A entrevista discute a história e situação atual da produção vinícola no Brasil. O entrevistado explica que a produção comercial teve início na década de 1870 com a imigração italiana e que, apesar da longa tradição, os vinhos brasileiros ainda são pouco conhecidos no exterior. Ele também destaca os esforços de promoção da qualidade dos vinhos brasileiros e as regiões mais receptivas e indiferentes a eles.
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)
Brasilidades vinho
1. Entrevista:
Carlos Eduardo
Corrêa Nogueira
C
arlos Eduardo Corrêa Nogueira é Dire-
tor de Negócios Internacionais da viní-
cola brasileira Miolo, uma das maiores
do País. Em entrevista a Textos do Brasil, No-
gueira comenta as qualidades dos vinhos brasi-
leiros e relata um pouco da bem-sucedida histó-
ria do plantio de uvas e da produção de vinhos
finos no Brasil. Segundo o engenheiro agrôno-
mo, pelo fato de a tradição vinícola brasileira ser
pouco conhecida no exterior, seus produtos ain-
da encontram certa resistência em alguns merca-
dos, não obstante seu alto padrão de qualidade.
Desse modo, Nogueira relata algumas iniciativas
que estão sendo empreendidas para romper os
estereótipos que, por vezes, são impostos ao vi-
nho brasileiro, a fim de transformá-lo no mesmo
sucesso internacional em que se constituem a cai-
pirinha e a cachaça brasileiras.
Sabores do Brasil 157
2. Barris.
Fonte: Vinícola Miolo Ltda
158 Textos do Brasil . Nº 13
3. TB: Quais as origens da produção Efetivamente, como
vinícola no Brasil?
CECN: O primeiro registro de vitivinicul- uma atividade
tura no Brasil data de 1538 com Brás Cubas, no comercial, o início da
litoral paulista, que começou a estudar o desen-
volvimento da cultura. Depois disso, algumas vitivinicultura se deu
mudas foram propagadas, principalmente pelos a partir de 1875, com a
jesuítas. Instalou-se na região de Sete Povos das
Missões e nas ilhas do estuário do rio Guaíba. imigração dos italianos
Mas, efetivamente, como uma atividade comer-
para o Brasil
cial, o início da vitivinicultura se deu a partir de
1875, com a imigração dos italianos para o Brasil
CECN: A divulgação, principalmente no
exterior, é feita através do Wines from Brazil, que
TB: No Brasil a tradição vinícola, é a nossa grande entidade representativa da viti-
apesar de toda essa longevidade, ainda vinicultura nacional em termos de exportação. É
é pouco conhecida. Quais os trabalhos um programa setorial integrado, feito com apoio
das instituições relacionadas ao da APEX (Agência de Promoção de Exporta-
mundo do vinho para melhorar a ções e Investimentos), no qual outras entidades,
imagem dos vinhos brasileiros? como o Sebrae, se aliam como parceiras. A ação
CECN: As instituições, hoje, têm trabalha-
do Wines from Brazil visa justamente à promoção
do intensamente com sua divulgação. A idéia
do vinho brasileiro no exterior. Hoje, se não me
principal é divulgar. A Uvibra, especificamente,
engano, são 17 vinícolas associadas. Essas viníco-
já tem 0 anos, atuando em âmbito nacional. É
las se reúnem para promover o Brasil no exterior,
o principal fórum de defesa da vitivinicultura
participando de feiras; fazendo visitas técnicas a
brasileira e de gestão junto aos governos. Sua
mercados; fazendo eventos de promoção – como
principal ação, e que queremos desenvolver ain-
jantares harmonizados com vinho –, eventos de
da mais, é a promoção do vinho brasileiro por
degustação em hotéis, restaurantes e nas pró-
meio de campanhas publicitárias, de divulgação
prias embaixadas (o corpo diplomático tem nos
do consumo do vinho e das suas características
auxiliado bastante). Na área internacional, essas
benéficas à saúde. Essa é a principal missão das
são as principais atividades.
entidades, além de defender o setor e de traba-
lhar junto ao Governo na elaboração de políticas
TB: Quais são os mercados que estão
setoriais.
sendo mais receptivos e quais os mais
indiferentes em relação ao vinho
TB: Existe algum plano de divulgação brasileiro?
