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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO




LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FISICA E DESPORTO




                                            Docente:
                                     Prof. José Brito

                                            Discente:
                              Raúl Oliveira N.º 19734
UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto
                        Opção I – Futebol 2003/2004
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                                                Índice


    •    Introdução                                                                                             3

    •    Delimitação conceptual                                                                                 4

    •    Aspectos básicos do exercício                                                                          5

    •    Componentes Estruturais do Exercício                                                                   7

    •    Plano fisiológico                                                                                      7

    •    Plano técnico – táctico                                                                                8

    •    Classificação dos exercícios                                                                         11

    •    Classificação dos exercícios no domínio especifico do futebol                                        11

    •    Exercícios fundamentais                                                                              11

    •    Exercícios complementares                                                                            12

    •    Conclusões                                                                                           13

    •    Bibliografia                                                                                         16




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                                         Introdução

       O     texto      apresentado           ao     longo       deste      documento            encontra-se
intrinsecamente conectado com as problemáticas e conteúdos abordados ao
longo da disciplina Opção I – Futebol.
       A abordagem realizada incidirá, maioritariamente, sobre o treino de jovens
pois é este o tema que, no momento presente, se apresenta como mais
pertinente e interessante de abordar dado que permite um transfer das
informações teóricas e conceptuais recolhidas, para o plano prático que neste
momento desenvolvo, ou seja, o treino de jovens atletas.
           O tema a desenvolver decorre da problemática – “o exercício no processo
de treino” – no âmbito dos jogos desportivos colectivos (JDC), muito
concretamente no âmbito do futebol, de formação prioritariamente mas não
olvidando o de competição. Através de uma pesquisa bibliográfica irei
caracterizar o exercício como forma de melhor o entender, pois só assim a sua
aplicação no treino terá validade.
       Deste texto espero, sinteticamente, esclarecer o leitor acerca de algumas
das questões fundamentais, no meu entender, que se colocam deste tema, tais
como:
       •     Qual o papel do exercício no processo de treino?
       •     Quais os aspectos a considerar na estruturação de exercícios?
       •     Como caracterizar e classificar os exercícios?
       •     Quais os exercícios mais recomendáveis para o treino de futebol?




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                        Delimitação conceptual

       Exercício       –     Garganta         (1995)       considera        o    exercício       como        um
meio/instrumento técnico – pedagógico fundamental que o treinador/professor
dispõe par elevar e potenciar o nível de prestação/rendimento dos seus
jogadores/alunos.


         Treino – Segundo Castelo (2000) “treino é um processo pedagógica que
visa desenvolver as capacidades técnicas, tácticas, físicas e psicológicas dos
praticantes e das equipas no quadro específico das situações competitivas
através da prática sistemática e planificada do exercício, orientada por
princípios e regras devidamente fundamentadas no conhecimento científico”.


       Técnica – Matveiev (citado por Ferreira, 2001) considera a técnica como o
modelo ideal da acção competitiva (mental, verbal, gráfico, matemático ou
outro) elaborado com base na experiência prática ou mesmo teórica.


       Táctica – Waineck (citado por Ferreira, 2001) entende a táctica como o
comportamento racional regulado pela própria capacidade de rendimento do
praticante, do adversário e das condições exteriores, no confronto individual ou
colectivo.


       Acções Técnico – Tácticas – Citando Maçãs e Brito (2000) podemos
afirmar que estas são “ os meios de base a que os jogadores recorrem, quer
individualmente, quer colectivamente, tanto na fase de ataque, como na fase
de defesa, no sentido de solucionar as situações concretas do jogo”.


       Princípios de jogo – Brito (2003) define princípios de jogo como sendo “as
linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos
técnico – tácticos dos jogadores quer no processo ofensivo, quer no processo
defensivo”.



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Raúl Oliveira                                                                                                 4
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                Aspectos básicos do exercício

       O treinador como figura central da condução de um processo de treino
organizado e estruturado, de modo a conseguir intervir eficazmente na criação e
estruturação de exercícios terá que dominar um conjunto de aspectos decisivos,
dos quais destacamos: o objectivo, o conteúdo, a estrutura e o nível de
desempenho.


       Objectivo – Para que este possa ser definido de forma racional devemos,
em primeiro lugar, considerar e diagnosticar o nível de prestação dos atletas de
que dispomos através do nível de desempenho nos exercícios anteriores ou
avaliação de diagnóstico/inicial. Só após este requisito estar cumprido estamos,
efectivamente, aptos a definir objectivos realistas e adequados à nossa
população alvo, e promover a melhoria do seu rendimento. Dada a vertente
multifuncional do exercício, convém referir que exercícios semelhantes podem
ter    objectivos       diferentes,       sendo       da     responsabilidade           do     treinador        a
hierarquização dos mesmos. Os objectivos deverão, impreterivelmente,
relacionar-se com os princípios de jogo.


       Conteúdo – Os conteúdos dizem respeito aos factores de rendimento
(Técnicos, tácticos, físicos e psicológicos) desenvolvidos, quer pelos jogadores
(índole individual), quer pela equipa (índole colectiva), em situações de jogo ou
exercícios (Ferreira 2001). De salientar que, em certos casos, os conteúdos e os
objectivos podem coincidir pois os princípios de jogo incluem-se nos factores de
jogo (adaptado de Maçãs e Brito, 2000).


       Estrutura do exercício – Segundo Queiroz (1986) estrutura diz respeito
à relação dialéctica que se estabelece entre a actividade desenvolvida pelos
jogadores e equipa (conteúdos) e os factores fundamentais do contexto onde
evolui (o jogo). Durante um jogo existem sempre duas equipas que “batalham”
entre si, a equipa em posse de bola tenta concretizar golo, enquanto que a
equipa contrária tenta impedir essa concretização, assim podemos afirmar que

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existe uma relação dialéctica expressa por atitudes interdependentes e
indissociáveis.        Assim       podemos          constatar       que      existem       três     situações
fundamenteis do jogo (Dietrich citado por Queiroz, 1986) em que os jogadores
se encontram envolvidos, como mais tarde verificaremos.


       Nível de desempenho – Diz respeito ao resultado obtido pelos alunos
após a operacionalização das actividades propostas. Estas informações
confrontadas com os objectivos previamente definidos, resultam num conjunto
de conclusões acerca do sucesso/insucesso da actividade e permite o reforço ou
reorganização dos aspectos básicos do exercício.


