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SUMÁRIO                                                                                   SUMMARY
Alimentos preservados com radiação: a vantagem competitiva                                 Food preservation with radiation: the competitive advantage
que falta ao Brasil                                                                  1     that Brazil lacks                                                                    1
   Patricia Wieland, Leonardo Junqueira Lustosa, Teresia Diana Lewe van Aduard de              Patricia Wieland, Leonardo Junqueira Lustosa, Teresia Diana Lewe van Aduard de
   Macedo-Soares                                                                               Macedo-Soares

O treinamento experiencial e sua aplicação no contexto corporativo:                        The experiential training and its corporate context application:
estudo comparativo entre programas de treinamento realizados nos                           comparative study between training programs in the United States
Estados Unidos e no Brasil                                       17                        and Brazil                                                       17
   Zélia Miranda Kilimnik, Eder Menezes Reis                                                   Zélia Miranda Kilimnik, Eder Menezes Reis

A importância dos sistemas de gestão da qualidade: Fmea e Seis                             Quality management sistems regard: Fmae and Six Sigma - an
Sigma - uma abordagem teórica                                  31                          theoric approach                                                                 31
   Elizabeth Giron Cima, Miguel Angel Uribe Opazo                                              Elizabeth Giron Cima, Miguel Angel Uribe Opazo

Custos da qualidade: como medir o impacto dos esforços pela                                The quality cost: how to measure the impact of the efforts for
qualidade                                                                          37      the quality                                                                      37
   Fabiano Goldacker, Rubens Ricardo Franz                                                     Fabiano Goldacker, Rubens Ricardo Franz
Planejamento estratégico e gestão familiar em empresas                                     Strategic planning and family management of enterprises in
paulistanas                                                                        47      São Paulo                                                                        47
   Marilia Branquinho, Maximiliano da Silva Ribeiro, Pedro Rehem Santana, Tito                 Marilia Branquinho, Maximiliano da Silva Ribeiro, Pedro Rehem Santana, Tito
   Olavo Pereira Dancuart, Victor Souza, Adriana Beatriz Madeira, Luciano Augusto              Olavo Pereira Dancuart, Victor Souza, Adriana Beatriz Madeira, Luciano Augusto
   Toledo                                                                                      Toledo

Análise comparativa dos modelos de precificação de ativos Capital                          Comparative analysis of both Capital Asset Pricing Model and
Asset Pricing Model e Downside Capital Asset Pricing Model      65                         Downside Capital Asset Pricing Model                                             65
   Adriana Moreira Bastos de Faria, Lucas Maia dos Santos                                      Adriana Moreira Bastos de Faria, Lucas Maia dos Santos

O uso do cheque especial e do cartão de crédito pelos acadêmicos                           The use of overdraft and credit card by students
da FAE Centro Universitário                                    81                          at FAE Centro Univeritário                                                       81
   Aline Fernanda da Silva Ferreira, Amilton Dalledone Filho                                   Aline Fernanda da Silva Ferreira, Amilton Dalledone Filho

A sustentabilidade e sua relação com as                                                    The sustainability and its relation with
estratégias organizacionais                                                        93      corporate strategies                                                             93
   Valéria da Veiga Dias, Uiara Gonçalves De Menezes, Eliete Pozzobon Palma, Marcia            Valéria da Veiga Dias, Uiara Gonçalves De Menezes, Eliete Pozzobon
   Zampieri Grohmann                                                                           Palma, Marcia Zampieri Grohmann
Empreendedorismo social e sustentabilidade: um estudo de caso sobre o                      Social entrepreneurship and sustainability: a study of in case on the
projeto “mulheres em ação jogando limpo com a natureza”                                    project “women in action playing clean with the nature”
do IFNMG                                                         111                       of IFNMG                                                          111
   Edson Oliveira Neves, Cezar Augusto Miranda Guedes, Kléber Carvalho dos Santos              Edson Oliveira Neves, Cezar Augusto Miranda Guedes, Kléber Carvalho dos Santos

Abertura de capital como fonte de financiamento aos                                        IPO as source of financing of investments in Brazil: analysis of
investimentos no Brasil: análise do período de 2004 a 2007                       125       the 2004-2007 period                                             125
   Leide Albergoni, Guilherme Blanski Küster                                                   Leide Albergoni, Guilherme Blanski Küster

Fatores determinantes na escolha de alunos pela FAE Blumenau                               Factors in the choice of students by FAE Blumenau as an Institution
como Instituição de Ensino Superior                          147                           of Higher Education                                             147
   Simone Cristina Aléssio, Maria José Carvalho de Souza Domingues                             Simone Cristina Aléssio, Maria José Carvalho de Souza Domingues

Diferenciais competitivos dos cursos superiores de tecnologia                              Competitive advantages of technology undergraduate courses
pela percepção dos acadêmicos                                 165                          through the perception of students                                              165
   Adriana Galli Velho                                                                         Adriana Galli Velho

Oportunidades nos mercados globalizados: estudo nas empresas                               Opportunities in global markets: study in the brazilian companies of
brasileiras de consultoria em tecnologia da informação     179                             consulting in information technology                            179
   Bruna Zambel Russo, Carolina Batista de Deus, Simone Cardoso de Almeida                     Bruna Zambel Russo, Carolina Batista de Deus, Simone Cardoso de Almeida
   Marques, Ingrid Araujo Silva, Francisco Américo Cassano                                     Marques, Ingrid Araujo Silva, Francisco Américo Cassano




                                                                            FAE Centro Universitário
                                                               Curitiba, v.13, n.2, jul./dez. 2010 - ISSN 1516-1234
Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus                                 Coordenadores de Curso
Presidente                                                                          Aline Fernanda Pessoa Dias da Silva (Direito)
  Frei Guido Moacir Scheidt, ofm                                                    Tiago Luís Haus (Engenharia Ambiental)
Diretor Geral                                                                       Carlos Roberto Oliveira de Almeida Santos (Informática – Sistema de Informação e
  Jorge Apóstolos Siarcos                                                           Tecnologia em Sistema para Internet)
                                                                                    Cleuza Cecato (Letras)
Centro Universitário Franciscano do Paraná                                          Daniele Cristine Nickel (Psicologia)
Reitor da FAE Centro Universitário                                                  Eliane Cristine Francisco Maffezzolli (Comunicação Social: Publicidade e Propagan-
Diretor Geral da FAE São José dos Pinhais                                           da e Desenho Industrial)
  Frei Nelson José Hillesheim, ofm                                                  Enon Laércio Nunes (Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção)
Pró-Reitor Acadêmico                                                                Érico Eleutério da Luz (Ciências Contábeis)
Diretor Acadêmico                                                                   Gilmar Mendes Lourenço (Ciências Econômicas)
  André Luis Gontijo Resende                                                        Jacir Adolfo Erthal (Tecnologia em Logística, Tecnologia em Gestão Financeira,
                                                                                    Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos e Tecnologia em Marketing)
Pró-Reitor Administrativo
                                                                                    Joaquim Almeida Brasileiro (Negócios Internacionais)
  Régis Ferreira Negrão
                                                                                    Marcus Vinicius Guaragni (Administração)
Diretor de Campus – FAE Centro Universitário, Campus Centro
                                                                                    Ney de Lucca Mecking (Educação Física)
  Julio Kiyokatsu Inafuco
                                                                                    Silvia Iuan Lozza (Pedagogia)
Diretor de Campus – FAE Centro Universitário, Campus Cristo Rei
                                                                                    Frei Jairo Ferrandin, ofm (Filosofia)
  Carlos Roberto de Oliveira Almeida Santos
Diretor Acadêmico FAE São José dos Pinhais
  Wagner Rodrigo Weber
Coordenador dos Programas de Pós-Graduação Lato Sensu
                                                                                  Coordenadores dos Núcleos
                                                                                    Adriana Pelizzari (Coordenadora do Núcleo de Extensão Universitária)
  Gilberto Oliveira Souza
                                                                                    Areta Galat (Coordenadora do Núcleo de Relações Internacionais)
Coordenador dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu
                                                                                    Cleonice Bastos Pompermayer (Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Acadêmica)
  José Henrique de Faria
                                                                                    Marcelo de Araújo Cansini (Coordenador do Núcleo de Empregabilidade)
Diretor de Relações Corporativas
                                                                                    Rita de Cássia Marques Kleinke (Coordenadora da Pastoral Universitária)
  Paulo Roberto de Araújo Cruz
                                                                                    Simone Wiens (Coordenadora do Núcleo de Carreira Docente)
Secretário-Geral
  Eros Pacheco Neto
Diretor do Instituto de Ciências Jurídicas
                                                                                  Bibliotecas
                                                                                    Soraia Helena F. Almondes (Biblioteca – Campus Centro)
  Sérgio Luiz da Rocha Pombo
                                                                                    Edith Dias (Biblioteca – Campus Centro)
Ouvidoria
                                                                                    Fernanda Périco Jorge (Biblioteca – São José dos Pinhais)
  Samar Merheb Jordão

Editor
  Frei Nelson José Hillesheim, ofm
                                                                               Comitê Editorial
Coordenação Editorial
                                                                                  Bruno Harmut Kopittke, Dr. (UFSC); Francisco Antonio Pereira Fialho, Dr. (UFSC); Glauco
  Cleonice Bastos Pompermayer (coordenadora editorial)                            Ortolano, Ph.D (Lauder Institute/Wharton School/University of Phennsylvania); Harry
  Danielle Francesca Lopes Lago (revisão de linguagem)                            J.; Burry, Ph.D (Baldwin Wallace); Heloísa Lück, Ph.D (UFPR); Heloiza Matos, Dra. (USP);
  Mariana Fressato (normalização)                                                 Jair Mendes Marques, Dr. (FAE Centro Universitário, UTP); João Benjamim da Cruz
  Edith Dias (normalização)                                                       Junior, Ph.D (UFSC); Cleverson Vitório Andreoli, Dr. (USP); Mirian Beatriz Schneider
                                                                                  Braun, Dra. (Unioeste); Christin Luiz da Silva, Dr. (UFSC).
  Ewerton Diego Oliveira da Silva (diagramação)
  Braulio Maia Junior (diagramação)



  Pareceristas
    Eliane Cristine Francisco Maffezzolli, Dra. (FAE), Denise Maria Candioto Caselani, Dra. (UNINOVE), Walter Tadahiro Shima, Dr. (UFPR), Nicolau Barth, Ms. (UTFPR),
    Edson Pacheco Paladini, Dr. (UFSC), Najila Rejanne Alencar Juliao Cabral, Phd (IFCE), João Júlio Vitral Amaro, Dr. (UFMG), Anapatrícia Morales Vilha, Dra. (UFABC),
    Júlio Francisco Blumetti Facó, Dr. (ESAGS e FECAP), Eduardo Raupp de Vargas, Dr. (UNB), Antônio André Cunha Callado, Dr. (UFRPE), Pery Francisco Assis Shikida,
    Phd (UEL e UNIOESTE), Lafaiete Santos Neves, Dr. (FAE), Valéria Maria Martins Judice, Dra. (UFSJ), Mario Sérgio Cunha Alencastro, Dr. (UTP), Leonardo Freire de
    Mello, Dr. (UNIVAP), Antonio Carlos Silva Costa, Dr. (UFAL), Carlos Alberto Diehl, Dr. (UNISINOS), Ana Maria Coelho Pereira Mendes, Dra. (FAE), Francisco Antonio
    Pereira Fialho, Dr. (UFSC), Amilton Dalledone Filho, Ms. (FAE), Carla Cristina Dutra Búrigo, Dra. (UFSC), Rosalinda Chedian Pimentel, Phd (UNIFRAN e UNESP), Helder
    Gomes Costa, Dr. (UFF), Joel Souza Dutra, Dr. (USP), João Bosco Ladislau de Andrade, Dr. (UFAM), Sidnei Vieira Marinho, Dr. (UNIVALI), Antônio Lázaro Conte, Ms.
    (FAE), Luiz Carlos Pereira, Ms. (FAE)

                                                                            Indexação
                                                                           CAPES/Qualis
                                                                             Latindex
                                                                         Portal Livre/CNEN
                                                                            GeoDados
                                                                        Distribuição
                                                             Comunidade Científica: 700 exemplares
                                                                  Permuta: 100 exemplares

                                                   Revista da FAE. n.1/2, jan./dez. 1998 -
                                                      Curitiba, 1998 -
                                                           v. 28cm. regular
                                                       Semestral
                                                       Substitui ADECON: revista da Faculdade Católica de
                                                   Administração e Economia.
                                                       ISSN 1516-1234
                                                         1. Abordagem interdisciplinar do conhecimento.
                                                   I. FAE Centro Universitário . Núcleo de Pesquisa Acadêmica.

                                                                                                    CDD - 001

                               Os artigos publicados na Revista da FAE são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões
                                 neles emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da FAE Centro Universitário.
                                         A Revista da FAE tem periodicidade semestral e está disponível em www.fae.edu
                                                                 Endereço para correspondência:
                                                    FAE Centro Universitário - Núcleo de Pesquisa Acadêmica
                                                         Rua 24 de Maio, 135 - 80230-080 - Curitiba-PR
                                                        Tel.: (41) 2105-4093 - e-mail: pesquisa@fae.edu
Revista da       FAE


Apresentação

          Prezados leitores




          Com os votos de Paz e Bem temos a alegria de disponibilizar à comunidade acadêmica e
          a toda a sociedade mais uma edição da Revista da FAE.
          Para a elaboração deste número da Revista contamos com a colaboração de autores
          representantes de várias áreas e subáreas do conhecimento, assim como, de nacionalidade
          brasileira e internacional, para os quais desejamos expressar nossos agradecimentos.
          As valiosas e importantes reflexões desses autores compõem as temáticas abordadas,
          oscilando desde a preocupação com as inovações, relatos de casos, educação,
          sustentabilidade, competitividade, a métodos específicos para a solução de questões
          sobre gestão empresarial.
          A partir destes temas apresentados, torna-se possível sintetizar os conteúdos aqui
          apresentados por meio de uma breve descrição sobre os artigos.
          Iniciando pelo artigo que relata os vários aspectos de gestão industrial, avanços
          estratégicos, segurança ambiental e regulação da irradiação de alimentos: a vantagem
          competitiva que falta no Brasil.
          O artigo a seguir analisa por meio de uma investigação, de forma comparativa, os resultados
          obtidos em treinamento comportamental tradicional face à opção de treinamento
          experiencial no contexto corporativo.
          Na sequência, três artigos nos oferecem a possibilidade de compreender a importância e
          a relevância dos procedimentos, métodos e programas de gestão na busca da eficiência
          dos ambientes organizacionais, expondo questões como qualidade e planejamento.
          Os dois artigos subsequentes apresentam características e formas de precificação dos
          ativos voltados ao mercado de capitais, e uma pesquisa com jovens acadêmicos sobre o
          conhecimento para o uso adequado do cheque especial e do cartão de crédito.
          A preocupação de como alcançar e manter-se no conceito de sustentabilidade é enfatizado,
          a seguir, nos dois temas citados na revista. Um relatando a percepção de gestores de uma
          indústria do setor de alimentos e bebidas sobre a relação intrínseca entre a sustentabilidade
          e as estratégias organizacionais e o outro apresentando uma análise sobre a importância
          do empreendedorismo social e da sustentabilidade.
          Uma abordagem histórica e econômica nos permite compreender o comportamento da
          abertura de capital como fonte de financiamento dos investimentos no Brasil: uma análise
          do período de 2004 a 2007.
Experiências e preocupações com a educação, especificamente do ensino superior, também
se fazem presentes nos artigos que apresentam os fatores determinantes nas escolhas de
alunos pela FAE na cidade de Blumenau e a percepção dos acadêmicos sobre os diferencias
competitivos dos cursos superiores de tecnologia.
Finalmente, um estudo nas empresas brasileiras de consultoria em tecnologia da informação
nos apresenta a importância e o papel dos mercados globalizados no sucesso dessas
empresas.
Gratos pelo prazer de compartilhar com todos a leitura da obra de cada autor, esperamos
ter contribuído mais uma vez com o pensamento, reflexões e atitudes acadêmicas.




                                      PAZ E BEM!


                            Frei Nelson José Hillesheim, ofm
                                         Editor
Revista da          FAE


Alimentos preservados com radiação: a vantagem competitiva
que falta ao Brasil1

Food preservation with radiation: the competitive advantage
that Brazil lacks
                                                                                               Patricia Wieland*
                                                                                               Leonardo Junqueira Lustosa**
                                                                                               Teresia Diana Lewe van Aduard de
                                                                                               Macedo-Soares***
Resumo

A técnica de preservação de alimentos por radiação vem sendo aplicada
mundialmente para aumentar o tempo de armazenamento e reduzir a
dependência de pesticidas químicos. Apesar dos incentivos governamentais
e do mercado produtor agrícola crescente, o Brasil ainda não entrou no
seleto clube dos exportadores de produtos agrícolas tropicais tratados
com radiação. As dificuldades para oferta regular de um serviço de
irradiação de alimentos independem da tecnologia utilizada. Instalações
semelhantes que esterilizam artigos médicos ou melhoram as propriedades
termo-mecânicas de materiais têm operado no Brasil sem interrupções
e de modo crescente. Este artigo analisa os vários aspectos da gestão
industrial, alianças estratégicas, segurança ambiental e regulação da
irradiação de alimentos e apresenta perspectivas para desenvolvimentos
futuros no Brasil.

