O documento avalia novos currículos do programa DARE para o 4o ano do ensino fundamental no Brasil. O currículo reduz o número de lições, enfatiza informações sobre drogas e estatísticas, e foca no processo decisório ao invés de desenvolvimento afetivo. Porém, as habilidades dos alunos brasileiros de 4o ano são limitadas, tornando necessárias adaptações ao currículo para a realidade do país.
1. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
COORDENADORIA ESTADUAL DO PROERD
CENTRO DE CAPACITAÇÃO
AVALIAÇÃO DOS NOVOS CURRÍCULOS DARE
Por: Tania SantosLoos
CAP PMERJ
Rio de Janeiro/RJ
2005
2. 2
INTRODUÇÃO
A presente avaliação decorre da apresentação dos novos currículos DARE, por uma Equipe
Americana, tendo sido o material didático, providenciado pela Câmara Técnica de
Programas de Prevenção – CNCG, cujo Secretário Executivo era à época o Sr. CEL PMSC
RR Cláudio José de Barros, nos aspectos referentes à tradução e reprodução. O manual de
Facilitação, traduzido por esta Coordenadora, também reproduzido pela Câmara Técnica
sofreu poucas alterações posteriormente.
Inicialmente, conforme projeto piloto desenvolvido por este Centro de Capacitação em
parceria com a EM CEL PM Flávio Martins Albuquerque (2004), o material para 4ª série e
seu conteúdo curricular sofreram investigação preliminar.
A operacionalização da avaliação técnica-pedagógica deu-se a partir da aplicação do
Programa para alunos na faixa etária de 09 a 11 anos. Importante ressaltar que a aplicação,
avaliação, produção de material de apoio ao Instrutor e Parecer Técnico da Equipe é objeto
de documentação específica.
Pretende-se, aqui, formatar uma Fundamentação Teórica que subsidie e complemente os
Pareceres emitidos pelos Instrutores e Professora responsável pela turma. Os parâmetros
estabelecidos nesta proposta visaram aos seguintes aspectos: língua portuguesa, dinâmicas,
interatividade, metodologia, layout de impressão, contextualização no cenário brasileiro,
adaptação ao público-alvo a que se destina, especialmente nos critérios de maturidade
intelectual e afetividade, consonância com a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Nacional,
Parâmetros Curriculares Nacionais e Política Nacional Sobre Drogas.
No segundo momento, o currículo foi avaliado a partir do treinamento de Mentores,
ministrado por uma equipe do DARE Internacional, em Santa Catarina.
Recentemente, foi feita a análise do currículo e material distribuído em treinamento de
capacitação na PMMG; esclarecendo que consta que o referido material didático foi
revisado e adaptado pelo Centro de Treinamento de Santa Catarina, tendo sofrido revisão
3. 3
científica realizada pelo Conselho Estadual de Entorpecentes – CONEN/SC e, ainda,
revisão ortográfica realizada pela Sra. Lúcia Locatelli Flores, em 2004.
Quanto ao material didático referente ao currículo de 6a série e currículo para pais, a
avaliação é fruto de estudos desenvolvidos por esta Coordenadora Estadual e uma
avaliação preliminar, através da aplicação do Curso para Pais direcionado aos Instrutores
PROERD/PMERJ, acompanhado por técnicos da Secretaria Estadual de Educação e da
Diretoria Geral de Ensino, merecendo, também, algumas considerações.
Importante ressaltar que, de plano, questiona-se a nova metodologia de treinamento de
instrutores, porquanto a previsão de 80 horas/aula mostra-se insuficiente para o preparo do
Instrutor em níveis de qualidade desejados, constatando-se no treinamento de mentores a
dificuldade de se apresentar três modelos num tempo que impõe um ritmo muito acelerado
para a carga de informações que se pretende repassar.
O relatório que ora se apresenta não tem como pretensão negar a importância do DARE na
implantação de um Programa de Prevenção às Drogas no Brasil, entretanto, há que se ter
em mente a necessidade de adequação de currículos à realidade do nosso país, sobretudo,
nos aspectos que seguem relacionados.
4. 4
CONSIDERAÇÕES NOVO CURRÍCULO 4ª SÉRIE
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
• Redução do número de lições
8 Lições
01 Revisão
01 Formatura
Totalizando 10 semanas
Conseqüências
Diminui o tempo de permanência do Instrutor na Escola.
Diminui, via de regra, a sensação de segurança oferecida pelo PROERD no semestre
letivo.
• Todas as atividades estão cronometradas, com previsão de tempo máximo para o
desenvolvimento das tarefas. Isto nem sempre será possível, em razão da dinâmica do
PROERD na realidade escolar.
• Maior enfoque nas informações sobre drogas.
Conseqüência: Requer maior preparo do Instrutor no campo do conhecimento científico.
• Maior ênfase na discussão de dados estatísticos.
Conseqüências:
Requer a produção de conhecimentos específicos na área de estatísticas.
Considere-se a carência de dados confiáveis; no Brasil há pouca referência neste
campo.
Sejam consideradas as dificuldades dos alunos de 4a série no desenvolvimento de
competências nessa área do ensino. (vide pesquisa do MEC)
• Enfoca os passos do Processo Decisório, através da massificação de um Modelo.
Conseqüências:
Na massificação de um Modelo, estaremos induzindo o aluno a reproduzir passos
programados para a Resolução de Conflitos e Tomada de Decisões e não a trabalhar
sua autonomia para decisão.
Alunos de 4a série apresentam alto índice de inabilidade para analisar situações,
precisam ser estimulados através de atividades lúdicas.
• Mudança do enfoque afetivo para o comportamentalista
Conseqüências
Mudando o enfoque deixamos de atuar com Base no Modelo da Educação Afetiva, que
prevê maior incidência de atividades baseadas em ações inespecíficas, ou seja, as ações
fundamentadas na discussão de assuntos relacionados às conseqüências, melhoria da
qualidade de vida, exercícios de assertividade, fortalecimento da auto-estima.
