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Capítulo 3
                                             Lógica, indução e
                                                plausibilidade
Capítulo 3 - Lógica, indução e plausibilidade

                             Nada é melhor do que a felicidade eterna!
                             Mas um sanduíche de atum é melhor do
                             que nada!
                             Portanto, um sanduíche de atum é melhor
                             do que a felicidade eterna!


      e você não gosta de Matemática ou de Lógica, sei que vai tentar fugir

S     deste capítulo. Proponho que você me dê uma chance de expor esse
      assunto árido de uma forma um pouco diferente. Mas antes de iniciar,
é preciso dizer o óbvio: o exemplo acima é falho. Você saberia dizer por
que? A resposta está no meio deste capítulo.

De onde veio a lógica?
Há 30 mil anos, as condições de vida dos seres humanos eram bem
diferentes da atual. Não havia “supermercados”, por isso, o Homo Sapiens
precisava constantemente se envolver em trabalhosas — e muitas vezes
perigosas — atividades de procura e coleta de alimentos. Além disso, nossos
antepassados tinham uma perene preocupação com a sua segurança e a de
seus entes queridos mais próximos (bom, essa nós ainda temos!). Havia
também um intenso medo do desconhecido, sobretudo quando se estava à
mercê de eventos naturais exuberantes, como tempestades e trovoadas
intensas. A natureza, em certos momentos, é amedrontadora.
           Mas havia também épocas de calmaria e de fartura. Até aqui, não
falamos de nada que seja muito diferente do dia-a-dia dos demais animais
deste planeta. Entretanto, o Homo Sapiens tem uma importante diferença em
relação aos outros seres vivos: ele dispõe de um cérebro proporcionalmente
grande e bastante sofisticado. Esse cérebro evoluiu para dar maior adaptabi-
lidade e capacidade de realização a esse animal, o ser humano. Esse cérebro,
com todo esse grande potencial, também tem muita capacidade de sobra, o
suficiente para provocar alguns efeitos colaterais. Por sorte, esses efeitos
colaterais fizeram o ser humano ter habilidades para uma série de outras
atividades mentais interessantes, até mesmo além do que era necessário para
o seu ciclo de nascer, crescer, reproduzir e morrer.
PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA


           Junte um cérebro inteligente com algum tempo livre e o que
resulta é o pensamento reflexivo. O Homo Sapiens começava a se perguntar
coisas, começava a sonhar, a imaginar, a questionar. A princípio, seus
pensamentos deveriam girar essencialmente em torno das atividades que
consumiam seus esforços diariamente. Com o tempo, e justamente devido
a essa capacidade mental excedente, o ser humano começou a refletir sobre
o seu próprio pensamento. Uma intensa necessidade de convivência social
completa este quadro.
           Dessas atividades muitas coisas surgiram, como misticismos,
práticas rituais, danças e um sem-número de outras atividades que não
pareciam estar diretamente ligadas à questão da sobrevivência. O ser
humano ambicionava mais, queria ir mais longe, podia ir mais longe.
           É dessa ambição, junto com o poder de seu mecanismo cerebral,
que a investigação do pensar frutificou-se. Vamos pular agora do Homo
Sapiens arcaico para os filósofos da Grécia antiga.
           Aristóteles, nosso personagem do Capítulo 1, desponta aqui
novamente como figura importante. Ele e os seus contemporâneos tinham
preocupação em obter a perfeição do raciocínio, algo como “as leis
fundamentais do pensamento”, o que ainda hoje é o objetivo de muitos. A
lógica é uma das formas propostas de se obter essa perfeição. Veremos, no
entanto, que essa forma apresenta algumas desvantagens e limitações.
           Se na época de Aristóteles tínhamos o ideal da busca da perfeição
pelas palavras, hoje busca-
se esse ideal através de
linguagens rigorosas, co-       atual
mo as notações simbólicas       Um exemplo do tipo de notação utilizada atual-
e matemáticas da lógica         mente para expressar o pensamento lógico pode
moderna. [Latual]               ser visto abaixo, onde temos algumas frases
                                traduzidas para lógica de primeira ordem:
           De qualquer ma-
neira, o objetivo do pensa-     “Existe alguém que é amado por todo mundo”
dor lógico é obter princí-               › y, œ x Ama(x, y)
pios generalizadores, es-
truturas que não são obti-      “Todo mundo ama alguma pessoa”
das diretamente pelas in-                œ x, › y Ama(x, y)
formações que captamos
pelos nossos sentidos, mas
sim através do que conseguimos perceber estudando e pensando sobre o que
temos em nossa memória. A lógica seria, assim, uma atitude de reflexão
sobre verdade ou falsidade de idéias e proposições que crescem espontanea-
mente em nossa mente. A generalização que a lógica procura obter tem
como foco principal a forma e a estrutura das frases e pensamentos, até que
se chegue a um ponto em que os pensamentos originais sejam desneces-

