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CAPA CENSO

O desafio da

inclusão

Censo do ensino superior indica que, apesar do crescimento, ainda é
baixo o percentual de jovens universitários e revela o que ainda falta
para colocar na faculdade o potencial contingente de brasileiros
por Svendla Chaves
ais de sete milhões de candidatos
estão inscritos para realizar no final de outubro o Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) – o que significa que esse é o número de brasileiros em
potencial para entrar numa faculdade em
2014. Na prática, no entanto, o ingresso deverá ser bem menor, se acompanhar o crescimento médio apontado pelo mais recente
Censo da Educação Superior do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2012, os
ingressos somaram 2,7 milhões de alunos,

shutterstock

M

26

ensino superior

aumento de 17% em relação ao ano anterior
e de 92% na década.
Embora os índices de crescimento pareçam altos, a demanda reprimida também
é: ainda há muito a ser feito para garantir
que ao menos 33% dos jovens brasileiros
estejam numa universidade em 2020, conforme meta do Plano Nacional de Educação
(PNE), que tramita no Congresso. Hoje esse
índice gira em torno de 15%.
Estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
aponta que, apesar de as taxas de escolariza-
ção do ensino superior terem aumentado nos
últimos anos no país, o percentual de pessoas
entre 25 e 34 anos que havia concluído a graduação em 2011 (13%) continuava muito abaixo da média da OCDE (39%). O organismo é
formado pelos países mais industrializados e
também alguns emergentes como México,
Chile e Turquia. “Até a Bolívia tem proporcionalmente mais jovens universitários do
que o Brasil”, lembra Oscar Hipólito, reitor
da Anhembi Morumbi. “Se não houver um
sistema arrojado que realmente coloque o
ensino superior como prioridade, não vamos
atingir a meta do PNE em 2020”, alerta.

Um plano efetivo
Para Gilberto Garcia, presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação (CNE), a meta estabelecida no PNE é “matemática” demais,
não considerando as peculiaridades do país.
“Seria importante definir exatamente qual o
passivo existente. Já temos uma quebra na
passagem do ensino fundamental para o
ensino médio. Os cursos técnicos também
estão crescendo bastante” Para o conselheiro, não há uma causa única para a situação
brasileira. “Não faltam esforços públicos e
privados para ampliar o número de alunos
na universidade”, comenta.
Nos resultados do censo, o Inep enfatiza
que “a proporção de ingressantes para cada

dez mil habitantes, na maioria das áreas do
conhecimento, é superior à média dos países da OCDE”. Um dos pontos realçados é a
área de engenharia, produção e construção,
que apresentou 18,8 ingressantes para cada
dez mil habitantes brasileiros em 2012, contra a média de 15,3 na OCDE. Esse dado viria ao encontro da significativa demanda do
mercado por profissionais de engenharia.

A força das particulares
O censo confirma a forte presença das
instituições de ensino particulares na educação superior: 73% das matrículas de 2012
foram realizadas na rede privada, totalizando mais de cinco milhões de alunos (veja
gráfico na página seguinte). Apesar da grandeza, o setor ainda não é visto com o mesmo
prestígio da rede pública.
Segundo Paulo Cardim, reitor do Centro
Universitário Belas Artes, uma certa antipatia com as escolas privadas em todas as
esferas de governo está entre as razões que
impedem a expansão no Brasil. “Quando o
governo não consegue expandir as universidades públicas, sufoca o ensino particular
para que também não tenhamos crescimento”, lamenta o reitor.
Cardim cita como exemplo o papel do
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) na avaliação e consequente financiamento dos cursos. “Quando
ensino superior

27
O desafio da inclusão

uma escola recebe nota abaixo de 3, perde
o acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e ao Programa de Estímulo
à Reestruturação e ao Fortalecimento das
Instituições de Ensino Superior (Proies),
ficando praticamente impedida de funcionar. Só que muitas vezes o que faltou foi
comprometimento dos alunos, que não são
responsabilizados por isso”. Para o reitor, o
governo aparece muito mais como fiscal do
que como incentivador da qualidade.
Em apenas seis estados o número de
estudantes matriculados em instituições
públicas é maior que nas particulares: Acre,
Pará, Roraima, Tocantins, Santa Catarina
e Paraíba. O consultor em ensino superior
Celso Frauches sinaliza que o volume de
potenciais alunos no Nordeste brasileiro
com certeza supera a oferta de vagas (veja
gráfico na página ao lado). “Esse quadro não
se espelha em matrículas em razão do viés
econômico da região”, explica Frauches,
ressaltando o financiamento como um dos
problemas ainda a ser equacionado para incluir mais alunos no ensino superior.
Para Gilberto Garcia, a expansão de
vagas nem sempre tem sido bem equacionada entre todas as regiões. “É preciso
uma indução política mais estudada da
distribuição das vagas no país. O censo do
Inep deve ser um instrumento para isso,
com uma ampla análise científica dos dados”, sugere o conselheiro.

