Combatendo as pragas
A revista de novembro traz uma matéria especial sobre as alternativas de combate às pragas da cana-de-açúcar, inimigas que vêm causando grandes prejuízos aos canaviais, mas, por outro lado, novas tecnologias surgem como alternativas como solução para estes problemas. Como no caso do projeto Harpia, que possibilitou localizar áreas infestadas através de imagens coletadas via satélite. A ferramenta foi disponibilizada aos associados da Canaoeste, por meio de parceria entre a entidade e a BASF. O especial mostra também a cobertura de eventos como o II Encontro Técnico sobre Pragas Canaoeste e o Experts Cana. Além de lançamento de produto para ajudar no controle e manejo das pragas.
O destaque do mês fica por conta dos resultados do projeto Caminhos da Cana, como também de matéria que mostra que a FAO-ONU aponta o Brasil como principal ator para suprir a demanda de alimentação global. Também tem destaque a inauguração da misturadora de fertilizante da Yara, em Sumaré-SP, a cobertura da Conferência Internacional DATAGRO sobre Etanol e Açúcar e a reunião da Canaplan, que estima moagem de 544 milhões de toneladas na safra atual. Outro destaque é a matéria que mostra que investir em irrigação é uma alternativa para aumentar a produtividade dos canaviais brasileiros
A edição 101 traz ainda entrevistas com Arnaldo Jardim, deputado federal (PPS-SP), e com José Orive, presidente da Organização Internacional do Açúcar (ISO na sigla em inglês).
Além da Coluna Caipirinha, assinada pelo Professor Marcos Fava Neves, opinam no “Ponto de Vista” Guilherme Nastari e Ciro Antonio Rosolem. Já o engenheiro agrônomo da Canaoeste, André Volpe, assina artigo técnico sobre a sistematização de áreas e preparo de solo.
As notícias do Sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred, assuntos legais, informações setoriais, classificados e dicas de leitura e de português também podem ser conferidos na revista de novembro.
3. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
3
Editorial
A
revista de novembro traz uma matéria especial sobre as alternativas de combate às
pragas da cana-de-açúcar, inimigas que vêm causando grandes prejuízos aos cana-
viais, mas, por outro lado, novas tecnologias surgem como alternativas como solução
destes problemas. Como no caso do projeto Harpia, que possibilitou localizar áreas infesta-
das através de imagens coletadas via satélite. A ferramenta foi disponibilizada aos associados
da Canaoeste, por meio de parceria entre a entidade e a BASF. O especial mostra também a
cobertura de eventos como o II Encontro Técnico sobre Pragas Canaoeste e o Experts Cana,
além de lançamento de produto para ajudar no controle e manejo das pragas.
O destaque do mês fica por conta dos resultados do projeto Caminhos da Cana, como tam-
bém de matéria que mostra que a FAO-ONU aponta o Brasil como principal ator para suprir a
demanda de alimentação global. Também tem destaque a inauguração da misturadora de fer-
tilizante da Yara, em Sumaré-SP, a cobertura da Conferência Internacional DATAGRO sobre
Etanol e Açúcar e a reunião da Canaplan, que estima moagem de 544 milhões de toneladas na
safra atual. Outro destaque é a matéria que mostra que investir em irrigação é uma alternativa
para aumentar a produtividade dos canaviais brasileiros.
Aedição 101 traz ainda entrevistas comArnaldo Jardim, deputado federal (PPS-SP), e com
José Orive, presidente da Organização Internacional do Açúcar (ISO na sigla em inglês).
Além da Coluna Caipirinha, assinada pelo Professor Marcos Fava Neves, opinam no “Pon-
to de Vista”, Guilherme Nastari e Ciro Antonio Rosolem. Já o engenheiro agrônomo da Ca-
naoeste, André Volpe, assina artigo técnico sobre a sistematização de áreas e preparo de solo.
As notícias do Sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred, assuntos legais, informa-
ções setoriais, classificados e dicas de leitura e de português também podem ser conferidos
na revista de novembro.
Combatendo as pragas
Boa leitura!
Conselho Editorial
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Impressão: São Francisco Gráfica e Editora
Revisão: Lueli Vedovato
Tiragem DESTA EDIçÃO:
21.500 exemplares
ISSN: 1982-1530
A Revista Canavieiros é distribuída gratuitamente
aos cooperados, associados e fornecedores do
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As matérias assinadas e informes publicitários
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reprodução parcial desta revista é autorizada,
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4. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
4
10 - Ponto de Vista
Guilherme Nastari
Diretor da DATAGRO
- Presidente da Canaoeste participa de 7º Congresso da UDOP
- Reuniões Técnicas Canaoeste
18 - Notícias Canaoeste
Ano VIII - Edição 101 - Novembro de 2014 - Circulação: Mensal
Índice:
E mais:
Capa - 22
Especial Pragas:
Pragas sob controle
O projeto Harpia, uma parceria
da Canaoeste com a BASF, coletou
imagens de canaviais via satélite e
mapeou áreas de baixa biomassa,
permitindo um controle mais rápi-
do e eficaz em casos de infestação
por pragas
16 - Notícias Copercana
- Copercana é parceira do Posto de Recebimento de Embalagens Vazias de Defensi-
vos Agrícolas de Campo Florido
20 - Notícias Sicoob Cocred
- Balancete Mensal
Pontos de Vista
Ciro Antonio Rosolem
.....................página 12
Coluna Caipirinha
.....................página 14
Destaques:
Inauguração da Yara
.....................página 36
Produção de alimentos até 2050
.....................página 38
Em busca da produtividade
de três digitos
.....................página 42
Caminhos da Cana chega ao fim
.....................página 44
Irrigacana
.....................página 46
Conferência Internacional Datagro
.....................página 48
Canaplan
.....................página 51
Agende-se
.....................página 54
Assuntos Legais
.....................página 55
Informações Setoriais
.....................página 56
Acompanhamento da safra
.....................página 60
Classificados
.....................página 63
Cultura
.....................página 66
Foto:RafaelMermejo
58 - Artigos Técnicos
- Sistematização de Áreas e Preparo de Solo.
A colheita mecanizada da cana-de-açúcar é considerada
uma tendência natural do setor sucroenergético. Dessa
forma, existe a necessidade de alterações no modelo
estabelecido de implantação de manejo dos canaviais...
05 - Entrevista
Arnaldo Jardim
Deputado Federal
“A crise exige otimização de esforços e o setor tem feito a lição
de casa”
5. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
5
Revista Canavieiros: Qual a sua
avaliação sobre a situação do setor
sucroenergético?
Arnaldo Jardim: É uma situação
muito difícil. Tivemos, nos últimos
quatro anos, no governo Dilma, 60
usinas que fecharam. Temos outras 70
em recuperação judicial e, não bastas-
se isso, houve desmantelamento mui-
to importante do setor. É só olharmos
para a indústria de base de Sertãozi-
nho-SP, as demissões que ocorreram e
a interrupção de encomendas. O mes-
mo aconteceu no polo fornecedor de
equipamentos de Piracicaba-SP. E tão
decisivo é o fato de que, no momento
em que estávamos ganhando credibili-
dade internacional com o nosso etanol,
já que o etanol à base de milho definha
nos Estados Unidos – um cenário, por-
tanto, que se abria –, nós introduzimos
uma incerteza sobre a real capacidade
de produzirmos nosso etanol. E essa
crise, que origem ela tem? Será que
temos uma nova praga que compro-
meteu a produtividade? Não. Embora
a mecanização tenha trazido uma nova
situação, como a ocorrência de cigar-
rinhas, são problemas menores diante
da dificuldade que estamos vivendo.
Surgiu um novo combustível, mais
amigável ambientalmente? Não. Mais
barato? Não também. A crise foi gera-
da de fora para dentro, a partir de uma
manipulação que o Governo fez do
preço dos combustíveis. Na paridade
assentada em torno de 70%, o etanol
acabou vivendo as consequências do
congelamento do preço da gasolina.
E a Petrobras arcou com os prejuízos
inerentes a isso. Pagou um preço que
foi alto, que está sendo alto. A Petro-
bras perdeu valor de mercado. E não
estou falando dos malfeitos, que, in-
felizmente, são tantos na sua gestão.
Falo, estritamente, da política de com-
bustíveis. A empresa vale, hoje, 40%
do que valia há quatro anos. A política
de preços produziu, então, uma situa-
ção de muita penúria.
Revista Canavieiros: Quais se-
riam as propostas para rever essa
política?
Jardim: O caminho que o governo
adotou quando retirou a CIDE (Con-
tribuição de Intervenção no Domínio
Econômico) da gasolina foi equivoca-
Entrevista I
Arnaldo Jardim
“A crise exige otimização de esforços e o setor
tem feito a lição de casa”
Igor Savenhago
Eleito para o terceiro mandato consecutivo de deputado federal por São Paulo, com 155.278 vo-
tos, que o colocaram entre os 30 mais lembrados pelos eleitores do Estado, Arnaldo Jardim (PPS-
-SP), de 59 anos, assumiu, há um ano e meio, a missão de conduzir a Frente Parlamentar pela
Valorização do Setor Sucroenergético, pela qual vem intermediando tentativas de diálogo entre
lideranças da cadeia produtiva da cana-de-açúcar e o Governo Federal.
A tarefa da frente não é nada fácil: convencer a Presidência da República de que é preciso rever
pontos da política econômica, que prioriza o controle da inflação por meio do congelamento do
preço da gasolina, para que a expansão canavieira retome o ritmo esperado, visando atender às
demandas mundiais por energia limpa e renovável.
Nesta entrevista, ele aborda as principais reivindicações do setor, as propostas que espera ver
atendidas, o investimento em pesquisas e no desenvolvimento de novas tecnologias, os desafios
diante da crise e as projeções para os próximos anos.
6. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
6
Entrevista I
do. Hoje estamos muito concentrados
na busca de restabelecer a CIDE, que
era exatamente o diferencial entre
o combustível fóssil e o renovável.
Temos uma proposta arrumada para
isso. Ninguém está propondo algo
que provoque impacto inflacionário.
Queremos cuidar, sim, do setor, mas
amarrar isso numa política global.
Para isso, nossa proposta é singela e
consistente: que a retomada da CIDE
faça com que aquilo que for por ela
arrecadado se destine a um fundo que
repasse esses recursos para baratear
as tarifas de transporte coletivo nos
grandes centros urbanos. Estudos
feitos pela FIPE (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas), a partir
da solicitação do setor, mostram que,
se de um lado o Governo aumenta a
CIDE e provoca um impacto inflacio-
nário, de outro, com a utilização dos
próprios recursos da CIDE, neutraliza
esse impacto. Então, não tem conse-
quência do ponto de vista da taxa de
inflação. Isso já poderia ter sido feito
pelo governo em época anterior.
Revista: Há um ano e meio, o Sr.
preside a Frente Parlamentar em de-
fesa do setor em Brasília. Que balan-
ço pode ser feito desse trabalho?
Jardim: Começamos um proces-
so de mobilização do setor. Vocês
próprios, da Revista Canavieiros,
testemunharam isso, através do pri-
meiro evento da frente que fizemos
em Piracicaba-SP. Depois, um segun-
do momento muito importante, em
Sertãozinho. Isso se desdobrou na
constituição da Frente Parlamentar na
Assembleia Legislativa de São Pau-
lo e, posteriormente, foi criada a da
Câmara Federal. Uma frente que, des-
de o primeiro momento, tratamos de
orientar para que não fosse de oposi-
ção ou de situação. Buscamos manter
um equilíbrio para que sua preocupa-
ção fosse estritamente a de defender
o setor. O vice-presidente da frente,
por exemplo, é o deputado federal,
agora reeleito, Odair Cunha, do PT
de Minas Gerais, escolhido por nós.
Eu o convidei e ele aceitou, o que foi
importante para garantir a pluralida-
de. O secretário-geral, que agora terá
que ser substituído porque se elegeu
governador de Alagoas, é o deputado
Renan Filho, do PMDB. Uma tentati-
va, portanto, de fazer uma conjunção
de forças, de diferentes partidos. E
dou um balanço muito positivo. Con-
seguimos tirar o PIS/Cofins da cana, o
que foi um ganho de competitividade
para o setor, e introduzir os motores
flex no Inovar-Auto, programa de in-
centivo à indústria automobilística.
