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                          Imaginação: o que é?
                                  Paulo Faitanin - UFF

                  1. Aproximação: Cada um dos sensíveis próprios de cada
                  um dos sentidos externos é estabelecido como uma imagem
                  no sentido interno. Por exemplo, branco, doce e granulado
                  são imagens de cada um dos sentidos externos produzidas
                  internamente, na medida em que cada uma foi produzida por
  Imaginação      seu sentido externo próprio, independentemente: o branco,
                  pela visão, o doce pelo paladar e o granulado pelo tato.

2. Definição: Denomina-se imaginação [Tomás de Aquino, STh. I, q. 78, a. 4, c]
o ato pelo qual a potência sensitiva interna apreende, forma, associa e utiliza a
imagem que lhe chega proveniente da sensação produzida por cada um dos
sentidos externos. Tendo sua sede na alma, a potência sensitiva interna não
exige um órgão corpóreo, pelo qual se apreende e retém a imagem do objeto
sensível.

De um outro modo, podemos dizer que a imagem é uma expressa
representação da coisa sensível [Tomás de Aquino, S. In I Sent. d. 3, q. 4, a. 4,
c]. Tal representação imaginária é uma semelhança da coisa particular [Tomás
de Aquino, S. STh. I, q. 84, a. 7, ad. 2]. Obviamente por tratar-se de uma
similitude do real a imagem não é o objeto sensível da realidade, mas um sinal
pelo qual se reconhece e se identifica o objeto sensível da realidade concreta.
Assim, pois, a imagem representa a figura da coisa particular.
Mas isso é ainda mais complexo, pois se incluem na figura da coisa particular
apreendida como imagem pelo sentido interno da imaginação, certas
informações incidentais, como a cor, o som, o odor, o sabor, a superfície etc. que
estão na imagem tal como são sentidas por seus respectivos órgãos dos
sentidos, mas não necessariamente tal como existem nas coisas particulares
mesmas.

O ato do sentido interno imaginação é imaginar, ou seja, apreender, produzir,
associar imagem ou imagens. Ela é inclusive capaz, com auxílio da memória
sensível, de imaginar sobre imagens, isto é, de não só imaginar a figura que ela
mesma recebe dos sentidos externos, senão também de imaginar sobre o que
nela já existe como imagem: associando, compondo ou dividindo as imagens.
As fábulas, contos e outras formas literárias expressam aquilo que é essencial a
um escritor: a imaginação. Mas isso não é suficiente, pois o escritor manuseia as


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imagens, frutos da imaginação, na medida em que gera novas imagens e
imaginações.

3. Criatividade: Isso é o fruto do que emana da imaginação e denomina-se
criatividade e é utilizada basicamente para a construção destas histórias e não só
delas, mas de toda e qualquer literatura que se apóia sobre os dados da ficção,
ou seja, da relação que se produz pelo exercício da imaginação entre as
imagens que nela existe e as outras que nascem de suas relações entre si. A
imaginação é útil inclusive para a produção de modelos científicos.
Assim, pois, a criatividade é algo que emerge naturalmente da imaginação.
Não convém aqui dizer que criatividade é empregada no sentido equívoco da
palavra, pois a imagem que existe nesta potência sensitiva, que é a imaginação,
não resulta de um ato criador da capacidade humana, mas apenas, como já
dissemos, de uma representação da figura do objeto sensível que foi captada
originariamente pelo sentido externo correspondente. Neste aspecto, o
homem é criativo não por criar algo, pois nada cria, senão por associar o que
apreende e reproduzi-lo sob uma nova forma. Isso não é criar, mas imitar ou
mesmo produzir, pois criar é fazer algo a partir do nada existente, imitar é
reproduzir e produzir é associar imagens.