Palavras-chave: irradiação; alianças estratégicas; industrialização;
exportação; frutas.



Abstract

Food preservation with radiation is a worldwide technique to increase
storage time and reduce chemical pesticides dependence. In spite of                            *   Doutoranda do Departamento de
governmental support and a growing market, Brazil does not export                                  Engenharia Industrial da PUC-Rio/
                                                                                                   DEI. Pesquisadora Titular U-III da
irradiated food. The difficulties of the irradiation services supply are not
                                                                                                   Comissão Nacional de Energia
related to the technology, given that similar facilities are in full operation,                    Nuclear (CNEN). Rio de Janeiro-RJ.
offering medical aid product sterilization services or improving materials                         E-mail: pwieland@cnen.gov.br.
thermo-mechanical properties. This paper analyses several aspects of the                       ** PhD em Engenharia Industrial pela
industrial management, strategic alliances, environmental safety and                               Stanford University, EUA. Professor
                                                                                                   do Departamento de Engenharia
regulation of food irradiation and presents some perspectives for future
                                                                                                   Industrial da PUC-Rio/DEI. Rio de
developments in Brazil.                                                                            Janeiro-RJ. E-mail: ljl@puc-rio.br
                                                                                               *** PhD em Filosofia Econômica e
Keywords: irradiation; strategic alliances; industrialization; export, fruits.                     Social pela Montréal University,
                                                                                                   Canadá. Professora da Escola
                                                                                                   de Negócios da PUC-Rio/IAG.
                                                                                                   Rio de Janeiro-RJ. E-mail: tdiana.
1
    Os autores agradecem os comentários da Dra. Nélida del Mastro, bolsista de produtividade       vanaduardmacedosoares@gmail.
    em pesquisa do CNPq e professora/orientadora em Tecnologia Nuclear do IPEN e USP               com



Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010                                                                             |1
Introdução                                                 Este artigo procura examinar diversos aspec-
                                                      tos relevantes para o desenvolvimento industrial
     O tratamento com radiação visa conservar os      da preservação de alimentos no Brasil, com o
alimentos por mais tempo, reduzindo as perdas         uso de radiação ionizante. O propósito não é
causadas por brotamento ou maturação, além de         fazer uma análise detalhada, mas tão somente
reduzir a presença de micro-organismos, parasitas     dar uma visão abrangente e multidisciplinar da
e pragas, sem afetar a qualidade do produto. A        questão que, frequentemente, é investigada com
tecnologia de irradiação já é empregada em mais       base em problemas isolados. Assim, discutem-se
de 50 países e é aplicada, por exemplo, para a pre-   brevemente os aspectos relevantes referentes à
servação de carnes, frutas frescas, condimentos,      qualidade de alimentos, à tecnologia, à gestão, à
ervas medicinais e temperos.                          segurança, à regulação da indústria da irradiação
     Desde a década de 1980, vários estudos de        e ao comércio internacional. Por fim, analisa-se o
viabilidade têm sido realizados para a implantação    conjunto de elementos apresentados com vistas
de unidades industriais de tratamento de alimentos    a sugerir algumas linhas de ação gerais.
no Brasil (GLÓRIA, 1987a, 1987b), (FARIA et al.,           A informação foi coletada por meio de revisão
1999) e (GHOBRIL; DEL MASTRO, 2009). Um               da literatura científica e de relatórios de organi-
estudo recente realizado em cooperação com o          zações internacionais, investigação documental,
Canadá avaliou a qualidade de mangas irradiadas       discussão com peritos de institutos de pesquisa,
após o transporte e também fez uma avaliação de       empresários do setor e especialistas de órgãos de
custos (SABATO et al., 2009).                         regulação. A experiência operacional com sucesso
     No Brasil existem 1376 instalações industriais   de exportação de frutas irradiadas de países tais
que utilizam fontes de radiação para os mais diver-   como Índia e México foram de grande ajuda.
sos fins, e, entre estas, 34 possuem equipamentos
de grande porte para irradiação (MARECHAL,
2009). Apesar do otimismo sobre a exportação          1 Aspectos relacionados à tecnologia
de produtos agrícolas no Brasil, faltam plantas
                                                          de irradiação e à agro-indústria
industriais dedicadas à irradiação de alimentos
para atender às necessidades dos produtores
agrícolas de forma compatível com as ambições
de expansão desse mercado.                            1.1 Necessidade de melhorias na
     Tendo em vista os investimentos que vêm               qualidade de alimentos
sendo feitos nas últimas décadas para o desenvol-
vimento da agricultura no Nordeste, um programa            O agronegócio no Brasil é caracterizado pela
de irradiação de alimentos parece ter um elevado      fartura, regularidade no fornecimento, grande
beneficio-custo. Os fracassos incorridos na tenta-    variedade de produtos, baixo custo de produção
tiva de explorar tal potencial não parecem estar      e boa aceitação dos produtos. Entretanto, no que
relacionados a questões fundamentais de ordem         toca aos perecíveis, várias são as dificuldades para
econômica, tecnológica, social ou ambiental. Ao       a produção de alimentos com qualidade: frequen-
contrário, todos esses aspectos parecem ser alta-     temente, as águas de irrigação e de lavagem pos-
mente favoráveis.                                     suem contaminação microbiana e existe incidência
 2|
Revista da    FAE


de insetos em função do clima tropical. A logística      realizado uma viagem internacional nos dias an-
de acondicionamento é, por vezes, inadequada e,          teriores (CDC, 2005). Baseado nestas ocorrências,
devido à falta de rede de transporte satisfatória e      conclui-se que o risco de adquirir uma infecção
aos longos trajetos, pode haver interrupções de          devido à ingestão de alimentos preparados em
resfriamento ideal. Observa-se ainda, em locais          viagens aéreas de longa duração não pode ser
sem educação agrícola adequada, que o foco é             menosprezado.
no aumento de volume e na redução do custo de                 Considerando este quadro, acredita-se que
produção, em detrimento da qualidade.                    as seguintes metas deveriam ser observadas para
     Mesmo com a disseminação de boas práticas           melhorar a qualidade dos alimentos:
agrícolas e com a aplicação de métodos de                    a) Aspectos sociais:
tratamento como a fumigação, a hidrotermia e
                                                               - reduzir a probabilidade de ocorrência
o congelamento, as estimativas mostram que
                                                                 de doenças transmitidas por alimentos
a perda da produção nacional é ainda cerca de
                                                                 deteriorados ou contaminados;
30% para frutas e hortaliças, o que corresponde
                                                               - promover a educação agrícola e alimentar
ao desperdício de mais de 200 mil hectares
                                                                 para a produção e ingestão de alimentos
cultivados por ano (PEROZZI, 2007). De acordo
                                                                 mais saudáveis.
com a Food and Agriculture Organization of the
United Nations (FAO, 2009), a perda pós-colheita             b) Aspectos econômicos:
varia de 15 a 50%, não só devido à colheita fora               - evitar grandes perdas por deterioração
da época correta, excesso de chuva, seca ou                      de alimentos devido à infestação, con-
extremos de temperatura, contaminação por                        taminação e decomposição;
micro-organismos e danos físicos degradação                    - promover o comércio internacional,
do alimento, mas também por não atender a                        atendendo aos requisitos de controle
rígidos controles de qualidade de supermercados,                 fitossanitário.
com relação a tamanho, existência de manchas,
                                                             c) Aspectos ambientais:
formato desigual etc.
                                                               - reduzir o uso de pesticidas químicos, que
     Com o crescimento da população, o alimento
                                                                 deixam resíduos nos alimentos (ICGFI,
terá que ser transportado para distâncias cada vez
                                                                 1999);
maiores, necessitando de esforços especialmente
                                                               - otimizar as áreas de plantio, consideran-
em infraestrutura de armazenamento e processa-
                                                                 do perdas menores no escoamento da
mento para reduzir a perda de alimentos ao longo
                                                                 produção agrícola.
da cadeia produtiva.
     Alimentos preparados e servidos para a po-
pulação em restaurantes, bares e em transportes          1.2 Tecnologia: o tratamento de alimentos
de longa distância também são motivos de preo-                com radiação
cupação para a saúde. De acordo com um estudo
sobre contaminação alimentar nos Estados Unidos               O tratamento de alimentos com radiação
da América, dos casos de hospitalização reporta-         é feito em irradiadores com fonte radioativa
dos, 63% das pessoas infectadas por Salmonella           intensa de cobalto-60 ou em aceleradores de
e 86% com Escherichia coli (STEC O157) tinham            partículas. O alimento, já na sua embalagem
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final, é exposto à radiação. Como não há             gênicos e aumenta a vida útil em armazenamento
contacto com a fonte radioativa, não há risco de     sem comprometer a qualidade da alimentação.
contaminação radioativa e, após o tratamento,        A técnica também beneficia os pacientes imuno-
não há necessidade de manipulação do alimento,       deprimidos que não podem se expor ao risco de
o que evita uma possível re-infestação bacteriana    contaminação alimentar (IAEA, 2009). Por outro
(ICGFI, 1999). Os aceleradores de elétrons atuam     lado, a radiação não é recomendada para todos
mais superficialmente e são ideais para alimentos    os alimentos. Em alguns pode provocar alterações
com pouca espessura. Os aceleradores possuem         na cor, no odor ou no sabor, como por exemplo,
a vantagem de não necessitarem de recarga de         no leite e em seus derivados e no abacate.
fontes. Em ambos os casos, as caixas com os               Além da vantagem de preservação de ali-
alimentos entram, sobre esteiras transportadoras,    mentos por mais tempo, a radiação também
num recinto blindado onde são irradiados durante     pode contribuir para a melhoria da qualidade e
um tempo pré-determinado e saem por outra            de características intrínsecas do produto. O uso
abertura, prontas para serem despachadas.            de hidrocolóides está se tornando cada vez mais
     A irradiação pretende reduzir ou eliminar as    importante e as propriedades reológicas de adi-
                                                     tivos irradiados é uma das linhas de pesquisa em
bactérias patógenas para o homem tais como
                                                     andamento (DEL MASTRO, 1999). O quadro 01
Escherichia coli, Salmonella, Listeria e Campylo-
                                                     mostra as aplicações e a faixa de dose de radiação
bacter, os fungos formadores de micotoxinas
                                                     para o tratamento de alimentos. No caso de frutas
e insetos (por exemplo, moscas-das-frutas dos
                                                     frescas, como a manga e papaya, o maior interesse
gêneros Ceratitis e Anastrepha) que deterioram
                                                     fitossanitário é a desinfestação de insetos e a dose
os alimentos armazenados. Se aplicada na dose
                                                     média aplicada é 0,4 kGy. No caso de redução de
correta para cada alimento, a radiação não afeta
                                                     micro-organismos até a esterilização de alimentos,
a sua estrutura molecular e, portanto, não modi-
                                                     aplica-se uma dose mais alta, de até 50 kGy.
fica as suas propriedades nutricionais e nem as
sensoriais (ICGFI, 1999). Wieland-Fajardo e Rego
(1993) apresentam um resumo em linguagem
simples sobre a técnica de irradiação de produtos,
a curva dose-sobrevivência de micro-organismos,
os equipamentos, a segurança, a validação e o
controle do processo por determinação de dose
absorvida no produto e outros métodos.
     Não só alimentos in-natura, como as frutas
e os desidratados, como os condimentos, podem
ser irradiados para sua preservação. Há uma
crescente demanda por alimentos preparados,
que necessitam ser estocados temporariamente,
tais como as refeições para membros das forças
armadas em serviço, passageiros em transporte
de longa distância ou alimentos especiais étnicos
ou religiosos. A irradiação elimina agentes pato-
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Revista da        FAE


QUADRO 01 - FAIXAS DE DOSE ABSORVIDA PARA O TRATAMENTO DE ALIMENTOS COM RADIAÇÃO
                                                                                                          Faixa de dose absorvida no
                Função                                               Objetivo
                                                                                                                 produto (kGy)
                                            Inibição de brotamento em batatas, cebolas, alho,
                                                                                                          0,05 – 0,15
                                            gengibre etc.
 Prolongamento do tempo de                                                                                0,25 – 1,0 frutas frescas e
 armazenamento                                                                                            vegetais
                                            Retardo do amadurecimento
                                                                                                          1,0 – 3,0 peixe fresco,
                                                                                                          morangos, cogumelos etc.
                                            Desinfestação de insetos e parasitas em cereais, grãos
                                            leguminosos, carnes e peixes desidratados, frutas frescas e   0,15 – 0,5
                                            desidratadas etc.
 Melhoria da qualidade                      Redução ou eliminação da carga microbiana em frutos do
                                                                                                          1,0 – 7,0
                                            mar ou frangos congelados ou frescos, carnes etc.
                                            Inativação de agentes patogênicos em aditivos e ingredien-
                                                                                                       10 – 50
                                            tes tais como condimentos, enzimas, gomas etc.
                                            Redução do número de micro-organismos até a
 Esterilização em combinação
                                            esterilização: carnes, frangos, frutos do mar, alimentos      30 – 50
 com outros métodos
                                            preparados, alimentos para pacientes imunodeprimidos .
 Desenvolvimento de novas                   Alteração das características intrínsecas (uvas mais
                                                                                                          2,0 – 7,0
 características e produtos                 suculentas, redução do tempo de cozimento de vegetais) .
FONTE: ICGFI (1999)


       Alternativamente à radiação, alguns fume-                          livres, originalmente presentes nas amostras. Os
gantes são usados para preservação de alimentos.                          autores desta pesquisa lembram que alguns mitos
Entretanto, alguns são prejudiciais à saúde huma-                         ainda necessitam ser superados antes que a irra-
na e agridem o meio ambiente. O Brasil tem uma                            diação se torne um método amplamente aceito
legislação bastante rígida a esse respeito, confor-                       pelo público. Para tal, enfatizam que (a) irradiação
me o Decreto 4.074/2002. O brometo de metila,                             não torna o alimento radioativo; e (b) irradiação
muito usado no passado, é depletor da camada de                           não destrói nutrientes em maior extensão que
ozônio e está sendo mundialmente banido. Exceto                           qualquer outro processo de preservação.
para produtos de uso médico, a descontaminação                                  Em pesquisa de opinião pública (ORNELLAS
com óxido de etileno (ETO) está proibida no Brasil                        et al., 2006), ficou evidente que a falta de conhe-
desde 1999 (artigo 7º da Portaria Interministerial                        cimento sobre o processo e seus benefícios é um
n. 482/99 dos Ministérios da Saúde e do Trabalho).                        fator limitante: 89% dos entrevistados consumi-
       Uma pesquisa realizada na Empresa Brasileira                       riam alimentos irradiados se soubessem que a
                                                                          irradiação aumenta a segurança alimentar.
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (MARTIN
NETO; RODRIGUES; TRAGUETTA, 1996) mostrou
a total adequação do uso de radiação ionizante                            1.3 A gestão industrial de instalações de
como um método eficiente e seguro de desconta-
                                                                                 irradiação de alimentos
minação de pimenta do reino. Houve uma redu-
ção, quando não eliminação completa, de micro-                                 As unidades industriais de irradiação são ins-
-organismos e ainda a redução do nível de radicais                        talações compactas onde a máquina, sua estrutura
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com a blindagem da radiação e sistemas auxiliares             A estratégia de entrada no mercado do serviço
podem ser instalados em menos de 100 m2. O              de irradiação de alimentos deve dar atenção
empreendimento é capital intensivo e representa         especial à possibilidade de formação de alianças
um investimento da ordem de US$ 3 milhões.              cooperativas. Seguindo a tipologia de Garcia-Canal
A operação é simples, com pouca manutenção,             et al. (2002), acredita-se que as alianças favoráveis
flexibilidade de produção e reduzido número de          seriam locais e de capacitação. A aliança “local”
operadores, que, entretanto, devem ser qualifica-       com associações de produtores agrícolas, por
dos. A capacidade de produção típica é de 40.000        exemplo, expandiria os mercados de fornecedores
t/ano. No investimento inicial, deve-se prever          e distribuidores. A aliança “de capacitação” com
não só as despesas decorrentes da instalação do         institutos de pesquisa que já atuam nesta área
equipamento, mas, também, as decorrentes de             poderia garantir o cumprimento mais acelerado
marketing e legalização para funcionamento. As          dos vários requisitos de regulação e serviria para
despesas anuais devem prever o recarregamento           obter vantagem competitiva sobre eventuais
parcial da fonte de Co-60 (dispensável para o           concorrentes nacionais ou internacionais. A
acelerador de elétrons), e um fundo de reserva          Food Irradiation Processing Alliance - FIPA (FIPA,
para o descomissionamento da instalação ao fim          2009) é um fórum internacional de representantes
de sua vida útil.                                       industriais com finalidade de discutir e influenciar
     O cálculo do tempo de retorno do investimento      assuntos relacionados à irradiação de alimentos.
depende da estimativa dos custos de investimento        Uma vez que a escala de produção industrial
e operacionais, do esquema de tarifas para o            seja adequada, também uma aliança global com
serviço e da taxa de utilização do equipamento.         outro serviço de irradiação já inserido no mercado
No caso de irradiador, o alto custo da fonte            exterior, poderia ser benéfica para atingir estes
radioativa, que tem meia-vida de cerca de cinco         mercados de modo sustentável.
anos (i.e. devido ao decaimento radioativo, em
cinco anos a atividade cai à cerca da metade do
                                                        1.4 Análise de segurança
valor inicial), faz com que o custo fixo seja ainda
maior, tornando crítica a taxa de utilização. O valor        Segundo recomendações da Agência Interna-
agregado é de especial interesse para o produtor        cional de Energia Nuclear (IAEA), vários requisitos
ou distribuidor do alimento e é calculado com           de segurança intrínsecos de projeto da instalação e
base no aumento da vida útil do alimento, ou            de operação devem ser observados, especialmente
seja, quanto estoque deixou de ser perdido e no         para blindar a radiação da fonte nas áreas comuns
aumento do preço que novos mercados podem               e para evitar a entrada de pessoas no recinto de
proporcionar. Esse cálculo deve considerar a taxa       irradiação durante operação e a consequente
de venda do produto, sua variação sazonal e a           exposição a altos níveis de radiação (IAEA, 1992).
distribuição de probabilidade do tempo que o            Os irradiadores e aceleradores operam no interior
produto permanece sem degradação. No caso               de labirintos com blindagens densas e espessas
de tratamento de mangas com uma dose de 400             suficientes para não expor trabalhadores ou mem-
Gy, o custo de produção é em torno de US$18,00          bros do público a níveis de radiação superiores aos
por tonelada (SABATO et al., 2009).                     limites recomendados.