Antes, o Governo só previa investi-
mentos em pesquisa para os motores a
gasolina. Foi duro, e até parece patéti-
co, termos que lutar por isso. Mas foi
necessário e conseguimos estender os
benefícios aos flex. Outra conquista
importante foi o aumento da mistura,
a partir do ano que vem, de 25% para
27,5% de álcool anidro na gasolina, o
que irá representar um consumo adi-
cional de 1 bilhão e 300 milhões de
litros, importante para sustentar preço
e criar demanda. Tratamos, também,
da bioeletricidade, porque estamos
estarrecidos com o fato de que o go-
verno, que, durante quatro anos se
negou a contratar novos projetos de
cogeração, por considerar que os pre-
ços estavam altos – eles oscilavam
em torno de R$ 180 a R$ 200 o me-
gawatt –, agora aciona, de uma forma
permanente, as termelétricas movidas
a gás, óleo, carvão, cujo preço médio
está em torno de R$ 380 a R$ 400 o
megawatt. E tem muitas outras coisas
cotidianas. Houve, por exemplo, uma
resolução do Denatran (Departamen-
to Nacional de Trânsito) que mostra
bem a distância que há de Brasília
em relação à realidade. Foi quando
se aprovou o chamado lonamento, a
obrigatoriedade de que cada cami-
nhão, depois de carregado na roça,
aplicasse a lona. Depois, teria que ir
até a usina, no caso da cana, e retirar
a lona para descarregar. As pessoas
que acompanham o setor sabem que,
durante a safra, o período médio que
um caminhão usa para descarregar é
de três minutos. Por isso, lonar exi-
giria mais mão de obra, ampliação de
custos, num momento em que o setor
está sem competitividade. Fizemos o
cálculo e mostramos o que isso signi-
fica de gravidade. Além do que existe
um fato fundamental. Parece até brin-
cadeira dizer isso, mas o Brasil não
tem lona suficiente para todos os ve-
ículos que fazem safra. Haveria a ne-
cessidade de uma grande importação
7. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
7
de lonas, que não é coisa que se faz
do dia para a noite. Essa medida, no
entanto, ainda não resolvemos defini-
tivamente. Mas conseguimos um pra-
zo adicional de dois anos para que ela
seja colocada em prática.
Revista Canavieiros: Com essa
atuação, será que foi possível cha-
mar a atenção do governo para as
necessidades do setor?
Jardim: Durante muito tempo não
tivemos eco nenhum. Agora, o Gover-
no passa a ter mais sensibilidade. Até
porque há uma pressão interna, de se-
tores ligados a Petrobras, que criticam
essa política de preços. Parece uma
sacada para controlar a inflação, mas,
sempre que se introduz um artificialis-
mo na economia, se paga muito caro
depois. O Governo está fazendo isso
com a energia elétrica e vamos ter um
grande problema pela frente. Fez isso
com o combustível, mas vai ter que
reajustar e o susto pode ser maior. É
como um córrego que, gradativamente,
extravasa num terreno. Se aumenta um
pouco o fluxo, a natureza se encarre-
ga de transbordá-lo e ele busca novos
caminhos. Agora, se você o represa,
quando abre a comporta, ele vem com
uma força muito mais danosa e menos
controlável. Foi isso que o Governo
fez no preço da energia. Portanto, será
necessário um reajuste. Dependendo
da circunstância, isso se dará de forma
mais ou menos danosa. Mas acho ine-
vitável que ocorra. Há um ano tive um
diálogo com um representante do Mi-
nistério de Minas e Energia e ele disse
que o etanol está no limite, que precisa
descobrir novos caminhos e aumentar
sua produtividade porque o Brasil não
pode pagar mais caro. Segundo ele,
é mais barato importar gasolina, que
teria uma oferta mundial abundante e
crescente. Discordamos disso. Eu con-
sidero, e o nosso setor tem demonstra-
do, que não temos gasolina barata. Ao
preço que a Petrobras contratou, a R$
1,50 (o litro), nós conseguiríamos por
muito menos aqui, com o etanol. Se-
gundo que abundante não é. Vivemos
um momento de relativa retomada da
atividade econômica nos Estados Uni-
dos e na Europa. A China diminuiu sua
previsão de crescimento, mas é uma
redução pequena, 8% para 7%, e con-
tinuará sendo grande demandadora de
energia. E, por último, temos um pro-
blema de logística das novas refinarias
da Petrobras. São duas em constru-
ção e nenhuma delas está programa-
da para processar gasolina, mas óleo
diesel. Então não é bom, não é barato
e nem abundante. É um petróleo que
tem limites. A nossa disponibilidade
do pré-sal virá, mas eu defendo que o
tenhamos como material de exporta-
ção, não para que se aprofunde a nossa
dependência de combustíveis fósseis.
O Governo, no entanto, tem mantido,
teimosamente, suas posições.
Revista Canavieiros: Diante dis-
so, o que projeta para o setor?
Jardim: A boa notícia é a capaci-
dade fantástica de resistência da nossa
gente, do nosso empreendedor e da po-
pulação brasileira. Está sendo um pre-
ço muito alto a desativação de usinas,
a desmobilização de parte da indústria
de base e a diminuição da participação
relativa do etanol na matriz de com-
bustíveis. Por outro lado, a crise exige
otimização de esforços e o setor tem
feito a lição de casa, buscando novos
cultivares. Quem passa por uma cri-
se sai revigorado. Hoje há uma maior
eficiência, tanto na área agrícola como
na industrial e de logística. Tivemos
ganhos importantes, como alcooldu-
tos que passaram a fluir. E existem,
ainda, pontos estratégicos que preci-
samos multiplicar. A prioridade é a
recomposição da CIDE. O segundo
ponto é continuar a pesquisa do etanol
de segunda geração. Já temos algumas
plantas começando a funcionar. É mui-
to importante isso, porque, com o mes-
mo volume de cana, pode-se produzir
muito mais etanol. E também dar uma
perspectiva à utilização da palha, que
visa proporcionar um ganho de pro-
dutividade também muito importante.
Continuaremos buscando ganhos de
logística de escoamento, diminuindo
custos de transporte. Defendemos que
o Governo tenha uma instância para
cuidar da gestão da agroenergia, por-
que uma hora você trata com o Minis-
tério do Desenvolvimento Econômico,
outra com o da Agricultura e outra com
o de Minas e Energia. Não estou pro-
pondo criar nenhum ministério novo.
Aliás, acho que o número de minis-
térios precisa diminuir, porque tem
alguns que a gente nem sabe direito o
propósito. Mas há a necessidade de se
ter uma instância coordenadora, res-
peitada, para definir políticas para os
biocombustíveis e a agroenergia. Acho
que virá, seja por convicção ou cons-
trangimento, uma inevitável recompo-
sição de preços e, portanto, o setor tem
condições, em médio prazo, de pensar,
com muita tranquilidade, numa reto-
mada do seu ritmo de expansão.
Revista Canavieiros: Sua reelei-
ção para deputado federal foi ex-
pressiva. Como será o trabalho em
prol do setor nos próximos quatro
anos?
Jardim: A minha profissão é uma
profissão de fé no setor. Quero agra-
decer às lideranças das áreas agrícola,
industrial e de logística. A esses fan-
tásticos heróis, que são os plantadores
e fornecedores de cana, o elo que tem
mais sofrido as consequências desse
momento de crise. Saudar os nossos
industriais, que buscam incessante-
mente otimizar seu trabalho. Muitos
hoje fazem até compensação de lucra-
tividade de outros setores de ativida-
de para poder bancar a manutenção
do negócio. Então, vocês que fazem
toda essa cadeia maravilhosa, cana-
vieira, sucroalcooleira, sucroenergé-
tica, o meu respeito e a minha honra
de poder ser, lá na Câmara Federal,
um porta-voz, com muita convicção e
entusiasmo. As mudanças climáticas
estão aí como dura realidade e o Bra-
sil pode ser, neste momento, em que o
mundo vai ter que buscar mecanismos
para enfrentar essa questão – chama-
da de economia de baixo carbono,
economia verde ou nova economia
–, um diferencial extraordinário, ba-
seado nesse biocombustível, o nosso
etanol. Não podemos permitir que o
país e a humanidade abram mão des-
sa fantástica experiência. Vamos lutar
com a certeza de que haverá uma re-
tomada e que o Brasil vai garantir, de
novo, o espaço do etanol como refe-
rência para o mundo. O etanol verde
e amarelo, o nosso etanol da cana-de-
-açúcar, o etanol brasileiro. RC
8. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
8
Revista Canavieiros: Os efeitos da
atual situação climática do Brasil e a
expectativa de deficit mundial no próxi-
mo ano safra continuam sendo motivo
de preocupação. Na sua visão, diante
deste fato, quais são as perspectivas
para o setor sucroenergético brasileiro?
José Orive: A curto prazo, as pers-
pectivas não são alentadoras. A longo
prazo, esperamos uma recuperação no
mercado mundial, que enfrentará um
deficit na safra 2015/16, fato que pode-
rá impulsionar os preços do açúcar para
US$ 0,19 ou US$ 0,20.
Revista Canavieiros: A safra global
14/15 apresentará o primeiro deficit de
açúcar após quatro temporadas conse-
cutivas de superavit, afirmam as prin-
cipais consultorias mundiais. Qual é a
sua opinião sobre esta previsão?
José Orive: Existem projeções que in-
dicam que haverá deficit nesta safra, toda-
via aguardamos o comportamento dos es-
toques e a liberação de açúcar para países
como a Tailândia, para ter mais precisão
neste dado. Mas nós acreditamos que a
safra 2014/15 terminará com um pequeno
superavit. Já na safra 2015/16, sim, acre-
ditamos que terá deficit.
Revista Canavieiros: Qual influên-
cia terá a mudança no regime de cotas
da União Europeia no cenário açuca-
reiro?
José Orive: A diferença será que a
Europa irá produzir mais, podendo vol-
tar a ser uma grande exportadora de açú-
car e o mercado europeu diminuirá suas
importações, o que deverá influenciar o
preço da commodity. Portanto, os paí-
ses que dependem da exportação para o
mercado europeu devem se conscienti-
zar dessa projeção que impactará seus
negócios. Segundo nossas estimativas, a
união europeia deverá produzir em torno
de 19 milhões de toneladas de açúcar,
quantidade necessária para atender à de-
manda interna e exportar 2,5 milhões de
toneladas no médio prazo.
Revista Canavieiros: O crescimen-
to de longo prazo para a demanda de
açúcar e energia renovável a partir do
etanol e cogeração continua positivo?
José Orive: Continua positivo, espe-
ramos que o consumo seja maior e que a
proporção total de combustível em rela-
ção à gasolina, seja mais favorável para
o etanol.
Revista Canavieiros: A previsão de
menor oferta de cana no Brasil im-
pactou de forma imediata os preços no
mercado mundial. Qual é tendência
para o próximo ano?
José Orive: Nós esperamos que ocor-
ra uma sentença de preços, acreditamos
que a partir de novembro os mercados
futuros irão melhorar. Já em março de
2015 os valores devem ser cotados a
US$ 0,19 e nós esperamos que possa
chegar a US$ 0,20.
Revista Canavieiros: Qual é a pre-
visão da ISO para a safra mundial de
José Orive
União europeia deixará de ser grande
importadora de açúcar
A declaração é de José Orive, diretor executivo da Organização Internacional do Açúcar (ISO na sigla em
inglês) ao se referir ao impacto que o mundo açucareiro sofrerá após a extinção das cotas de produção na
União Europeia.
De acordo com Orive, após 2017 a Europa poderá produzir uma média de 19 milhões de toneladas de
açúcar, voltando a ter condições de atender à demanda interna e exportar 2,5 milhões de toneladas no
médio prazo, o que poderá revolucionar o mercado de açúcar.
O executivo, que é da Guatemala, foi um dos palestrantes da 14ª Conferência Internacional DATAGRO
sobre Açúcar e Etanol, realizada em outubro, em São Paulo/SP, e coordenará o seminário “Sugar and
Ethanol: Fresh Options”, da ISO, que acontece no final de novembro, em Londres, do qual, participará o
presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan.
açúcar 2015/16?
José Orive: Nós esperamos que para
2015/16 retornaremos a ter um deficit de
aproximadamente de 2 a 2,5 milhões de
toneladas.
Revista Canavieiros: O senhor as-
sumiu a ISO este ano. Qual é a sua
missão no comando da organização?
José Orive: Atrair maior valor agre-
gado aos outros membros com as ten-
dências atuais do açúcar. Atualmente,
enfrentamos muitos ataques contra o va-
lor nutritivo do açúcar. Diante deste fato,
teremos que comunicar melhor a socieda-
de, através de evidência científica, confir-
mando que o açúcar é necessário para a
saúde humana e que uma dieta correta de
açúcar, pode ser até mesmo com frutas,
acompanhada de atividade física, é a me-
lhor maneira de manter uma boa saúde.
Outro desafio é oferecer transferência em
tecnologia e informação aos países pos-
sibilitando que desenvolvam suas indús-
trias para que possam crescer de maneira
sólida e sustentável. RC
Andréia Vital
Entrevista II
10. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
10
Revista Canavieiros - Novembro de 2014
Estoques de etanol e de açúcar no Centro-Sul
seguem em alta
Por Guilherme Nastari – Diretor da DATAGRO
Guilherme Nastari
E
m função do baixo ritmo das ex-
portações, os estoques de açúcar
e de etanol na região Centro-Sul
estão maiores neste ano. Conforme es-
timativa da DATAGRO, o estoque final
de açúcar atingiu 11,95 milhões de to-
neladas ao término do mês de setembro,
volume 19,3% maior ao verificado há
um ano. Essa mesma diferença também
é calculada ao se levar em conta um es-
toque operacional mínimo que deve ser
mantido pelo setor.
