Agravos dos profissionais da saúde e acidentes de trabalho
1. I Seminário Nacional de Segurança e Saúde do
Trabalhador da Saúde
São Paulo, 24 a 26 de setembro de 2012.
“Situação atual dos agravos
decorrentes do trabalho em
profissionais da saúde”
Tereza Luiza Ferreira dos Santos
FUNDACENTRO
2. Quem são os trabalhadores da saúde?
São pessoas cujas principais atividades
consistem em melhorar a saúde humana
Setor Saúde e Serviços Sociais (atividades de
atendimento hospitalar, a urgências e emergências,
atenção ambulatorial, serviços de complementação
diagnóstica, outros profissionais da área, outras
atividades relacionadas, serviços veterinários e
serviço sociais com alojamento e sem alojamento)
3. Trabalhadores na área da Saúde
105.686
Público Federal
Público Estadual 345.926
Público Municipal 997.137
Privado 1.117.945
Total 2.566.694
Fonte: IBGE, Pesquisa Assistência Médico-Sanitária 2005.
4. Trabalhadores na área da Saúde por Região
Federal Estadual Municipal Privados Total
Região
Norte 6.388 47.434 81.974 31.143 166.939
Nordeste 20.583 90.354 319.216 205.296 635.449
Sudeste 49.675 149.305 400.634 600.023 1.199.637
Sul 17.842 22.525 128.430 201.912 370.709
Centro- 11.198 36.308 66.883 79.571 193.960
Oeste
Total Geral 2.566.694
Fonte: IBGE, Pesquisa Assistência Médico-Sanitária 2005.
5. Considerando estes números, devemos então refletir sobre um
panorama de adoecimento:
De que adoecem os trabalhadores da saúde?
Como lidam com o sintoma/queixa, como
encaminham os cuidados com a sua prórpria
saúde?
6. Acidentes de trabalho registrados por
atividade econômica
Quantidade de acidentes do trabalho, por situação de registro e
motivo, segundo o Setor de Atividade Econômica - 2010
2010 - Total de 58.334, sendo que 52.458
com CAT. Destes, 42.580 são de típico,
9.223 de trajeto e 655 de doença do
trabalho.
Fonte: http://www.previdenciasocial.gov.br/arquivos/office/3_111007-155436-381.xls.
Acesso em 21/09/2012
7. Algumas características do processo de trabalho dos
trabalhadores da saúde...
Condições de iluminação,ventilação, etc.
condições de conforto ( locais e pausas para
descanso/alimentação)
Disponibilidade dos materiais/medicação
para uso nos pacientes
Formas de gestão
Ritmos intensos de trabalho
Significado do trabalho
O lidar com situações imprevisíveis
Lidar com situações limítrofes
8. Lidar com a impossibilidade/impedimentos para
proporcionar melhorias aos usuários
Equipamentos sucateados ou ultrapassados
A grande demanda e o número insuficiente de
profissionais
A formação dos trabalhadores
A subutilização dos profissionais
Trabalhar em dois locais diferentes/a sobrecarga
Vários outros fatores interferem na atividade:
A identidade confusa
Setores de atuação profissional
O turno
Relacionamentos interpessoais
Divisão de trabalho na equipe
Sexo
Idade
Entre outros...
9. Acidentes de trabalho e riscos
biológicos ocupacionais:
Transmissão:
oVia oral – fecal
oVia respiratória
oPor contato
oPor via sanguínea
Apresentado por Cristiane Rapparini, São Paulo, setembro de 2011.
10. Destaques para HIV. Hepatite B e Hepatite C.
Segundo a OMS – 2 a 3 milhões de
acidentes percutâneos com agulhas
contaminadas por material biológico/ano.
OMS (2000)
66.000 HBV
16.000 HCV
1.000 HIV
11. Acidentes com materiais biológicos, por ano,
segundo regiões do Brasil, 2006 a 2010.
Região 2006 2007 2008 2009 2010 Total
Norte 0 408 632 810 624 2.474
Nordeste 0 888 2.348 3.425 2.567 9.228
Sudeste 345 11.274 14.049 17.882 11.817 55.367
Sul 310 2.200 3.765 4.047 3.294 13.616
Centro 14 449 813 1.652 1.761 4.689
oeste
Total 669 15.219 21.607 27.816 20.063 85.374
Fonte: Cristiane Rapparini
12. AT com material biológico Estado de
São Paulo, 2011 (2007 a 2010)
