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EMERGÊNCIAS NO DIABETES




                 Dra Claudia Petrilo
     Diretora de Especialidades Clínicas - HMLJ
A Magnitude do problema
   Uma epidemia de diabetes mellitus (DM) está em curso.

   Em 1985 estimava-se que existissem 30 milhões de adultos com
    DM no mundo; esse número cresceu para 135 milhões em 1995,
    atingindo 173 milhões em 2002, com projeção de chegar a 300
    milhões no ano 2030.

   No mundo, o número de mortes atribuídas ao DM está em
    torno de 800 mil; entretanto é fato bem estabelecido que essa
    quantidade de óbitos é consideravelmente subestimada, pois
    freqüentemente o DM não é mencionado na declaração de óbito
    pelo fato de serem suas complicações (particularmente as
    doenças cardio e cerebrovasculares), as causas da morte.
Emergência em Diabetes
   Crises Hiperglicêmicas (CAD e EHH)

   Hipoglicemia
Crises Hiperglicêmicas
   A cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperglicêmico hiperosmolar
    (EHH) são as duas complicações agudas mais graves que podem ocorrer
    durante a evolução do diabetes mellitus (DM) tipos 1 e 2.

   Apesar de haver algumas diferenças significantes entre essas duas
    complicações, as manifestações clínicas e o tratamento são similares.

   Em centros de excelência a taxa de mortalidade para CAD é < 5%, e para o
    EHH 15%.

   O prognóstico de ambas depende das condições de base do paciente, com
    piora sensível em idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas.

                                                Diabetes Care. 2004; 27Suppl 1: S94-102.
Fatores Precipitantes
   Infecções: As mais freqüentes são as do trato respiratório alto,
    pneumonias e infecções de vias urinárias.

   Outros fatores importantes: AVE, ingesta excessiva de álcool, pancreatites,
    IAM, traumas, uso de drogas ilícitas, mau controle metabólico, episódios
    prévios de CAD, doenças psiquiátricas coexistentes, doenças endócrinas
    coexistentes (Hipertireoidismo, Feocromocitoma, Acromegalia, Sd de
    Cushing), uso de algumas medicações (glicocorticóides, agonistas
    adrenérgicos, fenitoína, betabloqueadores, clortalidona, antipsicóticos e etc)

   Atualmente, com o uso mais freqüente de bombas de infusão contínua de
    insulina ultra-rápida tem-se observado incidência significante de CAD
    (obstrução parcial ou total do catéter provocando redução aguda da infusão
    de insulina).

   Idosos diabéticos tipo 2 , que desconhecem o diagnóstico de DM, com
    processos infecciosos subclínicos e/ou limitações do autocontrole podem
    evoluir mais facilmente com EHH.

                                                  Diabetes Metab. 2003;29(6): 602-7.
Patogênese
    Os mecanismos básicos de ambas as situações são similares.

    Fundamentalmente, o que ocorre é a redução na concentração efetiva de
     insulina circulante associada à liberação excessiva de hormônios contra-
     reguladores, entre os quais o glucagon, as catecolaminas, o cortisol e o
     hormônio do crescimento (GH).

    Essas alterações hormonais na CAD e no EHH desencadeiam aumento da
     produção hepática de glicose e redução de sua captação nos tecidos
     periféricos insulinossensíveis, resultando em hiperglicemia e conseqüente
     hiperosmolalidade no espaço extracelular.

    Portanto, a hiperglicemia é resultante de três mecanismos:

1.   ativação da gliconeogênese
2.   ativação da glicogenólise
3.   redução da utilização periférica de glicose.
   A combinação de deficiência de insulina com o aumento de
    hormônios contrareguladores provoca a liberação excessiva de
    ácidos graxos livres do tecido adiposo (lipólise), que no fígado serão
    oxidados em corpos cetônicos (B-hidroxibutírico e acetoacético)
    resultando em cetonemia e acidose metabólica.

   Na EHH a concentração de insulina, embora também reduzida, é
    suficiente para prevenir a lipólise acentuada e a cetogênese que
    normalmente acontece na CAD.