       Como complemento destes aspectos podemos referir mais alguns que o
treinador deverá dominar, dos quais destacamos:


       A racionalização - De acordo com Teodorescu (1987) cit. por Ferreira
(2001), numa primeira análise a racionalização procura a redução do número de
exercícios de treino e, o aumento do número de repetições do mesmo, tendo
como objectivo de base a optimização do treino e implicitamente o rendimento
dos praticantes e das equipas.


       A modelação - Segundo Castelo (2000), “é um processo através do qual
se procura correlacionar o exercício de treino com as exigências específicas da
competição, com base nos índices mensuráveis das componentes de
rendimento. Segundo este raciocínio, quanto maior for o grau de
correspondência entre os modelos utilizados (exercícios de treino) e a
competição de uma dada modalidade, melhores e mais eficazes serão os seus
efeitos, fundamentando-se assim a optimização do processo de treino”.




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Raúl Oliveira                                                                                                 6
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             Componentes Estruturais do Exercício

                 De acordo com Castelo (1996) as componentes estruturais do exercício
          devem ser consideradas no plano fisiológico e no plano técnico – táctico.



                                                    Componentes estruturais



                   Plano fisiológico                                                      Plano técnico – táctico




Duração                                                                                                                Espaço


      Volume                                                                                          Tempo


              Intensidade                                                                 Número


                          Frequência                                        Formas


                                  Densidade

          Fonte: Castelo, 1996


                                                  Plano fisiológico


                   Ao nível da estruturação do treino de jovens este plano é relegado para
          um importância secundária, sendo que a ênfase é atribuída ao plano técnico –
          táctico. Apesar de não serem os aspectos fulcrais do treino de jovens exige-se ao
          treinador o perfeito domínio destas componentes de treino pois os métodos de
          treino, a competição, os diversos exercícios, toda e qualquer carga de treino têm
          repercussões na totalidade do sujeito, podendo manifestar-se com particular
          incidência no âmbito anatomofisiológico, psicológico ou sociológico (Proença,

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1999). Estes efeitos são sobremaneira imprevisíveis no jovem, dado o
dinamismo e o heterocronismo das adaptações e transformações a que está
sujeito. Assim exige-se uma breve referência a estes factores:


         Duração – Refere-se ao tempo efectivo de execução de um exercício ou
série de exercícios, sem interrupção, medidas em unidades de tempo.
         Volume – Refere-se ao tempo total de carga executada pelos praticantes
num exercício, incluindo pausas do mesmo. Pode ser medido em km, kg,
número de repetições, horas, etc.
         Intensidade – Pode-se definir como a exigência com que o exercício é
executado em relação ao máximo de capacidades dos praticantes nesse mesmo
exercício.
          Densidade – Representa as pausas utilizadas entre os exercícios de
forma a desencadear uma relação harmoniosa entre exercício e recuperação.
         Frequência – Número de repetições de um exercício numa unidade de
tempo.


                                   Plano técnico – táctico


         Este é o plano ao qual se deve dar primazia, principalmente no treino de
jovens mas não só, sendo que a partir deste deve ser dado o ponto de partida
para a organização de um exercício. Ás componente deste plano darei uma
atenção mais pormenorizada dado que através delas ser-nos-á possível
responder a questões como: Como adequar o número de alunos ao espaço que
desejamos utilizar? Será possível aumentar ou diminuir a complexidade do
exercício através da manipulação destas componentes?


         Espaço – Para Castelo (2000), “ao diminuirmos o espaço, maiores serão
as dificuldades encontradas pelos praticantes na concretização dos objectivos
consubstanciados pelos conteúdos dos exercícios de treino. Este facto deriva de
que quanto menor for o espaço, maior será o tempo que os praticantes possuem
para analisar a situação, e executar as acções técnicas correspondentes à sua
solução, o que implica consequentemente um aumento da velocidade e do ritmo
de execução das acções individuais e colectivas, diminuindo a eficiência

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estabelecida para a concretização dos objectivos propostos”. Neste sentido, “à
que adequar o espaço de forma precisa, visto que entre o espaço e a actividade
desenvolvida pelos praticantes existe uma relação directa e precisa” (Queiroz,
1986).
         Tempo – Pode-se relacionar com uma série de varáveis como tempo de
actividade na tarefa, frequência das acções, velocidade de execução, ritmo de
jogo e índices de eficácia do rendimento.
          No entanto, Castelo (2000) destaca o vertente do tempo que o jogador
possui para executar afirmando que “a solução dos problemas postos pelo jogo,
é tanto mais adequada, quanto o jogador pode reflectir essa situação durante
mais tempo”. O mesmo autor refere que “a invariável tempo está estritamente
ligado ao espaço, isto significa que são interdependentes quanto mais temos de
um mais temos do outro. Quanto mais tempo tiver para agir, maior margem
de erro é possível por parte do jogador”.
         Número – Refere-se à quantificação dos meios humanos nas tarefas.
         Citando Castelo (2000) podemos referir que “a redução do número de
praticantes irá aumentar o número de vezes que estes podem relacionar-se de
forma: - directa com a bola; ou, próximo dos companheiros e adversários que
num dado momento a detém; e, tão ou mais importante, serem eles próprios a
concretizarem o objectivo final estabelecido para o exercício” (ex. remate).
         Ou seja, segundo o mesmo autor, se “aumentarmos o número de
possibilidades de solicitação dos praticantes consubstancia-se a oportunidade
destes desenvolverem os aspectos técnico -tácticos não só de ordem individual
(relação com bola – acção técnica) como de ordem colectiva (relação com os
companheiros – combinações tácticas) ”.
         Forma – A forma relaciona-se com a complexidade que resulta da
correlação entre a estrutura e o conteúdo do exercício e o conteúdo e estrutura
do jogo.
         Castelo (2000) defende que a construção dos exercícios de treino técnico
– táctico é de primordial importância que exista uma inter-relação óptima entre
número – espaço -tempo. A adequação eficaz e ajustada destas invariantes
permitirá estabelecer um número de solicitações correcto dos praticantes, em
espaços correctos de actuação e com tempo correctos para analisar e executar,
de forma a consubstanciar uma aquisição e assimilação das soluções tácticas e

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das execuções técnicas diferentes, em função da variabilidade dos dados da
situação.


