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• por Simone Galib
O HOMEM
DAS PARCERIAS
Como o jornalista e publicitário João Doria, fundador
e presidente do LIDE, grupo que reúne 52% do PIB
nacional, se tornou um dos empresários articulados e
influentes do país. Aqui, ele fala sobre turismo, eventos,
negócios e a atual crise no Brasil
PODEROSAS
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H
á pessoas que nascem com
o dom da negociação, da
comunicação, têm feeling
apurado para captar oportunida-
des e a habilidade de fazer ótimos
negócios, inovando no formato e
unindo forças. Elas transitam pelos
mais diversos segmentos, com dis-
ciplina e diplomacia, o que resulta
em relacionamentos importantes,
além de rumos inesperados de vida
e de carreira. Esse é o caso do em-
presário multimídia João Doria, CEO
do Grupo Doria, além de presidente
do LIDE, o grupo de líderes empre-
sariais, fundado por ele, que hoje,
com mais de 1.700 afiliados, repre-
senta 52% do PIB do país. E que em
constantes fóruns, nacionais e in-
ternacionais, seus membros deba-
tem alguns dos principais assuntos
do Brasil e do mundo.
Não é pouca coisa, não! Mas
também não chega a ser uma sur-
presa para o círculo de parceiros e
amigos de Doria, muitos dos quais
o acompanham desde a juventude.
Eles nunca duvidaram que o “me-
nino prodígio”, como era chamado
pelo então governador Mário Covas,
iria explorar todo o seu potencial
como empreendedor. E o garoto,
bem nascido, aprendeu muito cedo,
aos 13 anos, como transitar em si-
tuações nada confortáveis para um
pré-adolescente.
INFÂNCIASOFRIDA
Apesar da carreira bem suce-
dida como jornalista, publicitário,
apresentador de TV e homem de
negócios, o empresário passou por
grandes dificuldades na infância
e trabalhou duro para alcançar os
seus objetivos. Filho do deputado
federal João Doria, ele viu o pai,
um parlamentar ousado e engaja-
do, perder todo o seu patrimônio
ao ser exilado, em 1964, no início
da ditadura (os chamados anos de
chumbo), período difícil da história
do país, que se estendeu até 1985. O
deputado, então com dois anos de
mandato, foi cassado já na primeira
lista, por se opor ao regime militar.
Era um democrata convicto.
O exílio mudou radicalmente a
vida da família, que vendeu parte do
patrimônio e foi morar na França.
Porém, o dinheiro acabou mais rápi-
do do que planejavam e eles retor-
naram a São Paulo. Doria até chegou
O empresário, jornalista e publicitário João Doria, também presidente do LIDE
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a se matricular no tradicional Rio
Branco, o colégio frequentado pela
elite paulistana, mas precisou sair
por falta de condições financeiras.
Foi para uma escola pública, cursou
publicidade e jornalismo e a partir
daí começou os primeiros passos
na carreira, estagiando na agência
Stardard, que pertenceu ao pai nos
bons tempos. A mãe também foi
trabalhar para ajudar no orçamento
doméstico. Ela faleceu muito jovem,
aos 36 anos.
O pai retornou ao Brasil, em
1974, em uma condição financeira
complicada, a exemplo de muitos
brasileiros forçados a deixar o país
no período da ditadura. Coleciona-
dor de arte, ele vendeu seus qua-
dros durante o exílio para sobrevi-
ver. À época estava com 50 anos,
mas ainda cheio de energia e garra
para recomeçar. “Tirei isso como
uma lição, o sofrimento de minha
mãe e as dificuldades de meu pai.
Ninguém queria chegar perto de
nós”, disse Dória a uma plateia de
João Doria com o
cantor Ray Charles,
no programa
Sucesso
O jornalista recebe o ator Marcelo Mastroiani no Show Business
João Doria entrevistando
Xuxa para o seu
programa de TV
O principal
desafio dos
empresários
agora é continuar
a produzir,
mesmo na
adversidade.
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jovens empreendedores da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo). Ele relembrou ainda
ter feito uma promessa ao pai. “Vou
trabalhar 24 horas.”
TELEVISÃO,EVENTOSETURISMO
Promessa feita, promessa cum-
prida. Aos 18 anos foi para a Tupi,
a primeira emissora de televisão
do país. Subiu rápido, virou diretor.