agem
o de enferm
iar e técnic
- auxil
52%
édicos
1 0% - m eiros
enferm
6 ,7 % - dante
e st u m peza
6 ,3 % - s de li
xiliare
5,7 % - au de lixo
oletor
1, 8% - c
Fonte: Cristiane Rapparini
13. AT com material biológico Estado de São Paulo, 2011.
Fonte: Cristiane Rapparini
14. AT com material biológico Município de
São Paulo: 2005/2009
Fonte: Cristiane Rapparini
15. AT com material biológico
município S. Paulo, 2005 - 2009
Ocupação N. %
Auxiliar Enfermagem 2.737 41,3
Técnico Enfermagem 738 11,1
Enfermeiro 441 6,7
Prof. Enfermagem 3.916 59,1
Subtotal
Auxiliar de limpeza 340 5,1
Médico 803 12,1
Fonte: Cristiane Rapparini
16. Alguns pontos:
•Os enfermeiros estão assumindo as atividades de
assistência e de comando e os trabalhos manuais são
realizados principalmente por auxiliares e técnicos de
enfermagem, sendo estes os mais acometidos por
acidentes de trabalho com material perfuro cortante.
•Os trabalhadores do sexo feminino, jovens, com menos
de cinco anos de experiência se acidentam mais.
•Os AT mais frequentes são com perfuro cortantes,
além de luxações, cervicodorsolombalgia, contaminação
biológica.
17. •Grande exposição aos riscos biológicos e às doenças
como AIDS, Hepatite B e Hepatite C.
•Diversos estudos indicam que o sangue é uma
importante fonte para AT com perfuro cortantes e as
mãos são as partes do corpo mais atingidas.
•A resistência ao uso do Equipamento de Proteção
Individual, o descarte incorreto de materiais
contaminados e o número inadequado de profissionais
foram indicados como os principais motivos para a
ocorrência de AT.
•SUB-NOTIFICAÇÃO das ocorrências de AT por
julgarem serem pequenos os danos.
18. Atenção ao gerenciamento dos resíduos nos
estabelecimentos de saúde deve ser dada, pois
Existem dúvidas entre os profissionais de
enfermagem sobre o que é um resíduo
contaminante e resíduo comum (Santos,
2012).
É comum ainda encontrarmos resíduos de
serviços de saúde misturados aos resíduos
urbanos/domiciliares.
Encontrar RSS nos lixões por catadores têm
sido noticiado.
Hospitais realizando coleta seletiva
19.
20. Sobre o stress:
Das pesquisas realizadas, constatamos que:
Todas as áreas/unidades dos hospitais foram consideradas
estressantes quando relacionadas ao trabalho dos enfermeiros;
Existe relação entre nível de stress e tempo de serviço;
Enfermeiros que tratam de pacientes oncológicos
apresentam Síndrome de burnout e os principais agentes
estressores citados foram: óbito, relações com a equipe médica
e situações de emergência.
As condições de trabalho em centros cirúrgicos
correspondem á área de maior stress
Alguns estudos concordam que o nível de stress está relacionado a estrutura
organizacional da instituição hospital.
21. Males provocados pelo estresse,
estado de alerta permanente,
sobrecarga emocional ou cargas
psicossociais
Hipertensão arterial
Angina estável,
Gastrite
Estados depressivos
22. Sobre a Síndrome de Burnout
O conceito surgiu nos EUA nos anos 70.
A deteriroração nos cuidados (uma
consequência).
Queimar-se por dentro, perder o fogo, perder
a energia, aquilo que deixou de funcionar por
absoluta falta de energia.
23. “O trabalho nem sempre possibilita realização
profissional. Pode, ao contrário, causar problemas
que vão desde a insatisfação até a exaustão”
Dejours, 1992.
Criação da expressão staff burnout por Freudenberg,
1974.
“… É o resultado de esgotamento, decepção
e perda de interesse pela atividade de trabalho
que surge nas profissões que trabalham em
contato direto com pessoas em prestação de
serviços como consequência desse contato
direto no seu trabalho” (Freudenberg).
24. Existe um consenso em considerar que
aparece nos indivíduos como uma resposta
ao stress laboral crônico.
“É uma síndrome através da qual o
trabalhador perde o sentido da sua relação
com o trabalho, de forma que as coisas já
não o importam mais e qualquer esforço lhe
parece ser inútil” (Codo e Vazques).
25. A quem afeta:
É definida como uma reação a tensão emocional
crônica GERADA A PARTIR DO CONTATO DIRETO
e EXCESSIVO com outros seres humanos quando
estes estão com problemas (Maslach e Jackson,
1981).
Freudenberg afirma que é resultado de esgotamento,
decepção e perda de interesse pela atividade de
trabalho que surge nas profissões que atuam em
contato direto com pessoas.