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Revista da      FAE


     Dentre as instalações não nucleares, os irra-       1.5 Regulação e fiscalização de instalações
diadores e os aceleradores de partículas com capa-            que irradiam alimentos
cidades para preservar alimentos ou esterilizar arti-
gos médicos são classificados como as instalações             As instalações estão sujeitas à legislação
de maior risco (IAEA, 2005). Já ocorreram aciden-        pertinente para obtenção de licenças. A fiscalização
tes graves em instalações deste tipo, ocasionados        é necessária para verificar se os itens de segurança
por falhas humanas decorrentes da pressão para           estão sendo obedecidos. Os requisitos atuais
se resolver problemas mecânicos no irradiador que        evoluíram conforme previsto por Oliveira (2000)
causavam a descontinuidade de produção. A fonte          com a publicação da Resolução nº 21/2001
de radiação é poderosa o suficiente para causar a        da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
síndrome aguda da radiação (SAR). Em 1991, ocor-         (Anvisa), que regula as atividades de irradiação de
reu um acidente em Nesvizh, Belarrúsia, quando           alimentos. Esta resolução permite que qualquer
o operador propositadamente corrompeu vários
                                                         alimento poderá ser tratado por radiação desde
dispositivos de segurança e intertravamentos de
                                                         que a dose máxima absorvida seja inferior àquela
um antigo irradiador usado para esterilização de
                                                         que comprometeria as propriedades funcionais ou
artigos médicos e entrou na câmara de irradiação
                                                         os atributos sensoriais do alimento. Exige também
para desemperrar a correia transportadora (IAEA,
                                                         que a embalagem contenha a informação:
1996). O operador permaneceu a 0,2 m da fonte
                                                         “Alimento tratado por processo de irradiação”.
Co-60 com 28,1 PBq de atividade por menos de
dois minutos e cerca de cinco minutos depois,            No caso de alimentos vendidos a granel, deve-
já sentia os efeitos da SAR, tais como vômitos e         se colocar uma faixa com a indicação citada.
dores no estômago, seguidos, após 50 minutos,            Pode-se também utilizar o símbolo internacional
de diarreia. Pela geometria de exposição e sinto-        correspondente (figura 01).
mas físicos, estimou-se que ele tivesse recebido                 FIGURA 01 - SÍMBOLO INTERNACIONAL DA
                                                                              IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS
uma dose letal superior a 10 Gy, necessitando de
cuidados médicos especializados emergenciais. A
análise deste e de outros acidentes que ocorreram
no passado serviram como base para modificações
no projeto de instalações deste tipo, de modo a
garantir que os princípios de redundância, defesa
em profundidade e independência de dispositivos
de segurança sejam obedecidos em qualquer caso.
     Sob o ponto de vista de proteção ambien-
tal, como a operação de irradiadores não gera
efluentes radioativos, não há impacto ambiental.
Também não gera rejeitos radioativos, pois as fon-
tes de Co-60 exauridas devem ser devolvidas ao                   FONTE:CAC (1991)

fabricante. O benefício ambiental está na redução
do uso de fumegantes nocivos. Mantendo-se os                 O licenciamento para garantir a proteção
controles exigidos, a etapa de maior risco radioló-      radiológica de trabalhadores e do público e a
gico durante a vida do irradiador é o carregamento       segurança das fontes de radiação é conduzido
das fontes de Co-60.                                     pela Comissão Nacional de Energia Nuclear
Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010                                                   |7
(CNEN). O licenciamento de instalações radiativas          A Organização Mundial de Comércio aponta
segue um conjunto de etapas consecutivas que          o Brasil como o quarto país em volume de
inicia com a aprovação do local da instalação         exportação de produtos agrícolas (WTO, 2008).
e segue até a retirada de operação, ao fim da         O Brasil é o terceiro país produtor de frutas, atrás
vida útil da instalação. O Ibama é o órgão que        da China e da Índia. Segundo o Instituto Brasileiro
realiza o licenciamento ambiental das instalações     de Frutas (IBRAF, 2009), em 2008 o Brasil exportou
que também segue etapas de autorizações               888 mil toneladas de frutas frescas, das 43 milhões
desde a aprovação do local. O funcionamento           de toneladas produzidas, com um decréscimo
de uma instalação para irradiação de alimentos        de 3,3% em relação a 2007. Neste período, a
depende ainda da obtenção do Alvará Sanitário         exportação de mangas aumentou ligeiramente,
e o cadastramento nos órgãos competentes do           mas a de papaias caiu.
Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura.           Uma das restrições à exportação é, sem
Com todas as exigências dos vários órgãos do          dúvida, o custo do frete, que está relacionado ao
governo, o licenciamento pode durar pelo menos        tempo gasto em transporte. O frete aéreo é mais
2 anos. Durante o período de licenciamento,           caro que o marítimo e a tendência é que o custo do
várias atividades de desenvolvimento do mercado       frete aéreo aumente. A União Européia reconhece
poderiam ser realizadas, por exemplo, campanhas       que o transporte aéreo é um dos principais
de esclarecimento da população e abertura do          emissores de gases que causam o aquecimento
mercado exterior.                                     global e resolveu impor limitações e controles
                                                      baseados no princípio de que “o poluidor paga”
                                                      (EU, 2006). A preservação de manga e papaia com
1.6 Comércio internacional de alimentos
                                                      radiação triplica o tempo de vida útil da fruta,
      irradiados                                      chegando a 21 dias (CENA, 2007), o que viabiliza o
                                                      frete marítimo dessas frutas para alguns mercados
     A tecnologia de irradiação de alimentos para
sua preservação surgiu oportunamente como uma         mais distantes.
alternativa viável de tratamento para atender aos           Apesar do curto prazo para transporte e dis-
requisitos do Acordo na Aplicação de Medidas          tribuição para os consumidores, a União Européia
Sanitárias e Fitosanitárias da Organização Mundial    foi responsável por 72% das exportações brasilei-
do Comércio (WTO, 1995). Esse acordo considera        ras de mangas de janeiro a novembro de 2009,
as recomendações de organizações internacionais,      segundo dados disponíveis no sistema de análise
incluindo a Codex Alimentarius Commission que         das informações de comércio exterior via Internet
trata de irradiação de alimentos (CAC, 2003). A       (ALICEWeb) mantido pela Secretaria de Comércio
Convenção Internacional de Proteção a Plantas
                                                      Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimen-
(IPPC), cujo texto está disponível em www.fao.org/
                                                      to, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Legal/TREATIES/004s-e.htm, tem como objetivo
assegurar a ação efetiva para prevenir a dissemina-        Entretanto, quando se considera o trata-
ção de pestes e doenças em plantas e produtos e       mento fitossanitário com radiação, nem todos
promover medidas apropriadas para seu controle.       os mercados aceitam os produtos irradiados tão
Dentre as recomendações desta Convenção estão         bem quanto os quase 50 países que já possuem
as diretrizes para o uso de irradiação como medida    regulamentação sobre o tema. Por exemplo, no
fitossanitária (ISPM, 2003).                          Parlamento Europeu, prevaleceu nas décadas pas-
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Revista da     FAE


sadas uma política de atraso e obstrução no uso de       o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
qualquer tecnologia nuclear, o que contrastou com        (Ipen) e Centro de Desenvolvimento de Tecnologia
o crescente desenvolvimento americano, onde a            Nuclear (CDTN), assim como em algumas
preocupação com a saúde pública impulsionou              universidades. Algumas unidades de esterilização
a aceitação de produtos tratados com radiação            de artigos médicos por radiação existentes no Brasil
(DIEHL, 2002). Os requisitos americanos para im-         também irradiam, eventualmente, condimentos,
portação de produtos tratados com radiação são           atendendo parcialmente a esse mercado.
bastante rígidos e o processo de avaliação pode               As duas iniciativas recentes para irradiar ali-
levar anos. Mudanças estão sendo planejadas pelo         mentos em escala industrial no Brasil fracassaram
Departamento de Agricultura americano (GREEN,            em poucos anos. Na unidade instalada no Rio de
2008), o que irá reduzir o custo de controle sobre a     Janeiro, a causa provável foi a falência da empresa
irradiação para importação pelos Estados Unidos.         matriz americana SureBeam Corp.. Atualmente,
     Farkas (2006) apresenta um resumo do sta-           a unidade é operada por uma empresa nacional,
tus da irradiação de alimentos no mundo e prevê          Acelétrica Com. e Rep. Ltda.. Na unidade de Ma-
avanços na área com a formação de fóruns inter-          naus instalada pela TechIon Industrial Brasil Ltda.,
nacionais para reunir e disseminar informação,           uma ação na justiça decorrente de denúncia de
com base científica, sobre segurança e benefícios        má gestão do financiamento público suspendeu
da irradiação de alimentos. De acordo com o              a operação do irradiador. Em ambos os casos, a
estudo detalhado da situação da irradiação de            localização do serviço não é a ideal, por estarem
alimentos (KUMEA et al., 2009), a quantidade de          distantes dos mercados produtores de alimentos,
alimentos irradiados no mundo em 2005 foi de             e, portanto, os alimentos podem chegar para irra-
405 mil toneladas, com uma estimativa de cres-           diação já em deteriorização avançada. Atualmente,
cimento na Ásia.                                         uma empresa americana que controla totalmente
      Na América Latina, existem unidades indus-         uma subsidiária brasileira, Gamma - Serviços de
triais de irradiação na Argentina, Brasil, Chile,        Irradiação Ltda., está planejando implantar qua-
Cuba, México e Peru. A China tem 101 irradiadores        tro irradiadores no Nordeste, com possibilidade
e está construindo outros dez (WANG; ZHANG;              de expansão para oito unidades (SECUREFOODS,
PENG, 2008). Dos 25 irradiadores da Índia alguns         2009). Embora o nível de competitividade entre
são dedicados à exportação de alimentos. Após            empresas que irradiam alimentos ainda não seja
o governo dos EUA ter aprovado a importação              claro, a empresa americana informa ter obtido
de mangas indianas irradiadas, a tendência é de          os direitos sobre o uso exclusivo no Brasil de um
crescimento nessa área industrial (KOHLI, 2008).         tipo de tecnologia particularmente adequada para
                                                         irradiação de alimentos.

1.7 Irradiação de alimentos no Brasil
                                                         2    Resultados e discussão
     As pesquisas brasileiras na área de preservação
de alimentos vêm sendo conduzidas pela Empresa                Com base na investigação documental re-
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),           alizada e nas entrevistas semi-estruturadas com
Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/          especialistas dos vários setores envolvidos, existem
USP) e por outros institutos de pesquisa como            evidências de que o Brasil possui conhecimento
Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010                                                   |9
acumulado sobre o que é necessário para o uso                e etiquetagem, além de consultoria em
em escala da preservação de alimentos por irra-              certificação para exportação. A gestão
diação (CENA, 2007). Além disso, possui excelente            dos riscos operacionais é fundamental para
infraestrutura em equipamentos e competência                 prevenir contingências e interrupções de
técnica para pesquisa e desenvolvimento da                   fornecimento e para correta definição de
técnica. Os empresários interessados podem se                preço do serviço (WIELAND; DEL MASTRO,
                                                             2008).
beneficiar dessa vantagem e focar os esforços na
produção, aproveitando ao máximo a capacidade              b) Mercado interno – A desmistificação sobre
do equipamento e, assim, aumentando o retorno                 alimentos irradiados deve ser feita em ca-
                                                              nais de comunicação que atinjam a popula-
do investimento. Está prevista a construção de
                                                              ção consumidora, a cadeia de fornecedores
vários irradiadores de alimentos no Nordeste.
                                                              e de distribuidores.
Entretanto, sem uma política de desenvolvimen-
                                                           c) Exportação – Para a exportação dos pro-
to de infraestrutura de transportes, exportação
                                                              dutos tratados com radiação sugere-se
e programa e aceitação de produtos irradiados,
                                                              divulgar no exterior uma marca que sim-
além da simplificação da regulação e do apoio
                                                              bolize a qualidade dos produtos tratados
do Ministério da Agricultura, a produção não irá
                                                              brasileiros, além de esclarecer os produ-
escoar para os mercados consumidores a preços                 tores agrícolas a respeito das exigências
acessíveis.                                                   dos diversos mercados. A certificação pelo
     A investigação das possíveis causas do atraso            Instituto Nacional de Metrologia, Normali-
no desenvolvimento industrial do tratamento de                zação e Qualidade Industrial (Inmetro) da
alimentos com radiação no país revela a necessi-              conformação com critérios de qualidade e
dade de agir de modo integrado especialmente                  fitossanitários é de suma importância para
nas seguintes áreas (quadro 01):                              a plena aceitação dos produtos. Souza e
                                                              Amato Neto (2009) analisaram a inserção
        a) Gestão Industrial - A ação de melhorias
                                                              de mangas e uvas nos mercados inglês e
           deve-se dar, preferencialmente, por meio
                                                              alemão e ressaltam a importância da aná-
           de alianças estratégicas entre os diversos
                                                              lise e distinção da estrutura da cadeia de
           atores envolvidos, incluindo associação de
                                                              valor para cada mercado alvo para garantir
           produtores e cooperativas, processadores,
                                                              maior vantagem competitiva.
           exportadores, distribuidores, bancos fi-
           nanciadores, Instituto Brasileiro de Frutas     d) Educação agrícola – As informações sobre
           (Ibraf), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro     a irradiação de alimentos são publicadas
           e Pequenas Empresas (Sebrae), empresas            em revistas científicas ou limitadas aos
           de logística e institutos de pesquisa. Em         centros de pesquisa. Sugere-se que o tema
           se tratando de uma indústria em fase de           seja divulgado adequadamente nos meios
           crescimento no Brasil, é desejável que esta       educacionais de nível médio e superior e
           forneça assistência aos clientes, a exemplo       tratado como uma realidade economica-
           do que faz a empresa mexicana Benebión            mente competitiva.
           (www.phytosan.com). Esse apoio poderia          e) Financiamento – o empreendimento é ca-
           ser em controle de qualidade da produção           pital intensivo e já houve casos de fracasso
           do alimento, preenchimento dos requisi-            para implantação desta indústria no país,
           tos regulatórios, serviços de transporte,          mesmo com a disponibilidade de financia-
           embalagem, armazenagem intermediária               mento público. A sustentabilidade do ne-
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Revista da             FAE


           gócio não deveria ser comprometida pela                                       realizar mais rapidamente as avaliações de
           má gestão deste tipo de empreendimento,                                       risco necessárias ao processo de tomada
           o que pode impactar negativamente na                                          de decisão em regulação na área de agri-
           reputação do setor nuclear como um todo.                                      cultura, as instituições especializadas, por
       f) Licenciamento - os órgãos governamentais                                       exemplo, a Embrapa ou o Cena, poderiam
          envolvidos, Ministério da Agricultura, se-                                     ser contatadas.
          cretaria estadual e municipal relacionados                                  g) Apoio governamental – vários órgãos do
          ao agronegócio, Ibama e órgãos seccionais,                                    governo estão envolvidos no agronegócio.
          Anvisa e VISAs e CNEN, deveriam tentar                                        O sucesso do empreendimento depende
          simplificar a regulação através de acordo de                                  essencialmente da política governamental
          mútua cooperação, evitando duplicidade                                        favorável à exportação de alimentos.
          de esforços, atrasos e a criação de monopó-
          lios, por dificultar a livre competição. Para

