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Tribuna de debates para o VI Encontro Nacional da APS
Para se agarrar às beiradas e emergir da crise
Magda Furtado, Leci Carvalho e Carlos Faleiro – membros da CEAPS/RJ.
Alguns textos enviados à Tribuna de Debates para o VI Encontro Nacional da APS
permitem a leitura de que estão empenhados em que esse evento fique pelo caminho,
sem chegar a um termo. Estamos nos referindo aos documentos “Nossa crise...”, de Gesa
Correa, e “APS - um balanço mais que necessário”, assinado por Gesa, Lujan, Moacir e
outros militantes. Da maneira como se colocam, distribuindo acusações seletivas e
apontando culpados da crise nacional com base em antipatias e divergências pessoais, a
convivência política entre camaradas de uma mesma corrente corre risco de ser
inviabilizada. Sem essa convivência e acordo político mínimo, não é possível supor que
se pretenda despender esforços, recursos e tempo para um Encontro Nacional em
comum, pois não há debate possível nessas circunstâncias. Por essa razão, não
respondemos antes nem responderemos agora aos diversos ataques que foram feitos
nessa tribuna a nós que assinamos este documento. Sabendo que no fundo do poço de
uma crise ainda há um alçapão, propomos nos agarrar às beiradas para emergir e
reconstruir as pontes possíveis.
Entretanto, algumas palavras precisam ser ditas, tanto em relação à situação da APS no
Rio quanto às acusações de manipulação de militantes e mandonismo na corrente. Em
primeiro lugar, repudiamos o ataque machista desferido contra duas militantes mulheres
da CEAPS/RJ no documento intitulado “Nossa crise...”, assinado por Gesa Corrêa. Ali
está feita a chocante suposição de que um militante, nomeado como secretário executivo
da corrente (Carlos Faleiro), teria recebido a “tarefa prioritária” de “incentivar e concretizar
o racha no estado onde mora”. Portanto, trata-se de uma acusação não só ao militante,
mas também a duas companheiras da APS que com ele assinam diversos documentos
(Magda Furtado e Leci Carvalho) de serem marionetes controladas por um militante que
veio para o Rio, antes supostamente em paz harmoniosa, com a missão secreta de
instalar a crise, o que teria feito ao cooptar as duas dirigentes, aparentemente tão frágeis.
Como agravante desse roteiro ficcional, toda a crise da APS nacional é atribuída às ações
de um específico dirigente nacional, que no documento “APS – um balanço necessário”, é
nomeado “Presidente da APS”. Essa espantosa avaliação, além de absurda, menospreza
não só os militantes acusados como também o conjunto da militância da corrente. Nessa
linha, o documento “Nossa crise...” interroga, na página 5, coroando a trama ardilosa: “se
não tivessem tido apoio de integrantes da Coordenação Nacional continuariam na lógica
de aumentar os problemas, transformando-os em crise da APS no Rio de Janeiro?”
Não podemos nos calar diante desse ataque machista a duas mulheres da APS/RJ, ao
se supor que seriam manipuladas por um militante aqui implantado, a mando de outrem,
para “transformar problemas em crise”. Essa mera suposição é tão ofensiva quanto
diversionista, pois desmerece nossa capacidade de crítica e elaboração da realidade,
desviando a atenção dos verdadeiros motivos da crise da APS/RJ: a resistência a uma
situação de mandonismo local e estranhas práticas políticas de uma fração da APS aqui
no Rio, o que terminou por rachar publicamente nossa corrente, depois de um longo
histórico de defecções de valorosos militantes.
Infelizmente, é muito mais fácil atribuir a uma suposta influência externa de um
deus/presidente poderoso os nossos problemas nacionais e locais, que foram se
avolumando até se cristalizar em uma crise que não pode ser distorcida dessa forma, do
que fazer autocrítica. A situação de crise no Rio não vem de agora, apesar de
surpreender alguns dirigentes nacionais; sua motivação é política, e não pessoal. Só se
sustentou por tanto tempo com base em cerceamento das informações, ao se concentrar
todas as atribuições e representação nacional exclusivamente em uma dirigente nacional,
o único nome do Rio em todas as instâncias e uma só voz a trazer informes e fazer
avaliação das reuniões nacionais. Essa situação, incompatível com o perfil e
funcionamento da APS, começou a ruir quando outros militantes passaram a frequentar
reuniões nacionais da corrente, adquirindo condições de questionar versões de quem
atuava como uma presidente local de fato.