Problema anterior
As etapas do ensino no Brasil servem
como marcos para que se avaliem as lacunas no avanço da educação. Mais de
90% das crianças entre seis e 14 anos estão matriculadas no ensino fundamental.
Na próxima faixa etária, de 15 a 17 anos, já
aparecem distorções no desenvolvimento
escolar: embora o número de matriculados
seja maior que 80%, pouco mais de 50% estão no ensino médio.
Outra janela de fuga aparece nos dados
do Enem. Em 2012, o índice de abstenção
na prova chegou a 28% – ou seja, boa parte
dos inscritos sequer comparece ao exame.
“O número de alunos que fazem Enem nunca vai coincidir com os ingressantes no

28

ensino superior

GraduaçãO nO
brasil eM 2012
instituições

2.416
CursOs

31.866
MatríCulas

7.037.688
inGressOs

2.747.089
COnCluintes

1.050.413
PÚBLIcAs
PrIVADAs

BAchAreLADo
LIceNcIAturA
tecNoLÓGIco
Onde estão
as instituições de
ensino superior

NORTE

154

PRIVADAS

87,4%

C.OESTE

12,6%
BRASIL

NORDESTE

SUL

PÚBLICAS

SUDESTE

236

2,45

444

1.173

409

Razão entre
matrículas
privada/pública
<1

1–2

2–3

3–4

4–5

>5

CRESCIMENTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
MATRÍCULAS
99,9 %

4,8 %

4,4 %

INGRESSOS

CONCLUINTES
91,9 %

124,5 %

17,1 %

3,3 %

2012
2011
2002

ensino superior

INFOGRAFIA LUCIANO ARNOLD/START DIGITAL

CURSOS
120,6%

2,2 %

47,6 %

instituições

29
Fotos: DIVuLGAção

O desafio da inclusão

Doença fatal: o
consultor Carlos
Monteiro diz
que a evasão
é o maior
obstáculo para o
crescimento das
matrículas

ensino superior enquanto a nota do exame
não for obrigatória no processo seletivo das
instituições particulares”, assinala Suli de
Moura, diretora acadêmica da Faculdade
Santa Marcelina (Fasm). A professora destaca dois segmentos de alunos que interferem nos números: aqueles que não aderem
ao Enem, pois querem estudar em uma instituição que não utiliza este dado no processo seletivo, e os que realizam o Enem e não
conseguem pontuação para ingressar em
universidade pública – e não têm condições
financeiras de ingressar em particular.
“O censo mostra mais de 2, 7 mil ingressantes. Supondo-se que todos fizeram o
Enem (o que não é verdade) a taxa de sucesso seria 64%. A questão é para onde vai esse
um terço que não ingressou”, salienta Carlos
Monteiro, consultor educacional da CM. “Os
próximos anos devem revelar um maior número de estudantes no exame que, por sua
vez, está cada vez mais seletivo em razão da
própria concorrência entre os estudantes.”

Os grandes vilões
Além dos jovens que não ingressam no
ensino superior, dois outros dados são relevantes para entender a baixa formação
acadêmica no Brasil: as taxas de evasão e o

tempo de permanência dos estudantes nas
classes universitárias. O número de alunos que abandona o curso ou leva muitos
anos para se formar é significativo e pode
ter efeito também no equilíbrio financeiro
das instituições. Segundo o consultor Celso Frauches, comparando-se o número de
concluintes com ingressantes, o Brasil tem
um desempenho muito fraco, não conseguindo evitar a evasão. “Nossos resultados estão abaixo do obtido pelos países de
mesmo porte na América do Sul e também
pelos demais componentes do BRICS”,
afirma Frauches.
Segundo os dados do Inep, ingressaram
no ensino superior brasileiro 1,5 milhão de
estudantes em 2002. Considerando um período médio de formação de cinco anos, seria de esperar que boa parte deles estivesse
terminando a graduação em 2007 – mas o
número de concluintes no ano foi 806 mil.
E a tendência se mantém: os ingressos em
2007 chegaram quase a 2,2 milhões; os formados em 2012, menos de 1,1 milhão.
Carlos Monteiro diz que a evasão é a
mais terrível doença organizacional das instituições brasileiras, tornando-se o maior
obstáculo para o crescimento das matrículas. Em 2012 foram 2,8 milhões de ingres-

Na hora de pagar a conta
Diversas opções oferecem aos estudantes de menor renda a possibilidade de
ingressar na rede privada. se o Prouni já se tornou bem conhecido pela população,
os sistemas de financiamento, no entanto, ainda são muitas vezes desconhecidos
ou temidos pelos candidatos, que têm receio de contrair dívidas com a formação
superior. “As instituições de ensino levaram um tempo até entender que o
financiamento é uma das principais formas, se não a principal, para o crescimento
do setor. A próxima barreira que precisamos quebrar é disseminar a informação
aos potenciais alunos”, afirma carlos Furlan, diretor executivo da Ideal Invest,
responsável pelo crédito universitário PraValer. De acordo com ele, ao se levar em
consideração que 60% dos inscritos no enem não pagaram a taxa de inscrição, uma
prerrogativa para quem não tem renda ou vem de escola pública, é possível concluir
que quase dois terços do total dos estudantes que pleiteiam uma vaga na faculdade
têm problema financeiro para pagar um curso superior. Assim, uma das formas mais
eficientes para alavancar o acesso é oferecer algum tipo de financiamento. oscar
hipólito concorda que uma das grandes dificuldades dos alunos para ingressar na
universidade é financeira. o reitor lembra que faltam recursos aos estudantes não
apenas para pagar a mensalidade do curso, mas para todos os gastos necessários
nesse período. “o financiamento tem de prever também a permanência do aluno
no sistema”, defende hipólito, que é contra o mecanismo de bolsas não restituíveis.
“essa medida não resolve, pois encarece o sistema. o melhor a fazer é oferecer
financiamento que o aluno deva restituir. No chile, por exemplo, mais de 90% dos
alunos do ensino superior têm seus estudos financiados”, conta.

