Este estudo analisou amostras vaginais de 60 mulheres em Palmas-TO para identificar espécies de Candida. A C. albicans foi encontrada em 62,5% das amostras, enquanto C. não-albicans foi encontrada em 38%. Isso sugere que o tratamento para fungos deve ser priorizado na Atenção Primária.
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Artigo bioterra v14_n2_08
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
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Volume 14 - Número 2 - 2º Semestre 2014
PREVALÊNCIA DE LEVEDURAS Candida albicans E Candida NÃO-albicans EM
AMOSTRAS VAGINAIS OBTIDAS EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DE PALMAS-TOCANTINS
Sônia Maria Ferreira Queiroz e Silva1; Vinícius Gomes de Oliveira2; Maria Vilian Ferreira de Queiroz3;
José Gerley Diaz Castro4; Solange Cristina Carreiro5
RESUMO
Este estudo consistiu de um isolamento de leveduras Candida colhidas através de amostras vaginais,
para cultivo e caracterização morfológica sobre leveduras isoladas. A população de estudo
compreendeu de 60 mulheres de 18 a 65 anos atendidas em um serviço de saúde de Palmas-TO. As
amostras isoladas foram submetidas à caracterização morfológica através da observação dos aspectos
macro e micromorfológicos. Os achados apontaram a prevalência de C. albicans em 62,5% dos
isolamentos sobre 38% de C. não albicans, o que sugere que o tratamento para este fungo deve ser
priorizado pela Atenção Primária.
Palavras-chave: Atenção primária, microbiologia, saúde da mulher.
PREVALENCE OF YEASTS C. albicans AND NON-albicans ISOLATED FROM VAGINAL
SPECIMENS OBTAINED AT A CLINIC IN PALMAS-TOCANTINS
ABSTRACT
This study consisted of an isolation of Candida yeasts collected by vaginal samples for cultivation
and morphological characterization of yeasts isolated. The study population consisted of 60 women
aged 18 to 65 years seen at a health facility Palmas-TO. All strains were subjected to morphological
characterization by observing the macro and micromorphological aspects. Findings indicated the
prevalence of C. albicans in 62.5% of the isolates on 38% of C. albicans did not, suggesting that the
treatment for this fungus should be prioritized by the Primary Care.
Keywords: Primary care, microbiology, women’s health.
2. 58
INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos anos as infecções
fúngicas humanas vêm apresentando um notável
grau de crescimento, principalmente as causadas
pelo gênero Candida, sendo esta responsável por
15% a 25% dos casos de vulvovaginites. Têm
sido consideradas como os problemas
ginecológicos mais comuns nas mulheres. Estas
infecções, ainda que mediante presença de
sintomatologia ou aparente ausência, e estando o
indivíduo suscetível, poderão evoluir para casos
agudos ou crônicos (GALLE & GIANINI, 2004;
BOATTO et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2008).
A candidose vulvovaginal é a infecção
mais comum do trato genital feminino, ocupa o
segundo lugar entre as vulvovaginites, sendo a
Candida albicans, a espécie mais importante do
ponto de vista etiológico incidindo em 75% a
85% dos casos. Estima-se que cerca de 75% das
mulheres adultas apresentaram pelo menos um
episódio de vulvovaginite fúngica em sua vida,
sendo que destas 40% a 50% vivenciaram um
novo surto. No entanto, outras espécies de
Candida também podem causar infecções.
(HADDAD, 2006; RODRIGUES, 2006).
A candidíase, ou candidose, é uma
infeccção causada por espécies de leveduras do
gênero Candida que acometem indivíduos em
todo o mundo. Estes microrganismos
apresentam-se como comensais ao homem,
podendo ser oportunistas em certas ocasiões e
habitam normalmente o aparelho digestivo e
respiratório, mucosa vaginal, oral e tegumento
cutâneo. Seu espectro é bastante extenso,
variando desde manifestações banais como a
colonização de mucosas, até quadros sistêmicos
com a invasão de vários órgãos (SIDRIM &
MOREIRA, 1999; GALLE & GIANINI, 2004;
CONCEIÇÃO et al., 2005).