A partir do esgarçamento dessa situação, deu-se a abertura da “Caixa de Pandora” da
APS/RJ, da qual saltaram práticas políticas que não estão no marco da APS e denotam
contradições insuperáveis. Como exemplo, podemos citar o alinhamento de mão única
com posicionamentos da CST no PSOL e alianças oportunistas no PSOL de Nova Iguaçu
com setores atrasados do partido que compõem a Unidade Socialista (grupo “PSOL para
todos”, de Janira Rocha e Nilton Nalin, principal articulador político na Baixada
Fluminense). No campo sindical a situação também se mostra bastante grave, com
composições amplamente denunciadas com setores de partidos da direita, como PT,
PCdoB, PDT e PSDB, inclusive em atuação contra correntes da esquerda do PSOL. Na
Região dos Lagos são notórias as relações da APS no SEPE com militantes do PDT,
partido do poder local em diversas gestões. Com relação ao PSDB, trata-se de aliança
formal na composição da direção do SEPE de Nova Iguaçu, com indicação de diretor
desse partido na cota da APS. Do ponto de vista da construção e organização da APS, a
fração comandada por Gesa e aliados tenta promover um inchaço da APS-RJ tratando a
base do SEPE como se fosse militância da corrente, incluindo pessoas que nunca
participaram dos nossos espaços coletivos, nem contribuíram para sua construção efetiva
– estamos nos referindo especificamente ao caso de “militantes” de Cabo Frio. Essa
concepção equivocada se reflete em especial na organização da APS, com reuniões
marcadas e desmarcadas a partir do calendário do SEPE, sem que isso se reverta
efetivamente em construção real da corrente.
Os desdobramentos dessas práticas são públicos e concorrem diretamente para o
isolamento da APS perante as demais correntes da esquerda do PSOL/RJ. Em Nova
Iguaçu, essas alianças foram feitas com o espantoso intuito de se retirar a maioria da
própria APS, em guerra aberta contra a presidente do diretório, Leci Carvalho. É isso
mesmo: em Nova Iguaçu, a APS não só atua publicamente de maneira divergente, como
é a principal adversária da própria APS – inclusive com ataques levianos em documentos
enviados por email aos dirigentes estaduais do partido, como já notificamos e
comprovamos.
Pululam nessa fração da APS/RJ exemplos inaceitáveis de várias outras práticas políticas
em avançado estado de degeneração, como dirigente sindical proprietária de escola,
eleições forjadas para delegados ao congresso do SEPE, utilização indevida de licenças
sindicais, denúncias concretas de machismo, burocratização aguda e mandonismo
naturalizado. A coroar tudo isso, a incapacidade de articulação e a absoluta falta de
prioridade para o próprio PSOL no Rio, a despeito de toda a disponibilidade para
participar das instâncias nacionais. Os que assinam este documento representam a
resistência a tudo isso – e por isso nos agarramos à beirada do abismo para emergir da
crise. Antes de nós, muitos outros sucumbiram.
Como as coisas precisam ser nomeadas com clareza, é necessário fazer uma
constatação: a APS no Rio está publicamente rachada. São duas correntes, não só
diferentes como adversárias. Fizemos todos os sinais de alerta possíveis em diversos
documentos, por mais de um ano, mas nossos apelos foram tachados de “intervenção”
pela fração nacional e minimizados pela CNAPS. Já levamos a questão à Coordenação
Nacional, que emanou resolução não implementada a propósito de mediação por uma
comissão, que teria a tarefa hercúlea de encontrar possíveis veredas no abismo da crise,
que se tornou insustentável para todos nós. Foram feitas algumas propostas, tanto pela
ENAPS e membros da comissão, quanto por nós, não respondidas pelas demais partes,
incluindo membros da própria comissão. Enquanto isso, a crise nacional foi se agravando,
com os sinais de fracionamento se avolumando a olhos vistos. Neste momento, tanto a
crise do Rio quanto a crise nacional da APS parecem ser parte de um mesmo cenário. O
cenário de um filme já visto antes.
A tarefa que se impõe a todos nós é nos recursarmos a tomar parte nesse roteiro,
ancorando-nos aos nossos princípios. Se nos ativermos ao que está em nosso Perfil e
Funcionamento, deliberando o que deve ser deliberado, escapamos da beira do abismo –
ainda que alguns possam seguir outros caminhos, como parecem já estar trilhando.
Magda Furtado, Leci Carvalho e Carlos Faleiro – membros da CEAPS/RJ. Rio de
Janeiro, 18 de maio de 2015.