   Finalmente, em ambas as situações, na CAD e no EHH, observamos
    glicosúria de grau variável, diurese osmótica, perda de fluidos e
    eletrólitos, principalmente sódio e potássio.

                                    Diabetes Care. 2004; 27 Suppl 1: S94-102.
Diagnóstico
                 História e Exame Físico
   Quadro Clínico: CAD e do EHH representam evolução “lenta” e progressiva dos sinais e
    sintomas de DM descompensado.

   Geralmente é precedida por um dia ou mais de poliúria e polidipsia acentuadas, associadas com
    fraqueza acentuada, náuseas, vômitos, poliúria, polidipsia, perda de peso e sonolência.

   Exame físico: na presença de acidose, podemos observar a hiperpnéia, e em situações mais
    graves, a respiração de Kussmaul.

   Também ocorrem desidratação com pele seca e fria, língua seca, hipotonia dos globos oculares,
    extremidades frias, agitação, fácies hiperemiada, hipotonia muscular, pulso rápido e pressão
    arterial variando do normal até o choque.

   Dor abdominal sugerindo quadro de abdome agudo (a intensificação da desidratação dificulta e
    torna doloroso o deslizamento dos folhetos da pleura e do peritônio, podendo se observar defesa
    muscular abdominal localizad ou generalizada).

   Em alguns casos ocorre dilatação, atonia e estase gástrica agravando o quadro de vômitos. O
    atraso no início do tratamento tratamento da acidose e da desidratação pode evoluir com choque
    e morte.
                                                              Diagnosis and treatment. Minerva Med. 2003; 94(6): 409-18.
Achados Laboratoriais
     CAD:                                     EHH:

1.    Hiperglicemia (>400)
2.    pH < 7,30 a 7,35                     1.   Hiperglicemia: > 600
3.    HCO baixo < 15mEq/L                  2.   Sódio sérico: baixo, normal ou
4.    Anion Gap elevado                         alto (se presente hiponatremia
5.    Cetonemia e Cetonúria                     indica pior prognóstico)
6.    Osm geralmente normal < 330          3.   Potássio: normal ou alto
7.    Sódio sérico: normal, baixo ou       4.   Hiperosmolaridade
      alto, porém o valor corporal total
      sempre baixo)                             (>320mOsm/Kg)
8.    Potássio: idem                       5.   Uréia e Creatinina elevadas
9.    Leucocitose (até 30.000) mesmo       6.   pH e bicarbonato normais
      sem infecção
10.   Amilasemia
Diagnóstico Diferencial
   Cetose de jejum

   Cetoacidose alcoólica

   Acidose pelo uso de medicamentos como salicilatos e metformina

   Outras causas de acidose com ânion gap elevado, tais como acidose láctica
    e insuficiência renal crônica (uremia)

   Intoxicação exógena por monóxido carbono, cianeto, tolueno, metanol etc


   OBS: todas essas situações são facilmente confirmadas pela história clínica
    e pela glicose sérica

                                                       Am J Med. 2004; 117: 357-8.
Tratamento
As metas do tratamento das crises hiperglicêmicas agudas são:

a)   cuidados com as vias aéreas superiores e, em casos de vômitos, indicação
     de sonda nasogástrica

b)   correção da desidratação

c)   correção dos distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos

d)   redução da hiperglicemia e da osmolalidade

e)   identificação e tratamento do fator precipitante.

                                                             Diretrizes SBD 2007
                                                                                .
Tratamento
   CAD                                          EHH

   Hidratação: SF 0,9% 15 a 20ml/kg/h.          Hidratação: Correção da desidratação
    A escolha subsequente de fluidos              com solução fisiológica isotônica (SF
    depende dos eletrólitos e da diurese          0,9%) – 1 a 2 L nas primeiras 2 horas.
    (caso natremia inicial > 150mEq/L ou          A escolha subsequente de fluidos
    elevar-se durante o tratamento, usar          depende dos eletrólitos e da diurese.
    SF 0,45% em média 4 a
    14ml/kg/hora)                                À seguir, reposição hídrica de acordo
                                                  com PA, OVC, diurese e quadro clínico
   Com a função renal normal deve-se             (geralmente são necessários 6 a 8
    iniciar infusão de 10 a 15mEq de              litros nas primeiras 12h)
    KCl/hora com o objetivo de manter o
    potássio sérico entre 4 e 5mEq/l.            Adicionar SG 5% quando glicemia
                                                  300mg/dL
   Adicionar SG 5% quando glicemia
    250mg/dL