Considerando que a Candida faz parte da
microbiota normal da vagina, a simples
colonização de leveduras na mucosa não
significa presença da doença, porém pela ação de
diversos fatores como diabetes, gravidez,
tratamentos prolongados com corticosteróides,
antibióticos, deficiência de alguns minerais como
o ferro e o zinco, ou por fatores de virulência
inerentes as leveduras motivados por condições
ambientais favoráveis, a Candida passa de
saprófita à patogênica dependendo da quantidade
de microrganismos, conforme apontam os dados
de estudos microbiológicos quantitativos
(GARCIA & SIQUEIRA, 1988; RODRIGUES,
2006; ÁLVARES, SVIDZINSKI &
CONSOLARO, 2007).
Conceição et al. (2005) e Mendes et al.
(2005) consideram que o desencadeamento da
candidose vulvovaginal pode, ainda, ser
explicado pela própria fisiologia da mucosa
vinculada à produção do estrógeno, que
transforma o glicogênio em glicose, como no
caso da fase lútea ou na gestação, a mulher pode
vir a apresentar um quadro infeccioso por
Candida, que se caracteriza pelo prurido vulvar
intenso, eritema, leucorréia, presença de placas
branco-cremosas e descamativas na mucosa
vaginal. Cordeiro et al. (2004) apontam a relação
da resposta imune celular através da síntese de
imunoglobulinas com o controle da proliferação
fúngica no epitélio vaginal pela ativação do
Sistema Nervoso Central mediado pelas
respostas emocionais, como nas situações de
estresse.
Atualmente, vários estudos descrevem
distintos e potenciais fatores de risco para a
candidose vulvovaginal incluindo o processo da
autotransmissão, no qual as leveduras são
carreadas para a vagina tendo como fonte a
microbiota do intestino por meio da região
perianal. Os hábitos higiênicos inadequados ou
as trocas sexuais estão comumente associados a
este modo de transmissão (ROSA & RUMEL,
2004; FERRAZZA et al., 2005).
Diversos autores têm enfatizado a
prevalência relativamente alta de espécies não
albicans mediante seus achados, sendo os vários
relatos convergentes quanto ao surgimento destas
leveduras pelo uso inadequado de antifúngicos
ou como resultado da realização de culturas e
provas de identificação, o que parece indicar uma
tendência de mudança na etiologia da candidose
após décadas de predomínio da C. albicans. Para
estas análises houve maior prevalência de C.
glabrata em percentuais superiores aos de outras
espécies citadas como a C. parapapilosis, C.
krusei e C, tropicalis. Diante de tais averiguações
torna-se preponderante a atenção dispensada às
espécies não albicans pela ausência de
sintomatologia e resistência à maioria dos
antifúngicos (NETO et al.,1999; ROSA &
RUMEL, 2004; LINARES et al., 2005;
HOLANDA, 2007).
3. 59
As leveduras do gênero Candida são
fungos que ocorrem em todo o mundo, seja no
solo, em plantas vivas ou mortas e convivem
normalmente com o ser humano saudável em
locais como pele e mucosas. Pertencem ao reino
fungi; filo Deuteromycota; grupo Eumycota;
classe Blastomycetes; família Criptocococeae;
gênero Candida. Neste gênero estão as principais
espécies de interesse clínico: Candida albicans,
Candida glabrata, Candida parapapilosis,
Candida krusei, Candida tropicalis (RIBEIRO,
1998; CAMARGO et al., 2008).
Caracterizada como uma levedura
dimorfa a Candida se apresenta sob as formas de
blastoconídeos, pseudo-hifas e/ou hifas
verdadeiras. Pela sua condição de oportunista
depende de fatores próprios de virulência e
fatores predisponentes do hospedeiro para causar
infecção. São colonizadores naturais da
microbiota vaginal e intestinal, permanecendo
neste habitat até encontrar as condições
apropriadas para se multiplicar, quando então
liberam seus fatores de virulência e
desencadeiam a infecção através da invasão da
mucosa. Esse poder patogênico da Candida
depende tanto destes fatores de virulência como
da capacidade de crescer em uma temperatura
corporal de 37°C, ideal para seu
desenvolvimento no corpo humano, sendo a
formação de hifas e pseudohifas determinantes
para fixação das leveduras nos epitélios. Neste
processo, a produção das enzimas fosfolipases e
proteinases auxiliam a aderência nas mucosas do
hospedeiro facilitando a infecção fúngica. Entre
as espécies de Candida somente a C. albicans
produz fosfolipase e adesinas (ZARDO &
MEZZARI, 2004; CAMARGO et al., 2008).