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VI ENAPS - Tribuna de Debates - Para se agarras às beiradas e emergir da crise

  • 1. Tribuna de debates para o VI Encontro Nacional da APS Para se agarrar às beiradas e emergir da crise Magda Furtado, Leci Carvalho e Carlos Faleiro – membros da CEAPS/RJ. Alguns textos enviados à Tribuna de Debates para o VI Encontro Nacional da APS permitem a leitura de que estão empenhados em que esse evento fique pelo caminho, sem chegar a um termo. Estamos nos referindo aos documentos “Nossa crise...”, de Gesa Correa, e “APS - um balanço mais que necessário”, assinado por Gesa, Lujan, Moacir e outros militantes. Da maneira como se colocam, distribuindo acusações seletivas e apontando culpados da crise nacional com base em antipatias e divergências pessoais, a convivência política entre camaradas de uma mesma corrente corre risco de ser inviabilizada. Sem essa convivência e acordo político mínimo, não é possível supor que se pretenda despender esforços, recursos e tempo para um Encontro Nacional em comum, pois não há debate possível nessas circunstâncias. Por essa razão, não respondemos antes nem responderemos agora aos diversos ataques que foram feitos nessa tribuna a nós que assinamos este documento. Sabendo que no fundo do poço de uma crise ainda há um alçapão, propomos nos agarrar às beiradas para emergir e reconstruir as pontes possíveis. Entretanto, algumas palavras precisam ser ditas, tanto em relação à situação da APS no Rio quanto às acusações de manipulação de militantes e mandonismo na corrente. Em primeiro lugar, repudiamos o ataque machista desferido contra duas militantes mulheres da CEAPS/RJ no documento intitulado “Nossa crise...”, assinado por Gesa Corrêa. Ali está feita a chocante suposição de que um militante, nomeado como secretário executivo da corrente (Carlos Faleiro), teria recebido a “tarefa prioritária” de “incentivar e concretizar o racha no estado onde mora”. Portanto, trata-se de uma acusação não só ao militante, mas também a duas companheiras da APS que com ele assinam diversos documentos (Magda Furtado e Leci Carvalho) de serem marionetes controladas por um militante que veio para o Rio, antes supostamente em paz harmoniosa, com a missão secreta de instalar a crise, o que teria feito ao cooptar as duas dirigentes, aparentemente tão frágeis. Como agravante desse roteiro ficcional, toda a crise da APS nacional é atribuída às ações de um específico dirigente nacional, que no documento “APS – um balanço necessário”, é nomeado “Presidente da APS”. Essa espantosa avaliação, além de absurda, menospreza não só os militantes acusados como também o conjunto da militância da corrente. Nessa
  • 2. linha, o documento “Nossa crise...” interroga, na página 5, coroando a trama ardilosa: “se não tivessem tido apoio de integrantes da Coordenação Nacional continuariam na lógica de aumentar os problemas, transformando-os em crise da APS no Rio de Janeiro?” Não podemos nos calar diante desse ataque machista a duas mulheres da APS/RJ, ao se supor que seriam manipuladas por um militante aqui implantado, a mando de outrem, para “transformar problemas em crise”. Essa mera suposição é tão ofensiva quanto diversionista, pois desmerece nossa capacidade de crítica e elaboração da realidade, desviando a atenção dos verdadeiros motivos da crise da APS/RJ: a resistência a uma situação de mandonismo local e estranhas práticas políticas de uma fração da APS aqui no Rio, o que terminou por rachar publicamente nossa corrente, depois de um longo histórico de defecções de valorosos militantes. Infelizmente, é muito mais fácil atribuir a uma suposta influência externa de um deus/presidente poderoso os nossos problemas nacionais e locais, que foram se avolumando até se cristalizar em uma crise que não pode ser distorcida dessa forma, do que fazer autocrítica. A situação de crise no Rio não vem de agora, apesar de surpreender alguns dirigentes nacionais; sua motivação é política, e não pessoal. Só se sustentou por tanto tempo com base em cerceamento das informações, ao se concentrar todas as atribuições e representação nacional exclusivamente em uma dirigente nacional, o único nome do Rio em todas as instâncias e uma só voz a trazer informes e fazer avaliação das reuniões nacionais. Essa situação, incompatível com o perfil e funcionamento da APS, começou a ruir quando outros militantes passaram a frequentar reuniões nacionais da corrente, adquirindo condições