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− fim do radicalismo
da fase heroica
Soneto da perdida esperança
Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.
Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.
Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa
com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.
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As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
(“Poema das Sete Faces”)
− mantêm-se alguma liberdade de expressão; resgata-
se um pouco da poesia tradicional
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No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(“Quadrilha”)
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b) eu < mundo
Sentimento do Mundo (1940); A Rosa
do Povo (1945)
− tematiza a angústia existencial
Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.
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Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
(“Os Ombros Suportam o Mundo”)
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b) eu < mundo
Sentimento do Mundo (1940); A Rosa
do Povo (1945)
− tematiza a angústia existencial
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem sequer as minhas dores.
(“Mundo Grande”)
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b) eu < mundo
Sentimento do Mundo (1940); A Rosa
do Povo (1945)
− tematiza a angústia existencial
− solução: Fraternidade
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
(“Mãos Dadas”)
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b) eu < mundo
Sentimento do Mundo (1940); A Rosa
do Povo (1945)
− solução: Fraternidade
rosa = esperança
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
(“A Flor e a Náusea”)
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c) eu = mundo
O mundo é grande e pequeno.
(“O Caso do Vestido”)
− postura de equilíbrio emocional
Claro Enigma (1951); Lição de Coisas (1962)
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Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
(“As Sem Razões do Amor”)
19. O indivíduo “retorcido”
Terra natal
Família
“Amigos”
Choque social
Amor “amaro”
Metalinguagem
Exercícios lúdicos
Reflexões metafísicas
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E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
(“José”, 1942)
28. – poesia simbolista: imagens vagas; musicalidade;
tom pessimista
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Viagem (1939), Vaga Música (1942),
Mar Absoluto (1945)
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No meio do mundo faz frio,
faz frio no meio do mundo,
muito frio.
Mandei armar o meu navio.
Volveremos ao mar profundo,
meu navio!
No meio das águas faz frio.
Faz frio no meio das águas,
muito frio.
(“Prazo de Vida”)
− poesia que explora o sentido de universalidade
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Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
(“Canção”)
31. – poesia histórico-lírica: exaltação aos inconfidentes
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Romanceiro da Inconfidência (1953)
− universaliza o tema Liberdade
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Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.
(...)
E os seus tristes inventores
já são réus - pois se atreveram
a falar em Liberdade
(que ninguém sabe o que seja).
(...)
(Liberdade - essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!)
(“Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência”)
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Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros...
- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!
(“Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério”)
Joaquim Silvério dos Reis
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(“Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério”)
Joaquim Silvério dos Reis
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso e impenitente
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)