O documento discute os riscos de inundações e deslizamentos de terra na Ilha da Madeira devido ao desenvolvimento desordenado e à destruição dos ecossistemas naturais. Aponta três exemplos de projetos de construção financiados pelo governo regional que aumentam esses riscos ao entubar ribeiros, expandir aterros em vales e destruir o vale da Ribeira de Santa Luzia. O autor pede aos cidadãos que não permitam mais a destruição da ilha.
1. NÃO DEIXEM ESTRAGAR MAIS A MADEIRA!
Dois anos depois das cheias catastróficas de 20 de
Fevereiro e 18 meses após os incêndios florestais de
Agosto de 2010, a Ilha da Madeira está mais
exposta aos humores da Natureza.
Foi exactamente isto que afirmei numa entrevista
que concedi à LUSA, tendo apontado, como
exemplos, as ribeiras da Madalena, da Ponta do Sol,
da Ribeira Brava, dos Socorridos e as três que
desaguam na baía do Funchal.
Como seria de esperar numa Região alérgica ao
debate de ideias, o Director Regional do Ambiente e
do Ordenamento do Território, manifestou-se
diametralmente contra a minha opinião e na falta
de argumentação cientificamente sustentável,
deitou mão ao breviário da sabedoria laranja e
debitou esta preciosidade:
"Estamos muito perto do mar, o que é um risco, ou
estamos muito perto de uma linha de água, o que é
um risco, ou estamos muito perto de uma encosta,
que é um risco, ou de uma escarpa, que é um risco.
Se fosse para eliminar todo o risco de uma situação
de ocupação do solo, não restava à população outra
alternativa que a emigração. Fechávamos a
Madeira"!
Aqui e agora, apenas vou mostrar 3 exemplos, que
comprovam o que afirmei na referida entrevista. Se
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2. necessário for, nos próximos dias poderei
apresentar muitos outras imagens duma Ilha
financeiramente falida e ecologicamente muito
debilitada.
ATERRO DAS CARREIRAS
Junto à estrada das Carreiras, um aterro tem vindo
a crescer, com certeza com a aprovação do Director
Regional do Ambiente.
Acontece que o referido aterro não só subiu muito
para além da cota da estrada, que corre o risco de
transformar-se num caminho de lama, como já
fechou um vale que pertence à bacia hidrográfica
da Ribeira de João Gomes. Quando chover
intensamente o senhor director, o senhor secretário
e o senhor presidente, em uníssono culparão a
Natureza, porque nesta ilha, do mar à serra em
todo o lado estamos expostos ao risco.
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4. CORUJEIRA – FREGUESIA DO MONTE
O sítio da Corujeira, na freguesia do Monte, ficou
muito maltratado a 20 de Fevereiro. Construção
desordenada e um ribeiro estrangulado por aterros
e estaleiros localizados a montante, formaram uma
associação de elevada capacidade destrutiva.
O dinheiro da Lei de Meios, fruto da solidariedade
nacional, deveria ter sido usado para destruir as
casas localizadas em locais de elevado risco de
cheia e / ou desmoronamentos, deslocando as
pessoas para zonas da cidade muito mais seguras e
a necessitar duma intervenção regenerativa.
Porque o governo regional gosta muito de entubar
ribeiros e tem horror ao ordenamento do território,
o resultado está à vista.
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6. RIBEIRA DE SANTA LUZIA
O Governo Regional já adjudicou a obra de junção
das fozes das ribeiras de Santa Luzia e João Gomes
pela módica quantia de 37 milhões de euros e
prepara-se para repetir o concurso para a
construção dum cais e duma marina à frente da
Avenida do Mar, onde foram depositados os
materiais da cheia de 20 de Fevereiro e de outras
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7. de menor impacto ocorridas em Outubro,
Novembro e Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011.
Para satisfazer este capricho do senhor que faliu a
Madeira, lá irão mais uns 20 milhões de euros.
O dinheiro para desfigurar a baía do Funchal virá da
Lei de Meios!
Da Lei de Meios virão também 4,4 milhões de euros
para a construção de açudes ao longo do canal de
escoamento da Ribeira de Santa Luzia.
Mas, enquanto a poderosa máquina publicitária do
governo emite doses elevadas informação
anestesiante, com o objectivo de manter apática a
sociedade madeirense, uma empresa, participada
pelo mesmo governo, continua a destruir o
belíssimo vale da Ribeira de Santa Luzia e
incrementar o risco de catástrofe, como é possível
constatar pelas fotografias seguintes:
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10. Aos Madeirenses indignados, aos Portugueses que
foram solidários no 20 de Fevereiro e aos Europeus
que financiaram a “Madeira Nova”, lanço um apelo
quase desesperado:
NÃO DEIXEM DESTRUIR MAIS A ILHA DA MADEIRA!
Funchal, 18 de Fevereiro de 2012
Raimundo Quintal
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