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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
        CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
          PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS




                   ADRIANA TULIO BAGGIO




O ESPETÁCULO SEMIÓTICO DA PUBLICIDADE QUE NÃO DIZ SEU NOME:
ASPECTOS DA TEMÁTICA HOMOSSEXUAL NA PUBLICIDADE BRASILEIRA.




                       JOÃO PESSOA
                           2003
ADRIANA TULIO BAGGIO




O ESPETÁCULO SEMIÓTICO DA PUBLICIDADE QUE NÃO DIZ SEU NOME:
ASPECTOS DA TEMÁTICA HOMOSSEXUAL NA PUBLICIDADE BRASILEIRA.




                              Dissertação de Mestrado realizada por
                              Adriana Tulio Baggio e apresentada ao
                              Programa de Pós-Graduação em Letras,
                              área de concentração Lingüística e
                              Língua Portuguesa, do Centro de
                              Ciências Humanas, Letras e Artes da
                              Universidade Federal da Paraíba –
                              UFPB.

                              Orientadora: Professora Dra. Maria de
                              Fátima Barbosa de M. Batista.




                       JOÃO PESSOA
                           2003
TERMO DE APROVAÇÃO



                           Adriana Tulio Baggio


        O espetáculo semiótico da publicidade que não diz seu nome:
        aspectos da temática homossexual na publicidade brasileira.



                                   Dissertação aprovada como requisito para
                                   obtenção do título de mestre em Letras,
                                   área de concentração Lingüística e Língua
                                   Portuguesa, do Centro de Ciências
                                   Humanas, Letras e Artes da Universidade
                                   Federal da Paraíba – UFPB.




Aprovação: João Pessoa, _____ de ________________________ de ________.




                 __________________________________
                          Professora Orientadora
      Profª. Dra. Maria de Fátima Barbosa de Mesquita Batista - UFPB




               _____________________________________
                   Prof. Dr. Cidmar Teodoro Pais - USP




              ______________________________________
                      Profª Dra. Ivone Lucena – UFPB




              ______________________________________
           Profª. Dra. Maria Aparecida Barbosa – USP (suplente)
Dedico este trabalho a meus pais, por todo o apoio, estímulo e incentivo que
deram a mim e a meu irmão para que pudéssemos chegar onde estamos hoje.
      A Idalina e Dionor, que não estão mais aqui, mas que ficariam felizes por essa
conquista.
AGRADECIMENTOS




      A realização desta dissertação de mestrado contou com a ajuda de muitos.

      Gostaria de agradecer especialmente à Professora Fátima Batista, pela

generosidade, competência e disponibilidade com que orientou esse trabalho.

      À minha mãe, pelo auxílio na revisão.

      A Otacílio Vaz, pelo companheirismo, amor e paciência durante os altos e

baixos de humor que redigir uma dissertação provoca.

      A Ferrugem, pela companhia afetuosa e incondicional.

      Ao professor Marcos Nicolau, pelo auxílio no início do processo que agora se

encerra.

      A todas as pessoas – familiares, amigos, colegas, alunos e professores – com

quem compartilhei experiências e que, de uma forma ou de outra, contribuíram para

a realização deste trabalho.



      A Deus.
Somewhere, over the rainbow, way up high,

                         There's a land that I heard of once in a lullaby.

                         Somewhere, over the rainbow, skies are blue,

            And the dreams that you dare to dream really do come true.




Over the rainbow, cantada por Judy Garland em O mágico de Oz. (1939)
RESUMO




      Este trabalho aborda aspectos da temática homossexual, especificamente a

homossexualidade masculina, presente na publicidade brasileira. A análise dos

anúncios publicitários foi feita com base na semiótica da significação proposta por

Hjelmslev, Greimas e Courtés e desenvolvida pelos sociossemioticistas brasileiros,

entre eles Cidmar Teodoro Pais. Foram analisados seis anúncios veiculados em

revistas dirigidas e não-dirigidas ao público homossexual. Complementando a

semiótica, foram apresentados embasamentos teóricas sobre o discurso publicitário

e sobre a homossexualidade. O estudo dos níveis fundamental, narrativo e

discursivo, possibilitou observar as figuras que caracterizam a temática homossexual

e os aspectos relacionados à presença desta temática nos anúncios. Ao fim deste

trabalho, foi possível identificar os elementos que figurativizam a homossexualidade

e identificar o público-alvo de cada anúncio como homossexual masculino ou não.

Constatou-se que a temática homossexual não está obrigatoriamente relacionada

com o público-alvo gay. Percebeu-se, também, a ideologia presente no discurso,

que apresenta uma imagem do homossexual ainda não completamente dissociada

de preconceitos.




      Palavras-chave: sociossemiótica, publicidade, homossexualidade.
RÉSUMÉ




       Ce travail traite d'aspects de la tématique homossexulle, spécifiquement la

homossexualité masculine, present dans la publicité brésilienne. L'analyse des

annonces publicitaires a été faite à partir de la sémiotique da la signification qui a été

proposée    par    Hjelmslev,    Greimas     et   Courtés    et   developpé     par   les

sociossemioticistes brésiliens, entre eux Cidmar Teorodo Pais. On a été analysés six

annonces qui s'ont faits imprimés dans les magazines spécifiques et non-spécifiques

du public homossexuel. En complement à la théorie sémiotique, on a été présentés

des théories de la publicité et de la homossexualité. L'étude des niveaux

fundamental, narrative et discursive a permet regarder des figures qui caractérisent

la tématique homossexuel et ces aspects dans les annonces. Au bout de ce travail,

on a été possible identifier des éléments figuratifs de la homossexualité et identifier

le public de chaque annonce comme homossexuel masculin ou non-homossexuel.

On a été possible de constater qui la tématique homossexuelle n'est pas obligement

liée avec le public gay. On a perçu, aussi, l'idéologie présent dans le discours, qui

montre une image du homossexuel ainsi non complement séparé des préjugés.




       Mots-clés: sociossemiotique, publicité, homossexuallité.
SUMÁRIO




1     INTRODUÇÃO ...................................................................................................10

2     A SEMIÓTICA....................................................................................................17

    2.1     Origens do estudo do signo: da Antigüidade Clássica a Peirce. .........18

    2.2     A teoria de Saussure e suas dicotomias. ...............................................21

    2.3     Hjelmslev: o ponto de partida para o pós-estruturalismo .....................24

    2.4     A semiótica da significação .....................................................................27

    2.5     Tipologia dos sistemas semióticos.........................................................32

    2.6     Percurso gerativo da significação...........................................................33

      2.6.1       Nível fundamental ou profundo ............................................................34

      2.6.2       Nível narrativo......................................................................................37

      2.6.3       Nível discursivo....................................................................................44

3     O DISCURSO PUBLICITÁRIO ..........................................................................57

    3.1     Publicidade e Indústria Cultural ..............................................................59

    3.2     A publicidade na sociedade do espetáculo ............................................61

    3.3     O paradoxo entre a massificação e a segmentação ..............................63

    3.4     Recursos de atratividade no discurso publicitário ................................66

    3.5     O comportamento do consumidor ..........................................................68

4     A HOMOSSEXUALIDADE ................................................................................72

    4.1     Do crime à aceitação ................................................................................77

    4.2     O homossexual na mídia: um reflexo da sociedade ..............................86

    4.3     O universo homossexual: elementos, símbolos e figuras. ...................92

    4.4     O consumidor gay: um atraente mercado em crescimento ................105
4.5     A publicidade dirigida ao público homossexual ..................................107

    4.6     A temática gay na publicidade...............................................................111

5     CORPUS..........................................................................................................115

    5.1     Descrição dos anúncios.........................................................................116

      5.1.1       Anúncios veiculados em revistas dirigidas ao público homossexual .116

      5.1.2       Anúncios veiculados em revistas não dirigidas..................................118

6     ANÁLISE DOS ANÚNCIOS.............................................................................120

    6.1     Anúncio 1 (ANEXO A) - preservativo Prosex........................................120

    6.2     Anúncio 2 (ANEXO B) – companhia aérea South African Airways.....136

    6.3     Anúncio 3 (ANEXO C) - agência de turismo Papyon ...........................147

    6.4     Anúncio 4 (ANEXO D) – telefone celular Motorola...............................152

    6.5     Anúncio 5 (ANEXO E) - loja de presentes Imaginarium.......................159

    6.6     Anúncio 6 (ANEXO F) - Central de Outdoor..........................................164

7     POR UMA CARACTERIZAÇÃO DA TEMÁTICA GAY NA PUBLICIDADE....169

8     CONCLUSÃO ..................................................................................................179

9     BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................184
1   INTRODUÇÃO




      O discurso publicitário, através de suas especificidades, constitui dos

produtos mais representativos de determinada cultura. Por ter como objetivo

primordial a venda do produto, serviço ou idéia anunciada, todos os recursos nele

utilizados convergem para a realização desse propósito. Como esse processo

acontece pela identificação entre o público e mensagem do anúncio, é fundamental

que o discurso publicitário espelhe a sociedade que o produz e para a qual se dirige.

Por todos os aspectos mencionados, o discurso publicitário é um espetáculo

formado por figuras verbais, imagéticas e gestuais, onde o sincretismo semiótico é o

recurso da atratividade.

      O objetivo da espetacularização é tornar o discurso atrativo, para que possa

fazer-crer, fazer-querer/dever e fazer-fazer, ou seja, seduzir, persuadir e manipular.

Os valores presentes no nível narrativo e os temas e figuras do nível discursivo, não

são utilizados aleatoriamente. As escolhas feitas nesses níveis refletem o perfil do

enunciatário e visão de mundo, ambos a partir do ponto de vista do enunciador. No

discurso publicitário, o enunciador é sempre o anunciante, uma instância social

legítima. O discurso do anunciante, então, autorizado pela sociedade, representa o

ponto de vista dessa sociedade.

      O discurso publicitário, enquanto técnica para vender, tem sua função no

contexto de uma atividade mais abrangente, o marketing que, por sua vez, procura

estabelecer uma relação entre a empresa e o público-alvo onde ambos obtenham o

resultado esperado. O cliente ganha a solução para suas necessidades, através do
consumo, e a empresa obtém o lucro que permite o seu funcionamento no modo de

produção capitalista.

      A sobrevivência das empresas neste sistema já foi mais fácil. No princípio da

Revolução Industrial, havia uma relação entre oferta e demanda extremamente

vantajosa para as empresas, que hoje foi invertida. Alguns mercados já estão

saturados, ou próximos da saturação. Mesmo no Brasil, considerado um mercado

com grande potencial de consumo, as marcas começam a buscar formas de ampliar

o seu público-alvo. Esse é apenas um dos fatores que influenciam o recente

direcionamento dos esforços mercadológicos e de comunicação para públicos até

então marginalizados.

      Um segundo fator que contribui para essa nova visão mercadológica é uma

maior elasticidade nas relações sociais. Vários tabus estão sendo quebrados,

inclusive aqueles que se referem a um dos principais valores da nossa sociedade: a

sexualidade. Instâncias até pouco tempo inquestionáveis, como a constituição da

família, o casamento e a geração de filhos estão sendo revistas frente às novas

descobertas científicas e aos novos papéis sociais de homens e mulheres. O

preconceito vem sendo criticado em todas as suas formas, permitindo que cada um

viva sua vida de acordo com suas opções religiosas, políticas e sexuais.

      A luta contra o preconceito vem amparada por uma maior preocupação com

os direitos humanos, direitos civis e direitos do consumidor, que representam o

terceiro fator nesta lista. A ocorrência destes três movimentos permite que diversos

grupos caracterizados como minorias passem a assumir abertamente sua condição

e exijam maior respeito e atenção por parte da sociedade civil, do poder público e

também do mercado. Um desses grupos é o de homossexuais.
O mercado, principalmente, tem motivos concretos para não desprezar o

homossexual enquanto consumidor. Em geral, os homossexuais têm um ótimo

potencial de compra: não têm filhos nem família, preocupam-se com a imagem e têm

necessidade de ampliar seus conhecimentos. Todas essas características fazem do

público gay um grupo consumidor que as marcas querem conquistar. Como os

homossexuais masculinos têm uma visibilidade social maior, os esforços

publicitários mais explícitos são dirigidos a eles.

       O caminho para a conquista do consumidor homossexual passa pela

publicidade. No entanto, os homossexuais são um público distinto, com desejos e

necessidades específicas que, só nos últimos tempos, vêm sendo reconhecidos e

estudados. É preciso usar linguagens e estratégias que abordem os valores e signos

do universo gay. De forma empírica, é possível perceber a abordagem desse

universo em alguns anúncios publicitários contemporâneos, tanto os que divulgam

produtos e serviços específicos desse público, quanto os que divulgam produtos e

serviços de consumo geral. Apesar da sutileza empregada na maioria das vezes, a

identificação da temática homossexual é perceptível porque os elementos desse

universo fazem parte de um recorte cultural, de um saber popular que não é

documentado nem registrado, mas que permeia as conversas, as piadas, os

programas humorísticos produzidos na nossa cultura. Parafraseando a expressão "o

amor que não diz seu nome", cunhada pelo escritor inglês Oscar Wilde para se

referir à homossexualidade, a publicidade analisada por este trabalho é a

publicidade que não diz seu nome, ou seja, é o discurso publicitário que apresenta a

temática homossexual, mas não de forma explícita.

       O objetivo deste trabalho é analisar os recursos lingüísticos, gestuais e

imagéticos que a publicidade utiliza para representar a temática homossexual,
levando em conta as especificidades do comportamento do homossexual masculino

enquanto segmento de público consumidor. Pretende-se, também, analisar os

aspectos da presença da temática homossexual masculina na publicidade, avaliando

se os anúncios que apresentam essa temática são realmente dirigidos ao público

gay e identificar os valores e a ideologia presentes nesses discursos.

      Em primeiro lugar, parte-se da hipótese de que, para falar com o público

homossexual de maneira efetiva, isto é, gerando uma ação que leve à compra, a

publicidade utiliza recursos diferenciados. Esses diferenciais estariam presentes na

linguagem utilizada pelo discurso publicitário. Através da análise dos valores, temas

e figuras presentes no discurso, é possível identificar se determinado anúncio

destina-se ao público homossexual masculino ou não. Como, apesar de todos os

avanços, ainda não é possível falar de maneira clara e aberta sobre o universo

homossexual na publicidade, a linguagem utilizada é mais sutil. Ao mesmo tempo

em que não choca, essa linguagem cumpre o seu papel ao estabelecer uma

comunicação com o público gay. Por último, devido às rápidas mudanças nos

paradigmas sociais, o fato de um anúncio apresentar uma temática homossexual

não garante que o público-alvo seja esse.

      O corpus deste trabalho constitui-se de anúncios veiculados em revistas

dirigidas ao público homossexual masculino e revistas não-dirigidas. A amostragem

examinada, escolhida aleatoriamente, compreende seis anúncios que apresentam

temática homossexual. São peças publicitárias que divulgam produtos ou serviços

das seguintes empresas: Prosex (anúncio 1), South African Airways (anúncio 2),

Papyon (anúncio 3), Motorola (anúncio 4), Imaginarium (anúncio 5) e Central de

Outdoor (anúncio 6). Os anúncios foram publicados, respectivamente, nas revistas G

Magazine, ano 5, número 59, agosto de 2002, editada pela Fractal Edições;
Homens, ano 5, número 46, junho de 2001, editada pela SG Press; G Magazine

novamente; Oi, ano 1, número 1, outubro/novembro de 2002, editada pela Selulloid

AG Comunicação; TPM, ano 2, número 21, maio de 2003, editada pela Trip Editora;

Meio&Mensagem, ano XXIV, número 1005, abril de 2002, editada pela M&M Editora.

As duas primeiras, onde foram veiculados três anúncios, são aquelas dirigidas ao

público homossexual.

      O corpus do trabalho foi analisado através da semiótica da significação

proposta por Hjelmslev e desenvolvida por Greimas e Courtés e complementada

pelos estudos dos sociossemioticistas brasileiros, entre eles Cidmar Teodoro Pais.

Como metodologia para a análise, os textos dos anúncios foram divididos nas três

estruturas do discurso - nível fundamental, nível narrativo e nível discursivo – a fim

de identificar os valores presentes na narrativa, os temas e figuras que os revestem

e a ideologia contida no discurso.

      A sociossemiótica foi a teoria adotada porque difere das outras correntes

semióticas ao considerar os discursos não-literários, permitindo assim a identificação

dos traços socioculturais, das ideologias, dos sistemas de valores das comunidades,

onde o discurso é produzido através da situação de comunicação entre um

enunciador e um enunciatário, cujo produto é um texto.

      Como teoria complementar, foram estudados textos que abordam o discurso

publicitário e seu papel enquanto discurso produzido socialmente, possibilitando

perceber suas motivações e especificidades de produção e enunciação. Também

foram levantados conceitos sobre a temática homossexual, especialmente a

homossexualidade masculina, permitindo o entendimento do comportamento, estilo

de vida e características do homossexual enquanto consumidor. O trabalho conta

ainda com informações obtidas através de depoimentos de profissionais ligados à
atividade publicitária e aos movimentos organizados de defesa dos direitos dos

homossexuais.

      Analisar o discurso publicitário sem levar em conta o contexto que o produz

não permite apreender todos aspectos envolvidos na sua construção. É por isso que

a análise sociossemiótica torna-se adequada à proposta aqui desenvolvida, porque

considera o processo de enunciação. Na enunciação, estão presentes não somente

o enunciado isolado, mas também o enunciador, o enunciatário e as condições em

que essa enunciação se dá. Todos esses fatores importam na análise de um

discurso, mas quando esse discurso é o publicitário, a presença deles é ainda mais

significativa. O discurso publicitário representa muito mais do que uma ferramenta de

marketing das empresas. É um produto social e, por isso mesmo, reflete em suas

entrelinhas a visão socialmente aceita e legítima sobre determinado assunto. Ao

abordar a publicidade dirigida ao público homossexual masculino, esse trabalho

apresenta não apenas os valores, temas e figuras que fazem parte da temática gay,

mas também a visão da nossa sociedade em relação à homossexualidade. Os

resultados das análises aqui realizadas podem ajudar os profissionais da área

publicitária a identificar a melhor maneira de falar com o público homossexual. Mais

do que isso, no entanto, esse trabalho pode auxiliar a provocar uma reflexão sobre

as atitudes da sociedade em relação à homossexualidade. Pode, também, lançar

uma luz sobre o tema da homossexualidade, esclarecendo quem ainda tem opiniões

pré-concebidas. Como a ignorância quase sempre está na origem do preconceito,

talvez o conhecimento seja um dos caminhos para se chegar ao respeito.

      Após esta introdução, o trabalho apresenta mais oito capítulos: teoria

semiótica, teoria da publicidade e teoria da homossexualidade; descrição do corpus;

análise dos anúncios; caracterização da temática homossexual na publicidade;
conclusão; referências bibliográficas. Por fim, os anexos com reproduções dos

anúncios analisados.
2   A SEMIÓTICA




      Até chegar ao conceito moderno de ciência da significação, que serve de

base para a realização deste trabalho, o estudo da semiótica passou por diversas

fases. Suas origens estão no estudo do signo na Antigüidade Clássica, como a

estrutura triádica proposta por Platão e a relação de implicação estudada por

Aristóteles. Mais tarde, o signo torna-se objeto dos estudos de teólogos como Santo

Agostinho, que observava sua relação arbitrária com as coisas do mundo que

designava e o incluía nos estudos teológicos. O Renascimento traz à tona a visão

antropocêntrica do mundo e o estudo do signo retoma as concepções da

Antigüidade Clássica, deixando de lado o conceito metonímico em relação ao que

designava e assumindo um caráter representativo do objeto no mundo real. Mais

recentemente, Charles Sanders Peirce e Ferdinand de Saussure sistematizam o

estudo do signo que levaria às concepções modernas da semiótica.

      Enquanto Peirce concebe o signo triádico, de acordo com o modelo platônico,

Saussure retoma a linha dos gramáticos de Port-Royal, que o viam como

interdependente de ligação com o mundo natural, sendo construído somente como

um conceito e uma idéia mental de representação. É com base na teoria

saussureana que Louis Hjelmeslev desenvolve o seu modelo que, por sua vez,

servirá de fundamento para a teoria semiótica de Greimas, Courtés e Rastier: sua

concepção permitirá a análise não somente do signo isolado, mas do conjunto de

signos que formam um texto e de suas condições de produção. O texto, por sua vez,

enquanto manifestação do discurso, adota a visão peirciana (já encontrada nos

estudos antigos, como o de Santo Agostinho), deixando de ser apenas verbal e
estendendo sua noção a outros sistemas semióticos, não-verbais ou sincréticos.

Assim, a semiótica passa a ser entendida como uma ciência que estuda não um

sistema de signos, mas um sistema de significação.