De maneira geral, o processo de
identificação das espécies de Candida, baseia-se
nos aspectos morfológicos macro e
microscópicos combinados com critérios
bioquímicos característicos, constituindo-se em
recurso para a execução dos distintos métodos
adotados para este fim. Assim, além da aparência
e morfologia das colônias, outros achados como
a produção de tubo germinativo e pseudomicélio
são particularmente importantes para a
determinação e/ou distinção de espécies C.
albicans e C. não albicans (SIDRIM &
MOREIRA, 1999).
METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado na
Policlínica 303 Norte e no Laboratório de
Microbiologia da UFT, no município de Palmas-
TO. Este constou de um isolamento de leveduras
através de coleta das amostras vaginais, de
cultivo das amostras e sua caracterização
morfológica sobre a leveduras isoladas. Para
realização deste trabalho a população de estudo
compreendeu de 60 mulheres de 18 a 65 anos
cadastradas na Atenção à Saúde da Mulher da
Policlínica 303 Norte, procedentes da zona
urbana, sem restrição sócio-econômico-cultural,
cuja participação foi voluntária mediante
assinatura de termo de consentimento livre e
esclarecido. Como critério de inclusão na
pesquisa utilizou-se a ausência de diabetes,
gravidez, de HIV e não estar sob terapêutica com
corticosteróides e/ou antifúngicos.
O presente estudo contou com a
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) da Universidade Luterana do Brasil –
ULBRA sob nº 775/2008.
Para o isolamento das leveduras utilizou-se
amostras de mucosa vaginal que foram
coletadas utilizando-se swabs estéreis, por
ocasião da coleta de exame citológico, pelas
usuárias atendidas no programa de atenção à
saúde da mulher da referida Policlínica.
Os swabs foram transportados até o
laboratório de Microbiologia da UFT em tubos
com solução salina estéril (NaCl 0,85%), os quais
foram mantidos em caixa térmica até o momento
do seu processamento, respeitando o máximo de
03 horas após a coleta. Cada swab foi semeado
em placa de Petri contendo Ágar Sabouraud-dextrose
acrescido de 0,02% de Cloranfenicol.
As placas foram incubadas a 37 oC em estufa
bacteriológica por 48 horas. Após o período de
incubação as colônias foram purificadas por
esgotamento utilizando-se o mesmo meio. Todas
as linhagens foram preservadas em meio Gymp
sólido coberto com óleo mineral estéril sob
refrigeração e em Gymp líquido a -20°C
(PÁDUA; GUILHERMETTI; SVIDZINSKI,
2003).
As amostras isoladas foram submetidas a
caracterização morfológica através da
observação dos aspectos macro e
micromorfológicos. A caracterização
macroscópica das colônias levou em
4. 60
consideração aspectos como cor, tamanho, forma
e borda das colônias após crescimento em Ágar
Sabouroud-dextrose. Na caracterização
microscópica observou-se tamanho e forma das
células, presença/ausência de brotamentos,
clamidiosporos, pseudomicélio e tubo
germinativo através da observação de lâminas
sob microscopia óptica comum. Para a
observação de tubo germinativo, colônias com 24
horas de crescimento em Ágar Sabouroud-dextrose
foram semeadas em tubos de ensaio
contendo 0,3 mL de soro humano suplementado
com 0,5% de glicose segundo Sidrim & Moreira
(1997) com modificações. Os tubos foram
incubados a 37°C em banho-maria por 1 hora.
Uma gota da suspensão foi analisada entre
lâmina-lamínula ao microscópio óptico comum,
para verificação da formação de tubo
germinativo. Foram consideradas como C.
albicans as linhagens que apresentaram tubo
germinativo, as demais foram consideradas como
C. não albicans.
Para análise da micromorfologia utilizou-se
a técnica de microcultivo. As leveduras foram
semeadas em estrias horizontais sobre o meio
Ágar fubá (HIMÉDIA) sobre lâminas de
microscopia e coberto com lamínulas, dispostas
em conjuntos estéreis. As lâminas foram
incubadas em estufa a 37°C por 24 horas.