QUADRO 02 - OPORTUNIDADES DE MELHORIAS EM IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS, VISANDO A EXPORTAÇÃO
                     Área                                                          Oportunidades de melhorias
                                                  - Análise e integração dos vários aspectos de gestão industrial para tomada de decisão sobre o
                                                    investimento.
                                                  - Definição da localização e dimensionamento da capacidade de produção.
                                                  - Padronização de parâmetros de irradiação com a elaboração de um manual com as
                                                    faixas de dose e condições de irradiação para os diversos alimentos e flexibilidade para
 a) Gestão industrial do serviço de
                                                    aprimoramentos.
    tratamento com radiação
                                                  - Otimização do tempo de preparação para irradiar diferentes alimentos e programação
                                                    sazonal.
                                                  - Avaliação de riscos.
                                                  - Gestão de alianças estratégicas.
                                                  - Assistência a clientes.
                                                  - Programa de esclarecimento sobre as vantagens dos alimentos tratados com radiação nos
 b) Mercado interno
                                                    grandes canais de comunicação.
                                                  - Atendimentos aos requisitos técnicos, comerciais e da vigilância sanitária dos mercados
                                                    recebedores.
                                                  - Obtenção da certificação da qualidade para a aceitação dos produtos no mercado
 c) Exportação de produtos irradiados
                                                    internacional.
                                                  - Marketing internacional.
                                                  - Divulgação dos benefícios da técnica entre os empresários do agronegócio e exportadores.
                                                  - Maior ênfase do tema nos currículos educacionais de nível médio e superior das escolas
                                                    de tecnologia agrícola e de alimentos, não como uma tecnologia nova, mas como um
 d) Educação agrícola                               procedimento viável.
                                                  - Divulgação das vantagens do tratamento de produtos com radiação pela imprensa
                                                    especializada no agronegócio e demonstrada em feiras e exposições da agroindústria.
                                                  Abertura de crédito para financiamento do empreendimento a cooperativas com dispositivos
 e) Financiamento
                                                  que garantam a longevidade e segurança da instalação.
                                                  - Acordo entre os vários órgãos do governo para agilizar e evitar a duplicação de esforços
 f) Licenciamento                                   e exigências desnecessárias uma vez atendidas as condições de segurança radiológica,
                                                    ambiental e alimentar.
                                                  - Concentração dos esforços das áreas de indústria e comércio e de relações exteriores para
                                                    divulgar e facilitar as exportações.
 g) Apoio governamental
                                                  - Apoio às iniciativas dos estados e municípios para melhoria das vias vicinais de escoamento
                                                    da produção.
FONTE: Os autores (2010)



Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010                                                                                         |11
Conclusões                                                   Destaca-se a importância do apoio gover-
                                                       namental para divulgar as vantagens da técnica,
     Este trabalho contribui para o desenvolvimen-     facilitar o comércio de alimentos tratados com
                                                       radiação e atualizar os currículos educacionais de
to da indústria de preservação de alimentos com
                                                       escolas agrícolas.
radiação ionizante, fornecendo uma visão abran-
gente e multidisciplinar da questão, e indicando            A preservação de alimentos com radiação é
linhas de ação, calcadas na proposta de alianças       uma técnica bem conhecida pelos pesquisadores
estratégicas e acordos de cooperação, tanto para       da área nuclear, entretanto, não tão divulgada no
acessar e conquistar o mercado interno quanto          agro-negócio. Sugere-se como futuro desenvol-
para o desenvolvimento do comércio exterior.           vimento da área que as atividades de irradiação
                                                       de alimentos seja levada intensivamente a feiras
     Para uma efetiva promoção da conservação de
                                                       e exposições agroindustriais. Futuras pesquisas
alimentos por radiação, a análise das informações
                                                       poderiam ser realizadas para a redução de custo
levantadas sugere que a indústria deve tratar os
                                                       de produção, relacionadas ao desenvolvimento de
vários aspectos técnicos, empresariais, econômicos
                                                       irradiadores e aceleradores nacionais e a simplifi-
e ambientais de forma integrada e coordenada,
                                                       cação de critérios regulatórios, visando à redução
considerando estrategicamente a formação de
                                                       do tempo de obtenção de licenças. O mercado
alianças tanto com entidades relacionadas à sua
                                                       alvo para a exportação de alimentos tratados com
cadeia de suprimentos, quanto com instituições de
                                                       radiação deve ser avaliado em termos de gover-
ensino e pesquisa. As associações de produtores e
                                                       nança do comércio, beneficiando-se da comple-
distribuidores, cooperativas agrícolas e industriais
                                                       mentariedade sazonal da produção agroindustrial
interessados devem focar os esforços na gestão
                                                       de frutas tropicais com outros exportadores, tais
industrial e otimizar a utilização das instalações
                                                       como Índia e México.
e a logística de suprimentos, escoamento e
distribuição da produção.
    O quadro 02 sintetiza as principais ações
propostas em gestão industrial do serviço de tra-
tamento com radiação, desenvolvimento do mer-
cado interno, exportação de produtos irradiados,                                      • Recebido em: 23/07/2010
                                                                                      • Aprovado em: 13/10/2010
educação agrícola, financiamento, licenciamento
e apoio governamental.




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Revista da     FAE


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V.13 02 2010
Revista da         FAE

O treinamento experiencial e sua aplicação no contexto
corporativo: estudo comparativo entre programas de
treinamento realizados nos Estados Unidos e no Brasil

The experiential training and its corporate context application:
comparative study between training programs in the United
States and Brazil
Resumo                                                                                 Zélia Miranda Kilimnik*
                                                                                       Eder Menezes Reis**
As corporações têm passado por períodos contemporâneos de mudanças e
desafios que as têm levado a adotar ações gerenciais diversas para incremento
no resultado financeiro, na manutenção do resultado financeiro alcançado ou
à sua sobrevivência no mercado. Em escalas diferenciadas e de acordo com
o porte e a cultura, as empresas têm se preocupado com o capital intelectual
dos empregados, apostando no valor intangível das suas organizações. Este
artigo investiga uma opção ao treinamento comportamental tradicional,
avaliando a eficácia, de forma comparativa, da utilização do treinamento
experiencial no contexto corporativo. Foi realizada uma pesquisa qualitativa e
quantitativa, envolvendo diversas técnicas, tais como observação, entrevistas
e questionário de avaliação de efetividade do treinamento (Ropeloc), que
foi aplicado aos funcionários de uma empresa contratante do treinamento
experiencial situada em Huston, Estados Unidos, e em outra situada em
Belo Horizonte, Brasil. Os resultados indicam melhor aproveitamento do
treinamento aplicado no Brasil, sendo que os itens que apresentam melhor
desempenho com a aplicação da metodologia de treinamento experiencial são
busca pela qualidade, pensamento aberto, liderança e lidar com mudanças.
Esses resultados surpreendem, dada a melhor infraestrutura da organização
estudada nos Estados Unidos e seus maiores cuidados com a segurança no
que se refere aos equipamentos utilizados.
Palavras-chave: treinamento comportamental; treinamento experiencial;
metodologia de treinamento experiencial.

Abstract
Corporations have gone through periods of contemporary changes and
challenges that have led then to adopt management actions to increase in
financial results, maintenance of the achieved financial results and their own
survival in the market. In different scales and according to their size and culture,
business has been concerned with the intellectual capital of its employees by
focusing on intangible value of their organizations. This study investigates
an option to traditional behavioral training, evaluating the effectiveness of
a comparative analysis of the use of experiential training in the corporate
context. We performed a qualitative and quantitative research, involving
several techniques such as observation, interviews and a questionnaire on the
                                                                                       *  Doutora em Administração pela
effectiveness of training (ROPELOC), which was applied on the employees of a
                                                                                          Universidade Federal de Minas
contractor of experiential training based in Huston, United States of America
                                                                                          Gerais. Professora na Fundação
and another, located in Belo Horizonte, Brazil. The results show a better use of
                                                                                          Mineira de Educação e Cultura.
applied training in Brazil, and the items that perform better in the application
                                                                                       ** Mestre em Administração pela
of experiential training methodology is the search for quality, open thinking,
                                                                                          Fundação Mineira de Educação e
leadership and dealing with the changes. These results are surprising, given
                                                                                          cultura. Gerente de Fábrica da DSI
the best infrastructure of the organization studied in the United States and
                                                                                          Fosminas (Multinacional ligada a
its better care of safety concerning to equipments used.
                                                                                          mineração). E-mail: ederynca@
Keywords: behavioral training; experiential training; experiential training               yahoo.com.br
methodology.

Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 17-30, jul./dez. 2010                                                                  |17
Introdução                                            nas modalidades low ropes (cordas baixas) e high
                                                      ropes (cordas altas). Esses termos são utilizados
     Em 1920, a primeira escola que enfocou           nos Estados Unidos para definir os níveis de difi-
responsabilidade, igualdade, justiça social, res-     culdade aos quais as pessoas são expostas.
peito e serviço comunitário surgiu na Alemanha,            Low ropes são atividades aplicadas no solo ou
com o primeiro trabalho realizado por Kurt Hahn       bem próximas a ele, com a função de integração
(educador e filósofo alemão) atuando com edu-         das pessoas que estão em treinamento e também
cação inovativa praticada ao ar livre. Na época,      para que o facilitador avalie o nível de coesão,
as atividades físicas ao ar livre já tinham caráter   comprometimento, envolvimento e auto-suporte
colaborativo.                                         entre os participantes, visando à proposição de
      De acordo com Hammerman (1980), os pri-         forma progressiva de atividades mais desafiadoras
meiros programas de treinamento experiencial ao       para os grupos, nos equipamentos de high ropes,
ar livre em áreas de camping nos Estados Unidos       que geralmente são acessíveis por paredões de es-
começam em 1930. Em 1976, surge a Associa-            calada, escadas e postes inclinados. As atividades
ção para a Educação Experiencial, referindo-se        chamadas high ropes elevam o nível de estresse
ao aprendizado ao ar livre como uma forma de          por estarem posicionadas geralmente a oito, nove
educação experiencial. A indústria de construção      ou mais metros do solo, tornando a percepção
de challenge courses (percursos de desafio), que      de risco maior. São utilizados equipamentos de
são áreas de treinamento ao ar livre compostas        segurança, cordas, cabos de aço, cinturões etc.
de diversos equipamentos, onde acontecem ativi-            As atividades fora do solo podem ser pratica-
dades relacionadas à educação experiencial, teve      das por uma, duas ou mais pessoas, dependendo
crescimento acentuado na década de 1990 e o           do equipamento e de sua configuração. Quando
número de consultores que proviam essa moda-          os equipamentos estão isolados, são chamados
lidade de treinamento também acompanhou esse          por nomes próprios, mas se são utilizados em área
crescimento.                                          próxima ou estão em configuração sequenciada,
     Attarian (2001) afirma que se, em 1992,          são chamados de challenge courses (percursos
havia 300 áreas de treinamento ao ar livre nos        de desafio).
Estados Unidos, em 2001, eram mais de 15 000               A partir do início dos anos 1990, técnicas e
em operação. O governo norte-americano, até os        equipamentos de esportes e atividades não-con-
dias atuais, não regulamentou essas atividades,       vencionais praticados ao ar livre, como escalada
propiciando que a iniciativa privada crie padrões     em rocha, rapel, arvorismo e atividades no solo,
para construção, operação, manutenção e geren-        têm sido utilizados em treinamentos comporta-
ciamento relacionados a essas atividades.             mentais corporativos experienciais, com a fina-
     No Brasil, o Treinamento Experiencial ao Ar      lidade de desenvolver determinadas habilidades
Livre – TEAL – ocorreu pela primeira vez em maio      (liderança, superação de obstáculos, trabalho em
de 1992, em uma área em Teresópolis, Rio de Ja-       time, entre outros), em grupos de trabalho, visan-
neiro, sendo organizado pela Dinsmore Associats       do ao melhor desempenho nas atividades corpo-
e pela empresa americana Pro Action, usando           rativas. Unir as pessoas em torno de uma tarefa,
técnicas desenvolvidas por eles, de acordo com        na qual é esperado que elas atinjam um objetivo
o modelo americano de treinamento ao ar livre         com esforço mútuo, ou expor cada indivíduo a
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Revista da     FAE


situações nas quais a superação de obstáculos             própria. Já outras optam por alugar esse espaço
será incentivada pelo grupo são exemplos de ob-           e utilizar equipamentos próprios. Foi também
jetivos de uma gama de propostas de treinamento           percebido que empresas menores e consultores
que buscam conciliar objetivos e atividades para          adquiriram o hábito de alugar áreas naturais para
gerar um ciclo de aprendizado vivencial dirigido          treinamentos e contratar serviços, tais como o
à proposta do treinamento.                                equipamento de empresa terceira.
     No contexto norte-americano, a padroniza-                 Também foi verificado que é comum que
ção foi fruto da possibilidade de embargo gover-          empresas de ecoturismo expandam suas ativida-
namental às atividades, caso a falta do padrão            des, oferecendo treinamentos experienciais por já
causasse acidentes aos praticantes. Dessa padro-          possuírem área natural e equipamento, mesmo
nização surgiu a Association of chalenge courses          que não possuam capacidade técnica tanto de
tecnology – (ACCT) – Associação para tecnologia           aplicação do treinamento quanto de manuten-
dos percursos de desafio. Atualmente, essa enti-          ção e lida com os treinandos. Essas empresas de
dade é responsável pela criação, pela divulgação          ecoturismo abordam o foco mais recreativo, seu
e pela revisão dos padrões que são utilizados             negócio original, na utilização da vivência obtida
pelas empresas que operam, constroem e que                nas atividades ao ar livre refletidas no treinamento
dão manutenção e suporte. A associação, por sua           organizacional, ao contrário do que ocorre nos Es-
vez, é ligada ao Instituto Nacional Americano de          tados Unidos, de acordo a percepção deste autor,
Padrões – ANSI –, que é responsável por atualizar e       que teve a oportunidade de fazer treinamentos e
divulgar as normas referentes às atividades de pa-        estágios naquele país.
dronização em diversos segmentos das atividades                As maiores empresas mineiras não são muito
industriais, comerciais e de engenharia, visando à        receptivas quando são abordadas sobre a possibili-
segurança para os produtos e para os usuários. O          dade de abertura para um trabalho acadêmico, te-
ANSI desenvolve trabalhos similares aos realizados        mendo o plágio de suas atividades. Seus dirigentes
pelo Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO           não são claros quando são inquiridos sobre seus
–, que é o órgão brasileiro responsável pela pa-          métodos e suas principais atividades específicas de
dronização e pela normalização.                           treinamento, descartando a possibilidade de um
     Com o intuito de obter informações relevan-          estudo, sob a alegação de que pessoas externas
tes sobre o treinamento experiencial, obtivemos,          à organização podem criar uma empresa similar,
por meio de entrevista com empresas e com con-            tornando-se concorrentes.
sultores que realizam treinamentos experienciais,              Justifica-se, assim, um estudo exploratório
no período de abril a junho de 2009, informações          em outro país, mais especificamente nos Estados
relevantes de como é esse mercado na realidade            Unidos, visando a obter conhecimento teórico e
local. Observa-se, assim, que, na grande Belo Hori-       prático sobre o tema, e trazê-lo para a realidade
zonte e regiões próximas, existem várias empresas         local, colaborando para a melhoria do conteúdo
que oferecem essa modalidade de treinamento,              dessas atividades com foco corporativo. Os pro-
com grande diversidade de propostas, em ter-              cedimentos de segurança e de organização deve-
mos de duração e de custos. Algumas empresas              rão somar valor para as prestadoras de serviço,
dispõem de toda a estrutura necessária, como:             gerando boas práticas no manuseio e na estoca-
recursos humanos, equipamentos e área natural             gem dos seus equipamentos. Adicionalmente, as
Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 17-30, jul./dez. 2010                                                  |19
atividades de ecoturismo poderão potencializar        do por obstáculos naturais. De fato, o ambiente
suas atividades por meio da melhoria qualitativa      ao ar livre tem longa história por prover espaços
dos processos internos.                               especiais para que o indivíduo aprenda, de modo
     As corporações contratantes do treinamento       profundo, sobre si mesmo e sobre sua interação
experiencial ao ar livre poderão também avaliar as    social com os outros.
etapas das atividades, baseando-se nas teorias e      FIGURA 01 - A ÁRVORE DA EDUCAÇÃO AO AR LIVRE
conhecendo a fundamentação dos processos do
treinamento. Devido ao fato de o treinamento
experiencial ser utilizado geralmente para reforçar
a missão da empresa ou para modificar compor-
tamentos inadequados à realidade corporativa,
este estudo dará subsídios para que a corporação
obtenha o resultado esperado nessa modalidade
de treinamento. Ou seja, para que o treinamento
torne-se efetivo e não resulte apenas em horas
de lazer.
     Este trabalho teve como objetivo gerar
conhecimentos, colaborando com empresas,
consultores, prestadores de serviço e corporação
contratante, disponibilizando, de forma mais
aprofundada, os fundamentos da atividade de
treinamento ao ar livre e da educação experiencial.   FONTE: Adaptado de Priest e Gass (1983)

                                                            De acordo com Priest e Gass (1983), ilustrado
Teoria da educação ao ar livre                        em seu modelo chamado “árvore da educação ao
                                                      ar livre”, na qual, em sua base (as raízes), estão
     Segundo Barros (2000), Outdoor Education         cognição, afetividade e movimentos como gran-
ou Educação ao Ar Livre é uma vivência edu-           des grupos, e sons, intuição, tato, gosto, visão
cacional que faz uso de desafios presentes em         e olfato são alusivamente relacionados com a
áreas naturais como metodologia educativa. A          essência humana, que deve ser aprimorada pelo
Educação ao Ar Livre é um método de aprendi-          treinamento ao ar livre. Logo acima das raízes,
zagem experiencial que utiliza todos os sentidos      o tronco simboliza a educação ao ar livre como
de uma pessoa, ocorrendo principalmente pela          grande suporte ao ser humano em seu processo
exposição do aluno ou do visitante a ambientes        de treinamento. Mais acima, o frondoso tronco se
naturais. De acordo com Neill (2003), a utilização    desdobra em duas partes, duas vertentes: uma é a
                                                      educação por meio da aventura em áreas abertas
das atividades ao ar livre para fins educativos
                                                      e a outra é a vertente para a educação ambiental.
envolve aventura para propiciar crescimento pes-
                                                      Já os galhos simbolizam as relações intrapessoais
soal, sob a orientação de um instrutor ou líder. Os
                                                      e interpessoais, as relações com os ecossistemas
ambientes de aprendizagem ao ar livre são mais
                                                      e as relações do homem com as ciências da terra.
que uma “sala de aula ao ar livre”, uma vasta área    Nos galhos, também está o processo de aprendi-
de diversão ou um campo de batalha entremea-          zado experiencial.
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Aula 11 gestao da qualidade
 