Com a elevada disponibilidade dos
estoques, embarques de açúcar em 2014
seguem ofertados com descontos. O
pronto embarque de VHP no Brasil foi
negociado com descontos que variaram
de 95 a 115 pontos sobre o primeiro fu-
turo para entrega em outubro, enquanto
para entrega em novembro, o intervalo
dos descontos varia de 82 a 100 pontos.
O desaquecimento das exportações de
açúcar também reflete a falta de espaço no
mercado internacional. De acordo com a
última estimativa de balanço mundial de
açúcar da DATAGRO, o volume esto-
cado de açúcar previsto para o primeiro
trimestre de 2015 será praticamente o
mesmo do primeiro trimestre de 2014, em
torno de 105 milhões de toneladas.
Mas a depender da valorização do
dólar, produtores podem ser levados a
ampliar suas exportações de açúcar. O
açúcar #11 chegou a ser negociado a
R$ 902,50/ton na primeira semana de
outubro, maior cotação em reais desde
o início da safra 2014/15 no Centro-
-Sul. Não é à toa que os preços do açú-
car no mercado interno reagiram nos
últimos dias. Fruto também do encer-
ramento antecipado da safra, no dia 30
de outubro, o açúcar cristal foi cotado
a R$ 49,18/sc em São Paulo, alta de
9,50% em um mês, embora 7,0% abai-
xo do preço praticado há um ano.
Quanto ao etanol, até setembro os es-
toques estiveram acima do nível obser-
vado há um ano, fruto da menor expor-
tação aliado à estratégia de manutenção
das usinas com o objetivo de atender
à entressafra. Conforme estimativa da
DATAGRO, ao levar também em con-
sideração transferências para as regiões
Norte e Nordeste, o estoque de etanol
na região Centro-Sul alcançou 8,95 bi-
lhões de litros no final de setembro, vo-
lume 17,5% superior ao registrado em
setembro de 2013.
Com as usinas aumentando o mix
para o etanol, sobretudo para o hidrata-
do, os preços nas usinas tornaram a cair.
Conforme o nosso levantamento, o pre-
ço do hidratado caiu 7,8% em um mês
para R$ 1,135/litro. Hoje, os preços do
hidratado no Estado de São Paulo têm
oscilado entre R$ 1,126 e R$ 1,153 o
litro, sem impostos. O anidro é nego-
ciado de R$ 1,320 a R$ 1,340 o litro,
sem impostos. No Mato Grosso do Sul,
o valor do hidratado varia de R$ 1,074
a R$ 1,109 o litro, sem impostos, na usi-
na, enquanto o anidro é ofertado a R$
1,320 o litro, sem impostos.
Produtores têm enfrentado proble-
mas com a falta de espaço nos tanques
e armazéns e, diante da necessidade de
gerar fluxo de caixa, o mercado deve
seguir pressionado. Mas tão logo a que-
da dos preços seja transmitida ao con-
sumidor, a demanda de etanol voltará a
subir, o que impedirá com que os preços
registrem maiores perdas.RC
Ponto de Vista I
12. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
12
Ponto de Vista II
Bom dia, Chicago!
Por Ciro Antonio Rosolem*
Ciro Antonio Rosolem
“
Bom Dia! Como está Chicago?”.
Essa tem sido a saudação entre
sojicultores ultimamente. A cada
respiro do clima nos Estados Unidos, a
cada ajuste na previsão de produção de
algo próximo de 100 milhões de tonela-
das de soja lá pelas bandas da América
do Norte, algumas centenas de agricul-
tores brasileiros passam do verde para
o vermelho. Estaríamos iniciando um
ciclo de baixos preços de commodities?
Alguns economistas dizem que sim.
Os preços internacionais dos produ-
tos agrícolas obedecem a ciclos, media-
dos por diversos fatores. Após um perío-
do de aumento rápido de preços, vive-se
um período de vacas gordas. Mas, logo
em seguida vem um período de ajustes,
quando os preços sobem menos, e depois
sofrem queda. Muito bem. Alguns eco-
nomistas apontam fortes evidências de
que o pico de alta teria passado e, agora,
enfrentaríamos um período de baixa.Até
aí, tudo normal. É cíclico. O problema é
o que aconteceu, ou deixou de acontecer,
durante a bonança.
O desenvolvimento da agricultura
brasileira é conhecido e hoje reconhe-
cido. Ganhos em eficiência, em tecno-
logia e em escala compensaram a pri-
meira onda de diminuição de preços.
Entretanto este elástico está no fim.
Quase arrebentando. Apesar de ainda
haver algum aumento na produtividade
média da soja no Brasil, no Mato Gros-
so, onde se tem as maiores produtivida-
des, ela tem oscilado de 3.000 a 3.200
kg/ha há aproximadamente 10 anos.
Está estagnada. Por outro lado, os ga-
nhos em produtividade foram engolidos
pelos altos custos logísticos, tributários
e trabalhistas. Enquanto isso, com as
obras públicas empacadas, tome con-
versa eleitoreira.
O ciclo de alta, mais a evolução da
tecnologia e da gestão agrícola permiti-
ram à agricultura brasileira viver um ci-
clo virtuoso, em que o crescimento eco-
nômico foi acompanhado da melhoria
na sustentabilidade dos sistemas e do
respeito ambiental. O grande exemplo
são os sistemas integrados. Entretanto,
segundo levantamento da EMBRAPA,
boa parte da soja brasileira é produzida
em áreas marginais para a cultura. Tam-
bém a rotação com pastagem, ou flo-
restas, se dá, na maioria das vezes, em
áreas marginais de cultivo. Isso quer di-
zer: custo alto. Daí muitos agricultores
oscilarem entre o verde e o vermelho a
cada Bom Dia, Chicago!
Mas a China não tem conseguido
produzir toda soja que precisa. E vai
precisar mais. É um indicativo de que,
talvez, aquisições chinesas contenham
a queda livre dos preços.
Os americanos estão de olho neste
mercado e têm mostrado competência em
negociar suas safras. De qualquer modo,
as obras necessárias teriam mais um tem-
po para desemPACarem no Brasil, que
assim manteria a competitividade.
*Membro do Conselho Científico
para Agricultura Sustentável (CCAS)
e professor titular da Faculdade de
Ciências Agrícolas da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (FCA/Unesp Botucatu).RC
Revista Canavieiros - Novembro de 2014
14. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
14
C
omo está o nosso agro?: pelo
terceiro mês consecutivo, em
outubro, o desempenho das ex-
portações do agronegócio sofreu queda.
As exportações (US$ 8,95 bilhões), se
comparadas com o mesmo período de
2013 (US$ 8,42 bi), diminuíram 5,7%.
O saldo na balança do agro de outubro
foi de US$ 6,51 bi, uma queda de 4,3%
em relação a outubro de 2013.
O valor exportado acumulado no ano
(US$ 83,9 bilhões) teve queda de 3,0%
quando comparado com o mesmo perí-
odo de 2013 (US$ 86,4 bilhões). O sal-
do acumulado no ano foi de US$ 69,7
bilhões (3,3% menor que o mesmo pe-
ríodo em 2013). Se continuarmos nesse
ritmo, fecharemos 2014 com um mon-
tante de US$ 101 bi, atingindo a meta
dos 100 bi, porém cabe ressaltar que no
acumulado de janeiro-outubro de 2013
tivemos uma exportação de US$ 86,4 bi
e fechamos 2013 com a cifra de US$
99,9 bilhões.
Os demais produtos brasileiros fora
do agro tiveram uma grande queda de
27,9% nas exportações (US$ 14,4 bi em
2013, para US$ 10,4 bi em 2014), o que
levou a participação do agronegócio
nas exportações brasileiras a alcançar
um patamar de 43,3% do total das ex-
portações brasileiras.
O saldo da balança comercial brasi-
leira acumulado no ano teve pequena
recuperação em relação a outubro de
2013, saindo de um deficit de quase
US$ 2 bilhões para um deficit de US$
1,87 bilhão. Se não fosse o agronegó-
cio, a balança comercial brasileira teria
um déficit de US$ 72 bilhões acumu-
lados no ano, ou seja, mais uma vez o
agro evitou um desastre maior na eco-
nomia brasileira.
Como está nossa cana?
Até 1º de novembro as usinas do
Centro-Sul haviam processado 515 mi.
t., 95% das 545 mi. t. esperadas para
esta safra (UNICA). O ATR está um
pouco melhor (146,2 kg/t, 5,6% maior).
Realmente a seca foi de terrível impac-
to principalmente em certas regiões do
Centro-Sul. A própria COSAN decla-
rou que deve moer ao redor de 58 mi.
t. de cana, contra 61,4 mi. t. na safra
passada. E a empresa estima ainda que
para a safra 15/16, o volume deve ser o
mesmo deste ano.
O final da queima em SP representará
quase 370 mil hectares a menos na produ-
ção (6,7% da área do Estado), em 2017.
Um dos municípios mais afetados será
Piracicaba, que perderá 17% da área.
Como estão as empresas do setor?
Boa notícia veio da São Martinho,
que apresentou lucro de R$ 115 milhões
no trimestre, puxado principalmente
pelos resultados em eletricidade, onde
preços médios ficaram ao redor de R$
600 o MW e a empresa produziu 44%
a mais.
Também estive presente no momen-
to onde a Odebrecht comunicou ao
mercado (evento da UDOP) que inves-
tirá apenas 50% do previsto neste e nos
próximos anos, sendo que o objetivo é o
de encher as usinas com cana. Nada de
expansão industrial.
ATereos, que é o quinto maior grupo
mundial de açúcar, anunciou a criação
de uma trading que pretende distri-
buir 15% do açúcar mundial até 2020.
Percebem-se muitos movimentos nesta
área, que deve ser dominada por gigan-
tes, como a recente joint-venture entre
Copersucar e Cargill.
Como está o açúcar?
Saiu a nova projeção da Organização
Internacional do Açúcar. Para a tempo-
rada 2014/15, com início em outubro de
2014, prevê um superávit menor, de 473
mil t (produção mundial de 182,9 mi t
e consumo de 182,4 mi t). As exporta-
ções do Brasil devem ser quase 1 mi t
menores, caindo de 24,7 para 23,9 mi t.
O relatório mostra grande crescimento
nas exportações da Tailândia. O ponto
positivo é que a OIA sinaliza que para
2015/16, devemos ter um deficit de 2
milhões de toneladas, mostrando já um
efeito desestimulador dos preços baixos.
Espera-se que a Índia exporte ao re-
dor de 1,5 mi. t. A Índia e sua políti-
ca de subsídios governamentais é algo
que atrapalha os preços dos produtos da
cana no Brasil. Quando se espera que
as forças de mercado atuem por lá, e
baixos preços tragam menor produção,
vem o Governo e interfere nas regras,
mantendo uma produção elevada.
Há de se observar também os efeitos
do câmbio nas exportações e no pre-
ço do açúcar. Muitas usinas fixaram o
açúcar com câmbio a 2,60. O preço do
açúcar a este câmbio, quando converti-
do para reais passa a ficar interessante.
Como está o etanol?
O tão esperado reajuste na gasoli-
na veio, mas decepcionou o mercado.
Apenas 3%, o que não resolve a ques-
tão da Petrobras nem do setor de cana.
Fora isto, ao aumentar o diesel em 5%,
o Governo aumenta os custos de produ-
ção do setor.
A aprovação da mistura de 27,5%
de anidro na gasolina depende agora de
reunião entre Governo e setor privado.
A demanda do setor privado é que a
mistura comece já a partir de 1º de ja-
neiro de 2015, sendo garantidos os su-
primentos de anidro.
As usinas mais capitalizadas estão
estocando etanol para a entressafra,
o que deve aumentar ainda mais o
fosso existente entre estas e as usinas
endividadas.
Temos também que observar eventu-
al menor crescimento ou até queda no
consumo de combustíveis com a crise
Coluna Caipirinha
Marcos Fava Neves
Caipirinha
Uma Seca como Nunca Antes Vista na História deste País
15. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
15
que se aproxima cada vez mais da eco-
nomia brasileira. Com isto, cai também
o consumo do etanol.
Como está a cogeração?
Com o elevado endividamento do
setor, muitas usinas estão vendendo ou
arrendando as estruturas de cogeração,
para melhorar o perfil do endividamen-
to. Por ser uma unidade bastante atra-
tiva, estima-se que a maior capacidade
existente é a da Cosan, com 900 MW,
seguida pela Odebrecht, com 740). A
Odebrecht vendeu esta capacidade para
outra empresa do grupo, melhorando o
perfil da dívida. Estima-se que 25% da
capacidade instalada de cogeração te-
nha trocado de mãos. Se alivia a dívida
no curto prazo, a venda da cogeração é
uma ação que tira um dos principais ati-
vos das usinas, portanto pode destruir
valor no médio prazo. O ideal seria que
o próprio grupo investisse na expansão.
Fora isto, ainda há possibilidade de
se usar menos energia para se produzir
açúcar, liberando mais bagaço para co-
mercialização de eletricidade. Segun-
do a Guarani, no Brasil gasta-se 50%
a mais de energia quando comparado
à França, para se produzir a mesma
quantidade de açúcar. Além deste, mui-
to investimento ainda pode ser feito na
eficiência das caldeiras. A própria Bio-
sev declarou que as caldeiras em 2014
produziram 28 quilowatts/t, contra 23,6
qw/t em 2013. Ou seja, temos grandes
ganhos ainda nesta área.