   A utilização de bicarbonato na CAD é
    controversa, mas a literatura considera                              Diretrizes SBD 2007
    prudente o uso em baixas doses
    quando o pH estiver < 7,1
Insulinoterapia – CAD e EHH
   No EHH somente começar insulinoterapia após iniciar reposição hídrica

   IR ou análogos ultra-rápidos 0,1U/Kg/hora IV (5 a 7U/h).

   A seguir 0,1U/Kg/h (infusão contínua) com controle glicêmico a cada hora.

   Se glicemia não diminuir de 50 a 70mg/dL na primeira hora, duplicar a dose
    de insulina a cada hora.

   Quando glicemia atingir 250mg/dL, iniciar esquema de insulinização SC com
    insulina regular ou análogos ultra-rápidos a cada quatro horas

   Assim que o paciente conseguir se alimentar iniciar o uso de insulina basal
    associado a múltiplas injeções de insulina regular ou análogos ultra-
    rápidos..

                                                            Diretrizes SBD 2007
Hipoglicemia
   Complicação mais freqüente do tratamento do diabetes.

   Ocorre em:

   30% dos pacientes em uso de insulinoterapia

   16% dos pacientes em uso de hipoglicemiantes orais (risco maior
    com a clorpropamida devido à sua meia vida longa)

   12% dos pacientes tratados com dieta

                            (Diabetes Care 2003;6:1902-12)
Fatores Predisponentes
   Administração excessiva de insulina e dose excessiva de medicações hipoglicemiantes

   Atraso e/ou omissão de refeições

   Idades extremas (crianças e idosos)

   HbA1c < 7%

   Atividade física

   Associações medicamentosas

   Insuficiência renal

   Sepse e coexistência de condições clínicas que impliquem em menor necessidade diária de
    insulina (Hipotireoidismo, D.Addison, Insuf renal, Sd de Má Absorção Intestinal,
    Insulinoma)
Sinais e Sintomas

   Tríade de Whipple (sintomas conscientes de hipoglicemia,
    baixa glicose sanguínea e manifestações clínicas que desaparecem
    após a normalização da glicemia).



   IMPORTANTE: sempre que possível confirmar diagnóstico
    através de glicemia capilar e venosa.
Sintomas Adrenérgicos
        (Ocorre por estimulação do SNA – resposta neuroendócrina)

   Tremor

   Sensação de fome

   Sudorese (pele fria e úmida)

   Palidez

   Palpitações/taquicardia

   Náuseas e vômitos
Sintomas Neuroglicopênicos
     (Ocorre pela insuficiente concentração de glicose para o
               adequado funcionamento do SNC)

1.   Leve/Moderada               1.   Grave
    Tonteira                        Convulsões
    Cefaléia                        Torpor
    Fraqueza                        Coma
    Parestesias                     Hemiplegia
    Distúrbios visuais              Dilatação pupilar
    Alterações do                   Postura de descorticação
     comportamento
    Dilatação pupilar
    Confusão mental
Tratamento - Diretrizes SBD 2007
             Preventivo:                       Para pacientes conscientes:

   Orientação para reconhecimento dos      Administrar de imediato, alimentos
    sinais hipoglicêmicos de alerta          contendo açúcar (preferencialmente
                                             líquidos) ou comprimidos de glicose
   Evitar atitudes que predispõe à          (exceto frutose pura porque não
    hipoglicemia                             atravessa a barreira hematoencefálica)

   Carregar alguma forma de
    identificação                              Para pacientes inconscientes
                                                      ou comatosos:

                                            solução hipertônica de glicose a 50%: 2
                                             a 5 ampolas EV rapidamente.

