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                                                  Volume




VALTER T. MOTTA
Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




                  Rim e Função
                         Renal
R IM             E FUNÇÃO RENAL



A     regulação dos líquidos e eletrólitos e a elimi-
      n a ç ã o d o s r e s í d u o s m e t a b ó l i c o s s ã o e s s e n c i-
                                                                                        A ultrafiltração é a passagem seletiva de p e-
                                                                                   quenas moléculas, água ou íons pela estrutura
ais à homeostase corpórea. O sistema renal exerce                                  capilar denominada d e glomérulo n a p o r ç ã o d o
papel fundamental na realização destas funções. O                                  néfron conhecida como e s p a ç o d e B o w m a n .
sistema urinário consiste de rins, ureteres, bexiga                                     A reabsorção é o movimento de substâncias
e uretra. Os rins são os componentes fisiologic a-                                 para fora do lúmem tubular do néfron e para os
mente dinâmicos do sistema realizando muitas                                       capilares renais circundantes ou para o interstício.
funções, incluindo a formação da urina. São cinco                                  Isto significa que os rins conservam ou “reciclam”
as funções primárias do rim:                                                       nutrientes essenciais ou partículas filtradas.
                                                                                        A secreção é o movimento de partículas dos
§ Eliminar resíduos metabólicos (uréia, creati-                                    capilares renais ou interstício p a r a o lúmem do
    n in a, ácido úrico, ácidos orgânicos, bilirrubina                             néfron. As partículas secretadas entram no néfron
    conjugada, drogas e toxinas).                                                  tanto por filtração como secreção, ou ambos. T o -
                                                                                   d o s e s t e s p r o cessos ocorrem simultaneamente e é
§ Reter nutrientes (proteínas, aminoácidos, gli-                                   a estrutura especializada do néfron que os pro -
    cose, sódio, cálcio, cloretos, bicarbonato e                                   mo ve.
    água).                                                                              O estudo da função renal visa avaliar:

§ Regular o equilíbrio eletrolítico no líquido                                     § Filtração glomerular. Esta função é que me-
    intersticial controlando, simultaneamente, o                                       lhor se correlaciona com a capacidade dos rins
    movimento e a perda de água ao nível celular                                       em manter a composição dos líquidos corp ó -
    em colaboração com a pele e os pulmões.                                            reos.

§ Síntetizar eritropoietina, renina, prostaglandi-                                 § F l u x o s a n g ü í n e o r e n a l . É a que mantém a h o -
    nas e 1,25-diidroxicolecalciferol (forma ativa                                     meostase adequada, portanto, que exista fluxo
    da vitamina D).                                                                    sangüíneo suficiente.

                                                                                   § F u n ç ã o t u b u l a r . É bastante complexa pelas
F UNÇÕES DOS NÉFRONS                                                                   diferentes ações realizadas pelos túbulos.

O néfron é a unidade organizacional básica do rim
e consiste num leito capilar especializado – o
                                                                                   U RINA
glomérulo envolvido pelo epitélio urinário – cá-
p sula de Bowman – e c o n e c t a d o a u m a s u c e s s ã o
                                                                                   A urina é uma solução formada p elo rim, o princi-
de segmentos epiteliais especializados – o s
                                                                                   pal órgão excretor do organismo que mantém
túbulos. Cada rim humano contém cerca de 1,2
milhão de néfrons.                                                                 constante o volume, a composição química, o pH e
                                                                                   a pressão osmótica dos líquidos do corpo.
    O néfron é responsável por dois processos em
                                                                                      O suprimento de sangue da unidade funcional é
série: ultrafiltração glomerular e a reabso r-
ção/secreção tubular.                                                              realizado pelas a r t e r í o l a s aferentes (ao redor de


                                                                                                                                               247
248 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



1.200 mL/minuto de sangue total passa pelos dois                  O hormônio antidiurético (HAD) controla a r e-
rins de um adulto normal) que dá origem a um                      absorção da água para estabelecer o equilíbrio
grande número de capilares dentro do glomérulo.                   osmó tico.
Estes capilares se unem para formar as arteríolas
eferentes que compõe a rede capilar que abastece               5 No túbulo coletor se processa a transformação
o tecido tubular adjacente.                                      final do filtrado em urina hipertônica. O vo-
     A formação de urina é um processo que en-                   lu me é 1,0 mL/min.
v o lve ultrafiltração, secreção e reabsorção de
comp o nentes essenciais. Estes processos são con-                O volume da diurese normal, em adultos, varia
trolados pela pressão osmótica e hidrostática, pelo            entre 800 a 1.800 mL em 24 h. Estes valores estão
s u p rimento de sangue renal e pela secreção de               sujeitos a variações, pois são influenciados p e l o
h o rmônios. Resumidamente, o mecanismo de for-                volume corporal, consumo de 1íquidos, sudoração
mação de urina consiste:                                       e temperatura ambiente. Em crianças, a diurese é
                                                               maior que no adulto em proporção ao volume cor-
1 Filtração do plasma sangüíneo pelo glomérulo,                poral. O volume urinário de 24 horas em várias
  na velocidade de 130 mL por minuto, com a                    idades é dado na tabela 9.1..
  formação de ultra -filtrado com todos os cons -
  tituintes plasmáticos, exceto (quase totalmente)             Tabela.11.2. V o l u m e u r i n á r i o d e 2 4 h o r a s e m r e lação a
  p r o t e í n a s e s u b s t â n cias ligadas a elas.       idade.
                                                                    Idade                Volume urinário de 24 h (mL)
2 No túbulo proximal:
                                                               1 a 2 dias                          30 a 60
                                                               3 a 10 dias                        100 a 300
   § Reabsorção passiva de algumas substâncias,
                                                               10 a 60 dias                       250 a 450
       tais como glicose, creatinina, aminoácidos,
                                                               60 a 360 dias                      400 a 500
       vitamina C, lactato, piruvato etc., pelas c é-
                                                               1 a 3 anos                         500 a 600
       lulas tubulares.
                                                               3 a 5 anos                         600 a 700
                                                               5 a 8 anos                         650 a 1400
   § Secreção ativa de algumas substâncias pelas
                                                               8 a 14 anos                        800 a 1400
       células tubulares renai s e / o u s e c r e ç ã o d e
       materiais derivados do líquido intersticial
                                                                    O volume de urina formado durante a noite é
       peritubular.
                                                               menor que o diurno (proporção de aproximada-
                                                               mente 1:3). Em condições patológicas (exemplo:
   § Reabsorção isotônica de 8% da água do
                                                               insuficiência renal) a eliminação noturna pode
       filtrado, além de cloretos, sódio, potás sio,
                                                               aumentar, tornando-a maior que a diurna (nictú -
       fósforo e outros eletrólitos. A reabsorç ã o
       destas substâncias é obrigatória e independe            ria).
                                                                    Um volume urinário maior que 2.000 mL/d é
       das n e c e s s i d a d e s d o o r g a n i s m o .
                                                               denominado de p o l i ú r i a enquanto uma excreção
3 Nos ramos descendente e ascendente da alça de                menor que 500 mL/d chama -s e o l i g ú r i a . As prin -
  Henle acontece uma reabsorção adicional de                   cipais causas de poliúria são: grande ingestão de
  água, pelo mecanismo de troca de contracor-                  líquidos (polidipsia), insuficiência renal crônica,
  rente. Por conseguinte, o volume inicial é re-               diabetes mellitus, diabetes insípido, aldostero -
  duzido a 13-16 mL/minuto.                                    n is mo primário e mobilização de líquido previa -
                                                               mente acumulado em edemas. A oligúria é encon-
4 O túbulo distal realiza o ajuste da concentração             trada na redução de ingestão de água, desidratação
  de eletrólitos de acordo com as necessidades                 (dia rréia, vômitos prolongados, sudoração exces -
  orgânicas. O sódio pode ser removido sob a i n-              siva) sem a reposição adequada de líquidos, is -
  fluência do sistema aldosterona-angiotensina.                quemia renal, reações de transfusão, pielonefrite,
                                                               disfu n ção glomerular, obstrução e agentes tóxicos.
Rim e função renal                  249



                                                                                i n t e r p r e ta t i o n a n d t e c h n o q u e s . 4 e d . B a l t i m o r e :
Em várias causas renais ou pré -renais a diurese
                                                                                Wi l l i a m s & Wi l k i n s , 1 9 9 5 . 5 1 4 p .
pode cessar completamente (anúria).
                                                                             MARSHALL, William. Clinical chemistry: na ilustrated
                                                                               o u t l i n e . N e w Y o r k : G o w e r-M o s n , 1 9 9 1 . 1 7 6 p .
Bibliografia consultada
                                                                             M A Y N E , P h i l i p D . , D A Y , A n d r e w P . Workbook of clinical
                                                                                chemistry: case presentation and data interpretation.
ANDREOLI, Thomas E., BENNETT, J. Claude,                                        New York : Oxford University Press, 1994. 2 0 8 p .
  CARPENTER, Charles C. J., PLUM, Fred. Cecil
  M e d i c i n a i n t e r n a b á s i c a . Rio de Janeiro : Guanabara -   WALMSLEY, R. N., WHITE, G. H. Guide to diagnostic
  K o o g a n , 1 9 9 7 . p . 1 7 1 -2 4 1 .                                   clinical chemistry. London : Blackwell, 1994. 672 p.

KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA,
  Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry:
250 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




   EXAME               QUALITATIVO DE URINA


   O     exame qualitativo de urina (EQU) é um
         c o n j u n t o d e p r o v a s n ã o -invasivas e baratas
                                                                             necer rapidamente uma série de parâmetros na
                                                                             u rina. Os mais comuns são as tiras reagentes q u e
   que fornecem informações sobre várias funções                             possuem substâncias químicas fixadas a uma tira
   metabólicas do organismo. É útil no diagnóstico e                         plástica, revelando a positividade dos testes por
   tratamento de doença renal ou do trato urinário                           modificações de cor.
   como, também, na detecção de doenças metabóli-                                São encontradas no comércio tiras simples
   cas ou sistêmicas não relacionadas com o rim. O                           (para a pesquisa de um único parâmetro na urin a)
   teste consiste na verificação da cor e aspecto da                         e múltiplas (que permitem a avaliação simultânea
   amostra; determinação do pH e densidade; pes -                            de vários componentes). Com a finalidade de o b -
   q u isa de proteínas, glicose, corpos cetônicos, uro -                    ter resultados confiáveis com as tiras reagentes,
   bilinogênio, bilirrubina, sangue, nitrito e leucócito                     devem ser tomadas certas precauções: as tiras não
   esterase, além de sedimentoscopia.                                        devem ser expostas á luz direta do sol, ao calor, a
                                                                             meios úmidos e a substâncias voláteis. Devem ser
                                                                             armazenadas no frasco original. Retirar somente a
   C OLETA DA URINA                                                          quantidade de fitas necessárias para a bateria de
                                                                             exames, a seguir, fechar hermeticamente o frasco.
   A primeira urina da manhã é recomendada para o                            Quando as áreas reativas não apresentam a mesma
   EQU pois é mais concentrada, o que garante a                              cor “negativa” impressa na escala cromática que
   detecção de substâncias e elementos figurados que                         acompanha o produto, as tiras devem ser descart a-
   podem estar ausentes em amostras aleatórias mais                          das. O uso das fitas é realizado como segue:
   diluídas. Antes da coleta, os genitais devem ser
   limpos com uma solução antisséptica suave ou
                                                                             § Submergir (no máximo um segundo) comple-
   pelo emprego de água e sabão neutro. A mulher                                tamente as áreas reativas da tira em urina re-
   deve manter os grandes lábios afastados no mo -                              centemente emitida (se a urina estiver refrig e-
   mento da micção. Desprezar a primeira e última                               rada, deixar adquirir a temperatura ambiente),
   porção da micção e recolher o jato médio. A                                  bem misturada e sem centrifugar.
   amostra deve ser colhida em recipiente descart á-
   vel, limpo e seco. Com isso evita-se a possibili-
                                                                             § Eliminar o excesso de urina encostando a borda
   d ade de contaminação decorrente da lavagem in -                             lateral da tira ao frasco que contém a amostra.
   c o rreta de frascos reutilizáveis. O recipiente da
   amostra deve ser etiquetado com o nome do paci-                           § No tempo apropriado, comparar a cor das áreas
   ente, data e hora da coleta além de outras info r-                           reativas com a escala cromátic a correspon-
   mações pertinentes.                                                          d e n te. Fazer a leitura em local com boa ilumi -
          A análise da urina deve ser realizada até uma                         n aç ã o .
   hora após a coleta. Refrigerar no máximo por 4
   horas a amostra quando não examinada imediata-
   mente, mas deixar adquirir temperatura ambiente
                                                                             C OR
   a n t e s d e p r o c e d e r o s t e s t e s . A u r i n a d e v e ser
   isenta de contaminações vaginais ou fecais.                               A cor da urina emitida por indivíduos normais
                                                                             varia de amarelo -citrino a amarelo âmbar fraco,
                                                                             segundo a concentração dos pigmentos urocrômi-
   T IRAS REAGENTES                                                          cos e, em menor medida, da urobilina, uroeritrina,
                                                                             uroporfirinas, riboflavinas, etc.
   Nas últimas décadas foram desenvolvidos vários                               Quando em repouso, a urina escurece prova-
   sistemas analíticos simplificados capazes de fo r-                        velmente pela oxidação do urobilinogênio.


                                                                                                                               250
Rim e função renal           251



   Existem vários fatores e constituintes que p o -          A SPECTO
dem alterar a cor da urina, incluindo substâncias
ingeridas, atividade física, assim como diversos             Geralmente, a urina normal e recentemente emi -
compostos presentes em situações patológicas. O              t ida é límpida. Nas urinas alcalinas é freqüente o
exame da cor da urina deve ser realizado empre-              aparecimento de opacidade por precipitação de
gando uma boa fonte de luz, olhando através de               fosfatos amorfos – ocasionalmente carbonatos –
recipiente de vidro transparente contra um fundo             na forma de névoa branca. A adição de algumas
branco. As cores comumente encontradas são:                  gotas de ácido acético dis s o l v e o s f o s f a t o s e o s
                                                             carbonatos. A urina ácida normal também pode
Amarelo-claro ou incolor. É encontrado em                    mostrar-se opaca devido à precipitação de uratos
pacientes poliúricos, diabetes mellitus, diabetes            amorfos, cristais de oxalato de cálcio ou de ácido
insípido, insuficiência renal avançada, elevado              úrico. Muitas vezes, o aspecto da urina ácida le m-
consumo de líquidos, medicação diurética e in -              bra pó de tijolo, provocado pelo acúmulo de pig -
gestão de álcool.                                            mento róseo de uroeritrina na superfície dos cris -
                                                             tais. A uroeritrina é um componente normal na
Amarelo-escuro ou castanho. É freqüente nos                  urina. A turvação provocada pelos uratos pode ser
estados oligúricos, anemia perniciosa, estados               dissolvida por aquecimento da urina a 60 0 C.
febris, início das icterícia (presença anormal de                   A turvação comumente é causada por leucó -
bilirrubina), exercício vigoroso e ingestão de arg i-        citos, hemácias, células epiteliais ou bactérias. Os
rol, mepacrina, ruibarbo e furandantoínas.                   leucócitos formam precipitados semelhantes aos
                                                             provocados pelos fosfatos mas não se dissolvem
A l a r a n j a d a o u a v e r m e l h a d a . É comum em   pela adição de ácido acético; a presença de leucó-
p r e s e n ça de hematúria, hemoglobinúria, mioglobi-       citos é confirmada pela sedimentoscopia. A bacte-
núria, icterícias hemolíticas, porfirinúrias e no            riúria produz opalescência uniforme que não é
emprego de anilina, eosina, fenolftaleína, rifocina,         removida pela acidificação; de modo geral, estas
sulfanol, tetranol, trional, xantonina, beterraba,           urinas apresentam cheiro amoniacal pelo desdo -
vitamina A, derivados de piridina, nitrofurantoína,          bramento da uréia pelas bactérias. A presença de
fenindio na e contaminação menstrual.                        hemácias (hematúria) promove turvação que é
                                                             confirmada microscopicamente.
Marrom-escuro ou enegrecida . (“Cerveja                           Espermatozóides e líquido prostático causam
preta”) ocorre no carcinoma de bexiga (“borra de             turvação que pode ser clarificada por acidificação
café”), glomerulonefrite aguda, meta-hemoglobi-              ou aquecimento. O líquido prostático normalmente
núria, alcaptonúria (ácido homogentís ico), febres           contém alguns leucócitos e outros elementos. A
palustres, melanoma maligno e no uso de me til-              mucina pode causar filamentos e depósito volu -
dopa ou levodopa, metronidazol, argirol e salici-            moso, sobretudo nos estados infla matórios do
latos.                                                       trato urinário inferior ou trato genital.
                                                                  Algumas vezes a urina apresenta aspecto turvo
Azulada ou esverdeada . Deve-se a infecção                   em razão de coágulos sangüíneos, pedaços de
por pseudomonas, icterícias antigas, tifo, cólera e          tecido, lipídios, levedura, pequenos cálculos, pus,
pela utilização de azul de Evans, azul de metileno,          material fecal, talco, antissépticos, cremes vagi-
riboflavina, amitriptilina, metocarbamol, cloretos,          n a i s e c o n trastes radiológicos. São ainda causas de
indican, fenol e santonina (em pH ácido).                    turvação a presença de linfa e glóbulos de gor-
                                                             d u ra.
Esbranquiçada ou branco leitosa . Está pre-                       O a s p e c t o d a u r i n a é o b s e r v a d o a p ó s a h o mo -
sente na quilúria, lipidúria maciça, hiperoxalúria           geinização da mesma. A urina se apresenta lím-
primária, fosfatúria e enfermidades purulentas do            p ida, opaca, leitosa, levemente turva, turva ou
trato urinário.                                              fo rtemente turva. A verificação também da pre -
                                                             sença de componentes anormais como coágulos,
252 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