Quem é o homenageado do mês?
A coluna Caipirinha todo mês ho-
menageia uma pessoa. Neste mês a
homenagem vai para o amigo Renato
Buranello, advogado e especialista em
agronegócios, grande estudioso e co-
nhecedor do setor.
Haja Limão: a operação Lava-Jato
da Petrobras revela provavelmente o
caso mais escabroso que se tem notí-
cia de corrupção no Brasil. Revoltante
a todos nós. Graças a uma parte boa
do nosso Judiciário e da nossa Polícia
Federal veremos muita coisa ainda.
Gente presa, gente devolvendo dinhei-
ro, e quem sabe uma assepsia em Bra-
sília, no sistema econômico e político.
Enquanto termino a coluna deste mês,
abro a página de um dos nossos princi-
pais jornais e vejo que (u)Um simples
gerente da Petrobras abocanhou US$
100 milhões. Isto mesmo CEM MI-
LHÕES DE DÓLARES. A presidência
da empresa nada sabia, nada percebia,
a presidente do conselho da empresa
nada sabia, nada percebia. Não acredi-
tam serem responsáveis por nada, ape-
sar de terem honorários.
E os estudantes do Brasil, os Cen-
tros Acadêmicos, a UNE… permane-
cem… adormecidos… vendo o maior
saque feito no patrimônio público, no
patrimônio do povo brasileiro. Fica a
pergunta do porquê da omissão total
desta nova geração que vem vindo.
Em 1992 saímos às ruas e o então pre-
sidente foi derrubado por estudantes,
por muito menos que isto tudo. Hoje
o considero um homeopata perto desta
turma. Mas esta turma não vê nada de
errado. Triste país.
Marcos Fava Neves é Professor Titular
da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto.
Em 2013 foi Professor Visitante Interna-
cional da Purdue University (EUA) RC
16. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
16
Copercana é parceira do Posto de
Recebimento de Embalagens Vazias de
Defensivos Agrícolas de Campo Florido
Notícias Copercana
N
o dia 28 de outubro foi inau-
gurado o Posto de Recebi-
mento de Embalagens Vazias
de Defensivos Agrícolas de Campo
Florido-MG. A unidade, que será
gerenciada pela Canacampo (Asso-
ciação dos Fornecedores de Cana da
Região de Campo Florido), integrará
uma malha de 63 postos e centrais
presentes em Minas Gerais. A Coper-
cana é uma das parceiras do Posto,
além da Usina Coruripe, inpEV (Ins-
tituto Nacional de Processamento de
Embalagens Vazias), entre outros.
A previsão é de que a unidade re-
ceba 80 toneladas do material duran-
te o primeiro ano de funcionamento.
Estima-se que ela atenderá cerca de
110 agricultores dos municípios de
Campo Florido, Pirajuba e Rio do
Peixe. Todo o material recebido no
local irá para a Central de Uberaba,
gerenciada pela Fundação Triângulo
de Pesquisa e Desenvolvimento e,
posteriormente, encaminhado para a
destinação final, reciclagem ou inci-
neração, por meio do inpEV.
Segundo o coordenador regional
de Operações do instituto na re-
gião, Jair Furlan Júnior, a construção
do posto demonstra que o Sistema
Campo Limpo (logística reversa de
embalagens vazias de defensivos
agrícolas) vem acompanhando o
crescimento e desenvolvimento do
agronegócio na região.
O diretor da Copercana, Pedro Es-
rael Bighetti, acompanhou o proces-
so de construção do novo Posto de
Recebimento de Embalagens Vazias
de Defensivos Agrícolas de Campo
Florido e esteve presente na inaugu-
ração. “A Copercana fez questão de
Carla Rossini
participar e apoiar a construção deste
empreendimento porque reconhece a
sua importância, além disso, é mais
um serviço que estamos disponibi-
lizando para os agricultores coope-
rados da região de Campo Florido”,
disse Lelo Bighetti, apelido pelo qual
o diretor é conhecido.
A previsão é que a unidade receba 80 toneladas de material e atenda 110 agricultores da região
Rodrigo Piau (coordenador agrícola da Canacampo); Ademir Ferreira de Mello Júnior
(presidente da Canacampo); Ademir Ferreira de Mello (prefeito de Campo Florido-
MG); Lelo Biguetti (diretor da Copercana); Fábio Moniz (diretor da Usina Coruripe);
Rui Ramos (prefeito de Pirajuba-MG); Silvio de Castro Cunha Júnior (ex presidente da
Canacampo); Mário Campos (presidente da SIAMIG); entre outros.
Weider Santana superintendente do inpEV; Ademir Ferreira de Mello Júnior, presidente
da Canacampo; Ademir Ferreira de Mello prefeito de Campo Florido-MG;
Lelo Biguetti diretor da Copercana.
RC
18. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
18
Notícias Canaoeste
Presidente da Canaoeste participa de
7º Congresso da UDOP
O
presidente da Canaoeste e Or-
plana, Manoel Ortolan, partici-
pou do 7º Congresso Nacional
de Bioenergia, realizado nos dias 12 e
13 de novembro, em Araçatuba-SP. O
evento, realizado pela UDOP (União dos
Produtores de Bioenergia) em parceria
com a STAB (Sociedade dos Técnicos
Açucareiros e Alcooleiros do Brasil),
reuniu cerca 1300 participantes, entre
palestrantes, moderadores e congressis-
tas, no Unisalesiano (Centro Universitá-
rio Católico Salesiano Auxilium).
Vários temas envolvendo o setor
sucroenergético foram discutidos, se-
parados por 12 salas temáticas: Ad-
ministrativa/Financeira, Comunica-
ção, Recursos Humanos, Etanol 2G/
Bioprodutos, Mercado/Comercializa-
ção/Logística, Controladoria/Custos,
Saúde/Segurança/Meio Ambiente do
Trabalho, Sustentabilidade, Agrícola,
Industrial, Novas Tecnologias Embra-
pa e Tecnologias da Informação. Em
cada uma, lideranças debateram alter-
nativas para enfrentar as instabilidades
que atingem a produção de cana e de
seus subprodutos.
Da redação, com informações da assessoria UDOP
Evento reuniu cerca 1300 participantes nos dias 12 e 13 de novembro, em Araçatuba-SP, para
discutir saídas para a crise do setor sucroenergético
O congresso foi marcado tam-
bém por um tradicional jantar, para
comemorar o sucesso dos cursos
oferecidos pela UniUDOP, e pela
entrega da Medalha da Agroener-
gia a Luiz Carlos Correa Carvalho,
o Caio, presidente da Abag (Asso-
ciação Brasileira do Agronegócio) e
conselheiro da UDOP, pelo desem-
penho nas atividades relacionadas
ao agronegócio brasileiro. O encer-
ramento foi com o sorteio de um
carro flex, duas motocicletas e nove
tablets para os presentes.RC
Manoel Ortolan (ao centro) com outras autoridades ligadas ao setor sucroenergético
19. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
19
Reuniões Técnicas Canaoeste
Da redação
A
Canaoeste e Copercana de Se-
verínia, com a parceria da em-
presa Euroforte Agrociências,
realizaram uma Reunião Técnica onde
foram abordados temas importantes
como: correção de solos e adubação
com macro e micronutrientes. A reu-
nião aconteceu no dia 14 de outubro,
no Rotary Clube, em Severínia-SP, e
contou com a participação do pales-
trante dr. André Vitti da Apta (Agência
Paulista de Tecnologia do Agronegó-
cio) e com a presença de aproximada-
mente 60 pessoas.
A Canaoeste e Copercana de Cravi-
nhos-SP, com o apoio da empresa Syn-
genta, realizaram uma Reunião Técni-
ca para a discussão do tema “Pragas e
Doenças da Cana-de-Açúcar”. Tam-
bém na ocasião, o engenheiro agrôno-
mo Fábio Soldera, do Departamento
Reunião Técnica em Severínia
Parceria: Canaoeste, Copercana e Euroforte Agrociências.
Reunião Técnica em Cravinhos – Parceria: Canaoeste, Copercana e Syngenta.
Ambiental da Canaoeste, ministrou
uma palestra sobre o CAR (Cadastro
Ambiental Rural). A reunião acon-
teceu no dia 30 de outubro no Clube
Mieli, em Cravinhos-SP. Participaram
aproximadamente 50 pessoas.RC
20. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
20
Notícias Sicoob Cocred
Balancete Mensal - (prazos segregados)
Cooperativa De Crédito Dos Produtores Rurais e Empresários do
Interior Paulista - Balancete Mensal (Prazos Segregados)
- Outubro/2014 - “valores em milhares de reais”
Sertãozinho/SP, 31 de Outubro de 2014.
22. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
22
D
escobrir os pontos do canavial
onde as pragas se escondem é
desejo de todo produtor. Para
associados da Canaoeste, isso foi possí-
vel, graças a uma parceria com a BASF.
O projeto Harpia, que coletou imagens
via satélite de quase 30 mil hectares
– de um total de 150 mil da área de
abrangência da associação –, mapeou
os locais de baixa biomassa, permitindo
intervenções rápidas para correção de
falhas, o que pode representar redução
de custos, aumento de produtividade e
menor impacto ambiental.
A Canaoeste foi a primeira associa-
ção a receber a tecnologia. Antes, o ser-
viço era destinado só a grandes usinas.
As imagens, colhidas de abril a junho
de 2013, foram feitas pela SIGMA –
Sistemas Integrados de Geoprocessa-
mento e Meio Ambiente –, empresa de
Ribeirão Preto, SP. Os dados obtidos
foram dispostos em mapas de cada pro-
priedade monitorada, em que as áreas
foram classificadas por um sistema de
cores. Em vermelho, foram apontadas
O projeto Harpia, uma parceria da Canaoeste com a BASF, coletou imagens de
canaviais via satélite e mapeou áreas de baixa biomassa, permitindo um controle
mais rápido e eficaz em casos de infestação por pragas
Imagens captadas por
satélite geraram mapas
com sistemas de cores...
Igor Savenhago
Pragas sob controle
aquelas consideradas críticas, com ín-
dices muito baixos de biomassa. Em
amarelo, as de transição, de média bai-
xa biomassa. Já as que tiveram índices
dentro do esperado ganharam diferen-
tes tons de verde, dependendo da condi-
ção apontada: média, média alta e alta.
Com os mapas em mãos, a equipe de
pragas contratada pela Canaoeste visi-
tou, de setembro de 2013 a julho deste
ano, as áreas vermelhas e amarelas, em
que foram demarcados pontos de amos-
tragem, para verificar as causas de cada
falha. “Áreas de baixa biomassa suge-
rem problemas. Tendo mapeado essas
áreas, você consegue focar, direcionar
o trabalho para elas. Com isso, se au-
menta muito o rendimento das equipes
de campo”, afirma Alessandra Durigan,
gestora técnica da Canaoeste.
Segundo ela, nem todo local com bai-
xa biomassa significa ocorrência de pra-
gas. É preciso considerar outros motivos,
como plantas daninhas, pisoteio, proble-
mas de compactação, pedras ou baixa fer-
tilidade. Mas, se as pragas forem mesmo
encontradas, é possível agir com rapidez,
pensando na melhor medida antes que a
situação fuja do controle. Outra vantagem
é que a aplicação de defensivos não pre-
cisa mais ser feita em toda a extensão do
canavial, mas restringir-se às áreas onde o
inimigo foi localizado.
O produtor João Luiz Balieiro, de
Viradouro, SP, concorda. “Se apareceAlessandra Durigan, gestora técnica
Reportagem de C
23. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
23
...que ajudaram na
localização de falhas nos
canaviais...
...causadas, entre os outros
motivos, por pragas como
o Sphenophorus Levis,
conhecido popularmente
como bicudo da cana.
alguma coisa, a gente vê no começo e
já combate. Isso faz gastar menos. Não
deixa tomar conta do canavial”, conta.
“Sem a equipe da Canaoeste, quando
ia ver, a praga já tinha se alastrado.
Tive problemas assim no passado,
quando precisei arrancar um canavial
de apenas três cortes”.
Hoje, Balieiro comemora seus 290
hectares de canavial sadio. Na região
onde ele planta, o Harpia mapeou
quatro mil hectares. Ao todo, o proje-
to observou 29.350, dos quais 25 mil
foram monitorados – o restante estava
com o solo nu. Em 996,86 hectares, as
pragas apareceram, entre elas uma das
mais temidas: o Sphenophorus Levis,
popularmente conhecido como bicudo
da cana. As larvas desse inseto se ali-
mentam dos rizomas (colmos subter-
râneos) e, algumas vezes, do primeiro
entrenó basal. O resultado é uma perda
acentuada de produtividade – 20 a 25
toneladas por hectare.