Também dirigiu a TV Bandeirantes.
Aos 21, assumiu a administração do
Parque Anhembi, o concorrido Cen-
tro de Convenções de São Paulo. Com
um bom staff na retaguarda, acabou
nomeado secretário municipal de
Turismo. Por fim, a convite do gover-
nador Mário Covas, assumiu a presi-
dência da Paulistur, de 1983 e 1986.
Assim, começou sua relação
mais direta com o mercado de
eventos e principalmente com o
turismo. Doria passou a captar re-
cursos da iniciativa privada para
oferecer entretenimento aos pau-
listanos. Criou várias ações, como a
praça do Doce, que funcionava aos
domingos no antigo pátio do Shop-
ping Iguatemi, no Itaim Bibi. Com o
patrocínio de uma poderosa marca
de açúcar, as senhoras doceiras da
cidade eram incentivadas a exibir
ali todo o seu talento, ou seja, doces
maravilhosos.
Foram criados ainda o Espaço
do Livro, na praça Roosevelt, onde a
população podia trocar seus exem-
plares; as praças do Chorinho, em
Pinheiros, e a do Forró, em Itaquera,
na zona leste, além do Passaporte
Doria participando
da Praça do Doce,
no Itaim Bibi, como
presidente da
Paulistur
Ainda como presidente da Embratur, no lançamento de uma campanha para deficientes físicos.
O empresário durante
um evento em São
Paulo com o ministro
José Hugo Castelo
Branco e Antonio Carlos
Magalhães
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Como ex-presidente da Paulistur, ex-secretário de Turismo, atual vice-
presidente do São Paulo Conventions & Visitors Bureau e conselheiro do Masp,
João Doria acredita que a solução para incrementar o turismo e os negócios na
cidade são as parcerias, marca registrada de sua gestão empresarial.
“É preciso buscar recursos nas agências de fomento, no Brasil e no exterior,
para impulsionar o financiamento de programas sociais. E estimular também a
entrada de capital externo na economia da cidade, especialmente nos setores
de serviços e tecnologia”, afirma. Diz ainda ser favorável à privatização do
Parque Anhembi, assim como sua ampliação e modernização tecnológica.
Para ele, “São Paulo é um desafio gigantesco. É preciso melhorar urgentemente
os serviços públicos, além de modernizar a infraestrutura de equipamentos
urbanos. E acrescenta que a área de saúde “é a mais preocupante, embora
os desafios não sejam menores em relação aos problemas na educação,
mobilidade urbana e segurança pública.”
SÃOPAULOÉUMDESAFIOGIGANTESCO
A história de um
vencedor, a história de
alguém que preza o seu
sobrenome, é história
com ética, com princípios,
transparência, com
decência.
No comando da Paulistur
Eliti denis dellita tendem volorrupta volessus
Na presidência da Embratur, em Brasília
1ª foto:
Lançamento
da campanha
Respeite os
Turistas voltada
aos motoristas
de táxi
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Trabalho muito e durmo
pouco. Tenho paixão por
tudo o que faço e quem tem
paixão, faz melhor.
São Paulo, com descontos em ci-
nemas, restaurantes e museus. “O
lazer é cultural”, costumava dizer.
Nos anos 1980, mais de 110 eventos
acabaram incorporados ao calendá-
rio da cidade. Doria também foi um
dos fundadores do São Paulo Con-
ventions & Bureau.
A boa performance à frente da
Paulistur serviu de trampolim para
que ele assumisse a presidência da
Embratur, durante o governo de
José Sarney, época em que também
esteve à frente do Conselho Nacio-
nal de Turismo. O jovem empresá-
rio levou para Brasília o mesmo mo-
delo de gestão, incluindo o apoio da
iniciativa privada e do trade, para
dar maior visibilidade ao Brasil no
exterior, além de incentivar o turis-
mo doméstico.
MUITADISCIPLINAEPOUCOSONO
Hoje, o grupo que leva o seu
nome tem seis empresas, que atuam
nasáreasdeeventosemarketing.Ele
é também publisher da Doria Edito-
ra, com 19 revistas, cujo público alvo
são empresários e leitores classe A.