54
CAPÍTULO 3 - LÓGICA, INDUÇÃO E PLAUSIBILIDADE


sários, só restando suas formas genéricas. Como exemplo, é intuitivo e
óbvio que a seqüência de frases abaixo seja verdadeira:
                   Todos os Homens são Mortais
                   Sócrates é um Homem
                    Portanto, Sócrates é Mortal
O que torna a lógica possível é o fato de que a seqüência abaixo também
parece ser óbvia, embora seja meio estranha:

                   Todos os Zóides Quacam
                   Zib é um Zóide
                   Portanto, Zib Quaca
Você sabe o que é um Zóide? Sabe o que significa Quacar? Se você souber,
por favor me diga, pois eu não sei. Mas eu sei que se todos os Zóides
nascem sabendo Quacar, então Zib, que é um Zóide, irá Quacar também. A
operação que fizemos em nossa mente para entender essa estrutura nos
permite aceitar qualquer seqüência com essa mesma estrutura:

                       Todos os A têm um B
                       Um C é um A
                       Portanto, os C têm um B

A sedução da lógica

Essas formas gerais de raciocínio são muito sedutoras. Os primeiros
pensadores que se debruçaram sobre essas estruturas viam-nas como
possuindo uma beleza singular. Além disso, essas estruturas têm importantes
propriedades:

São impessoais
Não importa o estado de espírito nem a personalidade nem o sexo, raça,
credo, etc., de quem está raciocinando, essas formas são válidas independen-
temente de qualquer característica pessoal.

São universais
Essas estruturas são válidas não importando sobre qual área do conhecimen-
to humano estamos pensando, de Geografia ao Direito, Física, Química,
Economia, Política, em todas essas áreas essas táticas valem da mesma
forma.

                                                                         55
PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA


São auto-suficientes
A validade das estruturas genéricas que obtemos pela lógica não dependem
daquilo que o mundo nos informa. Assim, se aceitamos as premissas, essas
estruturas irão, necessariamente, nos conduzir à conclusão e por isso são
completamente auto-suficientes.

São definitivas
Desde que nascemos, estamos constantemente aprendendo e isso significa
que várias vezes temos que alterar nosso conhecimento passado para
acomodar novas informações. As estruturas genéricas que obtemos via
lógica são definitivas, no sentido de que nada que venhamos a conhecer no
futuro irá alterar sua forma e validade geral.

Fica claro entender agora que um dos objetivos fundamentais da lógica é
obter e estudar essas formas genéricas de raciocinar. Lógica é, portanto, a
arte de estudar a validade ou não das estruturas gerais de pensamento,
independente do seu conteúdo (significado).

Tipos de raciocínio: a indução e a dedução
Mesmo sendo tão perfeita, a Lógica não é a única representante de nossos
raciocínios mais típicos. Temos várias outras formas e isto nos leva a dividi-
las em métodos fortes e métodos fracos. Os fortes são aqueles cuja
seqüência leva inexoravelmente a uma verdade pura. Isto significa que
partimos de algumas verdades anteriores e temos a garantia de chegar a uma
outra verdade na ponta. Os métodos fracos seriam aqueles que produzem
algo que tem boa chance de ser verdadeiro, mas não têm uma garantia
absoluta. Assim, introduzimos os conceitos de Dedução e Indução.