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  • 1. SUMÁRIO SUMMARY Alimentos preservados com radiação: a vantagem competitiva Food preservation with radiation: the competitive advantage que falta ao Brasil 1 that Brazil lacks 1 Patricia Wieland, Leonardo Junqueira Lustosa, Teresia Diana Lewe van Aduard de Patricia Wieland, Leonardo Junqueira Lustosa, Teresia Diana Lewe van Aduard de Macedo-Soares Macedo-Soares O treinamento experiencial e sua aplicação no contexto corporativo: The experiential training and its corporate context application: estudo comparativo entre programas de treinamento realizados nos comparative study between training programs in the United States Estados Unidos e no Brasil 17 and Brazil 17 Zélia Miranda Kilimnik, Eder Menezes Reis Zélia Miranda Kilimnik, Eder Menezes Reis A importância dos sistemas de gestão da qualidade: Fmea e Seis Quality management sistems regard: Fmae and Six Sigma - an Sigma - uma abordagem teórica 31 theoric approach 31 Elizabeth Giron Cima, Miguel Angel Uribe Opazo Elizabeth Giron Cima, Miguel Angel Uribe Opazo Custos da qualidade: como medir o impacto dos esforços pela The quality cost: how to measure the impact of the efforts for qualidade 37 the quality 37 Fabiano Goldacker, Rubens Ricardo Franz Fabiano Goldacker, Rubens Ricardo Franz Planejamento estratégico e gestão familiar em empresas Strategic planning and family management of enterprises in paulistanas 47 São Paulo 47 Marilia Branquinho, Maximiliano da Silva Ribeiro, Pedro Rehem Santana, Tito Marilia Branquinho, Maximiliano da Silva Ribeiro, Pedro Rehem Santana, Tito Olavo Pereira Dancuart, Victor Souza, Adriana Beatriz Madeira, Luciano Augusto Olavo Pereira Dancuart, Victor Souza, Adriana Beatriz Madeira, Luciano Augusto Toledo Toledo Análise comparativa dos modelos de precificação de ativos Capital Comparative analysis of both Capital Asset Pricing Model and Asset Pricing Model e Downside Capital Asset Pricing Model 65 Downside Capital Asset Pricing Model 65 Adriana Moreira Bastos de Faria, Lucas Maia dos Santos Adriana Moreira Bastos de Faria, Lucas Maia dos Santos O uso do cheque especial e do cartão de crédito pelos acadêmicos The use of overdraft and credit card by students da FAE Centro Universitário 81 at FAE Centro Univeritário 81 Aline Fernanda da Silva Ferreira, Amilton Dalledone Filho Aline Fernanda da Silva Ferreira, Amilton Dalledone Filho A sustentabilidade e sua relação com as The sustainability and its relation with estratégias organizacionais 93 corporate strategies 93 Valéria da Veiga Dias, Uiara Gonçalves De Menezes, Eliete Pozzobon Palma, Marcia Valéria da Veiga Dias, Uiara Gonçalves De Menezes, Eliete Pozzobon Zampieri Grohmann Palma, Marcia Zampieri Grohmann Empreendedorismo social e sustentabilidade: um estudo de caso sobre o Social entrepreneurship and sustainability: a study of in case on the projeto “mulheres em ação jogando limpo com a natureza” project “women in action playing clean with the nature” do IFNMG 111 of IFNMG 111 Edson Oliveira Neves, Cezar Augusto Miranda Guedes, Kléber Carvalho dos Santos Edson Oliveira Neves, Cezar Augusto Miranda Guedes, Kléber Carvalho dos Santos Abertura de capital como fonte de financiamento aos IPO as source of financing of investments in Brazil: analysis of investimentos no Brasil: análise do período de 2004 a 2007 125 the 2004-2007 period 125 Leide Albergoni, Guilherme Blanski Küster Leide Albergoni, Guilherme Blanski Küster Fatores determinantes na escolha de alunos pela FAE Blumenau Factors in the choice of students by FAE Blumenau as an Institution como Instituição de Ensino Superior 147 of Higher Education 147 Simone Cristina Aléssio, Maria José Carvalho de Souza Domingues Simone Cristina Aléssio, Maria José Carvalho de Souza Domingues Diferenciais competitivos dos cursos superiores de tecnologia Competitive advantages of technology undergraduate courses pela percepção dos acadêmicos 165 through the perception of students 165 Adriana Galli Velho Adriana Galli Velho Oportunidades nos mercados globalizados: estudo nas empresas Opportunities in global markets: study in the brazilian companies of brasileiras de consultoria em tecnologia da informação 179 consulting in information technology 179 Bruna Zambel Russo, Carolina Batista de Deus, Simone Cardoso de Almeida Bruna Zambel Russo, Carolina Batista de Deus, Simone Cardoso de Almeida Marques, Ingrid Araujo Silva, Francisco Américo Cassano Marques, Ingrid Araujo Silva, Francisco Américo Cassano FAE Centro Universitário Curitiba, v.13, n.2, jul./dez. 2010 - ISSN 1516-1234
  • 2. Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus Coordenadores de Curso Presidente Aline Fernanda Pessoa Dias da Silva (Direito) Frei Guido Moacir Scheidt, ofm Tiago Luís Haus (Engenharia Ambiental) Diretor Geral Carlos Roberto Oliveira de Almeida Santos (Informática – Sistema de Informação e Jorge Apóstolos Siarcos Tecnologia em Sistema para Internet) Cleuza Cecato (Letras) Centro Universitário Franciscano do Paraná Daniele Cristine Nickel (Psicologia) Reitor da FAE Centro Universitário Eliane Cristine Francisco Maffezzolli (Comunicação Social: Publicidade e Propagan- Diretor Geral da FAE São José dos Pinhais da e Desenho Industrial) Frei Nelson José Hillesheim, ofm Enon Laércio Nunes (Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção) Pró-Reitor Acadêmico Érico Eleutério da Luz (Ciências Contábeis) Diretor Acadêmico Gilmar Mendes Lourenço (Ciências Econômicas) André Luis Gontijo Resende Jacir Adolfo Erthal (Tecnologia em Logística, Tecnologia em Gestão Financeira, Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos e Tecnologia em Marketing) Pró-Reitor Administrativo Joaquim Almeida Brasileiro (Negócios Internacionais) Régis Ferreira Negrão Marcus Vinicius Guaragni (Administração) Diretor de Campus – FAE Centro Universitário, Campus Centro Ney de Lucca Mecking (Educação Física) Julio Kiyokatsu Inafuco Silvia Iuan Lozza (Pedagogia) Diretor de Campus – FAE Centro Universitário, Campus Cristo Rei Frei Jairo Ferrandin, ofm (Filosofia) Carlos Roberto de Oliveira Almeida Santos Diretor Acadêmico FAE São José dos Pinhais Wagner Rodrigo Weber Coordenador dos Programas de Pós-Graduação Lato Sensu Coordenadores dos Núcleos Adriana Pelizzari (Coordenadora do Núcleo de Extensão Universitária) Gilberto Oliveira Souza Areta Galat (Coordenadora do Núcleo de Relações Internacionais) Coordenador dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu Cleonice Bastos Pompermayer (Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Acadêmica) José Henrique de Faria Marcelo de Araújo Cansini (Coordenador do Núcleo de Empregabilidade) Diretor de Relações Corporativas Rita de Cássia Marques Kleinke (Coordenadora da Pastoral Universitária) Paulo Roberto de Araújo Cruz Simone Wiens (Coordenadora do Núcleo de Carreira Docente) Secretário-Geral Eros Pacheco Neto Diretor do Instituto de Ciências Jurídicas Bibliotecas Soraia Helena F. Almondes (Biblioteca – Campus Centro) Sérgio Luiz da Rocha Pombo Edith Dias (Biblioteca – Campus Centro) Ouvidoria Fernanda Périco Jorge (Biblioteca – São José dos Pinhais) Samar Merheb Jordão Editor Frei Nelson José Hillesheim, ofm Comitê Editorial Coordenação Editorial Bruno Harmut Kopittke, Dr. (UFSC); Francisco Antonio Pereira Fialho, Dr. (UFSC); Glauco Cleonice Bastos Pompermayer (coordenadora editorial) Ortolano, Ph.D (Lauder Institute/Wharton School/University of Phennsylvania); Harry Danielle Francesca Lopes Lago (revisão de linguagem) J.; Burry, Ph.D (Baldwin Wallace); Heloísa Lück, Ph.D (UFPR); Heloiza Matos, Dra. (USP); Mariana Fressato (normalização) Jair Mendes Marques, Dr. (FAE Centro Universitário, UTP); João Benjamim da Cruz Edith Dias (normalização) Junior, Ph.D (UFSC); Cleverson Vitório Andreoli, Dr. (USP); Mirian Beatriz Schneider Braun, Dra. (Unioeste); Christin Luiz da Silva, Dr. (UFSC). Ewerton Diego Oliveira da Silva (diagramação) Braulio Maia Junior (diagramação) Pareceristas Eliane Cristine Francisco Maffezzolli, Dra. (FAE), Denise Maria Candioto Caselani, Dra. (UNINOVE), Walter Tadahiro Shima, Dr. (UFPR), Nicolau Barth, Ms. (UTFPR), Edson Pacheco Paladini, Dr. (UFSC), Najila Rejanne Alencar Juliao Cabral, Phd (IFCE), João Júlio Vitral Amaro, Dr. (UFMG), Anapatrícia Morales Vilha, Dra. (UFABC), Júlio Francisco Blumetti Facó, Dr. (ESAGS e FECAP), Eduardo Raupp de Vargas, Dr. (UNB), Antônio André Cunha Callado, Dr. (UFRPE), Pery Francisco Assis Shikida, Phd (UEL e UNIOESTE), Lafaiete Santos Neves, Dr. (FAE), Valéria Maria Martins Judice, Dra. (UFSJ), Mario Sérgio Cunha Alencastro, Dr. (UTP), Leonardo Freire de Mello, Dr. (UNIVAP), Antonio Carlos Silva Costa, Dr. (UFAL), Carlos Alberto Diehl, Dr. (UNISINOS), Ana Maria Coelho Pereira Mendes, Dra. (FAE), Francisco Antonio Pereira Fialho, Dr. (UFSC), Amilton Dalledone Filho, Ms. (FAE), Carla Cristina Dutra Búrigo, Dra. (UFSC), Rosalinda Chedian Pimentel, Phd (UNIFRAN e UNESP), Helder Gomes Costa, Dr. (UFF), Joel Souza Dutra, Dr. (USP), João Bosco Ladislau de Andrade, Dr. (UFAM), Sidnei Vieira Marinho, Dr. (UNIVALI), Antônio Lázaro Conte, Ms. (FAE), Luiz Carlos Pereira, Ms. (FAE) Indexação CAPES/Qualis Latindex Portal Livre/CNEN GeoDados Distribuição Comunidade Científica: 700 exemplares Permuta: 100 exemplares Revista da FAE. n.1/2, jan./dez. 1998 - Curitiba, 1998 - v. 28cm. regular Semestral Substitui ADECON: revista da Faculdade Católica de Administração e Economia. ISSN 1516-1234 1. Abordagem interdisciplinar do conhecimento. I. FAE Centro Universitário . Núcleo de Pesquisa Acadêmica. CDD - 001 Os artigos publicados na Revista da FAE são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da FAE Centro Universitário. A Revista da FAE tem periodicidade semestral e está disponível em www.fae.edu Endereço para correspondência: FAE Centro Universitário - Núcleo de Pesquisa Acadêmica Rua 24 de Maio, 135 - 80230-080 - Curitiba-PR Tel.: (41) 2105-4093 - e-mail: pesquisa@fae.edu
  • 3. Revista da FAE Apresentação Prezados leitores Com os votos de Paz e Bem temos a alegria de disponibilizar à comunidade acadêmica e a toda a sociedade mais uma edição da Revista da FAE. Para a elaboração deste número da Revista contamos com a colaboração de autores representantes de várias áreas e subáreas do conhecimento, assim como, de nacionalidade brasileira e internacional, para os quais desejamos expressar nossos agradecimentos. As valiosas e importantes reflexões desses autores compõem as temáticas abordadas, oscilando desde a preocupação com as inovações, relatos de casos, educação, sustentabilidade, competitividade, a métodos específicos para a solução de questões sobre gestão empresarial. A partir destes temas apresentados, torna-se possível sintetizar os conteúdos aqui apresentados por meio de uma breve descrição sobre os artigos. Iniciando pelo artigo que relata os vários aspectos de gestão industrial, avanços estratégicos, segurança ambiental e regulação da irradiação de alimentos: a vantagem competitiva que falta no Brasil. O artigo a seguir analisa por meio de uma investigação, de forma comparativa, os resultados obtidos em treinamento comportamental tradicional face à opção de treinamento experiencial no contexto corporativo. Na sequência, três artigos nos oferecem a possibilidade de compreender a importância e a relevância dos procedimentos, métodos e programas de gestão na busca da eficiência dos ambientes organizacionais, expondo questões como qualidade e planejamento. Os dois artigos subsequentes apresentam características e formas de precificação dos ativos voltados ao mercado de capitais, e uma pesquisa com jovens acadêmicos sobre o conhecimento para o uso adequado do cheque especial e do cartão de crédito. A preocupação de como alcançar e manter-se no conceito de sustentabilidade é enfatizado, a seguir, nos dois temas citados na revista. Um relatando a percepção de gestores de uma indústria do setor de alimentos e bebidas sobre a relação intrínseca entre a sustentabilidade e as estratégias organizacionais e o outro apresentando uma análise sobre a importância do empreendedorismo social e da sustentabilidade. Uma abordagem histórica e econômica nos permite compreender o comportamento da abertura de capital como fonte de financiamento dos investimentos no Brasil: uma análise do período de 2004 a 2007.
  • 4. Experiências e preocupações com a educação, especificamente do ensino superior, também se fazem presentes nos artigos que apresentam os fatores determinantes nas escolhas de alunos pela FAE na cidade de Blumenau e a percepção dos acadêmicos sobre os diferencias competitivos dos cursos superiores de tecnologia. Finalmente, um estudo nas empresas brasileiras de consultoria em tecnologia da informação nos apresenta a importância e o papel dos mercados globalizados no sucesso dessas empresas. Gratos pelo prazer de compartilhar com todos a leitura da obra de cada autor, esperamos ter contribuído mais uma vez com o pensamento, reflexões e atitudes acadêmicas. PAZ E BEM! Frei Nelson José Hillesheim, ofm Editor
  • 5. Revista da FAE Alimentos preservados com radiação: a vantagem competitiva que falta ao Brasil1 Food preservation with radiation: the competitive advantage that Brazil lacks Patricia Wieland* Leonardo Junqueira Lustosa** Teresia Diana Lewe van Aduard de Macedo-Soares*** Resumo A técnica de preservação de alimentos por radiação vem sendo aplicada mundialmente para aumentar o tempo de armazenamento e reduzir a dependência de pesticidas químicos. Apesar dos incentivos governamentais e do mercado produtor agrícola crescente, o Brasil ainda não entrou no seleto clube dos exportadores de produtos agrícolas tropicais tratados com radiação. As dificuldades para oferta regular de um serviço de irradiação de alimentos independem da tecnologia utilizada. Instalações semelhantes que esterilizam artigos médicos ou melhoram as propriedades termo-mecânicas de materiais têm operado no Brasil sem interrupções e de modo crescente. Este artigo analisa os vários aspectos da gestão industrial, alianças estratégicas, segurança ambiental e regulação da irradiação de alimentos e apresenta perspectivas para desenvolvimentos futuros no Brasil. Palavras-chave: irradiação; alianças estratégicas; industrialização; exportação; frutas. Abstract Food preservation with radiation is a worldwide technique to increase storage time and reduce chemical pesticides dependence. In spite of * Doutoranda do Departamento de governmental support and a growing market, Brazil does not export Engenharia Industrial da PUC-Rio/ DEI. Pesquisadora Titular U-III da irradiated food. The difficulties of the irradiation services supply are not Comissão Nacional de Energia related to the technology, given that similar facilities are in full operation, Nuclear (CNEN). Rio de Janeiro-RJ. offering medical aid product sterilization services or improving materials E-mail: pwieland@cnen.gov.br. thermo-mechanical properties. This paper analyses several aspects of the ** PhD em Engenharia Industrial pela industrial management, strategic alliances, environmental safety and Stanford University, EUA. Professor do Departamento de Engenharia regulation of food irradiation and presents some perspectives for future Industrial da PUC-Rio/DEI. Rio de developments in Brazil. Janeiro-RJ. E-mail: ljl@puc-rio.br *** PhD em Filosofia Econômica e Keywords: irradiation; strategic alliances; industrialization; export, fruits. Social pela Montréal University, Canadá. Professora da Escola de Negócios da PUC-Rio/IAG. Rio de Janeiro-RJ. E-mail: tdiana. 1 Os autores agradecem os comentários da Dra. Nélida del Mastro, bolsista de produtividade vanaduardmacedosoares@gmail. em pesquisa do CNPq e professora/orientadora em Tecnologia Nuclear do IPEN e USP com Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |1
  • 6. Introdução Este artigo procura examinar diversos aspec- tos relevantes para o desenvolvimento industrial O tratamento com radiação visa conservar os da preservação de alimentos no Brasil, com o alimentos por mais tempo, reduzindo as perdas uso de radiação ionizante. O propósito não é causadas por brotamento ou maturação, além de fazer uma análise detalhada, mas tão somente reduzir a presença de micro-organismos, parasitas dar uma visão abrangente e multidisciplinar da e pragas, sem afetar a qualidade do produto. A questão que, frequentemente, é investigada com tecnologia de irradiação já é empregada em mais base em problemas isolados. Assim, discutem-se de 50 países e é aplicada, por exemplo, para a pre- brevemente os aspectos relevantes referentes à servação de carnes, frutas frescas, condimentos, qualidade de alimentos, à tecnologia, à gestão, à ervas medicinais e temperos. segurança, à regulação da indústria da irradiação Desde a década de 1980, vários estudos de e ao comércio internacional. Por fim, analisa-se o viabilidade têm sido realizados para a implantação conjunto de elementos apresentados com vistas de unidades industriais de tratamento de alimentos a sugerir algumas linhas de ação gerais. no Brasil (GLÓRIA, 1987a, 1987b), (FARIA et al., A informação foi coletada por meio de revisão 1999) e (GHOBRIL; DEL MASTRO, 2009). Um da literatura científica e de relatórios de organi- estudo recente realizado em cooperação com o zações internacionais, investigação documental, Canadá avaliou a qualidade de mangas irradiadas discussão com peritos de institutos de pesquisa, após o transporte e também fez uma avaliação de empresários do setor e especialistas de órgãos de custos (SABATO et al., 2009). regulação. A experiência operacional com sucesso No Brasil existem 1376 instalações industriais de exportação de frutas irradiadas de países tais que utilizam fontes de radiação para os mais diver- como Índia e México foram de grande ajuda. sos fins, e, entre estas, 34 possuem equipamentos de grande porte para irradiação (MARECHAL, 2009). Apesar do otimismo sobre a exportação 1 Aspectos relacionados à tecnologia de produtos agrícolas no Brasil, faltam plantas de irradiação e à agro-indústria industriais dedicadas à irradiação de alimentos para atender às necessidades dos produtores agrícolas de forma compatível com as ambições de expansão desse mercado. 1.1 Necessidade de melhorias na Tendo em vista os investimentos que vêm qualidade de alimentos sendo feitos nas últimas décadas para o desenvol- vimento da agricultura no Nordeste, um programa O agronegócio no Brasil é caracterizado pela de irradiação de alimentos parece ter um elevado fartura, regularidade no fornecimento, grande beneficio-custo. Os fracassos incorridos na tenta- variedade de produtos, baixo custo de produção tiva de explorar tal potencial não parecem estar e boa aceitação dos produtos. Entretanto, no que relacionados a questões fundamentais de ordem toca aos perecíveis, várias são as dificuldades para econômica, tecnológica, social ou ambiental. Ao a produção de alimentos com qualidade: frequen- contrário, todos esses aspectos parecem ser alta- temente, as águas de irrigação e de lavagem pos- mente favoráveis. suem contaminação microbiana e existe incidência 2|