muco ou pedaços de tecido é de importância para        t ido giratório, movimentar o mesmo para impedir
d iag n ó s t i c o .                                  o contato com as paredes da proveta. Fazer a lei-
                                                       tura ao nível da parte inferior do me n i s c o .
                                                           Geralmente os urodensímetros estão calibrados
D ENSIDADE                                             a uma temperatura específica de 20 0 C. Para leit u -
                                                       ras realizadas em outras temperaturas faz-s e a
A densidade é uma função direta, mas não propor-       seguinte correção: somar 0,001 à leitura para cada
cional, do número de partículas na urina. A con -      3 0 C acima da temperatura de calibração e subtrair
centração de solutos na urina varia com a ingestão     0,001 para cada 3 0 C abaixo da calibração.
de água e solutos, o estado das células tubulares e        Para determinações mais exatas, faz-se a corre-
a influência do hormônio antidiurético (HAD)           ção para o teor de proteína ou glicose presente.
sobre a reabsorção de água nos túbulos distais. A      Subtrair 0,003 da leitura para cada l,0 g/dL de
incapacidade de concentrar ou diluir a urina é uma     proteína na urina. Subtrair 0,004 para cada 1,0
indicação de enfermidade renal ou deficiência          g/dL de glicose na urin a.
hormonal (HAD).
   Em condições normais (dieta e ingestão de
líquidos habituais) o adulto produz urinas com
                                                       R EFRACTÔMETRO
densidades de 1.015 a 1.025 num período de 24
horas. Para uma amostra de urina ao acaso, a d e n -   O refractômetro mede o índice de refração, relaci-
sidade pode variar de 1.002 a 1.030.                   onado ao conteúdo de sólidos totais dissolvidos na
                                                       urina. O índice de refração é a relação entre a
Densidade urinária aumentada. É encontrada             velocidade da luz no ar e a velocidade da luz na
na amiloidose renal, diabetes pancreático, enfe r-     solução. Esta relação varia diretamente com o
midade de Addison, hipersecreção descontrolada         número de partículas dissolvidas na urina e é pro-
de HAD (mixedema, porfiria, abscesso cerebral,         porcional à densidade. A vantagem desta determi-
meningite tuberculosa), nefropatia obstrutiva,         nação é o emprego de pequenas quantidades de
nefropatia vasomotora, obesidade, oligúria funci-      amostras (algumas gotas).
onal (estados febris, desidratação, terapia com           Como ocorre com a densidade, o índice de
diuréticos, hipoproteinemia), politraumatismo,         refração varia com a temperatura, entretanto os
p ó s -operatório imediato e síndrome hepatorrenal.    equipamentos modernos são compensados entre
                                                       15,5 e 37,7 0 C, não sendo necessário efetuar cor-
Densidade urinária diminuída. São freqüentes           reções dentro estes limites.
no alcoolismo agudo, aldosteronismo primário,
anemia falciforme, diabetes insípido, fase inicial e   Tiras reagentes. Com a elevação da concentração dos
final da insuficiência renal crônica, pielonefrite     eletrólitos na urina, os reagentes na fita liberam íons
crônica e tuberculose renal.                           hidrogênio, causando a redução do pH e a subseqüente
                                                       reação proporcional à densidade.
                                                            A prova se baseia na modificação de pKa de
U RODENSÍMETRO                                         certos poliácidos (polimetil vinil/anidrido ma -
                                                       lé ico) que reagem com íons positivos na urina
O urin odensímetro é um dispositivo flutuador que      (sódio etc) de tal modo que os grupos ácidos vizi-
possui uma escala graduada (1,000 a 1,040) em          nhos na molécula se dissociam, liberando íons
sua haste, destinado à avaliação da densidade na       hidrogênio e baixando o pH. A área reativa con-
urina                                                  tém um indicador – o azul de bromotimol – q u e
   A medida da densidade é realizada pela colo -       mede a alteraç ã o d e p H c o r r e s p o n d e n t e a o c o n t e -
cação da urina em proveta de dimensões adequa-         údo de sal o u à densidade.
das. Evitar a formação de espuma com o emprego              As cores da área reagente variam desde o azul
de papel de filtro. O urinômetro é submergido na       intenso em urinas de baixa concentração até o
urina e por meio de um pequeno impulso no sen-
Rim e função renal             253



amarelo em amostras de maior concentração                                       §    p H u r i n á r i o b a i x o . Várias condições determi-
iônica.                                                                             n am a acidez urinária (pH baixo), dentre as
                                                                                    quais citam-se: acidose metabólica (acidose d i-
                                                                                    abética, diarréias graves, desnutrição), acidose
O SMOMETRIA                                                                         respiratória, clima quente, dieta protéica, fe-
                                                                                    nilcetonúria, intoxicação pelo álcool metílico,
A osmometria mede a concentração de um soluto                                       intoxicação pela salic ilato, medicações acidifi-
em um líquido. A capacidade renal de diluir e                                       cantes (cloreto de amônio), tuberculose renal e
concentrar urina é melhor avaliada pela medida da                                   urina matinal.
o s m o l a l i d a d e – concentração de partículas osmo-
ticamente ativas por massa de solvente – na urina.                              §    p H u r i n á r i o e l e v a d o . A alcalinidade urinária
O osmômetro é o aparelho para medir a osmola-                                       (pH alto) é comum na acidose tubular renal, a l-
lidade. Os valores de referência estão entre 300 a                                  calose metabólica e/ou respiratória, aldostero-
900 mOsm/kg de água.                                                                nismo primário, deficiência potássica, dieta
     O rim é capaz de excretar urina com concen -                                   vegetariana, diuréticos que inibem a anidrase
trações variadas através da ação dos túbulos r e-                                   carbônica, infecções urinárias provocadas por
nais. Nos estados de carência de água, o ADH                                        bactérias que desdobram a uréia em amônia
estimula a conservação de água ao máximo (reab -                                    (Proteus mirabilis), síndrome de Addison,
sorção do solvente aumentada), d e tal forma que a                                  u rin a p ó s -prandial e urina vespertina. A de-
urina pode chegar a atingir uma alta osmolalidade                                   mora na análise da urina não refrigerada pela
de 1.200 mOsm/kg. Com uma ingestão excessiva                                        ação de bactérias.
de água, a diluição máxima pode produzir uma
osmolalidade tão baixa quanto 50 mOsm/kg. Na                                          Na conduta de problemas clínicos específicos,
infância e nas idades avançadas, estes valores                                  o pH urinário deve ser mantido constantemente
difere m; para aqueles pacientes com mais de 65                                 elevado ou diminuído, seja por meio de regimes
anos, geralmente não conseguem obter concentra-                                 dietéticos e/ou medicamentos. O efeito de certas
ções máximas acima de 700 mOsm/kg, enquanto a                                   drogas também dependem do pH urinário,
habilidade de diluição máxima, freqüentemente                                         S i t u a ç õ e s q u e e x i g e m u r i n a s á c i d a s: tratamento
não é menor do que 100 a 150 mOsm/kg.                                           dos cálculos urinários de fosfato amoníaco-mag-
                                                                                nesiano, fosfato ou carbonato de cálcio; nas infec-
                                                                                ções do trato urinário e, de modo especial, na-
PH                                                                              quelas causadas por germes desdobradores da
                                                                                u réia; durante o tratamento com mandelato de
O pH urinário reflete a capacidade do rim em                                    metenamina, tetraciclina e nitrofurantoínas, as
manter a concentração normal dos íons hidrogênio                                quais têm maior efeito terapêutico em urinas áci-
no liquido extracelular. Para conservar um pH                                   das.
constante no sangue (ao redor de 7,4), o glomé-                                       S i t u a ç õ e s q u e e x i g e m u r i n a s a l c a l i n a s: trata-
rulo excreta vários ácidos produzidos pela ativ i-                              mento dos cálculos urinários de ácido úrico ou
dade metabólica, tais como ácidos sulfúrico, fo s -                             c i s t i n a ; n o c o n t role das intoxicações por salicila-
fórico, clorídrico, pirúvico, láctico e cítrico além                            tos; durante o tratamento com sulfonamidas (para
de corpos cetônicos. Estes ácidos são excretados                                prevenir a precipitação de cristais da droga no
principalmente com o sódio. Nas células tubulares                               trato urinário), estreptomicina, cloranfenicol e
o s í o n s h i d r o g ê n i o s ã o t r o c a d o s p e l o s ó d i o p re-   canamicina.
sente no filtrado glomerular e a urina torna-s e                                      O pH é determinado pelo emprego dos indic a-
ácida. Os íons hidrogênio são também excretados                                 dores vermelho de me tila e azul de bromotimol,
como íons amônio. Normalmente, o pH da urina                                    que permitem a diferenciação de valores de meia
varia entre 4,5 e 8,0. Níveis abaixo ou acima des -                             unidade entre 5 e 9. Este teste compõe as tiras
tes valores não são fisiologicamente possíveis.                                 reativas encontradas no comércio.
254 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



P ROTEÍNAS                                                                 acético e ácido acético. O ácido sulfossalicílico é
                                                                           o ácido mais freqüentemente empregado pois não
Tiras reagentes. A p r e s e n ç a d e p r o t e í n a s n a               necessita o uso de calor. São utilizadas as mais
urina é detectada pela modificação da cor de uma                           distintas concentrações e proporções deste ácido e
área na fita reativa impregnada com azul de te-                            cada uma delas com diferentes escalas de result a-
trabromofenol tamponado ou com tetraclorofenol-                            dos.
tetrabtomosulfotaleína tamponado em pH ácido. A                               O significado clínico da proteinúria foi tratado
área apresenta cor amarela que modifica para                               no capítulo Aminoácidos e Proteínas. Em resumo,
v e rde ou azul em presença de proteínas. A inten-                         tem-se lesão da membrana glomerular (distúrbios
sid ade de cor é proporcional a quantidade de pro -                        do complexo imune, amiloidose, agentes tóxicos);
teínas presentes. Permanecendo inalterado o pH,                            comprometimento da reabsorção tubular; mieloma
a s p ro teínas provocam uma pseudoviragem do                              múltiplo; nefropatia diabética; pré -eclâmpsia;
indicador (erro protéico dos indicadores).                                 proteinúria ortostática ou postural.
     O “erro protéico dos indicadores” é mais ou
meno s p r o n u n c i a d o s e g u n d o o n ú m e r o d e g r u p o s
amino livres nas diversas frações protéicas. É                             P ROTEINÚRIA DE B ENCE J ONES
mais intenso para a albumina e débil para as glo -
bulinas, glicoproteínas, mucoproteínas etc. As                             Pacientes com mieloma múltiplo – distúrbio proli-
proteínas de Bence-Jones não mostram, na prática,                          ferativo dos plasmócitos produtores de imunogo -
erro protéico. Centrifugar as urinas que destinam-                         bulinas – apres entam teores muito elevados de
se a este teste e que apresentam macrohematúria.                           imunoglobulinas monoclonais de cadeias leves
     O teste deve ser realizado conforme o indicado                        (proteínas de Bence Jones). Esta proteína de baixa
acima, com a avaliação proposta pelo fabricante.                           massa molecular é filtrada em níveis que ultrapas-
O resultado é semi -quantitativo e expresso em                             sam a capacidade de reabsorção tubular, com e x-
c ru z e s :                                                               creção na urina.
                                                                                 A p r o t e í n a d e Bence Jones coagula em temp e-
   Resultado em cruzes                  Resultado em mg/dL
                                                                           raturas situadas entre 40-60 0 C, dissolvendo-s e
         Traços                                 <50                        quando a temperatura atinge 100 0 C. Deste modo,
             +                                 <100                        quando a amostra de urina fica opaca entre 40-60
            ++                                 <150                        0
                                                                             C e transparente a 100 0 C, há indícios da pre -
           +++                                 >150                        s en ça de proteína de Bence Jones. M uitos pacien-
                                                                           tes não produzem quantidades detectáveis de pro -
   Resultados falsos positivo são encontrados nas                          t e í nas de Bence Jones na urina, sendo que a quan-
urinas muito alcalinas (pH acima de 9), elimin a-                          t idade excretada aumenta com a lesão tubular.
ção de polivinilpirrolidona (expansor do plasma),                          Para o diagnóstico executa-se a dosagem de pro -
alcalóides em geral, compostos com radicais de                             teínas e imunoeletroforese tanto na urina como no
amônio quaternário (detergentes) e alcalóides em                           s o ro .
geral.
   Resultados falsos negativso ocorrem na protei-
núria de Bence-Jones, globinúria predominante e                            G LICOSE
urinas conservadas com ácidos minerais fortes.
                                                                           Os açúcares são componentes normais na urina.
Teste químico. Os testes químicos para detectar                            Sendo moléculas pequenas, a glicose e outros
as proteínas na urin a são geralmente baseadas na                          açúcares são facilmente filtrados através do glo -
precipitação pelo calor ou por reação com preci-                           mérulos. Para evitar a perda, os carboidratos são
pitantes aniônicos. Os mais empregados são: coa-                           r e a b s o r v i d o s p o r mecanismos de transporte ativo
gulação pelo calor; ácido nítrico concentrado                              nas células do túbulos proximais. Este mecanismo
(anel de Heller); ácido nítrico + sulfato de magné-                        é bastante eficiente e remove quase toda a glicose
sio (Robert); ácido sulfossalicílico; ácido tricloro-                      normalmente filtrada pelo glomérulo. Quando a
Rim e função renal    255



concentração de glicose plasmática ultrapassa 180          redutora na urina. O teste comumente usado é o de
mg/dL, a capacidade de reabsorção é excedida e o           Benedict baseado na reação de uma solução alca-
açúcar passa para a urina. Mesmo com teores                lina de sulfato de cobre, a quente, que oxida as
normais de glicose sangüínea, algum açúcar pode            substâncias redutoras na urina (glicose, galactose,
ser encontrado na urina, pois é impossível aos             frutose, maltose, lactose, xilulose, arabinose, ri-
túbulos serem totalmente eficientes na capacidade          bose), com a redução do íon cúprico a íon cu-
de reabsorção.                                             proso, resultando em formação de hidróxido cu-
     Quantidades significantes de glicose são d e-         proso (amarelo) ou óxido cuproso (vermelho).
tectadas na urina quando houver elevadas concen-
trações de glicose na corrente circulatória, como
ocorre na diabetes. A glicose também é encon-              C ETONAS
t rada na urina em certas enfermidades do túbulo
proximal (síndrome de Fanconi e nefropatia tubu -          As cetonas são formadas por três substâncias:
la r avançada) que podem impedir a capacidade de           acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona. A ex-
absorção.                                                  cessiva formação destes compostos, devido a dis-
                                                           t ú r b i o s n o metabolismo dos carboidratos e lip í -
T i r a r e a g e n t e . Testes enzimáticos, empregando   dios, provoca o aumento na concentração sangüí-
a glicose oxidase, peroxidase e um cromogênio              nea (cetonemia) com a conseqüente excreção uri-
oxidam seletivamente a glicose pela remoção de             nária (cetonúria). Ocorre redução das cetonas por
dois íons hidrogênio formando ácido glicônico. Os          volatização em urinas não analisadas logo após a
í o n s h i d r o g ênio removidos combinam-se com o       coleta e/ou não refrigeradas .
oxigênio atmosférico para produzir peróxido de
hidrogênio que em presença de peroxidase oxida             T i r a r e a g e n t e . A reação está baseada na forma-
um cromogênio com modificação de cor. O cro -              ção de complexo colorido entre o acetoacetato e
mogênio utilizado varia com as diferentes fitas            acetona com o nitroferricianeto/glicina em meio
reativas.                                                  alcalino ou do acetoacetato com o nitroferricia-
     Açúcares como a galactose, frutose e lactose          neto tamponado. O β-hidrozibutirato não reage
não interferem neste teste. Contudo, elevadas              nestes testes.
c o n centrações de ácido ascórbico, ácido homo -               Fal s o s -positivo são encontrados em concentra-
g e n t í s ico, aspirina, cetonas ou uratos podem pro -   ções elevadas de ácido fenilpirúvico (fenilcetonú-
vocar a inibição da reação enzimática. Resultados          ria), metabólitos da L-dopa, fenolftaleína (la -
falsos-positivo são raros, no entanto podem ocor-          xa n te). Quando presente os resultados são expres -
rer por contaminação da vidraria pelo hipoclorito          sos em cruzes que correspondem aos seguintes
de s ó dio (solução alvejante) ou quando os perío-         valores em mg/dL.
dos de leitura da fita forem ultrapassados. Os re -
sultados semi -quantitativos obtidos em cruzes se            Resultado em cruzes          Resultados em mg/dL
relacionam com os valores em mg/dL como segue:                     Traços                          <5
                                                                       +                          <15
  Resutados em cruzes          Resultados em mg/dL                    ++                          <50
                                                                     +++                          <150
        Traços                         <100
            +                          <250
           ++                          <300
          +++                          <500                Teste químico. O emprego de cloreto de ferro
         ++++                         >1.000               para a detectação de cetonas na urina (teste de
                                                           Gerhardt) foi abandonado pela pouca sensibilidade
                                                           e falta de especificidade.
Teste químico. Para a avaliação semi -quantita-               A a c e t o n a e o acetoacetato reagem com o n i-
tiva, a glicose pode ser testada como substância           troprussiato de sódio (nitroferricianeto) em pre-
256 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



sença de álcali para formar um complexo de cor                      samento para a circulação. É importante salientar
púrpura (teste de Rothera). Este método permite                     que muitas vezes a bilirrubinúria precede a icterí -
detectar aproximadamente 1 a 5 mg/dL de acetoa-                     cia clínica, pois o umbral renal no adulto se en -
cetato e 10 a 25 mg/dL de acetona. O                                contra entre 2 e 4 mg/dL. A icterícia ocasionada
β-hidroxibutirato não é detectado nesta prova.                      pela grande destruição de hemácias não produz
                                                                    bilirrubinúria, pois a bilirrubina sérica está pre-
                                                                    sente na forma não-c o n j u g a d a e , a s s im, não pode
U ROBILINOGÊNIO                                                     ser excretada pelos rins.