         Métodos Fortes                       Métodos Fracos

              Dedução                              Indução
        Conclusão é obtida                Conclusão não é certeira,
          com perfeição                       apenas provável

Os métodos dedutivos são fortes e também podem ser subdivididos em
outras categorias, algumas das quais veremos logo a seguir. Todos eles
garantem que a conclusão a que chegamos é verdadeira — obviamente,
desde que nosso ponto de partida também seja verdadeiro. Um exemplo
típico de raciocínio dedutivo segue:


56
CAPÍTULO 3 - LÓGICA, INDUÇÃO E PLAUSIBILIDADE




                       Todas as baleias são mamíferos
        DEDUÇÃO        Todos os mamíferos têm pulmões
                       Portanto, todas as baleias têm pulmões

Observe que, se as premissas são verdadeiras (baleias são mamíferos e
mamíferos têm pulmões) não há como a conclusão ser falsa. As premissas
implicam na veracidade da conclusão. Esta é a força inabalável do raciocínio
dedutivo.
          Já os métodos fracos — os indutivos — em geral descrevem
diversos tipos de raciocínios que têm em comum o fato de não garantirem
a veracidade de suas conclusões. Mas nem por isso podem ser desprezados.
Freqüentemente é muito útil termos acesso a alguma conclusão, mesmo que
não seja certeira. O critério óbvio que devemos empregar é preferir, sempre
que possível, as deduções. Entretanto, como nem sempre podemos contar
com elas, é comum apelarmos para as induções:

                     Este corvo é preto
      INDUÇÃO        O corvo que vi ontem é preto
                      Portanto, todos os corvos são pretos
Ninguém pode afirmar com certeza absoluta que todos os corvos são pretos.
                                                        Entretanto, nossa ex-
                                                        periência passada nos
 aproximação                                            permite assumir que
 Note que essa aproximação que fizemos sobre os
 corvos nos dá uma conclusão sobre o mundo natural,     todos os corvos sejam
 ou seja, sobre algo que nossa experiência sensória tem provavelmente pretos.
 poder de confirmar ou refutar. No raciocínio dedutivo, Não há garantias for-
 esta característica de ligação com o mundo natural em  mais de que isto seja
 geral não existe, pois a conclusão decorre necessaria-
 mente das premissas que usamos, e de nada mais. Por    verdadeiro, mas é uma
 isso, existe uma noção de que o método científico      aproximação que pode
 deve usar alguma forma de indução. A questão é,        ser útil. [Laproxima-
 entretanto, complexa e, embora existam diversas
 correntes propondo solução ao impasse, há hoje um      ção]
 consenso de que o método científico precisa empregar              Portanto, a
 indução e dedução de forma conjunta e colaborativa,    indução é um tipo de
 principalmente para que seja possível se beneficiar do raciocínio que assume
 poder das refutações por via experimental. Veremos
 um pouco mais sobre este assunto ainda neste capítu-   o futuro como repeti-
 lo, na seção sobre Raciocínio Causal.                  ção do passado. É um
                                                        ato de confiança, uma
                                                        postura de esperança
de que o futuro repetirá os resultados que obtivemos antes. [Lindução]

                                                                           57
PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA


As implicações dessas
idéias para a ciência foram     indução
— e ainda são — motivo          Indução não é assunto novo. Existe desde Francis
de grande polêmica. Va-         Bacon e foi bastante analisada por David Hume.
mos investigar mais de          A justificação da indução como método de racio-
                                cínio é, ainda hoje, um assunto polêmico. Alguns
perto agora cada uma des-       filósofos tentaram justificar a indução com o uso
sas duas úteis estratégias, a   do seguinte raciocínio:
dedução e a indução.
                                           “A indução é um método adequado
                                           porque historicamente tem dado bons
Observando de                              resultados”
perto as deduções               Nota-se que essa afirmação é, por si só, indutiva,
                                ou seja, parece ser um argumento circular, embo-
A primeira forma de racio-      ra alguns teóricos defendam essa posição.
cínio dedutivo que vamos
apreciar é aquela introdu-
zida por Aristóteles, o chamado silogismo. O silogismo tem uma forma
similar à que vimos em nossos exemplos anteriores. Podemos entender os
silogismos dizendo que são discursos em que, com certas coisas postas,
outra coisa necessariamente decorre delas. Por serem deduções, os
silogismos têm suas conclusões garantidas:
                         Todos os seres humanos são mortais
         SILOGISMO       Os gregos são seres humanos
                         Portanto, todos os gregos são mortais

Cada frase que forma o silogismo é uma proposição. Aristóteles introduziu
a idéia de proposições categóricas. Veja alguns exemplos:

                  Algumas proposições categóricas
                       Todos os S são P
                       Nenhum S é P
                       Alguns S são P
                       Alguns S não são P

Nestas frases, usamos letras maiúsculas para representar uma proposição.
Assim, posso construir uma fórmula genérica, aplicável a qualquer coisa que
“caiba” dentro de S ou P.

