O documento discute como os pastores devem usar smartphones de forma saudável e produtiva sem se tornarem escravos da tecnologia. Ele argumenta que smartphones são ferramentas neutras que refletem os valores do usuário e que limitar alertas e notificações reduz interrupções, permitindo se concentrar no trabalho ministerial de servir aos outros.
1. A batalha do pastor contra seu smartphone.
Tendemos a abraçar a tecnologia sem muita consideração. Os avanços devem ser bons
porque, afinal, são avanços. Se pudermos estar mais conectados às pessoas e processar mais
informações, então deve ser uma vitória. Certo? Por que devemos mesmo fazer uma
segunda reflexão?
A onipresença dos smartphones deve nos levar a pensar por um minuto. De acordo com
dados da Google, 62 por cento dos brasileiros têm telefones inteligentes. Esta é uma
sociedade muito conectada. É também um fenômeno muito novo na história. Isso deve nos
fazer pensar e fazer algumas perguntas. Esse nível de conexão é necessário? É bom,
prejudicial ou indiferente? Está me mudando? Está mudando a maneira como eu me
relaciono com os outros e como faço meu trabalho?
Eu sou pastor e já tive um smartphone. Como resultado, tive que pensar em uma série de
coisas e fazer alguns ajustes em termos de produtividade e tecnologia. Tem sido um
processo nos últimos anos. Eu acho que estou realmente pensando nisso e aplicando-o de
maneira saudável agora.
Já foi dito antes, e com razão: tecnologia é uma ferramenta, não um mestre. Não pode ditar
nossas vidas. Não podemos congelar sem ela. Abaixo estão algumas considerações e
conclusões baseadas no meu próprio exame pessoal. Elas estão voltadas para o ministério
pastoral, mas não estão limitadas a ele.
O smartphone é neutro; não é inerentemente ruim ou bom.
Podemos ficar divididos aqui, pendendo para um e outro lado: a tecnologia é ruim, portanto,
fique longe dela; ou a tecnologia é incrível, então mergulhe de cabeça nela. A verdade é que
a tecnologia é neutra. Possui potencial insondável, mas a avaliação moral de como é usada
gira em torno do usuário. Isso me ajuda a manter o foco da conversa onde ele precisa estar:
em mim, não apenas na tecnologia.
O smartphone é mais um espelho do que qualquer outra coisa.
O telefone nos diz o que realmente valorizamos. Como um espelho, ele reflete o que
achamos que é importante. O que aprendemos com a mulher que está sempre no Facebook
ou Instagram? Que tal o cara que está atualizando constantemente as pontuações
esportivas? E o homem que olha pornografia? Que tal o aluno obcecado por tirar fotos de si
mesmo? Como usamos a tecnologia nos diz quem somos. É um espelho.
Os alertas são rotulados incorretamente: são interrupções.
Eu costumava ter alertas para praticamente tudo. Novo e-mail? Alerta. Alguém
tweetou? Alerta. Alguém curtiu algo no Facebook? Alerta. Notícias de última
hora? Alerta. Você consegue ter uma ideia? Você pode imaginar o que acontecia? Meu
telefone emitia sinais sonoros o dia todo. Então eu ficava curioso: “O foi isso?” Eu realmente
queria verificar. Você sabe o que acontece, então, certo? Você se torna escravo com
qualquer alerta que houver. E as probabilidades de que qualquer coisa que você estiver
fazendo no momento seja realmente muito mais importante do que o alerta que esteja
chamando sua atenção é muito grande.
2. Depois de algum tempo comecei a desligar os alertas, um a um. No momento, não tenho
alertas no meu telefone, exceto um telefonema ou uma mensagem de texto. Não consigo
mais me imaginar de outra maneira. Se eu quiser saber alguma coisa, eu vou lá e descubro,
quando for conveniente. Limitar os alertas significa limitar as interrupções.
Eu não “preciso” ter e-mails no meu telefone.
Eu costumava pensar que eu precisava ter e-mail no meu telefone. Senti como se eu
pudesse saber alguma coisa de modo rápido, então eu o tinha. Eu verificava meu e-mail
muitas, muitas vezes por dia. Você sabe o que descobri quando refleti sobre isso? Se
houvesse algo muito importante, alguém geralmente ligava ou me enviava mensagens de
texto. Uma lição aprendida por mim foi: só porque eu tenho acesso a informações, não
significa que preciso saber delas em tempo real.
Sei que algumas pessoas precisam ter e-mail em seus telefones por causa de seu
trabalho. Minha sugestão é simplesmente esta: se você não precisa ter, então não tenha. Se
puder, defina os termos do seu e-mail. Talvez você possa pagar um plano razoável para
verificar seu e-mail pela manhã, no almoço e no final dos dias em que você está
trabalhando. Isso foi muito libertador para mim (e para minha família).
O trabalho de um pastor não deve ser alterado pela tecnologia, mas
servido por ela.
Eu gosto de ler os antigos: você sabe, os puritanos e os reformadores. De muitas maneiras,
eu quero ser como eles, imitando-os no compromisso com Cristo e sua igreja. Eu já me
perguntei, quão diferente o meu ministério no dia-a-dia parece ser do de Richard Baxter. Eu
poderia ser pastor em sua igreja? Eu saberia como sê-lo sem meu smartphone e meu
notebook? No ministério, a tecnologia é para nos ajudar, mas eu não acho que ela deve
reformular completamente o que estamos fazendo para que pareça drasticamente diferente
do que tem sido ao longo da história.
O meu telefone (e tecnologia em geral) deve ser visto através das
lentes da mordomia.
Um mordomo é alguém que não é o proprietário, mas o cuidador. Ele é aquele a quem foi
dado algo com o propósito de usá-lo fielmente, tendo em vista dar conta. Somos mordomos
de nossa vida. Portanto, tudo o que fazemos deve ser visto à luz da realidade da
mordomia. Nada, mesmo quando parece não haver nada a fazer, escapa a esta realidade.
Dizer “não” a estas coisas é dizer “sim” a outras.
Adoro o impasse entre as minhas atividades domésticas e a minha Bíblia. É um momento
poderoso de resolução e compromisso dizer “não” a algo, porque quando fazemos, estamos
dizendo sim a outra coisa. Quando digo “não” às distrações nas mídias sociais ou jogos,
então estou dizendo “sim” a quem me rodeia. Estou dizendo “sim” para pensar, planejar,
meditar ou orar. Dizer “não” é uma poderosa obra santificadora para uma carne que gosta
de ouvir “sim, você pode ter isso”.
Não há dúvida de que muito mais possa ser escrito sobre isso. Eu só quero encorajar as
pessoas a pensarem ao usar sua tecnologia. O fato é que os smartphones não são a questão
única pela qual nosso Criador nos leva a pensar cuidadosamente sobre como podemos usá-
los bem ou não.