30

ensino superior
santes e 1 milhão de concluintes. Supondo-se evasão zero, haveria crescimento de 1,8
milhão de alunos e estaríamos próximos de
nove milhões de matrículas. “No entanto, o
censo mostra apenas 7,3 milhões. Resultado: o sistema cresceu apenas 300 mil, pois
o restante ‘ninguém sabe, ninguém viu’”,
ironiza Monteiro.
Onde vão parar todos esses estudantes
que não se graduam? Por que desistem ou
prolongam os cursos? O maior índice de evasão é nos primeiros meses. Vários especialistas afirmam que a questão financeira não é
o fator preponderante nesse caso. “Nas pesquisas internas o item ‘não tenho condições
financeiras’ aparece em primeiro lugar, mas
quando o aluno realmente gosta do curso e
quer ser um profissional da área ele consegue
recursos”, conta Suli.
É uma relação custo-benefício. Quando
há quebra de expectativas do aluno e de
sua família com o curso e com a instituição
de ensino, seja por atendimento ruim ou
por disciplinas que não parecem atrativas,
a impressão é de se estar desperdiçando
recursos. Recursos que são valiosos demais,
considerando a situação econômica da
maior parte das famílias brasileiras.
Se a dificuldade de permanência se
apresentasse somente no setor privado, seria mais fácil detectar os motivos de evasão,
mas o problema também atinge a rede pública. “É preciso levar em conta a questão
vocacional; os alunos se desencantam com
o curso com o tempo. Antes as áreas eram
mais definidas, e os nossos jovens estão
cada vez mais imaturos para tomar decisões
referentes à carreira”, explica Garcia.
Os cursos de bacharelado interdisciplinar, ainda em desenvolvimento, têm sido
uma alternativa na redução da evasão. Cursos mais curtos, como os de tecnologia, também ajudam a manter os jovens nas salas de
aula. Nesse quadro, as instituições particulares precisam estar atentas ao orçamento. A
evasão impacta o planejamento financeiro
das escolas, que se programam para atender
aos ingressantes. Também o prolongamento
do curso causa prejuízos, afetando a eficácia
do sistema. “Essas são questões de gestão e
acompanhamento”, conclui Hipólito.

Carlos Monteiro acredita que as instituições estão se profissionalizando, entendendo o aluno como cliente e dando mais
atenção ao atendimento, considerando os
diversos aspectos que contribuem para a
evasão, e indica outro ponto a ser trabalhado. “A questão financeira é apenas uma das
variáveis dessa realidade. O desencanto, a
falta de expectativa e as metodologias ultrapassadas são condicionantes importantes a
serem trabalhados”, recomenda.

Qualidade na base
Uma barreira relevante tanto para o ingresso quanto para a permanência dos estudantes na formação superior é a deficiência
escolar. Muitos jovens não conseguem
obter pontuação nos processos seletivos
ou, quando passam, têm dificuldades para
acompanhar os estudos na universidade,
em razão do descompasso entre o ensino
médio e o superior.
“O que tenho observado nas últimas
duas décadas é que os jovens que vêm das
escolas públicas não se acham capazes de
competir com os egressos das particulares,
que estariam mais bem preparados”, conta
Celso Frauches. O especialista aponta que a
formação docente é uma grande dificuldade no incremento da educação básica, com
evasão nos cursos de licenciatura, professores mal pagos e sem plano de carreira, que
não são cobrados no compromisso com os
resultados. “Falta empenho do governo na
qualidade da formação docente. Também
há problemas de remuneração e ambiente
de trabalho”, denuncia.
Frauches não parece esperançoso quanto à solução desses entraves, afirmando que
a dificuldade está no fato de o ensino básico
ser de responsabilidade de estados e municípios – o governo federal teria de intervir
para avaliar a qualidade do trabalho que
vem sendo feito.
As soluções de longo prazo também são
uma reivindicação de Paulo Cardim. Para
ele, os governos precisam trabalhar com
planejamento e gestão na educação, em
horizontes de 15 a 20 anos. “Não podemos
ficar sujeitos a improvisações e interesses
momentâneos de um ou outro governo.”

Questão de
currículo:
de acordo
com Gilberto
Garcia, do
CNE, a evasão
também revela
a imaturidade
dos jovens em
pensar a carreira

ensino superior

31
CAPA CENSO EAD

Educação que vai longe
Considerada uma saída para expandir o acesso, EAD esbarra na
burocratização e falta de financiamento
mbora ainda seja responsável por
apenas 15,8% do total de matrículas
na graduação, a educação a distância (EAD) está alavancando o crescimento
no ensino superior. As matrículas presenciais cresceram 3,1% em 2012, segundo o
Censo do Inep, enquanto que na modalidade
a distância o aumento foi de 12,2%. Nos ingressos, a expansão foi de 15,1% e 25,7%, respectivamente. Mesmo com taxa significativa
de evasão, a EAD apresentou crescimento
bastante destacado também nos concluintes,
de 15,0%, contra 1,3% da presencial.
O Inep avalia que a modalidade deve seguir a tendência de expansão e destaca que a
oferta, assim como na educação presencial,
“é acompanhada por todos os processos de
regulação e supervisão inerentes ao ensino
superior no Brasil.” No entanto, o crescimento da EAD esbarra justamente na forte
regulação do MEC, o que ocasiona muita
concentração nesse mercado, com poucas
instituições oferecendo a modalidade.
Os requisitos para desenvolvimento do
setor dividem opiniões. Para o consultor
Celso Frauches, o MEC não está aparelhado para avaliar a educação a distância