         Para além da análise separada neste plano devem ainda ser consideradas
as relações que se estabelecem entre os critérios, número, tempo, espaço:
              •    Número/espaço
              •    Espaço/tempo
              •    Número/tempo
         (Adaptado de Castelo, 1996)


         Estes constituem:
              1. Variáveis fundamentais da estrutura e organização dos exercícios.
              2. Variáveis decisivas na elevação ou diminuição da estrutura de
                   complexidade de um exercício (adequação).
              3. Variáveis decisivas que permitem estabelecer uma relação entre os
                   conceitos conteúdo e estrutura.
              4. Variáveis decisivas que permitem estabelecer uma correlação entre
                   conteúdo e estrutura do jogo e conteúdo e estrutura do exercício.
              (adaptado de Queiroz, 1986)




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                  Classificação dos exercícios

-   O factor de treino predominante no conteúdo do exercício
              -   Exercícios técnicos
              -   Exercícios tácticos
              -   Exercícios físicos
-   Em função do grau de identidade do exercício
              -   Exercícios de competição
              -   Exercícios especiais
              -   Exercícios Gerais
       (Castelo, 2000)



    Classificação dos exercícios no domínio
                            especifico do futebol

       Dentro do domínio específico do treino de futebol podemos considerar os
exercícios como sendo:
       -    Exercícios fundamentais
       -    Exercícios complementares
       (Queiroz, 1986)


                                 Exercícios fundamentais
       São todas as “ formas de jogo” que incluem a finalização como estrutura
elementar         fundamental. A divisão                  destes exercícios            em três formas
fundamentais reflecte e retrata a simplificação da estrutura complexa do jogo
sem desvirtuar a sua natureza fundamental.




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Raúl Oliveira                                                                                                 11
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                        Opção I – Futebol 2003/2004
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          Exercícios                               Forma                              Estrutura e
       Fundamentais                           Fundamental                             Organização

 Construção das acções                                                             Gr + A X D + Gr
       ofensivas
           X
 Impedir a construção                                III
  das acções ofensivas


    Criar situações de                                                                 A X D + Gr
       finalização
             X
  Anular as situações de                              II
       finalização


      Finalização                                                                      A X 0 + Gr
           X
  Impedir a finalização
   (Defesa da baliza)                                  I


       Fonte : Queiroz, 1986




                              Exercícios complementares

       São todos aqueles que não incluem na sua estrutura fundamental a
finalização. Estes podem ser caracterizados pelas Formas Separadas que
incluem um só factor de treino e fora das condições de jogo ou pelas Formas
Integradas que incluem dois ou mais factores de treino.
       Os exercícios complementares são colocados no treino entre os exercícios
fundamentais ou, como desenvolvimento e aperfeiçoamento de certos factores
específicos (certos momentos da preparação).




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Raúl Oliveira                                                                                                 12
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                                         Conclusões

         De certa forma a resposta ás quatro questões que coloco no início deste
relatório encontram-se já implícitas no texto de revisão bibliográfica
anteriormente apresentado, no entanto algumas dessas questões merecem uma
reflexão mais alargada e abrangente.
       Logo no início do relatório é apresentada uma definição muito particular
de exercício, elegi esta não inocente ou aleatoriamente mas porque esta nos
apresenta o exercício não como uma simples estrutura do treino, apresenta-nos
sim o exercício como uma ferramenta fundamental para o treinador, opinião
esta fundamentada ao longo do trabalho através da importância e da relevância
atribuídas ao mesmo.
       Penso que esta ideia é pacífica entre nós, os treinadores e formadores de
jovens, mas será que, de facto, os treinadores utilizam este “veículo” da forma
mais segura e coerente? A minha experiência pessoal quer como atleta quer
como treinador leva-me, infelizmente, a concluir que ainda são muitos os
treinadores que não assumem uma postura estruturada e organizada perante o
processo de treino e desperdiçam a oportunidade de utilizar de forma racional e
coerente este precioso auxiliar de treino. Esta realidade é ainda mais
assustadora quando falamos do treino de jovens, que se encontram numa fase
de maturação sendo muito facilmente afectáveis quer a nível físico, psíquico ou
social. Esta ideia é defendida por Proença (1999) que afirma que “ao treinador
de crianças e jovens exige-se conhecimentos técnicos específicos, mas não será
de mais recordar que o essencial na condução do treino está para além das
técnicas e das técnicas e das tácticas e dispensa as ”habilidades” aprendidas e
o “cheiro de balneário”, resultado da sua experiência como desportista; o
essencial       residirá       na     capacidade         em      considerar         todos      os     factores
determinantes do comportamento do jovem, de forma integrada, criando um
clima facilitador e estimulante, ao seu desenvolvimento evitando tudo quanto
possa representar eventuais danos imediatos ou a prazo”
       O treinador tem que saber prescrever o “medicamento” correcto para tratar
as “doenças” da sua equipa ou atleta, faço esta divisão porque muitas vezes o

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Raúl Oliveira                                                                                                 13
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treinador organiza exercícios semelhantes para toda a equipa quando tal
pressupõe que todos tenham níveis de prática semelhante o que dificilmente
ocorre com jovens, assim o treinador deverá definir diversos grupos dentro da
sua equipa e aplicar o “medicamento” correcto. Esta ideia transporta-nos para
outra, ou seja, antes de tudo o resto o treinador terá que ser capaz de
diagnosticar qual o “mal” de que a sua equipa padece.
       Seguindo uma linha lógica de raciocínio o passo seguinte é estabelecer
objectivos hierarquizados para os exercícios de treino de modo a que estes
sejam, efectivamente, mecanismos eficazes do treino. Proença (1999) afirma
mesmo que “a definição de objectivos irrealista, o significado atribuído à
competição e a questão da preparação competitiva (que preparação e que
consequências), uma inadequada programação dos conteúdos de treino
(tornando-o, muitas vezes, monótono, pouco motivante, unilateral), uma
incorrecta e acriteriosa programação dos exercícios visando a formação
técnica constituem alguns dos principais desvios à desejável condução do
treino de jovens”.
       A afirmação anterior expõe, de certa forma, uma interrogação que tem
“assombrado” os treinadores ao longo dos tempos, principalmente ao nível da
formação. Proença (1999) define “alegria, prazer, carácter lúdico, desafio,
criatividade, participação efectiva e aprendizagem” como ingredientes
fundamentais para o perfeito desenvolvimento dos jovens ao longo do seu
processo de treino desportivo, quer como atleta quer como homem. Então a
grande questão que se põe é como fazer coexistir todas estas variáveis no treino,
promovendo o prazer e a aprendizagem em simultâneo?
       A verdade é que não nos interessa, a nós treinadores, que o jogador seja
uma perfeição no domínio dos gestos técnicos específicos do futebol, mas
sobretudo, que consiga agir em cada circunstância de acordo com um grau de
pertinência adequado ás exigências dessa mesma situação. Isto é, que seja capaz
de tomar a melhor decisão possível face às características que o envolvimento
lhe apresenta. Esta ideia é apoiada em Maçãs e Brito (2000) para quem “a
execução técnica só tem significado se for resposta a uma exigência táctica.
Neste sentido, todas as acções individuai se colectivas não devem ser
encaradas como objectivos em si mesmas, mas como os meios através dos