Considerando-se que novo currículo não prevê o tratamento da questão da auto-estima
5. 5
como um das razões pelas quais jovens estudantes envolvem-se com drogas, há que se
pensar na diferença cultural existente entre os países adotantes, posto que, no Brasil,
talvez este seja um dos principais fatores de risco. O sentimento de menos-valia que se
percebe nas nossas crianças, a carência de objetivos de vida e a falta de perspectivas
são pontos muito bem elaborados no currículo atualmente aplicado.
• A mudança do enfoque, voltando-se, exclusivamente, para um Modelo de Tomada
de Decisões, requer que se apresentem algumas considerações:
O Instrutor deixa de ser um mediador para atuar como facilitador do Processo. Isto tem
relevância para um público que já tenha amadurecimento intelectual, suficiente, para
integrar-se ao processo que se caracteriza por discussões. Lembrando que as crianças
têm, no currículo atual, o Instrutor como referencial para a construção dos novos
conceitos que passarão a integrar em suas vidas, a didática utilizada no currículo atual
envolve a criança através de um ambiente de ensino lúdico, onde tem a oportunidade
de experimentar situações para desenvolver habilidades de resistência e, sobretudo, tem
no Policial Instrutor a figura de um Educador atuante, dinâmico, onde o colorido
emocional que se empresta às aulas do PROERD fazem o diferencial no processo
ensino-aprendizado. No novo currículo o Instrutor torna-se menos envolvente,
desenvolve um trabalho mais voltado para a condução de informações técnicas e,
ainda, em que pese a metodologia aplicada permitir maior participação dos alunos em
discussões, é um equívoco pensar que no atual currículo o Instrutor não pode promover
o desenvolvimento de tais técnicas. A autonomia que se espera de nossas crianças vai
de encontro a uma pesquisa desenvolvida pelo Ministério da Educação que comprova
que a análise dos dados dos estudantes de 4a série do ensino fundamental em Língua
Portuguesa classificou 22,2% dos alunos com desempenho muito crítico e, em
Matemática, 12,5%. A categoria de alunos com desempenho muito crítico reúne os
estudantes que estão na 4a série do ensino fundamental, porém não desenvolveram
competências e habilidades necessárias para obter resultados minimamente razoáveis
no aprendizado. Esclarece, ainda, a fonte, que em outros termos, estes alunos estão na
ponta negativa da escala de proficiência levada a cabo pelo Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb). Em Língua Portuguesa, isso significa dizer que tais estudantes
não desenvolveram habilidades de leitura, não foram alfabetizados adequadamente. Em
6. 6
matemática significa que eles não conseguem transpor para uma linguagem comandos
operacionais elementares, não identificam uma operação de soma ou subtração
envolvida no problema e não sabem o significado geométrico de figuras simples. Para
melhor visualização dos dados obtidos pela pesquisa, conveniente observar as tabelas
apresentadas.
Tabela 1 – Percentual de alunos da 4a série do ensino fundamental por estágio de
construção de competências em Língua Portuguesa – Brasil/2001
ESTÁGIO POPULAÇÃO %
Muito crítico 819.205 22,2
Crítico 1.356.237 36,8
Intermediário 1.334.838 36,2
Adequado 163.188 4,4
Avançado 15.768 0,4
Total 3.689.237 100,0
Fonte: MEC/Inep/Saeb
Tabela 2 – Percentual de alunos da 4a série do ensino fundamental por estágio de
construção de competências em Matemática – Brasil/2001
ESTÁGIO POPULAÇÃO %
Muito crítico 462.428 12,5
Crítico 1.467.777 39,8
Intermediário 1.508.517 40,9
Adequado 249.969 6,8
Avançado 546 0,0
Total 3.689.237 100,0
Fonte: MEC/Inep/Saeb
Observe-se, ainda, os quadros a seguir exibidos, relacionados aos estágios de
desenvolvimento.
7. 7
Quadro 1 – Construção de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura de
textos de gêneros variados em cada um dos estágios para a 4a série do ensino
fundamental.
Muito crítico Não desenvolvem habilidades de leitura. Não foram alfabetizados
adequadamente. Não conseguem responder aos itens questionados. Os alunos
neste estágio não alcançaram o nível 1 da escala do Saeb.
Crítico Não são leitores competentes, lêem de forma truncada, apenas frases simples.
Os alunos neste estágio estão localizados nos níveis 1 e 2 da escala do Saeb.
Intermediário Começando a desenvolver as habilidades de leitura, mas ainda, aquém do nível
exigido para a 4a série. Os alunos neste estágio estão localizados nos níveis 3 e
4 da escala do Saeb.
Adequado São leitores com nível de compreensão de textos adequados à 4a série. Os
alunos neste estágio estão localizados no nível 5 da escala de Saeb.
Avançado São leitores com habilidades consolidadas, algumas com nível além do
esperado para a 4a série. Os alunos neste estágio estão localizados no nível 6 da
escala de Saeb.
Fonte: MEC/Inep/Saeb
Quadro 2 – Construção de competências e desenvolvimento de habilidades na resolução de
problemas em cada um dos estágios para a 4a série do ensino fundamental.
Muito crítico Não conseguem transpor para uma linguagem matemática específica, comandos
operacionais elementares compatíveis com a 4a série (não identificam uma
operação de soma ou subtração envolvida no problema ou não sabem o
significado geométrico de figuras simples). Os alunos neste estágio não
alcançaram o nível 1 da escala do Saeb.
Crítico Desenvolvem algumas habilidades elementares de interpretação de problema
aquém das exigidas para a 4a série (identificam uma operação envolvida no
problema e nomeiam figuras geométricas planas mais conhecidas). Os alunos
neste estágio estão localizados nos níveis 1 e 2 da escala do Saeb.
Intermediário Desenvolvem algumas habilidades de interpretação de problemas, porém
insuficiente ao esperado para os alunos de 4a série. Os alunos neste estágio estão
localizados nos níveis 3 e 4 da escala do Saeb.
Adequado Interpretam e sabem resolver problemas de forma competente. Apresentam
habilidades compatíveis com a 4a série (reconhecem e resolvem operações com
números racionais de soma, subtração, multiplicação e divisão, bem como
elementos e características próprias de figuras geométricas planas). Os alunos
neste estágio estão localizados no nível 5 ou 6 da escala de Saeb.