E

no Brasil. “Hoje há muitos cursos que não
oferecem qualidade, e também ainda existe preconceito do mercado”. Já a diretora
acadêmica da Faculdade Santa Marcelina
(Fasm), Suli de Moura, acredita que a EAD
seja uma saída para o país melhorar o índice
dos jovens que frequentam o ensino universitário, mas também considera importante
uma revisão na forma como a modalidade
está sendo conduzida.
Um dos empecilhos ao aumento do
número de alunos na modalidade está na
ausência de financiamento público. A coordenadora de Ensino a Distância da Organização Educacional Barão de Mauá,
Márcia Aparecida Figueiredo, que também
é representante da Associação Brasileira
de Educação a Distância (Abed), reafirma
a importância da EAD para a inclusão de
alunos. “Como podemos ampliar o número
de estudantes matriculados se apenas 12,6%
das instituições são públicas, e o MEC não
concede o benefício do Fies para os alunos
na modalidade a distância?”.
No momento em que o governo liberar
o financiamento público para esse modelo,
espera-se um salto quantitativo enorme em

MOdalidades de ensinO
presenCial
2.204.456

5.923.838

ead
1.113.850
542.633
174.322

32

ensino superior

MAtrÍcuLAs

INGressos

coNcLuINtes

INFoGrAFIA LucIANo ArNoLD/stArt DIGItAL

876.091
Os queridinhos do Brasil
Além do crescimento galopante do ensino
a distância, outras atividades vêm ganhando
a preferência dos estudantes. É o caso dos
cursos de tecnologia, que apresentaram expansão de 8,5% em relação a 2011, chegando
a 13,5% das matrículas na educação superior.
Nos cursos de bacharelado, o aumento foi de
4,6% e nos de licenciatura, de 0,8%.
Foi a primeira vez que o número de ingressos na graduação tecnológica superou o
das licenciaturas, chegando a quase 20% dos
alunos que entraram no ensino superior em
2012, contra 17,9% das licenciaturas. O presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Gilberto
Garcia, assinala que o crescimento dos tecnólogos se dá principalmente na área de serviços – e essa tendência deve ser mantida. Se
até recentemente a figura do tecnólogo não
estava consolidada e havia preconceito se o
profissional não fosse bacharel, hoje as necessidades do mercado mudaram essa situação.
As licenciaturas passam por uma alavancagem na educação a distância, representando 40,4% das matrículas nessa modalidade.
Garcia ressalta, no entanto, que não há como
aumentar o número de alunos de licenciatura sem que se resolva a situação profissional
do professor no Brasil, incluindo a questão
salarial. “Embora o governo federal venha
fazendo certo esforço para incentivar a formação de professores, isso não compensa o
atraso histórico que temos no país, de desprestígio e desvalorização dos professores,
especialmente os de ensino básico.”
Administração, direito e pedagogia
continuam sendo os cursos preferidos dos
brasileiros, representando cerca de 30%
das matrículas, dos ingressos e dos concluintes. Em números arredondados, uma
em cada sete mulheres que está na faculdade cursa pedagogia. A cada profissional
graduado em física no Brasil em 2012, se

formaram 49 administradores.
“Há redução na formação de professores
nas áreas mais técnicas, como matemática,
física e química. Isso afeta o ensino fundamental, que precisa ser priorizado. É necessário pensar no Brasil no médio prazo, pois
o resultado leva no mínimo 15 anos para ser
alcançado”, declara o reitor do Centro Universitário Belas Artes, Paulo Cardim.
Foi com o objetivo de melhorar essa
proporção, despertando as vocações docentes e científicas dos jovens, que o governo
federal lançou no final de setembro o programa Quero ser professor, quero ser cientista.
A iniciativa vai oferecer bolsas a estudantes
da educação básica que queiram desenvolver atividades com ênfase em matemática,
física, química e biologia.
Suli lembra que sempre haverá maior
procura pelos cursos que estão na moda, que
proporcionam um maior salário para o início
de carreira, embora nem sempre as instituições estejam preparadas para oferecer essas graduações. “Por outro lado, enquanto o
governo não mudar a política de salário dos
professores, teremos este cenário: sobram
vagas para os cursos de licenciatura e faltam
professores nas escolas”, aponta Suli.
Embora o Inep comemore o aumento dos
ingressantes nas áreas de engenharia, produção e construção, o número ainda é insuficiente. Carlos Monteiro lembra que, até 2015,
o Brasil vai precisar de 300 mil engenheiros,
mas o país ainda não está conseguindo formar a quantidade de profissionais necessários para a área. De acordo com a Federação
Nacional dos Engenheiros, os estudantes não
estão terminando o curso e os que terminam
não buscam uma especialização.
“Nossa realidade é cristalina: faltam engenheiros e falta qualificação. Este é o momento para se repensar os currículos, não
só das engenharias, para que se tornem
uma via de mão dupla entre a academia e
o mercado”, aconselha Monteiro. A verdade translúcida é completada pelo pensamento do reitor da Universidade Anhembi
Morumbi, Oscar Hipólito. “Se quisermos
efetivamente mudar algo em nosso país,
precisamos de mais profissionais com nível
superior”, conclui. (Svendla Chaves)

divulgação

matrículas. De acordo com o diretor executivo da Ideal Invest, Carlos Furlan, no caso do
crédito universitário PraValer a educação a
distância é encarada da mesma forma que o
estudo presencial. Nesse sentido ele aponta
uma demanda crescente na modalidade.