O urobilinogênio é um pigmento biliar resultante                    T i r a r e a g e n t e . Os testes em tiras estão baseados
da degradação da hemoglobina. É formado no                          na reação de acoplamento de um sal de diazônio
intestino a partir da redução da bilirrubina pelas                  com a bilirrubina em meio ácido. Contudo, os
bactérias intestinais. Parte do urobilinogênio é                    produtos existentes no comércio, diferem quanto
reabsorvido pelo intestino, caindo no sangue e                      ao sal utilizado para o desenvolvimento de cor. As
levado ao fígado. Ao passar pelos rins é filtrado                   áreas reagentes estão impregnadas de 2,6-dicloro -
pelos glomérulos. Encontra -se grande quantidade                    diazônio tetrafluorborato ou 2,4-dicloroanilina
de urobilinogênio na urina nas hepatopatias e                       diazônio. O emprego, o desenvolvimento de cor e
distúrbios hemolíticos. A demora da pesquisa em                     interpretação são fornecidos pelos fabricantes.
urinas não refrigeradas provoca a diminuição do                          F a l s o s-n e g a t i v o : ocorrem em presença de e le-
urobilinogênio por sua oxidação e conversão em                      vados teores de ácido ascórbico, nitrito (infecções
urobilina.                                                          do trato urinário) ou por oxidação da bilirrubina à
                                                                    biliverdina por exposição à luz.
T i r a r e a g e n t e . A pesquisa do urobilinogênio na                F a l s o s-p o s i t i v o : são freqüentes em pacientes
urina é realizada por tiras impregnadas pelo D-                     que recebem grandes doses de cloropromazina.
dimetilaminobenzaldeído em meio ácido ou por 4 -                    Metabólitos de drogas c omo a fenazopiridina p o -
metoxibenzeno-diazonio -tetrafluorborato também                     dem desenvolver cor vermelha em pH ácido e
em meio ácido. A primeira reação sofre interfe-                     mascarar o resultado.
rências do porfobilinogênio, indol, escatol, sulfi-
soxasol, ácido p -aminossalicílico, procaína e me-                  Prova química. O cloreto de bário se combina
tildopa (Aldomet). A segunda reação é a fetada de                   com radicais de sulfato na urina forma n do um
modo negativo por nitrito ( > 5 mg/dL) e formol                     precipitado de sulfato de bário (teste de Fouchet).
(> 200 mg/dL). Falsos-p o s i t i v o s ã o e n c o n t r a d o s   Os pigmentos biliares pre s e n t e s s e a d erem a estas
em pacientes que recebem fenazopiridina.                            moléculas de grande tamanho. O clo reto de ferro
                                                                    em presença de ácido tricloroacético, provoca a
Prova química. A reação de Ehrlich é univer-                        oxidação da bilirrubina (amarela) ou biliverdina
salmente utilizada para este teste. Emprega o                       (verde). Este teste é bastante sensível pois fornece
p -dimetilaminobenzaldeído em ácido clorídrico                      resultados positivos a partir da c o n centração de
concentrado que reage com o urobilinogênio e                        0,15 a 0,20 mg/dL.
porfobilinogênio para formar um aldeído colorido.                        Outro teste emprega tabletes (Ictotest, Ames)
A adição de acetato de sódio intensifica a cor                      c o n t e n d o p -nitrobenzenodiazônio p -t o l u e n o q u e
vermelha do aldeído e inibe a formação de cor                       reage com a bilirrubina com formação de cor azul
pelo escatol e indol.                                               ou púrpura. Os tabletes também contêm ácido
                                                                    sulfossalicílico, bicarbonato de s ódio e ácido b ó -
                                                                    rico.
B ILIRRUBINA
A bilirrubina conjugada pode estar presente na
urina de pacientes portadores de enfermidade h e-
patocelular ou icterícia obstrutiva, pelo extrava-
Rim e função renal             257



H EMATÚRIA, HEMOGLOBINÚRIA E                                                   matúria quando é conhecida a sua origem, apesar
MIOGLOBINÚRIA                                                                  da grande dificuldade em distinguir da hemoglo -
                                                                               binúria verdadeira.
Hematúria é a presença de um número anormal de
hemácias n a urina sendo encontrada em pacientes                               T i r a r e a g e n t e . A zona de teste está impregnada
com sangramento ao longo do trato genitourinário.                              com uma mistura tamponada de um peróxido or-
Hematúria maciça , que resulta em urina cor rosa,                              gânico e o cromogênio tetrametilbenzidina. A
vermelha ou marron, pode ocorrer nas infecções                                 reação s e baseia na atividade pseudoperoxidásica
do trato urinário, cálculo renal, tumor do trato                               da hemoglobina que catalisa a transferência de um
urinário, rim policísistico e glomerulonefrite pós-                            átomo de oxigênio do peróxido para o cromogê-
estreptocócica. A maior parte dos casos de hema-                               nio. As hemácias intactas na urina se hemolisam
túria são microscópicas. A presença de cilindros                               ao entrar em contato com a área reagente. A h e-
eritrocitários é a evidência definitiva de sangra-                             moglobina liberada atua sobre o reativo produ-
mento parenquimal renal.                                                       zin d o p o n t o s v e r d e s d i s p e r s o s o u c o n c e n t r a d o s
        Hemoglobinúria indica a presença de hemo -                             sobre o fundo amarelo. Por outro lado, a hemo -
globina em solução na urina e reflete hemólise                                 globina livre e a mioglobina fornecem uma colo -
intravascular que ocorre durante episódios de                                  ração verde ou verde azulado uniforme. Na hemó -
s ín drome urêmica hemolítica, púrpura tromboci-                               lise parc ial surgem quadros mistos. Deste modo, a
t o p ênica trombótica (PTT), hemoglobinúria paro -                            reação torna-se positiva em presença de eritrócitos
x í s tica noturna, reações transfusionais hemolíti-                           in tactos, assim como hemoglobina livre e mioglo -
cas, hemólise por toxinas bacterianas (septice-                                b ina. As tiras reagentes detectam 0,05 a 0,3 mg/dL
mia), veneno de cobra ou aranha, malária e quei-                               de hemoglobina na urina.
maduras severas. Exercícios extenuantes podem                                       F a l s o s-p o s i t i v o : são produzidos por certos
s e r s e g u idos de hemoglobinúria. A hemoglobina                            oxidantes como hipocloritos, às vezes empregados
leve aparece na urina quando a capacidade de                                   na limpeza de material e peroxidases bacterianas
ligação da haptoglobina plasmática estiver satu-                               na bacteriúria intensa. Em tais casos, deve-s e
rada. A h emoglobina é metabolizada pelas células                              avaliar cautelosamente uma reação positiva, part i-
renais em ferritina e hemossiderina, detectadas na                             cularmente se o sedimento não apresentar hemá-
urina usando o corante azul da Prússia. Quantida-                              cias.
des apreciáveis de sangue, detectada pela visuali-                                  F a l s o s-n e g a t i v o : encontram-se em presença d e
zação da amostra, é denominada macrohematúria.                                 níveis elevados de ácido ascórbico. Os nitritos em
N o s c a s o s o n d e a s h e má c i a s s ã o e n c o n t r a d a s s o -   grande concentração atrasam o desenvolvimento
mente no exame microscópico do sedimento uriná-                                de cor. O formol, empregado como conservante,
rio, chama -s e microhematúria.                                                pode levar a reações diminuídas ou negativas.
      Devido à importância do estabelecimento do
diagnóstico diferencial entre hemoglobinúria e                                 Prova química. O s m é t o d o s p a r a a p e s q u i s a d a
hematúria, a análise do sedimento urinário revela,                             hemoglobina estão bas e a d o s n a a ç ã o d a s h e m e -
em se tratando de hematúria, a presença de hemá-                               proteínas que atuam como peroxidases, catali-
cias intactas, enquanto na hemoglobinúria, não                                 s an do a redução do peróxido de hidrogênio para
são encontradas hemácias ou, se existirem, são em                              fo rmar água. Esta reação necessita um doador de
número reduzido. Como a hemoglobinúria é um                                    hidrogênio, em geral o guaiaco ou o -tolidina (um
achado incomum, um teste positivo para a hemo -                                derivado da benzidina). A oxidação do doador
globina com um sedimento urinário normal deve                                  resulta em cor azul, cuja intensidade é proporcio -
ser melhor investigado. Urinas muito alcalinas ou                              nal aos teores de hemoglobina.
com densidade urinária muito baixa (<1,007) p o -                                  A benzidina básica é carcinogênica e a exces -
dem provocar hemólise dos eritrócitos, liberando                               siva absorção pela pele, por via oral ou a inalação
o conteúdo de hemoglobina na urina. A presença                                 do pó pode provocar câncer de bexiga. Este risco
deste tipo de hemoglobina se considera como h e-                               provavelmente também exista c o m o u s o d e o-
258 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



tolidina (derivado da benzidina) apesar de não                  permanecido no mínimo quatro horas na be-
ainda comprovado. Por conseguinte, é essencial o                xiga.
cuidado no manuseio destes compostos.
     A m i o g l o b i n ú r i a acompanha a destruição      § A prova d eve ser realizada o mais depressa
aguda de fibras musculares e é encontrada no                    possível após a emissão da urina.
exercício excessivo, convulsões, hipertermia e
queimaduras severas. Pacientes com mioglobin ú -             § A urina não deve conter antibióticos ou sulfo -
ria tem níveis elevados de creatina quinase no                  namidas. Nestes casos suspender a terapia por
soro. O teste de precipitação de sulfato de amônio              três dias antes da prova.
é comumente usado para detectar mioglobinúria e
é assim realizado: adiciona-se 2,8 g d e sulfato de          T i r a r e a g e n t e . Dois tipos de áreas reagentes são
amônio a 5 mL de urina centrifugada. Misturar e              e n c o n t r a d a s p a r a a p e squisa de nitrito. Em meio
deixar em repouso por 5 minutos. Filtrar. Usar a             ácido, o nitrito reage com o ácido p -arsanílico
fita reativa para detectar sangue. Se for positiva,          produzindo um composto diazônio que é acoplado
indica presença de mioglobina, pois o sulfato de             com uma benzoquinolina para produzir cor rosa
amônio precipita a hemoglobina que dasaparece                (Ames). No produto da Boehringer uma amina
do filtrado.                                                 aromática, a sulfanilamida reage com o nitrit o em
                                                             presença de um tampão ácido produzindo a partir
                                                             de um sal de diazônio. Este sal se liga a benoqui-
N ITRITO                                                     nolina para formar cor rosa. Resultados negativos
                                                             não afastam a presença de bacteriúria significa-
O teste para detectação de nitritos na urina é uma           t iva.
prova indireta para o diagnóstico precoce de bac-                 F a l s o s-p o s i t i v o : são encontrados após ingestão
teriúria significativa e assintomática. Os microor-          d e fármacos que coram a urina de vermelho ou
ganismos comumente encontrados nas infecções                 torna-se vermelho em meio ácido (ex.: fenazopiri-
urinárias, tais como Escherichia coli, Enterobac-            dina). Pontos ou extremidades rosa na área da fita
ter, Citrobacter, Klebsiella e e s p é c i e s d e Proteus   são interpretados como negativo.
contêm enzimas que reduzem o nitrato da urina a                   F a l s o s-n e g a t i v o : ocorrem em concentrações
nitrito. O nitrito ingerido em medicamentos ou               elevadas de ácido ascórbico, urobilinogênio e pH
alimentação não é eliminado como tal. A prova                baixo.
para detectação do nitrito é útil para o diagnóstico
precoce das infecções da bexiga (cistite), da pie-
lonefrite, na avaliação da terapia com antibióticos,         L EUCÓCITO ESTERASE
na monitoração de pacientes com alto risco de
infecção do trato urinário e na seleção de amostras          Os leucócitos neutrófilos contêm muitas esterases
para a cultura de urina. Para a obtenção de resul-           que catalisam a hidrólise de um éster para produ -
tados aceitáveis, esta prova deve ser realizada              zir o álcool e o ácido correspondente. O nível de
com as seguintes precauções:                                 esterase na urina está correlacionado com o nú-
                                                             mero de neutrófilos presente. Os eritrócitos e cé-
§ Os germes nitrato redutores necessitam de                  lulas do trato urinário não modificam o teor de
   quantidade suficiente de substrato (sem nitrato           esterase. Este teste deve ser confirmado pela aná-
   não se forma nitrito). Isto é conseguido medi-            lise microscópica do sedimento urinário.
   ante a ingestão de alimentos contendo nitrato
   na véspera do teste (cenoura, couve, espinafre,           T i r a r e a g e n t e . O substrato, um éster do ácido
   carne, saladas etc.).                                     carbônico com indoxil, é hidrolizado pela ação da
                                                             leucócito esterase em indoxil que por oxidação
§ O incubador mais favorável é a bexiga; utili-              desenvolve cor azul. Com a finalidade de reduzir
   zar, pois, a primeira urina da manhã que tenha            o tempo de reação foi adicionado um sal diazônio
                                                             que reage com o indoxil para formar cor púrpura.
Rim e função renal    259



A i ntensidade de cor é proporcional ao número de                              a p ó s c a t eterização urinária ou outros procedi-
leucócitos presentes na amostra.                                               mentos de instrumentação. Além destas condições,
    F a l s o s-p o s i t i v o : são freqüentes em presença de                podem indicar processos que necessitam maiores
agentes oxidantes. A contaminação com líquido                                  investigações como o carcinoma renal.
vaginal é outra fonte de resultados errôneos.
    F a l s o s-n e g a t i v o : s ã o e n c o n t r a d o s p o r inibição   Células dos túbulos renais. P e q u e n a q u a n t i-
na cor promovida por grandes quantidades de                                    dade de células dos túbulos renais aparecem na
ácido ascórbico. O formol também inibe a reação.                               urina de indivíduos saudáveis e representam a
A interpretação da cor é afetada pela nitrofuran-                              descamação normal do epitélio velho dos túbulos
toína.                                                                         renais. Recém-nascidos têm mais células de túbu -
                                                                               los renais na urina que crianças mais velhas e
                                                                               adultos. As células dos túbulos contornados distal
S EDIMENTOSCOPIA                                                               e proximal são encontradas na urina como resul-
                                                                               t ado de isquemia aguda ou doença tubular renal
A s e d i m e n t o s c o p i a é a p a r t e d o EQU que mais                 tóxica (como: necrose tubular aguda por metais
dados fornece, proporcionando uma visão do que                                 pesados ou drogas).
ocorre nos néfrons que a formaram. Para obter-s e
um bom sedimento, três condições são necessá-                                     Os sedimentos urinários podem conter número
rias: a) que a urina seja recente; b) que a urina                              aumentado de células dos túbulos coletores em
seja concentrada e c) que a urina seja ácida. Urina                            vários tipos de doenças renais, como na nefrite,
d e baixa concentração e pH alcalino resultam em                               necrose tubular aguda, rejeição a transplante renal
pronta dissolução dos elementos formados.                                      e envenenamento por salicilatos. Quando estas
Quan do a urina permenece longo tempo estag-                                   células aparecem como fragmentos intactos do
nada, há possibilidade de sua alcalinização e con-                             epitélio tubular indicam necrose isquêmica do
seqüente desintegração celular.                                                epitélio tubular, trauma, choque o u s e p s e .
                                                                                  Quando ocorre a passagem de lipídios pela
                                                                               membrana glomerular, como nos casos de nefrose
C ÉLULAS EPITELIAIS                                                            lipídica, as células do túbulo renal absorvem lip í -
                                                                               dios e são chamadas corpos adiposos ovais. Em
Algumas células epiteliais encontradas no sedi-                                geral, são vistas em conjunto com gotículas de
mento urinário resultam da descamação normal                                   gordura que flutuam no sedimento. O exame do
das células velhas, enquanto outras representam                                sedimento com luz polarizada, produz a formação
lesão epitelial por processos inflamatórios ou                                 de imagens características nas gotículas que con-
d o enças renais. São encontradas em três tipos na                             têm colesterol (cruz-d e -malta).
urina:

Células escamosas. São as mais comumente                                       L EUCOCITÚRIA
encontradas na urina e com menor significado.
Provêm do revestimento da vagina, da uretra fe-                                Os leucócitos podem entrar na urina através de
minina e das porções inferiores da uretra mascu-                               qualquer ponto ao longo do trato urinário ou atra-
lina.                                                                          vés de secreções genitais. O aumento no número
                                                                               de leucócitos (>4 por campo) que apresentam ou
Células transicionais ou caudadas. O cálice                                    não fenômenos degenerativos (granulações gro s-
renal, a pelve renal, ureter e bexiga são revestidos                           seiras no citoplasma, inclusão de bactérias etc.) na
por várias camadas de epitélio transicional. Em                                urina é chamado p i ú r i a . A piúria pode expressar-
indivíduos normais, poucas células transicionais                               se pela eliminação de leucócitos isolados ou aglu-
são encontradas na urina e representam descama-                                tinados ou pelo aparecimento na urina de cilindros
ção normal. O número destas células aumenta                                    hialinos com inclusão de leucócitos. Pode resultar
                                                                               de infecções bacterianas ou de outras doen ç a s
260 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



renais ou do trato urinário. As infecções que com-                               no interior do túbulo renal; b) de um pH ácido e c)
preendem pielonefrite, cistite, prostatite e uretrite                            da concentração elevada de substâncias solventes.
podem ser acompanhadas de bactérias ou não,                                      O tamanho dos cilindros pode variar em função do
como no caso da infecção por Chlamydia. A piúria                                 diâmetro do túbulo no qual foram formados. Ci-
também está presente em patologias não infeccio-                                 lindros largos indicam a formação em túbulos
sas, c omo a glomerulonefrite, o lúpus eritematoso                               renais dilatados ou em túbulos coletores. O
sistêmico e os tumores.                                                          a c h ado de muitos cilindros céreos largos indica
                                                                                 pro g nóstico desfavorável. Assim, os tipos de ci-
                                                                                 lindros encontrados no sedimento representam
H EMATÚRIA                                                                       diferentes condições clínicas.

Normalmente as hemácias são encontradas na                                       Cilindros hialinos. São formados pela precip i-
urina de pessoas normais em pequenas quantid a-                                  t ação de uma matriz homogênea de proteína de
d e s . T o d a s a s h e m á c i a s p r e s e n t es n a u r i n a s e o ri-   Tamm-Horsfall e são os mais comumente obser-
ginam do sistema vascular. O número aumentado                                    vados na urina. A presença de 0 a 2 por campo de
de hemácias na urina representa rompimento da                                    pequeno aumento é considerada normal, assim
integridade da barreira vascular, por injúria ou                                 como quantidades elevadas em situações fisiológi-
doença, na membrana glomerular ou no trato g e-                                  cas como exercício físico intenso, febre, desidra-
nitourinário. As condições que resultam em h e-                                  tação e estresse emocional. Estão presentes nas
matúria incluem várias doenças renais como glo -                                 glomerulonefrites, pielonefrites, doença renal
merulonefrites, pielonefrites, cistites, cálculos,                               crônica, anestesia geral e insuficiência cardíaca
tumores e traumas. Qualquer condição que resulte                                 congestiva.
em inflamação ou comprometa a integridade do
sistema vascular pode resultar em hematúria. A                                   Cilindros hemáticos. Os cilindros hemáticos
possibilidade de contaminação menstrual deve ser                                 e s t ã o a s s o c i a d o s a d o e n ç a r e n a l intrínseca. Suas
considerada em amostras colhidas em mulheres. A                                  hemácias são freqüentemente de origem glomeru -
presença de hemácias e também de cilindros na                                    lar, como na glomerulonefrite, mas podem tam-
urina pode ocorrer após exercícios intensos.                                     bém resultar de dano tubular, como na nefrite
     A s v e z e s é n e c e s s á r i a a pesquisa de hemácias                  intersticial aguda. A detecção e monitoramento de
dismórficas para diferenciar entre hematúria d e                                 cilindros hemáticos permite uma medida da avali-
origem glomerular da de origem não glomerular.                                   ação da resposta do paciente ao tratamento. São
A presença de hemácias dismórficas sugere san -                                  também encontrados no exercício físico intenso,
gramento de origem glomerular. As hemácias não                                   nefrite lúpica e hipertensão maligna.
dismórficas (com morfologia normal) são encon -
tradas em urina de pacientes com patologias extra -                              Cilindros leucocitários. Indicam infecção ou
glomerulares. Esta pesquisa necessita de micro s -                               inflamação renal e necessitam de investigação
copia de contraste de fase.                                                      clínica. Quando a origem dos leucócitos é glome-
                                                                                 rular como na glomerulonefrite, encontra -s e n o
                                                                                 sedimento grande quantidade de cilindros leuco -
C ILINDRÚRIA                                                                     citários e cilindros hemáticos. Quando é tubular,
                                                                                 como na pielonefrite, os leucócitos migram para o
São moldes mais ou menos cilíndricos do túbulo
contornado distal e do ducto coletor. O principal                                lúmen tubular e são incorporados na matriz do
                                                                                 c ilindro.
componente dos cilindros é a proteína de Tamm-
Horsfall, que é uma mucoproteína secretada s o -
                                                                                 Cilindros de células epiteliais. Os cilindros
mente pelas células tubulares renais. A presença
                                                                                 epiteliais têm origem no túbulo renal e resultam
de cilindros urinários é chamada cilindrúria. Seu
                                                                                 da descamação das células que os revestem. São
aparecimento é explicado por três fatores: a) da
                                                                                 encontrados após agressões nefrotóxicas ou i s -
concentração e da natureza da proteína exi s t e n t e
Rim e função renal              261



quêmicas sobre o epitélio tubular e podem estar             decomposição dos cilindros de células epiteliais
a s s o c i a d o s a infecções virais como citomegaloví-   que contêm corpos adiposos ovais. Presentes na
rus. São, muitas vezes, observados em conjunto              síndrome nefrótica, nefropatia diabética, doenças
com cilindros de hemácias e leucócitos.                     renais crônicas e glomerulonefrites.