de questionar versões de quem atuava como uma presidente local de fato. A partir do esgarçamento dessa situação, deu-se a abertura da “Caixa de Pandora” da APS/RJ, da qual saltaram práticas políticas que não estão no marco da APS e denotam contradições insuperáveis. Como exemplo, podemos citar o alinhamento de mão única com posicionamentos da CST no PSOL e alianças oportunistas no PSOL de Nova Iguaçu com setores atrasados do partido que compõem a Unidade Socialista (grupo “PSOL para todos”, de Janira Rocha e Nilton Nalin, principal articulador político na Baixada Fluminense). No campo sindical a situação também se mostra bastante grave, com composições amplamente denunciadas com setores de partidos da direita, como PT, PCdoB, PDT e PSDB, inclusive em atuação contra correntes da esquerda do PSOL. Na Região dos Lagos são notórias as relações da APS no SEPE com militantes do PDT, partido do poder local em diversas gestões. Com relação ao PSDB, trata-se de aliança
  • 3. formal na composição da direção do SEPE de Nova Iguaçu, com indicação de diretor desse partido na cota da APS. Do ponto de vista da construção e organização da APS, a fração comandada por Gesa e aliados tenta promover um inchaço da APS-RJ tratando a base do SEPE como se fosse militância da corrente, incluindo pessoas que nunca participaram dos nossos espaços coletivos, nem contribuíram para sua construção efetiva – estamos nos referindo especificamente ao caso de “militantes” de Cabo Frio. Essa concepção equivocada se reflete em especial na organização da APS, com reuniões marcadas e desmarcadas a partir do calendário do SEPE, sem que isso se reverta efetivamente em construção real da corrente. Os desdobramentos dessas práticas são públicos e concorrem diretamente para o isolamento da APS perante as demais correntes da esquerda do PSOL/RJ. Em Nova Iguaçu, essas alianças foram feitas com o espantoso intuito de se retirar a maioria da própria APS, em guerra aberta contra a presidente do diretório, Leci Carvalho. É isso mesmo: em Nova Iguaçu, a APS não só atua publicamente de maneira divergente, como é a principal adversária da própria APS – inclusive com ataques levianos em documentos enviados por email aos dirigentes estaduais do partido, como já notificamos e comprovamos. Pululam nessa fração da APS/RJ exemplos inaceitáveis de várias outras práticas políticas em avançado estado de degeneração, como dirigente sindical proprietária de escola, eleições forjadas para delegados ao congresso do SEPE, utilização indevida de licenças sindicais, denúncias concretas de machismo, burocratização aguda e mandonismo naturalizado. A coroar tudo isso, a incapacidade de articulação e a absoluta falta de prioridade para o próprio PSOL no Rio, a despeito de toda a disponibilidade para participar das instâncias nacionais. Os que assinam este documento representam a resistência a tudo isso – e por isso nos agarramos à beirada do abismo para emergir da crise. Antes de nós, muitos outros sucumbiram. Como as coisas precisam ser nomeadas com clareza, é necessário fazer uma constatação: a APS no Rio está publicamente rachada. São duas correntes, não só diferentes como adversárias. Fizemos todos os sinais de alerta possíveis em diversos documentos, por mais de um ano, mas nossos apelos foram tachados de “intervenção” pela fração nacional e minimizados pela CNAPS. Já levamos a questão à Coordenação Nacional, que emanou resolução não implementada a propósito de mediação por uma comissão, que teria a tarefa hercúlea de encontrar possíveis veredas no abismo da crise, que se tornou insustentável para todos nós. Foram feitas algumas propostas, tanto pela
  • 4. ENAPS e membros da comissão, quanto por nós, não respondidas pelas demais partes, incluindo membros da própria comissão. Enquanto isso, a crise nacional foi se agravando, com os sinais de fracionamento se avolumando a olhos vistos. Neste momento, tanto a crise do Rio quanto a crise nacional da APS parecem ser parte de um mesmo cenário. O cenário de um filme já visto antes. A tarefa que se impõe a todos nós é nos recursarmos a tomar parte nesse roteiro, ancorando-nos aos nossos princípios. Se nos ativermos ao que está em nosso Perfil e Funcionamento, deliberando o que deve ser deliberado, escapamos da beira do abismo – ainda que alguns possam seguir outros caminhos, como parecem já estar trilhando. Magda Furtado, Leci Carvalho e Carlos Faleiro – membros da CEAPS/RJ. Rio de Janeiro, 18 de maio de 2015.