Alessandra alerta que, em áreas muito
infestadas, a praga provoca a morte da
planta e obriga a reformar até canaviais
novos, de dois ou três cortes. “A popu-
lação do Sphenophorus tem aumentado
muito, principalmente com a colheita de
cana crua. É uma praga importante, com
a qual a gente tem que tomar muito cui-
dado. Ocorrendo nos canaviais, é neces-
sário realizar o controle”. Sem a atenção
devida, o Sphenophorus também pode
se espalhar com facilidade, levado, por
exemplo, por colhedoras ou mudas,
comprometendo outras áreas.
De acordo com Thiago Verri, agrô-
nomo da Canaoeste que atende à re-
gião de Sertãozinho-SP, numa época
em que é urgente pensar em aumento
Thiago Verri, Agrônomo
João Luiz Balieiro, produtor
de produtividade, para estimular uma
maior competitividade do setor su-
croenergético, o combate a esse tipo
de praga deve ser prioridade. “Temos
muitos fatores que brigam com a gente
em relação à produtividade. O Sphe-
nophorus é um deles. Por isso, com
os levantamentos feitos (pelo Harpia),
juntamente com a parte técnica da Ca-
naoeste, que passa todas as informa-
ções para os associados, permitindo
as aplicações corretas, estamos con-
seguindo eliminar essa praga, além de
manter uma produtividade para que o
produtor não saia da atividade”.
Capa - Especial Pragas
24. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
24
Equipe de pragas
A Canaoeste aproveitou a parceria
com a BASF para intensificar o traba-
lho de monitoramento nos canaviais
de seus associados. A equipe de pra-
gas, composta por dois coordenadores
– Sandro Augusto Galhardo e Antônio
Carlos Cussiol Júnior –, um encarrega-
do de campo – Luiz Silvério Neto – e
três auxiliares, foi mantida no quadro
da associação, mesmo após o térmi-
no do mapeamento feito pelo Harpia.
Continuará, portanto, percorrendo as
propriedades, aprimorando a busca de
invasores naturais e informando produ-
tores sobre medidas de controle.
Segundo Galhardo, o trabalho não
para. A equipe faz de cinco a sete visi-
tas por dia. Em uma das áreas em Vira-
douro, no dia 7 de novembro, quando
foi realizada esta reportagem, foram
necessários somente poucos minutos
para que vários exemplares adultos e
larvas do bicudo fossem encontrados
num ponto marcado em vermelho no
mapa. “Essa ferramenta, o Harpia, veio
para nos ajudar a monitorar com mais
rapidez, mais eficiência, agilizando o
trabalho da nossa equipe. Isso é muito
valioso, porque a gente consegue dar
um retorno logo para o associado”, ex-
plica Galhardo.
Para Antônio Pagoto, agrônomo
da Canaoeste responsável pelos aten-
dimentos nesta região, o monitora-
mento constante favorece uma otimi-
zação da aplicação de defensivos nos
canaviais. “Às vezes, o produtor, por
falta de técnicos, identificava qual-
quer coisa diferente na cana achando
que era praga e já aplicava um pro-
duto. Nesse caso, poderia ocorrer
um impacto ambiental grande e um
custo maior sem necessidade nenhu-
ma. Então, a gente alinhou toda essa
equipe para identificar as pragas,
usar os produtos corretos, nas épocas
certas. Tudo isso para que o produtor
tenha um melhor resultado”.
Sandro Augusto Galhardo Antônio Pagoto
Antônio Carlos Cussiol Júnior
Luiz Silvério Neto
Cussiol complementa que, dessa for-
ma, o controle se torna mais econômi-
co, já que “evita desperdícios, reduzin-
do os custos de produção e viabilizando
a produção de uma forma responsável e
sustentável”.
A iniciativa foi um alívio para João
Luiz Balieiro. “A praga, hoje, é o maior
problema que nós temos, porque o res-
tante a gente faz, aduba direitinho...
Mas aí vem a praga. Por isso, as ferra-
mentas que a Canaoeste nos oferece são
muito boas”.
Reportagem de Capa - Especial Pragas
25. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
25
Benefícios
BASF
Roberto Rossetti
Fonte:Harpia–Canaoeste/BASF
Luís Carlos Martins Amorim
Outro que agradece os serviços
prestados é o associado Roberto Ros-
setti, que produz cana em 480 hectares
em Sertãozinho, SP. “São benefícios
que a Canaoeste está trazendo, possi-
bilitando um melhor manejo e redução
de custos, que hoje é o principal ob-
jetivo na fazenda”. Antes do Harpia e
da formação da equipe, o combate às
pragas, no caso dele, era feito por uma
prática que gerava mais custos. “Era
um critério que eu estabelecia, depen-
dendo do número de cortes, e que, com
certeza, não era o ideal”.
O Sphenophorus foi identificado
em 5% das áreas dele, possibilitando
aplicação localizada de inseticida. “O
Harpia deu condições de saber exata-
mente quais as áreas infestadas. Às
vezes, eu podia aplicar em áreas que
não precisavam, como também não
aplicar em áreas que estavam preci-
sando do controle”.
Números do Harpia
Abrangência do projeto: 29.350 hectares
Área monitorada: 25 mil hectares
Classificação das áreas monitoradas:
Alta biomassa – 6,18%
Média alta – 19,87%
Média – 50,34%
Média baixa – 17,1%
Baixa – 6,51%
Falhas observadas:
Falhas com pragas – 996,86 hectares (4,01%)
Falhas sem pragas – 19,59%
Sem falhas – 76,04%
Pragas encontradas:
Yponeuma – 43,85%
Cigarrinha – 17,86%
Sphenophorus Levis – 16,47%
Cupim – 16,07%
Migdolus – 2,58%
Outras pragas – 3,17%
Para Luís Carlos Martins Amorim,
representante técnico de vendas da
BASF, o projeto Harpia é importante
porque leva aos produtores informa-
ções exatas sobre as necessidades de
cada área produtiva. Isso propicia,
segundo ele, um manejo correto da
plantação e consequente economia
de tempo e recursos. “Para a BASF, é
fundamental a sustentabilidade do ne-
gócio cana como um todo, tanto para
a empresa quanto para seus clientes”.
A economia na aplicação de pro-
dutos pode chegar, de acordo com
Amorim, a 80%. “Um exemplo é um
defensivo para uma praga que se dá
em reboleiras. Com o mapa de análi-
ses, você sabe onde ela está atacando e
faz a aplicação no local exato. Um ser-
viço que traz mais rentabilidade numa
época difícil, de crise. Benefício tanto
para a BASF quanto para os produto-
res e a Canaoeste”. RC
26. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
26
BASF promove evento para discutir ferrugem
alaranjada e para lançamento do herbicida Heat
P
ara apresentar soluções e disse-
minação de boas práticas de con-
trole e manejo, a BASF promo-
veu, em outubro, reunião técnica com
renomados palestrantes e representantes
de usinas, que debateram sobre as pra-
gas da cana-de-açúcar, principalmente
a ferrugem alaranjada. A praga causa
grandes prejuízos, pois reduz drasti-
camente a produtividade e a qualidade
da matéria-prima e tem preocupado os
fornecedores de cana-de-açúcar pela
forma agressiva de seu aparecimento e
pelo volume afetado.
O pesquisador e ex-professor da
Unesp, Modesto Barreto, abriu a pro-
gramação de palestras, que foi dividida
em duas partes, e reuniu no Hotel JP
produtores de toda a região de Ribeirão
Preto- SP. De acordo com suas consi-
derações, a ferrugem alaranjada come-
çou a ser descoberta em 2009 e como a
ferrugem marrom, causa perdas de mais
de 50% se a variedade for suscetível.
“A única diferença entre as duas é que
a ferrugem marrom apresenta resistên-
cia que a gente chama de resistência de
planta adulta e a alaranjada não, o que
significa que uma cana que tiver com
sete ou oito meses para frente fica resis-
tente à ferrugem marrom, ao contrário
da alaranjada, que pode ter a idade que
for o comportamento é o mesmo se a
variedade for suscetível”, explica.
A ferrugem alaranjada é provocada
pelo fungo Puccinia Kuehnii que causa
lesões na parte interna das folhas, com
pústulas pendentes que carregam gran-
de quantidade de esporos, que são lan-
çados no ar e disseminados pelo vento,
alastrando o problema da doença.
Barreto lembrou que desde quando
surgiu a cultura da cana, criou-se o há-
bito de fazer o controle de doenças com
a troca por uma variedade mais resis-
Multinacional reuniu produtores para apresentar novo produto e
trocar experiências sobre importantes ações no manejo do canavial
Andréia Vital
tente, mas a medida não é suficiente,
pois se esquece de fazer a prevenção e a
praga retorna. O especialista deu como
exemplo o que aconteceu com o mo-
saico da cana que praticamente arrasou
o setor canavieiro, em 1925, e depois
com o carvão, em 1953, que impulsio-
nou a troca de variedades, mas a praga
retornou em 1975. Neste caso, o profes-
sor alertou que se tiver uma quantidade
de inóculo muito alta, todas as varieda-
des são suscetíveis ao carvão, então se
uma usina ou fornecedor plantar uma
variedade e tiver muito carvão, ele não
está prejudicando só a si mesmo, mas
também prejudicando a outros, porque
a variedade dos vizinhos vai começar a
dar carvão.
De acordo com o consultor, é neces-
sário tomar cuidado com a tecnologia
de aplicação porque para a doença o
molhamento foliar tem que ser muito
melhor, mesmo com produto sistêmico.
“Praga anda, doença não anda, fungo
e bactéria não andam, então se ele cair
onde não caiu o produto o fungo entra
na cana e causa a doença”, explica, re-
comendando a aplicação preventiva
caso tenha sido constatada a doença no
ciclo anterior.
Na ocasião, o engenheiro agrôno-
mo de desenvolvimento de mercado
da BASF, Mauro P. Cottas, destacou os
produtos da multinacional para o con-
trole de doenças e mostrou os benefí-
cios do Opera no controle de doenças
como a ferrugem alaranjada, como
também no incremento da produtivida-
de. O produto é um fungicida com alta
eficiência no controle de doenças e ofe-
rece maior produtividade, qualidade e
rentabilidade através dos benefícios do
AgCelence, afirma o fabricante.
“A aplicação do Opera apresentou os
melhores resultados, além de oferecer
maiores ganhos em TCH, sendo assim o
nosso produto escolhido para o controle
dessa doença”, afirmou Carlos Daniel
Reportagem de Capa - Especial Pragas
O pesquisador e ex-professor da Unesp, Modesto Barreto,
abriu a programação de palestras
Mauro P. Cottas, engenheiro agrônomo de
desenvolvimento de mercado da BASF
27. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
27
Multinacional lança Heat, uma nova
ferramenta no combate às folhas largas
Berro Filho, do departamento de P & D
e Tratos Culturais, da Bunge Brasil, que
também testemunhou sobre os benefí-
cios conseguidos com o uso do produto.
De acordo com ele, a ferrugem ala-
ranjada ganhou dimensões comerciais
em 2014, na área de atuação da Bun-
ge, que tem oito usinas, em São Paulo,
Minas Gerais e Tocantins, contemplan-
do 300 mil ha, sendo cerca de 30% de
fornecedores. O problema demandou a
necessidade da realização de estudos
para identificação de manejo ideal, que
constatou a eficiência do Opera. Berro
Filho também destacou que os estudos
apontaram ainda que para manter as fo-
lhas verdes, o controle tem que ser pre-
ventivo e que o uso de ferramentas de
previsibilidade, como o agrodetecta, é
fundamental.
A parceria com a BASF para o con-
trole da ferrugem alaranjada também
foi destacada pelo agrônomo Rodrigo
de Carvalho Nogueira, coordenador da
Canacampo (Associação dos Fornece-
dores de cana da região de Campo Flo-
rido-MG), que atende a Usina Coruripe.
O engenheiro agrônomo contou que a
entidade conta com 62 fornecedores e
aproximadamente 200 arrendatários,
que correspondem por 2.440 milhões
toneladas dos 3.720 milhões que se-
rão moídos pela unidade. “A aplicação
do fungicida no tempo certo nas áreas
acompanhadas pela Canacampo e pe-
las equipes técnicas dos fornecedores,
apresentou ganho de produtividade na
média de 8 a 10 de tonelada por hectare
com o uso do Opera”, disse.
A reunião técnica da BASf também
serviu para o lançamento do Heat, um
herbicida com alta eficiência contra
plantas daninhas de folhas largas, coor-
denado por Alan Borges, Gerente de De-
senvolvimento de Mercado e Carulina
Oliveira, gerente de marketing para o se-
tor de Cana, da multinacional. “O Heat
é um herbicida com alta eficácia para
plantas daninhas de folhas largas, cordas
de viola, inclusive, cipó, como mamona
e é altamente seletivo”, afirma Carulina,
explicando que o produto tem inúmeras
características que faz com que ele tenha
mais de um funcionamento, ou seja, para
o plantio, pré-colheita, pré-emergência,
pós-emergência e soqueira.
