O documento discute as diferentes abordagens da psicologia ao longo do tempo, desde o behaviorismo até as perspectivas cognitivista e sociocultural. Defende que Jerome Bruner considerava que a mente humana constrói significados através de narrativas que refletem tanto fatores individuais como socioculturais, e que as identidades se formam através de uma negociação contínua desses significados.
3. Watson e os
seus investigadores
consideram os estados
de consciência como
realidades individuais,
privadas, subjectivas,
interessando, por isso,
apenas o sujeito. Cabe à
psicologia estudar o
comportamento, isto é, o
conjunto de respostas
que um corpo, um
organismo dá a um
conjunto de estímulos.
Só o
comportamento e a
situação que lhe deu
origem são
objectivamente
observáveis, logo,
passíveis de serem
quantificados e medidos.
4. O domínio do
behaviorismo não impede o
aparecimento de uma concepção
alternativa – a psicanálise.
Freud procede a uma ruptura
com o que se considerava dever
ser a psicologia: coloca os
conflitos internos da mente no
centro das suas reflexões. Na
busca da fonte dos conflitos,
Freud afirma a existência do
inconsciente. E é em termos de
conflitos intrapsíquicos que a
psicanálise reequaciona o
estudo dos seres humanos.
Para a psicanálise, a
abordagem do psiquismo em
termos de mente, de
consciência, é superficial. Os
aspectos decisivos da vida
psíquica humana acontecem no
inconsciente.
5. O desenvolvimento da cibernética e da informática não
tiveram só efeito na organização social e na vida das pessoas:
afectam o modo como a psicologia organizou as suas reflexões e
investigações.
Começa, então, a vigorar a ideia de que o que fazemos e o
modo como reagimos envolve um conjunto de processos complexos
que não são observáveis.
O modo de recolher, processar e transformar a
informação, é próximo de funcionamento dos computadores: o
cérebro corresponderia ao hardware e os processos mentais ao
software.
6. A comparação entre a
maneira de funcionar da mente e a
forma de funcionamento dos
computadores conduziu ao modelo
de mente computacional, modelo
que marcou as investigações e
estudos em várias áreas da
psicologia. Algumas dessas áreas são
a percepção, a cognição, a memória,
aprendizagem, inteligência. A
revolução cognitivista tem como
objecto de estudo os processos
cognitivos que orientam o
comportamento.
Foi-se tornando evidente
que a representação da mente
humana como uma máquina de
processamento de informação não é
uma modelo adequado. No entanto, é
inegável que esta perspectiva abriu
possibilidades interessantes que
foram sendo articuladas em
compreensões alternativas.
7. Jerome Bruner foi um dos impulsionadores da corrente
cognitivista. Contudo, considerou que o modelo computacional era
limitativo e redutor, não reflectindo a complexidade e plasticidade da
mente humana. O pensamento não segue os caminhos do computador: o
desenvolvimento da mente está ligado à construção de significados
pelos seres humanos na sua relação com o meio. Estes significados
nada têm a ver com o modo informático de processamento da
informação: neste processo a mente é criativa, produz sentido, é
pessoal e subjectiva. Mas ao mesmo tempo é partilhada com os outros
que fazem parte do seu contexto social.
8. A pertença a um dado grupo social marca a forma de uma pessoa
pensar e de se comportar e por isso não podemos compreender os processos
cognitivos sem termos em conta o factor cultural. Por exemplo, o
comportamento “baixar os olhos” tem significados diferentes em diferentes
contextos culturais.
Os significados são construções produzidas para explicar como é
que os seres humanos funcionam e como se relacionam uns com os outros, por
que razão se comportam de determinada maneira, como encaram os
problemas, etc. O privilegiar a questão do significado e da sua construção
enriqueceu a mente, a visão da mente permitindo uma valorização cada vez
maior do lado activo do sujeito e do seu funcionamento mental.
9. Estes conteúdos, estas
explicações, são adquiridos no
processo de socialização numa dada
sociedade, numa determinada
cultura. Variam de sociedade para
sociedade pois dependem das
práticas sociais e das instituições.
Para compreender a mente
não basta compreender o
funcionamento cerebral. O estudo da
mente implica um conjunto de
factores que se influenciam
mutuamente. Bruner considera que a
psicologia deve ter sempre em conta
as dimensões biológica e cultural e o
modo como interagem numa
determinada situação, daí afirmar
que, em psicologia, os métodos devam
ser biossociossituacionais.