Revisão da EAD:
para Suli de
Moura, da Fasm,
o investimento
no modelo
de ensino a
distância pode
ser uma saída
para o gargalo
da inclusão

ensino superior

33

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O desafio da inclusão no ensino superior brasileiro

  • 1. CAPA CENSO O desafio da inclusão Censo do ensino superior indica que, apesar do crescimento, ainda é baixo o percentual de jovens universitários e revela o que ainda falta para colocar na faculdade o potencial contingente de brasileiros por Svendla Chaves ais de sete milhões de candidatos estão inscritos para realizar no final de outubro o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – o que significa que esse é o número de brasileiros em potencial para entrar numa faculdade em 2014. Na prática, no entanto, o ingresso deverá ser bem menor, se acompanhar o crescimento médio apontado pelo mais recente Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2012, os ingressos somaram 2,7 milhões de alunos, shutterstock M 26 ensino superior aumento de 17% em relação ao ano anterior e de 92% na década. Embora os índices de crescimento pareçam altos, a demanda reprimida também é: ainda há muito a ser feito para garantir que ao menos 33% dos jovens brasileiros estejam numa universidade em 2020, conforme meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita no Congresso. Hoje esse índice gira em torno de 15%. Estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que, apesar de as taxas de escolariza-
  • 2. ção do ensino superior terem aumentado nos últimos anos no país, o percentual de pessoas entre 25 e 34 anos que havia concluído a graduação em 2011 (13%) continuava muito abaixo da média da OCDE (39%). O organismo é formado pelos países mais industrializados e também alguns emergentes como México, Chile e Turquia. “Até a Bolívia tem proporcionalmente mais jovens universitários do que o Brasil”, lembra Oscar Hipólito, reitor da Anhembi Morumbi. “Se não houver um sistema arrojado que realmente coloque o ensino superior como prioridade, não vamos atingir a meta do PNE em 2020”, alerta. Um plano efetivo Para Gilberto Garcia, presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), a meta estabelecida no PNE é “matemática” demais, não considerando as peculiaridades do país. “Seria importante definir exatamente qual o passivo existente. Já temos uma quebra na passagem do ensino fundamental para o ensino médio. Os cursos técnicos também estão crescendo bastante” Para o conselheiro, não há uma causa única para a situação brasileira. “Não faltam esforços públicos e privados para ampliar o número de alunos na universidade”, comenta. Nos resultados do censo, o Inep enfatiza que “a proporção de ingressantes para cada dez mil habitantes, na maioria das áreas do conhecimento, é superior à média dos países da OCDE”. Um dos pontos realçados é a área de engenharia, produção e construção, que apresentou 18,8 ingressantes para cada dez mil habitantes brasileiros em 2012, contra a média de 15,3 na OCDE. Esse dado viria ao encontro da significativa demanda do mercado por profissionais de engenharia. A força das particulares O censo confirma a forte presença das instituições de ensino particulares na educação superior: 73% das matrículas de 2012 foram realizadas na rede privada, totalizando mais de cinco milhões de alunos (veja gráfico na página seguinte). Apesar da grandeza, o setor ainda não é visto com o mesmo prestígio da rede pública. Segundo Paulo Cardim, reitor do Centro Universitário Belas Artes, uma certa antipatia com as escolas privadas em todas as esferas de governo está entre as razões que impedem a expansão no Brasil. “Quando o governo não consegue expandir as universidades públicas, sufoca o ensino particular para que também não tenhamos crescimento”, lamenta o reitor. Cardim cita como exemplo o papel do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) na avaliação e consequente financiamento dos cursos. “Quando ensino superior 27
  • 3. O desafio da inclusão uma escola recebe nota abaixo de 3, perde o acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies), ficando praticamente impedida de funcionar. Só que muitas vezes o que faltou foi comprometimento dos alunos, que não são responsabilizados por isso”. Para o reitor, o governo aparece muito mais como fiscal do que como incentivador da qualidade. Em apenas seis estados o número de estudantes matriculados em instituições públicas é maior que nas particulares: Acre, Pará, Roraima, Tocantins, Santa Catarina e Paraíba. O consultor em ensino superior Celso Frauches sinaliza que o volume de potenciais alunos no Nordeste brasileiro com certeza supera a oferta de vagas (veja gráfico na página ao lado). “Esse quadro não se espelha em matrículas em razão do viés econômico da região”, explica Frauches, ressaltando o financiamento como um dos problemas ainda a ser equacionado para incluir mais alunos no ensino superior. Para Gilberto Garcia, a expansão de vagas nem sempre tem sido bem equacionada entre todas as regiões. “É preciso uma indução política mais estudada da distribuição das vagas no país. O censo do Inep deve ser um instrumento para isso, com uma ampla análise científica dos dados”, sugere o conselheiro. Problema anterior As etapas do ensino no Brasil servem como marcos para que se avaliem as lacunas no avanço da educação. Mais de 90% das crianças entre seis e 14 anos estão matriculadas no ensino fundamental. Na próxima faixa etária, de 15 a 17 anos, já aparecem distorções no desenvolvimento escolar: embora o número de matriculados seja maior que 80%, pouco mais de 50% estão no ensino médio. Outra janela de fuga aparece nos dados do Enem. Em 2012, o índice de abstenção na prova chegou a 28% – ou seja, boa parte dos inscritos sequer comparece ao exame. “O número de alunos que fazem Enem nunca vai coincidir com os ingressantes no 28 ensino superior GraduaçãO nO brasil eM 2012 instituições 2.416 CursOs 31.866 MatríCulas 7.037.688 inGressOs 2.747.089 COnCluintes 1.050.413 PÚBLIcAs PrIVADAs BAchAreLADo LIceNcIAturA tecNoLÓGIco