       Para melhor expor o caminho percorrido pela semiótica até chegar às

formulações que são consideradas neste trabalho, será exposto em seguida um

detalhamento de cada fase do estudo do signo, com ênfase nas concepções de

Saussure, Hjelmslev e dos teóricos da Escola de Paris.




2.1   Origens do estudo do signo: da Antigüidade Clássica a Peirce.




       O termo semiótica tem origem no vocábulo grego semêion, que pode ser

traduzido como signo, sema ou sinal. A diversidade de possíveis significados para

esse termo talvez seja a origem da confusão que se faz entre a semiótica e outras

ciências afins, como a semântica e a semiologia. Ao longo da evolução do estudo da

semiótica, foi possível separar as áreas de competência de cada uma dessas

ciências e, ao mesmo tempo, perceber suas relações de intersecção.

       A semiótica teve como base o estudo do signo na Antigüidade Clássica.

Platão observou vários aspectos da teoria dos signos, como a significação e a

estrutura triádica do signo, composta pelo nome (ónoma, nómos), a idéia (eîdos,

logos, dianóema) e o referente (prágma, ousía), a coisa a qual o signo se refere.

Aristóteles, por sua vez, definiu o signo como uma relação de implicação e

considerou-o uma premissa que leva a uma conclusão. Para Aristóteles, a estrutura

do signo também é triádica, composta por symbolon, o signo lingüístico, pathéma, o
signo convencional das afecções da alma e prágmata, as afecções enquanto

retratos das coisas (NÖTH, 1998, p. 27-29).

         Mais tarde, enquanto os estóicos retomam a tríade platônica, alterando

apenas o nome de cada uma das faces do signo, os epicuristas simplificam a

estrutura original, propondo o signo diádico, composto pelo significante (semainon) e

pelo referente (tygchamon) (BATISTA, 2001), antecipando em muitos séculos as

concepções divergentes que tiveram Peirce e Saussure em relação à estrutura do

signo.

         No fim da Antigüidade e durante a Idade Média, prevalece a noção de signo

proposta por Santo Agostinho, que considerava a existência dos signos verbais,

chamados convencionais e dos não-verbais, denominados de naturais. Por estar de

acordo com a perspectiva teocêntrica da Idade Média, essa concepção serviu aos

propósitos da igreja. Se, nessa época, Deus é concebido como centro e origem do

universo, tudo que aqui existe tem relação com Ele. Assim, a palavra, enquanto

signo, passa a fazer parte do que denomina, estabelecendo uma relação

metonímica. Ainda segundo Batista (2001, p. 135), "provém dessa concepção

medievalista o receio, ainda hoje apresentado por certas pessoas, de não

pronunciarem o nome de determinadas doenças graves, como o câncer, por

acreditarem que, se o fizerem, atrairão a doença para si".

         Antes do Renascimento, o estudo do signo realiza-se no âmbito da Teologia e

da Filosofia. Influenciados pelo pensamento Aristotélico, os escolásticos concebem a

ciência dos signos, ao lado de outras duas disciplinas: a filosofia natural e a filosofia

moral. Data dessa época o estudo Tractatus de signis, de São Tomás de Aquino. É

a partir desta obra que vai se esboçar a visão de Peirce, que entende o signo como

um instrumento de comunicação e cognição.
Com a chegada do Renascimento e a conseqüente mudança de visão

teocêntrica para a antropocêntrica, o signo abandona sua relação metonímica com o

objeto e passa a ser seu representante. Mais tarde, no século XVII, o racionalismo

preconiza uma visão menos empírica. Os gramáticos de Port Royal retomam o

modelo do signo diádico, mas excluem a relação do referente com o mundo natural.

Significado e significante passam a ser modelos mentais, onde o primeiro é uma

idéia mental e o segundo é a representação mental do som. Essas idéias são

precursoras do modelo que viria a ser proposto por Saussure no início do século XX.

      Também em fins do século XIX e início do século XX surgem os estudos de

Peirce, considerado por alguns o fundador da semiótica. O estudioso retoma o

modelo triádico do signo, proposto por Platão na Antigüidade. Para Peirce, "signo,

ou 'representame', é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém,

sob certos aspectos e em certa medida" (PIGNATARI, 1991, p. 24). Estes aspectos

e medidas, na estrutura sígnica, são representados pelo interpretante, ou seja, o

papel do signo na mente de quem o interpreta, o que leva a uma dinâmica do

processo. Os outros dois vértices são formados pelo representamen, que é o

aspecto perceptível e o objeto, que é o referente no mundo real. Visualmente, a

estrutura sígnica de Peirce pode ser representada da seguinte maneira:


                                interpretante




               representamen                       objeto
2.2   A teoria de Saussure e suas dicotomias.




       Contemporâneo de Peirce, mas sem ter conhecido sua obra, o suíço

Ferdinand de Saussure também concebe um modelo para o signo, só que diádico.

Para Saussure, o signo seria composto de um significante e um significado, como se

fossem as duas faces de uma moeda.

                       Le signe linguistique unit non une chose et um nom, mais um concept et
                       une image acoustique. Cette dernière n'est pas le son matériel, chose
                       purement physique, mais l'empreinte psychique de ce son, la représentation
                       que nous en donne le témoignage de nos sens; elle est sensorielle, et s'il
                       nous arrive de l'appeler "materielle", c'est seulement dans ce sens et par
                       opposition à l'autre terme de l'association, le concept, généralement plus
                                                           1
                       abstrait (SAUSSURE, 1986, p. 98).



       Visualmente, a estrutura do signo proposta por Saussure pode ser

representada como se segue:

                               significado

                               significante



       A relação entre significante e significado é arbitrária. Para exemplificar esta

arbitrariedade, Saussure (1986, p. 100) mostra que a idéia de soeur (irmã, em

francês) não está ligada por relação alguma interior à seqüência de sons s-ö-r que

lhe serve de significante; poderia ser representada da mesma forma por qualquer

outra seqüência.

       A proposta de Saussure recebeu críticas por não considerar os objetos no

mundo real e, ao mesmo tempo, por ficar subentendida a referência a eles em sua

1
  O signo lingüístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta
última não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica deste som, a
representação que nos dá testemunho dos nossos sentidos; ela é sensorial e se a denominamos
"material" é unicamente nesse sentido e por oposição a outro termo da associação, o conceito,
geralmente mais abstrato (tradução nossa).
teoria. Para exemplificar a estrutura sígnica, Saussure utilizou a palavra arbor

(árvore) como significante e o desenho de uma árvore como significado que, na

verdade, é uma referência ao mundo real. Outra referência ao mundo real ocorre

quando Saussure, ao defender a arbitrariedade do signo, coloca como exemplo as

palavras boeuf e ochs (boi, respectivamente em francês e alemão). Cada uma tem

um significante, ou seja, imagem acústica, diferente – b-ö-f para o francês e o-k-s

para o alemão (SAUSSURE, 1986, p. 100). O significado, teoricamente, é o mesmo,

se formos considerar o objeto no mundo real. Mas, para Saussure, a relação entre

significante e significado só pode ocorrer dentro de um mesmo sistema lingüístico, e

cada língua representa um único sistema lingüístico.

      O teórico suíço foi o primeiro a considerar a língua como um sistema, uma

estrutura, originando o estruturalismo lingüístico. Saussure via a língua como um

sistema ou código e como um fenômeno social. Denominou o sistema lingüístico de

língua (langue) e o seu uso em atos sociais orais e de textos, de fala (parole). Essa é

a primeira das chamadas dicotomias saussureanas. A outra dicotomia refere-se ao

processo de evolução da língua. Para Saussure, a língua é um sistema estático,

imutável ou mutável somente em longo prazo. Para isolar estes fenômenos de

mutabilidade, são colocados, porém isoladamente, os conceitos de diacronia e

sincronia. Diacronia considera a evolução da língua na história e sincronia, sua

evolução em determinado recorte de tempo. Como os lingüistas anteriores viam

apenas uma evolução histórica da língua, o conceito de sincronia representou um

novo paradigma no estudo da lingüística.

      Outra dicotomia de Saussure refere-se às relações que ocorrem dentro do

sistema, que podem ser sintagmáticas e paradigmáticas. As relações sintagmáticas

têm um caráter linear, como a ordem das palavras e sua sintaxe dentro da frase, por
exemplo. Estas relações são praticamente imutáveis, caracterizadas pelo aspecto

sucessivo e são próprias do ato da fala. Já as relações paradigmáticas atuam no

processo mental e permitem a simultaneidade, a escolha de alternativas. Estas

alternativas formam um paradigma, um grupo de palavras que podem substituir

umas às outras em sua posição dentro de uma frase. O lingüista russo Roman

Jakobson chamou as relações sintagmáticas e paradigmáticas reciprocamente de

combinação e seleção. Para Jakobson (1975, p. 39-40), todo signo lingüístico

implica estes dois modos de arranjo: combinação, já que todo o signo é composto

por signos constituintes e pode aparecer em combinação com outros signos, o que

dá ao signo ora um papel de contexto, ora um papel de elemento do contexto; e

seleção, que é o processo onde um signo pode ser substituído por outro, mantendo

a equivalência em um aspecto, mas diferenciando-se em outro. Assim, combinação

e seleção compõem as duas faces de uma mesma operação.

      O ponto da teoria saussureana que mais tarde vai servir de base para a

semiótica de Greimas, compreende as relações de diferença e oposição dentro do

sistema semiológico. Assim, segundo sua teoria de valor,

                     Os elementos de um sistema semiótico só existem pelas suas diferenças
                     com outros signos [...] se o valor de um signo é determinado por aquilo que
                     o rodeia e pelos signos com os quais está em oposição, isto significa que o
                     valor do signo não vem daquilo que o signo é em si mesmo, mas do outro,
                     ou seja, daquilo que o signo não é (NÖTH, 1999, p.40-41).



      Foi Saussure quem propôs que a ciência de estudo do signo tivesse o nome

de semiologia, retomando a nomenclatura dada por Schulteus em 1659 para sua

doutrina dos signos (BATISTA, 2001, p. 139). Para Saussure, o campo de estudo da

semiologia seria o funcionamento do signo na vida social. A Lingüística faria parte

dessa ciência, que estaria subordinada aos domínios da Psicologia social, parte da

Psicologia geral (NÖTH, 1999, p.18).
No entanto, a mesma ciência que os lingüistas da linha saussureana

chamavam de semiologia, tinha o nome de semiótica para os ingleses e alemães.

Para chegar a um acordo terminológico, estabeleceu-se em 1969, por iniciativa de

Jackobson, que a semiótica designaria "um termo geral do território de investigações

nas tradições da semiologia e da semiótica em geral" (NÖTH, 1998, p. 24).




2.3   Hjelmslev: o ponto de partida para o pós-estruturalismo




       No interior da discussão terminológica, uma outra distinção foi proposta pelo

lingüista dinamarquês Louis Hjelmslev e depois adotada por Julien Algirdas Greimas:

a de que semiótica refere-se a um sistema de signos com estruturas hierárquicas

similares à linguagem, mesmo que sejam compostas de signos não-verbais ou

sincréticos, ou seja, refere-se à significação, enquanto que semiologia abarcaria

somente o estudo do signo.

       A semiótica, enquanto ciência da significação, tem origem na teoria

desenvolvida por Hjelmslev que, por sua vez, interpreta a teoria dos signos de

Saussure. Ao contrário deste, que concebeu o signo como formado por expressão

(significante) e conteúdo (significado) tomados isoladamente, o teórico dinamarquês

não imagina uma relação que não seja de função semiótica entre expressão e

conteúdo, ou uma relação de função entre a função semiótica e os funtivos

expressão e conteúdo. Para Hjelmslev (1975, p. 40), a definição de função situa-se a

meio caminho entre a lógica e a matemática e o sentido etimológico do termo.

Aproxima-se mais das primeiras por considerar a relação de dependência entre
grandezas (classes) ou entre uma grandeza e seus componentes, sendo chamados

de funtivos os termos entre os quais existe uma função. Considera-se também, mas

com menos importância, o sentido etimológico do termo, visto que uma grandeza

tem uma maneira de funcionar, representa um papel, dentro de uma cadeia. Dessa

maneira,

                    A função semiótica é, em si mesma, uma solidariedade: expressão e
                    conteúdo são solidários e um pressupõe necessariamente o outro. Uma
                    expressão só é expressão porque é a expressão de um conteúdo, e um
                    conteúdo só é conteúdo porque é conteúdo de uma expressão
                    (HJELMSLEV, 1975, p. 54)



      Ainda por caminhos diferentes aos trilhados por Saussure, o dinamarquês

percebe um comportamento homogêneo entre expressão e conteúdo em relação à

função semiótica. Tanto um quanto outro, possuem uma forma e uma substância,

conforme o esquema visual abaixo:



                              conteúdo                       substância
       SIGNO ƒ                                               forma
                              expressão                      forma
                                                             substância


      Portanto, para Hjelmslev, o signo é, ao mesmo tempo,

                    [...] signo de uma substância de conteúdo e de uma substância de
                    expressão. É neste sentido que se pode dizer que o signo é signo de
                    alguma coisa. [...] O signo é uma grandeza de duas faces, uma cabeça de
                    Janus com perspectiva para os dois lados, com efeito nas duas direções:
                    'para o exterior', na direção da substância de expressão, 'para o interior', na
                    direção da substância de conteúdo (1975, p. 62).


      Hjelmslev vê o sentido não apenas como privilégio do conteúdo, mas também

da expressão. Assim, sentido é a "substância de uma forma qualquer" (Id., 1975, p.

57), sendo que, no plano do conteúdo, refere-se a um conceito, a uma idéia, que

independe da estrutura lingüística que o manifesta. No plano da expressão,

estabelece a diferença entre as línguas. Portanto, a mesma idéia em línguas
diferentes terá o mesmo sentido de conteúdo, mas diferentes sentidos de expressão.

Falar com sotaque é falar uma língua com o sentido de expressão de outra.

      Ainda enriquecendo os preceitos colocados por Saussure, Hjelmslev (1975, p.

51-52) considera a língua não somente como um sistema de signos, conforme

proposto pelo genebrino, mas como um sistema de figuras que servem para formar

signos. A linguagem, enquanto sistema de signos, deve ser capaz de produzir novos

signos, novas palavras e novas raízes e também deve ser fácil de manejar, prática

de aprender e de ser utilizada. Dada a existência de uma quantidade ilimitada de

signos, essa capacidade só será possível se todos os signos puderem ser formados

com a ajuda de não-signos, cujo número é reduzido e, portanto, fáceis de serem

aprendidos e manipulados. Estes não-signos que entram como partes de signos em

um sistema de signos serão chamados de figuras. Desta forma, as línguas

representam mais do que sistemas de signos. Por sua estrutura interna, elas podem

ser consideradas como sistemas de figuras que podem servir para formar signos.

      Em seus estudos, realizados durante a Segunda Guerra Mundial, Hjelmslev

revê e colabora com a teoria saussureana nos aspectos da relação entre conteúdo e

expressão, da língua enquanto sistema de figuras e não de signos e quando abre

caminho para uma visão pancrônica da língua, ao considerar a possibilidade de

produção de novos signos. Funcionando como uma ponte entre os estudos

semióticos propostos por Saussure no fim do século XIX e início do século XX e os

teóricos da Escola Semiótica de Paris, surgida no início da década de 1970, o

dinamarquês preparou o caminho para Greimas, Courtés, Rastier e seus discípulos

(entre eles o brasileiro Cidmar Teodoro Pais) proporem a ampliação do campo da

semiótica aos sistemas não-lingüísticos, a noção da pancronia latu sensu e o estudo
dos níveis de discursos semióticos. O estruturalismo lingüístico é ultrapassado,

dando início ao pós-estruturalismo (BATISTA, 2001, p. 144).




2.4     A semiótica da significação




        A partir da proposta de Hjelmslev do estudo do plano do conteúdo separado

do plano da expressão, foi possível desenvolver o estudo do sentido. No entanto,

este estudo, ainda realizado no âmbito da semântica, não permitia uma análise que

fosse além dos limites da frase. Por ser insuficiente, este modelo de estudo precisou

ser ampliado para o conteúdo do texto. Assim, o sentido da frase é estudado

enquanto parte do sentido de um texto. Sendo o texto um enunciado, produto da

enunciação de um enunciador para um enunciatário, as teorias para estudá-lo

dividiram-se entre aquelas que analisam a relação entre o enunciado e a enunciação

e as que preferem focar a relação entre enunciador e enunciatário. No entanto, uma

análise do sentido de um texto só é possível quando se consideram estas duas

instâncias, já que a significação, além de apresentar uma relação de dependência

entre conteúdo e expressão, é formada e manifestada durante o discurso e só se

completa no percurso por inteiro, ou seja, da mente do enunciador até a mente do

enunciatário. A significação, então, compreende o processo de produção,

acumulação e transformação da função semiótica, ou seja, a semiose (Id., 2001, p.

146).

        Pais considera a sociossemiótica para o estudo da significação dos textos

produzidos socialmente, como uma conversa, um aceno em um corredor e não
apenas os textos produzidos e manifestados em condições formais, como a

literatura. Ele releva o processo de produção dos signos em discursos sociais não

literários. Enquanto produto do pós-estruturalismo, a sociossemiótica vê de maneira

diferente as relações entre sistema e estrutura.

                         Il s'agite donc d'une conception dynamique, ou dialectique, si l'on préfère,
                         aussi bien du système que de la structure. Quant au système, il est conçu
                         comme ouvert et intégrant um processus de production. C'est l'instance qui
                         autorise les discours et qui est sous-jacente à ceux-ci. Le système se
                         soutien alors dans um équilibre dynamique, c'est-à-dire, dans une tension
                         dialectique entre deux forces contraires, celle de la conservation et celle de
                         la mutation. Il ne peut donc fonctionner d'une façon satisfaisante que dans
                         la mesure où il change, en s'articulant avec les mutations sociale et
                                                            2
                         culturelle. (PAIS, 1980, p. 71-72)



       A tensão dialética a que se refere Pais está na ordem do sistema, dos modos

de produção e funcionamento do discurso. Ao mesmo tempo em que as novas

necessidades de comunicação de uma comunidade sociolingüística são supridas por

uma reformulação dos sistemas semióticos, através da inclusão de novos termos ou

da modificação destes, a possibilidade dessa comunicação deve-se ao caráter de

conservação desses sistemas, o suficiente para que haja compreensão entre o

enunciador e o enunciatário.

       Uma outra tensão dialética está presente dentro do discurso e refere-se à

dicotomia consenso/especificidade. Enquanto a especificidade permite que o

enunciador relate suas experiências pessoais, transmitindo uma informação e

alimentando o sistema, o consenso torna possível ao enunciatário compreender o

que o enunciador quer dizer, mesmo se tratando de algo que não foi vivido por ele.

Estas duas tensões dialéticas tornam o sistema dinâmico e o discurso produtivo,

dando origem a uma nova dicotomia, a do sistema/discurso, onde "le système

2
  Trata-se de uma concepção dinâmica, ou dialética, se for preferível, tanto do sistema como da
estrutura. Quanto ao sistema, é tido como aberto e integrante de um processo de produção. É a
instância que autoriza os discursos e que é subjacente a eles. O sistema, então, se sustenta em um
equilíbrio dinâmico, ou seja, em uma tensão dialética entre duas forças contrárias, a da conservação
e a da mutação. Ele não pode funcionar de uma maneira satisfatória a não ser na medida em que ele
muda, articulando-se com as mudanças sociais e culturais (tradução nossa).
fonctionne, en changeant, pour satisfaire aux besoins de spécificité des discours, et il

ne change que pendant qu'il fonctionne3" (PAIS, 1980, p. 72). Dessa maneira,

podemos perceber a concepção pancrônica do sistema lato sensu.

       Conforme Barbosa (1996, p. 52), o sistema semiótico permite aos membros

de uma comunidade sócio-lingüístico-cultural integrar em um sistema todos os dados

de suas experiências, caracterizando o grupo e definindo sua cultura, sua ideologia.

Por estar em permanente mudança, a sociedade e a cultura do grupo reelaboram

seus valores, suas estruturas, suas regras, suas percepções da vida social e da

natureza, criam novos objetos, materiais ou não, num processo incessante de

reconstrução de sua visão de mundo. Os instrumentos desse processo são os

sistemas verbais, não-verbais e sincréticos do macro-sistema semiótico dessa

cultura. Esse processo, mesmo que modificado de uma época para outra, resultando

em uma visão peculiar de cada grupo em determinado espaço de tempo, não rompe

com o complexo sócio-lingüístico-cultural de épocas anteriores. Pelo contrário, são

esses sistemas que garantem a continuidade no tempo do sistema de cada época,

permitindo ao grupo reconhecer-se sempre como o mesmo. O sistema, ao mesmo

tempo em que realiza estas mudanças, confirma e reitera os processos de

estruturação da significação e da informação entre os indivíduos do grupo.