Avançado São alunos maduros. Apresentam habilidades de interpretação de problemas
num nível superior ao exigido para a 4a série (reconhecem, resolvem e sabem
transpor para situações novas, todas as operações com números racionais
envolvidas num problema, bem como elementos e características das figuras
geométricas planas). Os alunos neste estágio estão localizados no nível 7 da
escala de Saeb.
Fonte: MEC/Inep/Saeb
Vale dizer que, recentemente, um teste realizado pela Rede Globo – Programa Fantástico
revelou a mesma carência de resultados no Ensino Fundamental, mormente no que diz
respeito ao desenvolvimento cognitivo e dificuldades no aprendizado.
8. 8
Destarte o novo currículo merecer algumas considerações críticas, conveniente ressaltar
que deve ser reforçado o entendimento que sua destinação a um público alvo com maior
capacidade de analisar, ou seja, um público com características específicas, próprias para a
preparação dos passos para a tomada de decisão que vise a escolha da melhor opção, deve
ser pleiteada. Entende-se que jovens na 6ª série, apesar da existência de um outro currículo
e, ainda, tecermos críticas ao uso de uma “cartilha” destinada a essa faixa etária, estariam
bem mais preparados para serem atores do novo cenário. Nessa faixa etária, o aluno reúne
melhores condições para participar das discussões propostas pelo novo currículo e, sem
dúvida, a metodologia que privilegia o aluno falar de suas experiências, expectativas e
sentir-se responsável nos resultados de uma discussão, onde o Instrutor esteja preparado
para ouvir e conduzir apenas para correção de posturas ou idéias errôneas, aplica-se de
forma muito mais eficiente e eficaz. Entretanto, importante ressaltar que para a aplicação
do novo modelo, mesmo um Plano Piloto, há que se pensar na sua adaptação e adequação à
realidade brasileira, respeitados os pressupostos da Política Nacional Sobre Drogas, a
língua portuguesa, a apresentação do material (layout de impressão), a parte específica
sobre drogas (produção do conhecimento científico que subsidie o Instrutor de forma
adequada), isenção de estereótipos e preconceitos. Considere-se, ainda, a grande
dificuldade para que se promova a mudança do perfil do instrutor PROERD para
facilitador, considerando-se a dificuldade observada até mesmo na formação do educador
brasileiro e as condições de ensino, entre outras variáveis.
9. 9
REVISÃO – MATERIAL DESTINADO À 4a SÉRIE
LIVRO DO ESTUDANTE
• As observações relativas aos erros de português encontram-se assinaladas no
próprio material.
• As ilustrações do Livro do Estudante, sempre sombreadas/escurecidas, não
facilitam a boa comunicação visual com os estudantes; outro fato observado, na
página 31, é que a ilustração não condiz com a história apresentada, na imagem é
possível constatar duas garrafas em baixo da cama.
• O título da Lição 2 “O cigarro e você” não se mostra adequado, posto que de certa
forma pode estar induzindo o aluno ao raciocínio da ligação entre ele e o cigarro;
ainda na lição 2, a abordagem trata do uso freqüente do cigarro por jovens
estudantes, referindo na página 12 “o percentual de jovens brasileiros que não
fumam freqüentemente é de...”, ora esse tipo de abordagem autoriza o pensamento
que pode ser definido outro percentual de jovens que fumam, embora não
freqüentemente, sendo certo que essa não deve ser a abordagem de um programa de
prevenção, devendo ser ressaltado o percentual de jovens que não fumam.
• Na mesma lição encontra-se outro equívoco de ordem técnica, pois que não
distingue, corretamente, os efeitos na saúde dos fatos relacionados ao fumo.
Encontram-se assinalados os erros no material. Por exemplo, fatos = coisa ou ação
feita; acontecimento, logo, quando se diz que o cigarro causa dificuldade
respiratória e tontura, estamos falando de possíveis efeitos na saúde.
• Na página 15, os rótulos de advertência sobre cigarros parecem referir-se aos
rótulos criados pela campanha do Ministério da Saúde, destinados ao público já
usuário do cigarro; alguns se apresentam com uma linguagem que pode vir a ser
contestada por pais/responsáveis e, ainda, tratam a questão de uma forma muito
sensacionalista, por exemplo, na advertência que trata “essa necrose foi causada
pelo consumo de tabaco”, o texto pressupõe a visualização da imagem e isso não
acontece.
• Na lição 3, igualmente ao que ocorre na lição anterior, não se distingue
corretamente os efeitos na saúde, dos fatos relacionados ao uso da maconha.(itens
assinalados no material).
• Na lição 4, tal como na 2, o título da lição implica na possibilidade do aluno
estabelecer uma ligação entre ele e o álcool (O ÁLCOOL E VOCÊ - pode ser
considerada uma mensagem subliminar); também trata a questão do uso freqüente;
na história da situação 3 (página 24) o livro oferece uma sugestão negativa quando
refere que duas meninas utilizam o recurso de colocar bebida alcoólica em
garrafinhas de refrigerante.
• Na lição 5, página 26, observa-se que a construção da primeira assertiva sobre os
fatos relacionados ao uso de inalantes “os inalantes podem levá-lo à morte na
primeira vez que você usar” permite o entendimento de que temos certeza que a
criança usará inalantes.
• Na lição 6, página 28, a história não é clara quanto às personagens que não fumam;
segundo a história “Carlos é o único do grupo que não fuma...”, entretanto,
Rodrigo diz a Carlos que o uso de cigarro poderá prejudicar o desempenho de
ambos no futebol, deixando claro que este também não fuma.
10. 1
• Na lição 7, página 30, pode haver contestação da idéia repassada no item 5 “usando
o bom humor, em face de referir: “Quer um baseado? – Não. Preciso de todos os
meus neurônios”, ora sabemos que algumas correntes, principalmente de
intelectuais, podem alegar preconceito, pois sabemos que cada droga responde
diferentemente em cada usuário, produzindo assim efeitos também diversos em
cada usuário.