da Uvibra ou dos produtores de CECN: Os mercados mais receptivos são
vinhos? Como é feito esse processo os tradicionais consumidores de vinho, como o
de divulgação, principalmente no mercado europeu e o americano. Esses mercados
exterior? já maduros reconhecem qualidade. Não adianta
Sabores do Brasil 159
4. A grande diversidade, por sua vez, a maioria dos vinhedos encontram-
se em regiões semidesérticas. Essa grande di-
não só climática versidade, não só climática e de solo, mas, até
mesmo, cultural, faz com que tenhamos uma di-
e de solo, mas, até
versidade de produção muito grande, conseguin-
mesmo, cultural, faz do oferecer produtos que outros países, tradicio-
nais produtores, não conseguem. Isso tem sido
com que tenhamos
o nosso grande diferencial no mercado externo.
uma diversidade de Não estamos nos mostrando como mais alguém
que chegou para vender vinho barato; estamos
produção muito grande,
levando vinhos sofisticados, diferenciados e de
conseguindo oferecer valor agregado. Esse é o principal posicionamen-
to dos vinhos brasileiros. Portanto, mercados já
produtos que outros maduros, que reconhecem qualidade, que sabem
países, tradicionais abrir duas garrafas de vinho e dizer: “bom, essa
aqui realmente vale mais do que a outra”, são os
produtores, não mercados mais receptivos.
conseguem. Os mercados menos receptivos são os pou-
co maduros, que ainda não conhecem vinhos,
tentar vender um produto de qualidade para al- que compram por reputação. O Brasil, por não
guém que não sabe reconhecê-la. Portanto são os ter uma tradição vinícola muito grande e ainda
mercados mais maduros os que aceitam o nosso não ser reconhecido internacionalmente como
produto, essencialmente porque o vinho brasi- um grande produtor de vinho, muitas vezes so-
leiro, hoje, apresenta excelente relação custo/be- fre preconceitos e não consegue entrar em mer-
nefício, principalmente nas categorias premium cados emergentes, como China e América Latina,
para cima. O Brasil, atualmente, não está se po- os quais ainda não têm a cultura e o hábito de
sicionando para brigar na questão de preços de consumir vinhos. Nossos principais mercados
vinhos com Argentina e Chile, principalmente são: Estados Unidos, Suíça, França, Alemanha,
por uma questão de volume de produção. O Bra- Inglaterra. Todos tradicionais produtores de vi-
sil produz cerca de 0 milhões de litros de vinho nho, fora a Inglaterra.
fino, enquanto a Argentina produz 1,2 bilhão e o
Chile 900 milhões. Eles têm condição de produzir TB: Além desse problema da falta de
vinhos com menor preço, em função da economia conhecimento do vinho brasileiro,
de escala. Entretanto, em termos de qualidade, o quais são os outros desafios para a
Brasil, por ter uma diversidade climática muito promoção do vinho no exterior?
maior que esses países, produz vinhos desde o CECN: O primeiro desafio é tornar o Bra-
extremo Sul até o Nordeste. No Chile e na Ar- sil um país conhecido como produtor de vinho.
gentina, por exemplo, todos os vinhedos são irri- É necessário conseguir incutir na mente do con-
gados com água gelada dos Andes; na Austrália, sumidor internacional que falar de vinho e falar
160 Textos do Brasil . Nº 13
5. Parreiras.
Fonte: Vinícola Miolo Ltda
Sabores do Brasil 161
6. Atualmente o Brasil da Campanha no Rio Grande do Sul. Desejamos
que, no futuro, essas tipicidades regionais sejam
está se focando em reconhecidas, como acontece na maior parte dos
países do mundo que já têm esse trabalho avan-
vinhos com qualidade
çado.
premium para cima,
TB: Já existem denominações de origem
que têm maior valor
no Brasil? Quais são?
agregado. Portanto o CECN: Sim. A primeira denominação de
origem que surgiu no Brasil, o Vale dos Vinhe-
nosso segundo desafio
dos, data de 2001. É uma indicação geográfica.