  • 4. Onde estão as instituições de ensino superior NORTE 154 PRIVADAS 87,4% C.OESTE 12,6% BRASIL NORDESTE SUL PÚBLICAS SUDESTE 236 2,45 444 1.173 409 Razão entre matrículas privada/pública <1 1–2 2–3 3–4 4–5 >5 CRESCIMENTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR MATRÍCULAS 99,9 % 4,8 % 4,4 % INGRESSOS CONCLUINTES 91,9 % 124,5 % 17,1 % 3,3 % 2012 2011 2002 ensino superior INFOGRAFIA LUCIANO ARNOLD/START DIGITAL CURSOS 120,6% 2,2 % 47,6 % instituições 29
  • 5. Fotos: DIVuLGAção O desafio da inclusão Doença fatal: o consultor Carlos Monteiro diz que a evasão é o maior obstáculo para o crescimento das matrículas ensino superior enquanto a nota do exame não for obrigatória no processo seletivo das instituições particulares”, assinala Suli de Moura, diretora acadêmica da Faculdade Santa Marcelina (Fasm). A professora destaca dois segmentos de alunos que interferem nos números: aqueles que não aderem ao Enem, pois querem estudar em uma instituição que não utiliza este dado no processo seletivo, e os que realizam o Enem e não conseguem pontuação para ingressar em universidade pública – e não têm condições financeiras de ingressar em particular. “O censo mostra mais de 2, 7 mil ingressantes. Supondo-se que todos fizeram o Enem (o que não é verdade) a taxa de sucesso seria 64%. A questão é para onde vai esse um terço que não ingressou”, salienta Carlos Monteiro, consultor educacional da CM. “Os próximos anos devem revelar um maior número de estudantes no exame que, por sua vez, está cada vez mais seletivo em razão da própria concorrência entre os estudantes.” Os grandes vilões Além dos jovens que não ingressam no ensino superior, dois outros dados são relevantes para entender a baixa formação acadêmica no Brasil: as taxas de evasão e o tempo de permanência dos estudantes nas classes universitárias. O número de alunos que abandona o curso ou leva muitos anos para se formar é significativo e pode ter efeito também no equilíbrio financeiro das instituições. Segundo o consultor Celso Frauches, comparando-se o número de concluintes com ingressantes, o Brasil tem um desempenho muito fraco, não conseguindo evitar a evasão. “Nossos resultados estão abaixo do obtido pelos países de mesmo porte na América do Sul e também pelos demais componentes do BRICS”, afirma Frauches. Segundo os dados do Inep, ingressaram no ensino superior brasileiro 1,5 milhão de estudantes em 2002. Considerando um período médio de formação de cinco anos, seria de esperar que boa parte deles estivesse terminando a graduação em 2007 – mas o número de concluintes no ano foi 806 mil. E a tendência se mantém: os ingressos em 2007 chegaram quase a 2,2 milhões; os formados em 2012, menos de 1,1 milhão. Carlos Monteiro diz que a evasão é a mais terrível doença organizacional das instituições brasileiras, tornando-se o maior obstáculo para o crescimento das matrículas. Em 2012 foram 2,8 milhões de ingres- Na hora de pagar a conta Diversas opções oferecem aos estudantes de menor renda a possibilidade de ingressar na rede privada. se o Prouni já se tornou bem conhecido pela população, os sistemas de financiamento, no entanto, ainda são muitas vezes desconhecidos ou temidos pelos candidatos, que têm receio de contrair dívidas com a formação superior. “As instituições de ensino levaram um tempo até entender que o financiamento é uma das principais formas, se não a principal, para o crescimento do setor. A próxima barreira que precisamos quebrar é disseminar a informação aos potenciais alunos”, afirma carlos Furlan, diretor executivo da Ideal Invest, responsável pelo crédito universitário PraValer. De acordo com ele, ao se levar em consideração que 60% dos inscritos no enem não pagaram a taxa de inscrição, uma prerrogativa para quem não tem renda ou vem de escola pública, é possível concluir que quase dois terços do total dos estudantes que pleiteiam uma vaga na faculdade têm problema financeiro para pagar um curso superior. Assim, uma das formas mais eficientes para alavancar o acesso é oferecer algum tipo de financiamento. oscar hipólito concorda que uma das grandes dificuldades dos alunos para ingressar na universidade é financeira. o reitor lembra que faltam recursos aos estudantes não apenas para pagar a mensalidade do curso, mas para todos os gastos necessários nesse período. “o financiamento tem de prever também a permanência do aluno no sistema”, defende hipólito, que é contra o mecanismo de bolsas não restituíveis. “essa medida não resolve, pois encarece o sistema. o melhor a fazer é oferecer financiamento que o aluno deva restituir. No chile, por exemplo, mais de 90% dos alunos do ensino superior têm seus estudos financiados”, conta. 30 ensino superior