Já escreveu livros sobre empreen-
dedorismo, apresenta o programa
Show Business na Band, assina uma
coluna na revista Forbes e ainda faz
palestras, cujo teor é baseado em
sua própria experiência de vida e
em mais de 3 mil entrevistas reali-
zadas, como jornalista, ao longo dos
últimos 20 anos.
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Como todo bom empreende-
dor é movido a desafios, Doria, um
homem extremamente perfeccio-
nista, realizado pessoal e profissio-
nalmente, resolveu aceitar mais
uma tarefa, digamos assim, nada
simples. Ele vai pela primeira vez
encarar as urnas e é pré-candidato
à Prefeitura de São Paulo nas elei-
ções de 2016, pelo PSDB. Explica que
a ideia surgiu do próprio partido, o
qual acredita que a política precisa
de renovação.
Casado, pai de três filhos e com
uma agenda capaz de deixar qual-
quer workaholic sem fôlego, ele ain-
da marca forte presença nas mídias
sociais, com várias páginas no Face-
book, contas no Twitter e no Insta-
gram. Ou seja: está sempre no ar e
em diversos lugares ao mesmo tem-
po, algo que adora. Como encontra
tempo para administrar tanta coi-
sa?, pergunto a ele.
“Sempre fui disciplinado. Isso
me ajuda a conseguir conciliar os
compromissos. Trabalho muito e
durmo pouco. Tenho paixão por
tudo o que faço. E quem tem pai-
xão, faz melhor”, explica.
PIORCRISEDOS
ÚLTIMOS50ANOS
Doria, com o apoio dos prin-
cipais empresários, não tem poupa-
do críticas ao momento vivido pelo
país. No final do último fórum do
LIDE, realizado em agosto, no Gran-
de Hyatt, em São Paulo, cujo tema
foi O Brasil que nós queremos, ele
disse que “há um grau elevadíssimo
de desconfiança do empresariado
em relação ao governo, o que difi-
culta a elaboração de um projeto
econômico para que o Brasil volte
a crescer.” Aliás, opinião comparti-
lhada pela maioria dos cerca de 400
convidados do encontro, entre eles
executivos, jornalistas, historiado-
res e políticos.
Um mês depois, com a situação
se agravando, pergunto a ele, antes
de fechar esta entrevista, qual o prin-
cipal desafio dos brasileiros diante
de tamanha instabilidade. Doria diz
que “o país enfrenta a sua pior crise
dos últimos 50 anos. A economia está
em recessão e não há perspectiva de
melhora deste cenário, visto que 2016
também será um ano de recessão.”
O LIDE, que hoje reúne alguns dos mais expressivos empresários do país, foi
criado por João Doria, em 2003, para promover a interação entre empresas,
organizações e entidades privadas, estimulando os debates em todos os
setores, inclusivo o público.
Há 12 anos, a primeira carta de intenção para sua fundação foi assinada por
100 empresas. Em menos de cinco anos, já eram 400. Hoje, são mais de 1.700
filiados, nacionais e internacionais.
Os fóruns, almoços, jantares e encontros do grupo costumam acontecer
no Brasil e no exterior, reunindo CEOs de empresas, como Magazine Luiza,
Boticário, Alpargatas e banqueiros - só para citar alguns exemplos. Os assuntos
colocados em pauta são os mais diversos, mas há um tripé básico, que é
educação, inovação e sustentabilidade. Eles defendem a união de forças para
tornar o Brasil um país melhor, do ponto de vista social, político e econômico.
ABERTURADEDIÁLOGOS
O sempre sorridente e alto as-
tral João Doria, agora, demonstra
grande preocupação quando o as-
sunto é crise. “O Brasil está um país
triste, perdedor.” E vislumbra tem-
pos ainda muito difíceis. “O povo e
o país, infelizmente, vão pagar um
preço caro pela incapacidade do go-
verno. A retração de investimentos,
a queda da produção industrial, o
aumento da inflação e o crescimen-
to do desemprego trazem reflexos
negativos para toda a sociedade. É
um momento de cautela, mas não
devemos ficar parados.
Para ele, “o principal desafio
que todos os empresários enfren-
tam agora é o de continuar a produ-
zir, mesmo na adversidade.”
Que assim seja!