é, justamente, fazer Outras regiões estão trabalhando para isso, mas,
atualmente, com reconhecimento do INPI como
com que o consumidor indicação geográfica, só o Vale dos Vinhedos.
internacional Existem no Brasil zonas de produção, o que é
obrigatório para exportação, caso contrário, o
reconheça essa mercado não reconhece como vinho fino. Há a
qualidade que estamos zona de produção da fronteira, que abrange a
região sul do Rio Grande do Sul, a zona de pro-
oferecendo. dução da Serra Gaúcha e a zona de produção
do Vale do Rio São Francisco, que engloba toda
do Brasil não é uma coisa tão absurda. O que, a zona de produção no Nordeste. A idéia é que
hoje, ainda é corrente, embora isso já esteja mu- se ampliem e que se criem novas zonas de pro-
dando. O segundo passo é mostrar que o vinho dução, principalmente, com o desenvolvimento
brasileiro é um produto de alta qualidade e que da região. Em Santa Catarina, por exemplo, de-
apresenta uma relação custo/beneficio acima da senvolvem-se trabalhos muito bons, o que pode
média. Atualmente o Brasil está se focando em fazer com que, em um futuro próximo, vire uma
vinhos com qualidade premium para cima, que zona de produção e, quem sabe até, algumas in-
têm maior valor agregado. Portanto o nosso se- dicações de procedências.
gundo desafio é, justamente, fazer com que o
consumidor internacional reconheça essa quali- TB: Muitos especialistas afirmaram
dade que estamos oferecendo. O terceiro desafio, que o Brasil não teria condições de
em uma etapa bem mais avançada, é conseguir produzir vinhos de alta qualidade,
diferenciar as regiões internas do Brasil para o dada sua tropicalidade. Quais os
consumidor internacional. Serão necessários ain- fundamentos dessa afirmação?
da alguns anos de apresentação e de comunica- CECN: Quem pôs fim a essa teoria de que
ção do produto brasileiro no exterior, para que se vinhos de qualidade somente poderiam se pro-
consiga reconhecer um vinho da região do Vale duzidos em regiões temperadas, entre os para-
dos Vinhedos, um da região Nordeste brasileira, lelos 0 e 5 norte e sul, foram os neozelandeses,
um de Santa Catarina, ou um vinho da região que produzem vinhos de ótima qualidade acima
162 Textos do Brasil . Nº 13
7. de 5° de latitude sul. Os canadenses também, e da importadora Expand. Com isso, observa-se
com os ices wines, ajudaram a derrubar essa teo- que esse projeto não é invenção recente, pois se
ria. Então acredito que o Nordeste vai acabar to- trata de 67 anos de desenvolvimento, que já dei-
talmente com essa idéia. Na verdade, existe uma xou de ser, há algum tempo, um desafio ou uma
universalidade de produção de uva. Já está per- curiosidade, para ser tornar uma realidade. Um
feitamente comprovado que se pode produzir dos comentários da principal crítica de vinhos
desde a Groelândia até o Nordeste brasileiro. Pa- inglesa, Jancis Robinson, foi da qualidade dos vi-
íses que eram piadas no mundo do vinho, como nhos produzidos no Nordeste do Brasil, que pos-
a Inglaterra, da qual se dizia “isso é raro como suem alguns varietais bem desenvolvidos, bem
vinho inglês”, hoje, produzem excelentes vinhos. característicos e plenamente adaptados à região.
Esse lobby de uma região preferencial, foi posto Entre eles, podemos citar o Shiraz e o Moscatel.
abaixo há muitos anos. Hoje, o Brasil, com a sua O que se está buscando hoje no Nordeste são no-
dimensão continental, só não tem produção de vas variedades de uvas adaptadas à região para
vinho na Amazônia. No restante do País, há re- ampliar a gama de produção. Mas as variedades
giões de produção bastante interessantes, vinhos já instaladas, como Cabernet Sauvignon, Shiraz,
bem interessantes, projetos muito bem desenvol- Moscatéis e Chenin Blanc, estão plenamente de-
vidos, que vêm avançando rapidamente. senvolvidas, estão no mercado internacional e já
são reconhecidas.
TB: Como está atualmente o projeto
de plantio de uva no São Francisco? TB: Onde se encontra a maior parte da
Muitos, afirmavam que não seria produção de vinhos no Brasil ?
possível produzir uvas de qualidade, CECN: Pode-se considerar que a maior
mas, atualmente, se produz duas parte da produção nacional, uns 90%, no que diz
safras de uva ao ano. respeito a vinhos finos, está no Rio Grande Sul.