• Na lição 8, página 32, observa-se a seguinte informação: “Que conhecimentos e
aptidões você aprendeu no PROERD para lhe ajudar a fazer escolhas
saudáveis.” Em primeiro plano observa-se um erro de pontuação, posto que deveria
ser um questionamento; outro aspecto observado diz respeito ao uso da palavra
aptidão que na sua essência significa a capacidade natural para fazer alguma coisa,
logo o aluno não aprende aptidões através do PROERD, podendo sim desenvolver
habilidades.
MANUAL DO INSTRUTOR – CURRÍCULO PARA 4a SÉRIE
• As observações relativas aos erros de português encontram-se assinaladas no
próprio material.
• Nos princípios-chave do novo currículo está previsto que estratégias de prevenção
ao uso de drogas bem sucedidas necessitam de atividades que os alunos vejam
como realistas e envolventes e, ainda, tempo suficiente para discussões e
aprofundamento na sala de aula que ampliem sua prática cotidiana. No entanto, o
que se constata são atividades fora da realidade da maioria das crianças brasileiras,
pouco atraentes posto que seu foco está em atividades estatísticas e em passos pré-
definidos para a tomada de decisão e um papel menos envolvente na relação
instrutor-aluno; com relação ao tempo para as discussões pode-se mesmo afirmar
que em uma hora/aula semanal o aprofundamento pode ser questionado,
principalmente quando carece o Brasil de dados estatísticos. Com relação ao item
registrado sob a égide de perspectivas e modos de aprendizado dos alunos do
ensino fundamental, no que tange aos alunos terem históricos pessoais, sociais,
culturais distintos, aprenderem de modos diversos, referindo, aí, que por isso as
atividades educacionais precisam fornecer pontos de diversidade e múltiplas
oportunidades de aprendizado, não se aplica a esse modelo tendo em vista o mesmo
atuar basicamente num modelo pré-estabelecido, massificando o que alguns
Instrutores já denominaram de “D3A”.
• O próprio manual contradiz a forma de atuação do instrutor ao referir que este é um
mediador (aprendizado ativo – página 7), divergindo do treinamento de capacitação
cuja proposta é de um Instrutor com características definidas como Facilitador. De
acordo com as bases teóricas de cada corrente há que se observar as características
do Educador e definir-se o que se pretende com os novos currículos, pois que no
currículo atualmente em uso na PMERJ o Instrutor é um mediador do processo,
papel esse valorizado pelas modernas tendências educacionais, onde se pretende
resgatar a importância do educador em sala de aula promovendo o aprendizado a
partir dos pontos de ancoragem do aluno, sendo um erro dizer que o mesmo fica
“engessado” aos procedimentos descritos em manual.
11. 1
Humanista Cognistivista Cognitivista
Rogers Piaget Vygotsky
Facilita a Orienta a Mediador e que
aprendizagem e aprendizagem. oferece
EDUCADOR atua com o aluno. Conhece o nível oportunidades para
Oportuniza o cognitivo. “Criador que seu aluno
crescimento. das construa novos
Autenticidade e situações/problema”. conceitos a partir do
confiança contexto social.
• Na página 15 do manual está previsto que o Instrutor converse com o professor
sobre a criação das equipes PROERD. Refere o material: “Obtenha o conselho e a
assistência do professor em decisões sobre quem deve trabalhar junto nas
equipes PROERD. Isto precisa ser bem feito antes das aulas”. Tal proposição
contraria as técnicas repassadas pelo manual do Facilitador, cuja proposta prevê
diferentes técnicas de agrupar as crianças, justamente para evitar problemas
decorrentes da formação dos chamados “grupinhos de amigos”, cuja tendência é
agrupar crianças com afinidades, possibilitando assim a exclusão de um ou mais
alunos.
• Os exercícios que solicitam que o aluno preencha as lacunas (páginas 13, 14 e 18)
promovem apenas a mera cópia do que está inserido nos textos para o
preenchimento das lacunas; não há que se falar em reflexão do aluno sobre o
problema.
• Na página 19 há redundância quando refere que nas próximas aulas os alunos
aprenderão sobre as conseqüências do cigarro e tabaco. (grifo no material).
• Na página 20, quando refere, na parte de preparação, que o instrutor deve
selecionar propagandas para a atividade e que tenha cuidado quanto ao que está por
trás das propagandas, seria conveniente especificar que tipo de propaganda deve ser
selecionado (por exemplo: selecione cartazes) e especificar os cuidados a serem
observados (por exemplo: cuide para que os cartazes selecionados não apresentem
excesso na exposição de pessoas do sexo feminino).
• Na Lição 3, que tem por título “Cortina de Fumaça”, qual a justificativa para se
apresentar cartazes publicitários de bebida alcoólica? Percebe-se, claramente, aqui,
que a fusão de 2 ou mais lições do currículo atualmente em uso, gera problemas
dessa ordem no novo currículo.
• Mais uma vez o manual contradiz as técnicas de facilitação quando na página 26
prevê que o instrutor deve selecionar ou pedir ao professor que selecione um aluno
para ler em voz alta uma história. Ora sabemos que tal indicação ou seleção pode
ser fator gerador de constrangimento a um aluno que tenha dificuldades para ler,
sendo conveniente manter o critério do voluntariado.
• Um equívoco de caráter técnico-científico é observado na página 26, pois que uso
freqüente, segundo a OMS, é quando uma pessoa utilizou drogas seis ou mais vezes
nos últimos 30 dias. O novo manual considera uso freqüente o consumo de bebida
alcoólica quatro dias por semana ou mais.
• Na página 34, observa-se a construção de frase com características de ambigüidade.
Por exemplo: (atividade 3) “Oriente os alunos para que peguem o Livro do
Estudante (...) Espere 4 - 5 minutos para que os alunos escrevam suas idéias.”; e,
“Facilite aos alunos uma discussão sobre as suas idéias e enumere no quadro as
qualidades de um bom amigo sugeridas”. Vale dizer que ambigüidade ou
12. 1
anfibologia – é a frase construída com mais de um sentido e aqui é possível
questionar: que os alunos escrevam as idéias de quem? Do instrutor ou a deles?