A imaginação não cria, porque as imagens que possui têm origem na realidade,
seja de origem direta ou indireta. É direta quando é representação da figura do
objeto sensível particular que existe aqui e agora, diante do sujeito que o
apreende pelos sentidos. É indireta quando resulta da associação de imagens
feita pela própria potência sensitiva da imaginação que é capaz de associar as
imagens de realidades diferentes: por exemplo, associar asas (próprias dos
pássaros) à imagem do cavalo (que também existe na realidade), extraindo-se
disso uma nova figura sem fundamento direto e imediato no real, pois na
realidade não existe um cavalo que possua asas, embora existam tanto ' asas'
como as das aves, como 'cavalos' nos campos.

Este sentido interno pode também imaginar a imagem retida previamente,
sem exigir a presença do objeto sensível externo [Tomás de Aquino, STh. I, q.
84, a. 7, obj. 2]. Isso ocorre tanto na vigília, quando estamos despertos e
atentos, quanto no sono. Pode-se sonhar estar comendo uma maçã e inclusive
recordar, associado à imagem da maçã, seu sabor e odor.

4. Sonho: É desta maneira que no sonho nos parece tão reais as associações
imaginativas que fazemos. Muito interessante é estabelecer, para além das
propostas psicologizantes, uma análise metafísica do papel da imaginação nos


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sonhos, ou seja, saber como, porque e para que nos sonhos são utilizadas as
imagens. De fato a imaginação tem fundamental importância nesta função
fisiológica do homem.

Tal como já foi dito e cabe reforçar, não há dúvida que a imagem tem capital
importância para a atividade produtora do homem. É elemento da virtude da
arte, ou seja, da reta razão do agir, na medida em que por esta virtude o
homem pode produzir coisas a partir da imagem que possui neste sentido
interno.

Assim, pois, sua importância vai da poesia à pintura, passando por tantos
outros meios de produção artística do homem. A razão tem a capacidade de
relacionar, multiplicar, ampliar, aniquilar, associar, organizar, inverter,
recompor as imagens retidas pela imaginação e contidas na memória sensível.
Não obstante, sua maior importância é para o conhecimento e para a ação
moral. Para o conhecimento ela é importante porque é mediante a imagem
que o intelecto propriamente concebe em si mesmo a idéia ou conceito da
coisa à qual corresponde a imagem. A imagem não é a idéia, ma uma
representação da figura da realidade particular, por cuja abstração obtém-se o
conceito. Daí que conceber não é imaginar.

5. Natureza: Quanto à natureza desta imagem, deve-se ter em conta que ela é
uma representação mental de uma realidade extra-mental ou material. Não é,
pois, a própria materialidade da coisa particular, como foi dito acima, mas sua
representação. Esta é a base da abstração do intelecto, cujo efeito é a
produção de um conceito, que é uma representação mental depurada de
qualquer limitação ou condicionamento sensível inerente à imagem.
Igualmente, a imaginação é importante para a gênese da ação moral, seja ela
boa ou má.

De fato, a gênese do pecado original pessoal dos primeiros pais, depende da
manipulação da imaginação pela sugestão demoníaca, como causa externa, e
da deliberada provocação humana, como causa interna. A imaginação não é
em si mesma nem boa nem má, exceto se sua formação advém de imagem de
objeto que representa na realidade mesma algo bom ou mau, como por
exemplo, a imagem que pode ser formada de objeto moralmente mau, como
aqueles que são produzidos para facilitar o vício, a falsidade, o dolo, o engano,
a ignorância e a malícia.

Para além da objetividade da imagem que pode ser boa ou má, o recurso às


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imagens, pode também ser bom ou mau, não por causa do objeto em si, mas
por causa da intenção humana. Nesta perspectiva, uma imagem adveniente de
um objeto bom pode ser utilizada intencionalmente para o mau.

Por isso, o ato de imaginar não constitui nenhum pecado. É antes algo natural
ao homem. Mas o que e para que se imagina pode constituir, atrelado à
intencionalidade, uma ação moral boa ou má. Pensar não é imaginar, embora a
imagem possa formar parte do conteúdo do pensamento.