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Raúl Oliveira                                                                                                 14
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quais os jogadores e a equipa materializam as suas intenções tácticas na
procura de um objectivo comum”.
       Feita esta reflexão sai-me reforçado o princípio de que o jogo é um meio de
treino que o treinador tem ao seu dispor e que este é a melhor condição de
especificidade que ele pode ter para promover a aprendizagem técnico – táctica.
Não me refiro à utilização do jogo desprovido de objectivos didácticos concretos,
mas a utilização do mesmo com um carácter de orientação consciente e activo
por parte do treinador em função da aprendizagem do jogo.
       Apesar de todos terem a noção de que o jogo é a forma mais motivante de
aprendizagem, Ferreira (2001) lança o repto “EXERCITA-SE MUITO E JOGA-
SE POUCO”. Não quero desta forma dizer que os exercícios predominantemente
analíticos devem ser totalmente descartados pois tal como Garganta (1996)
refere estes exercícios “são determinantes para a resolução de uma fase de
formação do praticante – a relação jogador-bola”, logo são meios que temos
ao nosso dispor para o treino. Permito-me a acrescentar que os exercícios
analíticos devem, de facto, fazer parte da planificação de um treino mas apenas,
e só se a eles estiver conectado um dos princípios de jogo, pois sem uma
correlação com os princípios de jogo qualquer exercício é insípido e sem
interesse prático. No entanto, mais uma vez refiro que estes exercícios devem
servir apenas como complemento do treino e nunca como base fundamental do
treino.
       Sou novamente forçado a concluir que o jogo é o mais rico instrumento
(exercício) que o treinador possui para o “ensino” do futebol mas sou obrigado a
referir que muitas vezes surge a tentação a todos nós, treinadores, de utilizar os
exercícios analíticos pois são exercícios fechados onde mais facilmente se
calculam os resultados e se controlam as variáveis externas, esquecendo-nos
que o treino não deve servir para, exclusivamente, satisfazer as necessidades e
interesses do treinador mas sim voltado para os atletas com quem trabalhamos.
       A grande problemática dos JDC e concretamente do futebol não é a
resolução primária do “como fazer”, mas sim a necessidade imediata de, desde
logo, abrir pistas relativamente aos “quandos” (Ferreira, 2001, citando Araújo).
       Devo desde já esclarecer que quando me refiro à utilização do jogo, não me
refiro exclusivamente à utilização do jogo formal, mais sim ás “formas de jogo”
que simplificam a estrutura complexa do jogo, já anteriormente referidas.


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Raúl Oliveira                                                                                                 15
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       O treinador tem que ser capaz de conduzir o jogo ou “formas de jogo” e
dele retirar as consequências de aprendizagem desejadas. Não deixar o jogo
decorrer sem um propósito, mas sim organiza-lo didacticamente em função dos
objectivos previamente definidos e nele fazer a sede das aprendizagens
pretendidas, coloca um conjunto de problemas aos treinadores, que só é
possível de ser ultrapassado através das vivências de treino e de um elevado
nível de organização e preparação. A grande diferença entre treinadores é que
aqueles que possuem mais vivências relacionadas com o treino conseguem fazer
do jogo uma solução de aprendizagem suficientemente pertinente, enquanto
que os menos experientes têm de recorrer a soluções analíticas, que por vezes
são desfasadas do contexto de cooperação que o jogo possui (Ferreira, 2001)
para treinar os mesmos aspectos. De entre as “formas de jogo” atrás referidas
penso que é importante dar um destaque especial aos jogos reduzidos e aos
jogos modificados (condicionados) durante o treino de jovens, visto que estes
promovem em grande escala aquela que, do meu ponto de vista, é a função
primária do treinador do jovem jogador de futebol e que é criar um ambiente
em que o jovem possa criar vivência de jogo e “armazenar” na sua memória os
problemas e as soluções práticas que lhe surgem durante a competição. As
múltiplas vivências de jogo, tal como as vivências de treino se aplicam ao
treinador, promovem o desenvolvimento natural e efectivo do jovem.
       Para terminar gostaria de referir que o que refiro neste relatório, são
apenas as minhas ideias acerca daquilo que deve ser a planificação do treino em
futebol, o papel do exercício e do treinador na sua operacionalização, não são
verdades absolutas pois, muito provavelmente, existirão milhões de concepções
diferentes daquela que aqui expresso, aliás a maior beleza do nosso jogo é que
não existem receitas fixas para o treino e que qualquer umas das muitas
concepções de treino pode ter resultados satisfatórios, depende apenas do
contexto em que se insere. Assim, não vou afirmar que aquilo que aqui escrevo é
a forma mais correcta de direccionar o treino, apenas me limito a dizer que estas
são as ideias que defendo e só abdicarei delas no dia em que me demonstrem de
forma inequívoca que elas estão erradas.




                                         Bibliografia
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Raúl Oliveira                                                                                                 16
UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto
                        Opção I – Futebol 2003/2004
__________________________________________________________________



    Castelo, J. (1996) “Futebol - A Organização do Jogo”, Edição do Autor

    Castelo, J. et al. (2000) “Metodologia do Treino Desportivo”, Edições FMH, 3ª

 edição

    Queiroz, C.(1986) “Estrutura e Organização dos Exercícios de Treino em Futebol”,

 Edições Federação Portuguesa de Futebol, 1ª edição, Lisboa

    Maçãs, V. & Brito, J. (2000) “ Os factores de jogo em futebol”, série didáctica

 UTAD.