       Como a semiótica da significação procura descrever e explicar o que o texto

diz e como ele faz para dizer o que diz" (BARROS, 1999, p.7, grifo da autora), a

concepção de texto pode ser a de objeto de significação e objeto de comunicação. A

análise dentro da primeira idéia comporta o estudo dos mecanismos internos de

funcionamento do texto e de sua produção de sentido; a análise a partir da segunda

linha mostra que o sentido do texto depende de suas condições de produção, ou

3
  O sistema funciona mudando, para satisfazer as necessidades de especificidades dos discursos, e
ele só muda durante seu funcionamento (tradução nossa).
seja, do seu aspecto ideológico e cultural, do contexto histórico-social no qual está

inserido. Uma análise semiótica do texto deve contemplar estas duas análises,

tratando, assim, "de examinar os procedimentos da organização textual e, ao

mesmo tempo, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto"

(BARROS, 1999, p. 8).

        Como a significação depende de processos não apenas intratextuais, mas

também intertextuais, o discurso tem participação no processo de mudança da

língua enquanto código, que também muda quando o código sofre mudanças. A

significação de um texto só pode ser analisada se forem considerados os meios no

qual ele é produzido e interpretado. Depende da cultura, da língua, das formações

ideológicas, do contexto histórico e social no qual este texto está inserido.

        O sentido de uma palavra, de uma imagem, de um som, de um gesto, só será

percebido se considerarmos o interdiscurso e o repertório do enunciatário, a partir do

qual fará suas interpretações a respeito do discurso. Se todo o discurso é

manipulatório, tem por necessidade primordial de ser compreendido segundo as

intenções no enunciador. O discurso publicitário, enquanto produto da Indústria

Cultural, à qual serve e da qual extrai a matéria-prima para seu funcionamento,

trabalha com sentidos estabelecidos ou reconhecidos pelo público, mas de uma

forma reelaborada e idealizada.

        Os temas e figuras do discurso da publicidade são o reflexo de outros

discursos presentes na cultura que abriga a relação empresa-consumidor. É o

processo de escolha de figuras, feitas pelo enunciador, e os temas que representam,

que permitem ao enunciatário – o público-alvo do que está sendo anunciado –

identificar-se com a mensagem e sentir-se atraído por ela, a ponto de ser levado à

ação.
Esta ação é a resposta do enunciatário ao discurso do enunciador, resposta

esperada e desejada. É uma resposta determinada de modo ativo pelo enunciador,

presumida, que por sua vez vai influir na construção do enunciado. Essa construção

considera o grau de informação do enunciatário, suas opiniões e convicções,

preconceitos, simpatias e antipatias; além disso, nesse processo o enunciador

procura precaver-se de objeções previstas. É que "o enunciado está voltado não só

para seu objeto, mas também para o discurso do outro acerca desse objeto"

(BAKHTIN, 1992, p. 320-321). Assim, o anúncio publicitário, enquanto enunciado, é

um acontecimento que não pode ser esgotado nem pela língua e nem pelo sentido,

conforme coloca Foucault:

                     Acontecimento estranho, por certo: inicialmente porque está ligado de um
                     lado a um gesto de escritura ou à articulação de uma palavra, mas que, por
                     um outro lado, se abre a si mesmo uma existência remanescente no campo
                     de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros e de
                     qualquer forma de registro; em seguida, porque é único como todo
                     acontecimento, mas que está aberto à repetição, à transformação, à
                     reativação; finalmente, porque está ligado não apenas a situações que o
                     provocam, e a conseqüências que incita, mas, ao mesmo tempo, se
                     segundo uma modalidade inteiramente diferente, a enunciados que o
                     precedem e o seguem (1972, p. 40).

      As características da construção do discurso publicitário dirigido ao público

homossexual podem exemplificar o processo de formação discursiva no que se

refere à comunicação com este público, considerando o momento histórico de maior

liberalidade, mas não de total aceitação pela sociedade.

                     No caso em que se pudesse descrever, entre um certo número de
                     enunciados, semelhante sistema de dispersão, no caso em que entre os
                     objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se
                     poderia definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e
                     funcionamentos, transformações), dir-se-á, por convenção, que se trata de
                     uma formação discursiva [...] (Id., 1972, p.51).
2.5   Tipologia dos sistemas semióticos




       Pais fez importantes contribuições para o estudo da semiótica. O texto, objeto

de estudo desta teoria, não deve ser considerado apenas como texto lingüístico,

manifestado oralmente ou por escrito. A semiótica ocupa-se do texto nas suas mais

variadas condições de materialização. Assim, pode-se considerar como texto um

romance, um poema, um tratado científico; um quadro, uma escultura, uma forma

arquitetônica; um espetáculo de dança, um gesto entre amigos, um discurso político,

uma conversa de bar; uma novela, um anúncio publicitário.

       Com base nessa concepção, Pais (1992) propôs um estudo da tipologia dos

sistemas semióticos, como ponto de partida para a determinação de uma semiótica

da cultura. Esta seria correspondente a uma macrossemiótica, ou seja, o conjunto de

diversas semióticas-objeto que constroem uma visão de mundo, uma ideologia. Os

sistemas semióticos nos quais essas semióticas-objeto estariam incluídas são o

verbal, o não-verbal e o complexo ou sincrético. O primeiro compreende os sistemas

lingüísticos, tais como as línguas naturais e pode apresentar discursos figurativos

(literários) e não-figurativos (sociais e não-literários), como a publicidade. O sistema

semiótico não-verbal compreende sistemas unidimensionais, como o canto vocal

(sic); bidimensionais, como a pintura, o desenho, a fotografia; e tridimensionais,

como a escultura, a arquitetura e a gestualidade. Já o sistema chamado de

complexo ou sincrético compreende uma combinação entre sistemas verbais e não-

verbais, como a história em quadrinhos, o teatro, o cinema, a publicidade. Para Pais

(1992, p. 58), "o conjunto dos sistemas semióticos em operação numa mesma

comunidade sócio-lingüístico-cultural constitui, assim, a sua macrossemiótica".
2.6   Percurso gerativo da significação




       A semiótica da significação concebe um percurso gerativo para a construção

da significação de um texto, reforçando o conceito de que texto é o discurso

manifestado. Discurso cuja noção, segundo Pais (1996, p. 137), ultrapassa os limites

do texto como coisa enunciada e desenvolve-se num contexto sócio-cultural, que o

envolve e que se desloca no eixo do tempo da História.

       O percurso gerativo da significação vai do abstrato ao concreto e pode ser

dividido em três etapas, independentes para efeitos de estudo, mas cuja relação é

condição sine qua non para a formação da significação: a estrutura fundamental ou

profunda, a estrutura intermediária ou narrativa e a estrutura discursiva. Conforme

Courtés, a distinção entre as estruturas superficiais e profundas é fruto de um ponto

de vista gerativo, no qual as estruturas mais complexas se formam a partir das mais

simples:

                         La sémiotique nous propose, en effet, um parcours génératif, où la
                         signification prend comme point de départ une instance ab quo, définie par
                         une forme syntaxique et sémantique élémentaire; puis, par um jeu de
                         complexifications et d'enrichissements varies, accède au niveau supérieur
                         des structures de surface et, au-delá, rejoint le plan de la manifestation,
                         l'instance ad quem visée. Cette procédure dite de conversion permet de
                         passer d'un niveau de représentation à un autre syntaxiquement et/ou
                                                    4
                         sémantiquement plus riche (1991, p. 137, grifo do autor).




4
  A semiótica nos propõe, em efeito, um percurso gerativo onde a significação toma como ponto de
partida uma instância ab quo, definida por uma forma sintática e semântica elementar; depois, por um
jogo de complexificações e de enriquecimentos variados, acede ao nível superior das estruturas de
superfície e, além disso, reintegra o plano da manifestação, a instância ad quem visada. Este
procedimento dito de conversão permite passar de um nível de representação a um outro
sintaticamente e/ou semanticamente mais rico (tradução nossa).
2.6.1 Nível fundamental ou profundo




       O nível fundamental ou profundo apresenta a primeira etapa da significação,

que acontece através do estabelecimento de uma relação de oposição entre dois

termos que, por sua vez, representam duas idéias contrárias, mas de uma mesma

categoria semântica.

                        [...] à ce plan, sont em jeu des articulations peu nombreuses, plus simples,
                        en tout cas plus globalisantes que celles que l'on observe au niveau des
                        structures narratives de surface. C'est pourquoi, à ce plan reconnue comme
                                                                                                   5
                        profond, l'on a pu parler de structure élémentaire de la signification
                        (COURTÉS, 1991, p. 136)



       Essa relação é fruto da redução da rede de relações presentes nos níveis

narrativos e discursivos, ou seja, sem a especificidade presente em cada um destes

níveis. Por essa razão, para efeito de análise, a estrutura ou nível fundamental é a

última a ser considerada.

       Em termos operacionais, a oposição mínima do nível fundamental é

representada através do quadrado semiótico, elaborado por Greimas com base nas

representações também utilizadas pela Escola de Praga e pelo antropólogo Lévi-

Strauss (Id., 1991, p. 152). Para exemplificar este processo, pode-se considerar uma

das mais recorrentes promessas feitas pelos produtos dietéticos: o emagrecimento.

Os anúncios publicitários dessa categoria de produto trabalham com a promessa da

/magreza/. Neste tipo de discurso, mesmo sem proceder à análise das estruturas

narrativas e discursivas, pode-se perceber que uma das oposições binárias é a que




5
  Neste plano estão em jogo as articulações pouco numerosas, mais simples, em todo caso mais
globalizantes que aquelas que se observa ao nível das estruturas narrativas de superfície. É por
conta disso que, nesse plano conhecido como profundo, foi possível falar de estrutura elementar de
significação (tradução nossa).
se refere ao paradigma /forma física/, cujos elementos opostos são /gordo/ x

/magro/. Com base neste exemplo, a representação do quadrado semiótico seria:

                                    gordo                 magro



                               não-magro                  não-gordo



       As linhas tracejadas horizontais representam uma relação entre contrários; as

linhas contínuas diagonais mostram uma relação de contraditoriedade e as linhas

contínuas verticais representam uma relação de complementaridade. De acordo com

Courtés (1991, p. 153), “deux termes sont déclarés contraires si la négation de l´un

implique l´affirmation de l´autre, et réciproquement”6. Esta relação de implicação é a

complementaridade entre os termos. Assim, /gordo/ é complementar de /não-magro/,

e /magro/ é complementar de /não-gordo/. Ser /gordo/ implica ser /não-magro/,

enquanto que ser /magro/ implica ser /não-gordo/.

       Contrariedade, contraditoriedade e complementaridade não são as únicas

relações presentes no conteúdo fundamental do texto. Pode-se observar também a

presença de relações orientadas, que se mostram como condição da narratividade.

No nosso exemplo, temos uma relação orientada que vai do /gordo/ ao /magro/,

passando pelo /não-gordo/. Fiorin considera essa orientação das relações como um

processo que caracteriza a sintaxe do nível fundamental, enquanto que a oposição

binária compreenderia a semântica deste nível.

                       A sintaxe do nível fundamental abrange duas operações: a negação e a
                       asserção. Na sucessividade de um texto, ocorrem essas duas operações, o
                       que significa que, dada uma categoria tal que a versus b, podem aparecer
                       as seguintes relações: a) afirmação de a, negação de a, afirmação de b; b)
                       afirmação de b, negação de b, afirmação de a (2000, p. 20).



6
  Dois termos são declarados contrários quando a negação de um implica a afirmação do outro, e
vice-versa (tradução nossa).
No exemplo aqui utilizado, tem-se a afirmação da /gordura/, já que o anúncio

publicitário dietético dirige-se a quem tenha necessidade deste tipo de produto,

depois a negação da /gordura/, quando o anúncio propõe que a solução para o

problema é o consumo do produto dietético, e afirmação da /magreza/, quando o

leitor se convence da eficácia do produto e imagina-se magro através do seu

consumo.

      Pode-se perceber a ideologia a partir da axiologização das categorias

semânticas presentes no nível fundamental, através da determinação de euforia ou

disforia atribuída a cada termo. “A categoria tímica estabelece a relação de

conformidade ou de desconformidade do ser vivo com os conteúdos representados”

(BARROS, 1999, p. 79). No exemplo considerado, temos /magro/ como eufórico e

/gordo/ como disfórico. Se fôssemos analisar outro texto, como as pinturas

renascentistas, que retratam mulheres rechonchudas (o ideal de beleza da época),

teríamos uma modificação na axiologização, onde /gordo/ seria eufórico e /magro/

disfórico. Ainda segundo Barros (1999, p. 79), “os textos serão, por conseguinte,

euforizantes ou disforizantes, segundo caminhem para o pólo conforme ou

desconforme da categoria semântica fundamental”. O texto do tipo de anúncio

tomado como exemplo é, então, euforizante, já que o percurso está orientado para o

estado /magro/, ou seja, para a euforia.

      Existe ainda uma possibilidade de ampliação do quadrado semiótico para a

representação de meta-termos, dando origem a um octógono semiótico, conforme a

representação abaixo:
FORMA FÍSICA



                     gordo                                      magro
 ESTADO                                                                   IDEAL DE BELEZA
 INDESEJÁVEL
               não-magro                                      não-gordo



                                       TERMO NEUTRO




      Assim, a conjunção de /gordo/ com /não-magro/ dá origem ao meta-termo

/estado indesejável/ de acordo com o padrão estético da nossa sociedade; a

conjunção de /magro/ com /não-gordo/ é o /ideal de beleza/, ou seja, o que o

consumidor de produtos dietéticos almeja; a conjunção entre os contrários /gordo/ e

/magro/ representa a categoria semântica /forma física/. Já a conjunção /não-magro/

com /não-gordo/ dá origem ao termo neutro, cuja denominação, conforme explica

Courtés (1991, p. 159), vem do latim ne-uter: nem um, nem outro.




2.6.2 Nível narrativo




      A estrutura narrativa apresenta uma sintaxe e uma semântica narrativas.

Barros faz uma associação entre a sintaxe narrativa e um espetáculo. Para a

professora,

                        a sintaxe narrativa deve ser pensada como um espetáculo que simula o
                        fazer do homem que transforma o mundo. Para entender a organização
                        narrativa de um texto é preciso, portanto, descrever o espetáculo,
                        determinar seus participantes e o papel que representam na historiazinha
                        simulada (1999, p. 16).
Este nível caracteriza-se pela busca de um Objeto de valor por um Sujeito.

Dessa forma, a narrativa pode ser aplicada não somente aos textos narrados, mas a

todos os enunciados onde exista um Sujeito que procure um Objeto de valor. Nessa

busca pelo Objeto de valor o Sujeito é instigado por um Destinador, que é o

idealizador da narrativa, ajudado por um Adjuvante ou prejudicado por um

Oponente. Estes "papéis" da narrativa são chamados de actanciais. Quanto mais

diferenciados e em maior quantidade mais o texto será carregado em ideologia, aqui

considerada como o sistema de valores do indivíduo (BATISTA, 2001, p. 150).



         Destinador ------------------ Objeto de valor ------------------------- destinatário


              Adjuvante-------------------- Sujeito ------------------------- Oponente


(COURTÉS, 1979, p. 80)



      A narrativa apresenta um enunciado elementar que se caracteriza pela

relação de transitividade entre o Sujeito e seu Objeto de valor. Essa relação é que

permite a existência destes dois papéis, já que o Sujeito é sujeito de um Objeto de

valor e vice-versa, caracterizando uma relação sujeito-predicado.

      Existem duas funções transitivas existentes entre Sujeito e Objeto de valor.

Uma delas é a de junção. Um Sujeito pode estar conjunto (ter ou manter) ou disjunto

(não ter ou não manter) do seu Objeto de valor, caracterizando um enunciado de

estado. Vale ressaltar, aqui, que a disjunção do Sujeito do seu Objeto de valor não

implica uma ausência de relação entre eles, o que caracterizaria uma inexistência

semiótica destes dois elementos. A disjunção, enquanto não-conjunção, é uma

relação virtual do Sujeito com seu Objeto de valor, que pode ser modificada através

de um fazer transformador.
A segunda função transitiva é este fazer transformador, operado por um

sujeito que modifica o estado em que se encontra o Sujeito semiótico em relação ao

seu Objeto de valor. Nesse caso, temos um enunciado de transformação. São estes

processos que, para Courtés, servem como base para a definição de narrativa como:

                         [...] transformation située entre deux états successifs/réversifs et différents
                         est fondée sur une opposition toute proche de celle qui a été notre point de
                         départ (permanence/changement), à savoir statisme vs dynamisme. D´un
                         côté, donc, les états dont nous venons de parler, de l´autre le faire qui
                                                                                            7
                         assure la transformation d´un état 1 en un état 2, ou inversement (1991, p.
                         72-73).



       Uma narrativa é composta por um ou vários programas narrativos, que são os

sintagmas elementares da sintaxe narrativa. São definidos como “um enunciado de

fazer que rege um enunciado de estado” (BARROS, 1999, p. 20). Estes programas

podem ser de diversos tipos, dependendo das transformações que operam. Quanto

à função, podem ser de privação - quando o Sujeito passa de um estado conjunto a

outro disjunto do seu Objeto de valor -, ou de aquisição - quando o estado inicial é a

disjunção, passando a ser conjunção.

       Quanto às relações entre os sujeitos do ser e do fazer, podem ser transitivas,

quando o sujeito do fazer e o sujeito de estado são assumidos por atores diferentes

na manifestação, ou reflexivas, quando ambos são assumidos pelo mesmo ator. O

quadro abaixo, elaborado por Barros (1999, p. 23), esquematiza estas relações:


        Natureza da função Relação narrativa/discurso Denominação
              Aquisição                     Transitiva                  Doação
              Aquisição                     Reflexiva                Apropriação
               Privação                     Transitiva                Espoliação
               Privação                     Reflexiva                  Renúncia


7
 [...] transformação situada entre dois estados sucessivos/reversivos e diferentes, é baseada sobre
uma oposição muito próxima daquela foi nosso ponto de partida (permanência/mudança), a saber:
estatismo vs dinamismo. De um lado, então, os estados dos quais iremos falar, e de outro, o fazer
que assegura a transformação de um estado 1 em um estado 2, ou o inverso (tradução nossa).
Os programas narrativos podem ser de base ou de uso. Os programas de

base relacionam-se com o objetivo final do Sujeito. Os programas de uso são os

meios necessários para a obtenção do objetivo final. Assim, os programas de base

correspondem à performance, enquanto que os programas de uso correspondem à

competência. Para a realização da performance será necessária uma competência.

"Tout PN de performance met em jeu des valeurs dites descriptives [...], tandis que le

PN de compétence joue sur des valeurs modales”8 (COURTÉS, 1991, p. 83).

       Por mais que, a princípio, o discurso publicitário não pareça comportar uma

narrativa, na verdade ele propõe uma transformação, que no dizer de Nicole

Everaert-Desmedt, pode ser operada pelo produto anunciado.

                        A utilização do produto permite um regresso à ordem, um restabelecimento
                        do equilíbrio inicial que o publicitário teve o cuidado de mostrar perturbado
                        ou, pelo menos, seriamente ameaçado. Verifica-se também que os
                        enunciados publicitários traçam percursos narrativos, põem em jogo as
                        modalidades querer-saber-poder, atribuem papéis actanciais ao produto e
                        aos seus concorrentes, à firma, ao receptor, ao público, etc. (1984, p. 145,
                        grifo do autor).



       Retomando o exemplo de anúncio publicitário de produto dietético, pode-se

dizer que o consumidor é o Sujeito que tem como Objeto de valor a /magreza/. Por

pressuposição, o público-alvo deste tipo de produto está em disjunção com seu

Objeto de valor. Para modificar este estado, será necessário um fazer transformador,

para que o Sujeito passe a estar conjunto com a /magreza/. O programa de base

corresponde a esse processo. No entanto, para que esta performance aconteça,

será necessário uma competência, representada pelo programa de uso "consumo do

produto dietético".

       A sucessão de programas narrativos forma um percurso narrativo, que pode

ser de três naturezas distintas: percurso narrativo do Sujeito, do Destinador-


8
  Todo programa narrativo de performance coloca em jogo os valores ditos descritivos [...], assim
como o programa narrativo de competência joga com os valores modais (tradução nossa).
manipulador e do Destinador-julgador. No primeiro, o Sujeito adquire a competência

necessária para a realização da performance, cumprindo vários papéis actanciais no

decorrer do progresso narrativo; no segundo, a visão da competência e da

performance parte não de quem recebe os valores modais e pratica a ação, mas de

quem doa ou destina esses valores ao Sujeito e o faz-fazer. Assim, enquanto o

Sujeito transforma estados, faz-ser (no nosso exemplo, o Sujeito deixa o estado

/gordo/ e passa ao estado /magro/), o Destinador-manipulador age sobre o Sujeito.