26. Portanto, BURNOUT está associado a
profissionais ou atividades que tem como
objeto de trabalho o cuidar de outros e para
tal necessitam ter contato constante e direto,
tais como: professores, profissionais de
saúde e entre estes os de enfermagem.
27. Para Codo,
O termo burnout surgiu para expressar o
sentimento de profissionais que trabalhavam
diretamente com pacientes dependentes
químicos.
A teoria do burnout se dispõe a compreender as
contradições da área de prestação de serviços,
numa época em que a solidariedade parece
esvanecer e os contratos de trabalho
parecem ter eliminado as pessoas.
28. Como se mostra o burnout?
A exaustão emocional:
Refere-se a um sentimento de
sobrecarga emocional, caracterizado
pela perda de energia, esgotamento
e sentimento de fadiga constante.
29. Abrange sentimentosde desesperança, solidão,
depressão, raiva, impaciência,
irritabilidade, tensão, diminuição de
empatia; sensação de baixa energia,
fraqueza, preocupação; aumento da
suscetibilidade para doenças, cefaléias,
náuseas, tensão muscular, dor lombar ou
cervical, distúrbios do sono (Cherniss, 1980a;
World Health Organization,1998).
30. O distanciamento afetivo provoca a
sensação de alienação em relação aos
outros, sendo a presença destes muitas
vezes desagradável e não desejada
(Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998).
Acompanhado de ansiedade, aumento da irritabilidade e perda de
motivação. O individuo passa a isolar-se dos outros como uma
forma de proteção, mantendo uma atitude fria em relação as
pessoas, mas não é capaz de lidar com suas emoções e as dos outros
e começa a trata-los de forma desumanizada.
31. A baixa realização profissional
ou baixa satisfação com o trabalho pode
ser descrita como uma sensação de que
muito pouco tem sido alcançado e o que
é realizado não tem valor (Cherniss, 1980a;
World Health Organization, 1998).
O sentimento de inadequação profissional e pessoal,
passa a apresentar baixa produtividade, baixa auto-
estima e redução das relações interpessoais.
32. Sintomas físicos e psicológicos da síndrome
de burnout:
Fadiga, exautão física e emocional,
dores de cabeça, gastrite e úlceras,
perda de peso, depressão; perturbações
do sono, insensibilidade, mudanças de
humor, perda dos ideais, comportamento
cínico e negativo, artroses e artrites,
lombalgias, mialgias, colite e problemas
neurovegetativos; hipertensão, dores
musculares, asma, alterações no ciclo
mentrual, sintomas paranoicos.
Fontes: Cohen (1995); Barni et al (1996); Akrayel, Caison e
Adams(2002); Lautert (1995); Smrdel (2003).
33. Algumas considerações:
A faixa etária dos sujeitos na qual surgem
mais sintomas de burnout é entre 31 e 40
anos e após 50 anos.
Existe risco de burnout entre profissionais
com maior tempo de permanência no serviço
e de mais idade.
Os enfermeiros que trabalham por turnos apresentam
níveis de despersonalização mais elevados
34. Infere-se que em hospitais públicos surjam mais sintomas
de burnout entre os profissionais de enfermagem, quando
relacionamos às condições de trabalho.
Convivem com sentimentos contraditórios
como cansaço, esgotamento, angústia,
impotência e revolta devido à sobrecarga
provocada pelo excesso de demanda e pelas
limitações dos recursos de situações que
envolvem riscos a vida.
“Não poder dar outra chance ao paciente”
35. No Brasil, as pesquisas são
insipientes, portanto, pouco se
produziu sobre o tema burnout
(Trigo, T).
Necessidade de se
efetuar mais pesquisas.
36. o
e Como lidar?
ão do
nç
eve nto
pr me
em
ev s
d
A ata do
da as
t
tr nou abor em
bur o bl e
r pr
se o s.
o m vos onai l n
o
c t i aci
le iz ocia eio d
e s or m ssão
e
co an u
t
por ho p iscu
S abal
or g tr s de
d
to d
e
o i
rup ntu
g o i r a e
com la ntr
imu ção e .
est era s
co op eiro
panh
com
37. Planejamento, replanejamento do trabalho
por meio de negociações cotidianas como
parte de um conjunto de estratégias que
visam à promoção e a prevenção em saúde
no ambiente laboral.
Diretrizes públicas que valorizem os
profissionais da saúde de forma concreta.