Cilindros granulosos. Podem estar presentes
no sedimento urinário, principalmente após exe r-           M UCO
cício vigoroso. Entretanto, quando aumenta d o s
representam doença renal glomerular ou tubular.             O muco é uma proteína fibrilar produzida pelo
São compostos primariamente de proteína de                  epitélio tubular renal e pelo epitélio vaginal. Não
Tamm-Horsfall. Os grânulos são resultado da                 é considerado clinicamente significativo. O au -
d esintegração de cilindros celulares ou agregados          mento da quantidade de filamentos de muco na
de proteínas plasmáticas, imunocomplexos e glo -            u r i n a e s tá comumente associado à contaminação
b u linas. Encontram-se na estase do fluxo urinário,        vaginal.
estresse, exercício físico e infecção do trato urin á-
rio.                                                        Bibliografia consultada

                                                            Bioinforme 96. Laboratório Sérgio Franco. Rio de Janeiro :
Cilindros céreos. Representam um estágio                       Faulhaber, 1996
avançado do cilindro hialino. Ocorrem quando há             COHEN, E. P., LEMANN Jr, J. The role of the laboratory in
estase prolongada por obstrução tubular e são                 e v a l u a t i o n o f k i d n e y f u n c t i o n . Clin. Chem., 37:785-96,
                                                              1991
freqüentemente chamados cilindros da insuficiê n-
cia renal. São comumente encontrados nos paci-              G R A F F , S . L . Analisis de orina: Atlas color. Buenos Aires
                                                               : Panamericana, 1985. 222 p.
entes com insuficiência renal crônica e também
                                                            LOBATO, O. Valorização clínica do exame comum de urina.
em rejeição de transplantes, hipertensão maligna,             R e v i s t a C A S L , 2 7 :2 3 -3 8 , 1 9 6 5 .
e outras doenças renais agudas (síndrome nefró -
                                                            M E D E I R O S , A . S . Semiologia do exame sumário de urina.
t ica glomerulonefrite aguda).                                 Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1981. 123 p.

                                                            W H I T W O R T H , J . A . , L A W R E N C E J . R . Textbook of renal
Cilindros graxos. São um produto da desinte-                   d i s e a s e . New York : Churchill Livingstone, 1994. 505 p.
gração dos cilindros celulares, produzidos por
262 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




  C ÁLCULOS              URINÁRIOS


   A      litíase renal é uma doença manifestada pela
          formação de cálculo renal. A pr e s e n ç a d e
                                                            é desconhecido. Certas deficiências nutricionais e
                                                            vários estados patológicos parecem desencadear
   cálculos nos rins, ureteres ou bexiga, além de           este mecanismo. A recorência de cálculos prova-
   causar forte dor pode infringir sérios danos teci-       velmente envolve muitos fatores, tais como:
   duais.
        Cálculos são precipitações como agregados de        §   Ingestão reduzida de líquidos (fluxo de urina).
   vários componentes de baixa solubilidade normais
   da urina. Podem ser formados pela combinação de          §   Excreção de quantidades excessivas de sub -
   bactérias, células epiteliais, sais minerais em uma          stâncias relativamente insolúveis (cálcio,
   matriz protéica e muco.                                      ácido úrico, cistina ou xantina).
        Muitas vezes a precipitação de compostos r e-
   lativamente insolúveis é iniciada ou agravada por        §   Talvez a ausência de uma substância na urina,
   infecção, desidratação, excessiva ingestão ou pro-           que sob condições normais inibe a
   dução de compostos, obstrução urin ária e outros             precipitação de alguns destes compostos
   fatores. A maioria dos cálculos consiste de oxa-             insolúveis.
   lato de cálcio (30 % do total), fosfato de cálcio (
   10% do total) ou numa mistura deles (25% do                 Vários tipos de cálculos estão associados com
   total). O fosfato amônio -magnesiano contribui           desordens específicas. São conhecidos vários tipos
   com 25 por cento de todos os cálculos, sendo que         de cálculos segundo a composição:
   o ácido úrico com 5 por cento e a cistina com 2
   por cento.                                               Oxalato de cálcio. São provocados por urina
        Uma vez formado, o cálculo tende a crescer          concentrada, hipercalciúria (intoxicação pela v i-
   por agregação, a menos que seja desalojado e             tamina D, hiperparatireoidismo, sarcoidose), sín -
   d e s ça através do trato urinário para ser excretado.   drome do leite-álcali, câncer, osteoporose, acidose
   Os cálculos maiores podem permanecer no rim ou           tubular renal, hipocitratúria, hiperuricosúria e
   obstruir um ureter do qual deve ser removido por         hiperoxalúria.
   cirurgia.
        A passagem de cálculo para baixo dos ureteres       Fosfato de cálcio. Ocorrem em urinas alcalinas
   produzem dor excruciante aguda do tipo em có-            na acidose tubular renal, ingestão de álcalis e
   lica, localizada no flanco e irradiando-se para a        infecção por bactérias desdobradoras de uréia
   virilha. A hematúria macroscópica é um achado            (ex.: Proteus).
   urinário comum quando os sintomas de cálculos
   estão presentes. Se os cálculos obstruírem a pelve       Fosfato de amônio-magnésio (estruvita). As
   renal ou o ureter, resultará em hidronefrose.            infecções do trato urinário tratados com vários
        Várias investigações mostraram que uma ma-          antibióticos são as principias causas de formação
   triz orgânica parece ser componente essencial a          de cálculos fosfato amônio -magnésio.
   todos os cálculos urinários. Esta matriz mu cóide
   contém 69 por cento de proteínas, 14 por cento de        Ácido úrico. Estão associados à hiperuricosúria
   carboidratos, 12 por cento de componentes inor-          (hiperuricemia, gota, dieta rica em purinas), des i-
   gânicos e 10 por cento de água. O precursor da           dratação e hiperacidez urinária (pH < 5,0).
   matriz é uma proteína encontrada em pequenas
   quantidades na urina humana, a uromucóide. O             Cistina. São encontrados na hipercistinúria e
   mecanismo exato de como a uromucóide é trans -           formam-s e em pacientes com deficiência inata de
   formada em matriz e como agrega compostos o r-           transporte de cistina pelas células dos túbulos
   gânicos e inorgânicos para a formação do cálculo,        renais e intestinos.


                                                                                                            262
Rim e função renal             263



T ESTES LABORATORIAIS NA                              Provas no soro sangüíneo. Cálcio, fósforo,
INVESTIGAÇÃO DE FORMADORES DE                         ácido úrico, creatinina e eletrólitos.

CÁLCULOS                                              Análise do cálculo.

Testes de urina. Exame qualitativo de urina           Exame radiológico. À s v e z e s s ã o e n c o n t r a d o s
(EQU) onde é comum o a presença de hematúria          cálculos assintomáticos.
macroscópica, pesquisa de cistina e urocultura,
dosagens em urina de 24 h de: sódio, cálcio, fó s -   Bibliografia consultada
foro, ácido úrico, oxalatos e depuração de creati-    C O E , F . L . , P A R K S , J . H . , A S P L I N , J . R. The pathogenesis
nina. O pH urinário é útil pois urinas ácidas ten -      and treatment of kidney stones. N Engl. J. Med.,
dem a favorecer a formação de cálculos de ácido          3 2 7 :1 1 4 1 -5 2 , 1 9 9 2 .

úrico enquanto urinas alcalinas dissolve-os. De       KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA,
                                                        Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry:
modo oposto, os cálculos fosfato amônio -magné-         i n t e r p r e ta t i o n a n d t e c h n o q u e s . Baltimore : Williams &
sio ocorrem em pacientes com infecções recor-           Wilkins, 1995. 514 p.
rentes do trato urinário ou com urinas alcalin a s    SAMUELL, C. T., KASIDAS, G. P. Biochemical
persistentes.                                           investigati ons in renal stone formers. Ann. Clin.
                                                        B i o c h e m . , 3 2 :1 1 2 -2 2 , 1 9 9 5 .
                                                      WALMSLEY, R. N., WHITE, G. H. Guide to diagnostic
                                                        clinical chemistry. London : Blackwell, 1994. 672 p.
264 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




   D OENÇAS                    RENAIS


   O    paciente portador de doença renal pode apre-
        sentar uma diversidade de sinais e sintomas                            §   Embolização de coágulo/vegetação.
   pois aparentemente existem inúmeras etiologias de
   disfunção renal. O laboratório clínico é de vital                           §   Embolização ateromatosa em artérias renais
   importância para estabelecer o diagnóstico, trata-                              de pequeno ou médio calibre.
   mento e prognóstico destas enfermidades. A avali-
   ação inicial deve enfatizar a identificação de cau -                           Desenvolve hipertensão secundária, depen -
   sas reversíveis da disfunção renal.                                         dente de renina e a perda progressiva da função
      Os estudos iniciais laboratoriais devem incluir:                         renal em conseqüência da isquemia.

   § Exame qualitativo de urina;                                               Trombose da veia renal. Afeta a veia renal
                                                                               principal e é encontrada comumente nas glome-
   § Dosagem dos eletrólitos (sódio, potássio, clo -                           rulopatias nefróticas, principalmente na nefropatia
       retos, cálcio, magnésio, fosfato);                                      membranosa.

   § D o s a g e m d e c o m p o s t o s n i t r o g e n a d o s n ã o -pro-   Nefrosclerose benigna/maligna. É uma das
       téicos (creatinina, uréia, ácido úrico);                                complicações mais comum da hipertensão essen -
                                                                               cial e constitui uma causa importante de insufic i-
   § Determinação da velocidade de filtração glo -                             ência renal terminal.
       merular (VFG) por meio da depuração da cre a-
       tinina.                                                                    Algumas alterações clínicas que ocorrem na
                                                                               enfermidade vascular incluem a perda parcial da
      Outros testes como a α 2 -microglobulina, pro -                          capacidade de concentração, proteinúria moderada
   teinúria, microalbuminúria hematúria, hemoglobi-                            e um ocasional sedimento urinário anormal. A
   núria e microglobinúria produzem um quadro útil                             velocidade de filtração glomerular pode permane-
   da integridade renal.                                                       cer normal ou levemente reduzida.



   V ASCULOPATIA RENAL                                                         G LOMERULOPATIAS

   Entre as doenças renais mais comuns encontram-                              A proteinúria elevada constitui a característica básica
   se os distúrbios renovasculares, particularmente,                           das glomerulopatias e indica comprometimento na
   nas artérias renais. A disfunção renal, evidenciada                         capacidade do capilar glomerular em reter as
                                                                               macromoléculas do plasma (proteínas). O segundo sinal
   por alterações morfológicas e funcionais, é cau-
                                                                               mais comum de glomerulopatia é a presença de
   s ada principalmente pelo estreitamento ou oclu -
                                                                               hemácias, piócitos e cilindros celulares no sedimento
   sões no sistema arterial que provocam redução na                            urinário; encontra-se associado à inflamação glomerular.
   p e rfusão para o parênquima renal.
        A s p r i n c i p a i s c a u s as da vasculopatia renal são:
                                                                               G LOMERULONEFRITES
   Oclusão da artéria renal. São comuns os casos
   de traumatismo abdominal grave. A oclusão das                               O dano primário na glomerulonefrite é um pro -
   artérias renais também ocorrem:                                             ces so inflamatório que afeta os glomérulos. No
                                                                               en tanto, o dano glomerular eventualmente afeta
   §    Trombose que afeta as artérias principais ou                           t o das as funções renais pelo impedimento do fluxo
        segmentares.                                                           sangüíneo através do sistema vascular peritubular.
Rim e função renal     265



Deste modo, a doença avançada também apresenta                                     S ÍNDROME NEFRÓTICA
d a n o s e s t r u t u r a i s d o s t ú b u l o s , v a s o s s a n g üíneos e
tecido intersticial.                                                               A síndrome nefrótica é uma glomerulonefropatia
     A glomerulonefrite tem numerosas etiologias.                                  caracterizada por proteinúria maciça (>3,5 g/d) e
A doença pode ser primária quando o órgão pre-                                     hipoalbuminemia (geralmente <2,5 g/dL). A fo r-
dominante envolvido é o rim, uma manifestação                                      mação de edema – expansão do componente in -
de uma enfermidade sistêmica ou uma desordem                                       tersticial do volume líquido extracelular – ocorre
hereditária (deficiência de α 1 -antitripsina). As                                 em conseqüência da retenção r enal de sal em pre-
principais características da glomérulo nefrite                                    sença de uma redução da pressão oncótica do
aguda são hematúria, cilindros hemáticos, protei-                                  plasma. A hiperlipidemia (muitas vezes o coleste-
núria, oligúria, azotemia, edema, hipertensão e                                    rol atinge níveis >350 mg/dL) e a lipidúria tam-
deterioração da função renal.                                                      bém estão presentes na síndrome.
       A glomerulonefrite crônica é a d e s i g n a ç ã o                              As glomerulopatias associadas à síndrome
dada a vários distúrbios que pro duzem lesões r e-                                 n efrótica são:
cidivantes ou permanentes nos glomérulos. É a
causa mais comum de insuficiência renal crônica e                                  Nefropa t i a d e a l t e r a ç ã o m í n i m a . Também
requer diálise ou transplante renal.                                               conhecido como lesão nula, nefrose lipóide. Idio -
     As enfermidades glomerulares são muitas v e-                                  pática, secundária: linfoma de Hodgkin. Esta n e-
zes mediadas imunologicamente com formação de                                      fropatia é comum em crianças. Apresenta sedi-
imuno-complexos circulantes que podem ser reti-                                    mento urinário “brando” (sem cilindros hemáti-
dos na parede capilar glomerular durante a ultra-                                  cos), função renal normal e teores de comple-
filtração (glomerulonefrite de progressão rápida)                                  mentos normais.
freqüentemente como complicação de outra forma
de glomerulonefrite ou de algum outro distúrbio,                                   Glomerulopatia membranosa (nefropatia epi-
como o lúpus eritematoso sistêmico. Por outro                                      ou perimembranosa). Idiopática, secundária: in -
lado, doenças tubulares e intersticiais são as vezes                               fecções (hepatite B, sífilis), neoplasias (carcinoma
causadas por agentes tóxicos ou infecciosos. Os                                    de pulmão, estômago, mama), drogas (ouro, D-
complexos imunes na glomerulonefrite causam                                        penicilamina) e colagenoses (lúpus eritemato s o
proliferação celular, infiltração leucocítica e le-                                sistêmico, artrite reumatóide, doença mista do
sões no glomérulo. A deposição de complexo                                         tecido conjuntivo).
imu n e é e n c o n t r a d o a p ó s i n f e c ç ã o p ó s -estreptocó-
                                                                                   Esclerose glomerular focal (glomeruloescle-
cica, quando o antígeno é estranho ao rim. Isto
                                                                                   rose focal e segmentar, glomerulopatia esclero -
contrasta com a síndrome de Goodpastu r e o n d e o
anticorpo do complexo imune deposit ado no glo -                                   sante focal). Idiopática, secundária (abuso de h e-
                                                                                   roína, nefropatia por refluxo vesicoureteral
mérulo é formado contra a membrana basal glo -
                                                                                   crônico, síndrome de imunodeficiência adquirida
merular (anticorpos anti-MBG). Lesões renais no
lupus eritematoso sistêmico são causadas pela                                      – AIDS).
deposição de complexos DNA -a n t i-DNA no glo -
                                                                                   Glomeruloesclerose diabética. É a c a u s a
mérulo. Outras causas de danos glomerulares in -
                                                                                   mais importante de doença renal terminal. Apre-
cluem diabetes mellitus, amiloidose, mielo ma
                                                                                   senta albuminúria persistente (>300 mg/d), declí -
múltiplo e síndrome de Alport. Este último é uma
                                                                                   nio da taxa de filtração glomerular e hipertensão
d e sordem genética caracterizada por ocorrê n cia
                                                                                   arterial. Em 15-20% dos pacientes com nefropatia
familiar, em sucessivas gerações, de nefrite pro -
                                                                                   diabética é encontrada a glomeruloesclerose n o -
gressiva com danos glomerulares, perda de audi-
                                                                                   dular de Kimmelstiel-W i l s o n .
ção e defeitos oculares. O sinal mais comum é a
hematúria.
                                                                                   Amiloidose. Amilóide idiopático, amilóide se-
                                                                                   cundário: mieloma múltiplo, infecção crônica-
                                                                                   osteomielite, tuberculose e febre familiar do me-
266 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



diterrâneo. O diagnóstico depende de biópsia teci-    história de diabe t e s e h i p e r t e n s ã o é c o n s i s t e n t e
dual.                                                 com a síndrome de Kimmelstiel-W i l s o n .