Ele faz-crer, um fazer de sedução (faz o consumidor acreditar que a compra do

produto vai modificar seu estado /gordo/) e faz-fazer, um fazer de manipulação (faz o

consumidor comprar o produto). No entanto, para haver manipulação é preciso que

o Sujeito aceite-a; para isso, é necessário que o Sujeito creia nos valores do

Destinador. É importante frisar que manipulação, no sentido aqui utilizado, não tem

nenhuma conotação psico-sociológica ou moral, conforme reforçou Courtés (1991, p.

100), designando unicamente uma relação de fazer-fazer.

      É fácil perceber a função entre crença e aceitação através do exemplo aqui

utilizado. O anúncio publicitário de produtos dietéticos só funciona porque o

anunciante, que neste caso é o Destinador-manipulador, apela para a exigência

social do padrão estético /magro/. Se o Sujeito consumidor não aceitar esse Valor, o

anúncio não surtirá efeito. Esse tipo de reflexão deve ser levado em conta quando

se busca "culpar" a publicidade por algumas das mazelas do mundo. A publicidade

alimenta-se de um conjunto de valores disponíveis na cultura de cada comunidade,

mas não é responsável pela criação deles. Alimenta-se deles, alimenta-os, mas não

pode ser responsabilizada pela sua existência.

      Os tipos de manipulação podem ser organizados segundo a competência do

manipulador e segundo a alteração modal realizada na competência do Sujeito
manipulado. A provocação e a intimidação fundamentam-se sobre valores negativos.

Na primeira, o Destinador leva o Sujeito a provar que as concepções negativas que

têm sobre ele (saber) não são verdadeiras. Na segunda, o Destinador ameaça

(poder) o Sujeito caso ele não faça o que foi pedido. Seja para escapar da

difamação ou da ameaça, o Sujeito deve-fazer. A sedução e a tentação agem sobre

valores positivos. Enquanto que na sedução o Destinador manipula através de uma

concepção positiva da imagem do Sujeito (saber), na tentação ele oferece algo em

troca (poder) caso o Sujeito realize a ação desejada. Em ambos os casos, o Sujeito

age em nome de um querer-fazer (BARROS, 1999, p. 33). No caso do anúncio

dietético, as formas de manipulação mais utilizadas são a intimidação (se você não

usar o produto x, vai engordar/não vai emagrecer) e a tentação (se você usar o

produto x, vai emagrecer). Interessante notar que, em ambos os casos, o

manipulador apela para o poder.

      O último percurso, o do Destinador-julgador, é responsável pela sanção do

Sujeito, que pode ser de ordem cognitiva (interpretação) ou de ordem pragmática

(retribuição). Na sanção cognitiva, o Destinador-julgador verifica se a performance

do Sujeito está de acordo com os valores do contrato inicial estabelecido com o

Sujeito e com o sistema de valores que representa.

                     Essa operação cognitiva de leitura, ou melhor, de reconhecimento do
                     sujeito, consiste na interpretação veridictória dos estados resultantes do
                     fazer do sujeito. Os estados são, dessa forma, definidos como verdadeiros
                     (que parecem e são) ou falsos (que não parecem e não são) ou mentirosos
                     (que parecem e não são) ou secretos (que não parecem, mas são), e o
                     destinador neles acredita ou deles duvida (Id., 1999, p. 33).



      Já na sanção pragmática, verifica-se se o Sujeito realizou os compromissos

assumidos no contrato. Em caso positivo, há uma recompensa; em caso negativo, o

Sujeito sofre a punição. O consumidor que aceitar o contrato do Destinador-

manipulador e comprar o produto terá como recompensa a boa forma física, ou pelo
menos a ilusão de estar trabalhando para consegui-la. O consumidor que não

cumprir o contrato permanecerá gordo, ou terá a sensação de não ter agido da

maneira correta para emagrecer.

      Ao contrário da semântica fundamental, onde os valores são virtuais, sem

serem assumidos por um sujeito, na semântica narrativa os valores são reais e

aparecem ligados a um sujeito. A busca do Objeto de valor pelo Sujeito estabelece

uma relação de regência entre eles. O Sujeito quer ou deve algo: querer/poder-ser,

querer/poder-fazer,   dever/poder-ser,        dever/poder-fazer.       Essa      relação     entre

predicados, conforme explica Courtés, é a modalização.

                      [...] pode-se estabelecer uma linha de demarcação entre o querer, por um
                      lado, e o saber e o poder, por outro. O querer, com efeito, instaura o sujeito
                      como tal, enquanto o saber e o poder estão diretamente ordenados ao
                      fazer: em outros termos, a modalidade do querer, por caracterizar o eixo
                      sujeito-objeto, incidiria mais sobre a relação de estado (conjuntiva,
                      disjuntiva ou de suspensão), enquanto o saber e o poder se inscreveriam
                      ao nível do fazer transformador (que assegura a passagem de uma relação
                      de estado para um outro diferente). (1979, p. 97).



      Querer, dever, poder e saber são objetos modais, cuja aquisição é necessária

para a realização da performance. As modalizações podem ser do /ser/ ou do /fazer/.

As primeiras são responsáveis pelas modalizações dos enunciados de estado, e

atribuem existência modal ao sujeito de estado (BARROS, 1999, p. 42). Assim, a

relação entre o Sujeito consumidor e o valor magreza é desejável e possível, já que

o consumidor quer e pode ser magro, desde que cumpra o contrato proposto pelo

Destinador anunciante.

      Já as modalizações do fazer são responsáveis pela competência do Sujeito

para realizar a transformação do seu estado. Como foi visto anteriormente, os

objetos modais são dados pelo Destinador ao Sujeito para que haja a passagem de

um estado a outro, para que o Sujeito fique conjunto com seu Objeto de valor. No
caso do anúncio publicitário, o Destinador sociedade instaura um dever-fazer e o

Destinador anunciante instaura um poder-fazer (ser magro) no Sujeito consumidor.

      Esse valor buscado pelo Sujeito é um Objeto de valor, com o qual se entra em

conjunção ou disjunção na performance principal (FIORIN, 2000, p. 28). Em resumo,

no anúncio do produto dietético tem-se um Objeto de valor /magreza/ buscado por

um Sujeito /consumidor/, destinado por um Destinador /anunciante/. O Sujeito é

instaurado de um /querer/ por ele mesmo, de um /dever/ pela sociedade, de um

/poder-saber/ pelo anunciante (que informa as propriedades dietéticas do produto) e

de um /poder-fazer/, também pelo anunciante. De acordo com Madeira (1996, p. 63-

64), o discurso publicitário, em geral, tem como processo básico de realização as

instâncias informativas, onde a modalização ocorre através do /poder-fazer-saber/, e

formativas, com a modalização /poder-fazer-querer/. Informação e formação

permanecem, então, indissociáveis no processo. No entanto, com base nos

exemplos utilizados nesse trabalho, pode-se ampliar a modalização comum na

publicidade a um /poder-fazer-fazer/, que é a instância máxima da manipulação.




2.6.3 Nível discursivo




      Quando a narrativa chega até a superfície, ao nível de manifestação, temos a

passagem para as estruturas discursivas, o nível mais superficial do percurso

gerativo da significação. Segundo Barros (1999, p. 53), “as estruturas discursivas

são as mais específicas, mas também mais complexas e ‘enriquecidas’

semanticamente, que as estruturas narrativas e fundamentais".
É no nível discursivo que o enunciador transmite seus sistemas de valores

para o enunciatário através das informações que passa, com o objetivo de

convencê-lo, persuadi-lo. As estruturas narrativas convertem-se em discursivas

quando podemos perceber a presença do sujeito da enunciação no enunciado. É ele

quem escolhe os temas e figuras que revestem os valores abstratos da narrativa,

que define os atores para os papéis actanciais, que determina as relações entre

pessoa, tempo e espaço e a enunciação. Na discursivização, podemos perceber os

processos utilizados pelo enunciador para a manipulação do enunciatário.

      A sintaxe discursiva aborda a relação entre a enunciação e o enunciado. A

enunciação é o processo de produção do discurso, pressuposta pela existência do

enunciado. A existência de um enunciado traz à tona a presença de um enunciador,

que realiza um fazer persuasivo e de um enunciatário, que realiza um fazer

interpretativo. A relação entre essas instâncias dá margem ao estudo da embreagem

e da debreagem, que são vistas de forma diferente por Fiorin e Pais.

      Para Fiorin (2000, p. 41), na debreagem projeta-se no enunciado tanto a

pessoa (eu/tu), o tempo (agora) e o espaço (aqui) da enunciação, quanto a pessoa

(ele), o tempo (então) e o espaço (lá) do enunciado. No primeiro caso (projeção do

eu-aqui-agora), ocorre uma debreagem enunciativa; no segundo caso (projeção do

ele-então-lá), ocorre uma debreagem enunciva.

      As debreagens enunciativa e enunciva estão relacionadas com os processos

de aproximação e distanciamento do discurso em relação à enunciação. Como todo

discurso procura persuadir o enunciatário de que seu conteúdo é verdadeiro, estes

mecanismos têm a finalidade de criar a ilusão de verdade. Quanto mais distante

estiver o discurso da enunciação, maior a sensação de objetividade.

                     Existem, como bem se sabe, recursos que permitem ‘fingir’ essa
                     objetividade, que permitem fabricar a ilusão de distanciamento, pois a
                     enunciação, de todo modo, está lá, filtrando por seus valores e fins tudo o
que é dito no discurso. O principal procedimento é o de produzir o discurso
                     na terceira pessoa, no tempo do ‘então’ e no espaço do ‘lá’ (BARROS,
                     1999, p. 55, grifo da autora).

      Ao contrário da debreagem enunciva, a debreagem enunciativa em primeira

pessoa produz o efeito de subjetividade, aproximando a enunciação do enunciado. A

debreagem enunciva é muito freqüente no discurso da imprensa, que deve manter-

se imparcial em relação aos fatos narrados. A debreagem enunciativa, por sua vez,

está mais presente na literatura, na poesia. No discurso publicitário, no entanto,

observamos a presença de ambos os procedimentos com o mesmo fim persuasivo.

Os anúncios publicitários falam de forma objetiva, aconselhando, mostrando as

qualidades de um produto, como se não tivesse nenhuma relação com ele. É a

busca do efeito de neutralidade em relação ao que se diz, falso pela presença de um

conflito de interesses. Mas a busca da persuasão também pode ser feita através do

uso do discurso subjetivo, quando a publicidade coloca o próprio anunciante para

falar sobre o que está sendo anunciado.

      Outro processo utilizado para a criação de um efeito de realidade é a cessão

da palavra a um interlocutor em discurso direto. Chama-se debreagem interna, e

acontece na publicidade quando o anúncio usa o testemunho de uma pessoa real,

conhecida do público. O fator persuasivo vem da referência ao real, já que a pessoa

existe mesmo, e por ser famosa, é considerada formadora de opinião. Já a

embreagem, é “o mecanismo em que ocorre uma suspensão das oposições de

pessoa, de tempo ou de espaço” (FIORIN, 2000, p. 52).

      Seguindo a visão de Pais sobre os procedimentos de embreagem e

debreagem, Batista (2001, p. 152) coloca que estas duas operações também têm o

objetivo de criar a ilusão de verdade, mas diferente de Fiorin, o procedimento da

embreagem enunciativa considera a proximidade do Sujeito, lugar e tempo,
enquanto que a debreagem enunciativa define-se pelo distanciamento do Sujeito e

corresponde a um não-eu, não-aqui e não agora.

      O processo de persuasão do discurso passa pela relação das estratégias

argumentativas, utilizadas pelo enunciador para fazer com que o enunciatário creia.

A linguagem, portanto, é a estratégia argumentativa do discurso, da qual o

enunciador se utiliza para atingir seu objetivo e a partir da qual o enunciatário

realizará a interpretação. Segundo Fiorin (2000, p. 53), todo discurso é persuasivo,

portanto, argumentativo, daí a impossibilidade de separar os discursos em

argumentativos ou não argumentativos.

      A persuasão acontece a partir de um contrato estabelecido entre o enunciador

e o enunciatário. O enunciador pode trabalhar com a verdade ou com a falsidade,

com o dito e o não-dito. Cabe ao enunciatário interpretar e crer ou não crer, e

perceber o que realmente está sendo dito ou a presença do que não foi dito. Este

processo, por mais intrincado que pareça, é o que desperta a atenção do

enunciatário para o discurso, através do estranhamento provocado pela utilização

não-tradicional da língua, seja no seu aspecto lógico, semântico, sintático,

morfológico ou fonológico. Na prática, no discurso publicitário temos a utilização das

figuras de retórica, como a antítese e a ironia, a metáfora, a metonímia, o eufemismo

e a hipérbole, a elipse, a paronomásia, a rima, a aliteração, entre outras. Muitas

dessas figuras podem ser percebidas no plano da manifestação do discurso, que

será comentado adiante. No entanto, podemos adiantar como exemplo, no caso da

publicidade de produtos dietéticos, alguns procedimentos: a expressão "fique em

forma" pressupõe o não-dito que a pessoa não tem uma boa forma, e vai precisar do

produto que está sendo anunciado. Os termos "gordurinhas" e "cheinha", por sua

vez, são um eufemismo para gordura, gorda, obesa. A imagem de uma fita métrica e
de um vestido justo são metáforas para um corpo magro, segundo o padrão de

beleza que baseia o contrato estabelecido entre enunciador e enunciatário nesse

tipo de discurso. Portanto, segundo Barros,

                           o exame das relações entre efeitos e mecanismos é uma das etapas da
                           construção dos sentidos do texto, de seus fins e de suas 'verdades'. Dá-se
                           já um grande passo em direção ao contexto sócio-histórico e à formação
                           ideológica em que o texto se insere (1999, p. 62).



          A estrutura discursiva recobre a estrutura narrativa no nível da superfície.

Essa passagem é perceptível pela correspondência dos papéis actanciais por

atoriais e pela tematização e figurativização que revestem os esquemas narrativos

abstratos. Temos, então, a semântica discursiva.

          Por mais que haja uma sobreposição entre as duas estruturas, com relações

de subordinação, nem sempre os papéis actanciais de uma vão corresponder

exatamente aos papéis atoriais da outra. Conforme Greimas,

                                                            9
                           A relação entre ator e atuante , longe de ser uma simples relação de
                           inclusão de uma ocorrência numa classe, era dupla:

                                       A1                                                A1    A2   A3


                                 a1    a2    a3                                                a1

                           porque se um atuante (A1) podia ser manifestado no discurso por vários
                           atores (a1, a2, a3), o inverso era igualmente possível; um só ator (a1) podia
                           ser o sincretismo de vários atuantes (A1, A2, A3) (1977, p. 179).


          Retomando o anúncio de produto dietético para exemplificar este processo,

têm-se dois atores para um mesmo papel actancial de Destinador. A sociedade, cujo

padrão de beleza difundido é o da magreza, é Destinador de um /dever-ser magro/ e

o ator consumidor que lê o anúncio é Destinador de um /querer-ser magro/. Neste

último caso, vemos também que um mesmo ator, o consumidor, assume dois papéis

actanciais: o de Destinador de seu próprio querer, e o de Sujeito em busca de um

9
    Atuante corresponde a actante.
Objeto de valor (magreza). Adotando a representação gráfica proposta por Greimas,

seriam estas as relações:

               DESTINADOR                                                 consumidor



       sociedade           consumidor                          DESTINADOR                SUJEITO



       A semântica discursiva tem ainda como componentes a tematização e a

figurativização. A tematização compreende os valores abstratos do texto, que estão

expressos em palavras e sintagmas com elementos comuns de significação,

podendo ser agrupados. A redução destes grupos a elementos mínimos permite a

identificação das idéias em oposição que constituem o nível fundamental do

discurso. Já a figurativização reveste o esquema narrativo de elementos concretos,

especificando e particularizando o discurso. Neste processo, o autor escolhe as

figuras que vai utilizar para caracterizar atores, tempo, espaço e valores.

                         Nous qualifions, en effet, de figuratif tout signifié, tout contenu d'une langue
                         naturelle et, plus largement, de tout système de représentation (visuel, par
                         exemple), qui a un correspondent au plan du signifiant (ou de l'expression)
                         du monde naturel, de la réalité perceptible. [...] Par opposition ao figuratif, le
                         thématique est à concevoir comme n'ayant aucune attaché avec l'univers du
                         monde naturel: il s'agit ici de contenus, de signifiés des systèmes de
                         représentation, qui n'ont pas de correspondant dans le référent. Si le
                         figuratif se définit par la perception, le tématique, lui, se caractérise par son
                                                          10
                         aspect proprement conceptuel (COURTÉS, 1991, p. 163).



       Conforme alerta Fiorin (2000, p. 65), a oposição entre abstrato/concreto não

representa uma polarização, mas um processo contínuo no qual, de maneira

gradual, do mais abstrato chega-se ao mais concreto.


10
  Nós qualificamos, com efeito, de figurativo todo significado, todo conteúdo de uma língua natural e,
de forma mais abrangente, todo sistema de representação (visual, por exemplo), que tem um
correspondente no plano do significante (ou de expressão) do mundo natural, da realidade
perceptível. [...] Por oposição ao figurativo, o temático é concebido como não tendo nenhuma ligação
com o universo do mundo natural: trata-se aqui de conteúdos, de significados de sistemas de
representação, que não têm correspondentes junto ao referente. Se o figurativo se define pela
percepção, o temático se caracteriza pelo seu aspecto propriamente conceitual (tradução nossa).
De acordo com a predominância de temas ou figuras em um discurso, ele

pode ser classificado como temático ou figurativo. Os discursos temáticos são

interpretativos, pois através das classificações e categorizações procuram explicar a

realidade; já os figurativos são descritivos, procuram construir uma realidade através

da utilização de elementos concretos como, por exemplo, a menção à idade das

pessoas nas reportagens jornalísticas. Normalmente, esta informação não é

relevante no contexto, mas remete ao mundo real, reforçando a "imparcialidade" do

conteúdo e, por conseguinte, do veículo de comunicação.

      Na publicidade estão presentes os temas que refletem os valores abstratos do

percurso narrativo. No percurso do anúncio hipotético usado como exemplo, o tema

/boa forma/ ou /magreza/ é um valor a ser conquistado pelo Sujeito. O percurso

narrativo que vai do estado /gordo/ para /magro/ poderia ser tematizado pela

realização de exercícios físicos. No entanto, como o anúncio é de um produto

dietético, a promessa é de que o consumidor só precisa dele para emagrecer.

Assim, o percurso descrito é tematizado na forma do consumo deste tipo de produto.

As figuras que poderiam ser utilizadas para se chegar a esse tema são, conforme já

descrito anteriormente, a fita métrica, a imagem de uma mulher magra, um vestido

justo, uma pena, cores claras, as palavras "leve", "magra", "boa forma", "diet", "light"

e até termos mais amplos, apropriados pela publicidade para dar credibilidade à sua

promessa, como "vida saudável" (buscar a boa forma pode ser futilidade, mas

buscar uma vida saudável é relevante).

      Assim como na relação entre atores e actantes, onde um ator pode ser a

representação de vários actantes, e um papel actancial pode ser assumido por

vários atores, um elemento figurativo pode servir a vários temas, da mesma maneira

que um tema pode ser formado por várias figuras. No caso da invariabilidade da
figura, a percepção do tema no qual está inserida vai depender do contexto da

discursivização. O arroto, no Brasil, é considerado gesto de má-educação. Em

alguns países do oriente médio, no entanto, é sinal de polidez, de apreciação da

refeição. No nível axiológico, o arroto é disfórico na cultura brasileira, e eufórico na

cultura médio-oriental. Essas relações podem ser visualizadas no quadro abaixo:

       Figura: arroto

                                           Brasil   Oriente Médio
                         Axiologia        disfórico    eufórico
                          Tema          má-educação    polidez


       Na relação oposta, quando um tema é constituído por várias figuras

diferentes, temos o que Courtés (1991, p. 167) chama de discurso parabólico: um

mesmo conceito é ilustrado por diversas figuras, onde a austeridade do tema dá

lugar ao prazer do figurativo. Conforme o autor francês, o discurso parabólico, pela

sua força de persuasão, é muito utilizado não só no mito, no conto, na religião, mas

também no discurso político e no publicitário. Quanto a este último, pode-se retomar

o exemplo do anúncio do produto dietético para exemplificar o processo. Existe um

tema - a boa forma - e várias figuras que ilustram essa promessa, conforme já citado

acima: a fita métrica, a imagem de uma mulher magra, um vestido justo, uma pena,

cores claras, as palavras "leve", "magra", "boa forma", "diet", "light".

