O capítulo descreve a caminhada dos peregrinos de Puente la Reina a Estella, Navarra. Eles enviaram bagagens por correio para aliviar o peso, passaram por oliveiras seculares e ruínas antigas, e encontraram uma cachorrinha abandonada que os acompanhou. Em Estella, prepararam uma refeição no refúgio de peregrinos e exploraram a cidade à noite.
AUTORA VILMA DIAS - MARIA ANTES DE SER MARIA (1).ppt
O caminho de santiago cap 05
1. Capítulo V
A Via das Oliveiras
De Puente la Reina a Estella
Navarra, 07 de Setembro de
1999
Fotos:
Fotos:
Da esquerda para a direita: Sombra do peregrino projetada sobre a trilha;
Seta e concha estilizada indicando o caminho; A trilha por entre oliveiras.
2. Rota do Novo Milênio2
Pela manhã, não deixamos Puente la Reina
sem antes encaminhar algumas bagagens, ainda em
excesso, para Santiago de Compostela, por meio do
correio. Fomos à Oficina de Los Correos e enviamos dois
pacotes para serem retirados em nosso destino final. Com
o alívio de peso (4550g), sentimos imediatamente
melhores condições físicas para a continuidade da
caminhada. O primeiro povoado que encontramos foi
Mañeru e o seguinte Cirauqui, onde passamos pela viela
principal, verificando que ainda não havia um bar aberto
àquela hora. O jeito foi abastecermos os cantis com água
fresca e continuar andando até outro povoado mais
próximo, onde a vida comunal já tivesse começado.
Após o povoado de Cirauqui, atravessamos um
longo trecho, em uma calçada romana, ladeada de oliveiras
seculares, com pontes em arco e ruínas muito antigas, as
Ruínas de Urbe. Logo mais adiante, fizemos um pequeno
lanche, em um bar à beira do caminho e, já na hora do
almoço, chegamos ao povoado de Lorca. Em suas
proximidades, paramos para descansar à sombra de um
monte de feno. Ali fizemos uma pequena refeição, com
gêneros comprados no mercado em Puente la Reina e,
então, descansamos por uma hora, até que o sol estivesse
mais ameno. Depois de passarmos o povoado de Lorca,
encontramos uma nova companheira de caminhada: uma
pequena cachorrinha, abandonada no caminho, passou a
nos seguir. Minha irmã a batizou de Lorca, pelo fato de a
termos encontrado naquele povoado. Sob o sol escaldante,
caminhamos por diversos quilômetros, em campo aberto,
3. 3O Caminho de Santiago de Compostela
entre as oliveiras, com uma topografia ligeiramente
ondulada. Parávamos em algumas fontes para abastecer
nossas reservas de água e dar de beber à nossa nova
companheira, Lorca, que mostrava sinais de sede e
cansaço.
Finalmente, depois de passarmos ao lado de
Vilatuerta, por volta das 16 horas, chegamos em Estella.
Passamos pela Igreja do Santo Sepulcro e rumamos para o
refúgio de peregrinos, localizado em uma rua central da
cidade com boas instalações, cozinha, excelente serviço de
banhos e sanitários. Logo ao chegar nos deparamos com
um problema: onde poderia passar a noite a cachorrinha
Lorca que nos acompanhou durante o dia? Sem que
soubéssemos, todavia, o hospitaleiro do próprio refúgio de
peregrinos já havia encaminhado a cadela até a associação
protetora de animais local, para que fosse tratada e
confiada a alguém que a quisesse adotar. Ficamos mais
tranqüilos quanto ao destino do animal.
Estella é, seguramente, uma das destacadas cidades
jacobeas do Caminho. De seus muitos monumentos,
ressalta a igreja de San Pedro de la Rua, com três naves
góticas e portada árabe; o palácio dos Reis de Navarra, o
melhor exemplo de românico civil da província; a Igreja de
San Miguel, com portada românica, e o convento de Santo
Domingo, fundado por Teobaldo II, em 1259.
O povo espanhol se mostrou sempre muito
hospitaleiro para conosco e, em geral, para com todos os
peregrinos. A Espanha, nesse particular, é um país bastante
amigável e adequado aos nossos hábitos latinos de vida.
4. Rota do Novo Milênio4
Em relação à alimentação, podemos dizer que as comidas
de lá são mais fortes do que as nossas aqui no Brasil: a
adaptação aos cardápios espanhóis, pelo menos aos que
nos foram servidos no decurso da rota, é relativamente
difícil, já que estamos habituados a um sistema de
alimentação mais diversificado e frugal. Em diversas etapas
do caminho nos deparamos com longas extensões a serem
percorridas, contando com um ou outro bar ou restaurante
em condições de servir refeições, o que nos fez, por muitas
vezes, optar pelo pouco que era oferecido nos cardápios
locais. Dentro do possível, quando os refúgios de
peregrinos permitiam o preparo de alimentos em suas
cozinhas, aproveitávamos para cozinhar dentro de um
critério mais próximo do nosso paladar, o que tornava a
estada nestes locais mais relaxante e divertida, pelo
contato estreito estabelecido entre os peregrinos.
No albergue de Estella era permitido preparar
refeições e, então, aproveitamos a ocasião para fazermos
um gostoso jantar. Na verdade brincamos como quando
estivéramos todos em casa, como na infância, pois nosso
pai saiu para fazer compras, trazendo todos os ingredientes
para um lauto jantar. Ana Maria, minha irmã, foi a
cozinheira desta noite. Preparou arroz com lingüiça típica
do lugar. A cidade transmitia um clima alegre de final de
tarde, quando nosso pai saiu à procura de sandálias para
descanso dos pés, uma vez que as suas eram
desconfortáveis; já havíamos observado que existia um
certo padrão de calçado para descanso dos pés adotados
pelos peregrinos e que lhe foi fácil encontrar. As pessoas
retornavam de suas atividades diárias, traziam suas
5. 5O Caminho de Santiago de Compostela
crianças das escolas e tudo parecia muito movimentado
em toda a parte.
Aproveitamos o final do dia para darmos uma geral
em nossas roupas e apetrechos, muito diferentes daqueles
usados pelos peregrinos medievais que outrora
percorreram a senda. Atualmente as roupas mais indicadas
são aquelas de fibra sintética leve e de secagem rápida
após a lavagem, além de algum agasalho para frio, de
preferência com capuz; meias finas para serem usadas em
contato com os pés, vestidas antes das meias grossas,
garantem conforto e menor risco de ferimentos e bolhas
ocasionados pela caminhada contínua; botas especiais para
tracking; chapéu de aba larga, óculos escuros, capa de
chuva, lanterna e canivete suíço, mochila, saco de dormir,
alguns remédios básicos e produtos de higiene pessoal,
tudo em pequenas embalagens para não fazer peso, são
complementos indispensáveis ao caminhante destes novos
tempos.
À noite, fomos visitar a praça maior, a catedral, bem
como alguns lugares mais movimentados da cidade. Os
refúgios de peregrinos normalmente fecham suas portas
por volta das 22 horas, para que todos possam descansar e
estar dispostos para a jornada do próximo dia. Sendo
assim, retornamos aos nossos aposentos por volta das 21
horas.
6. Rota do Novo Milênio6
Peregrinos a caminho de Los Arcos