O produto oferece alta seletividade,
fácil absorção via raiz e ótimo custo-be-
nefício, além ter efeito rápido em pré e
pós-emergência. “Porém agora nós só
vamos falar do seguimento de plantio,
antes do quebra lombo”, diz a executi-
va, explicando que o Heat foi lançado
nos EUA, em 2009, e depois em mais
49 países e chegou ao Brasil, em janeiro
de 2013, quando foi lançado para outras
culturas como soja e algodão. “Agora
estamos lançando oficialmente o pro-
duto para a cana e posicionando-o no
plantio de final de ano e plantio de ja-
neiro”, afirma Carulina, explicando que
o lançamento do produto na soqueira
acontecerá no meio do próximo ano.
“Como a cana tem vários segmentos,
resolvermos fazer os lançamentos tam-
bém segmentados”.
Estudos sobre o uso do Heat e seus
resultados foram apresentaram na reu-
nião pelo pesquisador Weber Geraldo
Valério, da Agro Analítica Consultoria
Agronômica e por Marcelo Nicolai, en-
genheiro agrônomo da Agrocon Asses-
soria Agrícola.
Na oportunidade, Carulina também
explanou sobre o desafio Canamax, que
é uma parceria com a BASF e o CTC
que tem como objetivo estimular o se-
tor sucroenergético a conquistar a má-
xima produtividade dos canaviais. RC
Carlos Daniel Berro Filho, do
departamento de P & D e Tratos
Culturais, da Bunge
lan Borges, Gerente de
Desenvolvimento de Mercado
Carulina Oliveira, gerente de marketing
para o setor de Cana
28. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
28
Canaoeste promove II Encontro Técnico sobre
pragas da cana-de-açúcar
O
avanço da mecanização do
plantio e colheita da cana-de-
-açúcar otimizou o sistema no
campo, mas ao mesmo tempo, o au-
mento da cana crua e a falta de controle
biológico contribuíram para a prolife-
ração das pragas na lavoura. Carvão,
nematoides, migdolus, broca-da-Cana,
cigarrinhas e mais recentemente, Sphe-
nophorus, passaram a fazer parte do dia
a dia de produtores rurais, que buscam
alternativas para não perder suas plan-
tações, já que o prejuízo causado pelas
pragas e doenças é avassalador.
Foi com este propósito, de oferecer
ao produtor acesso a novas tecnologias
e soluções para o controle, monitora-
mento e manejo, que a Canaoste, pro-
moveu, em outubro, o II Encontro Téc-
nico sobre pragas da cana-de-açúcar. A
reunião realizada no auditório da enti-
dade, em Sertãozinho-SP, reuniu mais
de 200 fornecedores de cana-de-açúcar
da região de Ribeirão Preto-SP. O even-
to contou com a parceria com a Coper-
cana, Arysta Lifescience Corporation,
BASF, Dupont, FMC e Syngenta.
“O objetivo deste encontro técnico
é falar sobre broca, cigarrinhas e Sphe-
nophorus, que são as pragas de maior
ocorrência nas áreas de abrangência
da Canaoeste. Foram abordados os as-
suntos como o por quê, quando e como
controlar estas pragas a fim de que o
produtor mantenha o seu canavial sadio
Evento debateu impactos negativos e apresentou estratégias para
o monitoramento e controle das infestações
Andréia Vital
Reportagem de Capa - Especial Pragas
e vigoroso e não comprometa a produti-
vidade agrícola e a qualidade do produ-
to final”, disse a gestora técnica da Ca-
naoeste, Alessandra Durigan. Para ela,
a segunda edição do evento foi muito
proveitosa. “Foi muito válida, tivemos
a presença do professor Wilson Nova-
retti, que tem uma ampla experiência
neste assunto e, com certeza, contribuiu
muito para passar toda informação ne-
cessária para o produtor rural referente
aos assuntos que foram abordados”.
Segundo Gustavo Nogueira, gestor
operacional da Canaoeste, o encontro é
realizado nesta época do ano justamen-
te por ser o início das chuvas, momen-
to de maior infestação das pragas do
campo. “Eu achei que o evento foi óti-
mo, o resultado foi atingido, a palestra
do professor Novaretti foi excelente”,
disse ele, argumentando que ao con-
trário de outras ocasiões, desta vez, o
público interagiu mais. “Os produtores
participaram bastante, perguntaram, es-
clareceram dúvidas, o que nunca acon-
teceu em outras vezes. Acho que a boa
participação dos produtores se deve ao
modo como o palestrante conduziu a
palestra, que estimulou, desinibiu, dei-
xou o pessoal mais à vontade para fazer
perguntas. Então, o objetivo foi atingi-
do com sucesso graças ao trabalho de
toda a equipe”, afirmou.
Ao dar as boas-vindas aos produ-
tores rurais que participavam do en-
contro, Manoel Ortolan, presidente da
Canaoeste e Orplana, destacou a impor-
tância da indústria canavieira e lamen-
tou a falta de atenção do Governo para
com o segmento. “O setor sucroenergé-
tico é a solução para grandes problemas
do País, como a energia, mas estamos
assistindo ao setor acabar, com em-
Professor Wilson Novaretti falou sobre o controle de praga na cana-de-açúcar
Alessandra Durigan, gestora técnica da Canaoeste
entregou homenagem ao Professor Wilson Novaretti
Gustavo Nogueira,
gestor operacional da Canaoeste
29. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
29
As empresas parceiras na organiza-
ção do evento também apresentaram
suas soluções para o controle desses
novos inimigos.
Antonio Gonçalves, da Arysta Li-
feScience, destacou produto lançado
pela multinacional, em setembro, para
o controle da broca: o Atabron. O novo
ativo da Arysta é um inseticida fisio-
lógico inibidor da biossíntese de qui-
tina. Segundo o consultor, o produto
tem ação rápida por contato e ingestão,
como também ação seletiva ideal para o
manejo integrado de pragas preservan-
do os inimigos naturais.
Vinicius Batista, consultor da FMC,
apresentou as soluções da multinacio-
nal americana para o controle de pra-
gas. O destaque foi para o novo produto
da FMC, o Talisman, que tem como
benefícios a eficiência no controle de
Sphenophorus, melhor desenvolvimen-
to do sistema radicular e ação no con-
trole de cigarrinhas, entre outros.
Novas tecnologias
presas passando dificuldades e muitas
devem fechar antes da próxima safra”.
Ortolan também ressaltou que o Brasil
tem um potencial enorme para atender
à demanda mundial de alimentos que
existirá nos próximos anos, mas a opor-
tunidade será perdida se as coisas não
mudarem. Também afirmou ser muito
importante o produtor ter acesso às no-
vas tecnologias ao combate às pragas,
evitando prejudicar a produtividade dos
seus canaviais.
De acordo com o pesquisador Wil-
son Novarreti, o controle de praga na
cana-de-açúcar é uma rotina como
qualquer outra, tais como adubação e
preparo de solo.
“As pragas estão aí, dificilmente
você vai eliminá-las. Temos que apren-
der a conviver com elas abaixo do nível
de dano e o objetivo dessa reunião é
mostrar técnicas de controle, principal-
mente da broca, cigarrinha e Spheno-
phorus, focando em diversos métodos,
como químico, bioquímico, biológico
e cultural mecânica”, esclareceu Nova-
retti, que foi o palestrante no dia.
O aumento da população dessas três
pragas se deu em função de dois fato-
res, explica o pesquisador. “O primei-
ro é o fator climático. Estamos tendo
anos seguidos de seca e a deficiência
hídrica tem uma influência grande nos
inimigos naturais, mas poucas influên-
cias sobre as pragas. Com o início das
chuvas elas ocorrem com uma inten-
sidade maior”, analisa, dizendo que o
Antonio Gonçalves,
da Arysta LifeScience
Vinicius Batista, consultor da FMC
Jedir Fiorelli mostrou
tecnologia da DuPont
Manoel Ortolan,
presidente da Canaoeste
outro fator que tem contribuído para o
aumento das pragas é a cana crua. Se-
gundo ele, a palha mantém a tempera-
tura amena para a praga, além disso,
a mecanização que contribui para a
disseminação do inimigo, que no caso
do Sphenophorus tem ocorrido basica-
mente pela muda e pela colhedora.
O Sphenophorus é uma praga relati-
vamente nova para a região e tem preo-
cupado o setor canavieiro devido a sua
rápida disseminação. “Para a broca e
cigarrinha existem métodos de controle
interessante, mas para os Sphenophorus
tem preocupado a gente, não só pela
sua disseminação, mas pelo dano que
promove e também pela característica
biológica do adulto”, explica Nova-
telli. Segundo ele, o adulto das pragas
de cana, normalmente vive 4, 5, 8,10
15 dias e, no caso do Sphenophorus, o
adulto vive 200 dias. “Com isso, a ca-
pacidade de reprodução e a capacidade
de infecção são muito maiores de infes-
tação”, conclui.
Já o consultor Jedir Fiorelli mostrou
tecnologia da DuPont, o inseticida Al-
tacor para evitar a infestação da broca.
Ele deu como exemplo uma usina da
região de Ribeirão Preto - SP, que tinha
11% de sua área infestada e conseguiu
reduzir para 1,49% após a aplicação do
produto.
O inseticida Regent Duo foi desta-
cado pelo consultor da BASF, Mauro
Cottas, na ocasião. O inseticida tem
excelente controle da larva ao besouro
30. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
30
Para o líder de Fitotecnia da Usina
Batatais, Ismael Ferreira Rodrigues,
agregar novos conhecimentos é sem-
pre relevante. “É importante um evento
como este porque no momento o setor
enfrenta uma crise por conta das pragas,
que estão dando em grandes proporções,
e é bom a gente sempre agregar mais co-
nhecimento para conseguir segurar um
pouco o avanço dessas pragas”, disse.
De acordo com Luiz Carlos Tasso
Júnior, superintendente da Canaoes-
te e conselheiro fiscal da Copercana e
Sicoob Cocred, o evento faz parte da
filosofia da Canaoeste que é a de pro-
porcionar ao associado acesso a novas
soluções e informações para o controle
do canavial. “O nosso objetivo é trazer
extensão, novas tecnologias de con-
trole, controle químico, manual e me-
cânico para que o produtor consiga ter
maior eficiência no canavial, com maior
produtividade e lucratividade ao nosso
associado”, afirmou, ele concluindo. “É
a Canaoeste ao lado do produtor”. RC
do Sphenophorus, possui longo residual
e controle eficiente, protegendo o rizo-
ma da planta por mais de uma geração
no mesmo ano, afirma o fabricante. O
engenheiro agrônomo também falou do
1º Desafio de Produtividade da Cana
- CANAMAX - CTC/Basf - Soca da
Safra 2014/2015, iniciativa que tem o
objetivo de estimular o setor sucroener-
gético a conquistar a máxima produtivi-
dade dos canaviais.
O evento foi bem avaliado pelos
participantes. “Achei o evento ótimo.
As pesquisas mostram que buscar uma
maior produtividade é o caminho que a
gente tem que seguir, senão todos estes
problemas citados vão nos prejudicar,
portanto, é importante compartilhar
as informações”, afirmou João Batis-
ta Gonçalves Dias. Produtor rural de
Mococa-SP, onde tem uma área de 700
hectares, ele contou que já encontrou
Sphenophorus, o que já tem causado
impacto na sua produção. “Muitas coi-
sas que aprendemos aqui poderemos
usar no nosso dia a dia”, afirmou.
Opinião compartilhada com o produ-
tor de Morro Agudo - SP, Rodrigo Sic-
chieri Rosa. “Eu acho que o setor está
atravessando um momento de grande
dificuldade, passando por uma modifi-
cação muito ampla, que é da cana quei-
mada para cana crua e o produtor fica
meio perdido, sem saber o que fazer
com essa situação. Então eu acredito
Mauro Cottas,
consultor da BASF
Aprovação dos participantes
que um evento deste porte pode orien-
tar o que fazer com a cana e que hora
agir. O evento vem a somar muito para
o produtor”, disse. Fornecedor de cana,
ele produz de 11 a 12 mil toneladas por
safra e afirmou que teve problemas com
cigarrinha e broca, mas o Sphenopho-
rus ainda não encontrou em suas terras,
mas as informações obtidas no evento
ajudarão a se prevenir contra a praga.
João Batista Gonçalves Dias
Rodrigo Sicchieri Rosa
Ismael Ferreira Rodrigues
Luiz Carlos Tasso Júnior
Equipe técnica da Canaoeste
com o palestrante Wilson Novaretti
Reportagem de Capa - Especial Pragas
32. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
32
Experts Cana é realizado para cooperados
A
Copercana foi sede, em setem-
bro, da realização do Experts
Cana, um evento promovido
pela FMC Agricultural Products, para
gerentes, supervisores e consultores das
principais usinas dos Estados de Minas
Gerais, São Paulo, Goiás e Alagoas. O
encontro, que faz parte de uma progra-
mação que foi realizada entre os meses
de julho e outubro, teve o objetivo de
auxiliar o produtor rural na escolha de
tecnologias assertivas em relação ao
manejo nos canaviais, proporcionando,
assim, um melhor retorno sobre o in-
vestimento aplicado.
De acordo com Vinícius Batis-
ta, agrônomo da FMC e responsável
pela gestão da conta da Copercana, a
parceria entre a multinacional e a co-
operativa é eficiente no sentido de di-
fundir as inovações, soluções e novas
tecnologias aos cooperados, visando
que eles consigam produzir mais.