  • 7. Revista da FAE de insetos em função do clima tropical. A logística realizado uma viagem internacional nos dias an- de acondicionamento é, por vezes, inadequada e, teriores (CDC, 2005). Baseado nestas ocorrências, devido à falta de rede de transporte satisfatória e conclui-se que o risco de adquirir uma infecção aos longos trajetos, pode haver interrupções de devido à ingestão de alimentos preparados em resfriamento ideal. Observa-se ainda, em locais viagens aéreas de longa duração não pode ser sem educação agrícola adequada, que o foco é menosprezado. no aumento de volume e na redução do custo de Considerando este quadro, acredita-se que produção, em detrimento da qualidade. as seguintes metas deveriam ser observadas para Mesmo com a disseminação de boas práticas melhorar a qualidade dos alimentos: agrícolas e com a aplicação de métodos de a) Aspectos sociais: tratamento como a fumigação, a hidrotermia e - reduzir a probabilidade de ocorrência o congelamento, as estimativas mostram que de doenças transmitidas por alimentos a perda da produção nacional é ainda cerca de deteriorados ou contaminados; 30% para frutas e hortaliças, o que corresponde - promover a educação agrícola e alimentar ao desperdício de mais de 200 mil hectares para a produção e ingestão de alimentos cultivados por ano (PEROZZI, 2007). De acordo mais saudáveis. com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO, 2009), a perda pós-colheita b) Aspectos econômicos: varia de 15 a 50%, não só devido à colheita fora - evitar grandes perdas por deterioração da época correta, excesso de chuva, seca ou de alimentos devido à infestação, con- extremos de temperatura, contaminação por taminação e decomposição; micro-organismos e danos físicos degradação - promover o comércio internacional, do alimento, mas também por não atender a atendendo aos requisitos de controle rígidos controles de qualidade de supermercados, fitossanitário. com relação a tamanho, existência de manchas, c) Aspectos ambientais: formato desigual etc. - reduzir o uso de pesticidas químicos, que Com o crescimento da população, o alimento deixam resíduos nos alimentos (ICGFI, terá que ser transportado para distâncias cada vez 1999); maiores, necessitando de esforços especialmente - otimizar as áreas de plantio, consideran- em infraestrutura de armazenamento e processa- do perdas menores no escoamento da mento para reduzir a perda de alimentos ao longo produção agrícola. da cadeia produtiva. Alimentos preparados e servidos para a po- pulação em restaurantes, bares e em transportes 1.2 Tecnologia: o tratamento de alimentos de longa distância também são motivos de preo- com radiação cupação para a saúde. De acordo com um estudo sobre contaminação alimentar nos Estados Unidos O tratamento de alimentos com radiação da América, dos casos de hospitalização reporta- é feito em irradiadores com fonte radioativa dos, 63% das pessoas infectadas por Salmonella intensa de cobalto-60 ou em aceleradores de e 86% com Escherichia coli (STEC O157) tinham partículas. O alimento, já na sua embalagem Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |3
  • 8. final, é exposto à radiação. Como não há gênicos e aumenta a vida útil em armazenamento contacto com a fonte radioativa, não há risco de sem comprometer a qualidade da alimentação. contaminação radioativa e, após o tratamento, A técnica também beneficia os pacientes imuno- não há necessidade de manipulação do alimento, deprimidos que não podem se expor ao risco de o que evita uma possível re-infestação bacteriana contaminação alimentar (IAEA, 2009). Por outro (ICGFI, 1999). Os aceleradores de elétrons atuam lado, a radiação não é recomendada para todos mais superficialmente e são ideais para alimentos os alimentos. Em alguns pode provocar alterações com pouca espessura. Os aceleradores possuem na cor, no odor ou no sabor, como por exemplo, a vantagem de não necessitarem de recarga de no leite e em seus derivados e no abacate. fontes. Em ambos os casos, as caixas com os Além da vantagem de preservação de ali- alimentos entram, sobre esteiras transportadoras, mentos por mais tempo, a radiação também num recinto blindado onde são irradiados durante pode contribuir para a melhoria da qualidade e um tempo pré-determinado e saem por outra de características intrínsecas do produto. O uso abertura, prontas para serem despachadas. de hidrocolóides está se tornando cada vez mais A irradiação pretende reduzir ou eliminar as importante e as propriedades reológicas de adi- tivos irradiados é uma das linhas de pesquisa em bactérias patógenas para o homem tais como andamento (DEL MASTRO, 1999). O quadro 01 Escherichia coli, Salmonella, Listeria e Campylo- mostra as aplicações e a faixa de dose de radiação bacter, os fungos formadores de micotoxinas para o tratamento de alimentos. No caso de frutas e insetos (por exemplo, moscas-das-frutas dos frescas, como a manga e papaya, o maior interesse gêneros Ceratitis e Anastrepha) que deterioram fitossanitário é a desinfestação de insetos e a dose os alimentos armazenados. Se aplicada na dose média aplicada é 0,4 kGy. No caso de redução de correta para cada alimento, a radiação não afeta micro-organismos até a esterilização de alimentos, a sua estrutura molecular e, portanto, não modi- aplica-se uma dose mais alta, de até 50 kGy. fica as suas propriedades nutricionais e nem as sensoriais (ICGFI, 1999). Wieland-Fajardo e Rego (1993) apresentam um resumo em linguagem simples sobre a técnica de irradiação de produtos, a curva dose-sobrevivência de micro-organismos, os equipamentos, a segurança, a validação e o controle do processo por determinação de dose absorvida no produto e outros métodos. Não só alimentos in-natura, como as frutas e os desidratados, como os condimentos, podem ser irradiados para sua preservação. Há uma crescente demanda por alimentos preparados, que necessitam ser estocados temporariamente, tais como as refeições para membros das forças armadas em serviço, passageiros em transporte de longa distância ou alimentos especiais étnicos ou religiosos. A irradiação elimina agentes pato- 4|
  • 9. Revista da FAE QUADRO 01 - FAIXAS DE DOSE ABSORVIDA PARA O TRATAMENTO DE ALIMENTOS COM RADIAÇÃO Faixa de dose absorvida no Função Objetivo produto (kGy) Inibição de brotamento em batatas, cebolas, alho, 0,05 – 0,15 gengibre etc. Prolongamento do tempo de 0,25 – 1,0 frutas frescas e armazenamento vegetais Retardo do amadurecimento 1,0 – 3,0 peixe fresco, morangos, cogumelos etc. Desinfestação de insetos e parasitas em cereais, grãos leguminosos, carnes e peixes desidratados, frutas frescas e 0,15 – 0,5 desidratadas etc. Melhoria da qualidade Redução ou eliminação da carga microbiana em frutos do 1,0 – 7,0 mar ou frangos congelados ou frescos, carnes etc. Inativação de agentes patogênicos em aditivos e ingredien- 10 – 50 tes tais como condimentos, enzimas, gomas etc. Redução do número de micro-organismos até a Esterilização em combinação esterilização: carnes, frangos, frutos do mar, alimentos 30 – 50 com outros métodos preparados, alimentos para pacientes imunodeprimidos . Desenvolvimento de novas Alteração das características intrínsecas (uvas mais 2,0 – 7,0 características e produtos suculentas, redução do tempo de cozimento de vegetais) . FONTE: ICGFI (1999) Alternativamente à radiação, alguns fume- livres, originalmente presentes nas amostras. Os gantes são usados para preservação de alimentos. autores desta pesquisa lembram que alguns mitos Entretanto, alguns são prejudiciais à saúde huma- ainda necessitam ser superados antes que a irra- na e agridem o meio ambiente. O Brasil tem uma diação se torne um método amplamente aceito legislação bastante rígida a esse respeito, confor- pelo público. Para tal, enfatizam que (a) irradiação me o Decreto 4.074/2002. O brometo de metila, não torna o alimento radioativo; e (b) irradiação muito usado no passado, é depletor da camada de não destrói nutrientes em maior extensão que ozônio e está sendo mundialmente banido. Exceto qualquer outro processo de preservação. para produtos de uso médico, a descontaminação Em pesquisa de opinião pública (ORNELLAS com óxido de etileno (ETO) está proibida no Brasil et al., 2006), ficou evidente que a falta de conhe- desde 1999 (artigo 7º da Portaria Interministerial cimento sobre o processo e seus benefícios é um n. 482/99 dos Ministérios da Saúde e do Trabalho). fator limitante: 89% dos entrevistados consumi- Uma pesquisa realizada na Empresa Brasileira riam alimentos irradiados se soubessem que a irradiação aumenta a segurança alimentar. de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (MARTIN NETO; RODRIGUES; TRAGUETTA, 1996) mostrou a total adequação do uso de radiação ionizante 1.3 A gestão industrial de instalações de como um método eficiente e seguro de desconta- irradiação de alimentos minação de pimenta do reino. Houve uma redu- ção, quando não eliminação completa, de micro- As unidades industriais de irradiação são ins- -organismos e ainda a redução do nível de radicais talações compactas onde a máquina, sua estrutura Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |5
  • 10. com a blindagem da radiação e sistemas auxiliares A estratégia de entrada no mercado do serviço podem ser instalados em menos de 100 m2. O de irradiação de alimentos deve dar atenção empreendimento é capital intensivo e representa especial à possibilidade de formação de alianças um investimento da ordem de US$ 3 milhões. cooperativas. Seguindo a tipologia de Garcia-Canal A operação é simples, com pouca manutenção, et al. (2002), acredita-se que as alianças favoráveis flexibilidade de produção e reduzido número de seriam locais e de capacitação. A aliança “local” operadores, que, entretanto, devem ser qualifica- com associações de produtores agrícolas, por dos. A capacidade de produção típica é de 40.000 exemplo, expandiria os mercados de fornecedores t/ano. No investimento inicial, deve-se prever e distribuidores. A aliança “de capacitação” com não só as despesas decorrentes da instalação do institutos de pesquisa que já atuam nesta área equipamento, mas, também, as decorrentes de poderia garantir o cumprimento mais acelerado marketing e legalização para funcionamento. As dos vários requisitos de regulação e serviria para despesas anuais devem prever o recarregamento obter vantagem competitiva sobre eventuais parcial da fonte de Co-60 (dispensável para o concorrentes nacionais ou internacionais. A acelerador de elétrons), e um fundo de reserva Food Irradiation Processing Alliance - FIPA (FIPA, para o descomissionamento da instalação ao fim 2009) é um fórum internacional de representantes de sua vida útil. industriais com finalidade de discutir e influenciar O cálculo do tempo de retorno do investimento assuntos relacionados à irradiação de alimentos. depende da estimativa dos custos de investimento Uma vez que a escala de produção industrial e operacionais, do esquema de tarifas para o seja adequada, também uma aliança global com serviço e da taxa de utilização do equipamento. outro serviço de irradiação já inserido no mercado No caso de irradiador, o alto custo da fonte exterior, poderia ser benéfica para atingir estes radioativa, que tem meia-vida de cerca de cinco mercados de modo sustentável. anos (i.e. devido ao decaimento radioativo, em cinco anos a atividade cai à cerca da metade do 1.4 Análise de segurança valor inicial), faz com que o custo fixo seja ainda maior, tornando crítica a taxa de utilização. O valor Segundo recomendações da Agência Interna- agregado é de especial interesse para o produtor cional de Energia Nuclear (IAEA), vários requisitos ou distribuidor do alimento e é calculado com de segurança intrínsecos de projeto da instalação e base no aumento da vida útil do alimento, ou de operação devem ser observados, especialmente seja, quanto estoque deixou de ser perdido e no para blindar a radiação da fonte nas áreas comuns aumento do preço que novos mercados podem e para evitar a entrada de pessoas no recinto de proporcionar. Esse cálculo deve considerar a taxa irradiação durante operação e a consequente de venda do produto, sua variação sazonal e a exposição a altos níveis de radiação (IAEA, 1992). distribuição de probabilidade do tempo que o Os irradiadores e aceleradores operam no interior produto permanece sem degradação. No caso de labirintos com blindagens densas e espessas de tratamento de mangas com uma dose de 400 suficientes para não expor trabalhadores ou mem- Gy, o custo de produção é em torno de US$18,00 bros do público a níveis de radiação superiores aos por tonelada (SABATO et al., 2009). limites recomendados. 6|
  • 11. Revista da FAE Dentre as instalações não nucleares, os irra- 1.5 Regulação e fiscalização de instalações diadores e os aceleradores de partículas com capa- que irradiam alimentos cidades para preservar alimentos ou esterilizar arti- gos médicos são classificados como as instalações As instalações estão sujeitas à legislação de maior risco (IAEA, 2005). Já ocorreram aciden- pertinente para obtenção de licenças. A fiscalização tes graves em instalações deste tipo, ocasionados é necessária para verificar se os itens de segurança por falhas humanas decorrentes da pressão para estão sendo obedecidos. Os requisitos atuais se resolver problemas mecânicos no irradiador que evoluíram conforme previsto por Oliveira (2000) causavam a descontinuidade de produção. A fonte com a publicação da Resolução nº 21/2001 de radiação é poderosa o suficiente para causar a da Agência Nacional de Vigilância Sanitária síndrome aguda da radiação (SAR). Em 1991, ocor- (Anvisa), que regula as atividades de irradiação de reu um acidente em Nesvizh, Belarrúsia, quando alimentos. Esta resolução permite que qualquer o operador propositadamente corrompeu vários alimento poderá ser tratado por radiação desde dispositivos de segurança e intertravamentos de que a dose máxima absorvida seja inferior àquela um antigo irradiador usado para esterilização de que comprometeria as propriedades funcionais ou artigos médicos e entrou na câmara de irradiação os atributos sensoriais do alimento. Exige também para desemperrar a correia transportadora (IAEA, que a embalagem contenha a informação: 1996). O operador permaneceu a 0,2 m da fonte “Alimento tratado por processo de irradiação”. Co-60 com 28,1 PBq de atividade por menos de dois minutos e cerca de cinco minutos depois, No caso de alimentos vendidos a granel, deve- já sentia os efeitos da SAR, tais como vômitos e se colocar uma faixa com a indicação citada. dores no estômago, seguidos, após 50 minutos, Pode-se também utilizar o símbolo internacional de diarreia. Pela geometria de exposição e sinto- correspondente (figura 01). mas físicos, estimou-se que ele tivesse recebido FIGURA 01 - SÍMBOLO INTERNACIONAL DA IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS uma dose letal superior a 10 Gy, necessitando de cuidados médicos especializados emergenciais. A análise deste e de outros acidentes que ocorreram no passado serviram como base para modificações no projeto de instalações deste tipo, de modo a garantir que os princípios de redundância, defesa em profundidade e independência de dispositivos de segurança sejam obedecidos em qualquer caso. Sob o ponto de vista de proteção ambien- tal, como a operação de irradiadores não gera efluentes radioativos, não há impacto ambiental. Também não gera rejeitos radioativos, pois as fon- tes de Co-60 exauridas devem ser devolvidas ao FONTE:CAC (1991) fabricante. O benefício ambiental está na redução do uso de fumegantes nocivos. Mantendo-se os O licenciamento para garantir a proteção controles exigidos, a etapa de maior risco radioló- radiológica de trabalhadores e do público e a gico durante a vida do irradiador é o carregamento segurança das fontes de radiação é conduzido das fontes de Co-60. pela Comissão Nacional de Energia Nuclear Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |7