Crioglobulinemia mista essencial. São com-
postos de fator reumatóide IgM monoclonal e IgG       S ÍNDROME NEFRÍTICA
policlonal. Muitos destes pacientes têm uma in -
fecção crônica subjacente pelo vírus de hepatite      A síndrome nefrítica descreve um quadro de lesão
C.                                                    glomerular caracterizada pela presença súbita de
                                                      hematúria com cilindros hemáticos ou erit ró citos
Glomerulopatia membranoproliferativa ti -             dismórficos e proteinúria indicando origem renal.
pos I, II e III. (mesangiocapilar, hipocomple-        Está associada à retenção de sódio e água que
mentêmica). Apresentam proteinúria com sedi-          resulta em hipertensão e edema. A insuficiê n cia
mento urinário “ativo” (presença de cilindros h e-    cardíaca é também encontrada com proteinúria
máticos).                                             entre moderada e severa.
                                                         As glomerulopatias associadas às síndromes
Glomerulopatia mesangioproliferativa. Ne-             nefríticas são:
fropatia por IgA/IgG (doença de Berger), n ã o-IgA,
lúpus eritematoso sistêmico, púrpura anafilac-        Glomerulonefrite pós-infecciosa aguda.
t ó ide.                                              Ocorre por complicações pós-infecciosa por (a)
                                                      e s t r e p t o c o c o s β-hemolíticos do grupo A, (b) in -
Diagnóstico laboratorial. A síndrome nefrótica        fecções bacterianas não-estreptocócicas (ex.: esta-
pode ocorrer como uma lesão renal primária ou         filocócica, pneumocócica), infecções virais (e x.:
um componente secundário de uma doença sistê-         caxumba, varicela, hepatite B, vírus de coxsackie,
mica.                                                 mononucleose infecciosa), infecção por protozo á-
   A proteinúria intensa pode exceder a 10 g/d,       rios (ex.: malária, toxoplasmose) e várias outras
em ra zão do aumento da permeabilidade glome-         (ex.: esquitossomose, sífilis), (c) associada à en -
rular principalmente para a albumina. A nefropatia    docardite infecciosa, (d) associada a um abscesso
de alteração mínima é mais comum em crianças.         v isceral (ex.: abscessos pulmonares).
Apesar dos sínais clínicos alarmantes, estes paci-
entes geralmente respondem bem à terapia por          Glomerulonefrite rapidamente progressiva.
corticoesteróide. Os níveis de uréia e creatinina     É uma síndrome caracterizada por hematúria ori-
séricos muitas vezes estão normais. A glomérulo -     ginária do néfron (cilindros hemáticos e/ou hemá-
patia membranosa, por outro lado, ocorre com          cias dismórficas) com o rápido desnvolvimento de
maior freqüência em adultos. Muitos destes paci-      insuficiência renal (durante sema nas ou meses) e a
entes progridem para a insuficiência renal.           formação glomerular difusa de crescentes na bió p-
   A hipoproteínemia é um reflexo da perda uri-       sia renal. A gromerulonefrite pode ser (a) mediada
nária de proteínas na sindrome nefrótica. A hiper-    por anticorpos anti-MBG (ex.: síndrome de Go o -
lipidemia é causada pelo estímulo da síntese de       dpasture), (b) glomerulonefrite mediada por
LDL no fígado, secundária à redução dos níveis de     imunocomplexos, (c) glomerulonefrite não-medi-
albumina sérica.                                      a d a imunologicamente.
   O sedimento urinário apresenta corpos gord u -
rosos ovais, gotas de gordura livre e cilindro s      Outras glomerulonefrites. Síndrome hemolí -
graxos, com lipidúria secundária a hiperlipidemia.    t ic o -urêmica, nefrite hereditária (síndrome de
A hematúria é geralmente insignificante, mas          A lport), vasculites: granulomatose de Wegener,
quando presente é sugestiva de lúpus eritematoso      p eriartrite nodosa.
sistêmico. Considera -se um sedimento urinário
“ativo” a presença de cilindros hemáticos. Uma           Certas glomerulopatias apresentam um quadro
                                                      clínico misto. Os sintomas nefrótic os ou nefríticos
                                                      podem dominar o quadro clínico, porém é fre-
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  • 1. 16 Volume VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Rim e Função Renal
  • 2. R IM E FUNÇÃO RENAL A regulação dos líquidos e eletrólitos e a elimi- n a ç ã o d o s r e s í d u o s m e t a b ó l i c o s s ã o e s s e n c i- A ultrafiltração é a passagem seletiva de p e- quenas moléculas, água ou íons pela estrutura ais à homeostase corpórea. O sistema renal exerce capilar denominada d e glomérulo n a p o r ç ã o d o papel fundamental na realização destas funções. O néfron conhecida como e s p a ç o d e B o w m a n . sistema urinário consiste de rins, ureteres, bexiga A reabsorção é o movimento de substâncias e uretra. Os rins são os componentes fisiologic a- para fora do lúmem tubular do néfron e para os mente dinâmicos do sistema realizando muitas capilares renais circundantes ou para o interstício. funções, incluindo a formação da urina. São cinco Isto significa que os rins conservam ou “reciclam” as funções primárias do rim: nutrientes essenciais ou partículas filtradas. A secreção é o movimento de partículas dos § Eliminar resíduos metabólicos (uréia, creati- capilares renais ou interstício p a r a o lúmem do n in a, ácido úrico, ácidos orgânicos, bilirrubina néfron. As partículas secretadas entram no néfron conjugada, drogas e toxinas). tanto por filtração como secreção, ou ambos. T o - d o s e s t e s p r o cessos ocorrem simultaneamente e é § Reter nutrientes (proteínas, aminoácidos, gli- a estrutura especializada do néfron que os pro - cose, sódio, cálcio, cloretos, bicarbonato e mo ve. água). O estudo da função renal visa avaliar: § Regular o equilíbrio eletrolítico no líquido § Filtração glomerular. Esta função é que me- intersticial controlando, simultaneamente, o lhor se correlaciona com a capacidade dos rins movimento e a perda de água ao nível celular em manter a composição dos líquidos corp ó - em colaboração com a pele e os pulmões. reos. § Síntetizar eritropoietina, renina, prostaglandi- § F l u x o s a n g ü í n e o r e n a l . É a que mantém a h o - nas e 1,25-diidroxicolecalciferol (forma ativa meostase adequada, portanto, que exista fluxo da vitamina D). sangüíneo suficiente. § F u n ç ã o t u b u l a r . É bastante complexa pelas F UNÇÕES DOS NÉFRONS diferentes ações realizadas pelos túbulos. O néfron é a unidade organizacional básica do rim e consiste num leito capilar especializado – o U RINA glomérulo envolvido pelo epitélio urinário – cá- p sula de Bowman – e c o n e c t a d o a u m a s u c e s s ã o A urina é uma solução formada p elo rim, o princi- de segmentos epiteliais especializados – o s pal órgão excretor do organismo que mantém túbulos. Cada rim humano contém cerca de 1,2 milhão de néfrons. constante o volume, a composição química, o pH e a pressão osmótica dos líquidos do corpo. O néfron é responsável por dois processos em O suprimento de sangue da unidade funcional é série: ultrafiltração glomerular e a reabso r- ção/secreção tubular. realizado pelas a r t e r í o l a s aferentes (ao redor de 247
  • 3. 248 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 1.200 mL/minuto de sangue total passa pelos dois O hormônio antidiurético (HAD) controla a r e- rins de um adulto normal) que dá origem a um absorção da água para estabelecer o equilíbrio grande número de capilares dentro do glomérulo. osmó tico. Estes capilares se unem para formar as arteríolas eferentes que compõe a rede capilar que abastece 5 No túbulo coletor se processa a transformação o tecido tubular adjacente. final do filtrado em urina hipertônica. O vo- A formação de urina é um processo que en- lu me é 1,0 mL/min. v o lve ultrafiltração, secreção e reabsorção de comp o nentes essenciais. Estes processos são con- O volume da diurese normal, em adultos, varia trolados pela pressão osmótica e hidrostática, pelo entre 800 a 1.800 mL em 24 h. Estes valores estão s u p rimento de sangue renal e pela secreção de sujeitos a variações, pois são influenciados p e l o h o rmônios. Resumidamente, o mecanismo de for- volume corporal, consumo de 1íquidos, sudoração mação de urina consiste: e temperatura ambiente. Em crianças, a diurese é maior que no adulto em proporção ao volume cor- 1 Filtração do plasma sangüíneo pelo glomérulo, poral. O volume urinário de 24 horas em várias na velocidade de 130 mL por minuto, com a idades é dado na tabela 9.1.. formação de ultra -filtrado com todos os cons - tituintes plasmáticos, exceto (quase totalmente) Tabela.11.2. V o l u m e u r i n á r i o d e 2 4 h o r a s e m r e lação a p r o t e í n a s e s u b s t â n cias ligadas a elas. idade. Idade Volume urinário de 24 h (mL) 2 No túbulo proximal: 1 a 2 dias 30 a 60 3 a 10 dias 100 a 300 § Reabsorção passiva de algumas substâncias, 10 a 60 dias 250 a 450 tais como glicose, creatinina, aminoácidos, 60 a 360 dias 400 a 500 vitamina C, lactato, piruvato etc., pelas c é- 1 a 3 anos 500 a 600 lulas tubulares. 3 a 5 anos 600 a 700 5 a 8 anos 650 a 1400 § Secreção ativa de algumas substâncias pelas 8 a 14 anos 800 a 1400 células tubulares renai s e / o u s e c r e ç ã o d e materiais derivados do líquido intersticial O volume de urina formado durante a noite é peritubular. menor que o diurno (proporção de aproximada- mente 1:3). Em condições patológicas (exemplo: § Reabsorção isotônica de 8% da água do insuficiência renal) a eliminação noturna pode filtrado, além de cloretos, sódio, potás sio, aumentar, tornando-a maior que a diurna (nictú - fósforo e outros eletrólitos. A reabsorç ã o destas substâncias é obrigatória e independe ria). Um volume urinário maior que 2.000 mL/d é das n e c e s s i d a d e s d o o r g a n i s m o . denominado de p o l i ú r i a enquanto uma excreção 3 Nos ramos descendente e ascendente da alça de menor que 500 mL/d chama -s e o l i g ú r i a . As prin - Henle acontece uma reabsorção adicional de cipais causas de poliúria são: grande ingestão de água, pelo mecanismo de troca de contracor- líquidos (polidipsia), insuficiência renal crônica, rente. Por conseguinte, o volume inicial é re- diabetes mellitus, diabetes insípido, aldostero - duzido a 13-16 mL/minuto. n is mo primário e mobilização de líquido previa - mente acumulado em edemas. A oligúria é encon- 4 O túbulo distal realiza o ajuste da concentração trada na redução de ingestão de água, desidratação de eletrólitos de acordo com as necessidades (dia rréia, vômitos prolongados, sudoração exces - orgânicas. O sódio pode ser removido sob a i n- siva) sem a reposição adequada de líquidos, is - fluência do sistema aldosterona-angiotensina. quemia renal, reações de transfusão, pielonefrite, disfu n ção glomerular, obstrução e agentes tóxicos.
  • 4. Rim e função renal 249 i n t e r p r e ta t i o n a n d t e c h n o q u e s . 4 e d . B a l t i m o r e : Em várias causas renais ou pré -renais a diurese Wi l l i a m s & Wi l k i n s , 1 9 9 5 . 5 1 4 p . pode cessar completamente (anúria). MARSHALL, William. Clinical chemistry: na ilustrated o u t l i n e . N e w Y o r k : G o w e r-M o s n , 1 9 9 1 . 1 7 6 p . Bibliografia consultada M A Y N E , P h i l i p D . , D A Y , A n d r e w P . Workbook of clinical chemistry: case presentation and data interpretation. ANDREOLI, Thomas E., BENNETT, J. Claude, New York : Oxford University Press, 1994. 2 0 8 p . CARPENTER, Charles C. J., PLUM, Fred. Cecil M e d i c i n a i n t e r n a b á s i c a . Rio de Janeiro : Guanabara - WALMSLEY, R. N., WHITE, G. H. Guide to diagnostic K o o g a n , 1 9 9 7 . p . 1 7 1 -2 4 1 . clinical chemistry. London : Blackwell, 1994. 672 p. KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA, Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry:
  • 5. 250 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações EXAME QUALITATIVO DE URINA O exame qualitativo de urina (EQU) é um c o n j u n t o d e p r o v a s n ã o -invasivas e baratas necer rapidamente uma série de parâmetros na u rina. Os mais comuns são as tiras reagentes q u e que fornecem informações sobre várias funções possuem substâncias químicas fixadas a uma tira metabólicas do organismo. É útil no diagnóstico e plástica, revelando a positividade dos testes por tratamento de doença renal ou do trato urinário modificações de cor. como, também, na detecção de doenças metabóli- São encontradas no comércio tiras simples cas ou sistêmicas não relacionadas com o rim. O (para a pesquisa de um único parâmetro na urin a) teste consiste na verificação da cor e aspecto da e múltiplas (que permitem a avaliação simultânea amostra; determinação do pH e densidade; pes - de vários componentes). Com a finalidade de o b - q u isa de proteínas, glicose, corpos cetônicos, uro - ter resultados confiáveis com as tiras reagentes, bilinogênio, bilirrubina, sangue, nitrito e leucócito devem ser tomadas certas precauções: as tiras não esterase, além de sedimentoscopia. devem ser expostas á luz direta do sol, ao calor, a meios úmidos e a substâncias voláteis. Devem ser armazenadas no frasco original. Retirar somente a C OLETA DA URINA quantidade de fitas necessárias para a bateria de exames, a seguir, fechar hermeticamente o frasco. A primeira urina da manhã é recomendada para o Quando as áreas reativas não apresentam a mesma EQU pois é mais concentrada, o que garante a cor “negativa” impressa na escala cromática que detecção de substâncias e elementos figurados que acompanha o produto, as tiras devem ser descart a- podem estar ausentes em amostras aleatórias mais das. O uso das fitas é realizado como segue: diluídas. Antes da coleta, os genitais devem ser limpos com uma solução antisséptica suave ou § Submergir (no máximo um segundo) comple- pelo emprego de água e sabão neutro. A mulher tamente as áreas reativas da tira em urina re- deve manter os grandes lábios afastados no mo - centemente emitida (se a urina estiver refrig e- mento da micção. Desprezar a primeira e última rada, deixar adquirir a temperatura ambiente), porção da micção e recolher o jato médio. A bem misturada e sem centrifugar. amostra deve ser colhida em recipiente descart á- vel, limpo e seco. Com isso evita-se a possibili- § Eliminar o excesso de urina encostando a borda d ade de contaminação decorrente da lavagem in - lateral da tira ao frasco que contém a amostra. c o rreta de frascos reutilizáveis. O recipiente da amostra deve ser etiquetado com o nome do paci- § No tempo apropriado, comparar a cor das áreas ente, data e hora da coleta além de outras info r- reativas com a escala cromátic a correspon- mações pertinentes. d e n te. Fazer a leitura em local com boa ilumi - A análise da urina deve ser realizada até uma n aç ã o . hora após a coleta. Refrigerar no máximo por 4 horas a amostra quando não examinada imediata- mente, mas deixar adquirir temperatura ambiente C OR a n t e s d e p r o c e d e r o s t e s t e s . A u r i n a d e v e ser isenta de contaminações vaginais ou fecais. A cor da urina emitida por indivíduos normais varia de amarelo -citrino a amarelo âmbar fraco, segundo a concentração dos pigmentos urocrômi- T IRAS REAGENTES cos e, em menor medida, da urobilina, uroeritrina, uroporfirinas, riboflavinas, etc. Nas últimas décadas foram desenvolvidos vários Quando em repouso, a urina escurece prova- sistemas analíticos simplificados capazes de fo r- velmente pela oxidação do urobilinogênio. 250
  • 6. Rim e função renal 251 Existem vários fatores e constituintes que p o - A SPECTO dem alterar a cor da urina, incluindo substâncias ingeridas, atividade física, assim como diversos Geralmente, a urina normal e recentemente emi - compostos presentes em situações patológicas. O t ida é límpida. Nas urinas alcalinas é freqüente o exame da cor da urina deve ser realizado empre- aparecimento de opacidade por precipitação de gando uma boa fonte de luz, olhando através de fosfatos amorfos – ocasionalmente carbonatos – recipiente de vidro transparente contra um fundo na forma de névoa branca. A adição de algumas branco. As cores comumente encontradas são: gotas de ácido acético dis s o l v e o s f o s f a t o s e o s carbonatos. A urina ácida normal também pode Amarelo-claro ou incolor. É encontrado em mostrar-se opaca devido à precipitação de uratos pacientes poliúricos, diabetes mellitus, diabetes amorfos, cristais de oxalato de cálcio ou de ácido insípido, insuficiência renal avançada, elevado úrico. Muitas vezes, o aspecto da urina ácida le m- consumo de líquidos, medicação diurética e in - bra pó de tijolo, provocado pelo acúmulo de pig - gestão de álcool. mento róseo de uroeritrina na superfície dos cris - tais. A uroeritrina é um componente normal na Amarelo-escuro ou castanho. É freqüente nos urina. A turvação provocada pelos uratos pode ser estados oligúricos, anemia perniciosa, estados dissolvida por aquecimento da urina a 60 0 C. febris, início das icterícia (presença anormal de A turvação comumente é causada por leucó - bilirrubina), exercício vigoroso e ingestão de arg i- citos, hemácias, células epiteliais ou bactérias. Os rol, mepacrina, ruibarbo e furandantoínas. leucócitos formam precipitados semelhantes aos provocados pelos fosfatos mas não se dissolvem A l a r a n j a d a o u a v e r m e l h a d a . É comum em pela adição de ácido acético; a presença de leucó- p r e s e n ça de hematúria, hemoglobinúria, mioglobi- citos é confirmada pela sedimentoscopia. A bacte- núria, icterícias hemolíticas, porfirinúrias e no riúria produz opalescência uniforme que não é emprego de anilina, eosina, fenolftaleína, rifocina, removida pela acidificação; de modo geral, estas sulfanol, tetranol, trional, xantonina, beterraba, urinas apresentam cheiro amoniacal pelo desdo - vitamina A, derivados de piridina, nitrofurantoína, bramento da uréia pelas bactérias. A presença de fenindio na e contaminação menstrual. hemácias (hematúria) promove turvação que é confirmada microscopicamente. Marrom-escuro ou enegrecida . (“Cerveja Espermatozóides e líquido prostático causam preta”) ocorre no carcinoma de bexiga (“borra de turvação que pode ser clarificada por acidificação café”), glomerulonefrite aguda, meta-hemoglobi- ou aquecimento. O líquido prostático normalmente núria, alcaptonúria (ácido homogentís ico), febres contém alguns leucócitos e outros elementos. A palustres, melanoma maligno e no uso de me til- mucina pode causar filamentos e depósito volu - dopa ou levodopa, metronidazol, argirol e salici- moso, sobretudo nos estados infla matórios do latos. trato urinário inferior ou trato genital. Algumas vezes a urina apresenta aspecto turvo Azulada ou esverdeada . Deve-se a infecção em razão de coágulos sangüíneos, pedaços de por pseudomonas, icterícias antigas, tifo, cólera e tecido, lipídios, levedura, pequenos cálculos, pus, pela utilização de azul de Evans, azul de metileno, material fecal, talco, antissépticos, cremes vagi- riboflavina, amitriptilina, metocarbamol, cloretos, n a i s e c o n trastes radiológicos. São ainda causas de indican, fenol e santonina (em pH ácido). turvação a presença de linfa e glóbulos de gor- d u ra. Esbranquiçada ou branco leitosa . Está pre- O a s p e c t o d a u r i n a é o b s e r v a d o a p ó s a h o mo - sente na quilúria, lipidúria maciça, hiperoxalúria geinização da mesma. A urina se apresenta lím- primária, fosfatúria e enfermidades purulentas do p ida, opaca, leitosa, levemente turva, turva ou trato urinário. fo rtemente turva. A verificação também da pre - sença de componentes anormais como coágulos,