• Ainda na página 34, observa-se o seguinte texto “Oriente os alunos para que
desenhem uma estrela no espaço onde têm amigos. (...) para se divertirem juntos,
para fazerem coisas juntos. (...)” A expressão grifada não é clara podendo gerar
interpretação equivocada por parte dos alunos, mostrando-se inadequada.
• Na página 35, outra expressão inadequada na construção de um dos tópicos. “Use a
transparência sobre tipos de pressão do grupo para introduzir brevemente os
alunos nestas informações.” A construção mais adequada seria “Use a
transparência sobre tipos de pressão do grupo para introduzir brevemente estas
informações para os alunos”.
• Na página 48, novamente se vê contrariar as técnicas de facilitação porquanto o
manual prevê em cada equipe que o Instrutor APONTE um aluno.
Preferencialmente, cada equipe deve indicar o aluno.
• Nas folhas destinadas à consulta para o instrutor PROERD as poucas informações
não são suficientes para o preparo técnico do mesmo quando pretende uma nova
formatação baseada no conhecimento científico sobre drogas, além disso algumas
informações não podem ser consideradas confiáveis. Por exemplo: quando refere
que o uso freqüente é o consumo seis ou mais dias por mês, quando na verdade
deve ser considerado seis ou mais vezes nos últimos 30 dias, não implicando
necessariamente seis dias.
• Na página 58, ao designar o nome do produto (maconha) comete outra falha ao
citar “(...) Delta-9, tetrahidrocanabinol”, ao separar com vírgula faz parecer que são
nomes distintos, quando na verdade o nome do princípio ativo da droga é
Delta-9 tetrahidrocanabinol (THC).
• Em fatos sobre a maconha verifica-se que o texto está em desacordo com a nova
legislação. Segundo o manual, a posse de até mesmo pequenas quantidades da
droga pode levar a pessoa à cadeia. Ora sabemos que a nova legislação não
penaliza o usuário dessa forma, ao contrário a moderna tendência da Justiça
Terapêutica é oferecer tratamento ao usuário.
• A resposta ao questionamento: “O que posso fazer se alguém que conheço estiver
inalando?” mostra-se inadequada em razão de possibilitar o entendimento
equivocado, podendo se tornar um risco em potencial ao sugerir que a criança use o
190 para informar o local onde viu pessoas usando a droga, principalmente em
comunidades de risco.
Vale dizer que a análise conduz à constatação de incorporação de duas ou mais lições
numa só e, ainda, o agrupamento de conceitos e de procedimentos de forma bem
simplificada, sendo certo que no currículo atual isso ocorre de forma gradual e em espiral
(sempre do mais simples ao mais complexo). O novo manual não prevê uma solenidade de
encerramento nos moldes atuais, ressaltando-se, aqui, a importância desse momento para a
criança e que não é previsto pelos novos currículos.
13. 1
a
CURRÍCULO PARA 6 SÉRIE
LIVRO DO ESTUDANTE
Importante referir, de pronto, que a implantação do novo currículo, com a adoção de um
Livro do Estudante para adolescentes, implica em aumento de despesas para as
Corporações e a forte rejeição do adolescente para o uso de uma “cartilha”, ainda, que o
modelo de continuidade do programa aplicado na 4a série pode não ser eficaz visto que as
crianças atendidas no primeiro momento são distribuídas pelas diversas Unidades de
Ensino da Rede Pública e que sendo assim alguns alunos que não tiveram a oportunidade
de vivenciarem o primeiro momento também estarão inclusos nas turmas e outros não
receberão o acompanhamento pretendido.
• As observações relativas aos erros de português encontram-se assinaladas no
próprio material.
• Na página 5, o texto digitado deve ter seu layout justificado na configuração.
• Nas páginas 7 e 9, há que se ter uma impressão colorida que defina corretamente as
áreas do cérebro.
• O conceito de comunicação não está correto. Meios de comunicação é uma coisa e
meios de comunicação de massa outra. A proposta da lição é abordar os meios de
comunicação de massa.
• O exercício da página 15 trabalha com a concepção de uso freqüente
equivocadamente, pois que pergunta o percentual de jovens que não usam as drogas
freqüentemente, fazendo pressupor a possibilidade de um percentual que usa de
maneira esporádica. O ideal é que se trabalhe o percentual de jovens que não usam
drogas.
• Aqui, também, observa-se o erro técnico quando afirma que o uso freqüente ocorre
quando o jovem consome bebida alcoólica quatro dias por semana ou mais, quando
é correto afirmar que, segundo a OMS, uso freqüente é o consumo seis ou mais
vezes no mês que antecedeu a pesquisa. Com o fulcro de melhor elucidar a crítica,
conveniente registrar que, segundo a OMS, as definições, para fins não médicos,
sobre o uso de drogas classificam-se da seguinte maneira:
a) uso na vida: quando a pessoa fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez na
vida;
b) uso no ano: quando a pessoa utilizou drogas pelo menos uma vez nos doze meses
que antecederam à pesquisa/consulta.
c) uso no mês ou recente: quando a pessoa utilizou drogas pelo menos uma vez nos 30
dias que antecederam à pesquisa/consulta.
d) uso freqüente: quando a pessoa utilizou drogas seis ou mais vezes nos 30 dias que
antecederam à pesquisa/consulta.
(Fonte: Normas e Procedimentos na Abordagem do Abuso de Drogas – Ministério
da Saúde/Brasil)
• Nesse currículo verifica-se, também, a criação de “fórmulas”. Aqui, é referido “3
Rs” como uma forma do aluno memorizar os três estilos de comportamento
desejado, ou seja, alternativas que sejam responsáveis, respeitosas e realistas
reforçando um conteúdo comportamentalista.
• Na página 28, algumas falas das personagens apresentam indícios de uma
linguagem preconceituosa, isso corresponde a uma linguagem politicamente
incorreta. Exemplos: “O que você quer com esse vício fedorento?” “isto é
estupidez!” “fumar é nojento”.