38. vem
s de
n tiva os los)
reve spect e amp
as p os a vos
did s n ais
me a d a ti
ole ctos m os
As ntr is (c spe en
e na s a
er c izacio ao ritos
s n o
rga osiçã dos e o. rest
o
m op liza trabalh
e d ua de
d i vi t o s
in ra
cont
39. Dependência química:
•Substâncias psicoativas/psicotrópicos
•Consumo alcoólico
•Existem estudos referentes ao consumo de
drogas psicoativas entre estudantes de
medicina
•Tabagismo
A facilidade de acesso às substâncias.
40. •Violência laboral
Assédio moral de chefias para pessoal de enfermagem
e subordinados
Assédio moral de colegas de mesmo nível
Agressões físicas e morais de usuários
Agressões físicas e morais de acompanhantes de
usuários
Assédio sexual
As agressões devem ser tratadas
como acidentes de trabalho e como
surgidas em decorrência da
atividade de trabalho.
41. Exemplos de condutas violentas
Surras/espancamentos
Mordidas
Beliscões
Socos
Intimidações
Ameaças
Mensagens ofensivas
Gritos
Apelidos
Indiretas
Gestos rudes, etc.
Como lidam: “estereótipo no trabalhador da enfermagem de
que seu trabalho tem um aspecto missionário. Herança cultural
dos primórdios do trabalho na enfermagem...”
Fala se em Humanização na saúde com relação ao usuário do
serviço, mas há de se pensar sobre a humanização de trabalho
para o trabalhador da saúde.
42. Doenças provocadas pelas exigências físicas do
trabalho
Problemas de coluna e articulações, varizes, bursites e
tendinites – dores (trabalho realizado em pé por longos
períodos, sobrecarga de peso na movimentação de pacientes
no leito e transporte); As LER/DORT
As doenças dos que trabalham em pé. Ramazzini, B. (1700).
95% das atividades são realizadas em pé e 26% exigem
curvatura do tronco; tarefas que exigem flexão e rotação
frequentes da coluna (Pinho, L. e cols. 2001)
Torções nos tornozelos/pés (Santos, 2012).
Equipamentos sem manutenção ou danificados (macas, cadeiras, etc.)
Fonte: Beck et alli (2006),
Trabalhadores de unidades críticas (pronto atendimento, centro cirúrgico,
Unidade de terapia intensiva, unidade de hematoconcologia e ambulatório).
43. Outros sintomas importantes relacionados as
cargas psicossociais:
*Intolerância com cônjuges e filhos,
Angústia, ansiedade, cansaço mental,
irritabilidade, desânimo, hostilidade;
Questões relacionadas ao tipo de objeto com o qual se lida na
atividade e ao significado de lidar com doença/morte.
Questões relacionadas com as impossibilidades de aplicar os
cuidados necessários e aprendidos aos usuários dos serviços.
“ele merecia uma chance, uma oportunidade”.
44. Doenças sem origem esclarecida
d ee
r eoi s em
a t i da
to d tica
na m en gnos ç ão
ncio am dia u situa
a o fu for ã oo
das e qu e ens
l i ga as de t
São âncre e gran e
a o p ntos d portant
m e al i m
mo cion
em o
45. Como lidam com os problemas de
saúde:
Estabelecem relação entre os problemas de saúde e
os riscos no ambiente de trabalho, bem como à
forma de organizar a atividade;
Contraditoriamente, não estabelecem associações
entre ambiente de trabalho, forma de trabalhar e a
saúde.
A forma mais frequente de se lidar com os
problemas é individual, pessoal e particular
Poucos referem uma ação da empresa no sentido da
prevenção ou mesmo de uma política de saúde para
o trabalhador
46. As práticas são diversas:
Vão desde o uso de florais, prática de Yoga,
dança à cirurgias que são realizadas durante
período de férias, por exemplo, demonstrando
assim uma dissociação dos problemas do mundo
do trabalho das ações efetivas para solucioná-
los.
Desta forma, a responsabilidade pela saúde é percebida como
sendo única e exclusivamente do trabalhador. Ideologia da
culpa que gera e alimenta uma vergonha de estar adoecido
estimulando ao não cuidado de si próprio.
47. Considerações finais:
Outros temas como violência no trabalho, abandono da
profissão e assédio moral devem ser enfocados em outros
estudos.
Existe atualmente uma preocupação da Organização Mundial
da Saúde com a evasão da profissão por parte dos enfermeiros
e também de dirigentes de diversos países – A migração.
É importante estimular estudos mais conclusivos e divulgar os
já existentes para contribuir com soluções para os problemas
dos trabalhadores da saúde.
Devem ser estimuladas pesquisas que detectem e
compreendam as formas de sentir, pensar e agir
destes trabalhadores que determinam as suas ações
em relação aos usuários de serviços, bem como com
relação a sua posição, forma de estar no mundo do
trabalho.