  • 12. (CNEN). O licenciamento de instalações radiativas A Organização Mundial de Comércio aponta segue um conjunto de etapas consecutivas que o Brasil como o quarto país em volume de inicia com a aprovação do local da instalação exportação de produtos agrícolas (WTO, 2008). e segue até a retirada de operação, ao fim da O Brasil é o terceiro país produtor de frutas, atrás vida útil da instalação. O Ibama é o órgão que da China e da Índia. Segundo o Instituto Brasileiro realiza o licenciamento ambiental das instalações de Frutas (IBRAF, 2009), em 2008 o Brasil exportou que também segue etapas de autorizações 888 mil toneladas de frutas frescas, das 43 milhões desde a aprovação do local. O funcionamento de toneladas produzidas, com um decréscimo de uma instalação para irradiação de alimentos de 3,3% em relação a 2007. Neste período, a depende ainda da obtenção do Alvará Sanitário exportação de mangas aumentou ligeiramente, e o cadastramento nos órgãos competentes do mas a de papaias caiu. Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura. Uma das restrições à exportação é, sem Com todas as exigências dos vários órgãos do dúvida, o custo do frete, que está relacionado ao governo, o licenciamento pode durar pelo menos tempo gasto em transporte. O frete aéreo é mais 2 anos. Durante o período de licenciamento, caro que o marítimo e a tendência é que o custo do várias atividades de desenvolvimento do mercado frete aéreo aumente. A União Européia reconhece poderiam ser realizadas, por exemplo, campanhas que o transporte aéreo é um dos principais de esclarecimento da população e abertura do emissores de gases que causam o aquecimento mercado exterior. global e resolveu impor limitações e controles baseados no princípio de que “o poluidor paga” (EU, 2006). A preservação de manga e papaia com 1.6 Comércio internacional de alimentos radiação triplica o tempo de vida útil da fruta, irradiados chegando a 21 dias (CENA, 2007), o que viabiliza o frete marítimo dessas frutas para alguns mercados A tecnologia de irradiação de alimentos para sua preservação surgiu oportunamente como uma mais distantes. alternativa viável de tratamento para atender aos Apesar do curto prazo para transporte e dis- requisitos do Acordo na Aplicação de Medidas tribuição para os consumidores, a União Européia Sanitárias e Fitosanitárias da Organização Mundial foi responsável por 72% das exportações brasilei- do Comércio (WTO, 1995). Esse acordo considera ras de mangas de janeiro a novembro de 2009, as recomendações de organizações internacionais, segundo dados disponíveis no sistema de análise incluindo a Codex Alimentarius Commission que das informações de comércio exterior via Internet trata de irradiação de alimentos (CAC, 2003). A (ALICEWeb) mantido pela Secretaria de Comércio Convenção Internacional de Proteção a Plantas Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimen- (IPPC), cujo texto está disponível em www.fao.org/ to, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Legal/TREATIES/004s-e.htm, tem como objetivo assegurar a ação efetiva para prevenir a dissemina- Entretanto, quando se considera o trata- ção de pestes e doenças em plantas e produtos e mento fitossanitário com radiação, nem todos promover medidas apropriadas para seu controle. os mercados aceitam os produtos irradiados tão Dentre as recomendações desta Convenção estão bem quanto os quase 50 países que já possuem as diretrizes para o uso de irradiação como medida regulamentação sobre o tema. Por exemplo, no fitossanitária (ISPM, 2003). Parlamento Europeu, prevaleceu nas décadas pas- 8|
  • 13. Revista da FAE sadas uma política de atraso e obstrução no uso de o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares qualquer tecnologia nuclear, o que contrastou com (Ipen) e Centro de Desenvolvimento de Tecnologia o crescente desenvolvimento americano, onde a Nuclear (CDTN), assim como em algumas preocupação com a saúde pública impulsionou universidades. Algumas unidades de esterilização a aceitação de produtos tratados com radiação de artigos médicos por radiação existentes no Brasil (DIEHL, 2002). Os requisitos americanos para im- também irradiam, eventualmente, condimentos, portação de produtos tratados com radiação são atendendo parcialmente a esse mercado. bastante rígidos e o processo de avaliação pode As duas iniciativas recentes para irradiar ali- levar anos. Mudanças estão sendo planejadas pelo mentos em escala industrial no Brasil fracassaram Departamento de Agricultura americano (GREEN, em poucos anos. Na unidade instalada no Rio de 2008), o que irá reduzir o custo de controle sobre a Janeiro, a causa provável foi a falência da empresa irradiação para importação pelos Estados Unidos. matriz americana SureBeam Corp.. Atualmente, Farkas (2006) apresenta um resumo do sta- a unidade é operada por uma empresa nacional, tus da irradiação de alimentos no mundo e prevê Acelétrica Com. e Rep. Ltda.. Na unidade de Ma- avanços na área com a formação de fóruns inter- naus instalada pela TechIon Industrial Brasil Ltda., nacionais para reunir e disseminar informação, uma ação na justiça decorrente de denúncia de com base científica, sobre segurança e benefícios má gestão do financiamento público suspendeu da irradiação de alimentos. De acordo com o a operação do irradiador. Em ambos os casos, a estudo detalhado da situação da irradiação de localização do serviço não é a ideal, por estarem alimentos (KUMEA et al., 2009), a quantidade de distantes dos mercados produtores de alimentos, alimentos irradiados no mundo em 2005 foi de e, portanto, os alimentos podem chegar para irra- 405 mil toneladas, com uma estimativa de cres- diação já em deteriorização avançada. Atualmente, cimento na Ásia. uma empresa americana que controla totalmente Na América Latina, existem unidades indus- uma subsidiária brasileira, Gamma - Serviços de triais de irradiação na Argentina, Brasil, Chile, Irradiação Ltda., está planejando implantar qua- Cuba, México e Peru. A China tem 101 irradiadores tro irradiadores no Nordeste, com possibilidade e está construindo outros dez (WANG; ZHANG; de expansão para oito unidades (SECUREFOODS, PENG, 2008). Dos 25 irradiadores da Índia alguns 2009). Embora o nível de competitividade entre são dedicados à exportação de alimentos. Após empresas que irradiam alimentos ainda não seja o governo dos EUA ter aprovado a importação claro, a empresa americana informa ter obtido de mangas indianas irradiadas, a tendência é de os direitos sobre o uso exclusivo no Brasil de um crescimento nessa área industrial (KOHLI, 2008). tipo de tecnologia particularmente adequada para irradiação de alimentos. 1.7 Irradiação de alimentos no Brasil 2 Resultados e discussão As pesquisas brasileiras na área de preservação de alimentos vêm sendo conduzidas pela Empresa Com base na investigação documental re- Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), alizada e nas entrevistas semi-estruturadas com Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/ especialistas dos vários setores envolvidos, existem USP) e por outros institutos de pesquisa como evidências de que o Brasil possui conhecimento Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |9
  • 14. acumulado sobre o que é necessário para o uso e etiquetagem, além de consultoria em em escala da preservação de alimentos por irra- certificação para exportação. A gestão diação (CENA, 2007). Além disso, possui excelente dos riscos operacionais é fundamental para infraestrutura em equipamentos e competência prevenir contingências e interrupções de técnica para pesquisa e desenvolvimento da fornecimento e para correta definição de técnica. Os empresários interessados podem se preço do serviço (WIELAND; DEL MASTRO, 2008). beneficiar dessa vantagem e focar os esforços na produção, aproveitando ao máximo a capacidade b) Mercado interno – A desmistificação sobre do equipamento e, assim, aumentando o retorno alimentos irradiados deve ser feita em ca- nais de comunicação que atinjam a popula- do investimento. Está prevista a construção de ção consumidora, a cadeia de fornecedores vários irradiadores de alimentos no Nordeste. e de distribuidores. Entretanto, sem uma política de desenvolvimen- c) Exportação – Para a exportação dos pro- to de infraestrutura de transportes, exportação dutos tratados com radiação sugere-se e programa e aceitação de produtos irradiados, divulgar no exterior uma marca que sim- além da simplificação da regulação e do apoio bolize a qualidade dos produtos tratados do Ministério da Agricultura, a produção não irá brasileiros, além de esclarecer os produ- escoar para os mercados consumidores a preços tores agrícolas a respeito das exigências acessíveis. dos diversos mercados. A certificação pelo A investigação das possíveis causas do atraso Instituto Nacional de Metrologia, Normali- no desenvolvimento industrial do tratamento de zação e Qualidade Industrial (Inmetro) da alimentos com radiação no país revela a necessi- conformação com critérios de qualidade e dade de agir de modo integrado especialmente fitossanitários é de suma importância para nas seguintes áreas (quadro 01): a plena aceitação dos produtos. Souza e Amato Neto (2009) analisaram a inserção a) Gestão Industrial - A ação de melhorias de mangas e uvas nos mercados inglês e deve-se dar, preferencialmente, por meio alemão e ressaltam a importância da aná- de alianças estratégicas entre os diversos lise e distinção da estrutura da cadeia de atores envolvidos, incluindo associação de valor para cada mercado alvo para garantir produtores e cooperativas, processadores, maior vantagem competitiva. exportadores, distribuidores, bancos fi- nanciadores, Instituto Brasileiro de Frutas d) Educação agrícola – As informações sobre (Ibraf), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro a irradiação de alimentos são publicadas e Pequenas Empresas (Sebrae), empresas em revistas científicas ou limitadas aos de logística e institutos de pesquisa. Em centros de pesquisa. Sugere-se que o tema se tratando de uma indústria em fase de seja divulgado adequadamente nos meios crescimento no Brasil, é desejável que esta educacionais de nível médio e superior e forneça assistência aos clientes, a exemplo tratado como uma realidade economica- do que faz a empresa mexicana Benebión mente competitiva. (www.phytosan.com). Esse apoio poderia e) Financiamento – o empreendimento é ca- ser em controle de qualidade da produção pital intensivo e já houve casos de fracasso do alimento, preenchimento dos requisi- para implantação desta indústria no país, tos regulatórios, serviços de transporte, mesmo com a disponibilidade de financia- embalagem, armazenagem intermediária mento público. A sustentabilidade do ne- 10 |
  • 15. Revista da FAE gócio não deveria ser comprometida pela realizar mais rapidamente as avaliações de má gestão deste tipo de empreendimento, risco necessárias ao processo de tomada o que pode impactar negativamente na de decisão em regulação na área de agri- reputação do setor nuclear como um todo. cultura, as instituições especializadas, por f) Licenciamento - os órgãos governamentais exemplo, a Embrapa ou o Cena, poderiam envolvidos, Ministério da Agricultura, se- ser contatadas. cretaria estadual e municipal relacionados g) Apoio governamental – vários órgãos do ao agronegócio, Ibama e órgãos seccionais, governo estão envolvidos no agronegócio. Anvisa e VISAs e CNEN, deveriam tentar O sucesso do empreendimento depende simplificar a regulação através de acordo de essencialmente da política governamental mútua cooperação, evitando duplicidade favorável à exportação de alimentos. de esforços, atrasos e a criação de monopó- lios, por dificultar a livre competição. Para QUADRO 02 - OPORTUNIDADES DE MELHORIAS EM IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS, VISANDO A EXPORTAÇÃO Área Oportunidades de melhorias - Análise e integração dos vários aspectos de gestão industrial para tomada de decisão sobre o investimento. - Definição da localização e dimensionamento da capacidade de produção. - Padronização de parâmetros de irradiação com a elaboração de um manual com as faixas de dose e condições de irradiação para os diversos alimentos e flexibilidade para a) Gestão industrial do serviço de aprimoramentos. tratamento com radiação - Otimização do tempo de preparação para irradiar diferentes alimentos e programação sazonal. - Avaliação de riscos. - Gestão de alianças estratégicas. - Assistência a clientes. - Programa de esclarecimento sobre as vantagens dos alimentos tratados com radiação nos b) Mercado interno grandes canais de comunicação. - Atendimentos aos requisitos técnicos, comerciais e da vigilância sanitária dos mercados recebedores. - Obtenção da certificação da qualidade para a aceitação dos produtos no mercado c) Exportação de produtos irradiados internacional. - Marketing internacional. - Divulgação dos benefícios da técnica entre os empresários do agronegócio e exportadores. - Maior ênfase do tema nos currículos educacionais de nível médio e superior das escolas de tecnologia agrícola e de alimentos, não como uma tecnologia nova, mas como um d) Educação agrícola procedimento viável. - Divulgação das vantagens do tratamento de produtos com radiação pela imprensa especializada no agronegócio e demonstrada em feiras e exposições da agroindústria. Abertura de crédito para financiamento do empreendimento a cooperativas com dispositivos e) Financiamento que garantam a longevidade e segurança da instalação. - Acordo entre os vários órgãos do governo para agilizar e evitar a duplicação de esforços f) Licenciamento e exigências desnecessárias uma vez atendidas as condições de segurança radiológica, ambiental e alimentar. - Concentração dos esforços das áreas de indústria e comércio e de relações exteriores para divulgar e facilitar as exportações. g) Apoio governamental - Apoio às iniciativas dos estados e municípios para melhoria das vias vicinais de escoamento da produção. FONTE: Os autores (2010) Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |11
  • 16. Conclusões Destaca-se a importância do apoio gover- namental para divulgar as vantagens da técnica, Este trabalho contribui para o desenvolvimen- facilitar o comércio de alimentos tratados com radiação e atualizar os currículos educacionais de to da indústria de preservação de alimentos com escolas agrícolas. radiação ionizante, fornecendo uma visão abran- gente e multidisciplinar da questão, e indicando A preservação de alimentos com radiação é linhas de ação, calcadas na proposta de alianças uma técnica bem conhecida pelos pesquisadores estratégicas e acordos de cooperação, tanto para da área nuclear, entretanto, não tão divulgada no acessar e conquistar o mercado interno quanto agro-negócio. Sugere-se como futuro desenvol- para o desenvolvimento do comércio exterior. vimento da área que as atividades de irradiação de alimentos seja levada intensivamente a feiras Para uma efetiva promoção da conservação de e exposições agroindustriais. Futuras pesquisas alimentos por radiação, a análise das informações poderiam ser realizadas para a redução de custo levantadas sugere que a indústria deve tratar os de produção, relacionadas ao desenvolvimento de vários aspectos técnicos, empresariais, econômicos irradiadores e aceleradores nacionais e a simplifi- e ambientais de forma integrada e coordenada, cação de critérios regulatórios, visando à redução considerando estrategicamente a formação de do tempo de obtenção de licenças. O mercado alianças tanto com entidades relacionadas à sua alvo para a exportação de alimentos tratados com cadeia de suprimentos, quanto com instituições de radiação deve ser avaliado em termos de gover- ensino e pesquisa. As associações de produtores e nança do comércio, beneficiando-se da comple- distribuidores, cooperativas agrícolas e industriais mentariedade sazonal da produção agroindustrial interessados devem focar os esforços na gestão de frutas tropicais com outros exportadores, tais industrial e otimizar a utilização das instalações como Índia e México. e a logística de suprimentos, escoamento e distribuição da produção. O quadro 02 sintetiza as principais ações propostas em gestão industrial do serviço de tra- tamento com radiação, desenvolvimento do mer- cado interno, exportação de produtos irradiados, • Recebido em: 23/07/2010 • Aprovado em: 13/10/2010 educação agrícola, financiamento, licenciamento e apoio governamental. 12 |
  • 17. Revista da FAE Referências CAC. Codex General Standard for Irradiated Foods. Codex Alimentarius Commission. CODEX STAN 106-1983. rev.1, 2003. _____ Codex General Standard For The Labelling Of Prepackaged Foods. CODEX ALIMENTARIUS COMMISSION. CODEX STAN 1-1985. rev. 1, 1991. CDC. FoodNet Surveillance Report 2005. EUA: Center for Disease Control and Prevention. 2005. Disponível em: <http://www.cdc.gov/foodnet/annual/2005/2005_AR_Report.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2009. CENA. Divulgação da tecnologia de irradiação de alimentos e outros materiais. Piracicaba: Centro de Energia Nuclear na Agricultura, 2007. Disponível em: <http://www.cena.usp.br/irradiacao/index. asp>. Acesso em: 30 dez. 2009. DEL MASTRO, N. Development of food irradiation in Brazil. Progress in Nuclear Energy, New York, v.35, n.3-4, p.229-248, 1999. DIEHL, J. F. Food irradiation: past, present and future. Radiation Physics and Chemistry, Oxford NY, v. 63, p.211-215, 2002. EU. European Parliament Resolution on Reducing the Climate Change Impact of Aviation. P6_TA(2006)0290. 4 jul. 2006. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?ur i=OJ:C:2006:303E:0119:0123:EN:PD. Acesso em: 03 jan. 2010. FAO. Post-harvest losses aggravate hunger: Improved technology and training show success in reducing losses. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Disponível em: <http:// www.fao.org/news/story/en/item/36844/icode/>. Acesso em: 30 dez. 2009. FARIA, E. F. et al. Viabilidade técnica, econômica e ambiental da implantação de um irradiador de materiais. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 19., 1999, Rio de Janeiro. Anais...Rio de Janeiro, 1999. FARKAS, J. Irradiation for better foods. Trends in Food Science and Technology, Guildford, GB, v.17. p.148-152, Apr. 2006. FOOD IRRADIATION PROCESSING ALLIANCE – FIPA. Disponível em: <http://www.fipa.us/>. Acesso em: 15 set. 2009. GARCIA-CANAL, E. et al. Accelerating international expansion through global alliances: A typology of cooperative strategies. Journal of World Business, Greenwich, Conn., v.37, n.2, p. 91-107, Summer 2002. GLORIA, M. B. Estudo de viabilidade técnico-econômica para implantação de uma instalação industrial de grande porte na Amazônia Legal. Rio de Janeiro: IRD, 1987a (Separata, n.152). _____. Estudo de viabilidade técnico-econômica para implantação de uma instalação industrial de irradiação de grade porte no Vale do São Francisco. Rio de Janeiro: IRD, 1987b (Separata, n.153). Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 1-16, jul./dez. 2010 |13