    Brito, J. (2003) “ Metodologia e didáctica específica I, o jogo de futebol”,

 documento de apoio à disciplina de Opção I – Futebol

    Proença, J. (1999) “A identidade do treino de jovens, da ética à metodologia”, in

 treino desportivo

    Ferreira, A. (2001) “Ensinar os jovens a jogar… a melhor solução para a

 aprendizagem da técnica e da táctica”, in treino desportivo

    Garganta, J (1995) “Para uma teoria dos Jogos desportivos colectivos” in A. Graça

 & J .Oliveira “o ensino dos jogos desportivos”: centro de estudos desportivo, FCDEF-

 UP




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Raúl Oliveira                                                                                                 17

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O exercicio no processo de treino

  • 1. UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FISICA E DESPORTO Docente: Prof. José Brito Discente: Raúl Oliveira N.º 19734
  • 2. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Índice • Introdução 3 • Delimitação conceptual 4 • Aspectos básicos do exercício 5 • Componentes Estruturais do Exercício 7 • Plano fisiológico 7 • Plano técnico – táctico 8 • Classificação dos exercícios 11 • Classificação dos exercícios no domínio especifico do futebol 11 • Exercícios fundamentais 11 • Exercícios complementares 12 • Conclusões 13 • Bibliografia 16 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 2
  • 3. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Introdução O texto apresentado ao longo deste documento encontra-se intrinsecamente conectado com as problemáticas e conteúdos abordados ao longo da disciplina Opção I – Futebol. A abordagem realizada incidirá, maioritariamente, sobre o treino de jovens pois é este o tema que, no momento presente, se apresenta como mais pertinente e interessante de abordar dado que permite um transfer das informações teóricas e conceptuais recolhidas, para o plano prático que neste momento desenvolvo, ou seja, o treino de jovens atletas. O tema a desenvolver decorre da problemática – “o exercício no processo de treino” – no âmbito dos jogos desportivos colectivos (JDC), muito concretamente no âmbito do futebol, de formação prioritariamente mas não olvidando o de competição. Através de uma pesquisa bibliográfica irei caracterizar o exercício como forma de melhor o entender, pois só assim a sua aplicação no treino terá validade. Deste texto espero, sinteticamente, esclarecer o leitor acerca de algumas das questões fundamentais, no meu entender, que se colocam deste tema, tais como: • Qual o papel do exercício no processo de treino? • Quais os aspectos a considerar na estruturação de exercícios? • Como caracterizar e classificar os exercícios? • Quais os exercícios mais recomendáveis para o treino de futebol? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 3
  • 4. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Delimitação conceptual Exercício – Garganta (1995) considera o exercício como um meio/instrumento técnico – pedagógico fundamental que o treinador/professor dispõe par elevar e potenciar o nível de prestação/rendimento dos seus jogadores/alunos. Treino – Segundo Castelo (2000) “treino é um processo pedagógica que visa desenvolver as capacidades técnicas, tácticas, físicas e psicológicas dos praticantes e das equipas no quadro específico das situações competitivas através da prática sistemática e planificada do exercício, orientada por princípios e regras devidamente fundamentadas no conhecimento científico”. Técnica – Matveiev (citado por Ferreira, 2001) considera a técnica como o modelo ideal da acção competitiva (mental, verbal, gráfico, matemático ou outro) elaborado com base na experiência prática ou mesmo teórica. Táctica – Waineck (citado por Ferreira, 2001) entende a táctica como o comportamento racional regulado pela própria capacidade de rendimento do praticante, do adversário e das condições exteriores, no confronto individual ou colectivo. Acções Técnico – Tácticas – Citando Maçãs e Brito (2000) podemos afirmar que estas são “ os meios de base a que os jogadores recorrem, quer individualmente, quer colectivamente, tanto na fase de ataque, como na fase de defesa, no sentido de solucionar as situações concretas do jogo”. Princípios de jogo – Brito (2003) define princípios de jogo como sendo “as linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos técnico – tácticos dos jogadores quer no processo ofensivo, quer no processo defensivo”. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 4
  • 5. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Aspectos básicos do exercício O treinador como figura central da condução de um processo de treino organizado e estruturado, de modo a conseguir intervir eficazmente na criação e estruturação de exercícios terá que dominar um conjunto de aspectos decisivos, dos quais destacamos: o objectivo, o conteúdo, a estrutura e o nível de desempenho. Objectivo – Para que este possa ser definido de forma racional devemos, em primeiro lugar, considerar e diagnosticar o nível de prestação dos atletas de que dispomos através do nível de desempenho nos exercícios anteriores ou avaliação de diagnóstico/inicial. Só após este requisito estar cumprido estamos, efectivamente, aptos a definir objectivos realistas e adequados à nossa população alvo, e promover a melhoria do seu rendimento. Dada a vertente multifuncional do exercício, convém referir que exercícios semelhantes podem ter objectivos diferentes, sendo da responsabilidade do treinador a hierarquização dos mesmos. Os objectivos deverão, impreterivelmente, relacionar-se com os princípios de jogo. Conteúdo – Os conteúdos dizem respeito aos factores de rendimento (Técnicos, tácticos, físicos e psicológicos) desenvolvidos, quer pelos jogadores (índole individual), quer pela equipa (índole colectiva), em situações de jogo ou exercícios (Ferreira 2001). De salientar que, em certos casos, os conteúdos e os objectivos podem coincidir pois os princípios de jogo incluem-se nos factores de jogo (adaptado de Maçãs e Brito, 2000). Estrutura do exercício – Segundo Queiroz (1986) estrutura diz respeito à relação dialéctica que se estabelece entre a actividade desenvolvida pelos jogadores e equipa (conteúdos) e os factores fundamentais do contexto onde evolui (o jogo). Durante um jogo existem sempre duas equipas que “batalham” entre si, a equipa em posse de bola tenta concretizar golo, enquanto que a equipa contrária tenta impedir essa concretização, assim podemos afirmar que ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 5