14. 1
• Na cena 1, página 30, a história se mostra fora da realidade da maioria dos
adolescentes atendida pelo Programa quando refere a possibilidade de assistir TV a
cabo e, ainda, quando a personagem menciona que não vai beber até que tenha
idade para isso, sugerindo a hipótese de que a adolescente pretende consumir
bebida alcoólica após completar 18 anos.
• Na faixa etária alcançada pelo novo currículo, dificilmente os jovens participarão
das dramatizações em sala de aula, cumprirão tarefas de casa e não são simpáticos à
adoção de um Livro do Estudante (cartilha).
• Na construção usar uma frase com “EU”, não fica clara a questão que se pretende
familiarizar o aluno, entende-se que a proposta é ensinar o jovem a dar respostas
assertivas, através da prática de exercícios de assertividade, utilizando padrões
neurolinguísticos.
• Na página 39, a expressão “Caro(a) eu mesmo(a)” não soa bem, sugerindo-se a
utilização de uma nova construção permitindo ao estudante colocar seu próprio
nome no espaço deixado com essa finalidade.
MANUAL DO INSTRUTOR – 6a SÉRIE
• As observações relativas aos erros de português encontram-se assinaladas no
próprio material.
• Quanto à apresentação, em ambos os manuais, consta que o programa consiste em
uma ação conjunta entre o Policial Militar devidamente capacitado, professores,
especialistas, estudantes, pais e comunidades, assim nos parece deixar de existir a
parceria entre as Polícias Militares, Escolas e Famílias tão consolidada no atual
currículo. Dessa forma, equivale a uma parceria pontual entre o policial militar
instrutor e os demais envolvidos no processo educacional. O que se pretende na
verdade é que essa ação conjunta seja institucional.
• Novamente constata-se a contradição acerca do papel do Instrutor no processo. É
preciso estabelecer se o foco está no mediador ou no facilitador. (página 12)
• Na página 20, observa-se que na atividade 2 “organizando-se” o manual refere que
as equipes devem ser formadas e que assim trabalharão até o final do curso. Essa
forma de agrupar reduz a possibilidade do instrutor promover a interação entre
alunos, contrariando as técnicas repassadas no curso de facilitação.
• Para a atividade 3 (página 20) o tempo previsto para o desenvolvimento da
atividade é insuficiente (10 minutos). No primeiro aspecto – Conhecendo o Policial
PROERD, considerando-se que cada turma, normalmente, é formada por cerca de
40 alunos e que cada equipe deve ser composta por quatro alunos, teremos então 10
equipes totalizando 30 perguntas que deverão ser respondidas pelo policial, a
previsão de um minuto para cada pergunta requer, no mínimo, 30 minutos para o
desenvolvimento da tarefa. Na seqüência, o segundo item a ser abordado –
Conhecendo-se uns aos outros, exige uma dinâmica mobilizadora prevendo um
tempo de 6 minutos para a conclusão da atividade. Ora, se o tempo total previsto
para a atividade é de 10 minutos como realizar completamente os dois momentos
da atividade?
• Na página 23 o manual menciona uma consulta na internet, ao site da SENASP,
certamente, essa ainda é uma forma inviável para muitos estudantes brasileiros.
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• Na página 24 mostra-se necessário configurar a digitação nos moldes de parágrafo
justificado.
• Na página 27 é incorreta a expressão “risco de vida”, devendo-se usar “risco de
morte” ou “risco para a vida”
• As transparências que tratam os aspectos relacionados ao cérebro devem ser
coloridas para que os estudantes possam visualizar corretamente as alterações
provocadas pelo consumo de drogas.
• As ilustrações de imagens do cérebro irão requerer muito preparo do instrutor para
que as explicações sejam repassadas aos estudantes de forma clara e objetiva, vale
lembrar que nossos policiais militares não têm formação na área de saúde, podendo
se tornar difícil explicar o conteúdo definido.
• A resposta dada ao item 8 das questões propostas na página 32 é absurda. A
resposta mais adequada seria “FALSA, porque o consumo de cigarros na
juventude provoca danos aos pulmões”. No item 10, a resposta utiliza o termo
“vício” já abolido dos dicionários de qualquer profissional que se proponha a
realizar um trabalho de prevenção.
• Na página 34, encontramos grafada a palavra “merchandeising”, sendo correta
“merchandising”.
• Na lição 3, mais uma vez, há confusão na conceituação de meios de comunicação,
meios de comunicação de massa, mídia. Vale referir que mídia, de acordo com
dicionário de termos técnicos, é igual ao conjunto de todos os meios de
comunicação de massa que tem o poder de influenciar a opinião pública. Meios de
comunicação inclui telefone, carta, telegrama, logo, sem alcance de massas.
• Na página 37, técnicas de comerciais, “apelo ao esnobe”, poderia ser usado termo
“esnobismo”.
• Conveniente que seja esclarecida a fonte que subsidiou a sugestão contida na
página 38.
• A definição de dados estatísticos, encontrada na página 42, refere que: “dados
estatísticos é a informação factual, geralmente na forma de números”. Observa-se
que a linguagem utilizada é muito técnica e pode tornar-se de difícil compreensão
para jovens de 6a série. Factual = baseado em fatos, real. Assim, pode-se definir
“dados estatísticos” como “dados numéricos, valores obtidos cientificamente e
expressos através de gráficos e tabelas”, facilitando dessa maneira a compreensão
dos alunos.
• O termo “parceiro ativo”, registrado na página 46, pode gerar constrangimento ao
professor.
• Na página 47 ao sugerir o questionamento “como os efeitos destas substâncias no
cérebro podem incapacitar (atrapalhar) nossa maneira de pensar e de agir?” os
termos incapacitar e atrapalhar não estão sendo usados corretamente. Incapacitar =
tornar incapaz, inabilitar o cérebro para alguma coisa. Atrapalhar significa
confundir. Logo os dois termos não podem ser usados da maneira como se
apresenta, dando o entendimento que são palavras sinônimas.