  • 6. santes e 1 milhão de concluintes. Supondo-se evasão zero, haveria crescimento de 1,8 milhão de alunos e estaríamos próximos de nove milhões de matrículas. “No entanto, o censo mostra apenas 7,3 milhões. Resultado: o sistema cresceu apenas 300 mil, pois o restante ‘ninguém sabe, ninguém viu’”, ironiza Monteiro. Onde vão parar todos esses estudantes que não se graduam? Por que desistem ou prolongam os cursos? O maior índice de evasão é nos primeiros meses. Vários especialistas afirmam que a questão financeira não é o fator preponderante nesse caso. “Nas pesquisas internas o item ‘não tenho condições financeiras’ aparece em primeiro lugar, mas quando o aluno realmente gosta do curso e quer ser um profissional da área ele consegue recursos”, conta Suli. É uma relação custo-benefício. Quando há quebra de expectativas do aluno e de sua família com o curso e com a instituição de ensino, seja por atendimento ruim ou por disciplinas que não parecem atrativas, a impressão é de se estar desperdiçando recursos. Recursos que são valiosos demais, considerando a situação econômica da maior parte das famílias brasileiras. Se a dificuldade de permanência se apresentasse somente no setor privado, seria mais fácil detectar os motivos de evasão, mas o problema também atinge a rede pública. “É preciso levar em conta a questão vocacional; os alunos se desencantam com o curso com o tempo. Antes as áreas eram mais definidas, e os nossos jovens estão cada vez mais imaturos para tomar decisões referentes à carreira”, explica Garcia. Os cursos de bacharelado interdisciplinar, ainda em desenvolvimento, têm sido uma alternativa na redução da evasão. Cursos mais curtos, como os de tecnologia, também ajudam a manter os jovens nas salas de aula. Nesse quadro, as instituições particulares precisam estar atentas ao orçamento. A evasão impacta o planejamento financeiro das escolas, que se programam para atender aos ingressantes. Também o prolongamento do curso causa prejuízos, afetando a eficácia do sistema. “Essas são questões de gestão e acompanhamento”, conclui Hipólito. Carlos Monteiro acredita que as instituições estão se profissionalizando, entendendo o aluno como cliente e dando mais atenção ao atendimento, considerando os diversos aspectos que contribuem para a evasão, e indica outro ponto a ser trabalhado. “A questão financeira é apenas uma das variáveis dessa realidade. O desencanto, a falta de expectativa e as metodologias ultrapassadas são condicionantes importantes a serem trabalhados”, recomenda. Qualidade na base Uma barreira relevante tanto para o ingresso quanto para a permanência dos estudantes na formação superior é a deficiência escolar. Muitos jovens não conseguem obter pontuação nos processos seletivos ou, quando passam, têm dificuldades para acompanhar os estudos na universidade, em razão do descompasso entre o ensino médio e o superior. “O que tenho observado nas últimas duas décadas é que os jovens que vêm das escolas públicas não se acham capazes de competir com os egressos das particulares, que estariam mais bem preparados”, conta Celso Frauches. O especialista aponta que a formação docente é uma grande dificuldade no incremento da educação básica, com evasão nos cursos de licenciatura, professores mal pagos e sem plano de carreira, que não são cobrados no compromisso com os resultados. “Falta empenho do governo na qualidade da formação docente. Também há problemas de remuneração e ambiente de trabalho”, denuncia. Frauches não parece esperançoso quanto à solução desses entraves, afirmando que a dificuldade está no fato de o ensino básico ser de responsabilidade de estados e municípios – o governo federal teria de intervir para avaliar a qualidade do trabalho que vem sendo feito. As soluções de longo prazo também são uma reivindicação de Paulo Cardim. Para ele, os governos precisam trabalhar com planejamento e gestão na educação, em horizontes de 15 a 20 anos. “Não podemos ficar sujeitos a improvisações e interesses momentâneos de um ou outro governo.” Questão de currículo: de acordo com Gilberto Garcia, do CNE, a evasão também revela a imaturidade dos jovens em pensar a carreira ensino superior 31
  • 7. CAPA CENSO EAD Educação que vai longe Considerada uma saída para expandir o acesso, EAD esbarra na burocratização e falta de financiamento mbora ainda seja responsável por apenas 15,8% do total de matrículas na graduação, a educação a distância (EAD) está alavancando o crescimento no ensino superior. As matrículas presenciais cresceram 3,1% em 2012, segundo o Censo do Inep, enquanto que na modalidade a distância o aumento foi de 12,2%. Nos ingressos, a expansão foi de 15,1% e 25,7%, respectivamente. Mesmo com taxa significativa de evasão, a EAD apresentou crescimento bastante destacado também nos concluintes, de 15,0%, contra 1,3% da presencial. O Inep avalia que a modalidade deve seguir a tendência de expansão e destaca que a oferta, assim como na educação presencial, “é acompanhada por todos os processos de regulação e supervisão inerentes ao ensino superior no Brasil.” No entanto, o crescimento da EAD esbarra justamente na forte regulação do MEC, o que ocasiona muita concentração nesse mercado, com poucas instituições oferecendo a modalidade. Os requisitos para desenvolvimento do setor dividem opiniões. Para o consultor Celso Frauches, o MEC não está aparelhado para avaliar a educação a distância E no Brasil. “Hoje há muitos cursos que não oferecem qualidade, e também ainda existe preconceito do mercado”. Já a diretora acadêmica da Faculdade Santa Marcelina (Fasm), Suli de Moura, acredita que a EAD seja uma saída para o país melhorar o índice dos jovens que frequentam o ensino universitário, mas também considera importante uma revisão na forma como a modalidade está sendo conduzida. Um dos empecilhos ao aumento do número de alunos na modalidade está na ausência de financiamento público. A coordenadora de Ensino a Distância da Organização Educacional Barão de Mauá, Márcia Aparecida Figueiredo, que também é representante da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), reafirma a importância da EAD para a inclusão de alunos. “Como podemos ampliar o número de estudantes matriculados se apenas 12,6% das instituições são públicas, e o MEC não concede o benefício do Fies para os alunos na modalidade a distância?”