Decorrido o tempo de incubação procedeu-se a
observação, em microscópia óptica comum
(FISCHER & COOK, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo 49 (82%) usuárias
apresentaram sintomas, sendo significativa a
presença de Candida spp nas amostras colhidas
de usuárias sintomáticas e assintomáticas. Esses
resultados se assemelham ao estudo de Silva,
Franceschini & Cândido (2003) e de Camargo et
al (2008) que coletaram amostras vaginais
independente de sintomas para isolamento de
leveduras. Da mesma forma, Mendes &
Chiapetta (2005) encontraram uma prevalência
de 75% de Candida spp em exames de secreção
endovaginal sendo a maioria em jovens.
Realizou-se o isolamento e identificação
preliminar das leveduras a partir de esfregaço
vaginal das usuárias consideradas sintomáticas
ou não ao exame clínico. Das 60 amostras de
esfregaço vaginal obtidas 50 apresentaram
crescimento de leveduras, o que mostra 67% de
positividade para leveduras. 10 linhagens
perderam a viabilidade após período de
estocagem, portanto a caracterização
morfológica foi realizada com 40 linhagens.
O aspecto macroscópico mostrou colônias
de coloração branca a creme, aspecto liso com ou
sem brilho, características do gênero Candida. A
formação de Pseudo-hifas foi observada em 15
amostras, porém esse achado isoladamente não
permite a diferenciação de C. albicans e C. não
albicans. A presença de tubo germinativo foi
observada em 25 (62,5%) dos isolados
caracterizando-os assim como C. albicans, já que
a formação de tubo é determinante para essa
espécie. Portanto, as 25 amostras que produziram
tubo germinativo foram identificadas como
Candida albicans, enquanto que as 15 amostras
restantes que exibiram estrutura características
de pseudohifas (pseudomicélios) foram
identificadas como Candida não albicans,
segundo a padronização de Sidrim e Moreira
(1999); Fischer e Cook (2001); Conceição et al.,
(2005).
Vale considerar que a prova do tubo
germinativo apresenta alta especificidade,
apresentando índice positivo entre 94 a 97 %. Já
a prova da formação de pseudomicélio, que se
baseia no princípio de que as leveduras quando
incubadas num meio com baixa tensão de
oxigênio têm a capacidade de filamentar,
constitui-se em parâmetro morfológico apenas
para agrupar leveduras não albicans, não sendo
pois, determinante na distinção das respectivas
espécies (SIDRIM & MOREIRA, 1999; ALVES
et al., 2000; CAMARGO et al., 2008)).
Sendo assim, este estudo mostrou que os
achados apontaram a C. albicans em 62,5% dos
isolamentos e 38% C. não albicans e cujos dados
corroboram com as investigações de Galle &
Gianini(2004) acerca da identificação das
espécies de Candida situando a prevalência de
positividade deste gênero nos isolados o qual têm
demonstrado a expressiva ocorrência de C.
albicans, assim como apontado e destacado as
C. não albicans pelo surgimento de resistência
aos antifúngicos na tentativa de se estabelecer a
pertinência da colonização por Candida ao
comportamento clínico e terapêutico da
candidose vulvovaginal.
5. 61
CONCLUSÃO
No presente estudo identificou-se maior
número de Cãndida albicans o que sugere que o
tratamento para este fungo deve ser priorizado
pela Atenção primária.
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______________________________________
[1] Enfermeira, Professora do curso de
enfermagem e nutrição da Universidade Federal
do Tocantins. Palmas (TO) Email:
squeiroz@uft.edu.br
[2] Graduação em medicina pela Universidade
Federal do Tocantins Palmas (TO), ex- bolsista
PIBIC. Email: vinicius.vinyoliver@gmail.com
[3] Odontóloga. Professora do curso de Nutrição
da Universidade Federal do Tocantins. Palmas
(TO), sauloricardo123@hotmail.com
[4] Zootecnista, Professor do curso de Nutrição
da Universidade Federal do Tocantins. Email:
diazcastro@uft.edu.br
[5] Engenheira de Alimento. Professora do curso
de Engenharia de Alimentos da Universidade
Federal do Tocantins, Palmas (TO).
solange@uft.edu.br.