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  • 1. www.aquinate.net/atualidades/análises ISSN 1808-5733 Imaginação: o que é? Paulo Faitanin - UFF 1. Aproximação: Cada um dos sensíveis próprios de cada um dos sentidos externos é estabelecido como uma imagem no sentido interno. Por exemplo, branco, doce e granulado são imagens de cada um dos sentidos externos produzidas internamente, na medida em que cada uma foi produzida por Imaginação seu sentido externo próprio, independentemente: o branco, pela visão, o doce pelo paladar e o granulado pelo tato. 2. Definição: Denomina-se imaginação [Tomás de Aquino, STh. I, q. 78, a. 4, c] o ato pelo qual a potência sensitiva interna apreende, forma, associa e utiliza a imagem que lhe chega proveniente da sensação produzida por cada um dos sentidos externos. Tendo sua sede na alma, a potência sensitiva interna não exige um órgão corpóreo, pelo qual se apreende e retém a imagem do objeto sensível. De um outro modo, podemos dizer que a imagem é uma expressa representação da coisa sensível [Tomás de Aquino, S. In I Sent. d. 3, q. 4, a. 4, c]. Tal representação imaginária é uma semelhança da coisa particular [Tomás de Aquino, S. STh. I, q. 84, a. 7, ad. 2]. Obviamente por tratar-se de uma similitude do real a imagem não é o objeto sensível da realidade, mas um sinal pelo qual se reconhece e se identifica o objeto sensível da realidade concreta. Assim, pois, a imagem representa a figura da coisa particular. Mas isso é ainda mais complexo, pois se incluem na figura da coisa particular apreendida como imagem pelo sentido interno da imaginação, certas informações incidentais, como a cor, o som, o odor, o sabor, a superfície etc. que estão na imagem tal como são sentidas por seus respectivos órgãos dos sentidos, mas não necessariamente tal como existem nas coisas particulares mesmas. O ato do sentido interno imaginação é imaginar, ou seja, apreender, produzir, associar imagem ou imagens. Ela é inclusive capaz, com auxílio da memória sensível, de imaginar sobre imagens, isto é, de não só imaginar a figura que ela mesma recebe dos sentidos externos, senão também de imaginar sobre o que nela já existe como imagem: associando, compondo ou dividindo as imagens. As fábulas, contos e outras formas literárias expressam aquilo que é essencial a um escritor: a imaginação. Mas isso não é suficiente, pois o escritor manuseia as AQUINATE, n° 8, (2009), 240-243 240
  • 2. www.aquinate.net/atualidades/análises ISSN 1808-5733 imagens, frutos da imaginação, na medida em que gera novas imagens e imaginações. 3. Criatividade: Isso é o fruto do que emana da imaginação e denomina-se criatividade e é utilizada basicamente para a construção destas histórias e não só delas, mas de toda e qualquer literatura que se apóia sobre os dados da ficção, ou seja, da relação que se produz pelo exercício da imaginação entre as imagens que nela existe e as outras que nascem de suas relações entre si. A imaginação é útil inclusive para a produção de modelos científicos. Assim, pois, a criatividade é algo que emerge naturalmente da imaginação. Não convém aqui dizer que criatividade é empregada no sentido equívoco da palavra, pois a imagem que existe nesta potência sensitiva, que é a imaginação, não resulta de um ato criador da capacidade humana, mas apenas, como já dissemos, de uma representação da figura do objeto sensível que foi captada originariamente pelo sentido externo correspondente. Neste aspecto, o homem é criativo não por criar algo, pois nada cria, senão por associar o que apreende e reproduzi-lo sob uma nova forma. Isso não é criar, mas imitar ou mesmo produzir, pois criar é fazer algo a partir do nada existente, imitar é reproduzir e produzir é associar imagens. A imaginação não cria, porque as imagens que possui têm origem na realidade, seja de origem direta ou indireta. É direta quando é representação da figura do objeto sensível particular que existe aqui e agora, diante do sujeito que o apreende pelos sentidos. É indireta quando resulta da associação