  • 6. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ existe uma relação dialéctica expressa por atitudes interdependentes e indissociáveis. Assim podemos constatar que existem três situações fundamenteis do jogo (Dietrich citado por Queiroz, 1986) em que os jogadores se encontram envolvidos, como mais tarde verificaremos. Nível de desempenho – Diz respeito ao resultado obtido pelos alunos após a operacionalização das actividades propostas. Estas informações confrontadas com os objectivos previamente definidos, resultam num conjunto de conclusões acerca do sucesso/insucesso da actividade e permite o reforço ou reorganização dos aspectos básicos do exercício. Como complemento destes aspectos podemos referir mais alguns que o treinador deverá dominar, dos quais destacamos: A racionalização - De acordo com Teodorescu (1987) cit. por Ferreira (2001), numa primeira análise a racionalização procura a redução do número de exercícios de treino e, o aumento do número de repetições do mesmo, tendo como objectivo de base a optimização do treino e implicitamente o rendimento dos praticantes e das equipas. A modelação - Segundo Castelo (2000), “é um processo através do qual se procura correlacionar o exercício de treino com as exigências específicas da competição, com base nos índices mensuráveis das componentes de rendimento. Segundo este raciocínio, quanto maior for o grau de correspondência entre os modelos utilizados (exercícios de treino) e a competição de uma dada modalidade, melhores e mais eficazes serão os seus efeitos, fundamentando-se assim a optimização do processo de treino”. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 6
  • 7. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Componentes Estruturais do Exercício De acordo com Castelo (1996) as componentes estruturais do exercício devem ser consideradas no plano fisiológico e no plano técnico – táctico. Componentes estruturais Plano fisiológico Plano técnico – táctico Duração Espaço Volume Tempo Intensidade Número Frequência Formas Densidade Fonte: Castelo, 1996 Plano fisiológico Ao nível da estruturação do treino de jovens este plano é relegado para um importância secundária, sendo que a ênfase é atribuída ao plano técnico – táctico. Apesar de não serem os aspectos fulcrais do treino de jovens exige-se ao treinador o perfeito domínio destas componentes de treino pois os métodos de treino, a competição, os diversos exercícios, toda e qualquer carga de treino têm repercussões na totalidade do sujeito, podendo manifestar-se com particular incidência no âmbito anatomofisiológico, psicológico ou sociológico (Proença, ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 7
  • 8. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ 1999). Estes efeitos são sobremaneira imprevisíveis no jovem, dado o dinamismo e o heterocronismo das adaptações e transformações a que está sujeito. Assim exige-se uma breve referência a estes factores: Duração – Refere-se ao tempo efectivo de execução de um exercício ou série de exercícios, sem interrupção, medidas em unidades de tempo. Volume – Refere-se ao tempo total de carga executada pelos praticantes num exercício, incluindo pausas do mesmo. Pode ser medido em km, kg, número de repetições, horas, etc. Intensidade – Pode-se definir como a exigência com que o exercício é executado em relação ao máximo de capacidades dos praticantes nesse mesmo exercício. Densidade – Representa as pausas utilizadas entre os exercícios de forma a desencadear uma relação harmoniosa entre exercício e recuperação. Frequência – Número de repetições de um exercício numa unidade de tempo. Plano técnico – táctico Este é o plano ao qual se deve dar primazia, principalmente no treino de jovens mas não só, sendo que a partir deste deve ser dado o ponto de partida para a organização de um exercício. Ás componente deste plano darei uma atenção mais pormenorizada dado que através delas ser-nos-á possível responder a questões como: Como adequar o número de alunos ao espaço que desejamos utilizar? Será possível aumentar ou diminuir a complexidade do exercício através da manipulação destas componentes? Espaço – Para Castelo (2000), “ao diminuirmos o espaço, maiores serão as dificuldades encontradas pelos praticantes na concretização dos objectivos consubstanciados pelos conteúdos dos exercícios de treino. Este facto deriva de que quanto menor for o espaço, maior será o tempo que os praticantes possuem para analisar a situação, e executar as acções técnicas correspondentes à sua solução, o que implica consequentemente um aumento da velocidade e do ritmo de execução das acções individuais e colectivas, diminuindo a eficiência ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 8
  • 9. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ estabelecida para a concretização dos objectivos propostos”. Neste sentido, “à que adequar o espaço de forma precisa, visto que entre o espaço e a actividade desenvolvida pelos praticantes existe uma relação directa e precisa” (Queiroz, 1986). Tempo – Pode-se relacionar com uma série de varáveis como tempo de actividade na tarefa, frequência das acções, velocidade de execução, ritmo de jogo e índices de eficácia do rendimento. No entanto, Castelo (2000) destaca o vertente do tempo que o jogador possui para executar afirmando que “a solução dos problemas postos pelo jogo, é tanto mais adequada, quanto o jogador pode reflectir essa situação durante mais tempo”. O mesmo autor refere que “a invariável tempo está estritamente ligado ao espaço, isto significa que são interdependentes quanto mais temos de um mais temos do outro. Quanto mais tempo tiver para agir, maior margem de erro é possível por parte do jogador”. Número – Refere-se à quantificação dos meios humanos nas tarefas. Citando Castelo (2000) podemos referir que “a redução do número de praticantes irá aumentar o número de vezes que estes podem relacionar-se de forma: - directa com a bola; ou, próximo dos companheiros e adversários que num dado momento a detém; e, tão ou mais importante, serem eles próprios a concretizarem o objectivo final estabelecido para o exercício” (ex. remate). Ou seja, segundo o mesmo autor, se “aumentarmos o número de possibilidades de solicitação dos praticantes consubstancia-se a oportunidade destes desenvolverem os aspectos técnico -tácticos não só de ordem individual (relação com bola – acção técnica) como de ordem colectiva (relação com os companheiros – combinações tácticas) ”. Forma – A forma relaciona-se com a complexidade que resulta da correlação entre a estrutura e o conteúdo do exercício e o conteúdo e estrutura do jogo. Castelo (2000) defende que a construção dos exercícios de treino técnico – táctico é de primordial importância que exista uma inter-relação óptima entre número – espaço -tempo. A adequação eficaz e ajustada destas invariantes permitirá estabelecer um número de solicitações correcto dos praticantes, em espaços correctos de actuação e com tempo correctos para analisar e executar, de forma a consubstanciar uma aquisição e assimilação das soluções tácticas e ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 9