       As figuras utilizadas para a ilustração de um tema são escolhidas pelo

enunciador. Há figuras, no entanto, que já são intimamente relacionadas com um

determinado tema. São os símbolos, elementos concretos a veicular um conteúdo

abstrato (FIORIN, 2000, p. 69). Essa noção, aplicada ao papel da figura em relação

ao tema, segue a linha semiótica de Pierce, que define o símbolo como um dos tipos

de signos cuja relação com o referente é arbitrária e convencional (PIGNATARI,

1992, p. 25).
Barros (1992, p. 25) também retoma a semiótica de Peirce ao identificar um

outro tipo de figura, o ícone, signo que possui semelhança ou analogia com o seu

referente. Para a autora, esse processo no discurso tem a função de ancoragem, de

construção do efeito de realidade, para tornar o discurso crível.

                      Na iconização [do discurso], mas também nas demais etapas da
                      figurativização, o enunciador utiliza as figuras do discurso para levar o
                      enunciatário a reconhecer 'imagens do mundo' e, a partir daí, a acreditar na
                      'verdade' do discurso, graças, em grande parte, ao reconhecimento de
                      figuras do mundo (1999, p. 72).



      Os ícones, sob esse aspecto, são informações reais sobre espaço, tempo e

também sobre o sujeito. Como exemplo na publicidade, podemos citar as

campanhas da empresa de cosméticos Natura, cuja estratégia de comunicação

consiste em mostrar mulheres "reais" (que não sejam modelos), apresentando, ao

lado de suas fotografias, informações como idade e profissão. A empresa, enquanto

enunciatária, deseja com isso dar credibilidade aos seus produtos, mostrando

mulheres "normais", belas de acordo com a idade que têm.

      Ampliando ainda mais a contribuição de Peirce para a classificação das

figuras com base na sua teoria semiótica, pode-se considerar a presença do índice,

o terceiro tipo de signo. O índice "mantém uma relação direta com o seu referente,

ou a coisa que produz o signo" (PIGNATARI, 1992, p. 25). Na publicidade, um

exemplo de índice é a utilização de aroma de pizza em determinada campanha de

outdoor veiculada pela Pizza Hut. A figura do cheiro ilustra o percurso temático do

sabor e é índice na medida em que tem relação direta com a pizza que o produziu.

      Uma outra relação entre tema e figura pode ser percebida na metáfora,

conforme a concepção de Courtés (1991, p. 169). Para o autor, existe na metáfora

uma relação entre duas figuras que é mediada por outra figura ou por um tema. A

metáfora "rosa" para "moça" passa pelo tema "beleza". Já na frase "Cette faucille
d'or dans le champ des étoiles"11, a metáfora de "foice" para "lua" reconhece-se pela

cor e forma que ambas têm em comum. A figura produto da metáfora, no entanto,

vai ilustrar um tema. O tema, ilustrado por uma figura produto de metáfora, pode se

encaixar na concepção de Barthes (1975, p. 131) para o mito. Segundo o autor, o

mito é um sistema de comunicação, uma mensagem, cuja estrutura pode ser

representada da seguinte maneira:

               significante       signficado
                        significante             significado
                                          MITO


          Mitos, também, são projeções da alma que emanam da psique inconsciente,

e representam sonhos coletivos, aspirações instintivas, sentimentos e padrões de

pensamento da humanidade, conforme o pensamento de Jung interpretado por

Randazzo (1997, p. 11). Desta forma, tem-se o mito como o tema projetado na

discursivização, algo que os consumidores reconhecem e do qual precisam.

Considerando o anúncio de produto dietético como exemplo, o tema /boa forma/

pode ser expandido para /beleza/, cujo caráter mitológico é patente. Em relação à

imagem de uma fita métrica, o significante seria a foto do objeto e o significado seria

o objeto para tirar medidas. Essa combinação de significante-significado, na

estrutura mitológica de Barthes, daria origem a um significante fita métrica, que por

sua vez teria como significado a /magreza/. O signo oriundo dessa estrutura seria,

então, a /boa forma/, a /beleza/.

          Apesar de cada tipo de figura ser analisada isoladamente, sua apreensão no

texto decorre de uma análise em conjunto, da percepção de um percurso figurativo,

conforme explica Fiorin:


11
     Esta foice de ouro no campo de estrelas.
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ADRIANA TULIO BAGGIO O ESPETÁCULO SEMIÓTICO DA PUBLICIDADE QUE NÃO DIZ SEU NOME: ASPECTOS DA TEMÁTICA HOMOSSEXUAL NA PUBLICIDADE BRASILEIRA. JOÃO PESSOA 2003
  • 2. ADRIANA TULIO BAGGIO O ESPETÁCULO SEMIÓTICO DA PUBLICIDADE QUE NÃO DIZ SEU NOME: ASPECTOS DA TEMÁTICA HOMOSSEXUAL NA PUBLICIDADE BRASILEIRA. Dissertação de Mestrado realizada por Adriana Tulio Baggio e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, área de concentração Lingüística e Língua Portuguesa, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Orientadora: Professora Dra. Maria de Fátima Barbosa de M. Batista. JOÃO PESSOA 2003
  • 3. TERMO DE APROVAÇÃO Adriana Tulio Baggio O espetáculo semiótico da publicidade que não diz seu nome: aspectos da temática homossexual na publicidade brasileira. Dissertação aprovada como requisito para obtenção do título de mestre em Letras, área de concentração Lingüística e Língua Portuguesa, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Aprovação: João Pessoa, _____ de ________________________ de ________. __________________________________ Professora Orientadora Profª. Dra. Maria de Fátima Barbosa de Mesquita Batista - UFPB _____________________________________ Prof. Dr. Cidmar Teodoro Pais - USP ______________________________________ Profª Dra. Ivone Lucena – UFPB ______________________________________ Profª. Dra. Maria Aparecida Barbosa – USP (suplente)
  • 4. Dedico este trabalho a meus pais, por todo o apoio, estímulo e incentivo que deram a mim e a meu irmão para que pudéssemos chegar onde estamos hoje. A Idalina e Dionor, que não estão mais aqui, mas que ficariam felizes por essa conquista.
  • 5. AGRADECIMENTOS A realização desta dissertação de mestrado contou com a ajuda de muitos. Gostaria de agradecer especialmente à Professora Fátima Batista, pela generosidade, competência e disponibilidade com que orientou esse trabalho. À minha mãe, pelo auxílio na revisão. A Otacílio Vaz, pelo companheirismo, amor e paciência durante os altos e baixos de humor que redigir uma dissertação provoca. A Ferrugem, pela companhia afetuosa e incondicional. Ao professor Marcos Nicolau, pelo auxílio no início do processo que agora se encerra. A todas as pessoas – familiares, amigos, colegas, alunos e professores – com quem compartilhei experiências e que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a realização deste trabalho. A Deus.
  • 6. Somewhere, over the rainbow, way up high, There's a land that I heard of once in a lullaby. Somewhere, over the rainbow, skies are blue, And the dreams that you dare to dream really do come true. Over the rainbow, cantada por Judy Garland em O mágico de Oz. (1939)
  • 7. RESUMO Este trabalho aborda aspectos da temática homossexual, especificamente a homossexualidade masculina, presente na publicidade brasileira. A análise dos anúncios publicitários foi feita com base na semiótica da significação proposta por Hjelmslev, Greimas e Courtés e desenvolvida pelos sociossemioticistas brasileiros, entre eles Cidmar Teodoro Pais. Foram analisados seis anúncios veiculados em revistas dirigidas e não-dirigidas ao público homossexual. Complementando a semiótica, foram apresentados embasamentos teóricas sobre o discurso publicitário e sobre a homossexualidade. O estudo dos níveis fundamental, narrativo e discursivo, possibilitou observar as figuras que caracterizam a temática homossexual e os aspectos relacionados à presença desta temática nos anúncios. Ao fim deste trabalho, foi possível identificar os elementos que figurativizam a homossexualidade e identificar o público-alvo de cada anúncio como homossexual masculino ou não. Constatou-se que a temática homossexual não está obrigatoriamente relacionada com o público-alvo gay. Percebeu-se, também, a ideologia presente no discurso, que apresenta uma imagem do homossexual ainda não completamente dissociada de preconceitos. Palavras-chave: sociossemiótica, publicidade, homossexualidade.
  • 8. RÉSUMÉ Ce travail traite d'aspects de la tématique homossexulle, spécifiquement la homossexualité masculine, present dans la publicité brésilienne. L'analyse des annonces publicitaires a été faite à partir de la sémiotique da la signification qui a été proposée par Hjelmslev, Greimas et Courtés et developpé par les sociossemioticistes brésiliens, entre eux Cidmar Teorodo Pais. On a été analysés six annonces qui s'ont faits imprimés dans les magazines spécifiques et non-spécifiques du public homossexuel. En complement à la théorie sémiotique, on a été présentés des théories de la publicité et de la homossexualité. L'étude des niveaux fundamental, narrative et discursive a permet regarder des figures qui caractérisent la tématique homossexuel et ces aspects dans les annonces. Au bout de ce travail, on a été possible identifier des éléments figuratifs de la homossexualité et identifier le public de chaque annonce comme homossexuel masculin ou non-homossexuel. On a été possible de constater qui la tématique homossexuelle n'est pas obligement liée avec le public gay. On a perçu, aussi, l'idéologie présent dans le discours, qui montre une image du homossexuel ainsi non complement séparé des préjugés. Mots-clés: sociossemiotique, publicité, homossexuallité.
  • 9. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................10 2 A SEMIÓTICA....................................................................................................17 2.1 Origens do estudo do signo: da Antigüidade Clássica a Peirce. .........18 2.2 A teoria de Saussure e suas dicotomias. ...............................................21 2.3 Hjelmslev: o ponto de partida para o pós-estruturalismo .....................24 2.4 A semiótica da significação .....................................................................27 2.5 Tipologia dos sistemas semióticos.........................................................32 2.6 Percurso gerativo da significação...........................................................33 2.6.1 Nível fundamental ou profundo ............................................................34 2.6.2 Nível narrativo......................................................................................37 2.6.3 Nível discursivo....................................................................................44 3 O DISCURSO PUBLICITÁRIO ..........................................................................57 3.1 Publicidade e Indústria Cultural ..............................................................59 3.2 A publicidade na sociedade do espetáculo ............................................61 3.3 O paradoxo entre a massificação e a segmentação ..............................63 3.4 Recursos de atratividade no discurso publicitário ................................66 3.5 O comportamento do consumidor ..........................................................68 4 A HOMOSSEXUALIDADE ................................................................................72 4.1 Do crime à aceitação ................................................................................77 4.2 O homossexual na mídia: um reflexo da sociedade ..............................86 4.3 O universo homossexual: elementos, símbolos e figuras. ...................92 4.4 O consumidor gay: um atraente mercado em crescimento ................105
  • 10. 4.5 A publicidade dirigida ao público homossexual ..................................107 4.6 A temática gay na publicidade...............................................................111 5 CORPUS..........................................................................................................115 5.1 Descrição dos anúncios.........................................................................116 5.1.1 Anúncios veiculados em revistas dirigidas ao público homossexual .116 5.1.2 Anúncios veiculados em revistas não dirigidas..................................118 6 ANÁLISE DOS ANÚNCIOS.............................................................................120 6.1 Anúncio 1 (ANEXO A) - preservativo Prosex........................................120 6.2 Anúncio 2 (ANEXO B) – companhia aérea South African Airways.....136 6.3 Anúncio 3 (ANEXO C) - agência de turismo Papyon ...........................147 6.4 Anúncio 4 (ANEXO D) – telefone celular Motorola...............................152 6.5 Anúncio 5 (ANEXO E) - loja de presentes Imaginarium.......................159 6.6 Anúncio 6 (ANEXO F) - Central de Outdoor..........................................164 7 POR UMA CARACTERIZAÇÃO DA TEMÁTICA GAY NA PUBLICIDADE....169 8 CONCLUSÃO ..................................................................................................179 9 BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................184
  • 11. 1 INTRODUÇÃO O discurso publicitário, através de suas especificidades, constitui dos produtos mais representativos de determinada cultura. Por ter como objetivo primordial a venda do produto, serviço ou idéia anunciada, todos os recursos nele utilizados convergem para a realização desse propósito. Como esse processo acontece pela identificação entre o público e mensagem do anúncio, é fundamental que o discurso publicitário espelhe a sociedade que o produz e para a qual se dirige. Por todos os aspectos mencionados, o discurso publicitário é um espetáculo formado por figuras verbais, imagéticas e gestuais, onde o sincretismo semiótico é o recurso da atratividade. O objetivo da espetacularização é tornar o discurso atrativo, para que possa fazer-crer, fazer-querer/dever e fazer-fazer, ou seja, seduzir, persuadir e manipular. Os valores presentes no nível narrativo e os temas e figuras do nível discursivo, não são utilizados aleatoriamente. As escolhas feitas nesses níveis refletem o perfil do enunciatário e visão de mundo, ambos a partir do ponto de vista do enunciador. No discurso publicitário, o enunciador é sempre o anunciante, uma instância social legítima. O discurso do anunciante, então, autorizado pela sociedade, representa o ponto de vista dessa sociedade. O discurso publicitário, enquanto técnica para vender, tem sua função no contexto de uma atividade mais abrangente, o marketing que, por sua vez, procura estabelecer uma relação entre a empresa e o público-alvo onde ambos obtenham o resultado esperado. O cliente ganha a solução para suas necessidades, através do
  • 12. consumo, e a empresa obtém o lucro que permite o seu funcionamento no modo de produção capitalista. A sobrevivência das empresas neste sistema já foi mais fácil. No princípio da Revolução Industrial, havia uma relação entre oferta e demanda extremamente vantajosa para as empresas, que hoje foi invertida. Alguns mercados já estão saturados, ou próximos da saturação. Mesmo no Brasil, considerado um mercado com grande potencial de consumo, as marcas começam a buscar formas de ampliar o seu público-alvo. Esse é apenas um dos fatores que influenciam o recente direcionamento dos esforços mercadológicos e de comunicação para públicos até então marginalizados. Um segundo fator que contribui para essa nova visão mercadológica é uma maior elasticidade nas relações sociais. Vários tabus estão sendo quebrados, inclusive aqueles que se referem a um dos principais valores da nossa sociedade: a sexualidade. Instâncias até pouco tempo inquestionáveis, como a constituição da família, o casamento e a geração de filhos estão sendo revistas frente às novas descobertas científicas e aos novos papéis sociais de homens e mulheres. O preconceito vem sendo criticado em todas as suas formas, permitindo que cada um viva sua vida de acordo com suas opções religiosas, políticas e sexuais. A luta contra o preconceito vem amparada por uma maior preocupação com os direitos humanos, direitos civis e direitos do consumidor, que representam o terceiro fator nesta lista. A ocorrência destes três movimentos permite que diversos grupos caracterizados como minorias passem a assumir abertamente sua condição e exijam maior respeito e atenção por parte da sociedade civil, do poder público e também do mercado. Um desses grupos é o de homossexuais.
  • 13. O mercado, principalmente, tem motivos concretos para não desprezar o homossexual enquanto consumidor. Em geral, os homossexuais têm um ótimo potencial de compra: não têm filhos nem família, preocupam-se com a imagem e têm necessidade de ampliar seus conhecimentos. Todas essas características fazem do público gay um grupo consumidor que as marcas querem conquistar. Como os homossexuais masculinos têm uma visibilidade social maior, os esforços publicitários mais explícitos são dirigidos a eles. O caminho para a conquista do consumidor homossexual passa pela publicidade. No entanto, os homossexuais são um público distinto, com desejos e necessidades específicas que, só nos últimos tempos, vêm sendo reconhecidos e estudados. É preciso usar linguagens e estratégias que abordem os valores e signos do universo gay. De forma empírica, é possível perceber a abordagem desse universo em alguns anúncios publicitários contemporâneos, tanto os que divulgam produtos e serviços específicos desse público, quanto os que divulgam produtos e serviços de consumo geral. Apesar da sutileza empregada na maioria das vezes, a identificação da temática homossexual é perceptível porque os elementos desse universo fazem parte de um recorte cultural, de um saber popular que não é documentado nem registrado, mas que permeia as conversas, as piadas, os programas humorísticos produzidos na nossa cultura. Parafraseando a expressão "o amor que não diz seu nome", cunhada pelo escritor inglês Oscar Wilde para se referir à homossexualidade, a publicidade analisada por este trabalho é a publicidade que não diz seu nome, ou seja, é o discurso publicitário que apresenta a temática homossexual, mas não de forma explícita. O objetivo deste trabalho é analisar os recursos lingüísticos, gestuais e imagéticos que a publicidade utiliza para representar a temática homossexual,
  • 14. levando em conta as especificidades do comportamento do homossexual masculino enquanto segmento de público consumidor. Pretende-se, também, analisar os aspectos da presença da temática homossexual masculina na publicidade, avaliando se os anúncios que apresentam essa temática são realmente dirigidos ao público gay e identificar os valores e a ideologia presentes nesses discursos. Em primeiro lugar, parte-se da hipótese de que, para falar com o público homossexual de maneira efetiva, isto é, gerando uma ação que leve à compra, a publicidade utiliza recursos diferenciados. Esses diferenciais estariam presentes na linguagem utilizada pelo discurso publicitário. Através da análise dos valores, temas e figuras presentes no discurso, é possível identificar se determinado anúncio destina-se ao público homossexual masculino ou não. Como, apesar de todos os avanços, ainda não é possível falar de maneira clara e aberta sobre o universo homossexual na publicidade, a linguagem utilizada é mais sutil. Ao mesmo tempo em que não choca, essa linguagem cumpre o seu papel ao estabelecer uma comunicação com o público gay. Por último, devido às rápidas mudanças nos paradigmas sociais, o fato de um anúncio apresentar uma temática homossexual não garante que o público-alvo seja esse. O corpus deste trabalho constitui-se de anúncios veiculados em revistas dirigidas ao público homossexual masculino e revistas não-dirigidas. A amostragem examinada, escolhida aleatoriamente, compreende seis anúncios que apresentam temática homossexual. São peças publicitárias que divulgam produtos ou serviços das seguintes empresas: Prosex (anúncio 1), South African Airways (anúncio 2), Papyon (anúncio 3), Motorola (anúncio 4), Imaginarium (anúncio 5) e Central de Outdoor (anúncio 6). Os anúncios foram publicados, respectivamente, nas revistas G Magazine, ano 5, número 59, agosto de 2002, editada pela Fractal Edições;
  • 15. Homens, ano 5, número 46, junho de 2001, editada pela SG Press; G Magazine novamente; Oi, ano 1, número 1, outubro/novembro de 2002, editada pela Selulloid AG Comunicação; TPM, ano 2, número 21, maio de 2003, editada pela Trip Editora; Meio&Mensagem, ano XXIV, número 1005, abril de 2002, editada pela M&M Editora. As duas primeiras, onde foram veiculados três anúncios, são aquelas dirigidas ao público homossexual. O corpus do trabalho foi analisado através da semiótica da significação proposta por Hjelmslev e desenvolvida por Greimas e Courtés e complementada pelos estudos dos sociossemioticistas brasileiros, entre eles Cidmar Teodoro Pais. Como metodologia para a análise, os textos dos anúncios foram divididos nas três estruturas do discurso - nível fundamental, nível narrativo e nível discursivo – a fim de identificar os valores presentes na narrativa, os temas e figuras que os revestem e a ideologia contida no discurso. A sociossemiótica foi a teoria adotada porque difere das outras correntes semióticas ao considerar os discursos não-literários, permitindo assim a identificação dos traços socioculturais, das ideologias, dos sistemas de valores das comunidades, onde o discurso é produzido através da situação de comunicação entre um enunciador e um enunciatário, cujo produto é um texto. Como teoria complementar, foram estudados textos que abordam o discurso publicitário e seu papel enquanto discurso produzido socialmente, possibilitando perceber suas motivações e especificidades de produção e enunciação. Também foram levantados conceitos sobre a temática homossexual, especialmente a homossexualidade masculina, permitindo o entendimento do comportamento, estilo de vida e características do homossexual enquanto consumidor. O trabalho conta ainda com informações obtidas através de depoimentos de profissionais ligados à
  • 16. atividade publicitária e aos movimentos organizados de defesa dos direitos dos homossexuais. Analisar o discurso publicitário sem levar em conta o contexto que o produz não permite apreender todos aspectos envolvidos na sua construção. É por isso que a análise sociossemiótica torna-se adequada à proposta aqui desenvolvida, porque considera o processo de enunciação. Na enunciação, estão presentes não somente o enunciado isolado, mas também o enunciador, o enunciatário e as condições em que essa enunciação se dá. Todos esses fatores importam na análise de um discurso, mas quando esse discurso é o publicitário, a presença deles é ainda mais significativa. O discurso publicitário representa muito mais do que uma ferramenta de marketing das empresas. É um produto social e, por isso mesmo, reflete em suas entrelinhas a visão socialmente aceita e legítima sobre determinado assunto. Ao abordar a publicidade dirigida ao público homossexual masculino, esse trabalho apresenta não apenas os valores, temas e figuras que fazem parte da temática gay, mas também a visão da nossa sociedade em relação à homossexualidade. Os resultados das análises aqui realizadas podem ajudar os profissionais da área publicitária a identificar a melhor maneira de falar com o público homossexual. Mais do que isso, no entanto, esse trabalho pode auxiliar a provocar uma reflexão sobre as atitudes da sociedade em relação à homossexualidade. Pode, também, lançar uma luz sobre o tema da homossexualidade, esclarecendo quem ainda tem opiniões pré-concebidas. Como a ignorância quase sempre está na origem do preconceito, talvez o conhecimento seja um dos caminhos para se chegar ao respeito. Após esta introdução, o trabalho apresenta mais oito capítulos: teoria semiótica, teoria da publicidade e teoria da homossexualidade; descrição do corpus; análise dos anúncios; caracterização da temática homossexual na publicidade;
  • 17. conclusão; referências bibliográficas. Por fim, os anexos com reproduções dos anúncios analisados.
  • 18. 2 A SEMIÓTICA Até chegar ao conceito moderno de ciência da significação, que serve de base para a realização deste trabalho, o estudo da semiótica passou por diversas fases. Suas origens estão no estudo do signo na Antigüidade Clássica, como a estrutura triádica proposta por Platão e a relação de implicação estudada por Aristóteles. Mais tarde, o signo torna-se objeto dos estudos de teólogos como Santo Agostinho, que observava sua relação arbitrária com as coisas do mundo que designava e o incluía nos estudos teológicos. O Renascimento traz à tona a visão antropocêntrica do mundo e o estudo do signo retoma as concepções da Antigüidade Clássica, deixando de lado o conceito metonímico em relação ao que designava e assumindo um caráter representativo do objeto no mundo real. Mais recentemente, Charles Sanders Peirce e Ferdinand de Saussure sistematizam o estudo do signo que levaria às concepções modernas da semiótica. Enquanto Peirce concebe o signo triádico, de acordo com o modelo platônico, Saussure retoma a linha dos gramáticos de Port-Royal, que o viam como interdependente de ligação com o mundo natural, sendo construído somente como um conceito e uma idéia mental de representação. É com base na teoria saussureana que Louis Hjelmeslev desenvolve o seu modelo que, por sua vez, servirá de fundamento para a teoria semiótica de Greimas, Courtés e Rastier: sua concepção permitirá a análise não somente do signo isolado, mas do conjunto de signos que formam um texto e de suas condições de produção. O texto, por sua vez, enquanto manifestação do discurso, adota a visão peirciana (já encontrada nos estudos antigos, como o de Santo Agostinho), deixando de ser apenas verbal e
  • 19. estendendo sua noção a outros sistemas semióticos, não-verbais ou sincréticos. Assim, a semiótica passa a ser entendida como uma ciência que estuda não um sistema de signos, mas um sistema de significação. Para melhor expor o caminho percorrido pela semiótica até chegar às formulações que são consideradas neste trabalho, será exposto em seguida um detalhamento de cada fase do estudo do signo, com ênfase nas concepções de Saussure, Hjelmslev e dos teóricos da Escola de Paris. 2.1 Origens do estudo do signo: da Antigüidade Clássica a Peirce. O termo semiótica tem origem no vocábulo grego semêion, que pode ser traduzido como signo, sema ou sinal. A diversidade de possíveis significados para esse termo talvez seja a origem da confusão que se faz entre a semiótica e outras ciências afins, como a semântica e a semiologia. Ao longo da evolução do estudo da semiótica, foi possível separar as áreas de competência de cada uma dessas ciências e, ao mesmo tempo, perceber suas relações de intersecção. A semiótica teve como base o estudo do signo na Antigüidade Clássica. Platão observou vários aspectos da teoria dos signos, como a significação e a estrutura triádica do signo, composta pelo nome (ónoma, nómos), a idéia (eîdos, logos, dianóema) e o referente (prágma, ousía), a coisa a qual o signo se refere. Aristóteles, por sua vez, definiu o signo como uma relação de implicação e considerou-o uma premissa que leva a uma conclusão. Para Aristóteles, a estrutura do signo também é triádica, composta por symbolon, o signo lingüístico, pathéma, o
  • 20. signo convencional das afecções da alma e prágmata, as afecções enquanto retratos das coisas (NÖTH, 1998, p. 27-29). Mais tarde, enquanto os estóicos retomam a tríade platônica, alterando apenas o nome de cada uma das faces do signo, os epicuristas simplificam a estrutura original, propondo o signo diádico, composto pelo significante (semainon) e pelo referente (tygchamon) (BATISTA, 2001), antecipando em muitos séculos as concepções divergentes que tiveram Peirce e Saussure em relação à estrutura do signo. No fim da Antigüidade e durante a Idade Média, prevalece a noção de signo proposta por Santo Agostinho, que considerava a existência dos signos verbais, chamados convencionais e dos não-verbais, denominados de naturais. Por estar de acordo com a perspectiva teocêntrica da Idade Média, essa concepção serviu aos propósitos da igreja. Se, nessa época, Deus é concebido como centro e origem do universo, tudo que aqui existe tem relação com Ele. Assim, a palavra, enquanto signo, passa a fazer parte do que denomina, estabelecendo uma relação metonímica. Ainda segundo Batista (2001, p. 135), "provém dessa concepção medievalista o receio, ainda hoje apresentado por certas pessoas, de não pronunciarem o nome de determinadas doenças graves, como o câncer, por acreditarem que, se o fizerem, atrairão a doença para si". Antes do Renascimento, o estudo do signo realiza-se no âmbito da Teologia e da Filosofia. Influenciados pelo pensamento Aristotélico, os escolásticos concebem a ciência dos signos, ao lado de outras duas disciplinas: a filosofia natural e a filosofia moral. Data dessa época o estudo Tractatus de signis, de São Tomás de Aquino. É a partir desta obra que vai se esboçar a visão de Peirce, que entende o signo como um instrumento de comunicação e cognição.
  • 21. Com a chegada do Renascimento e a conseqüente mudança de visão teocêntrica para a antropocêntrica, o signo abandona sua relação metonímica com o objeto e passa a ser seu representante. Mais tarde, no século XVII, o racionalismo preconiza uma visão menos empírica. Os gramáticos de Port Royal retomam o modelo do signo diádico, mas excluem a relação do referente com o mundo natural. Significado e significante passam a ser modelos mentais, onde o primeiro é uma idéia mental e o segundo é a representação mental do som. Essas idéias são precursoras do modelo que viria a ser proposto por Saussure no início do século XX. Também em fins do século XIX e início do século XX surgem os estudos de Peirce, considerado por alguns o fundador da semiótica. O estudioso retoma o modelo triádico do signo, proposto por Platão na Antigüidade. Para Peirce, "signo, ou 'representame', é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém, sob certos aspectos e em certa medida" (PIGNATARI, 1991, p. 24). Estes aspectos e medidas, na estrutura sígnica, são representados pelo interpretante, ou seja, o papel do signo na mente de quem o interpreta, o que leva a uma dinâmica do processo. Os outros dois vértices são formados pelo representamen, que é o aspecto perceptível e o objeto, que é o referente no mundo real. Visualmente, a estrutura sígnica de Peirce pode ser representada da seguinte maneira: interpretante representamen objeto
  • 22. 2.2 A teoria de Saussure e suas dicotomias. Contemporâneo de Peirce, mas sem ter conhecido sua obra, o suíço Ferdinand de Saussure também concebe um modelo para o signo, só que diádico. Para Saussure, o signo seria composto de um significante e um significado, como se fossem as duas faces de uma moeda. Le signe linguistique unit non une chose et um nom, mais um concept et une image acoustique. Cette dernière n'est pas le son matériel, chose purement physique, mais l'empreinte psychique de ce son, la représentation que nous en donne le témoignage de nos sens; elle est sensorielle, et s'il nous arrive de l'appeler "materielle", c'est seulement dans ce sens et par opposition à l'autre terme de l'association, le concept, généralement plus 1 abstrait (SAUSSURE, 1986, p. 98). Visualmente, a estrutura do signo proposta por Saussure pode ser representada como se segue: significado significante A relação entre significante e significado é arbitrária. Para exemplificar esta arbitrariedade, Saussure (1986, p. 100) mostra que a idéia de soeur (irmã, em francês) não está ligada por relação alguma interior à seqüência de sons s-ö-r que lhe serve de significante; poderia ser representada da mesma forma por qualquer outra seqüência. A proposta de Saussure recebeu críticas por não considerar os objetos no mundo real e, ao mesmo tempo, por ficar subentendida a referência a eles em sua 1 O signo lingüístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta última não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica deste som, a representação que nos dá testemunho dos nossos sentidos; ela é sensorial e se a denominamos "material" é unicamente nesse sentido e por oposição a outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato (tradução nossa).