de imagens feita pela própria potência sensitiva da imaginação que é capaz de associar as imagens de realidades diferentes: por exemplo, associar asas (próprias dos pássaros) à imagem do cavalo (que também existe na realidade), extraindo-se disso uma nova figura sem fundamento direto e imediato no real, pois na realidade não existe um cavalo que possua asas, embora existam tanto ' asas' como as das aves, como 'cavalos' nos campos. Este sentido interno pode também imaginar a imagem retida previamente, sem exigir a presença do objeto sensível externo [Tomás de Aquino, STh. I, q. 84, a. 7, obj. 2]. Isso ocorre tanto na vigília, quando estamos despertos e atentos, quanto no sono. Pode-se sonhar estar comendo uma maçã e inclusive recordar, associado à imagem da maçã, seu sabor e odor. 4. Sonho: É desta maneira que no sonho nos parece tão reais as associações imaginativas que fazemos. Muito interessante é estabelecer, para além das propostas psicologizantes, uma análise metafísica do papel da imaginação nos AQUINATE, n° 8, (2009), 240-243 241
  • 3. www.aquinate.net/atualidades/análises ISSN 1808-5733 sonhos, ou seja, saber como, porque e para que nos sonhos são utilizadas as imagens. De fato a imaginação tem fundamental importância nesta função fisiológica do homem. Tal como já foi dito e cabe reforçar, não há dúvida que a imagem tem capital importância para a atividade produtora do homem. É elemento da virtude da arte, ou seja, da reta razão do agir, na medida em que por esta virtude o homem pode produzir coisas a partir da imagem que possui neste sentido interno. Assim, pois, sua importância vai da poesia à pintura, passando por tantos outros meios de produção artística do homem. A razão tem a capacidade de relacionar, multiplicar, ampliar, aniquilar, associar, organizar, inverter, recompor as imagens retidas pela imaginação e contidas na memória sensível. Não obstante, sua maior importância é para o conhecimento e para a ação moral. Para o conhecimento ela é importante porque é mediante a imagem que o intelecto propriamente concebe em si mesmo a idéia ou conceito da coisa à qual corresponde a imagem. A imagem não é a idéia, ma uma representação da figura da realidade particular, por cuja abstração obtém-se o conceito. Daí que conceber não é imaginar. 5. Natureza: Quanto à natureza desta imagem, deve-se ter em conta que ela é uma representação mental de uma realidade extra-mental ou material. Não é, pois, a própria materialidade da coisa particular, como foi dito acima, mas sua representação. Esta é a base da abstração do intelecto, cujo efeito é a produção de um conceito, que é uma representação mental depurada de qualquer limitação ou condicionamento sensível inerente à imagem. Igualmente, a imaginação é importante para a gênese da ação moral, seja ela boa ou má. De fato, a gênese do pecado original pessoal dos primeiros pais, depende da manipulação da imaginação pela sugestão demoníaca, como causa externa, e da deliberada provocação humana, como causa interna. A imaginação não é em si mesma nem boa nem má, exceto se sua formação advém de imagem de objeto que representa na realidade mesma algo bom ou mau, como por exemplo, a imagem que pode ser formada de objeto moralmente mau, como aqueles que são produzidos para facilitar o vício, a falsidade, o dolo, o engano, a ignorância e a malícia. Para além da objetividade da imagem que pode ser boa ou má, o recurso às AQUINATE, n° 8, (2009), 240-243 242
  • 4. www.aquinate.net/atualidades/análises ISSN 1808-5733 imagens, pode também ser bom ou mau, não por causa do objeto em si, mas por causa da intenção humana. Nesta perspectiva, uma imagem adveniente de um objeto bom pode ser utilizada intencionalmente para o mau. Por isso, o ato de imaginar não constitui nenhum pecado. É antes algo natural ao homem. Mas o que e para que se imagina pode constituir, atrelado à intencionalidade, uma ação moral boa ou má. Pensar não é imaginar, embora a imagem possa formar parte do conteúdo do pensamento. AQUINATE, n° 8, (2009), 240-243 243