  • 10. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ das execuções técnicas diferentes, em função da variabilidade dos dados da situação. Para além da análise separada neste plano devem ainda ser consideradas as relações que se estabelecem entre os critérios, número, tempo, espaço: • Número/espaço • Espaço/tempo • Número/tempo (Adaptado de Castelo, 1996) Estes constituem: 1. Variáveis fundamentais da estrutura e organização dos exercícios. 2. Variáveis decisivas na elevação ou diminuição da estrutura de complexidade de um exercício (adequação). 3. Variáveis decisivas que permitem estabelecer uma relação entre os conceitos conteúdo e estrutura. 4. Variáveis decisivas que permitem estabelecer uma correlação entre conteúdo e estrutura do jogo e conteúdo e estrutura do exercício. (adaptado de Queiroz, 1986) ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 10
  • 11. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Classificação dos exercícios - O factor de treino predominante no conteúdo do exercício - Exercícios técnicos - Exercícios tácticos - Exercícios físicos - Em função do grau de identidade do exercício - Exercícios de competição - Exercícios especiais - Exercícios Gerais (Castelo, 2000) Classificação dos exercícios no domínio especifico do futebol Dentro do domínio específico do treino de futebol podemos considerar os exercícios como sendo: - Exercícios fundamentais - Exercícios complementares (Queiroz, 1986) Exercícios fundamentais São todas as “ formas de jogo” que incluem a finalização como estrutura elementar fundamental. A divisão destes exercícios em três formas fundamentais reflecte e retrata a simplificação da estrutura complexa do jogo sem desvirtuar a sua natureza fundamental. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 11
  • 12. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Exercícios Forma Estrutura e Fundamentais Fundamental Organização Construção das acções Gr + A X D + Gr ofensivas X Impedir a construção III das acções ofensivas Criar situações de A X D + Gr finalização X Anular as situações de II finalização Finalização A X 0 + Gr X Impedir a finalização (Defesa da baliza) I Fonte : Queiroz, 1986 Exercícios complementares São todos aqueles que não incluem na sua estrutura fundamental a finalização. Estes podem ser caracterizados pelas Formas Separadas que incluem um só factor de treino e fora das condições de jogo ou pelas Formas Integradas que incluem dois ou mais factores de treino. Os exercícios complementares são colocados no treino entre os exercícios fundamentais ou, como desenvolvimento e aperfeiçoamento de certos factores específicos (certos momentos da preparação). ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 12
  • 13. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Conclusões De certa forma a resposta ás quatro questões que coloco no início deste relatório encontram-se já implícitas no texto de revisão bibliográfica anteriormente apresentado, no entanto algumas dessas questões merecem uma reflexão mais alargada e abrangente. Logo no início do relatório é apresentada uma definição muito particular de exercício, elegi esta não inocente ou aleatoriamente mas porque esta nos apresenta o exercício não como uma simples estrutura do treino, apresenta-nos sim o exercício como uma ferramenta fundamental para o treinador, opinião esta fundamentada ao longo do trabalho através da importância e da relevância atribuídas ao mesmo. Penso que esta ideia é pacífica entre nós, os treinadores e formadores de jovens, mas será que, de facto, os treinadores utilizam este “veículo” da forma mais segura e coerente? A minha experiência pessoal quer como atleta quer como treinador leva-me, infelizmente, a concluir que ainda são muitos os treinadores que não assumem uma postura estruturada e organizada perante o processo de treino e desperdiçam a oportunidade de utilizar de forma racional e coerente este precioso auxiliar de treino. Esta realidade é ainda mais assustadora quando falamos do treino de jovens, que se encontram numa fase de maturação sendo muito facilmente afectáveis quer a nível físico, psíquico ou social. Esta ideia é defendida por Proença (1999) que afirma que “ao treinador de crianças e jovens exige-se conhecimentos técnicos específicos, mas não será de mais recordar que o essencial na condução do treino está para além das técnicas e das técnicas e das tácticas e dispensa as ”habilidades” aprendidas e o “cheiro de balneário”, resultado da sua experiência como desportista; o essencial residirá na capacidade em considerar todos os factores determinantes do comportamento do jovem, de forma integrada, criando um clima facilitador e estimulante, ao seu desenvolvimento evitando tudo quanto possa representar eventuais danos imediatos ou a prazo” O treinador tem que saber prescrever o “medicamento” correcto para tratar as “doenças” da sua equipa ou atleta, faço esta divisão porque muitas vezes o ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 13
  • 14. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ treinador organiza exercícios semelhantes para toda a equipa quando tal pressupõe que todos tenham níveis de prática semelhante o que dificilmente ocorre com jovens, assim o treinador deverá definir diversos grupos dentro da sua equipa e aplicar o “medicamento” correcto. Esta ideia transporta-nos para outra, ou seja, antes de tudo o resto o treinador terá que ser capaz de diagnosticar qual o “mal” de que a sua equipa padece. Seguindo uma linha lógica de raciocínio o passo seguinte é estabelecer objectivos hierarquizados para os exercícios de treino de modo a que estes sejam, efectivamente, mecanismos eficazes do treino. Proença (1999) afirma mesmo que “a definição de objectivos irrealista, o significado atribuído à competição e a questão da preparação competitiva (que preparação e que consequências), uma inadequada programação dos conteúdos de treino (tornando-o, muitas vezes, monótono, pouco motivante, unilateral), uma incorrecta e acriteriosa programação dos exercícios visando a formação técnica constituem alguns dos principais desvios à desejável condução do treino de jovens”. A afirmação anterior expõe, de certa forma, uma interrogação que tem “assombrado” os treinadores ao longo dos tempos, principalmente ao nível da formação. Proença (1999) define “alegria, prazer, carácter lúdico, desafio, criatividade, participação efectiva e aprendizagem” como ingredientes fundamentais para o perfeito desenvolvimento dos jovens ao longo do seu processo de treino desportivo, quer como atleta quer como homem. Então a grande questão que se põe é como fazer coexistir todas estas variáveis no treino, promovendo o prazer e a aprendizagem em simultâneo? A verdade é que não nos interessa, a nós treinadores, que o jogador seja uma perfeição no domínio dos gestos técnicos específicos do futebol, mas sobretudo, que consiga agir em cada circunstância de acordo com um grau de pertinência adequado ás exigências dessa mesma situação. Isto é, que seja capaz de tomar a melhor decisão possível face às características que o envolvimento lhe apresenta. Esta ideia é apoiada em Maçãs e Brito (2000) para quem “a execução técnica só tem significado se for resposta a uma exigência táctica. Neste sentido, todas as acções individuai se colectivas não devem ser encaradas como objectivos em si mesmas, mas como os meios através dos ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 14
