mais procurada do que jornais e a TV
52. OS MEDIA NAS ESCOLHAS VOCACIONAIS
As entrevistas e inquéritos realizados, mostram que os meios de comunicações sociais ocupam um lugar inferior em relação ao peso das redes familiares e de pares, nas escolhas vocacionais jovens
È a figura da mãe, ou de quem exerce o papel maternal, que ocupa o lugar de destaque
Associação da mãe, com a leitora de revistas generalista, levando a uma complementação de ambos os estudos efectuados (Ponte, 2012) e (Melo, 2011)
53. A ESCOLA, A FAMÍLIA E A REPRODUÇÃO SOCIAL
A escola se tem revelado um mecanismo de reprodução das diferenças sociais, as variáveis de tipo social, como o nível socioeconómico ou as habilitações literárias dos pais são também importantes quer para as escolhas vocacionais, quer para os tipos de percurso escolar dos alunos. (César, 1992)
54. PORTUGAL E OS MEDIA
“Em Portugal tem sido diagnosticada uma «fraca interação» entre a imprensa e a opinião pública (Oliveira, 1995), denunciada pela inexistência de um massivo público leitor de jornais (Seaton e Pimlott, 1983), não obstante existir uma forte relação, ou mesmo «interpermutação» (Garcia, 1995), entre a imprensa e a elite política. No passado, esta diferenciação manifestou-se num profundo distanciamento entre a «maioria sociológica» e as «minorias ideológicas», de modo que a monopolização do poder simbólico pelas elites acentuou o fosso comunicacional entre estas e as massas (Cabral, 1998).”