2. OS GÊNEROS DO DISCURSO
O problema e sua definição
• Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao
uso da linguagem, sendo o caráter e as formas desse uso tão
multiformes quanto os diversos campos da atividade humana.
Esta multiformidade ocorre, provavelmente, pelo fato da linguagem
ser a ferramenta de expressão das variadas atividades humanas.
Dentro do campo da comunicação humana encontram-se três
elementos indissociáveis à ideia de enunciado: o conteúdo
temático, o estilo, a construção composicional.
3. • Cada enunciado particular é individual,
embora cada campo de utilização da língua
elabore seus tipos relativamente estáveis de
enunciados: gêneros do discurso.
4. Gêneros do Discurso
• São extremamente heterogêneos, tornando os
traços gerais dos gêneros discursivos
demasiadamente abstratos e vazios.
• A questão linguística geral do enunciado e dos
seus tipos quase não era levada em conta
dentro do corte do gênero literário.
• Denota-se a existência dos gêneros primários
e secundários relacionada à definição da
natureza geral do enunciado.
5. Gêneros primários e secundários
• Gênero primário: formam-se nas condições da
comunicação discursiva imediata.
• Gênero secundário: surgem nas condições de
um convívio cultural mais complexo e
relativamente muito desenvolvido e
organizado.
• A diferença entre ambos é crucial para a
própria natureza do enunciado.
6. Estilística
• Todo enunciado é individual, podendo refletir a individualidade do
falante.
• As condições menos propícias para o reflexo da individualidade na
linguagem estão presentes naqueles gêneros do discurso que
requerem uma forma padronizada.
• A relação orgânica e indissolúvel do estilo com o gênero se revela
nitidamente também na questão dos estilos de linguagem ou
funcionais. Em cada campo existem e são empregados gêneros que
correspondem às condições específicas de dado campo.
• O estilo integra a unidade de gênero do enunciado como seu
elemento, estando as mudanças históricas dos estilos de linguagem
indissoluvelmente ligadas às mudanças dos gêneros do discurso.
7. • Os enunciados e seus gêneros discursivos são
correias de transmissão entre a história da
sociedade e a história da linguagem.
• Onde há estilo, há gênero.
8. Dialógica entre gramática e estilística
• A gramática se distingue substancialmente da estilística,
mas ao mesmo tempo nenhum estudo de gramática pode
dispensar observações e incursões estilísticas.
• Assim, a gramática e a estilística convergem e divergem em
qualquer fenômeno concreto de linguagem, pois a própria
escolha de uma determinada forma gramatical pelo falante
é um ato estilístico.
O estudo do enunciado como unidade real da
comunicação discursiva permite compreender de modo
mais correto também a natureza das unidades da língua –
as palavras e orações.
9. O enunciado como unidade da comunicação discursiva.
Diferença entre essa unidade e as unidades da língua.
• A linguística do século XIX, sem negar a função
comunicativa da linguagem, procurou colocá-la em
segundo plano, promovendo ao primeiro plano a
função da formação do pensamento, independente da
comunicação.
• Para alguns (Humboldt), a língua seria uma condição
indispensável do pensamento para o homem, sendo,
para outros, deduzida da necessidade do homem de se
auto-expressar. A essência da linguagem se reduz à
criação espiritual do indivíduo.
10. Características do enunciado
• O discurso só pode existir de fato na forma de
enunciações concretas de determinados falantes.
• Os limites de cada enunciado concreto são
definidos pela alternância dos sujeitos do
discurso.
• Todo enunciado tem um princípio e fim absoluto,
terminando o falante o seu enunciado para
passar a palavra ao outro ou dar lugar à sua
compreensão responsiva.
• O enunciado não é uma unidade convencional,
mas uma unidade real.
11. Enunciado e Oração
Oração como unidade de língua e Enunciado como unidade da comunicação discursiva
• Os limites da oração enquanto unidade da língua nunca são
determinados pela alternância de sujeitos do discurso (esta
converte a oração em enunciado pleno).
• A oração é um pensamento relativamente acabado, imediatamente
correlacionado com outros pensamentos do mesmo falante no
conjunto de seu enunciado.
• A oração não se correlaciona de imediato nem pessoalmente com o
contexto extraverbal da realidade nem com as enunciações de
outros falantes, mas somente através do enunciado em seu
conjunto.
• A oração carece de capacidade de determinar a resposta, ganhando
essa capacidade apenas no conjunto do enunciado.
12. Qualidades e peculiaridades:
da oração ao enunciado pleno
• Alternância dos sujeitos do discurso.
Emoldura o enunciado e cria para ele a massa firme, rigorosamente
delimitada dos outros enunciados a ele vinculados, distinguindo-o da
unidade da língua (oração).
• Conclusibilidade específica do enunciado.
Aspecto interno da alternância dos sujeitos do discurso, ocorre pois o
falante expressou tudo o que quis dizer em dado momento ou sob dadas
condições. É determinada por três elementos:
1) Exauribilidade do objeto e do sentido;
2) Projeto de discurso ou vontade de discurso do falante;
3) Formas típicas composicionais e de gênero do acabamento.
13. • A intenção discursiva de discurso ou a vontade discursiva do falante
determinam o todo do enunciado, sendo que a intenção discursiva deste
falante é aplicada e adaptada ao gênero escolhido, constituindo-se e
desenvolvendo-se em uma determinada forma de gênero.
• As formas de gênero, por sua vez, diferem substancialmente das formas
da língua no sentido da sua estabilidade e da sua coerção para o falante,
sendo mais flexíveis, plásticas e livres que as formas da língua.
• Quanto melhor se domina os gêneros tanto mais livremente os mesmos
são empregados.
• Um enunciado absolutamente neutro é impossível, tendo em vista que o
mesmo é pleno de tonalidades dialógicas, sendo estas imprescindíveis
para o entendimento cabal do estilo de um enunciado.
• Traço constitutivo do enunciado é seu direcionamento a alguém: o
endereçamento, uma vez que cada gênero do discurso em cada campo da
comunicação discursiva tem a sua concepção típica de destinatário que o
determina como gênero.