“Temos como missão gerar produti-
vidade e, para gerar produtividade, é
necessário aumentar a rentabilidade”,
explica Batista, contando que a ideia
das reuniões é oferecer conhecimento
para que os produtores consigam uti-
lizar as informações em prol de me-
lhores resultados no campo.
Dando início à abordagem das solu-
ções tecnológicas com foco na renta-
bilidade da cana, o evento contou com
Evento promovido pela FMC em parceria com a Copercana ofereceu orientações
sobre técnicas de manejo para a cultura da cana-de-açúcar
Andréia Vital
palestras como a de Michel Fernandes,
professor da UEMG (Universidade do
Estado de Minas Gerais) e consultor,
especialista em plantas daninhas, que
na ocasião, explanou sobre as tendên-
cias do mercado, manejo de pragas e
controle químico.
Responsável pelo setor de Desen-
volvimento da usina Cerradão, em
Frutal (MG), Fernandes explanou so-
bre as experiências que teve em usi-
nas ao longo de 10 anos, abordando
a questão da seletividade dos herbici-
das. “O cenário mudou muito, saímos
da colheita queimada e passamos para
a colheita crua e isso tem um impacto
grande com o surgimento de pragas
que interferem na produtividade e no
custo”, disse, lembrando que o plan-
tio também mudou.
“Quem não evolui se encontra perdi-
do. Hoje temos um canavial doente, um
fator de produtividade mutante” alegou,
advertindo que novos obstáculos sur-
gem como a ferrugem alaranjada. “Não
se dava bola para esta doença, mas atu-
almente ela está causando um prejuízo
absurdo, principalmente no Triangulo
Mineiro”, contou, afirmando que em
outras culturas, como soja e milho,
conseguiram aumentar a produtividade,
mas na cana-de-açúcar a média conti-
nua no mesmo patamar.
Além de todos os fatores adversos,
existem práticas que estão resultando na
perda de produtividade e um dos pontos
de extrema importância para reverter
este quadro é o manejo de ervas dani-
nhas, que afetam a qualidade e eficiên-
cia agrícola. De acordo com o consultor,
existem produtos com excelente controle
de ervas, mas é necessário avaliar a sele-
tividade. “Seletividade é a capacidade de
determinado herbicida eliminar as ervas
daninhas de uma cultura, sem reduzir
a produtividade ou a qualidade do pro-
duto. Então temos que controlar a erva
daninha só que não podemos controlar
a cana, que tem que estar no máximo de
seu desenvolvimento”, explica.
O especialista alertou que os principais
fatores que interferem na seletividade são
Vinícius Batista, agrônomo da FMC Michel Fernandes, professor da UEMG
Reportagem de Capa - Especial Pragas
33. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
33
a dose, principalmente para os produtos
utilizados no meio do ano, período pró-
ximo das chuvas. Fernandes ressaltou
também que a maioria das variedades é
sensível aos produtos químicos.
O consultor apresentou trabalho
feito em 2008, que conclui que o tra-
tamento que teve o maior controle das
ervas daninhas, “que deixou o cana-
vial como um asfalto”, obteve também
uma redução de produtividade agrícola.
“Nem sempre o local onde está muito
limpo quer dizer que o canavial vai pro-
duzir mais” disse, completando, “temos
que ter planejamento, saber o que va-
mos aplicar, ter os produtos e máquinas
corretas, aplicar em pré, e não somente
utilizar o que tem, vamos economizar
dinheiro, pensando”, ensinou.
Na ocasião, o gerente de Desenvol-
vimento de Produto Herbicida da FMC,
Roberto Toledo, abordou a questão do
manejo de defensivos de alta perfor-
mance em cana ressaltando o portfólio
de herbicidas da FMC.
“A FMC pode contribuir com o setor
de maneira imediata disponibilizando
portfólio assertivo e eficaz para o ma-
nejo de plantas daninhas, com produ-
tos com diferentes modos de ação, de
diferentes mecanismos ou novas tec-
nologias realmente para o setor”, diz o
consultor, se referindo à família Boral,
herbicida que promove excelente con-
trole de folhas largas e estreitas com
residualidade, inclusive no controle de
diferentes espécies de corda-de-viola.
Na linha de produtos da empresa tam-
bém ganharam destaque o herbicida Si-
nerge, que tem um controle eficiente de
folhas largas com alto residual e seleti-
vidade; o Furadan, nematicida eficiente,
com ação complementar inseticida e efei-
to fitotônico que promove longevidade
e produtividade para o canavial; o Talis-
man, inseticida que combina dois mo-
dos de ação diferentes, resulta em efeito
de choque e residual para o controle de
Sphenophorus promovendo mais vigor
para os canaviais e ganhos significativos
de produtividade e para o manejo de plan-
tas daninhas e o herbicida Aurora, exce-
lente no manejo de plantas tolerantes.
Para encerrar o evento, a pesquisadora
LeilaDinardo Miranda, doIAC(Centrode
Cana) abordou a questão do aumento das
plantas daninhas com a introdução da me-
canização na lavoura de cana-de-açúcar.
A pesquisadora advertiu que embora
sejam simples de manejar, os nematoi-
des foram esquecidos nos últimos anos,
em parte por conta da preocupação com a
situação econômica e com outras pragas,
como Cigarrinha e Sphenophorus levis,
fato que contribuiu para a disseminação
da praga, que é um parasita microscópi-
co que impacta de forma negativa a pro-
dutividade por dificultar a absorção dos
nutrientes pelas raízes e destruí-las.
De acordo com Leila, os nematoides
reduzem de 20% a 30% a produtividade
no primeiro corte da cana-de-açúcar. Já
a queda da produtividade das soqueiras
é de 10% a 20% por corte, além de re-
duzir a longevidade do canavial, com
prejuízo da perda de um corte. “São
poucas as culturas nas quais os nema-
toides têm tanta importância quanto a
cana-de-açúcar”, alertou.
As quatro espécies mais comuns as-
sociadas à raiz da cana são Meloidogy-
ne incógnita e Meloidogyne javanica,
que causam as galhas nas raízes, Pra-
tylenchus zeae e Pratylenchus brachyu-
rus, que ocasionam lesões que nem
sempre são fáceis de identificar, porque
existem outras pragas que provocam
o mesmo tipo de lesão, explica a pes-
quisadora. “A cigarrinha quando suga a
raiz provoca um sintoma parecido, en-
tão a gente consegue descobrir se tem
ou não nematoide arrancando a raiz e
coletando a amostra que deve ser leva-
da para o laboratório”, diz, explicando
que os nematoides atacam o sistema
radicular e por isso destroem todas as
raízes, o que dificulta a cana absorver
água e nutrientes, crescendo menos.
Roberto Toledo, gerente de
Desenvolvimento de Produto Herbicida
Leila Dinardo Miranda,
pesquisadora do IAC
34. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
34
A profissional lembrou que a praga
ocorre em qualquer tipo de solo, argilo-
so ou arenoso, sendo que o dano acaba
sendo maior no solo arenoso, porque a
planta tem menos condições de suportar
o ataque da praga já que o solo areno-
so geralmente é mais pobre, ou seja, a
planta sofre mais no solo arenoso.
Para verificar se uma área está infesta-
da, é necessário fazer uma amostragem,
mas nunca em período seco do ano – entre
junho e outubro, e sim aguardar um mês
após o início das chuvas. “Isso porque a
população de nematoides não é constante,
ela flutua, sobe e desce, inclusive há com-
petição entre espécies, e ela aumenta quan-
do chove, pois no período chuvoso a cana
emite raiz e os nematoides se alimentam
das raízes, portanto aumentam. Quando
começa o período seco, a cana vai perden-
do a raiz e os nematoides vão diminuindo
devido à falta de umidade no solo”, diz.
Segundo a especialista, o tratamento
mais utilizado é feito com o nematici-
da, pois a cana responde muito ao uso
desse produto, que quando aplicado no
plantio e na soqueira reduz e controla a
população de nematoide por um perío-
do que varia de 2 a 6 meses e pode au-
mentar a produção em até 30 toneladas
por hectare. “Se eu planto numa época
muito chuvosa, cana de ano, o residu-
al é mais curto, pois o período é muito
chuvoso. Se o plantio acontece de mar-
ço a abril, o residual é maior, controlan-
do por 5 ou 6 meses ou até mais, porque
no período mais seco o produto se de-
grada menos”, ensina Leila, concluindo
“a minha recomendação é a seguinte:
se você tiver uma área muito infesta-
da de nematoide, quando for renovar o
canavial, plante uma variedade média e
tardia, porque este tipo é mais fácil de
ter retorno quando se faz o tratamento”.
Na oportunidade, Leila também ex-
planou sobre outra praga que tem sido o
calcanhar de Aquiles dos produtores. “A
primeira praga que percebemos que se
intensificou com a cana crua foi a cigarri-
nha, mas não foi só ela, os Sphenophorus
também se beneficiaram com o novo sis-
tema”, diz a profissional, lembrando que
as queimadas matavam uma parte das
pragas, agora sem o fogo, além de não
matar o adulto deixam a palha que para
ele serve de cobertor, elucida a pesquisa-
dora, afirmando que a praga é encontrada
o ano todo no campo e pode causar uma
redução de produtividade altíssima.
A população de Sphenophorus au-
menta na medida em que o canavial en-
velhece e sua disseminação acaba sen-
do feita principalmente com a muda ou
até mesmo com a colhedora. Devido a
este fator, é necessário ter cuidado com
a limpeza das máquinas, lembra Leila.
Amostragens na área de reforma,
antes de se destruir a soqueira, são in-
dicadas para verificar se a praga está no
campo. “A minha recomendação é que,
principalmente, para as pessoas que não
sabem se têm praga na área, que façam
dois pontos por hectare, e se a popula-
ção está baixa, é conveniente aumentar
a grade de amostragem para seis pontos
por hectare”, explica. Outro detalhe
importante quando se adota medida de
controle para Sphenophorus no plantio
é destruir mecanicamente a soqueira
velha, no caso de ter encontrado a pra-
ga. Além disso, é importante rotacionar
produtos, ensina a especialista.
O gerente comercial da Copercana,
Frederico Dalmaso, destacou a relevân-
cia do Experts Cana. “O evento é de
alta qualidade técnica, com palestrantes
de primeira linha, por isso é importante
para o fornecedor ter acesso às infor-
mações que conseguimos trazer com
a ajuda de um parceiro forte como a
FMC”, afirmou ele, pontuando que foi
o primeiro Experts Cana realizado em
Sertãozinho-SP e o primeiro feito junto
à cooperativa.
Pedro Esrael Bighetti, diretor da
Copercana, também aprovou a realiza-
ção do evento e destacou a relevância
das informações oferecidas pelos pa-
lestrantes. “A Copercana e Canaoeste
contam com mais de 30 agrônomos no
campo, é importante conhecer o que há
de novo, principalmente neste caso de
combate às doenças, temos sempre que
nos unir com multinacionais, como a
FMC, que sempre fez sozinha este pro-
jeto e agora nos convidou para sermos
seus parceiros”, disse.
Participando de uma visita às instala-
ções do Sistema Copercana, Canaoeste
e Sicoob Cocred, o deputado federal
Arnaldo Jardim, então candidato à ree-
leição, no momento, aproveitou para dar
sua palavra aos participantes do evento.
Acompanhado pelo presidente da Cana-
oeste, que agradeceu a presença de to-
dos, o deputado falou sobre o trabalho da
Frente Parlamentar em Defesa do Setor
Sucroenergético, que coordena em Bra-
sília e outros assuntos pertinentes à sua
atuação em prol do segmento. RC
Frederico Dalmaso, gerente comercial de
insumos da Copercana
Pedro Esrael Bighetti, diretor da Copercana
Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste e
o Deputado Federal Arnaldo Jardim
Reportagem de Capa - Especial Pragas
36. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
36
Destaque I
Copercana e Canaoeste prestigiam
inauguração de unidade da Yara
O
presidente e diretores da Co-
percana, além de gerentes da
Copercana e da Canaoeste, esti-
veram em Sumaré-SP, em 11 de novem-
bro, para a inauguração da nova unidade
misturadora de fertilizantes da Yara. Eles
conheceram a planta mais moderna do
País no segmento, que recebeu investi-
mentos de R$ 115 milhões e terá capaci-
dade para armazenar 115 mil toneladas e
envasar 750 mil por ano, em embalagens
de 50 kg e uma tonelada.
Com a compra da Bunge, em 2013,
a Yara se tornou a líder no mercado na-
cional de fertilizantes, respondendo por
25% das vendas. Sumaré, por se localizar
numa região estratégica, às margens da
Rodovia Anhanguera, próxima a áreas de
cana, café, grãos e citros e com fácil des-
locamento até o Porto de Santos, integra
um audacioso plano da Yara que prevê
um crescimento ainda maior no Brasil.