                                            Se paciente permanecer em coma, deve
                                             ser associado Manitol 20% 200ml EV
Conclusão
     Muito permanece a ser feito para diminuir a incidência
     das complicações do diabetes:

1.   Diagnóstico precoce

2.   Orientação adequada

3.   Prevenção dos fatores de risco

                           (Diabetes Care 2003;6:1902-12)
Obrigada!

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Emergências no diabetes: Cetoacidose e hiperglicemia hiperosmolar

  • 1. EMERGÊNCIAS NO DIABETES Dra Claudia Petrilo Diretora de Especialidades Clínicas - HMLJ
  • 2. A Magnitude do problema  Uma epidemia de diabetes mellitus (DM) está em curso.  Em 1985 estimava-se que existissem 30 milhões de adultos com DM no mundo; esse número cresceu para 135 milhões em 1995, atingindo 173 milhões em 2002, com projeção de chegar a 300 milhões no ano 2030.  No mundo, o número de mortes atribuídas ao DM está em torno de 800 mil; entretanto é fato bem estabelecido que essa quantidade de óbitos é consideravelmente subestimada, pois freqüentemente o DM não é mencionado na declaração de óbito pelo fato de serem suas complicações (particularmente as doenças cardio e cerebrovasculares), as causas da morte.
  • 3. Emergência em Diabetes  Crises Hiperglicêmicas (CAD e EHH)  Hipoglicemia
  • 4. Crises Hiperglicêmicas  A cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) são as duas complicações agudas mais graves que podem ocorrer durante a evolução do diabetes mellitus (DM) tipos 1 e 2.  Apesar de haver algumas diferenças significantes entre essas duas complicações, as manifestações clínicas e o tratamento são similares.  Em centros de excelência a taxa de mortalidade para CAD é < 5%, e para o EHH 15%.  O prognóstico de ambas depende das condições de base do paciente, com piora sensível em idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas. Diabetes Care. 2004; 27Suppl 1: S94-102.
  • 5. Fatores Precipitantes  Infecções: As mais freqüentes são as do trato respiratório alto, pneumonias e infecções de vias urinárias.  Outros fatores importantes: AVE, ingesta excessiva de álcool, pancreatites, IAM, traumas, uso de drogas ilícitas, mau controle metabólico, episódios prévios de CAD, doenças psiquiátricas coexistentes, doenças endócrinas coexistentes (Hipertireoidismo, Feocromocitoma, Acromegalia, Sd de Cushing), uso de algumas medicações (glicocorticóides, agonistas adrenérgicos, fenitoína, betabloqueadores, clortalidona, antipsicóticos e etc)  Atualmente, com o uso mais freqüente de bombas de infusão contínua de insulina ultra-rápida tem-se observado incidência significante de CAD (obstrução parcial ou total do catéter provocando redução aguda da infusão de insulina).  Idosos diabéticos tipo 2 , que desconhecem o diagnóstico de DM, com processos infecciosos subclínicos e/ou limitações do autocontrole podem evoluir mais facilmente com EHH. Diabetes Metab. 2003;29(6): 602-7.
  • 6. Patogênese  Os mecanismos básicos de ambas as situações são similares.  Fundamentalmente, o que ocorre é a redução na concentração efetiva de insulina circulante associada à liberação excessiva de hormônios contra- reguladores, entre os quais o glucagon, as catecolaminas, o cortisol e o hormônio do crescimento (GH).  Essas alterações hormonais na CAD e no EHH desencadeiam aumento da produção hepática de glicose e redução de sua captação nos tecidos periféricos insulinossensíveis, resultando em hiperglicemia e conseqüente hiperosmolalidade no espaço extracelular.  Portanto, a hiperglicemia é resultante de três mecanismos: 1. ativação da gliconeogênese 2. ativação da glicogenólise 3. redução da utilização periférica de glicose.