                     Todos os          S          são         P
                          9            9         9           9
                     Todos os “homens” são “mortais”

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  • 1. Capítulo 3 Lógica, indução e plausibilidade Capítulo 3 - Lógica, indução e plausibilidade Nada é melhor do que a felicidade eterna! Mas um sanduíche de atum é melhor do que nada! Portanto, um sanduíche de atum é melhor do que a felicidade eterna! e você não gosta de Matemática ou de Lógica, sei que vai tentar fugir S deste capítulo. Proponho que você me dê uma chance de expor esse assunto árido de uma forma um pouco diferente. Mas antes de iniciar, é preciso dizer o óbvio: o exemplo acima é falho. Você saberia dizer por que? A resposta está no meio deste capítulo. De onde veio a lógica? Há 30 mil anos, as condições de vida dos seres humanos eram bem diferentes da atual. Não havia “supermercados”, por isso, o Homo Sapiens precisava constantemente se envolver em trabalhosas — e muitas vezes perigosas — atividades de procura e coleta de alimentos. Além disso, nossos antepassados tinham uma perene preocupação com a sua segurança e a de seus entes queridos mais próximos (bom, essa nós ainda temos!). Havia também um intenso medo do desconhecido, sobretudo quando se estava à mercê de eventos naturais exuberantes, como tempestades e trovoadas intensas. A natureza, em certos momentos, é amedrontadora. Mas havia também épocas de calmaria e de fartura. Até aqui, não falamos de nada que seja muito diferente do dia-a-dia dos demais animais deste planeta. Entretanto, o Homo Sapiens tem uma importante diferença em relação aos outros seres vivos: ele dispõe de um cérebro proporcionalmente grande e bastante sofisticado. Esse cérebro evoluiu para dar maior adaptabi- lidade e capacidade de realização a esse animal, o ser humano. Esse cérebro, com todo esse grande potencial, também tem muita capacidade de sobra, o suficiente para provocar alguns efeitos colaterais. Por sorte, esses efeitos colaterais fizeram o ser humano ter habilidades para uma série de outras atividades mentais interessantes, até mesmo além do que era necessário para o seu ciclo de nascer, crescer, reproduzir e morrer.
  • 2. PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA Junte um cérebro inteligente com algum tempo livre e o que resulta é o pensamento reflexivo. O Homo Sapiens começava a se perguntar coisas, começava a sonhar, a imaginar, a questionar. A princípio, seus pensamentos deveriam girar essencialmente em torno das atividades que consumiam seus esforços diariamente. Com o tempo, e justamente devido a essa capacidade mental excedente, o ser humano começou a refletir sobre o seu próprio pensamento. Uma intensa necessidade de convivência social completa este quadro. Dessas atividades muitas coisas surgiram, como misticismos, práticas rituais, danças e um sem-número de outras atividades que não pareciam estar diretamente ligadas à questão da sobrevivência. O ser humano ambicionava mais, queria ir mais longe, podia ir mais longe. É dessa ambição, junto com o poder de seu mecanismo cerebral, que a investigação do pensar frutificou-se. Vamos pular agora do Homo Sapiens arcaico para os filósofos da Grécia antiga. Aristóteles, nosso personagem do Capítulo 1, desponta aqui novamente como figura importante. Ele e os seus contemporâneos tinham preocupação em obter a perfeição do raciocínio, algo como “as leis fundamentais do pensamento”, o que ainda hoje é o objetivo de muitos. A lógica é uma das formas propostas de se obter essa perfeição. Veremos, no entanto, que essa forma apresenta algumas desvantagens e limitações. Se na época de Aristóteles tínhamos o ideal da busca da perfeição pelas palavras, hoje busca- se esse ideal através de linguagens rigorosas, co- atual mo as notações simbólicas Um exemplo do tipo de notação utilizada atual- e matemáticas da lógica mente para expressar o pensamento lógico pode moderna. [Latual] ser visto abaixo, onde temos algumas frases traduzidas para lógica de primeira ordem: De qualquer ma- neira, o objetivo do pensa- “Existe alguém que é