CECN: Exatamente. Esse projeto do Vale Apenas de 5% a 7% da produção está concentra-
do São Francisco é muito interessante e bastan- da no Nordeste brasileiro. No Brasil, existe uma
te antigo, pois foi iniciado na década de 0 pela grande diferença entre vinhos finos e vinhos
Cinzano, que lá produzia vermute. Em 1970, a comuns. Para se ter uma idéia, o total do mer-
fazenda Milano, do grupo Persico Pizzamiglio, cado brasileiro está ao redor de 350 milhões de
desenvolveu um projeto muito interessante, tam- litros. Dessa quantia, 268 milhões, são de vinhos
bém na parte de produção de vinhos. Em 1980, comuns, que são os elaborados de uvas híbridas
por sua vez, a vinícola Aurora deu início a um americanas. O restante, 82 milhões de litros, é de
projeto chamado “Bebedouro”, que incentivava vinhos finos, os que se originam de uvas vitiviní-
a migração de famílias produtoras de uva para feras (Cabernet, Merlot, Chardonnay, etc ).
aquela região. Atualmente, vários projetos es-
tão se estabelecendo lá, como Garziera do Bra- TB: Quais as principais qualidades do
sil, Garziera da Itália, Bianchetti Tedesco, Ouro vinho brasileiro?
Verde, Botticelli, que já é bem antigo, e, mais CECN: Acho que falar do vinho brasileiro
recentemente, a Rio Sol, que surgiu da união da como um todo é um pouco complicado. Nós te-
portuguesa Dão Sul, grupo Raimundo da Fonte mos uma diversidade de produção muito gran-
Sabores do Brasil 163
8. de. Podemos falar das características dos vinhos o consumo de vinho aumenta e há maior valori-
da Serra Gaúcha, das características dos vinhos zação do produto nacional. Isso acontece muito
da região Nordeste, dos vinhos de Santa Cata- no exterior, onde os consumidores já sabem reco-
rina. Cada região tem uma característica muito nhecer um produto de qualidade. Acredito que,
diferente. Agora, o que se pode dizer é que a no Brasil, isso logo se reverterá.
maior produção está no Rio Grande do Sul. As Logicamente, não é total responsabilidade
principais características seriam leveza e uma do consumidor. Os produtores têm grande par-
forte presença de fruta. São vinhos muito fru- ticipação nessa má percepção do vinho brasilei-
tados, com um excelente equilíbrio entre estru- ro. Nos últimos 10 anos é que houve um grande
tura e acidez. Como são muito equilibrados na investimento na produção nacional de vinhos
graduação alcóolica, isso faz com que tenhamos finos e um aumento incrível em qualidade. Mui-
vinhos leves e agradáveis de beber. Mas, como tos consumidores brasileiros não acompanharam
eu disse, o Brasil é muito grande. Temos, dentro essa evolução e ainda têm a imagem de que o vi-
do próprio Rio Grande do Sul, a região da Fron- nho brasileiro é um produto de baixa qualidade.
teira ou a região da Campanha, onde pela exce- Antigamente, essa imagem distorcida até se justi-
lente condição climática e do solo, temos vinhos ficava em alguns produtos pela baixa tecnologia
também muito frutados, muito estruturados, oferecida, mas, atualmente, o Brasil está à frente
mas com uma graduação alcóolica mais elevada de muitos países antigos e tradicionais produ-
em função do grande déficit hídrico na época de tores, porque adquirimos tudo que há de mais
colheita. Entretanto, via de regra, pode-se dizer moderno em termos de elaboração de vinho; as
que a principal característica do vinho brasileiro principais vinícolas brasileiras têm consultores
é ser frutado, leve, aromático e bem equilibrado internacionais que auxiliam na elaboração e no
na graduação alcóolica. aporte de tecnologia. Isso fez com que, em um
período de dez anos, o vinho brasileiro entrasse
TB: O vinho nacional ainda sofre num patamar de qualidade internacional, tanto é
preconceito por parte dos próprios que está sendo reconhecido mundo afora como
brasileiros? Qual é o vinho preferido um produto exportável.
pelo paladar brasileiro?