  • 7. 252 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações muco ou pedaços de tecido é de importância para t ido giratório, movimentar o mesmo para impedir d iag n ó s t i c o . o contato com as paredes da proveta. Fazer a lei- tura ao nível da parte inferior do me n i s c o . Geralmente os urodensímetros estão calibrados D ENSIDADE a uma temperatura específica de 20 0 C. Para leit u - ras realizadas em outras temperaturas faz-s e a A densidade é uma função direta, mas não propor- seguinte correção: somar 0,001 à leitura para cada cional, do número de partículas na urina. A con - 3 0 C acima da temperatura de calibração e subtrair centração de solutos na urina varia com a ingestão 0,001 para cada 3 0 C abaixo da calibração. de água e solutos, o estado das células tubulares e Para determinações mais exatas, faz-se a corre- a influência do hormônio antidiurético (HAD) ção para o teor de proteína ou glicose presente. sobre a reabsorção de água nos túbulos distais. A Subtrair 0,003 da leitura para cada l,0 g/dL de incapacidade de concentrar ou diluir a urina é uma proteína na urina. Subtrair 0,004 para cada 1,0 indicação de enfermidade renal ou deficiência g/dL de glicose na urin a. hormonal (HAD). Em condições normais (dieta e ingestão de líquidos habituais) o adulto produz urinas com R EFRACTÔMETRO densidades de 1.015 a 1.025 num período de 24 horas. Para uma amostra de urina ao acaso, a d e n - O refractômetro mede o índice de refração, relaci- sidade pode variar de 1.002 a 1.030. onado ao conteúdo de sólidos totais dissolvidos na urina. O índice de refração é a relação entre a Densidade urinária aumentada. É encontrada velocidade da luz no ar e a velocidade da luz na na amiloidose renal, diabetes pancreático, enfe r- solução. Esta relação varia diretamente com o midade de Addison, hipersecreção descontrolada número de partículas dissolvidas na urina e é pro- de HAD (mixedema, porfiria, abscesso cerebral, porcional à densidade. A vantagem desta determi- meningite tuberculosa), nefropatia obstrutiva, nação é o emprego de pequenas quantidades de nefropatia vasomotora, obesidade, oligúria funci- amostras (algumas gotas). onal (estados febris, desidratação, terapia com Como ocorre com a densidade, o índice de diuréticos, hipoproteinemia), politraumatismo, refração varia com a temperatura, entretanto os p ó s -operatório imediato e síndrome hepatorrenal. equipamentos modernos são compensados entre 15,5 e 37,7 0 C, não sendo necessário efetuar cor- Densidade urinária diminuída. São freqüentes reções dentro estes limites. no alcoolismo agudo, aldosteronismo primário, anemia falciforme, diabetes insípido, fase inicial e Tiras reagentes. Com a elevação da concentração dos final da insuficiência renal crônica, pielonefrite eletrólitos na urina, os reagentes na fita liberam íons crônica e tuberculose renal. hidrogênio, causando a redução do pH e a subseqüente reação proporcional à densidade. A prova se baseia na modificação de pKa de U RODENSÍMETRO certos poliácidos (polimetil vinil/anidrido ma - lé ico) que reagem com íons positivos na urina O urin odensímetro é um dispositivo flutuador que (sódio etc) de tal modo que os grupos ácidos vizi- possui uma escala graduada (1,000 a 1,040) em nhos na molécula se dissociam, liberando íons sua haste, destinado à avaliação da densidade na hidrogênio e baixando o pH. A área reativa con- urina tém um indicador – o azul de bromotimol – q u e A medida da densidade é realizada pela colo - mede a alteraç ã o d e p H c o r r e s p o n d e n t e a o c o n t e - cação da urina em proveta de dimensões adequa- údo de sal o u à densidade. das. Evitar a formação de espuma com o emprego As cores da área reagente variam desde o azul de papel de filtro. O urinômetro é submergido na intenso em urinas de baixa concentração até o urina e por meio de um pequeno impulso no sen-
  • 8. Rim e função renal 253 amarelo em amostras de maior concentração § p H u r i n á r i o b a i x o . Várias condições determi- iônica. n am a acidez urinária (pH baixo), dentre as quais citam-se: acidose metabólica (acidose d i- abética, diarréias graves, desnutrição), acidose O SMOMETRIA respiratória, clima quente, dieta protéica, fe- nilcetonúria, intoxicação pelo álcool metílico, A osmometria mede a concentração de um soluto intoxicação pela salic ilato, medicações acidifi- em um líquido. A capacidade renal de diluir e cantes (cloreto de amônio), tuberculose renal e concentrar urina é melhor avaliada pela medida da urina matinal. o s m o l a l i d a d e – concentração de partículas osmo- ticamente ativas por massa de solvente – na urina. § p H u r i n á r i o e l e v a d o . A alcalinidade urinária O osmômetro é o aparelho para medir a osmola- (pH alto) é comum na acidose tubular renal, a l- lidade. Os valores de referência estão entre 300 a calose metabólica e/ou respiratória, aldostero- 900 mOsm/kg de água. nismo primário, deficiência potássica, dieta O rim é capaz de excretar urina com concen - vegetariana, diuréticos que inibem a anidrase trações variadas através da ação dos túbulos r e- carbônica, infecções urinárias provocadas por nais. Nos estados de carência de água, o ADH bactérias que desdobram a uréia em amônia estimula a conservação de água ao máximo (reab - (Proteus mirabilis), síndrome de Addison, sorção do solvente aumentada), d e tal forma que a u rin a p ó s -prandial e urina vespertina. A de- urina pode chegar a atingir uma alta osmolalidade mora na análise da urina não refrigerada pela de 1.200 mOsm/kg. Com uma ingestão excessiva ação de bactérias. de água, a diluição máxima pode produzir uma osmolalidade tão baixa quanto 50 mOsm/kg. Na Na conduta de problemas clínicos específicos, infância e nas idades avançadas, estes valores o pH urinário deve ser mantido constantemente difere m; para aqueles pacientes com mais de 65 elevado ou diminuído, seja por meio de regimes anos, geralmente não conseguem obter concentra- dietéticos e/ou medicamentos. O efeito de certas ções máximas acima de 700 mOsm/kg, enquanto a drogas também dependem do pH urinário, habilidade de diluição máxima, freqüentemente S i t u a ç õ e s q u e e x i g e m u r i n a s á c i d a s: tratamento não é menor do que 100 a 150 mOsm/kg. dos cálculos urinários de fosfato amoníaco-mag- nesiano, fosfato ou carbonato de cálcio; nas infec- ções do trato urinário e, de modo especial, na- PH quelas causadas por germes desdobradores da u réia; durante o tratamento com mandelato de O pH urinário reflete a capacidade do rim em metenamina, tetraciclina e nitrofurantoínas, as manter a concentração normal dos íons hidrogênio quais têm maior efeito terapêutico em urinas áci- no liquido extracelular. Para conservar um pH das. constante no sangue (ao redor de 7,4), o glomé- S i t u a ç õ e s q u e e x i g e m u r i n a s a l c a l i n a s: trata- rulo excreta vários ácidos produzidos pela ativ i- mento dos cálculos urinários de ácido úrico ou dade metabólica, tais como ácidos sulfúrico, fo s - c i s t i n a ; n o c o n t role das intoxicações por salicila- fórico, clorídrico, pirúvico, láctico e cítrico além tos; durante o tratamento com sulfonamidas (para de corpos cetônicos. Estes ácidos são excretados prevenir a precipitação de cristais da droga no principalmente com o sódio. Nas células tubulares trato urinário), estreptomicina, cloranfenicol e o s í o n s h i d r o g ê n i o s ã o t r o c a d o s p e l o s ó d i o p re- canamicina. sente no filtrado glomerular e a urina torna-s e O pH é determinado pelo emprego dos indic a- ácida. Os íons hidrogênio são também excretados dores vermelho de me tila e azul de bromotimol, como íons amônio. Normalmente, o pH da urina que permitem a diferenciação de valores de meia varia entre 4,5 e 8,0. Níveis abaixo ou acima des - unidade entre 5 e 9. Este teste compõe as tiras tes valores não são fisiologicamente possíveis. reativas encontradas no comércio.
  • 9. 254 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações P ROTEÍNAS acético e ácido acético. O ácido sulfossalicílico é o ácido mais freqüentemente empregado pois não Tiras reagentes. A p r e s e n ç a d e p r o t e í n a s n a necessita o uso de calor. São utilizadas as mais urina é detectada pela modificação da cor de uma distintas concentrações e proporções deste ácido e área na fita reativa impregnada com azul de te- cada uma delas com diferentes escalas de result a- trabromofenol tamponado ou com tetraclorofenol- dos. tetrabtomosulfotaleína tamponado em pH ácido. A O significado clínico da proteinúria foi tratado área apresenta cor amarela que modifica para no capítulo Aminoácidos e Proteínas. Em resumo, v e rde ou azul em presença de proteínas. A inten- tem-se lesão da membrana glomerular (distúrbios sid ade de cor é proporcional a quantidade de pro - do complexo imune, amiloidose, agentes tóxicos); teínas presentes. Permanecendo inalterado o pH, comprometimento da reabsorção tubular; mieloma a s p ro teínas provocam uma pseudoviragem do múltiplo; nefropatia diabética; pré -eclâmpsia; indicador (erro protéico dos indicadores). proteinúria ortostática ou postural. O “erro protéico dos indicadores” é mais ou meno s p r o n u n c i a d o s e g u n d o o n ú m e r o d e g r u p o s amino livres nas diversas frações protéicas. É P ROTEINÚRIA DE B ENCE J ONES mais intenso para a albumina e débil para as glo - bulinas, glicoproteínas, mucoproteínas etc. As Pacientes com mieloma múltiplo – distúrbio proli- proteínas de Bence-Jones não mostram, na prática, ferativo dos plasmócitos produtores de imunogo - erro protéico. Centrifugar as urinas que destinam- bulinas – apres entam teores muito elevados de se a este teste e que apresentam macrohematúria. imunoglobulinas monoclonais de cadeias leves O teste deve ser realizado conforme o indicado (proteínas de Bence Jones). Esta proteína de baixa acima, com a avaliação proposta pelo fabricante. massa molecular é filtrada em níveis que ultrapas- O resultado é semi -quantitativo e expresso em sam a capacidade de reabsorção tubular, com e x- c ru z e s : creção na urina. A p r o t e í n a d e Bence Jones coagula em temp e- Resultado em cruzes Resultado em mg/dL raturas situadas entre 40-60 0 C, dissolvendo-s e Traços <50 quando a temperatura atinge 100 0 C. Deste modo, + <100 quando a amostra de urina fica opaca entre 40-60 ++ <150 0 C e transparente a 100 0 C, há indícios da pre - +++ >150 s en ça de proteína de Bence Jones. M uitos pacien- tes não produzem quantidades detectáveis de pro - Resultados falsos positivo são encontrados nas t e í nas de Bence Jones na urina, sendo que a quan- urinas muito alcalinas (pH acima de 9), elimin a- t idade excretada aumenta com a lesão tubular. ção de polivinilpirrolidona (expansor do plasma), Para o diagnóstico executa-se a dosagem de pro - alcalóides em geral, compostos com radicais de teínas e imunoeletroforese tanto na urina como no amônio quaternário (detergentes) e alcalóides em s o ro . geral. Resultados falsos negativso ocorrem na protei- núria de Bence-Jones, globinúria predominante e G LICOSE urinas conservadas com ácidos minerais fortes. Os açúcares são componentes normais na urina. Teste químico. Os testes químicos para detectar Sendo moléculas pequenas, a glicose e outros as proteínas na urin a são geralmente baseadas na açúcares são facilmente filtrados através do glo - precipitação pelo calor ou por reação com preci- mérulos. Para evitar a perda, os carboidratos são pitantes aniônicos. Os mais empregados são: coa- r e a b s o r v i d o s p o r mecanismos de transporte ativo gulação pelo calor; ácido nítrico concentrado nas células do túbulos proximais. Este mecanismo (anel de Heller); ácido nítrico + sulfato de magné- é bastante eficiente e remove quase toda a glicose sio (Robert); ácido sulfossalicílico; ácido tricloro- normalmente filtrada pelo glomérulo. Quando a
  • 10. Rim e função renal 255 concentração de glicose plasmática ultrapassa 180 redutora na urina. O teste comumente usado é o de mg/dL, a capacidade de reabsorção é excedida e o Benedict baseado na reação de uma solução alca- açúcar passa para a urina. Mesmo com teores lina de sulfato de cobre, a quente, que oxida as normais de glicose sangüínea, algum açúcar pode substâncias redutoras na urina (glicose, galactose, ser encontrado na urina, pois é impossível aos frutose, maltose, lactose, xilulose, arabinose, ri- túbulos serem totalmente eficientes na capacidade bose), com a redução do íon cúprico a íon cu- de reabsorção. proso, resultando em formação de hidróxido cu- Quantidades significantes de glicose são d e- proso (amarelo) ou óxido cuproso (vermelho). tectadas na urina quando houver elevadas concen- trações de glicose na corrente circulatória, como ocorre na diabetes. A glicose também é encon- C ETONAS t rada na urina em certas enfermidades do túbulo proximal (síndrome de Fanconi e nefropatia tubu - As cetonas são formadas por três substâncias: la r avançada) que podem impedir a capacidade de acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona. A ex- absorção. cessiva formação destes compostos, devido a dis- t ú r b i o s n o metabolismo dos carboidratos e lip í - T i r a r e a g e n t e . Testes enzimáticos, empregando dios, provoca o aumento na concentração sangüí- a glicose oxidase, peroxidase e um cromogênio nea (cetonemia) com a conseqüente excreção uri- oxidam seletivamente a glicose pela remoção de nária (cetonúria). Ocorre redução das cetonas por dois íons hidrogênio formando ácido glicônico. Os volatização em urinas não analisadas logo após a í o n s h i d r o g ênio removidos combinam-se com o coleta e/ou não refrigeradas . oxigênio atmosférico para produzir peróxido de hidrogênio que em presença de peroxidase oxida T i r a r e a g e n t e . A reação está baseada na forma- um cromogênio com modificação de cor. O cro - ção de complexo colorido entre o acetoacetato e mogênio utilizado varia com as diferentes fitas acetona com o nitroferricianeto/glicina em meio reativas. alcalino ou do acetoacetato com o nitroferricia- Açúcares como a galactose, frutose e lactose neto tamponado. O β-hidrozibutirato não reage não interferem neste teste. Contudo, elevadas nestes testes. c o n centrações de ácido ascórbico, ácido homo - Fal s o s -positivo são encontrados em concentra- g e n t í s ico, aspirina, cetonas ou uratos podem pro - ções elevadas de ácido fenilpirúvico (fenilcetonú- vocar a inibição da reação enzimática. Resultados ria), metabólitos da L-dopa, fenolftaleína (la - falsos-positivo são raros, no entanto podem ocor- xa n te). Quando presente os resultados são expres - rer por contaminação da vidraria pelo hipoclorito sos em cruzes que correspondem aos seguintes de s ó dio (solução alvejante) ou quando os perío- valores em mg/dL. dos de leitura da fita forem ultrapassados. Os re - sultados semi -quantitativos obtidos em cruzes se Resultado em cruzes Resultados em mg/dL relacionam com os valores em mg/dL como segue: Traços <5 + <15 Resutados em cruzes Resultados em mg/dL ++ <50 +++ <150 Traços <100 + <250 ++ <300 +++ <500 Teste químico. O emprego de cloreto de ferro ++++ >1.000 para a detectação de cetonas na urina (teste de Gerhardt) foi abandonado pela pouca sensibilidade e falta de especificidade. Teste químico. Para a avaliação semi -quantita- A a c e t o n a e o acetoacetato reagem com o n i- tiva, a glicose pode ser testada como substância troprussiato de sódio (nitroferricianeto) em pre-