amado por todo mundo” dor lógico é obter princí- › y, œ x Ama(x, y) pios generalizadores, es- truturas que não são obti- “Todo mundo ama alguma pessoa” das diretamente pelas in- œ x, › y Ama(x, y) formações que captamos pelos nossos sentidos, mas sim através do que conseguimos perceber estudando e pensando sobre o que temos em nossa memória. A lógica seria, assim, uma atitude de reflexão sobre verdade ou falsidade de idéias e proposições que crescem espontanea- mente em nossa mente. A generalização que a lógica procura obter tem como foco principal a forma e a estrutura das frases e pensamentos, até que se chegue a um ponto em que os pensamentos originais sejam desneces- 54
  • 3. CAPÍTULO 3 - LÓGICA, INDUÇÃO E PLAUSIBILIDADE sários, só restando suas formas genéricas. Como exemplo, é intuitivo e óbvio que a seqüência de frases abaixo seja verdadeira: Todos os Homens são Mortais Sócrates é um Homem Portanto, Sócrates é Mortal O que torna a lógica possível é o fato de que a seqüência abaixo também parece ser óbvia, embora seja meio estranha: Todos os Zóides Quacam Zib é um Zóide Portanto, Zib Quaca Você sabe o que é um Zóide? Sabe o que significa Quacar? Se você souber, por favor me diga, pois eu não sei. Mas eu sei que se todos os Zóides nascem sabendo Quacar, então Zib, que é um Zóide, irá Quacar também. A operação que fizemos em nossa mente para entender essa estrutura nos permite aceitar qualquer seqüência com essa mesma estrutura: Todos os A têm um B Um C é um A Portanto, os C têm um B A sedução da lógica Essas formas gerais de raciocínio são muito sedutoras. Os primeiros pensadores que se debruçaram sobre essas estruturas viam-nas como possuindo uma beleza singular. Além disso, essas estruturas têm importantes propriedades: São impessoais Não importa o estado de espírito nem a personalidade nem o sexo, raça, credo, etc., de quem está raciocinando, essas formas são válidas independen- temente de qualquer característica pessoal. São universais Essas estruturas são válidas não importando sobre qual área do conhecimen- to humano estamos pensando, de Geografia ao Direito, Física, Química, Economia, Política, em todas essas áreas essas táticas valem da mesma forma. 55
  • 4. PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA São auto-suficientes A validade das estruturas genéricas que obtemos pela lógica não dependem daquilo que o mundo nos informa. Assim, se aceitamos as premissas, essas estruturas irão, necessariamente, nos conduzir à conclusão e por isso são completamente auto-suficientes. São definitivas Desde que nascemos, estamos constantemente aprendendo e isso significa que várias vezes temos que alterar nosso conhecimento passado para acomodar novas informações. As estruturas genéricas que obtemos via lógica são definitivas, no sentido de que nada que venhamos a conhecer no futuro irá alterar sua forma e validade geral. Fica claro entender agora que um dos objetivos fundamentais da lógica é obter e estudar essas formas genéricas de raciocinar. Lógica é, portanto, a arte de estudar a validade ou não das estruturas gerais de pensamento, independente do seu conteúdo (significado). Tipos de raciocínio: a indução e a dedução Mesmo sendo tão perfeita, a Lógica não é a única representante de nossos raciocínios mais típicos. Temos várias outras formas e isto nos leva a dividi- las em métodos fortes e métodos fracos. Os fortes são aqueles cuja seqüência leva inexoravelmente a uma verdade pura. Isto significa que partimos de algumas verdades anteriores e temos a garantia de chegar a uma outra verdade na ponta. Os métodos fracos seriam aqueles que produzem algo que tem boa chance de ser verdadeiro, mas não têm uma garantia absoluta. Assim, introduzimos os conceitos de Dedução e Indução. Métodos Fortes Métodos Fracos Dedução Indução Conclusão é obtida Conclusão não é certeira, com perfeição apenas provável Os métodos dedutivos são fortes e também podem ser subdivididos em outras categorias, algumas das quais veremos logo a seguir. Todos eles garantem que a conclusão a que chegamos é verdadeira — obviamente, desde que nosso ponto de partida também seja verdadeiro. Um exemplo típico de raciocínio dedutivo segue: 56