  • 7. A combinação de deficiência de insulina com o aumento de hormônios contrareguladores provoca a liberação excessiva de ácidos graxos livres do tecido adiposo (lipólise), que no fígado serão oxidados em corpos cetônicos (B-hidroxibutírico e acetoacético) resultando em cetonemia e acidose metabólica.  Na EHH a concentração de insulina, embora também reduzida, é suficiente para prevenir a lipólise acentuada e a cetogênese que normalmente acontece na CAD.  Finalmente, em ambas as situações, na CAD e no EHH, observamos glicosúria de grau variável, diurese osmótica, perda de fluidos e eletrólitos, principalmente sódio e potássio. Diabetes Care. 2004; 27 Suppl 1: S94-102.
  • 8. Diagnóstico História e Exame Físico  Quadro Clínico: CAD e do EHH representam evolução “lenta” e progressiva dos sinais e sintomas de DM descompensado.  Geralmente é precedida por um dia ou mais de poliúria e polidipsia acentuadas, associadas com fraqueza acentuada, náuseas, vômitos, poliúria, polidipsia, perda de peso e sonolência.  Exame físico: na presença de acidose, podemos observar a hiperpnéia, e em situações mais graves, a respiração de Kussmaul.  Também ocorrem desidratação com pele seca e fria, língua seca, hipotonia dos globos oculares, extremidades frias, agitação, fácies hiperemiada, hipotonia muscular, pulso rápido e pressão arterial variando do normal até o choque.  Dor abdominal sugerindo quadro de abdome agudo (a intensificação da desidratação dificulta e torna doloroso o deslizamento dos folhetos da pleura e do peritônio, podendo se observar defesa muscular abdominal localizad ou generalizada).  Em alguns casos ocorre dilatação, atonia e estase gástrica agravando o quadro de vômitos. O atraso no início do tratamento tratamento da acidose e da desidratação pode evoluir com choque e morte. Diagnosis and treatment. Minerva Med. 2003; 94(6): 409-18.
  • 9. Achados Laboratoriais  CAD:  EHH: 1. Hiperglicemia (>400) 2. pH < 7,30 a 7,35 1. Hiperglicemia: > 600 3. HCO baixo < 15mEq/L 2. Sódio sérico: baixo, normal ou 4. Anion Gap elevado alto (se presente hiponatremia 5. Cetonemia e Cetonúria indica pior prognóstico) 6. Osm geralmente normal < 330 3. Potássio: normal ou alto 7. Sódio sérico: normal, baixo ou 4. Hiperosmolaridade alto, porém o valor corporal total sempre baixo) (>320mOsm/Kg) 8. Potássio: idem 5. Uréia e Creatinina elevadas 9. Leucocitose (até 30.000) mesmo 6. pH e bicarbonato normais sem infecção 10. Amilasemia
  • 10. Diagnóstico Diferencial  Cetose de jejum  Cetoacidose alcoólica  Acidose pelo uso de medicamentos como salicilatos e metformina  Outras causas de acidose com ânion gap elevado, tais como acidose láctica e insuficiência renal crônica (uremia)  Intoxicação exógena por monóxido carbono, cianeto, tolueno, metanol etc  OBS: todas essas situações são facilmente confirmadas pela história clínica e pela glicose sérica Am J Med. 2004; 117: 357-8.
  • 11. Tratamento As metas do tratamento das crises hiperglicêmicas agudas são: a) cuidados com as vias aéreas superiores e, em casos de vômitos, indicação de sonda nasogástrica b) correção da desidratação c) correção dos distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos d) redução da hiperglicemia e da osmolalidade e) identificação e tratamento do fator precipitante. Diretrizes SBD 2007 .