  • 11. 256 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações sença de álcali para formar um complexo de cor samento para a circulação. É importante salientar púrpura (teste de Rothera). Este método permite que muitas vezes a bilirrubinúria precede a icterí - detectar aproximadamente 1 a 5 mg/dL de acetoa- cia clínica, pois o umbral renal no adulto se en - cetato e 10 a 25 mg/dL de acetona. O contra entre 2 e 4 mg/dL. A icterícia ocasionada β-hidroxibutirato não é detectado nesta prova. pela grande destruição de hemácias não produz bilirrubinúria, pois a bilirrubina sérica está pre- sente na forma não-c o n j u g a d a e , a s s im, não pode U ROBILINOGÊNIO ser excretada pelos rins. O urobilinogênio é um pigmento biliar resultante T i r a r e a g e n t e . Os testes em tiras estão baseados da degradação da hemoglobina. É formado no na reação de acoplamento de um sal de diazônio intestino a partir da redução da bilirrubina pelas com a bilirrubina em meio ácido. Contudo, os bactérias intestinais. Parte do urobilinogênio é produtos existentes no comércio, diferem quanto reabsorvido pelo intestino, caindo no sangue e ao sal utilizado para o desenvolvimento de cor. As levado ao fígado. Ao passar pelos rins é filtrado áreas reagentes estão impregnadas de 2,6-dicloro - pelos glomérulos. Encontra -se grande quantidade diazônio tetrafluorborato ou 2,4-dicloroanilina de urobilinogênio na urina nas hepatopatias e diazônio. O emprego, o desenvolvimento de cor e distúrbios hemolíticos. A demora da pesquisa em interpretação são fornecidos pelos fabricantes. urinas não refrigeradas provoca a diminuição do F a l s o s-n e g a t i v o : ocorrem em presença de e le- urobilinogênio por sua oxidação e conversão em vados teores de ácido ascórbico, nitrito (infecções urobilina. do trato urinário) ou por oxidação da bilirrubina à biliverdina por exposição à luz. T i r a r e a g e n t e . A pesquisa do urobilinogênio na F a l s o s-p o s i t i v o : são freqüentes em pacientes urina é realizada por tiras impregnadas pelo D- que recebem grandes doses de cloropromazina. dimetilaminobenzaldeído em meio ácido ou por 4 - Metabólitos de drogas c omo a fenazopiridina p o - metoxibenzeno-diazonio -tetrafluorborato também dem desenvolver cor vermelha em pH ácido e em meio ácido. A primeira reação sofre interfe- mascarar o resultado. rências do porfobilinogênio, indol, escatol, sulfi- soxasol, ácido p -aminossalicílico, procaína e me- Prova química. O cloreto de bário se combina tildopa (Aldomet). A segunda reação é a fetada de com radicais de sulfato na urina forma n do um modo negativo por nitrito ( > 5 mg/dL) e formol precipitado de sulfato de bário (teste de Fouchet). (> 200 mg/dL). Falsos-p o s i t i v o s ã o e n c o n t r a d o s Os pigmentos biliares pre s e n t e s s e a d erem a estas em pacientes que recebem fenazopiridina. moléculas de grande tamanho. O clo reto de ferro em presença de ácido tricloroacético, provoca a Prova química. A reação de Ehrlich é univer- oxidação da bilirrubina (amarela) ou biliverdina salmente utilizada para este teste. Emprega o (verde). Este teste é bastante sensível pois fornece p -dimetilaminobenzaldeído em ácido clorídrico resultados positivos a partir da c o n centração de concentrado que reage com o urobilinogênio e 0,15 a 0,20 mg/dL. porfobilinogênio para formar um aldeído colorido. Outro teste emprega tabletes (Ictotest, Ames) A adição de acetato de sódio intensifica a cor c o n t e n d o p -nitrobenzenodiazônio p -t o l u e n o q u e vermelha do aldeído e inibe a formação de cor reage com a bilirrubina com formação de cor azul pelo escatol e indol. ou púrpura. Os tabletes também contêm ácido sulfossalicílico, bicarbonato de s ódio e ácido b ó - rico. B ILIRRUBINA A bilirrubina conjugada pode estar presente na urina de pacientes portadores de enfermidade h e- patocelular ou icterícia obstrutiva, pelo extrava-
  • 12. Rim e função renal 257 H EMATÚRIA, HEMOGLOBINÚRIA E matúria quando é conhecida a sua origem, apesar MIOGLOBINÚRIA da grande dificuldade em distinguir da hemoglo - binúria verdadeira. Hematúria é a presença de um número anormal de hemácias n a urina sendo encontrada em pacientes T i r a r e a g e n t e . A zona de teste está impregnada com sangramento ao longo do trato genitourinário. com uma mistura tamponada de um peróxido or- Hematúria maciça , que resulta em urina cor rosa, gânico e o cromogênio tetrametilbenzidina. A vermelha ou marron, pode ocorrer nas infecções reação s e baseia na atividade pseudoperoxidásica do trato urinário, cálculo renal, tumor do trato da hemoglobina que catalisa a transferência de um urinário, rim policísistico e glomerulonefrite pós- átomo de oxigênio do peróxido para o cromogê- estreptocócica. A maior parte dos casos de hema- nio. As hemácias intactas na urina se hemolisam túria são microscópicas. A presença de cilindros ao entrar em contato com a área reagente. A h e- eritrocitários é a evidência definitiva de sangra- moglobina liberada atua sobre o reativo produ- mento parenquimal renal. zin d o p o n t o s v e r d e s d i s p e r s o s o u c o n c e n t r a d o s Hemoglobinúria indica a presença de hemo - sobre o fundo amarelo. Por outro lado, a hemo - globina em solução na urina e reflete hemólise globina livre e a mioglobina fornecem uma colo - intravascular que ocorre durante episódios de ração verde ou verde azulado uniforme. Na hemó - s ín drome urêmica hemolítica, púrpura tromboci- lise parc ial surgem quadros mistos. Deste modo, a t o p ênica trombótica (PTT), hemoglobinúria paro - reação torna-se positiva em presença de eritrócitos x í s tica noturna, reações transfusionais hemolíti- in tactos, assim como hemoglobina livre e mioglo - cas, hemólise por toxinas bacterianas (septice- b ina. As tiras reagentes detectam 0,05 a 0,3 mg/dL mia), veneno de cobra ou aranha, malária e quei- de hemoglobina na urina. maduras severas. Exercícios extenuantes podem F a l s o s-p o s i t i v o : são produzidos por certos s e r s e g u idos de hemoglobinúria. A hemoglobina oxidantes como hipocloritos, às vezes empregados leve aparece na urina quando a capacidade de na limpeza de material e peroxidases bacterianas ligação da haptoglobina plasmática estiver satu- na bacteriúria intensa. Em tais casos, deve-s e rada. A h emoglobina é metabolizada pelas células avaliar cautelosamente uma reação positiva, part i- renais em ferritina e hemossiderina, detectadas na cularmente se o sedimento não apresentar hemá- urina usando o corante azul da Prússia. Quantida- cias. des apreciáveis de sangue, detectada pela visuali- F a l s o s-n e g a t i v o : encontram-se em presença d e zação da amostra, é denominada macrohematúria. níveis elevados de ácido ascórbico. Os nitritos em N o s c a s o s o n d e a s h e má c i a s s ã o e n c o n t r a d a s s o - grande concentração atrasam o desenvolvimento mente no exame microscópico do sedimento uriná- de cor. O formol, empregado como conservante, rio, chama -s e microhematúria. pode levar a reações diminuídas ou negativas. Devido à importância do estabelecimento do diagnóstico diferencial entre hemoglobinúria e Prova química. O s m é t o d o s p a r a a p e s q u i s a d a hematúria, a análise do sedimento urinário revela, hemoglobina estão bas e a d o s n a a ç ã o d a s h e m e - em se tratando de hematúria, a presença de hemá- proteínas que atuam como peroxidases, catali- cias intactas, enquanto na hemoglobinúria, não s an do a redução do peróxido de hidrogênio para são encontradas hemácias ou, se existirem, são em fo rmar água. Esta reação necessita um doador de número reduzido. Como a hemoglobinúria é um hidrogênio, em geral o guaiaco ou o -tolidina (um achado incomum, um teste positivo para a hemo - derivado da benzidina). A oxidação do doador globina com um sedimento urinário normal deve resulta em cor azul, cuja intensidade é proporcio - ser melhor investigado. Urinas muito alcalinas ou nal aos teores de hemoglobina. com densidade urinária muito baixa (<1,007) p o - A benzidina básica é carcinogênica e a exces - dem provocar hemólise dos eritrócitos, liberando siva absorção pela pele, por via oral ou a inalação o conteúdo de hemoglobina na urina. A presença do pó pode provocar câncer de bexiga. Este risco deste tipo de hemoglobina se considera como h e- provavelmente também exista c o m o u s o d e o-
  • 13. 258 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações tolidina (derivado da benzidina) apesar de não permanecido no mínimo quatro horas na be- ainda comprovado. Por conseguinte, é essencial o xiga. cuidado no manuseio destes compostos. A m i o g l o b i n ú r i a acompanha a destruição § A prova d eve ser realizada o mais depressa aguda de fibras musculares e é encontrada no possível após a emissão da urina. exercício excessivo, convulsões, hipertermia e queimaduras severas. Pacientes com mioglobin ú - § A urina não deve conter antibióticos ou sulfo - ria tem níveis elevados de creatina quinase no namidas. Nestes casos suspender a terapia por soro. O teste de precipitação de sulfato de amônio três dias antes da prova. é comumente usado para detectar mioglobinúria e é assim realizado: adiciona-se 2,8 g d e sulfato de T i r a r e a g e n t e . Dois tipos de áreas reagentes são amônio a 5 mL de urina centrifugada. Misturar e e n c o n t r a d a s p a r a a p e squisa de nitrito. Em meio deixar em repouso por 5 minutos. Filtrar. Usar a ácido, o nitrito reage com o ácido p -arsanílico fita reativa para detectar sangue. Se for positiva, produzindo um composto diazônio que é acoplado indica presença de mioglobina, pois o sulfato de com uma benzoquinolina para produzir cor rosa amônio precipita a hemoglobina que dasaparece (Ames). No produto da Boehringer uma amina do filtrado. aromática, a sulfanilamida reage com o nitrit o em presença de um tampão ácido produzindo a partir de um sal de diazônio. Este sal se liga a benoqui- N ITRITO nolina para formar cor rosa. Resultados negativos não afastam a presença de bacteriúria significa- O teste para detectação de nitritos na urina é uma t iva. prova indireta para o diagnóstico precoce de bac- F a l s o s-p o s i t i v o : são encontrados após ingestão teriúria significativa e assintomática. Os microor- d e fármacos que coram a urina de vermelho ou ganismos comumente encontrados nas infecções torna-se vermelho em meio ácido (ex.: fenazopiri- urinárias, tais como Escherichia coli, Enterobac- dina). Pontos ou extremidades rosa na área da fita ter, Citrobacter, Klebsiella e e s p é c i e s d e Proteus são interpretados como negativo. contêm enzimas que reduzem o nitrato da urina a F a l s o s-n e g a t i v o : ocorrem em concentrações nitrito. O nitrito ingerido em medicamentos ou elevadas de ácido ascórbico, urobilinogênio e pH alimentação não é eliminado como tal. A prova baixo. para detectação do nitrito é útil para o diagnóstico precoce das infecções da bexiga (cistite), da pie- lonefrite, na avaliação da terapia com antibióticos, L EUCÓCITO ESTERASE na monitoração de pacientes com alto risco de infecção do trato urinário e na seleção de amostras Os leucócitos neutrófilos contêm muitas esterases para a cultura de urina. Para a obtenção de resul- que catalisam a hidrólise de um éster para produ - tados aceitáveis, esta prova deve ser realizada zir o álcool e o ácido correspondente. O nível de com as seguintes precauções: esterase na urina está correlacionado com o nú- mero de neutrófilos presente. Os eritrócitos e cé- § Os germes nitrato redutores necessitam de lulas do trato urinário não modificam o teor de quantidade suficiente de substrato (sem nitrato esterase. Este teste deve ser confirmado pela aná- não se forma nitrito). Isto é conseguido medi- lise microscópica do sedimento urinário. ante a ingestão de alimentos contendo nitrato na véspera do teste (cenoura, couve, espinafre, T i r a r e a g e n t e . O substrato, um éster do ácido carne, saladas etc.). carbônico com indoxil, é hidrolizado pela ação da leucócito esterase em indoxil que por oxidação § O incubador mais favorável é a bexiga; utili- desenvolve cor azul. Com a finalidade de reduzir zar, pois, a primeira urina da manhã que tenha o tempo de reação foi adicionado um sal diazônio que reage com o indoxil para formar cor púrpura.
  • 14. Rim e função renal 259 A i ntensidade de cor é proporcional ao número de a p ó s c a t eterização urinária ou outros procedi- leucócitos presentes na amostra. mentos de instrumentação. Além destas condições, F a l s o s-p o s i t i v o : são freqüentes em presença de podem indicar processos que necessitam maiores agentes oxidantes. A contaminação com líquido investigações como o carcinoma renal. vaginal é outra fonte de resultados errôneos. F a l s o s-n e g a t i v o : s ã o e n c o n t r a d o s p o r inibição Células dos túbulos renais. P e q u e n a q u a n t i- na cor promovida por grandes quantidades de dade de células dos túbulos renais aparecem na ácido ascórbico. O formol também inibe a reação. urina de indivíduos saudáveis e representam a A interpretação da cor é afetada pela nitrofuran- descamação normal do epitélio velho dos túbulos toína. renais. Recém-nascidos têm mais células de túbu - los renais na urina que crianças mais velhas e adultos. As células dos túbulos contornados distal S EDIMENTOSCOPIA e proximal são encontradas na urina como resul- t ado de isquemia aguda ou doença tubular renal A s e d i m e n t o s c o p i a é a p a r t e d o EQU que mais tóxica (como: necrose tubular aguda por metais dados fornece, proporcionando uma visão do que pesados ou drogas). ocorre nos néfrons que a formaram. Para obter-s e um bom sedimento, três condições são necessá- Os sedimentos urinários podem conter número rias: a) que a urina seja recente; b) que a urina aumentado de células dos túbulos coletores em seja concentrada e c) que a urina seja ácida. Urina vários tipos de doenças renais, como na nefrite, d e baixa concentração e pH alcalino resultam em necrose tubular aguda, rejeição a transplante renal pronta dissolução dos elementos formados. e envenenamento por salicilatos. Quando estas Quan do a urina permenece longo tempo estag- células aparecem como fragmentos intactos do nada, há possibilidade de sua alcalinização e con- epitélio tubular indicam necrose isquêmica do seqüente desintegração celular. epitélio tubular, trauma, choque o u s e p s e . Quando ocorre a passagem de lipídios pela membrana glomerular, como nos casos de nefrose C ÉLULAS EPITELIAIS lipídica, as células do túbulo renal absorvem lip í - dios e são chamadas corpos adiposos ovais. Em Algumas células epiteliais encontradas no sedi- geral, são vistas em conjunto com gotículas de mento urinário resultam da descamação normal gordura que flutuam no sedimento. O exame do das células velhas, enquanto outras representam sedimento com luz polarizada, produz a formação lesão epitelial por processos inflamatórios ou de imagens características nas gotículas que con- d o enças renais. São encontradas em três tipos na têm colesterol (cruz-d e -malta). urina: Células escamosas. São as mais comumente L EUCOCITÚRIA encontradas na urina e com menor significado. Provêm do revestimento da vagina, da uretra fe- Os leucócitos podem entrar na urina através de minina e das porções inferiores da uretra mascu- qualquer ponto ao longo do trato urinário ou atra- lina. vés de secreções genitais. O aumento no número de leucócitos (>4 por campo) que apresentam ou Células transicionais ou caudadas. O cálice não fenômenos degenerativos (granulações gro s- renal, a pelve renal, ureter e bexiga são revestidos seiras no citoplasma, inclusão de bactérias etc.) na por várias camadas de epitélio transicional. Em urina é chamado p i ú r i a . A piúria pode expressar- indivíduos normais, poucas células transicionais se pela eliminação de leucócitos isolados ou aglu- são encontradas na urina e representam descama- tinados ou pelo aparecimento na urina de cilindros ção normal. O número destas células aumenta hialinos com inclusão de leucócitos. Pode resultar de infecções bacterianas ou de outras doen ç a s
  • 15. 260 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações renais ou do trato urinário. As infecções que com- no interior do túbulo renal; b) de um pH ácido e c) preendem pielonefrite, cistite, prostatite e uretrite da concentração elevada de substâncias solventes. podem ser acompanhadas de bactérias ou não, O tamanho dos cilindros pode variar em função do como no caso da infecção por Chlamydia. A piúria diâmetro do túbulo no qual foram formados. Ci- também está presente em patologias não infeccio- lindros largos indicam a formação em túbulos sas, c omo a glomerulonefrite, o lúpus eritematoso renais dilatados ou em túbulos coletores. O sistêmico e os tumores. a c h ado de muitos cilindros céreos largos indica pro g nóstico desfavorável. Assim, os tipos de ci- lindros encontrados no sedimento representam H EMATÚRIA diferentes condições clínicas. Normalmente as hemácias são encontradas na Cilindros hialinos. São formados pela precip i- urina de pessoas normais em pequenas quantid a- t ação de uma matriz homogênea de proteína de d e s . T o d a s a s h e m á c i a s p r e s e n t es n a u r i n a s e o ri- Tamm-Horsfall e são os mais comumente obser- ginam do sistema vascular. O número aumentado vados na urina. A presença de 0 a 2 por campo de de hemácias na urina representa rompimento da pequeno aumento é considerada normal, assim integridade da barreira vascular, por injúria ou como quantidades elevadas em situações fisiológi- doença, na membrana glomerular ou no trato g e- cas como exercício físico intenso, febre, desidra- nitourinário. As condições que resultam em h e- tação e estresse emocional. Estão presentes nas matúria incluem várias doenças renais como glo - glomerulonefrites, pielonefrites, doença renal merulonefrites, pielonefrites, cistites, cálculos, crônica, anestesia geral e insuficiência cardíaca tumores e traumas. Qualquer condição que resulte congestiva. em inflamação ou comprometa a integridade do sistema vascular pode resultar em hematúria. A Cilindros hemáticos. Os cilindros hemáticos possibilidade de contaminação menstrual deve ser e s t ã o a s s o c i a d o s a d o e n ç a r e n a l intrínseca. Suas considerada em amostras colhidas em mulheres. A hemácias são freqüentemente de origem glomeru - presença de hemácias e também de cilindros na lar, como na glomerulonefrite, mas podem tam- urina pode ocorrer após exercícios intensos. bém resultar de dano tubular, como na nefrite A s v e z e s é n e c e s s á r i a a pesquisa de hemácias intersticial aguda. A detecção e monitoramento de dismórficas para diferenciar entre hematúria d e cilindros hemáticos permite uma medida da avali- origem glomerular da de origem não glomerular. ação da resposta do paciente ao tratamento. São A presença de hemácias dismórficas sugere san - também encontrados no exercício físico intenso, gramento de origem glomerular. As hemácias não nefrite lúpica e hipertensão maligna. dismórficas (com morfologia normal) são encon - tradas em urina de pacientes com patologias extra - Cilindros leucocitários. Indicam infecção ou glomerulares. Esta pesquisa necessita de micro s - inflamação renal e necessitam de investigação copia de contraste de fase. clínica. Quando a origem dos leucócitos é glome- rular como na glomerulonefrite, encontra -s e n o sedimento grande quantidade de cilindros leuco - C ILINDRÚRIA citários e cilindros hemáticos. Quando é tubular, como na pielonefrite, os leucócitos migram para o São moldes mais ou menos cilíndricos do túbulo contornado distal e do ducto coletor. O principal lúmen tubular e são incorporados na matriz do c ilindro. componente dos cilindros é a proteína de Tamm- Horsfall, que é uma mucoproteína secretada s o - Cilindros de células epiteliais. Os cilindros mente pelas células tubulares renais. A presença epiteliais têm origem no túbulo renal e resultam de cilindros urinários é chamada cilindrúria. Seu da descamação das células que os revestem. São aparecimento é explicado por três fatores: a) da encontrados após agressões nefrotóxicas ou i s - concentração e da natureza da proteína exi s t e n t e