CECN: Sim, sofre bastante preconceito TB: Existem diferenças entre os
ainda. O Brasil se enquadra naqueles países que vinhos brasileiros consumidos no País
ainda não estão maduros. O nosso consumo per e os que são destinados à exportação?
capita está ao redor de 1,8 litros/ano. Segundo da- CECN: São basicamente os mesmos produ-
dos de 2007, o total da venda de vinhos finos no tos, inclusive são embalados no mesmo momen-
Brasil é de 70 milhões de litros: 22 milhões são to. A diferença está somente no rótulo, porque o
nacionais e 8 milhões são importados. No que do vinho exportado apresenta as características
diz respeito aos espumantes, o mercado é de 12 legais do país de destino. O que se observa é que,
milhões de litros: 7 milhões e 600 mil são nacio- com relação ao vinho exportado, o mercado pro-
nais e milhões e 500 mil são importados. O que cura e consome vinhos de maior valor agregado,
se percebe é que, à medida que a cultura cresce, premium para cima.
164 Textos do Brasil . Nº 13
9. TB: A qualidade do espumante Nos últimos cinco
brasileiro o coloca entre os melhores
no mundo. Quais suas características? anos, o Brasil somente
CECN: A principal região de produção perdeu para a região
de espumantes é a Serra Gaúcha. As variedades
como Chadornnay, Pinot Noir, os próprios pro- de Champagne, na
seccos, se adaptaram muito bem à essa região França, em termos
que, por causa do solo e do clima, faz com que
esses produtos apresentem frescor e muita jo- de número de prêmios
vialidade. O espumante brasileiro é um produto
internacionais de
bastante aromático, cujo frescor é proporcionado
pelo excelente balanço entre acidez e estrutura. espumantes.
Nas regiões onde não se tem essa estrutura e
acidez, os espumantes são menos refrescantes, e e a dar importância ao preço. Nesse nicho, quan-
essa característica de frescor do espumante bra- do você quer qualidade e não está disposto a pa-
sileiro faz com que ele se destacasse internacio- gar um preço muito alto, entram os espumantes
nalmente. Pode-se dizer que, nos últimos cinco brasileiros, que são produtos de qualidade, mas
anos, o Brasil somente perdeu para a região de não tão caros. É nesse mercado que o Brasil está
Champagne, na França, em termos de número de se inserindo em termos de espumantes.
prêmios internacionais de espumantes.
TB: O sucesso no exterior da
TB: E como é a receptividade dos caipirinha e da cachaça brasileiras,
espumantes brasileiros no exterior? quase como ícones pátrios, inibe a
CECN: O grande problema com relação projeção externa dos nossos vinhos?
à exportação de espumantes é que o Brasil não CECN: Tudo o que você fala e apresenta de
produz espumantes comuns, nossa exportação qualidade do Brasil no mundo ajuda o vinho bra-
está focada em espumantes premium, e o mer- sileiro. No exterior, fala-se muito bem da caipiri-
cado está dominado por espumantes baratos, nha, que é um ícone brasileiro, e também dentro
principalmente as cavas espanholas e os prosec- do nosso País ela é considerada um excelente
cos italianos – produtos que dominam o mercado drink. As diferentes iniciativas, sejam as da ca-
no patamar de preços baixos. Já nos produtos de chaça, dos vinhos, dos nossos estilistas, das nos-
valor agregado, os franceses por toda reputação sas modelos, ou dos nossos jogadores de futebol,
que têm, praticamente dominam sozinhos o mer- fazem um sucesso internacional fantástico. Tudo
cado. Mas o mercado está mudando. O consumo que se divulga, mostrando um Brasil sofisticado,
de espumantes que não era muito grande no alegre, com todo o seu lado bom, ajuda, sim, a
mundo, limitava-se a ocasiões de festas e a mo- promoção do vinho brasileiro. A Alemanha, hoje,
mentos de celebração já está começando a entrar é um dos principais consumidores de caipirinha
no consumo diário. Já se vê, no Brasil e no mun- do mundo, e um dos principais mercados para a
do, as champanharias – bares que vendem espu- cachaça, e a Alemanha é igualmente um excelen-
mantes – onde se começa a valorizar a qualidade te importador de vinhos brasileiros.