10. 1- A corrente cognitivista apresenta como objecto de estudo:
A- o inocente e as pulsões.
B- a mente e os processos cognitivos.
C- a consciência e os estudos mentais.
D- o comportamento objectivamente observável.
2- O modelo computacional da mente encara-a como:
A- uma máquina que processa a informação.
B- uma máquina que explora o inconsciente.
C- um complexo sistema de comportamentos.
D- um reflexo do sistema social e cultural.
3- Bruner rompe com o cognitivismo porque defende que a
mente:
A- processa a informação como um computador.
B- é criativa pessoal e subjectiva.
C- se organiza a partir do inconsciente.
D- só pode ser estudada a partir do comportamento.
11. 4- Para Bruner a pertença a um grupo social influencia a
forma de o sujeito pensar e de se comportar. Esta
afirmação é:
A- falsa, porque a mente é autónoma relativamente
aos constrangimentos sociais.
B- verdadeira, porque no processo de socialização o
sujeito integra modos de ser e pensar de uma cultura.
C- falsa, porque é o património genético que define o
modo como reflectir e agir.
D- verdadeira, porque os grupos sociais definem o
pensamento do sujeito de forma compulsiva.
Soluções:
1. B 2. A
3. B 4. B
12. As diferentes narrativas têm origem
nas dinâmicas sociais de uma determinada
população, e manifestam-se de várias formas:
relatos do quotidiano, romances, notícias, filmes,
mitos, histórias, familiares, contos populares,
acontecimentos históricos, etc.
Bruner considera a narrativa como o
elemento de ligação entre o nosso “eu” e o mundo
social, como a “moeda comum”, o que sugere que
têm a mesma origem.
13. Quando procuramos definir-nos enquanto
pessoas únicas, reportamo-nos ao nosso património
genético, à cultura onde estamos inseridos, aos
diferentes contextos a que pertencemos ou a que
estamos ligados. Esta história pessoal constitui uma
narrativa na qual somos a personagem principal.
Reconhecemo-nos e somos reconhecidos na
unidade do que designamos por “eu” constituído pela
síntese das componentes orgânica, intelectual,
afectiva, ética, e muitas outras.
14. As nossas experiências de vida, as nossas acções
transformam-se em narrativas onde nos vamos posicionando.
Nas nossas narrativas entrelaçam-se significados pessoais
(reflectindo o sujeito que as narra) e significados socioculturais
(reflectindo o que o grupo social partilha). Bruner considera que os
psicólogos devem ouvir as narrativas das pessoas: o que contam
acerca do que fazem, do que os outros fazem, das razões que os
levam a actuar de determinada maneira, dos interesses e desejos que
têm… Esta é a forma de conhecer a mente.
A dimensão da história pessoal é o lugar onde construímos
sequências com sentido para as experiências que temos. As narrativas
ajudam-nos a captar as suas personagens e respectivas identidades,
as suas acções.
15. Estas identidades não são
fixadas pelas mesmas narrativas. As
narrativas possuem sempre um certo
espaço para a negociação e criação
de alternativas, para a
transformação das histórias, assim
como das identidades, das suas
personagens. Uma outra
contribuição da consideração das
narrativas para a compreensão dos
processos de construção das
identidades é que as coloca numa
permanente negociação entre as
pessoas, liga as identidades ao mundo
e permite compreender a forma como
são sempre mudança e coerência. As
narrativas ganham coerência e
continuidade ao tornarem-se parte
de uma forma de ser pessoal, da
identidade com que nos vemos a nós,
aos outros e ao mundo, como
conhecemos e agimos, o que sentimos,
etc.
16. Chamam a nossa atenção,
finalmente, para como nos tornamos
quem somos, numa permanente
negociação entre significados e
posicionamentos, possíveis e
presentes, pessoais e
socioculturais.
A arte, a ciência, assim
como as identidades das pessoas
dependem sempre da capacidade
humana de construir e reconstruir
significado no mundo, de organizar
as experiências e as acções de uma
forma integrada e com sentido.
17. 1. Para Bruner, a mente é:
A- reflexo dos acontecimentos vividos.
B- produto de processos genéticos complexos.
C- construtora de sentido e dos significados.
D- produto da acção do cérebro.
Soluções:
1. C