  • 16. Rim e função renal 261 quêmicas sobre o epitélio tubular e podem estar decomposição dos cilindros de células epiteliais a s s o c i a d o s a infecções virais como citomegaloví- que contêm corpos adiposos ovais. Presentes na rus. São, muitas vezes, observados em conjunto síndrome nefrótica, nefropatia diabética, doenças com cilindros de hemácias e leucócitos. renais crônicas e glomerulonefrites. Cilindros granulosos. Podem estar presentes no sedimento urinário, principalmente após exe r- M UCO cício vigoroso. Entretanto, quando aumenta d o s representam doença renal glomerular ou tubular. O muco é uma proteína fibrilar produzida pelo São compostos primariamente de proteína de epitélio tubular renal e pelo epitélio vaginal. Não Tamm-Horsfall. Os grânulos são resultado da é considerado clinicamente significativo. O au - d esintegração de cilindros celulares ou agregados mento da quantidade de filamentos de muco na de proteínas plasmáticas, imunocomplexos e glo - u r i n a e s tá comumente associado à contaminação b u linas. Encontram-se na estase do fluxo urinário, vaginal. estresse, exercício físico e infecção do trato urin á- rio. Bibliografia consultada Bioinforme 96. Laboratório Sérgio Franco. Rio de Janeiro : Cilindros céreos. Representam um estágio Faulhaber, 1996 avançado do cilindro hialino. Ocorrem quando há COHEN, E. P., LEMANN Jr, J. The role of the laboratory in estase prolongada por obstrução tubular e são e v a l u a t i o n o f k i d n e y f u n c t i o n . Clin. Chem., 37:785-96, 1991 freqüentemente chamados cilindros da insuficiê n- cia renal. São comumente encontrados nos paci- G R A F F , S . L . Analisis de orina: Atlas color. Buenos Aires : Panamericana, 1985. 222 p. entes com insuficiência renal crônica e também LOBATO, O. Valorização clínica do exame comum de urina. em rejeição de transplantes, hipertensão maligna, R e v i s t a C A S L , 2 7 :2 3 -3 8 , 1 9 6 5 . e outras doenças renais agudas (síndrome nefró - M E D E I R O S , A . S . Semiologia do exame sumário de urina. t ica glomerulonefrite aguda). Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1981. 123 p. W H I T W O R T H , J . A . , L A W R E N C E J . R . Textbook of renal Cilindros graxos. São um produto da desinte- d i s e a s e . New York : Churchill Livingstone, 1994. 505 p. gração dos cilindros celulares, produzidos por
  • 17. 262 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações C ÁLCULOS URINÁRIOS A litíase renal é uma doença manifestada pela formação de cálculo renal. A pr e s e n ç a d e é desconhecido. Certas deficiências nutricionais e vários estados patológicos parecem desencadear cálculos nos rins, ureteres ou bexiga, além de este mecanismo. A recorência de cálculos prova- causar forte dor pode infringir sérios danos teci- velmente envolve muitos fatores, tais como: duais. Cálculos são precipitações como agregados de § Ingestão reduzida de líquidos (fluxo de urina). vários componentes de baixa solubilidade normais da urina. Podem ser formados pela combinação de § Excreção de quantidades excessivas de sub - bactérias, células epiteliais, sais minerais em uma stâncias relativamente insolúveis (cálcio, matriz protéica e muco. ácido úrico, cistina ou xantina). Muitas vezes a precipitação de compostos r e- lativamente insolúveis é iniciada ou agravada por § Talvez a ausência de uma substância na urina, infecção, desidratação, excessiva ingestão ou pro- que sob condições normais inibe a dução de compostos, obstrução urin ária e outros precipitação de alguns destes compostos fatores. A maioria dos cálculos consiste de oxa- insolúveis. lato de cálcio (30 % do total), fosfato de cálcio ( 10% do total) ou numa mistura deles (25% do Vários tipos de cálculos estão associados com total). O fosfato amônio -magnesiano contribui desordens específicas. São conhecidos vários tipos com 25 por cento de todos os cálculos, sendo que de cálculos segundo a composição: o ácido úrico com 5 por cento e a cistina com 2 por cento. Oxalato de cálcio. São provocados por urina Uma vez formado, o cálculo tende a crescer concentrada, hipercalciúria (intoxicação pela v i- por agregação, a menos que seja desalojado e tamina D, hiperparatireoidismo, sarcoidose), sín - d e s ça através do trato urinário para ser excretado. drome do leite-álcali, câncer, osteoporose, acidose Os cálculos maiores podem permanecer no rim ou tubular renal, hipocitratúria, hiperuricosúria e obstruir um ureter do qual deve ser removido por hiperoxalúria. cirurgia. A passagem de cálculo para baixo dos ureteres Fosfato de cálcio. Ocorrem em urinas alcalinas produzem dor excruciante aguda do tipo em có- na acidose tubular renal, ingestão de álcalis e lica, localizada no flanco e irradiando-se para a infecção por bactérias desdobradoras de uréia virilha. A hematúria macroscópica é um achado (ex.: Proteus). urinário comum quando os sintomas de cálculos estão presentes. Se os cálculos obstruírem a pelve Fosfato de amônio-magnésio (estruvita). As renal ou o ureter, resultará em hidronefrose. infecções do trato urinário tratados com vários Várias investigações mostraram que uma ma- antibióticos são as principias causas de formação triz orgânica parece ser componente essencial a de cálculos fosfato amônio -magnésio. todos os cálculos urinários. Esta matriz mu cóide contém 69 por cento de proteínas, 14 por cento de Ácido úrico. Estão associados à hiperuricosúria carboidratos, 12 por cento de componentes inor- (hiperuricemia, gota, dieta rica em purinas), des i- gânicos e 10 por cento de água. O precursor da dratação e hiperacidez urinária (pH < 5,0). matriz é uma proteína encontrada em pequenas quantidades na urina humana, a uromucóide. O Cistina. São encontrados na hipercistinúria e mecanismo exato de como a uromucóide é trans - formam-s e em pacientes com deficiência inata de formada em matriz e como agrega compostos o r- transporte de cistina pelas células dos túbulos gânicos e inorgânicos para a formação do cálculo, renais e intestinos. 262
  • 18. Rim e função renal 263 T ESTES LABORATORIAIS NA Provas no soro sangüíneo. Cálcio, fósforo, INVESTIGAÇÃO DE FORMADORES DE ácido úrico, creatinina e eletrólitos. CÁLCULOS Análise do cálculo. Testes de urina. Exame qualitativo de urina Exame radiológico. À s v e z e s s ã o e n c o n t r a d o s (EQU) onde é comum o a presença de hematúria cálculos assintomáticos. macroscópica, pesquisa de cistina e urocultura, dosagens em urina de 24 h de: sódio, cálcio, fó s - Bibliografia consultada foro, ácido úrico, oxalatos e depuração de creati- C O E , F . L . , P A R K S , J . H . , A S P L I N , J . R. The pathogenesis nina. O pH urinário é útil pois urinas ácidas ten - and treatment of kidney stones. N Engl. J. Med., dem a favorecer a formação de cálculos de ácido 3 2 7 :1 1 4 1 -5 2 , 1 9 9 2 . úrico enquanto urinas alcalinas dissolve-os. De KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA, Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry: modo oposto, os cálculos fosfato amônio -magné- i n t e r p r e ta t i o n a n d t e c h n o q u e s . Baltimore : Williams & sio ocorrem em pacientes com infecções recor- Wilkins, 1995. 514 p. rentes do trato urinário ou com urinas alcalin a s SAMUELL, C. T., KASIDAS, G. P. Biochemical persistentes. investigati ons in renal stone formers. Ann. Clin. B i o c h e m . , 3 2 :1 1 2 -2 2 , 1 9 9 5 . WALMSLEY, R. N., WHITE, G. H. Guide to diagnostic clinical chemistry. London : Blackwell, 1994. 672 p.
  • 19. 264 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações D OENÇAS RENAIS O paciente portador de doença renal pode apre- sentar uma diversidade de sinais e sintomas § Embolização de coágulo/vegetação. pois aparentemente existem inúmeras etiologias de disfunção renal. O laboratório clínico é de vital § Embolização ateromatosa em artérias renais importância para estabelecer o diagnóstico, trata- de pequeno ou médio calibre. mento e prognóstico destas enfermidades. A avali- ação inicial deve enfatizar a identificação de cau - Desenvolve hipertensão secundária, depen - sas reversíveis da disfunção renal. dente de renina e a perda progressiva da função Os estudos iniciais laboratoriais devem incluir: renal em conseqüência da isquemia. § Exame qualitativo de urina; Trombose da veia renal. Afeta a veia renal principal e é encontrada comumente nas glome- § Dosagem dos eletrólitos (sódio, potássio, clo - rulopatias nefróticas, principalmente na nefropatia retos, cálcio, magnésio, fosfato); membranosa. § D o s a g e m d e c o m p o s t o s n i t r o g e n a d o s n ã o -pro- Nefrosclerose benigna/maligna. É uma das téicos (creatinina, uréia, ácido úrico); complicações mais comum da hipertensão essen - cial e constitui uma causa importante de insufic i- § Determinação da velocidade de filtração glo - ência renal terminal. merular (VFG) por meio da depuração da cre a- tinina. Algumas alterações clínicas que ocorrem na enfermidade vascular incluem a perda parcial da Outros testes como a α 2 -microglobulina, pro - capacidade de concentração, proteinúria moderada teinúria, microalbuminúria hematúria, hemoglobi- e um ocasional sedimento urinário anormal. A núria e microglobinúria produzem um quadro útil velocidade de filtração glomerular pode permane- da integridade renal. cer normal ou levemente reduzida. V ASCULOPATIA RENAL G LOMERULOPATIAS Entre as doenças renais mais comuns encontram- A proteinúria elevada constitui a característica básica se os distúrbios renovasculares, particularmente, das glomerulopatias e indica comprometimento na nas artérias renais. A disfunção renal, evidenciada capacidade do capilar glomerular em reter as macromoléculas do plasma (proteínas). O segundo sinal por alterações morfológicas e funcionais, é cau- mais comum de glomerulopatia é a presença de s ada principalmente pelo estreitamento ou oclu - hemácias, piócitos e cilindros celulares no sedimento sões no sistema arterial que provocam redução na urinário; encontra-se associado à inflamação glomerular. p e rfusão para o parênquima renal. A s p r i n c i p a i s c a u s as da vasculopatia renal são: G LOMERULONEFRITES Oclusão da artéria renal. São comuns os casos de traumatismo abdominal grave. A oclusão das O dano primário na glomerulonefrite é um pro - artérias renais também ocorrem: ces so inflamatório que afeta os glomérulos. No en tanto, o dano glomerular eventualmente afeta § Trombose que afeta as artérias principais ou t o das as funções renais pelo impedimento do fluxo segmentares. sangüíneo através do sistema vascular peritubular.
  • 20. Rim e função renal 265 Deste modo, a doença avançada também apresenta S ÍNDROME NEFRÓTICA d a n o s e s t r u t u r a i s d o s t ú b u l o s , v a s o s s a n g üíneos e tecido intersticial. A síndrome nefrótica é uma glomerulonefropatia A glomerulonefrite tem numerosas etiologias. caracterizada por proteinúria maciça (>3,5 g/d) e A doença pode ser primária quando o órgão pre- hipoalbuminemia (geralmente <2,5 g/dL). A fo r- dominante envolvido é o rim, uma manifestação mação de edema – expansão do componente in - de uma enfermidade sistêmica ou uma desordem tersticial do volume líquido extracelular – ocorre hereditária (deficiência de α 1 -antitripsina). As em conseqüência da retenção r enal de sal em pre- principais características da glomérulo nefrite sença de uma redução da pressão oncótica do aguda são hematúria, cilindros hemáticos, protei- plasma. A hiperlipidemia (muitas vezes o coleste- núria, oligúria, azotemia, edema, hipertensão e rol atinge níveis >350 mg/dL) e a lipidúria tam- deterioração da função renal. bém estão presentes na síndrome. A glomerulonefrite crônica é a d e s i g n a ç ã o As glomerulopatias associadas à síndrome dada a vários distúrbios que pro duzem lesões r e- n efrótica são: cidivantes ou permanentes nos glomérulos. É a causa mais comum de insuficiência renal crônica e Nefropa t i a d e a l t e r a ç ã o m í n i m a . Também requer diálise ou transplante renal. conhecido como lesão nula, nefrose lipóide. Idio - As enfermidades glomerulares são muitas v e- pática, secundária: linfoma de Hodgkin. Esta n e- zes mediadas imunologicamente com formação de fropatia é comum em crianças. Apresenta sedi- imuno-complexos circulantes que podem ser reti- mento urinário “brando” (sem cilindros hemáti- dos na parede capilar glomerular durante a ultra- cos), função renal normal e teores de comple- filtração (glomerulonefrite de progressão rápida) mentos normais. freqüentemente como complicação de outra forma de glomerulonefrite ou de algum outro distúrbio, Glomerulopatia membranosa (nefropatia epi- como o lúpus eritematoso sistêmico. Por outro ou perimembranosa). Idiopática, secundária: in - lado, doenças tubulares e intersticiais são as vezes fecções (hepatite B, sífilis), neoplasias (carcinoma causadas por agentes tóxicos ou infecciosos. Os de pulmão, estômago, mama), drogas (ouro, D- complexos imunes na glomerulonefrite causam penicilamina) e colagenoses (lúpus eritemato s o proliferação celular, infiltração leucocítica e le- sistêmico, artrite reumatóide, doença mista do sões no glomérulo. A deposição de complexo tecido conjuntivo). imu n e é e n c o n t r a d o a p ó s i n f e c ç ã o p ó s -estreptocó- Esclerose glomerular focal (glomeruloescle- cica, quando o antígeno é estranho ao rim. Isto rose focal e segmentar, glomerulopatia esclero - contrasta com a síndrome de Goodpastu r e o n d e o anticorpo do complexo imune deposit ado no glo - sante focal). Idiopática, secundária (abuso de h e- roína, nefropatia por refluxo vesicoureteral mérulo é formado contra a membrana basal glo - crônico, síndrome de imunodeficiência adquirida merular (anticorpos anti-MBG). Lesões renais no lupus eritematoso sistêmico são causadas pela – AIDS). deposição de complexos DNA -a n t i-DNA no glo - Glomeruloesclerose diabética. É a c a u s a mérulo. Outras causas de danos glomerulares in - mais importante de doença renal terminal. Apre- cluem diabetes mellitus, amiloidose, mielo ma senta albuminúria persistente (>300 mg/d), declí - múltiplo e síndrome de Alport. Este último é uma nio da taxa de filtração glomerular e hipertensão d e sordem genética caracterizada por ocorrê n cia arterial. Em 15-20% dos pacientes com nefropatia familiar, em sucessivas gerações, de nefrite pro - diabética é encontrada a glomeruloesclerose n o - gressiva com danos glomerulares, perda de audi- dular de Kimmelstiel-W i l s o n . ção e defeitos oculares. O sinal mais comum é a hematúria. Amiloidose. Amilóide idiopático, amilóide se- cundário: mieloma múltiplo, infecção crônica- osteomielite, tuberculose e febre familiar do me-
  • 21. 266 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações diterrâneo. O diagnóstico depende de biópsia teci- história de diabe t e s e h i p e r t e n s ã o é c o n s i s t e n t e dual. com a síndrome de Kimmelstiel-W i l s o n . Crioglobulinemia mista essencial. São com- postos de fator reumatóide IgM monoclonal e IgG S ÍNDROME NEFRÍTICA policlonal. Muitos destes pacientes têm uma in - fecção crônica subjacente pelo vírus de hepatite A síndrome nefrítica descreve um quadro de lesão C. glomerular caracterizada pela presença súbita de hematúria com cilindros hemáticos ou erit ró citos Glomerulopatia membranoproliferativa ti - dismórficos e proteinúria indicando origem renal. pos I, II e III. (mesangiocapilar, hipocomple- Está associada à retenção de sódio e água que mentêmica). Apresentam proteinúria com sedi- resulta em hipertensão e edema. A insuficiê n cia mento urinário “ativo” (presença de cilindros h e- cardíaca é também encontrada com proteinúria máticos). entre moderada e severa. As glomerulopatias associadas às síndromes Glomerulopatia mesangioproliferativa. Ne- nefríticas são: fropatia por IgA/IgG (doença de Berger), n ã o-IgA, lúpus eritematoso sistêmico, púrpura anafilac- Glomerulonefrite pós-infecciosa aguda. t ó ide. Ocorre por complicações pós-infecciosa por (a) e s t r e p t o c o c o s β-hemolíticos do grupo A, (b) in - Diagnóstico laboratorial. A síndrome nefrótica fecções bacterianas não-estreptocócicas (ex.: esta- pode ocorrer como uma lesão renal primária ou filocócica, pneumocócica), infecções virais (e x.: um componente secundário de uma doença sistê- caxumba, varicela, hepatite B, vírus de coxsackie, mica. mononucleose infecciosa), infecção por protozo á- A proteinúria intensa pode exceder a 10 g/d, rios (ex.: malária, toxoplasmose) e várias outras em ra zão do aumento da permeabilidade glome- (ex.: esquitossomose, sífilis), (c) associada à en - rular principalmente para a albumina. A nefropatia docardite infecciosa, (d) associada a um abscesso de alteração mínima é mais comum em crianças. v isceral (ex.: abscessos pulmonares). Apesar dos sínais clínicos alarmantes, estes paci- entes geralmente respondem bem à terapia por Glomerulonefrite rapidamente progressiva. corticoesteróide. Os níveis de uréia e creatinina É uma síndrome caracterizada por hematúria ori- séricos muitas vezes estão normais. A glomérulo - ginária do néfron (cilindros hemáticos e/ou hemá- patia membranosa, por outro lado, ocorre com cias dismórficas) com o rápido desnvolvimento de maior freqüência em adultos. Muitos destes paci- insuficiência renal (durante sema nas ou meses) e a entes progridem para a insuficiência renal. formação glomerular difusa de crescentes na bió p- A hipoproteínemia é um reflexo da perda uri- sia renal. A gromerulonefrite pode ser (a) mediada nária de proteínas na sindrome nefrótica. A hiper- por anticorpos anti-MBG (ex.: síndrome de Go o - lipidemia é causada pelo estímulo da síntese de dpasture), (b) glomerulonefrite mediada por LDL no fígado, secundária à redução dos níveis de imunocomplexos, (c) glomerulonefrite não-medi- albumina sérica. a d a imunologicamente. O sedimento urinário apresenta corpos gord u - rosos ovais, gotas de gordura livre e cilindro s Outras glomerulonefrites. Síndrome hemolí - graxos, com lipidúria secundária a hiperlipidemia. t ic o -urêmica, nefrite hereditária (síndrome de A hematúria é geralmente insignificante, mas A lport), vasculites: granulomatose de Wegener, quando presente é sugestiva de lúpus eritematoso p eriartrite nodosa. sistêmico. Considera -se um sedimento urinário “ativo” a presença de cilindros hemáticos. Uma Certas glomerulopatias apresentam um quadro clínico misto. Os sintomas nefrótic os ou nefríticos podem dominar o quadro clínico, porém é fre-