  • 18. GREEN, A. USDA’s operational experience in the growing use of irradiation as a plant quarentine treatment for safe trade. In: International Meeting on Radiation Processing (IMRP2008). London, 2008. Disponível em: <http//:www.iiaglobal.org/uploads/documents/imrp2008/Alan%20 Green.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2009. GHOBRIL, C.; DEL MASTRO, N. The socioeconomic aspects of the construction of an industrial gamma irradiator in the Ribeira Valley, Sao Paulo, Brazil. International Journal of Nuclear Governance, Economy and Ecology, Olney, GB, v.2, n.3, p.250-261, June 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS - IBRAF. Comparativo de exportações brasileiras de frutas frescas 2008-2007. Disponível em: <htt://www.ibraf.org.br/estatisticas/exportação/ ComparativoExportacoesBrasileiras2008-2007.pdf>. Acesso em: 04 out. 2009. IAEA. Categorization of radiation sources. Viena: International Atomic Energy Agency, 2005. ______. Irradiation to ensure the safety and quality of prepared meals. Viena: International Atomic Energy Agency, 2009. ______.The Radiological accident at the irradiation facility in Nesvizh. Viena: International Atomic Energy Agency, 1996. ______.Radiation safety of gamma and electron irradiation facilities. Viena: International Atomic Energy Agency, 1992 (IAEA Safety Series n.107). ICGFI. Facts about food irradiation. International Consultative Group on Food Irradiation, 1999. Disponível em: <http://www.iaea.org/nafa/d5/public/foodirradiation.pdf>. Acesso em: 08 fev. 2009. ISPM. Guidelines for the use of irradiation as a phytosanitary measure. International Standards for Phytosanitary Measures. ISPM No. 18: Secretariat of the International Plant Protection Convention, 2003. KOHLI, A. K. New opportunities of radiation rrocessing in India. In: International Meeting on Radiation Processing (IMRP2008). London, 2008. Disponível em: <http://www.iiaglobal.org/ uploads/IMRP2008/186%20Kohli.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2009. KUMEA, T. et al. Status of food irradiation in the world. Radiation Physics and Chemistry, Oxford, NY, v.78, n.3, p.222–226, Mar. 2009. MARECHAL, M. H. H. Licenciamento de instalações médicas e industriais. In: ENCONTRO NACIONAL DE INFORMAÇÃO REGULATÓRIA, 2., 2009, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <www.cnen.gov.br/hs_enir2009/palestras/02_CGMI.pps>. Acesso em: 30 dez. 2009. MARTIN NETO, L.; RODRIGUES, H. R.; TRAGHETTA, D. G. Uso de radiação ionizante para esterilizar alimentos e detecção de radicais livres por EPR. São Carlos, 1996. Disponível em: <http.://www. infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/CNPDIA/9815>. Acesso em: 30 dez. 2009. OLIVEIRA, L. C. Present situation on food irradiation in South America and the regulatory perspectives for Brasil. Radiation Physics and Chemistry, Oxford, NY, v.57, p.249-252, 2000. 14 |
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  • 21. Revista da FAE O treinamento experiencial e sua aplicação no contexto corporativo: estudo comparativo entre programas de treinamento realizados nos Estados Unidos e no Brasil The experiential training and its corporate context application: comparative study between training programs in the United States and Brazil Resumo Zélia Miranda Kilimnik* Eder Menezes Reis** As corporações têm passado por períodos contemporâneos de mudanças e desafios que as têm levado a adotar ações gerenciais diversas para incremento no resultado financeiro, na manutenção do resultado financeiro alcançado ou à sua sobrevivência no mercado. Em escalas diferenciadas e de acordo com o porte e a cultura, as empresas têm se preocupado com o capital intelectual dos empregados, apostando no valor intangível das suas organizações. Este artigo investiga uma opção ao treinamento comportamental tradicional, avaliando a eficácia, de forma comparativa, da utilização do treinamento experiencial no contexto corporativo. Foi realizada uma pesquisa qualitativa e quantitativa, envolvendo diversas técnicas, tais como observação, entrevistas e questionário de avaliação de efetividade do treinamento (Ropeloc), que foi aplicado aos funcionários de uma empresa contratante do treinamento experiencial situada em Huston, Estados Unidos, e em outra situada em Belo Horizonte, Brasil. Os resultados indicam melhor aproveitamento do treinamento aplicado no Brasil, sendo que os itens que apresentam melhor desempenho com a aplicação da metodologia de treinamento experiencial são busca pela qualidade, pensamento aberto, liderança e lidar com mudanças. Esses resultados surpreendem, dada a melhor infraestrutura da organização estudada nos Estados Unidos e seus maiores cuidados com a segurança no que se refere aos equipamentos utilizados. Palavras-chave: treinamento comportamental; treinamento experiencial; metodologia de treinamento experiencial. Abstract Corporations have gone through periods of contemporary changes and challenges that have led then to adopt management actions to increase in financial results, maintenance of the achieved financial results and their own survival in the market. In different scales and according to their size and culture, business has been concerned with the intellectual capital of its employees by focusing on intangible value of their organizations. This study investigates an option to traditional behavioral training, evaluating the effectiveness of a comparative analysis of the use of experiential training in the corporate context. We performed a qualitative and quantitative research, involving several techniques such as observation, interviews and a questionnaire on the * Doutora em Administração pela effectiveness of training (ROPELOC), which was applied on the employees of a Universidade Federal de Minas contractor of experiential training based in Huston, United States of America Gerais. Professora na Fundação and another, located in Belo Horizonte, Brazil. The results show a better use of Mineira de Educação e Cultura. applied training in Brazil, and the items that perform better in the application ** Mestre em Administração pela of experiential training methodology is the search for quality, open thinking, Fundação Mineira de Educação e leadership and dealing with the changes. These results are surprising, given cultura. Gerente de Fábrica da DSI the best infrastructure of the organization studied in the United States and Fosminas (Multinacional ligada a its better care of safety concerning to equipments used. mineração). E-mail: ederynca@ Keywords: behavioral training; experiential training; experiential training yahoo.com.br methodology. Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 17-30, jul./dez. 2010 |17
  • 22. Introdução nas modalidades low ropes (cordas baixas) e high ropes (cordas altas). Esses termos são utilizados Em 1920, a primeira escola que enfocou nos Estados Unidos para definir os níveis de difi- responsabilidade, igualdade, justiça social, res- culdade aos quais as pessoas são expostas. peito e serviço comunitário surgiu na Alemanha, Low ropes são atividades aplicadas no solo ou com o primeiro trabalho realizado por Kurt Hahn bem próximas a ele, com a função de integração (educador e filósofo alemão) atuando com edu- das pessoas que estão em treinamento e também cação inovativa praticada ao ar livre. Na época, para que o facilitador avalie o nível de coesão, as atividades físicas ao ar livre já tinham caráter comprometimento, envolvimento e auto-suporte colaborativo. entre os participantes, visando à proposição de De acordo com Hammerman (1980), os pri- forma progressiva de atividades mais desafiadoras meiros programas de treinamento experiencial ao para os grupos, nos equipamentos de high ropes, ar livre em áreas de camping nos Estados Unidos que geralmente são acessíveis por paredões de es- começam em 1930. Em 1976, surge a Associa- calada, escadas e postes inclinados. As atividades ção para a Educação Experiencial, referindo-se chamadas high ropes elevam o nível de estresse ao aprendizado ao ar livre como uma forma de por estarem posicionadas geralmente a oito, nove educação experiencial. A indústria de construção ou mais metros do solo, tornando a percepção de challenge courses (percursos de desafio), que de risco maior. São utilizados equipamentos de são áreas de treinamento ao ar livre compostas segurança, cordas, cabos de aço, cinturões etc. de diversos equipamentos, onde acontecem ativi- As atividades fora do solo podem ser pratica- dades relacionadas à educação experiencial, teve das por uma, duas ou mais pessoas, dependendo crescimento acentuado na década de 1990 e o do equipamento e de sua configuração. Quando número de consultores que proviam essa moda- os equipamentos estão isolados, são chamados lidade de treinamento também acompanhou esse por nomes próprios, mas se são utilizados em área crescimento. próxima ou estão em configuração sequenciada, Attarian (2001) afirma que se, em 1992, são chamados de challenge courses (percursos havia 300 áreas de treinamento ao ar livre nos de desafio). Estados Unidos, em 2001, eram mais de 15 000 A partir do início dos anos 1990, técnicas e em operação. O governo norte-americano, até os equipamentos de esportes e atividades não-con- dias atuais, não regulamentou essas atividades, vencionais praticados ao ar livre, como escalada propiciando que a iniciativa privada crie padrões em rocha, rapel, arvorismo e atividades no solo, para construção, operação, manutenção e geren- têm sido utilizados em treinamentos comporta- ciamento relacionados a essas atividades. mentais corporativos experienciais, com a fina- No Brasil, o Treinamento Experiencial ao Ar lidade de desenvolver determinadas habilidades Livre – TEAL – ocorreu pela primeira vez em maio (liderança, superação de obstáculos, trabalho em de 1992, em uma área em Teresópolis, Rio de Ja- time, entre outros), em grupos de trabalho, visan- neiro, sendo organizado pela Dinsmore Associats do ao melhor desempenho nas atividades corpo- e pela empresa americana Pro Action, usando rativas. Unir as pessoas em torno de uma tarefa, técnicas desenvolvidas por eles, de acordo com na qual é esperado que elas atinjam um objetivo o modelo americano de treinamento ao ar livre com esforço mútuo, ou expor cada indivíduo a 18 |
  • 23. Revista da FAE situações nas quais a superação de obstáculos própria. Já outras optam por alugar esse espaço será incentivada pelo grupo são exemplos de ob- e utilizar equipamentos próprios. Foi também jetivos de uma gama de propostas de treinamento percebido que empresas menores e consultores que buscam conciliar objetivos e atividades para adquiriram o hábito de alugar áreas naturais para gerar um ciclo de aprendizado vivencial dirigido treinamentos e contratar serviços, tais como o à proposta do treinamento. equipamento de empresa terceira. No contexto norte-americano, a padroniza- Também foi verificado que é comum que ção foi fruto da possibilidade de embargo gover- empresas de ecoturismo expandam suas ativida- namental às atividades, caso a falta do padrão des, oferecendo treinamentos experienciais por já causasse acidentes aos praticantes. Dessa padro- possuírem área natural e equipamento, mesmo nização surgiu a Association of chalenge courses que não possuam capacidade técnica tanto de tecnology – (ACCT) – Associação para tecnologia aplicação do treinamento quanto de manuten- dos percursos de desafio. Atualmente, essa enti- ção e lida com os treinandos. Essas empresas de dade é responsável pela criação, pela divulgação ecoturismo abordam o foco mais recreativo, seu e pela revisão dos padrões que são utilizados negócio original, na utilização da vivência obtida pelas empresas que operam, constroem e que nas atividades ao ar livre refletidas no treinamento dão manutenção e suporte. A associação, por sua organizacional, ao contrário do que ocorre nos Es- vez, é ligada ao Instituto Nacional Americano de tados Unidos, de acordo a percepção deste autor, Padrões – ANSI –, que é responsável por atualizar e que teve a oportunidade de fazer treinamentos e divulgar as normas referentes às atividades de pa- estágios naquele país. dronização em diversos segmentos das atividades As maiores empresas mineiras não são muito industriais, comerciais e de engenharia, visando à receptivas quando são abordadas sobre a possibili- segurança para os produtos e para os usuários. O dade de abertura para um trabalho acadêmico, te- ANSI desenvolve trabalhos similares aos realizados mendo o plágio de suas atividades. Seus dirigentes pelo Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO não são claros quando são inquiridos sobre seus –, que é o órgão brasileiro responsável pela pa- métodos e suas principais atividades específicas de dronização e pela normalização. treinamento, descartando a possibilidade de um Com o intuito de obter informações relevan- estudo, sob a alegação de que pessoas externas tes sobre o treinamento experiencial, obtivemos, à organização podem criar uma empresa similar, por meio de entrevista com empresas e com con- tornando-se concorrentes. sultores que realizam treinamentos experienciais, Justifica-se, assim, um estudo exploratório no período de abril a junho de 2009, informações em outro país, mais especificamente nos Estados relevantes de como é esse mercado na realidade Unidos, visando a obter conhecimento teórico e local. Observa-se, assim, que, na grande Belo Hori- prático sobre o tema, e trazê-lo para a realidade zonte e regiões próximas, existem várias empresas local, colaborando para a melhoria do conteúdo que oferecem essa modalidade de treinamento, dessas atividades com foco corporativo. Os pro- com grande diversidade de propostas, em ter- cedimentos de segurança e de organização deve- mos de duração e de custos. Algumas empresas rão somar valor para as prestadoras de serviço, dispõem de toda a estrutura necessária, como: gerando boas práticas no manuseio e na estoca- recursos humanos, equipamentos e área natural gem dos seus equipamentos. Adicionalmente, as Rev. FAE, Curitiba, v.13, n.2, p. 17-30, jul./dez. 2010 |19
  • 24. atividades de ecoturismo poderão potencializar do por obstáculos naturais. De fato, o ambiente suas atividades por meio da melhoria qualitativa ao ar livre tem longa história por prover espaços dos processos internos. especiais para que o indivíduo aprenda, de modo As corporações contratantes do treinamento profundo, sobre si mesmo e sobre sua interação experiencial ao ar livre poderão também avaliar as social com os outros. etapas das atividades, baseando-se nas teorias e FIGURA 01 - A ÁRVORE DA EDUCAÇÃO AO AR LIVRE conhecendo a fundamentação dos processos do treinamento. Devido ao fato de o treinamento experiencial ser utilizado geralmente para reforçar a missão da empresa ou para modificar compor- tamentos inadequados à realidade corporativa, este estudo dará subsídios para que a corporação obtenha o resultado esperado nessa modalidade de treinamento. Ou seja, para que o treinamento torne-se efetivo e não resulte apenas em horas de lazer. Este trabalho teve como objetivo gerar conhecimentos, colaborando com empresas, consultores, prestadores de serviço e corporação contratante, disponibilizando, de forma mais aprofundada, os fundamentos da atividade de treinamento ao ar livre e da educação experiencial. FONTE: Adaptado de Priest e Gass (1983) De acordo com Priest e Gass (1983), ilustrado Teoria da educação ao ar livre em seu modelo chamado “árvore da educação ao ar livre”, na qual, em sua base (as raízes), estão Segundo Barros (2000), Outdoor Education cognição, afetividade e movimentos como gran- ou Educação ao Ar Livre é uma vivência edu- des grupos, e sons, intuição, tato, gosto, visão cacional que faz uso de desafios presentes em e olfato são alusivamente relacionados com a áreas naturais como metodologia educativa. A essência humana, que deve ser aprimorada pelo Educação ao Ar Livre é um método de aprendi- treinamento ao ar livre. Logo acima das raízes, zagem experiencial que utiliza todos os sentidos o tronco simboliza a educação ao ar livre como de uma pessoa, ocorrendo principalmente pela grande suporte ao ser humano em seu processo exposição do aluno ou do visitante a ambientes de treinamento. Mais acima, o frondoso tronco se naturais. De acordo com Neill (2003), a utilização desdobra em duas partes, duas vertentes: uma é a educação por meio da aventura em áreas abertas das atividades ao ar livre para fins educativos e a outra é a vertente para a educação ambiental. envolve aventura para propiciar crescimento pes- Já os galhos simbolizam as relações intrapessoais soal, sob a orientação de um instrutor ou líder. Os e interpessoais, as relações com os ecossistemas ambientes de aprendizagem ao ar livre são mais e as relações do homem com as ciências da terra. que uma “sala de aula ao ar livre”, uma vasta área Nos galhos, também está o processo de aprendi- de diversão ou um campo de batalha entremea- zado experiencial. 20 |