• Na atividade 4, prevista na página 52, há erro na construção da frase “Peça que
usem o modelo para orientar a sua resposta.” resposta de quem? Do instrutor ou do
aluno? Percebe-se, assim, a ambigüidade de sentido na frase. Ainda na atividade 4,
“Diga: Você está indo da escola para casa. Ao virar a esquina da garagem, você vê
seu irmão mais novo (...)”, parece sem nexo.
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• Nas páginas 63 a 74, é necessário se avaliar qual o objetivo real da lição, isto
porque reação é diferente de atitude. O que se pretende, certamente, é se conhecer
qual seria a atitude do estudante frente à situação-problema apresentada.
• Na página 83, a palavra “anti-doping” está incorreta. Correto é “antidoping”
• Ao sugerir a assertiva “observar a idade legal para beber e fumar”, inserida como
uma Responsabilidade Legal, parece ser incoerente com uma proposta de programa
educacional, isto porque a pretensão de um programa preventivo deve ser sempre
desestimular a experiência com drogas e não adiar o uso de drogas.
• As situações que se apresentam na atividade do Tribunal, bem como os pontos de
defesa e acusação, são cercadas de idéias preconceituosas, avaliações de defesa e de
acusação sem qualquer nexo e utilização de pontos de extrema incoerência, por
exemplo, no caso número 3, um dos pontos da acusação menciona que ter um
emprego é um privilégio, não um direito. Quiçá esse tipo de discurso possa gerar
uma polêmica de fundo político.
• Importante mencionar que, nos dois novos currículos, os nomes próprios das
personagens deverão ser adaptados ao nosso meio, evitando-se nomes estrangeiros.
MANUAL DO FACILITADOR
Conveniente que seja registrado que as páginas iniciais do Manual do Facilitador (páginas
5, 7 e 8), foram inseridas pelo Centro de Treinamento da PMSC e não fazia parte do
material original traduzido por esta Coordenadora. Verifica-se que na página cujo título é
“O NOVO PAPEL DO INSTRUTOR” suas primeiras linhas já aponta para uma confusão
na definição do novo papel do instrutor, ora fala em facilitador, ora em mediador. Valendo
lembrar que são papéis distintos e que a corrente que vem sendo defendida pelas
organizações responsáveis pela adoção de políticas de ensino no Brasil direcionam para o
resgate do papel do educador como um mediador.
Foi modificado todo layout produzido por esta coordenadora, tendo sido acrescentadas,
também, as páginas 22 e 23, e, ainda, o item 5 inserido nas páginas 28 e 29, que não
constavam do material original.
Apesar de ter sido referida uma revisão ortográfica, o manual da PMMG apresenta erros,
por exemplo, na página 27 está grafado “expontânea”, devendo ser feita a correção para
“espontânea”. No texto traduzido, repassado à Câmara Técnica naquela oportunidade, o
título original da atividade era “Problemas com a Seleção Própria”. Na página 28 está
grafada a palavra “re-afirmação”, devendo ser feita a correção para “reafirmação”.
CURRÍCULO PARA PAIS
A análise preliminar aponta para algumas dificuldades impostas para a implementação de
um programa de tal natureza: a) o número de encontros previstos (cinco) com os pais
apresenta-se como o maior óbice tendo em vista as variáveis trabalho, tempo disponível
dos pais/responsáveis, adaptação dos horários do Instrutor; e, b) reprodução de material
onerando a Corporação.
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Outro aspecto importante a ser registrado diz respeito ao título dado ao Programa na
PMMG “EMPODERANDO os pais para ajudarem os filhos a fazerem escolhas positivas”.
Empoderar = dar poder? Certamente esse poder os pais já detêm e não queremos ter a
pretensão de ensiná-los como educar seus filhos. NA PMSC o título “Capacitando os Pais
para ajudarem os filhos a fazerem escolhas positivas” nos parece mais adequado.
Com relação ao conteúdo pode-se dizer que muitas questões são tratadas de forma
sensacionalista e/ou preconceituosa. Os vídeos que deverão ser exibidos contêm uma forte
carga preconceituosa porquanto chega a sugerir aos pais que realizem exame antidoping
em seus filhos e, ainda, conteúdo cercado de exemplos negativos ressaltando em muitos
pontos a disfuncionalidade familiar como único elemento responsável pelo abuso de
drogas por jovens.
Na revisão apresentada pelo Centro de Treinamento de Santa Catarina existe uma
orientação ao instrutor para que informe aos participantes que o PROERD não emite
opinião sobre a questão do teste antidoping, parecendo-nos tratar de uma omissão,
porquanto é necessário alertar aos pais/responsáveis sobre as implicações de ordem legal
acerca do assunto.
As pesquisas apontadas registram dados americanos e erros nas construções dos gráficos,
mostram, ainda, uma grande carga preconceituosa quando referem o uso de drogas por
etnias.
Na página 13 do manual do instrutor quando oferece resposta ao 13o questionamento, o
termo grifado “Sacrifique algum tempo para estar com seu filho (...)” não é adequado,
sendo preferível usar “Dedique”.
Ao tratar da pesquisa do CEBRID, o manual refere o acréscimo dos anexos A, B e C do
CEBRID, que também vem de encontro com a idéia da influência positiva que a família
exerce sobre as crianças e adolescentes. Ora, há aqui um grave erro pois a pesquisa vem ao
encontro, ou seja, reafirma o que se quer mostrar. Vem de encontro é posição contrária.
Quando na página 16 do manual, prevê que os pais/responsáveis “foram criados direito”
traduz um outro erro conceitual, pois que há que se levar em conta que os pais não devem
ser estimulados a fazerem projeções de suas vidas sobre a de seus filhos, na verdade são
contextos diferentes e que devem ser respeitados, logo, não existe a possibilidade de se
fazer uma análise simplista de quem foi criado direito e quem não cria direito.
Entende-se que deve ser realizado um estudo mais profundo sobre os estilos de
paternidade/maternidade, posto que os estilos ditados pelo manual se confundem, não
estabelecem claramente as distinções entre um estilo e outro, por exemplo podemos citar
que no estilo tolerante quando afirma que o pai exerce o controle exigindo comportamento
maduro e responsável nos parece tratar de um estilo autoritário. Existe material, no Brasil,
que melhor fundamenta os Estilos de Educação Familiar.