  • 15. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ quais os jogadores e a equipa materializam as suas intenções tácticas na procura de um objectivo comum”. Feita esta reflexão sai-me reforçado o princípio de que o jogo é um meio de treino que o treinador tem ao seu dispor e que este é a melhor condição de especificidade que ele pode ter para promover a aprendizagem técnico – táctica. Não me refiro à utilização do jogo desprovido de objectivos didácticos concretos, mas a utilização do mesmo com um carácter de orientação consciente e activo por parte do treinador em função da aprendizagem do jogo. Apesar de todos terem a noção de que o jogo é a forma mais motivante de aprendizagem, Ferreira (2001) lança o repto “EXERCITA-SE MUITO E JOGA- SE POUCO”. Não quero desta forma dizer que os exercícios predominantemente analíticos devem ser totalmente descartados pois tal como Garganta (1996) refere estes exercícios “são determinantes para a resolução de uma fase de formação do praticante – a relação jogador-bola”, logo são meios que temos ao nosso dispor para o treino. Permito-me a acrescentar que os exercícios analíticos devem, de facto, fazer parte da planificação de um treino mas apenas, e só se a eles estiver conectado um dos princípios de jogo, pois sem uma correlação com os princípios de jogo qualquer exercício é insípido e sem interesse prático. No entanto, mais uma vez refiro que estes exercícios devem servir apenas como complemento do treino e nunca como base fundamental do treino. Sou novamente forçado a concluir que o jogo é o mais rico instrumento (exercício) que o treinador possui para o “ensino” do futebol mas sou obrigado a referir que muitas vezes surge a tentação a todos nós, treinadores, de utilizar os exercícios analíticos pois são exercícios fechados onde mais facilmente se calculam os resultados e se controlam as variáveis externas, esquecendo-nos que o treino não deve servir para, exclusivamente, satisfazer as necessidades e interesses do treinador mas sim voltado para os atletas com quem trabalhamos. A grande problemática dos JDC e concretamente do futebol não é a resolução primária do “como fazer”, mas sim a necessidade imediata de, desde logo, abrir pistas relativamente aos “quandos” (Ferreira, 2001, citando Araújo). Devo desde já esclarecer que quando me refiro à utilização do jogo, não me refiro exclusivamente à utilização do jogo formal, mais sim ás “formas de jogo” que simplificam a estrutura complexa do jogo, já anteriormente referidas. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 15
  • 16. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ O treinador tem que ser capaz de conduzir o jogo ou “formas de jogo” e dele retirar as consequências de aprendizagem desejadas. Não deixar o jogo decorrer sem um propósito, mas sim organiza-lo didacticamente em função dos objectivos previamente definidos e nele fazer a sede das aprendizagens pretendidas, coloca um conjunto de problemas aos treinadores, que só é possível de ser ultrapassado através das vivências de treino e de um elevado nível de organização e preparação. A grande diferença entre treinadores é que aqueles que possuem mais vivências relacionadas com o treino conseguem fazer do jogo uma solução de aprendizagem suficientemente pertinente, enquanto que os menos experientes têm de recorrer a soluções analíticas, que por vezes são desfasadas do contexto de cooperação que o jogo possui (Ferreira, 2001) para treinar os mesmos aspectos. De entre as “formas de jogo” atrás referidas penso que é importante dar um destaque especial aos jogos reduzidos e aos jogos modificados (condicionados) durante o treino de jovens, visto que estes promovem em grande escala aquela que, do meu ponto de vista, é a função primária do treinador do jovem jogador de futebol e que é criar um ambiente em que o jovem possa criar vivência de jogo e “armazenar” na sua memória os problemas e as soluções práticas que lhe surgem durante a competição. As múltiplas vivências de jogo, tal como as vivências de treino se aplicam ao treinador, promovem o desenvolvimento natural e efectivo do jovem. Para terminar gostaria de referir que o que refiro neste relatório, são apenas as minhas ideias acerca daquilo que deve ser a planificação do treino em futebol, o papel do exercício e do treinador na sua operacionalização, não são verdades absolutas pois, muito provavelmente, existirão milhões de concepções diferentes daquela que aqui expresso, aliás a maior beleza do nosso jogo é que não existem receitas fixas para o treino e que qualquer umas das muitas concepções de treino pode ter resultados satisfatórios, depende apenas do contexto em que se insere. Assim, não vou afirmar que aquilo que aqui escrevo é a forma mais correcta de direccionar o treino, apenas me limito a dizer que estas são as ideias que defendo e só abdicarei delas no dia em que me demonstrem de forma inequívoca que elas estão erradas. Bibliografia ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 16
  • 17. UTAD – Licenciatura em Educação Física e Desporto Opção I – Futebol 2003/2004 __________________________________________________________________ Castelo, J. (1996) “Futebol - A Organização do Jogo”, Edição do Autor Castelo, J. et al. (2000) “Metodologia do Treino Desportivo”, Edições FMH, 3ª edição Queiroz, C.(1986) “Estrutura e Organização dos Exercícios de Treino em Futebol”, Edições Federação Portuguesa de Futebol, 1ª edição, Lisboa Maçãs, V. & Brito, J. (2000) “ Os factores de jogo em futebol”, série didáctica UTAD. Brito, J. (2003) “ Metodologia e didáctica específica I, o jogo de futebol”, documento de apoio à disciplina de Opção I – Futebol Proença, J. (1999) “A identidade do treino de jovens, da ética à metodologia”, in treino desportivo Ferreira, A. (2001) “Ensinar os jovens a jogar… a melhor solução para a aprendizagem da técnica e da táctica”, in treino desportivo Garganta, J (1995) “Para uma teoria dos Jogos desportivos colectivos” in A. Graça & J .Oliveira “o ensino dos jogos desportivos”: centro de estudos desportivo, FCDEF- UP ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Raúl Oliveira 17