. No momento em que o governo liberar o financiamento público para esse modelo, espera-se um salto quantitativo enorme em MOdalidades de ensinO presenCial 2.204.456 5.923.838 ead 1.113.850 542.633 174.322 32 ensino superior MAtrÍcuLAs INGressos coNcLuINtes INFoGrAFIA LucIANo ArNoLD/stArt DIGItAL 876.091
  • 8. Os queridinhos do Brasil Além do crescimento galopante do ensino a distância, outras atividades vêm ganhando a preferência dos estudantes. É o caso dos cursos de tecnologia, que apresentaram expansão de 8,5% em relação a 2011, chegando a 13,5% das matrículas na educação superior. Nos cursos de bacharelado, o aumento foi de 4,6% e nos de licenciatura, de 0,8%. Foi a primeira vez que o número de ingressos na graduação tecnológica superou o das licenciaturas, chegando a quase 20% dos alunos que entraram no ensino superior em 2012, contra 17,9% das licenciaturas. O presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Gilberto Garcia, assinala que o crescimento dos tecnólogos se dá principalmente na área de serviços – e essa tendência deve ser mantida. Se até recentemente a figura do tecnólogo não estava consolidada e havia preconceito se o profissional não fosse bacharel, hoje as necessidades do mercado mudaram essa situação. As licenciaturas passam por uma alavancagem na educação a distância, representando 40,4% das matrículas nessa modalidade. Garcia ressalta, no entanto, que não há como aumentar o número de alunos de licenciatura sem que se resolva a situação profissional do professor no Brasil, incluindo a questão salarial. “Embora o governo federal venha fazendo certo esforço para incentivar a formação de professores, isso não compensa o atraso histórico que temos no país, de desprestígio e desvalorização dos professores, especialmente os de ensino básico.” Administração, direito e pedagogia continuam sendo os cursos preferidos dos brasileiros, representando cerca de 30% das matrículas, dos ingressos e dos concluintes. Em números arredondados, uma em cada sete mulheres que está na faculdade cursa pedagogia. A cada profissional graduado em física no Brasil em 2012, se formaram 49 administradores. “Há redução na formação de professores nas áreas mais técnicas, como matemática, física e química. Isso afeta o ensino fundamental, que precisa ser priorizado. É necessário pensar no Brasil no médio prazo, pois o resultado leva no mínimo 15 anos para ser alcançado”, declara o reitor do Centro Universitário Belas Artes, Paulo Cardim. Foi com o objetivo de melhorar essa proporção, despertando as vocações docentes e científicas dos jovens, que o governo federal lançou no final de setembro o programa Quero ser professor, quero ser cientista. A iniciativa vai oferecer bolsas a estudantes da educação básica que queiram desenvolver atividades com ênfase em matemática, física, química e biologia. Suli lembra que sempre haverá maior procura pelos cursos que estão na moda, que proporcionam um maior salário para o início de carreira, embora nem sempre as instituições estejam preparadas para oferecer essas graduações. “Por outro lado, enquanto o governo não mudar a política de salário dos professores, teremos este cenário: sobram vagas para os cursos de licenciatura e faltam professores nas escolas”, aponta Suli. Embora o Inep comemore o aumento dos ingressantes nas áreas de engenharia, produção e construção, o número ainda é insuficiente. Carlos Monteiro lembra que, até 2015, o Brasil vai precisar de 300 mil engenheiros, mas o país ainda não está conseguindo formar a quantidade de profissionais necessários para a área. De acordo com a Federação Nacional dos Engenheiros, os estudantes não estão terminando o curso e os que terminam não buscam uma especialização. “Nossa realidade é cristalina: faltam engenheiros e falta qualificação. Este é o momento para se repensar os currículos, não só das engenharias, para que se tornem uma via de mão dupla entre a academia e o mercado”, aconselha Monteiro. A verdade translúcida é completada pelo pensamento do reitor da Universidade Anhembi Morumbi, Oscar Hipólito. “Se quisermos efetivamente mudar algo em nosso país, precisamos de mais profissionais com nível superior”, conclui. (Svendla Chaves) divulgação matrículas. De acordo com o diretor executivo da Ideal Invest, Carlos Furlan, no caso do crédito universitário PraValer a educação a distância é encarada da mesma forma que o estudo presencial. Nesse sentido ele aponta uma demanda crescente na modalidade. Revisão da EAD: para Suli de Moura, da Fasm, o investimento no modelo de ensino a distância pode ser uma saída para o gargalo da inclusão ensino superior 33