  • 5. CAPÍTULO 3 - LÓGICA, INDUÇÃO E PLAUSIBILIDADE Todas as baleias são mamíferos DEDUÇÃO Todos os mamíferos têm pulmões Portanto, todas as baleias têm pulmões Observe que, se as premissas são verdadeiras (baleias são mamíferos e mamíferos têm pulmões) não há como a conclusão ser falsa. As premissas implicam na veracidade da conclusão. Esta é a força inabalável do raciocínio dedutivo. Já os métodos fracos — os indutivos — em geral descrevem diversos tipos de raciocínios que têm em comum o fato de não garantirem a veracidade de suas conclusões. Mas nem por isso podem ser desprezados. Freqüentemente é muito útil termos acesso a alguma conclusão, mesmo que não seja certeira. O critério óbvio que devemos empregar é preferir, sempre que possível, as deduções. Entretanto, como nem sempre podemos contar com elas, é comum apelarmos para as induções: Este corvo é preto INDUÇÃO O corvo que vi ontem é preto Portanto, todos os corvos são pretos Ninguém pode afirmar com certeza absoluta que todos os corvos são pretos. Entretanto, nossa ex- periência passada nos aproximação permite assumir que Note que essa aproximação que fizemos sobre os corvos nos dá uma conclusão sobre o mundo natural, todos os corvos sejam ou seja, sobre algo que nossa experiência sensória tem provavelmente pretos. poder de confirmar ou refutar. No raciocínio dedutivo, Não há garantias for- esta característica de ligação com o mundo natural em mais de que isto seja geral não existe, pois a conclusão decorre necessaria- mente das premissas que usamos, e de nada mais. Por verdadeiro, mas é uma isso, existe uma noção de que o método científico aproximação que pode deve usar alguma forma de indução. A questão é, ser útil. [Laproxima- entretanto, complexa e, embora existam diversas correntes propondo solução ao impasse, há hoje um ção] consenso de que o método científico precisa empregar Portanto, a indução e dedução de forma conjunta e colaborativa, indução é um tipo de principalmente para que seja possível se beneficiar do raciocínio que assume poder das refutações por via experimental. Veremos um pouco mais sobre este assunto ainda neste capítu- o futuro como repeti- lo, na seção sobre Raciocínio Causal. ção do passado. É um ato de confiança, uma postura de esperança de que o futuro repetirá os resultados que obtivemos antes. [Lindução] 57
  • 6. PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA As implicações dessas idéias para a ciência foram indução — e ainda são — motivo Indução não é assunto novo. Existe desde Francis de grande polêmica. Va- Bacon e foi bastante analisada por David Hume. mos investigar mais de A justificação da indução como método de racio- cínio é, ainda hoje, um assunto polêmico. Alguns perto agora cada uma des- filósofos tentaram justificar a indução com o uso sas duas úteis estratégias, a do seguinte raciocínio: dedução e a indução. “A indução é um método adequado porque historicamente tem dado bons Observando de resultados” perto as deduções Nota-se que essa afirmação é, por si só, indutiva, ou seja, parece ser um argumento circular, embo- A primeira forma de racio- ra alguns teóricos defendam essa posição. cínio dedutivo que vamos apreciar é aquela introdu- zida por Aristóteles, o chamado silogismo. O silogismo tem uma forma similar à que vimos em nossos exemplos anteriores. Podemos entender os silogismos dizendo que são discursos em que, com certas coisas postas, outra coisa necessariamente decorre delas. Por serem deduções, os silogismos têm suas conclusões garantidas: Todos os seres humanos são mortais SILOGISMO Os gregos são seres humanos Portanto, todos os gregos são mortais Cada frase que forma o silogismo é uma proposição. Aristóteles introduziu a idéia de proposições categóricas. Veja alguns exemplos: Algumas proposições categóricas Todos os S são P Nenhum S é P Alguns S são P Alguns S não são P Nestas frases, usamos letras maiúsculas para representar uma proposição. Assim, posso construir uma fórmula genérica, aplicável a qualquer coisa que “caiba” dentro de S ou P. Todos os S são P 9 9 9 9 Todos os “homens” são “mortais” 58