  • 12. Tratamento  CAD  EHH  Hidratação: SF 0,9% 15 a 20ml/kg/h.  Hidratação: Correção da desidratação A escolha subsequente de fluidos com solução fisiológica isotônica (SF depende dos eletrólitos e da diurese 0,9%) – 1 a 2 L nas primeiras 2 horas. (caso natremia inicial > 150mEq/L ou A escolha subsequente de fluidos elevar-se durante o tratamento, usar depende dos eletrólitos e da diurese. SF 0,45% em média 4 a 14ml/kg/hora)  À seguir, reposição hídrica de acordo com PA, OVC, diurese e quadro clínico  Com a função renal normal deve-se (geralmente são necessários 6 a 8 iniciar infusão de 10 a 15mEq de litros nas primeiras 12h) KCl/hora com o objetivo de manter o potássio sérico entre 4 e 5mEq/l.  Adicionar SG 5% quando glicemia 300mg/dL  Adicionar SG 5% quando glicemia 250mg/dL  A utilização de bicarbonato na CAD é controversa, mas a literatura considera Diretrizes SBD 2007 prudente o uso em baixas doses quando o pH estiver < 7,1
  • 13. Insulinoterapia – CAD e EHH  No EHH somente começar insulinoterapia após iniciar reposição hídrica  IR ou análogos ultra-rápidos 0,1U/Kg/hora IV (5 a 7U/h).  A seguir 0,1U/Kg/h (infusão contínua) com controle glicêmico a cada hora.  Se glicemia não diminuir de 50 a 70mg/dL na primeira hora, duplicar a dose de insulina a cada hora.  Quando glicemia atingir 250mg/dL, iniciar esquema de insulinização SC com insulina regular ou análogos ultra-rápidos a cada quatro horas  Assim que o paciente conseguir se alimentar iniciar o uso de insulina basal associado a múltiplas injeções de insulina regular ou análogos ultra- rápidos.. Diretrizes SBD 2007
  • 14. Hipoglicemia  Complicação mais freqüente do tratamento do diabetes.  Ocorre em:  30% dos pacientes em uso de insulinoterapia  16% dos pacientes em uso de hipoglicemiantes orais (risco maior com a clorpropamida devido à sua meia vida longa)  12% dos pacientes tratados com dieta (Diabetes Care 2003;6:1902-12)
  • 15. Fatores Predisponentes  Administração excessiva de insulina e dose excessiva de medicações hipoglicemiantes  Atraso e/ou omissão de refeições  Idades extremas (crianças e idosos)  HbA1c < 7%  Atividade física  Associações medicamentosas  Insuficiência renal  Sepse e coexistência de condições clínicas que impliquem em menor necessidade diária de insulina (Hipotireoidismo, D.Addison, Insuf renal, Sd de Má Absorção Intestinal, Insulinoma)
  • 16. Sinais e Sintomas  Tríade de Whipple (sintomas conscientes de hipoglicemia, baixa glicose sanguínea e manifestações clínicas que desaparecem após a normalização da glicemia).  IMPORTANTE: sempre que possível confirmar diagnóstico através de glicemia capilar e venosa.
  • 17. Sintomas Adrenérgicos (Ocorre por estimulação do SNA – resposta neuroendócrina)  Tremor  Sensação de fome  Sudorese (pele fria e úmida)  Palidez  Palpitações/taquicardia  Náuseas e vômitos
  • 18. Sintomas Neuroglicopênicos (Ocorre pela insuficiente concentração de glicose para o adequado funcionamento do SNC) 1. Leve/Moderada 1. Grave  Tonteira  Convulsões  Cefaléia  Torpor  Fraqueza  Coma  Parestesias  Hemiplegia  Distúrbios visuais  Dilatação pupilar  Alterações do  Postura de descorticação comportamento  Dilatação pupilar  Confusão mental
  • 19. Tratamento - Diretrizes SBD 2007 Preventivo: Para pacientes conscientes:  Orientação para reconhecimento dos  Administrar de imediato, alimentos sinais hipoglicêmicos de alerta contendo açúcar (preferencialmente líquidos) ou comprimidos de glicose  Evitar atitudes que predispõe à (exceto frutose pura porque não hipoglicemia atravessa a barreira hematoencefálica)  Carregar alguma forma de identificação Para pacientes inconscientes ou comatosos:  solução hipertônica de glicose a 50%: 2 a 5 ampolas EV rapidamente.  Se paciente permanecer em coma, deve ser associado Manitol 20% 200ml EV
  • 20. Conclusão Muito permanece a ser feito para diminuir a incidência das complicações do diabetes: 1. Diagnóstico precoce 2. Orientação adequada 3. Prevenção dos fatores de risco (Diabetes Care 2003;6:1902-12)