Há um grave erro de cunho técnico-científico ao referir no exercício proposto na Lição 1
(questionário) no item 6 “Parar o uso de drogas ou a violência antes que se inicie chama-se
intervenção” e, de acordo com o manual, a resposta seria falsa “Intervenção é parar o uso
de drogas e de comportamento violento após terem começado (...).” Vale lembrar que a
intervenção se dá em 3 níveis, ou seja, intervenção primária – ocorre antes que o fato
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aconteça (no caso do abuso de drogas é a prevenção primária); intervenção secundária –
ocorre quando o fato já ocorreu (no caso do abuso de drogas seria o tratamento) e
intervenção terciária (no caso de abuso de drogas é o indivíduo após receber tratamento ser
reinserido socialmente).
Na transparência “O ÁLCOOL”, surge outro erro conceitual quando afirma que uma
garrafa de cerveja e um copo de vinho têm praticamente o mesmo teor alcoólico. De
acordo com o conceituado Dr. José Mauro Braz, observe a tabela a seguir exposta.
TIPOS DE TEOR DOSE QUANTIDADE TAXA DE TAXA DE
BEBIDA ALCOÓLICO PADRÃO DE ÁLCOOL ÁLCOOL NO ÁLCOOL/AR
PURO/DOSE SANGUE RESPIRADO
(ALCOOLEMIA)
Cerveja 4,5 a 5% 300 ml 12 g 0,2 g/l 0,25 mg/l
Vinho 12 a 14% 150 ml 14 g 0,2 g/l 0,25 mg/
Cachaça/Uísque 40 a 50% 40 ml 14 g 0,2 g/l 0,25 mg/
Fonte: Lima, José Mauro Braz, RJ, 2003 – Alcoologia – Uma visão sistêmica dos problemas relacionados ao
uso de álcool.
Observada a fundamentação, constata-se que o teor alcoólico é diversificado nas bebidas
pontuadas no manual, sendo correto dizer que: o que se aproxima é a quantidade de álcool
puro/dose e a que a taxa de álcool no sangue (alcoolemia) nas doses mencionadas são
iguais.
O manual prevê uma definição para o chamado “Crime de ódio” que não parece ser
coerente com a legislação penal brasileira, assim como no Brasil o exame antidoping não é
aceito pela sociedade, encontrando muita resistência.
Na página 52 do manual, está referido “vestindo o chapéu de pais”, revela-se assim uma
expressão pouco comum sendo conveniente dizer “vestindo a camisa de pais”.
O currículo para pais utiliza muitas expressões preconceituosas como por exemplo “vício”,
“viciado”, “mãe solteira” etc. Os vídeos apresentados são extremamente incompatíveis,
pois tratam sobre questões importantes de forma sensacionalista, preconceituosa, além do
fato de apresentarem-se com péssima qualidade de som e falhas na tradução simultânea.
A educação preventiva para pais/responsáveis pressupõe a facilitação de no máximo dois
encontros para garantir a difusão de fatores de proteção e deve focar a família como
ambiente primeiro de prevenção sem sensacionalismo, linguagem amedrontadora e
incoerente com o padrão de afetividade que deve prevalecer na realidade brasileira.
As necessárias correções referentes aos erros de português e layout de impressão estão
assinaladas no próprio material e foram repassadas à Coordenação do PROERD – PMSC,
por esta Coordenadora, à Sra Roseane – Pedagoga daquela Corporação.
19. 1
a a
MANUAL DE CAPACITAÇÃO DE POLICIAIS PROERD 4 e 6 séries
Importante ressaltar que o novo modelo de capacitação prevê que nas 80 horas/aula de
treinamento deverá ser repassado ao Instrutor o conteúdo de três currículos em tempo
sumário para a gama de informações que deverão ser repassadas. Assim, vale dizer que os
novos Instrutores devem cumprir requisitos ainda mais rígidos posto que requer a
fundamental preparação intelectual do policial militar para absorver em tão pouco tempo as
informações para o desenvolvimento de habilidades que o deixem em condições de atuar
nas atividades previstas.
Encontra-se em fase de conclusão a revisão do material em pauta.
Ressalta-se que embora o conteúdo do novo modelo DARE, especialmente os currículos
destinados às 4ª e 6ª série do Ensino Fundamental, enfatize a possibilidade de se trabalhar
discussões baseadas em fatos reais e a maior integração do jovem nesse processo,
verifica-se que o mesmo não prima pelos preceitos que justificariam uma modalidade
baseada no protagonismo juvenil. Pode-se mesmo afirmar que existem formas de
participação que são a negação do protagonismo. A participação manipulada, a
participação simbólica e a participação decorativa são formas, na verdade, de não-
participação no dizer do Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, em sua obra
Protagonismo Juvenil: O que é e como praticá-lo. Pela razão exposta, reafirma-se, no
Estado do Rio de Janeiro/PMERJ, a necessidade de estudos mais profundos sobre os
conteúdos apresentados e sua adequação ao nosso Sistema Educacional.
Importante lembrar que não se pretende, aqui, adotar uma postura meramente contestadora,
mas sim que privilegie a qualidade desejada na aplicação de um currículo de prevenção às
drogas e violência, desenvolvido pelas Polícias Militares do Brasil, cuja proposta é ter o
Policial Militar Instrutor desempenhando seu papel de educador social e integrante de um
Programa de Polícia Preventiva, cujas ações devem sempre estar pautadas em princípios
éticos, respeitando as características de seu público-alvo e, sobretudo, baseadas em atitude
proativa. Por esta razão é que o novo currículo e o material disponibilizado deve ser de fato
discutido, revisado e adaptado à realidade brasileira, sob pena de não o fazendo colocar em
descrédito todas as ações desenvolvidas ao longo de 13 anos de implantação do PROERD
no país.
PMERJ/Centro de Capacitação PROERD, em 02 de agosto de 2005.
TANIA SANTOS LOOS – CAP PM
Coordenadora Estadual PROERD/PMERJ
Chefe do Centro de Capacitação