De acordo com o presidente da Yara
Brasil, Lair Hansen, o nosso País se tor-
nou especial para os negócios da com-
panhia, que nasceu em 1905, na No-
ruega. Além de oferecer terras férteis,
uma combinação ideal de sol e chuva
na maior parte das regiões e possuir a
maior reserva de água doce do plane-
ta, o Brasil cresce, em média, 3,5% ao
ano em consumo de fertilizantes. “Em
2050, teremos o desafio de alimentar
nove bilhões de pessoas no planeta.
Nesse aspecto, o Brasil se tornou um
pilar da economia mundial”.
O presidente da Copercana, An-
tonio Eduardo Tonielo, declarou que
esta nova unidade misturadora apre-
senta o que há de mais moderno em
tecnologia para adubo. “Para a Co-
percana, parceira da Yara já há muitos
anos, é muito importante termos uma
indústria como esta no Estado de São
Paulo. Pensando no desenvolvimen-
Com investimentos de R$ 115 milhões, misturadora de fertilizantes em Sumaré-SP
terá capacidade para envasar 750 mil toneladas por ano
Igor Savenhago
to agrícola, é fundamental
termos esse avanço na qua-
lidade dos insumos, para
que possamos ter uma me-
lhor produtividade”.
Pedro Esrael Bighetti,
diretor da Copercana, pa-
rabenizou os executivos da
Yara pelo investimento. “É
de muito mérito, de muito
valor, porque a Yara é uma
empresa ‘pés no chão’, bas-
tante sólida. Basta ver que,
numa crise como a que es-
tamos vivendo, ela tem condições de
apostar nessa unidade moderna. Para
nós, foi um presente”.
A unidade
A nova planta é a 33ª unidade mis-
turadora da Yara no Brasil. A compa-
nhia mantém, ainda, dois escritórios,
em Porto Alegre e São Paulo, e duas
fábricas, em Rio Grande-RS e Ponta
Grossa-PR. Como 70% dos insumos
para a produção de fertilizantes no
país são importados, uma das preocu-
pações, ao escolher Sumaré, foi se ins-
talar numa região com fácil acesso ao
Porto de Santos.
As atividades da nova unidade estão
no início. Conforme for expandindo a
capacidade de operação, uma das me-
tas é fazer a substituição de até 80% da
frota rodoviária, que seria composta por
25 mil caminhões/ano, por transporte
sobre trilhos, o que permitirá a redução
de um milhão de quilos de CO2
anual-
mente. Para isso, a área, que tem um
total de 80 mil metros quadrados, sendo
Revista Canavieiros - Novembro de 2014
nova unidade misturadora de
fertilizantes da Yara
Lair Hansen, presidente da Yara Brasil
37. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
37
34 mil construídos, dispõe de um mo-
dal rodoferroviário operado pela Rumo
Logística, que integra as duas malhas e
liga, também, os trens ao porto.
Os fertilizantes misturados e en-
vasados em Sumaré irão abastecer os
mercados de São Paulo, Paraná e Mato
Grosso do Sul – esses dois últimos em
menor escala. Toda automatizada, a
unidade contará com 90 colaboradores.
Presente no Brasil desde 1977, com
a denominação de Norsk Hidro e aten-
dendo, inicialmente, aos ramos de petró-
leo, alumínio e fertilizantes, a empresa
adquiriu, no início dos anos 2000, a
Adubos Trevo. Em 2004, passou a se
chamar “Yara”, que, em norueguês, sig-
nifica “boa colheita”. Desde então, atua,
apenas, em nutrição vegetal. Dois anos
depois, adquiriu a Fertibrás; em 2013, a
Bunge; e, neste ano, comprou 60% da
Galvani. Com mais de três mil colabora-
dores em todo o país, a Yara Brasil fatura
R$ 5,6 bilhões ao ano, em média, movi-
mentando 7,6 milhões de toneladas, com
vendas direcionadas principalmente ao
mercado interno e ao Paraguai.
Presença internacional
A inauguração da unidade contou
com as presenças do presidente inter-
nacional da Yara, Torgeir Kvidal, que
veio acompanhado pelo responsável
da área de vendas mundiais da compa-
nhia, Egil Hogna.
Kvidal afirmou que, além do cres-
cimento populacional, que obrigará o
planeta a produzir, nas próximas cinco
décadas, a mesma quantidade de ali-
mentos dos últimos dez mil anos, os
hábitos da população estão mudando,
favorecendo um maior consumo de fru-
tas, legumes e verduras. “A indústria de
fertilizantes precisará estar preparada
para dar respostas a esses desafios”.
Já Hogna citou dois aspectos. O pri-
meiro foi a escassez de água no planeta,
que, ao mesmo tempo em que preocu-
pa, movimenta o setor de nutrição vege-
tal a pensar em alternativas para reduzir
a dependência dos recursos hídricos.
“Quando você utiliza o fertilizante cor-
reto, é possível aumentar a produtivi-
dade de forma que o volume de água
utilizado seja menor. Isso depende de
pesquisas para que se avalie a quanti-
dade adequada de fertilizantes diante
da água disponível. Hoje, já é possível
Torgeir Kvidal, presidente
internacional da Yara
Descerramento da placa inaugural
Egil Hogna, Torgeir Kvidal, Lair Hansen, Cristina Bredda Carrara,
Morten Høglund, Mônika Bergamaschi e Francisco Jardim
Antonio Eduardo Tonielo, Sandro Sorrente, Gustavo Nogueira,
Pedro Esrael Bighetti, Frederico Dalmaso e Franco Viana
Os participantes fizeram uma visita as
instalações acompanhados de explicações dos
processos realizados
dizer que dá para triplicar a produção
com a mesma quantidade de água”.
Outro ponto abordado foi a posição
estratégica que o Brasil ocupa nos ne-
gócios na Yara Internacional, que opera
em 50 países, fornecendo produtos para
150 nações. Segundo ele, considerando
que a agricultura brasileira mais que tri-
plicou a produção de grãos nas últimas
duas décadas e que isso se deve, entre
outros fatores, ao crescimento do uso de
fertilizantes, é necessário que a indús-
tria se atente para conseguir ofertar um
volume suficiente de soluções em nutri-
ção vegetal para atender às demandas
por comida no planeta.
A secretária de Agricultura e Abas-
tecimento do Estado de São Paulo,
Monika Bergamaschi, também convi-
dada para o encontro, chamou a aten-
ção para o fato de que a produção de
alimentos deverá se sustentar num
tripé de sustentabilidade: ambien-
tal, social e econômica. “É mais fácil
lembrar das questões ambientais e da
pressão por aspectos sociais. Mas a
questão econômica é primordial, sem a
qual nossos agricultores, empresários
e investidores perderão a condição de
permanecer na atividade”.RC
38. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
38
Destaque II
Produção de alimentos terá que
aumentar 70% até 2050
A
população mundial deve che-
gar a 9,1 bilhões de pessoas
em 2050, 34% a mais do que o
número atual, sendo que a maior parte
será proveniente de países em desen-
volvimento, viverá em áreas urbanas e
com níveis de renda maiores do que os
atuais, de acordo com projeções da Or-
ganização das Nações Unidas para Ali-
mentação e Agricultura (FAO-ONU).
Para atender às necessidades deste novo
contingente, a produção de alimentos
terá que aumentar em 70%, ou seja, te-
rão que ser produzidas 200 milhões de
toneladas de carnes a mais e aumentar
a produção de cereais em 900 milhões
de toneladas, passando dos atuais 2,1
bilhões para 3 bilhões toneladas/ano. Já
a produção de açúcar deverá ser 20%
maior do que é atualmente.
“O desafio não é só produzir, mas
também é o de que as pessoas tenham
acesso a estes alimentos” alertou o re-
presentante da FAO-ONU no Brasil,
Alan Bojanic, durante o VI Fórum Ino-
vação, Agricultura e Alimentos para
um Futuro Sustentável - Desafio 2050,
realizado no dia 14 de outubro, no Mu-
seu Brasileiro da Escultura (MuBE),
em São Paulo-SP. O evento, que foi
realizado pela FAO-ONU, Embrapa,
Associação Nacional da Defesa Vege-
tal (Andef), Associação Brasileira do
Agronegócio (Abag), faz parte da agen-
da oficial, no Brasil, da Semana Mun-
dial daAlimentação, e reuniu lideranças
da cadeia produtiva de alimentos e do
agronegócio, como a secretária de Agri-
cultura do Estado de São Paulo, Mônika
Bergamaschi, e Braz Agostinho, presi-
dente da FETAESP (Federação dos Tra-
balhadores na Agricultura do Estado de
São Paulo), entre outros.
Bojanic afirmou, na ocasião, que é
preciso resolver o problema da fome
atual ao mesmo tempo que se discute
FAO-ONU aponta o Brasil como principal ator para suprir a demanda de alimentação global e
destaca a importância do papel do pequeno produtor rural no sistema produtivo
Andréia Vital
como alimentar o mundo nos próximos
anos. “O grande desafio é erradicar a
fome no presente, pois ainda existem
805 milhões de pessoas que passam
fome no mundo”, disse ele, contando
que de cada 1 em cada 9 pessoas e 1 em
cada 4 na África sofrem de fome crôni-
ca sem ter nada para comer regularmen-
te, conforme relatório anual da FAO.
Devido a sua contribuição para a er-
radicação da fome, o Brasil ganhou um
capítulo especial na edição do docu-
mento deste ano, que foi divulgada em
setembro. “A pobreza foi reduzida em
65% no Brasil, de 2002 a 2012, passan-
do de 24,8% para 8,5% e a extrema po-
breza foi reduzida de 9,8% para 3,5%”
comentou o executivo. O relatório mos-
tra também que o excesso de peso au-
mentou em 3 vezes para os homens e
dobrou para as mulheres entre 1974/75
e 2008/09 e o aumento entre adoles-
centes e crianças de 5 a 9 anos foi de
3 vezes nos últimos 20 anos. Fato que
deve ser levado em consideração, pois o
maior acesso aos alimentos e o exagero
têm elevado o índice de doenças, como
o AVC, explicou o executivo.
O representante da FAO também
afirmou que o Brasil tem um papel
fundamental para a segurança alimen-
tar do planeta. “É um dos países mais
importantes em termos de fornecimento
e, com certeza, com grandes disponibi-
lidades de aumentar o seu potencial de
produção, como também pode exportar
conhecimento, programas bem-sucedi-
dos, experiência de produtores e de co-
operativismo”, disse.
Bojanic ressaltou também a relevân-
cia da Agricultura Familiar na superação
do desafio de alimentar o mundo no fu-
turo, já que existem mais de 500 milhões
de explorações familiares no mundo e
quase 98% de todas as explorações agrí-
colas mundiais pertencem a pequenos
agricultores. “Os pequenos agricultores
têm um importante papel na luta para a
erradicação da fome e da pobreza, tanto
como produtores como consumidores de
alimentos”, afirmou, lembrando que em
2014 se comemora o ano internacional
da Agricultura Familiar.
Ao finalizar sua apresentação, o re-
presentante da FAO enfatizou que o de-
senvolvimento sustentável necessário
no futuro será alcançado com inovações
e aumento da produtividade e acentuou
que o uso de renováveis é essencial
neste cenário. “Para nós é fundamental
aumentar a utilização das bioenergias,
pois entendemos que é uma das formas
de descarbonizar a agricultura, reduzin-
do a emissão de carbono”, disse.
Tema evidenciado também pelo pre-
sidente da Embrapa, Maurício Lopes,
em sua palestra. “As tendências de con-
sumo conduzem a maior valorização de
Alan Bojanic, presentante da
FAO-ONU no Brasil
Maurício Lopes, presidemte da Embrapa
39. Revista Canavieiros - Novembro de 2014
39
produtos verdes, saudáveis, produzidos
por meio de sistemas sustentáveis”, es-
clareceu ele. Na ocasião, Lopes deu um
panorama sobre o cenário que impacta-
rá o futuro dos alimentos, ressaltando a
importância de se antecipar e planejar,
antes de agir. “A agricultura está em
constante evolução e as novas tecnolo-
gias revolucionarão a produção de ali-
mentos”, disse.
Para o presidente da ABAG, Luiz
Carlos Corrêa Carvalho, a baixa produ-
tividade média mundial da agricultura
é um grande obstáculo a ser superado
no sentido de alimentar o mundo no fu-
turo. “É extraordinário o que consegui-
mos atingir em produtividade em grãos
e carnes, com tecnologia desenvolvida
aqui. Isto é de fato uma bandeira dife-
renciada do Brasil, mas para atender
aos 40% do adicional de demanda, con-
forme indicou a FAO, o País precisará
a cada 10 anos, atingir o seu máximo
de produtividade para cumprir a meta”,
ressaltou Carvalho. Opinião compar-
tilhada com o presidente do Conselho
Luis Carlos Corrêa Carvalho
O projeto Revolução Verde homenageou personalidades do agronegócio
Diretor da ANDEF, Laércio Giampani,
que evidenciou também a importância
de se somar esforços do setor produti-
vo, governos e sociedade, para que o
Brasil possa cumprir sua missão.
Ao explanar no painel “Gastronomia
brasileira: qualidade para alcançar o
mundo”, a chef Mônica Rangel foi ta-
xativa ao afirmar que é imprescindível
evidenciar mais a culinária nacional,
como também despertar o patriotismo