  • 23. teoria. Para exemplificar a estrutura sígnica, Saussure utilizou a palavra arbor (árvore) como significante e o desenho de uma árvore como significado que, na verdade, é uma referência ao mundo real. Outra referência ao mundo real ocorre quando Saussure, ao defender a arbitrariedade do signo, coloca como exemplo as palavras boeuf e ochs (boi, respectivamente em francês e alemão). Cada uma tem um significante, ou seja, imagem acústica, diferente – b-ö-f para o francês e o-k-s para o alemão (SAUSSURE, 1986, p. 100). O significado, teoricamente, é o mesmo, se formos considerar o objeto no mundo real. Mas, para Saussure, a relação entre significante e significado só pode ocorrer dentro de um mesmo sistema lingüístico, e cada língua representa um único sistema lingüístico. O teórico suíço foi o primeiro a considerar a língua como um sistema, uma estrutura, originando o estruturalismo lingüístico. Saussure via a língua como um sistema ou código e como um fenômeno social. Denominou o sistema lingüístico de língua (langue) e o seu uso em atos sociais orais e de textos, de fala (parole). Essa é a primeira das chamadas dicotomias saussureanas. A outra dicotomia refere-se ao processo de evolução da língua. Para Saussure, a língua é um sistema estático, imutável ou mutável somente em longo prazo. Para isolar estes fenômenos de mutabilidade, são colocados, porém isoladamente, os conceitos de diacronia e sincronia. Diacronia considera a evolução da língua na história e sincronia, sua evolução em determinado recorte de tempo. Como os lingüistas anteriores viam apenas uma evolução histórica da língua, o conceito de sincronia representou um novo paradigma no estudo da lingüística. Outra dicotomia de Saussure refere-se às relações que ocorrem dentro do sistema, que podem ser sintagmáticas e paradigmáticas. As relações sintagmáticas têm um caráter linear, como a ordem das palavras e sua sintaxe dentro da frase, por
  • 24. exemplo. Estas relações são praticamente imutáveis, caracterizadas pelo aspecto sucessivo e são próprias do ato da fala. Já as relações paradigmáticas atuam no processo mental e permitem a simultaneidade, a escolha de alternativas. Estas alternativas formam um paradigma, um grupo de palavras que podem substituir umas às outras em sua posição dentro de uma frase. O lingüista russo Roman Jakobson chamou as relações sintagmáticas e paradigmáticas reciprocamente de combinação e seleção. Para Jakobson (1975, p. 39-40), todo signo lingüístico implica estes dois modos de arranjo: combinação, já que todo o signo é composto por signos constituintes e pode aparecer em combinação com outros signos, o que dá ao signo ora um papel de contexto, ora um papel de elemento do contexto; e seleção, que é o processo onde um signo pode ser substituído por outro, mantendo a equivalência em um aspecto, mas diferenciando-se em outro. Assim, combinação e seleção compõem as duas faces de uma mesma operação. O ponto da teoria saussureana que mais tarde vai servir de base para a semiótica de Greimas, compreende as relações de diferença e oposição dentro do sistema semiológico. Assim, segundo sua teoria de valor, Os elementos de um sistema semiótico só existem pelas suas diferenças com outros signos [...] se o valor de um signo é determinado por aquilo que o rodeia e pelos signos com os quais está em oposição, isto significa que o valor do signo não vem daquilo que o signo é em si mesmo, mas do outro, ou seja, daquilo que o signo não é (NÖTH, 1999, p.40-41). Foi Saussure quem propôs que a ciência de estudo do signo tivesse o nome de semiologia, retomando a nomenclatura dada por Schulteus em 1659 para sua doutrina dos signos (BATISTA, 2001, p. 139). Para Saussure, o campo de estudo da semiologia seria o funcionamento do signo na vida social. A Lingüística faria parte dessa ciência, que estaria subordinada aos domínios da Psicologia social, parte da Psicologia geral (NÖTH, 1999, p.18).
  • 25. No entanto, a mesma ciência que os lingüistas da linha saussureana chamavam de semiologia, tinha o nome de semiótica para os ingleses e alemães. Para chegar a um acordo terminológico, estabeleceu-se em 1969, por iniciativa de Jackobson, que a semiótica designaria "um termo geral do território de investigações nas tradições da semiologia e da semiótica em geral" (NÖTH, 1998, p. 24). 2.3 Hjelmslev: o ponto de partida para o pós-estruturalismo No interior da discussão terminológica, uma outra distinção foi proposta pelo lingüista dinamarquês Louis Hjelmslev e depois adotada por Julien Algirdas Greimas: a de que semiótica refere-se a um sistema de signos com estruturas hierárquicas similares à linguagem, mesmo que sejam compostas de signos não-verbais ou sincréticos, ou seja, refere-se à significação, enquanto que semiologia abarcaria somente o estudo do signo. A semiótica, enquanto ciência da significação, tem origem na teoria desenvolvida por Hjelmslev que, por sua vez, interpreta a teoria dos signos de Saussure. Ao contrário deste, que concebeu o signo como formado por expressão (significante) e conteúdo (significado) tomados isoladamente, o teórico dinamarquês não imagina uma relação que não seja de função semiótica entre expressão e conteúdo, ou uma relação de função entre a função semiótica e os funtivos expressão e conteúdo. Para Hjelmslev (1975, p. 40), a definição de função situa-se a meio caminho entre a lógica e a matemática e o sentido etimológico do termo. Aproxima-se mais das primeiras por considerar a relação de dependência entre
  • 26. grandezas (classes) ou entre uma grandeza e seus componentes, sendo chamados de funtivos os termos entre os quais existe uma função. Considera-se também, mas com menos importância, o sentido etimológico do termo, visto que uma grandeza tem uma maneira de funcionar, representa um papel, dentro de uma cadeia. Dessa maneira, A função semiótica é, em si mesma, uma solidariedade: expressão e conteúdo são solidários e um pressupõe necessariamente o outro. Uma expressão só é expressão porque é a expressão de um conteúdo, e um conteúdo só é conteúdo porque é conteúdo de uma expressão (HJELMSLEV, 1975, p. 54) Ainda por caminhos diferentes aos trilhados por Saussure, o dinamarquês percebe um comportamento homogêneo entre expressão e conteúdo em relação à função semiótica. Tanto um quanto outro, possuem uma forma e uma substância, conforme o esquema visual abaixo: conteúdo substância SIGNO ƒ forma expressão forma substância Portanto, para Hjelmslev, o signo é, ao mesmo tempo, [...] signo de uma substância de conteúdo e de uma substância de expressão. É neste sentido que se pode dizer que o signo é signo de alguma coisa. [...] O signo é uma grandeza de duas faces, uma cabeça de Janus com perspectiva para os dois lados, com efeito nas duas direções: 'para o exterior', na direção da substância de expressão, 'para o interior', na direção da substância de conteúdo (1975, p. 62). Hjelmslev vê o sentido não apenas como privilégio do conteúdo, mas também da expressão. Assim, sentido é a "substância de uma forma qualquer" (Id., 1975, p. 57), sendo que, no plano do conteúdo, refere-se a um conceito, a uma idéia, que independe da estrutura lingüística que o manifesta. No plano da expressão, estabelece a diferença entre as línguas. Portanto, a mesma idéia em línguas
  • 27. diferentes terá o mesmo sentido de conteúdo, mas diferentes sentidos de expressão. Falar com sotaque é falar uma língua com o sentido de expressão de outra. Ainda enriquecendo os preceitos colocados por Saussure, Hjelmslev (1975, p. 51-52) considera a língua não somente como um sistema de signos, conforme proposto pelo genebrino, mas como um sistema de figuras que servem para formar signos. A linguagem, enquanto sistema de signos, deve ser capaz de produzir novos signos, novas palavras e novas raízes e também deve ser fácil de manejar, prática de aprender e de ser utilizada. Dada a existência de uma quantidade ilimitada de signos, essa capacidade só será possível se todos os signos puderem ser formados com a ajuda de não-signos, cujo número é reduzido e, portanto, fáceis de serem aprendidos e manipulados. Estes não-signos que entram como partes de signos em um sistema de signos serão chamados de figuras. Desta forma, as línguas representam mais do que sistemas de signos. Por sua estrutura interna, elas podem ser consideradas como sistemas de figuras que podem servir para formar signos. Em seus estudos, realizados durante a Segunda Guerra Mundial, Hjelmslev revê e colabora com a teoria saussureana nos aspectos da relação entre conteúdo e expressão, da língua enquanto sistema de figuras e não de signos e quando abre caminho para uma visão pancrônica da língua, ao considerar a possibilidade de produção de novos signos. Funcionando como uma ponte entre os estudos semióticos propostos por Saussure no fim do século XIX e início do século XX e os teóricos da Escola Semiótica de Paris, surgida no início da década de 1970, o dinamarquês preparou o caminho para Greimas, Courtés, Rastier e seus discípulos (entre eles o brasileiro Cidmar Teodoro Pais) proporem a ampliação do campo da semiótica aos sistemas não-lingüísticos, a noção da pancronia latu sensu e o estudo
  • 28. dos níveis de discursos semióticos. O estruturalismo lingüístico é ultrapassado, dando início ao pós-estruturalismo (BATISTA, 2001, p. 144). 2.4 A semiótica da significação A partir da proposta de Hjelmslev do estudo do plano do conteúdo separado do plano da expressão, foi possível desenvolver o estudo do sentido. No entanto, este estudo, ainda realizado no âmbito da semântica, não permitia uma análise que fosse além dos limites da frase. Por ser insuficiente, este modelo de estudo precisou ser ampliado para o conteúdo do texto. Assim, o sentido da frase é estudado enquanto parte do sentido de um texto. Sendo o texto um enunciado, produto da enunciação de um enunciador para um enunciatário, as teorias para estudá-lo dividiram-se entre aquelas que analisam a relação entre o enunciado e a enunciação e as que preferem focar a relação entre enunciador e enunciatário. No entanto, uma análise do sentido de um texto só é possível quando se consideram estas duas instâncias, já que a significação, além de apresentar uma relação de dependência entre conteúdo e expressão, é formada e manifestada durante o discurso e só se completa no percurso por inteiro, ou seja, da mente do enunciador até a mente do enunciatário. A significação, então, compreende o processo de produção, acumulação e transformação da função semiótica, ou seja, a semiose (Id., 2001, p. 146). Pais considera a sociossemiótica para o estudo da significação dos textos produzidos socialmente, como uma conversa, um aceno em um corredor e não
  • 29. apenas os textos produzidos e manifestados em condições formais, como a literatura. Ele releva o processo de produção dos signos em discursos sociais não literários. Enquanto produto do pós-estruturalismo, a sociossemiótica vê de maneira diferente as relações entre sistema e estrutura. Il s'agite donc d'une conception dynamique, ou dialectique, si l'on préfère, aussi bien du système que de la structure. Quant au système, il est conçu comme ouvert et intégrant um processus de production. C'est l'instance qui autorise les discours et qui est sous-jacente à ceux-ci. Le système se soutien alors dans um équilibre dynamique, c'est-à-dire, dans une tension dialectique entre deux forces contraires, celle de la conservation et celle de la mutation. Il ne peut donc fonctionner d'une façon satisfaisante que dans la mesure où il change, en s'articulant avec les mutations sociale et 2 culturelle. (PAIS, 1980, p. 71-72) A tensão dialética a que se refere Pais está na ordem do sistema, dos modos de produção e funcionamento do discurso. Ao mesmo tempo em que as novas necessidades de comunicação de uma comunidade sociolingüística são supridas por uma reformulação dos sistemas semióticos, através da inclusão de novos termos ou da modificação destes, a possibilidade dessa comunicação deve-se ao caráter de conservação desses sistemas, o suficiente para que haja compreensão entre o enunciador e o enunciatário. Uma outra tensão dialética está presente dentro do discurso e refere-se à dicotomia consenso/especificidade. Enquanto a especificidade permite que o enunciador relate suas experiências pessoais, transmitindo uma informação e alimentando o sistema, o consenso torna possível ao enunciatário compreender o que o enunciador quer dizer, mesmo se tratando de algo que não foi vivido por ele. Estas duas tensões dialéticas tornam o sistema dinâmico e o discurso produtivo, dando origem a uma nova dicotomia, a do sistema/discurso, onde "le système 2 Trata-se de uma concepção dinâmica, ou dialética, se for preferível, tanto do sistema como da estrutura. Quanto ao sistema, é tido como aberto e integrante de um processo de produção. É a instância que autoriza os discursos e que é subjacente a eles. O sistema, então, se sustenta em um equilíbrio dinâmico, ou seja, em uma tensão dialética entre duas forças contrárias, a da conservação e a da mutação. Ele não pode funcionar de uma maneira satisfatória a não ser na medida em que ele muda, articulando-se com as mudanças sociais e culturais (tradução nossa).
  • 30. fonctionne, en changeant, pour satisfaire aux besoins de spécificité des discours, et il ne change que pendant qu'il fonctionne3" (PAIS, 1980, p. 72). Dessa maneira, podemos perceber a concepção pancrônica do sistema lato sensu. Conforme Barbosa (1996, p. 52), o sistema semiótico permite aos membros de uma comunidade sócio-lingüístico-cultural integrar em um sistema todos os dados de suas experiências, caracterizando o grupo e definindo sua cultura, sua ideologia. Por estar em permanente mudança, a sociedade e a cultura do grupo reelaboram seus valores, suas estruturas, suas regras, suas percepções da vida social e da natureza, criam novos objetos, materiais ou não, num processo incessante de reconstrução de sua visão de mundo. Os instrumentos desse processo são os sistemas verbais, não-verbais e sincréticos do macro-sistema semiótico dessa cultura. Esse processo, mesmo que modificado de uma época para outra, resultando em uma visão peculiar de cada grupo em determinado espaço de tempo, não rompe com o complexo sócio-lingüístico-cultural de épocas anteriores. Pelo contrário, são esses sistemas que garantem a continuidade no tempo do sistema de cada época, permitindo ao grupo reconhecer-se sempre como o mesmo. O sistema, ao mesmo tempo em que realiza estas mudanças, confirma e reitera os processos de estruturação da significação e da informação entre os indivíduos do grupo. Como a semiótica da significação procura descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz" (BARROS, 1999, p.7, grifo da autora), a concepção de texto pode ser a de objeto de significação e objeto de comunicação. A análise dentro da primeira idéia comporta o estudo dos mecanismos internos de funcionamento do texto e de sua produção de sentido; a análise a partir da segunda linha mostra que o sentido do texto depende de suas condições de produção, ou 3 O sistema funciona mudando, para satisfazer as necessidades de especificidades dos discursos, e ele só muda durante seu funcionamento (tradução nossa).
  • 31. seja, do seu aspecto ideológico e cultural, do contexto histórico-social no qual está inserido. Uma análise semiótica do texto deve contemplar estas duas análises, tratando, assim, "de examinar os procedimentos da organização textual e, ao mesmo tempo, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto" (BARROS, 1999, p. 8). Como a significação depende de processos não apenas intratextuais, mas também intertextuais, o discurso tem participação no processo de mudança da língua enquanto código, que também muda quando o código sofre mudanças. A significação de um texto só pode ser analisada se forem considerados os meios no qual ele é produzido e interpretado. Depende da cultura, da língua, das formações ideológicas, do contexto histórico e social no qual este texto está inserido. O sentido de uma palavra, de uma imagem, de um som, de um gesto, só será percebido se considerarmos o interdiscurso e o repertório do enunciatário, a partir do qual fará suas interpretações a respeito do discurso. Se todo o discurso é manipulatório, tem por necessidade primordial de ser compreendido segundo as intenções no enunciador. O discurso publicitário, enquanto produto da Indústria Cultural, à qual serve e da qual extrai a matéria-prima para seu funcionamento, trabalha com sentidos estabelecidos ou reconhecidos pelo público, mas de uma forma reelaborada e idealizada. Os temas e figuras do discurso da publicidade são o reflexo de outros discursos presentes na cultura que abriga a relação empresa-consumidor. É o processo de escolha de figuras, feitas pelo enunciador, e os temas que representam, que permitem ao enunciatário – o público-alvo do que está sendo anunciado – identificar-se com a mensagem e sentir-se atraído por ela, a ponto de ser levado à ação.
  • 32. Esta ação é a resposta do enunciatário ao discurso do enunciador, resposta esperada e desejada. É uma resposta determinada de modo ativo pelo enunciador, presumida, que por sua vez vai influir na construção do enunciado. Essa construção considera o grau de informação do enunciatário, suas opiniões e convicções, preconceitos, simpatias e antipatias; além disso, nesse processo o enunciador procura precaver-se de objeções previstas. É que "o enunciado está voltado não só para seu objeto, mas também para o discurso do outro acerca desse objeto" (BAKHTIN, 1992, p. 320-321). Assim, o anúncio publicitário, enquanto enunciado, é um acontecimento que não pode ser esgotado nem pela língua e nem pelo sentido, conforme coloca Foucault: Acontecimento estranho, por certo: inicialmente porque está ligado de um lado a um gesto de escritura ou à articulação de uma palavra, mas que, por um outro lado, se abre a si mesmo uma existência remanescente no campo de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros e de qualquer forma de registro; em seguida, porque é único como todo acontecimento, mas que está aberto à repetição, à transformação, à reativação; finalmente, porque está ligado não apenas a situações que o provocam, e a conseqüências que incita, mas, ao mesmo tempo, se segundo uma modalidade inteiramente diferente, a enunciados que o precedem e o seguem (1972, p. 40). As características da construção do discurso publicitário dirigido ao público homossexual podem exemplificar o processo de formação discursiva no que se refere à comunicação com este público, considerando o momento histórico de maior liberalidade, mas não de total aceitação pela sociedade. No caso em que se pudesse descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se poderia definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), dir-se-á, por convenção, que se trata de uma formação discursiva [...] (Id., 1972, p.51).
  • 33. 2.5 Tipologia dos sistemas semióticos Pais fez importantes contribuições para o estudo da semiótica. O texto, objeto de estudo desta teoria, não deve ser considerado apenas como texto lingüístico, manifestado oralmente ou por escrito. A semiótica ocupa-se do texto nas suas mais variadas condições de materialização. Assim, pode-se considerar como texto um romance, um poema, um tratado científico; um quadro, uma escultura, uma forma arquitetônica; um espetáculo de dança, um gesto entre amigos, um discurso político, uma conversa de bar; uma novela, um anúncio publicitário. Com base nessa concepção, Pais (1992) propôs um estudo da tipologia dos sistemas semióticos, como ponto de partida para a determinação de uma semiótica da cultura. Esta seria correspondente a uma macrossemiótica, ou seja, o conjunto de diversas semióticas-objeto que constroem uma visão de mundo, uma ideologia. Os sistemas semióticos nos quais essas semióticas-objeto estariam incluídas são o verbal, o não-verbal e o complexo ou sincrético. O primeiro compreende os sistemas lingüísticos, tais como as línguas naturais e pode apresentar discursos figurativos (literários) e não-figurativos (sociais e não-literários), como a publicidade. O sistema semiótico não-verbal compreende sistemas unidimensionais, como o canto vocal (sic); bidimensionais, como a pintura, o desenho, a fotografia; e tridimensionais, como a escultura, a arquitetura e a gestualidade. Já o sistema chamado de complexo ou sincrético compreende uma combinação entre sistemas verbais e não- verbais, como a história em quadrinhos, o teatro, o cinema, a publicidade. Para Pais (1992, p. 58), "o conjunto dos sistemas semióticos em operação numa mesma comunidade sócio-lingüístico-cultural constitui, assim, a sua macrossemiótica".
  • 34. 2.6 Percurso gerativo da significação A semiótica da significação concebe um percurso gerativo para a construção da significação de um texto, reforçando o conceito de que texto é o discurso manifestado. Discurso cuja noção, segundo Pais (1996, p. 137), ultrapassa os limites do texto como coisa enunciada e desenvolve-se num contexto sócio-cultural, que o envolve e que se desloca no eixo do tempo da História. O percurso gerativo da significação vai do abstrato ao concreto e pode ser dividido em três etapas, independentes para efeitos de estudo, mas cuja relação é condição sine qua non para a formação da significação: a estrutura fundamental ou profunda, a estrutura intermediária ou narrativa e a estrutura discursiva. Conforme Courtés, a distinção entre as estruturas superficiais e profundas é fruto de um ponto de vista gerativo, no qual as estruturas mais complexas se formam a partir das mais simples: La sémiotique nous propose, en effet, um parcours génératif, où la signification prend comme point de départ une instance ab quo, définie par une forme syntaxique et sémantique élémentaire; puis, par um jeu de complexifications et d'enrichissements varies, accède au niveau supérieur des structures de surface et, au-delá, rejoint le plan de la manifestation, l'instance ad quem visée. Cette procédure dite de conversion permet de passer d'un niveau de représentation à un autre syntaxiquement et/ou 4 sémantiquement plus riche (1991, p. 137, grifo do autor). 4 A semiótica nos propõe, em efeito, um percurso gerativo onde a significação toma como ponto de partida uma instância ab quo, definida por uma forma sintática e semântica elementar; depois, por um jogo de complexificações e de enriquecimentos variados, acede ao nível superior das estruturas de superfície e, além disso, reintegra o plano da manifestação, a instância ad quem visada. Este procedimento dito de conversão permite passar de um nível de representação a um outro sintaticamente e/ou semanticamente mais rico (tradução nossa).
  • 35. 2.6.1 Nível fundamental ou profundo O nível fundamental ou profundo apresenta a primeira etapa da significação, que acontece através do estabelecimento de uma relação de oposição entre dois termos que, por sua vez, representam duas idéias contrárias, mas de uma mesma categoria semântica. [...] à ce plan, sont em jeu des articulations peu nombreuses, plus simples, en tout cas plus globalisantes que celles que l'on observe au niveau des structures narratives de surface. C'est pourquoi, à ce plan reconnue comme 5 profond, l'on a pu parler de structure élémentaire de la signification (COURTÉS, 1991, p. 136) Essa relação é fruto da redução da rede de relações presentes nos níveis narrativos e discursivos, ou seja, sem a especificidade presente em cada um destes níveis. Por essa razão, para efeito de análise, a estrutura ou nível fundamental é a última a ser considerada. Em termos operacionais, a oposição mínima do nível fundamental é representada através do quadrado semiótico, elaborado por Greimas com base nas representações também utilizadas pela Escola de Praga e pelo antropólogo Lévi- Strauss (Id., 1991, p. 152). Para exemplificar este processo, pode-se considerar uma das mais recorrentes promessas feitas pelos produtos dietéticos: o emagrecimento. Os anúncios publicitários dessa categoria de produto trabalham com a promessa da /magreza/. Neste tipo de discurso, mesmo sem proceder à análise das estruturas narrativas e discursivas, pode-se perceber que uma das oposições binárias é a que 5 Neste plano estão em jogo as articulações pouco numerosas, mais simples, em todo caso mais globalizantes que aquelas que se observa ao nível das estruturas narrativas de superfície. É por conta disso que, nesse plano conhecido como profundo, foi possível falar de estrutura elementar de significação (tradução nossa).
  • 36. se refere ao paradigma /forma física/, cujos elementos opostos são /gordo/ x /magro/. Com base neste exemplo, a representação do quadrado semiótico seria: gordo magro não-magro não-gordo As linhas tracejadas horizontais representam uma relação entre contrários; as linhas contínuas diagonais mostram uma relação de contraditoriedade e as linhas contínuas verticais representam uma relação de complementaridade. De acordo com Courtés (1991, p. 153), “deux termes sont déclarés contraires si la négation de l´un implique l´affirmation de l´autre, et réciproquement”6. Esta relação de implicação é a complementaridade entre os termos. Assim, /gordo/ é complementar de /não-magro/, e /magro/ é complementar de /não-gordo/. Ser /gordo/ implica ser /não-magro/, enquanto que ser /magro/ implica ser /não-gordo/. Contrariedade, contraditoriedade e complementaridade não são as únicas relações presentes no conteúdo fundamental do texto. Pode-se observar também a presença de relações orientadas, que se mostram como condição da narratividade. No nosso exemplo, temos uma relação orientada que vai do /gordo/ ao /magro/, passando pelo /não-gordo/. Fiorin considera essa orientação das relações como um processo que caracteriza a sintaxe do nível fundamental, enquanto que a oposição binária compreenderia a semântica deste nível. A sintaxe do nível fundamental abrange duas operações: a negação e a asserção. Na sucessividade de um texto, ocorrem essas duas operações, o que significa que, dada uma categoria tal que a versus b, podem aparecer as seguintes relações: a) afirmação de a, negação de a, afirmação de b; b) afirmação de b, negação de b, afirmação de a (2000, p. 20). 6 Dois termos são declarados contrários quando a negação de um implica a afirmação do outro, e vice-versa (tradução nossa).
  • 37. No exemplo aqui utilizado, tem-se a afirmação da /gordura/, já que o anúncio publicitário dietético dirige-se a quem tenha necessidade deste tipo de produto, depois a negação da /gordura/, quando o anúncio propõe que a solução para o problema é o consumo do produto dietético, e afirmação da /magreza/, quando o leitor se convence da eficácia do produto e imagina-se magro através do seu consumo. Pode-se perceber a ideologia a partir da axiologização das categorias semânticas presentes no nível fundamental, através da determinação de euforia ou disforia atribuída a cada termo. “A categoria tímica estabelece a relação de conformidade ou de desconformidade do ser vivo com os conteúdos representados” (BARROS, 1999, p. 79). No exemplo considerado, temos /magro/ como eufórico e /gordo/ como disfórico. Se fôssemos analisar outro texto, como as pinturas renascentistas, que retratam mulheres rechonchudas (o ideal de beleza da época), teríamos uma modificação na axiologização, onde /gordo/ seria eufórico e /magro/ disfórico. Ainda segundo Barros (1999, p. 79), “os textos serão, por conseguinte, euforizantes ou disforizantes, segundo caminhem para o pólo conforme ou desconforme da categoria semântica fundamental”. O texto do tipo de anúncio tomado como exemplo é, então, euforizante, já que o percurso está orientado para o estado /magro/, ou seja, para a euforia. Existe ainda uma possibilidade de ampliação do quadrado semiótico para a representação de meta-termos, dando origem a um octógono semiótico, conforme a representação abaixo:
  • 38. FORMA FÍSICA gordo magro ESTADO IDEAL DE BELEZA INDESEJÁVEL não-magro não-gordo TERMO NEUTRO Assim, a conjunção de /gordo/ com /não-magro/ dá origem ao meta-termo /estado indesejável/ de acordo com o padrão estético da nossa sociedade; a conjunção de /magro/ com /não-gordo/ é o /ideal de beleza/, ou seja, o que o consumidor de produtos dietéticos almeja; a conjunção entre os contrários /gordo/ e /magro/ representa a categoria semântica /forma física/. Já a conjunção /não-magro/ com /não-gordo/ dá origem ao termo neutro, cuja denominação, conforme explica Courtés (1991, p. 159), vem do latim ne-uter: nem um, nem outro. 2.6.2 Nível narrativo A estrutura narrativa apresenta uma sintaxe e uma semântica narrativas. Barros faz uma associação entre a sintaxe narrativa e um espetáculo. Para a professora, a sintaxe narrativa deve ser pensada como um espetáculo que simula o fazer do homem que transforma o mundo. Para entender a organização narrativa de um texto é preciso, portanto, descrever o espetáculo, determinar seus participantes e o papel que representam na historiazinha simulada (1999, p. 16).
  • 39. Este nível caracteriza-se pela busca de um Objeto de valor por um Sujeito. Dessa forma, a narrativa pode ser aplicada não somente aos textos narrados, mas a todos os enunciados onde exista um Sujeito que procure um Objeto de valor. Nessa busca pelo Objeto de valor o Sujeito é instigado por um Destinador, que é o idealizador da narrativa, ajudado por um Adjuvante ou prejudicado por um Oponente. Estes "papéis" da narrativa são chamados de actanciais. Quanto mais diferenciados e em maior quantidade mais o texto será carregado em ideologia, aqui considerada como o sistema de valores do indivíduo (BATISTA, 2001, p. 150). Destinador ------------------ Objeto de valor ------------------------- destinatário Adjuvante-------------------- Sujeito ------------------------- Oponente (COURTÉS, 1979, p. 80) A narrativa apresenta um enunciado elementar que se caracteriza pela relação de transitividade entre o Sujeito e seu Objeto de valor. Essa relação é que permite a existência destes dois papéis, já que o Sujeito é sujeito de um Objeto de valor e vice-versa, caracterizando uma relação sujeito-predicado. Existem duas funções transitivas existentes entre Sujeito e Objeto de valor. Uma delas é a de junção. Um Sujeito pode estar conjunto (ter ou manter) ou disjunto (não ter ou não manter) do seu Objeto de valor, caracterizando um enunciado de estado. Vale ressaltar, aqui, que a disjunção do Sujeito do seu Objeto de valor não implica uma ausência de relação entre eles, o que caracterizaria uma inexistência semiótica destes dois elementos. A disjunção, enquanto não-conjunção, é uma relação virtual do Sujeito com seu Objeto de valor, que pode ser modificada através de um fazer transformador.
  • 40. A segunda função transitiva é este fazer transformador, operado por um sujeito que modifica o estado em que se encontra o Sujeito semiótico em relação ao seu Objeto de valor. Nesse caso, temos um enunciado de transformação. São estes processos que, para Courtés, servem como base para a definição de narrativa como: [...] transformation située entre deux états successifs/réversifs et différents est fondée sur une opposition toute proche de celle qui a été notre point de départ (permanence/changement), à savoir statisme vs dynamisme. D´un côté, donc, les états dont nous venons de parler, de l´autre le faire qui 7 assure la transformation d´un état 1 en un état 2, ou inversement (1991, p. 72-73). Uma narrativa é composta por um ou vários programas narrativos, que são os sintagmas elementares da sintaxe narrativa. São definidos como “um enunciado de fazer que rege um enunciado de estado” (BARROS, 1999, p. 20). Estes programas podem ser de diversos tipos, dependendo das transformações que operam. Quanto à função, podem ser de privação - quando o Sujeito passa de um estado conjunto a outro disjunto do seu Objeto de valor -, ou de aquisição - quando o estado inicial é a disjunção, passando a ser conjunção. Quanto às relações entre os sujeitos do ser e do fazer, podem ser transitivas, quando o sujeito do fazer e o sujeito de estado são assumidos por atores diferentes na manifestação, ou reflexivas, quando ambos são assumidos pelo mesmo ator. O quadro abaixo, elaborado por Barros (1999, p. 23), esquematiza estas relações: Natureza da função Relação narrativa/discurso Denominação Aquisição Transitiva Doação Aquisição Reflexiva Apropriação Privação Transitiva Espoliação Privação Reflexiva Renúncia 7 [...] transformação situada entre dois estados sucessivos/reversivos e diferentes, é baseada sobre uma oposição muito próxima daquela foi nosso ponto de partida (permanência/mudança), a saber: estatismo vs dinamismo. De um lado, então, os estados dos quais iremos falar, e de outro, o fazer que assegura a transformação de um estado 1 em um estado 2, ou o inverso (tradução nossa).
  • 41. Os programas narrativos podem ser de base ou de uso. Os programas de base relacionam-se com o objetivo final do Sujeito. Os programas de uso são os meios necessários para a obtenção do objetivo final. Assim, os programas de base correspondem à performance, enquanto que os programas de uso correspondem à competência. Para a realização da performance será necessária uma competência. "Tout PN de performance met em jeu des valeurs dites descriptives [...], tandis que le PN de compétence joue sur des valeurs modales”8 (COURTÉS, 1991, p. 83). Por mais que, a princípio, o discurso publicitário não pareça comportar uma narrativa, na verdade ele propõe uma transformação, que no dizer de Nicole Everaert-Desmedt, pode ser operada pelo produto anunciado. A utilização do produto permite um regresso à ordem, um restabelecimento do equilíbrio inicial que o publicitário teve o cuidado de mostrar perturbado ou, pelo menos, seriamente ameaçado. Verifica-se também que os enunciados publicitários traçam percursos narrativos, põem em jogo as modalidades querer-saber-poder, atribuem papéis actanciais ao produto e aos seus concorrentes, à firma, ao receptor, ao público, etc. (1984, p. 145, grifo do autor). Retomando o exemplo de anúncio publicitário de produto dietético, pode-se dizer que o consumidor é o Sujeito que tem como Objeto de valor a /magreza/. Por pressuposição, o público-alvo deste tipo de produto está em disjunção com seu Objeto de valor. Para modificar este estado, será necessário um fazer transformador, para que o Sujeito passe a estar conjunto com a /magreza/. O programa de base corresponde a esse processo. No entanto, para que esta performance aconteça, será necessário uma competência, representada pelo programa de uso "consumo do produto dietético". A sucessão de programas narrativos forma um percurso narrativo, que pode ser de três naturezas distintas: percurso narrativo do Sujeito, do Destinador- 8 Todo programa narrativo de performance coloca em jogo os valores ditos descritivos [...], assim como o programa narrativo de competência joga com os valores modais (tradução nossa).
  • 42. manipulador e do Destinador-julgador. No primeiro, o Sujeito adquire a competência necessária para a realização da performance, cumprindo vários papéis actanciais no decorrer do progresso narrativo; no segundo, a visão da competência e da performance parte não de quem recebe os valores modais e pratica a ação, mas de quem doa ou destina esses valores ao Sujeito e o faz-fazer. Assim, enquanto o Sujeito transforma estados, faz-ser (no nosso exemplo, o Sujeito deixa o estado /gordo/ e passa ao estado /magro/), o Destinador-manipulador age sobre o Sujeito. Ele faz-crer, um fazer de sedução (faz o consumidor acreditar que a compra do produto vai modificar seu estado /gordo/) e faz-fazer, um fazer de manipulação (faz o consumidor comprar o produto). No entanto, para haver manipulação é preciso que o Sujeito aceite-a; para isso, é necessário que o Sujeito creia nos valores do Destinador. É importante frisar que manipulação, no sentido aqui utilizado, não tem nenhuma conotação psico-sociológica ou moral, conforme reforçou Courtés (1991, p. 100), designando unicamente uma relação de fazer-fazer. É fácil perceber a função entre crença e aceitação através do exemplo aqui utilizado. O anúncio publicitário de produtos dietéticos só funciona porque o anunciante, que neste caso é o Destinador-manipulador, apela para a exigência social do padrão estético /magro/. Se o Sujeito consumidor não aceitar esse Valor, o anúncio não surtirá efeito. Esse tipo de reflexão deve ser levado em conta quando se busca "culpar" a publicidade por algumas das mazelas do mundo. A publicidade alimenta-se de um conjunto de valores disponíveis na cultura de cada comunidade, mas não é responsável pela criação deles. Alimenta-se deles, alimenta-os, mas não pode ser responsabilizada pela sua existência. Os tipos de manipulação podem ser organizados segundo a competência do manipulador e segundo a alteração modal realizada na competência do Sujeito
  • 43. manipulado. A provocação e a intimidação fundamentam-se sobre valores negativos. Na primeira, o Destinador leva o Sujeito a provar que as concepções negativas que têm sobre ele (saber) não são verdadeiras. Na segunda, o Destinador ameaça (poder) o Sujeito caso ele não faça o que foi pedido. Seja para escapar da difamação ou da ameaça, o Sujeito deve-fazer. A sedução e a tentação agem sobre valores positivos. Enquanto que na sedução o Destinador manipula através de uma concepção positiva da imagem do Sujeito (saber), na tentação ele oferece algo em troca (poder) caso o Sujeito realize a ação desejada. Em ambos os casos, o Sujeito age em nome de um querer-fazer (BARROS, 1999, p. 33). No caso do anúncio dietético, as formas de manipulação mais utilizadas são a intimidação (se você não usar o produto x, vai engordar/não vai emagrecer) e a tentação (se você usar o produto x, vai emagrecer). Interessante notar que, em ambos os casos, o manipulador apela para o poder. O último percurso, o do Destinador-julgador, é responsável pela sanção do Sujeito, que pode ser de ordem cognitiva (interpretação) ou de ordem pragmática (retribuição). Na sanção cognitiva, o Destinador-julgador verifica se a performance do Sujeito está de acordo com os valores do contrato inicial estabelecido com o Sujeito e com o sistema de valores que representa. Essa operação cognitiva de leitura, ou melhor, de reconhecimento do sujeito, consiste na interpretação veridictória dos estados resultantes do fazer do sujeito. Os estados são, dessa forma, definidos como verdadeiros (que parecem e são) ou falsos (que não parecem e não são) ou mentirosos (que parecem e não são) ou secretos (que não parecem, mas são), e o destinador neles acredita ou deles duvida (Id., 1999, p. 33). Já na sanção pragmática, verifica-se se o Sujeito realizou os compromissos assumidos no contrato. Em caso positivo, há uma recompensa; em caso negativo, o Sujeito sofre a punição. O consumidor que aceitar o contrato do Destinador- manipulador e comprar o produto terá como recompensa a boa forma física, ou pelo
  • 44. menos a ilusão de estar trabalhando para consegui-la. O consumidor que não cumprir o contrato permanecerá gordo, ou terá a sensação de não ter agido da maneira correta para emagrecer. Ao contrário da semântica fundamental, onde os valores são virtuais, sem serem assumidos por um sujeito, na semântica narrativa os valores são reais e aparecem ligados a um sujeito. A busca do Objeto de valor pelo Sujeito estabelece uma relação de regência entre eles. O Sujeito quer ou deve algo: querer/poder-ser, querer/poder-fazer, dever/poder-ser, dever/poder-fazer. Essa relação entre predicados, conforme explica Courtés, é a modalização. [...] pode-se estabelecer uma linha de demarcação entre o querer, por um lado, e o saber e o poder, por outro. O querer, com efeito, instaura o sujeito como tal, enquanto o saber e o poder estão diretamente ordenados ao fazer: em outros termos, a modalidade do querer, por caracterizar o eixo sujeito-objeto, incidiria mais sobre a relação de estado (conjuntiva, disjuntiva ou de suspensão), enquanto o saber e o poder se inscreveriam ao nível do fazer transformador (que assegura a passagem de uma relação de estado para um outro diferente). (1979, p. 97). Querer, dever, poder e saber são objetos modais, cuja aquisição é necessária para a realização da performance. As modalizações podem ser do /ser/ ou do /fazer/. As primeiras são responsáveis pelas modalizações dos enunciados de estado, e atribuem existência modal ao sujeito de estado (BARROS, 1999, p. 42). Assim, a relação entre o Sujeito consumidor e o valor magreza é desejável e possível, já que o consumidor quer e pode ser magro, desde que cumpra o contrato proposto pelo Destinador anunciante. Já as modalizações do fazer são responsáveis pela competência do Sujeito para realizar a transformação do seu estado. Como foi visto anteriormente, os objetos modais são dados pelo Destinador ao Sujeito para que haja a passagem de um estado a outro, para que o Sujeito fique conjunto com seu Objeto de valor. No
  • 45. caso do anúncio publicitário, o Destinador sociedade instaura um dever-fazer e o Destinador anunciante instaura um poder-fazer (ser magro) no Sujeito consumidor. Esse valor buscado pelo Sujeito é um Objeto de valor, com o qual se entra em conjunção ou disjunção na performance principal (FIORIN, 2000, p. 28). Em resumo, no anúncio do produto dietético tem-se um Objeto de valor /magreza/ buscado por um Sujeito /consumidor/, destinado por um Destinador /anunciante/. O Sujeito é instaurado de um /querer/ por ele mesmo, de um /dever/ pela sociedade, de um /poder-saber/ pelo anunciante (que informa as propriedades dietéticas do produto) e de um /poder-fazer/, também pelo anunciante. De acordo com Madeira (1996, p. 63- 64), o discurso publicitário, em geral, tem como processo básico de realização as instâncias informativas, onde a modalização ocorre através do /poder-fazer-saber/, e formativas, com a modalização /poder-fazer-querer/. Informação e formação permanecem, então, indissociáveis no processo. No entanto, com base nos exemplos utilizados nesse trabalho, pode-se ampliar a modalização comum na publicidade a um /poder-fazer-fazer/, que é a instância máxima da manipulação. 2.6.3 Nível discursivo Quando a narrativa chega até a superfície, ao nível de manifestação, temos a passagem para as estruturas discursivas, o nível mais superficial do percurso gerativo da significação. Segundo Barros (1999, p. 53), “as estruturas discursivas são as mais específicas, mas também mais complexas e ‘enriquecidas’ semanticamente, que as estruturas narrativas e fundamentais".
  • 46. É no nível discursivo que o enunciador transmite seus sistemas de valores para o enunciatário através das informações que passa, com o objetivo de convencê-lo, persuadi-lo. As estruturas narrativas convertem-se em discursivas quando podemos perceber a presença do sujeito da enunciação no enunciado. É ele quem escolhe os temas e figuras que revestem os valores abstratos da narrativa, que define os atores para os papéis actanciais, que determina as relações entre pessoa, tempo e espaço e a enunciação. Na discursivização, podemos perceber os processos utilizados pelo enunciador para a manipulação do enunciatário. A sintaxe discursiva aborda a relação entre a enunciação e o enunciado. A enunciação é o processo de produção do discurso, pressuposta pela existência do enunciado. A existência de um enunciado traz à tona a presença de um enunciador, que realiza um fazer persuasivo e de um enunciatário, que realiza um fazer interpretativo. A relação entre essas instâncias dá margem ao estudo da embreagem e da debreagem, que são vistas de forma diferente por Fiorin e Pais. Para Fiorin (2000, p. 41), na debreagem projeta-se no enunciado tanto a pessoa (eu/tu), o tempo (agora) e o espaço (aqui) da enunciação, quanto a pessoa (ele), o tempo (então) e o espaço (lá) do enunciado. No primeiro caso (projeção do eu-aqui-agora), ocorre uma debreagem enunciativa; no segundo caso (projeção do ele-então-lá), ocorre uma debreagem enunciva. As debreagens enunciativa e enunciva estão relacionadas com os processos de aproximação e distanciamento do discurso em relação à enunciação. Como todo discurso procura persuadir o enunciatário de que seu conteúdo é verdadeiro, estes mecanismos têm a finalidade de criar a ilusão de verdade. Quanto mais distante estiver o discurso da enunciação, maior a sensação de objetividade. Existem, como bem se sabe, recursos que permitem ‘fingir’ essa objetividade, que permitem fabricar a ilusão de distanciamento, pois a enunciação, de todo modo, está lá, filtrando por seus valores e fins tudo o
  • 47. que é dito no discurso. O principal procedimento é o de produzir o discurso na terceira pessoa, no tempo do ‘então’ e no espaço do ‘lá’ (BARROS, 1999, p. 55, grifo da autora). Ao contrário da debreagem enunciva, a debreagem enunciativa em primeira pessoa produz o efeito de subjetividade, aproximando a enunciação do enunciado. A debreagem enunciva é muito freqüente no discurso da imprensa, que deve manter- se imparcial em relação aos fatos narrados. A debreagem enunciativa, por sua vez, está mais presente na literatura, na poesia. No discurso publicitário, no entanto, observamos a presença de ambos os procedimentos com o mesmo fim persuasivo. Os anúncios publicitários falam de forma objetiva, aconselhando, mostrando as qualidades de um produto, como se não tivesse nenhuma relação com ele. É a busca do efeito de neutralidade em relação ao que se diz, falso pela presença de um conflito de interesses. Mas a busca da persuasão também pode ser feita através do uso do discurso subjetivo, quando a publicidade coloca o próprio anunciante para falar sobre o que está sendo anunciado. Outro processo utilizado para a criação de um efeito de realidade é a cessão da palavra a um interlocutor em discurso direto. Chama-se debreagem interna, e acontece na publicidade quando o anúncio usa o testemunho de uma pessoa real, conhecida do público. O fator persuasivo vem da referência ao real, já que a pessoa existe mesmo, e por ser famosa, é considerada formadora de opinião. Já a embreagem, é “o mecanismo em que ocorre uma suspensão das oposições de pessoa, de tempo ou de espaço” (FIORIN, 2000, p. 52). Seguindo a visão de Pais sobre os procedimentos de embreagem e debreagem, Batista (2001, p. 152) coloca que estas duas operações também têm o objetivo de criar a ilusão de verdade, mas diferente de Fiorin, o procedimento da embreagem enunciativa considera a proximidade do Sujeito, lugar e tempo,
  • 48. enquanto que a debreagem enunciativa define-se pelo distanciamento do Sujeito e corresponde a um não-eu, não-aqui e não agora. O processo de persuasão do discurso passa pela relação das estratégias argumentativas, utilizadas pelo enunciador para fazer com que o enunciatário creia. A linguagem, portanto, é a estratégia argumentativa do discurso, da qual o enunciador se utiliza para atingir seu objetivo e a partir da qual o enunciatário realizará a interpretação. Segundo Fiorin (2000, p. 53), todo discurso é persuasivo, portanto, argumentativo, daí a impossibilidade de separar os discursos em argumentativos ou não argumentativos. A persuasão acontece a partir de um contrato estabelecido entre o enunciador e o enunciatário. O enunciador pode trabalhar com a verdade ou com a falsidade, com o dito e o não-dito. Cabe ao enunciatário interpretar e crer ou não crer, e perceber o que realmente está sendo dito ou a presença do que não foi dito. Este processo, por mais intrincado que pareça, é o que desperta a atenção do enunciatário para o discurso, através do estranhamento provocado pela utilização não-tradicional da língua, seja no seu aspecto lógico, semântico, sintático, morfológico ou fonológico. Na prática, no discurso publicitário temos a utilização das figuras de retórica, como a antítese e a ironia, a metáfora, a metonímia, o eufemismo e a hipérbole, a elipse, a paronomásia, a rima, a aliteração, entre outras. Muitas dessas figuras podem ser percebidas no plano da manifestação do discurso, que será comentado adiante. No entanto, podemos adiantar como exemplo, no caso da publicidade de produtos dietéticos, alguns procedimentos: a expressão "fique em forma" pressupõe o não-dito que a pessoa não tem uma boa forma, e vai precisar do produto que está sendo anunciado. Os termos "gordurinhas" e "cheinha", por sua vez, são um eufemismo para gordura, gorda, obesa. A imagem de uma fita métrica e
  • 49. de um vestido justo são metáforas para um corpo magro, segundo o padrão de beleza que baseia o contrato estabelecido entre enunciador e enunciatário nesse tipo de discurso. Portanto, segundo Barros, o exame das relações entre efeitos e mecanismos é uma das etapas da construção dos sentidos do texto, de seus fins e de suas 'verdades'. Dá-se já um grande passo em direção ao contexto sócio-histórico e à formação ideológica em que o texto se insere (1999, p. 62). A estrutura discursiva recobre a estrutura narrativa no nível da superfície. Essa passagem é perceptível pela correspondência dos papéis actanciais por atoriais e pela tematização e figurativização que revestem os esquemas narrativos abstratos. Temos, então, a semântica discursiva. Por mais que haja uma sobreposição entre as duas estruturas, com relações de subordinação, nem sempre os papéis actanciais de uma vão corresponder exatamente aos papéis atoriais da outra. Conforme Greimas, 9 A relação entre ator e atuante , longe de ser uma simples relação de inclusão de uma ocorrência numa classe, era dupla: A1 A1 A2 A3 a1 a2 a3 a1 porque se um atuante (A1) podia ser manifestado no discurso por vários atores (a1, a2, a3), o inverso era igualmente possível; um só ator (a1) podia ser o sincretismo de vários atuantes (A1, A2, A3) (1977, p. 179). Retomando o anúncio de produto dietético para exemplificar este processo, têm-se dois atores para um mesmo papel actancial de Destinador. A sociedade, cujo padrão de beleza difundido é o da magreza, é Destinador de um /dever-ser magro/ e o ator consumidor que lê o anúncio é Destinador de um /querer-ser magro/. Neste último caso, vemos também que um mesmo ator, o consumidor, assume dois papéis actanciais: o de Destinador de seu próprio querer, e o de Sujeito em busca de um 9 Atuante corresponde a actante.
  • 50. Objeto de valor (magreza). Adotando a representação gráfica proposta por Greimas, seriam estas as relações: DESTINADOR consumidor sociedade consumidor DESTINADOR SUJEITO A semântica discursiva tem ainda como componentes a tematização e a figurativização. A tematização compreende os valores abstratos do texto, que estão expressos em palavras e sintagmas com elementos comuns de significação, podendo ser agrupados. A redução destes grupos a elementos mínimos permite a identificação das idéias em oposição que constituem o nível fundamental do discurso. Já a figurativização reveste o esquema narrativo de elementos concretos, especificando e particularizando o discurso. Neste processo, o autor escolhe as figuras que vai utilizar para caracterizar atores, tempo, espaço e valores. Nous qualifions, en effet, de figuratif tout signifié, tout contenu d'une langue naturelle et, plus largement, de tout système de représentation (visuel, par exemple), qui a un correspondent au plan du signifiant (ou de l'expression) du monde naturel, de la réalité perceptible. [...] Par opposition ao figuratif, le thématique est à concevoir comme n'ayant aucune attaché avec l'univers du monde naturel: il s'agit ici de contenus, de signifiés des systèmes de représentation, qui n'ont pas de correspondant dans le référent. Si le figuratif se définit par la perception, le tématique, lui, se caractérise par son 10 aspect proprement conceptuel (COURTÉS, 1991, p. 163). Conforme alerta Fiorin (2000, p. 65), a oposição entre abstrato/concreto não representa uma polarização, mas um processo contínuo no qual, de maneira gradual, do mais abstrato chega-se ao mais concreto. 10 Nós qualificamos, com efeito, de figurativo todo significado, todo conteúdo de uma língua natural e, de forma mais abrangente, todo sistema de representação (visual, por exemplo), que tem um correspondente no plano do significante (ou de expressão) do mundo natural, da realidade perceptível. [...] Por oposição ao figurativo, o temático é concebido como não tendo nenhuma ligação com o universo do mundo natural: trata-se aqui de conteúdos, de significados de sistemas de representação, que não têm correspondentes junto ao referente. Se o figurativo se define pela percepção, o temático se caracteriza pelo seu aspecto propriamente conceitual (tradução nossa).
  • 51. De acordo com a predominância de temas ou figuras em um discurso, ele pode ser classificado como temático ou figurativo. Os discursos temáticos são interpretativos, pois através das classificações e categorizações procuram explicar a realidade; já os figurativos são descritivos, procuram construir uma realidade através da utilização de elementos concretos como, por exemplo, a menção à idade das pessoas nas reportagens jornalísticas. Normalmente, esta informação não é relevante no contexto, mas remete ao mundo real, reforçando a "imparcialidade" do conteúdo e, por conseguinte, do veículo de comunicação. Na publicidade estão presentes os temas que refletem os valores abstratos do percurso narrativo. No percurso do anúncio hipotético usado como exemplo, o tema /boa forma/ ou /magreza/ é um valor a ser conquistado pelo Sujeito. O percurso narrativo que vai do estado /gordo/ para /magro/ poderia ser tematizado pela realização de exercícios físicos. No entanto, como o anúncio é de um produto dietético, a promessa é de que o consumidor só precisa dele para emagrecer. Assim, o percurso descrito é tematizado na forma do consumo deste tipo de produto. As figuras que poderiam ser utilizadas para se chegar a esse tema são, conforme já descrito anteriormente, a fita métrica, a imagem de uma mulher magra, um vestido justo, uma pena, cores claras, as palavras "leve", "magra", "boa forma", "diet", "light" e até termos mais amplos, apropriados pela publicidade para dar credibilidade à sua promessa, como "vida saudável" (buscar a boa forma pode ser futilidade, mas buscar uma vida saudável é relevante). Assim como na relação entre atores e actantes, onde um ator pode ser a representação de vários actantes, e um papel actancial pode ser assumido por vários atores, um elemento figurativo pode servir a vários temas, da mesma maneira que um tema pode ser formado por várias figuras. No caso da invariabilidade da
  • 52. figura, a percepção do tema no qual está inserida vai depender do contexto da discursivização. O arroto, no Brasil, é considerado gesto de má-educação. Em alguns países do oriente médio, no entanto, é sinal de polidez, de apreciação da refeição. No nível axiológico, o arroto é disfórico na cultura brasileira, e eufórico na cultura médio-oriental. Essas relações podem ser visualizadas no quadro abaixo: Figura: arroto Brasil Oriente Médio Axiologia disfórico eufórico Tema má-educação polidez Na relação oposta, quando um tema é constituído por várias figuras diferentes, temos o que Courtés (1991, p. 167) chama de discurso parabólico: um mesmo conceito é ilustrado por diversas figuras, onde a austeridade do tema dá lugar ao prazer do figurativo. Conforme o autor francês, o discurso parabólico, pela sua força de persuasão, é muito utilizado não só no mito, no conto, na religião, mas também no discurso político e no publicitário. Quanto a este último, pode-se retomar o exemplo do anúncio do produto dietético para exemplificar o processo. Existe um tema - a boa forma - e várias figuras que ilustram essa promessa, conforme já citado acima: a fita métrica, a imagem de uma mulher magra, um vestido justo, uma pena, cores claras, as palavras "leve", "magra", "boa forma", "diet", "light". As figuras utilizadas para a ilustração de um tema são escolhidas pelo enunciador. Há figuras, no entanto, que já são intimamente relacionadas com um determinado tema. São os símbolos, elementos concretos a veicular um conteúdo abstrato (FIORIN, 2000, p. 69). Essa noção, aplicada ao papel da figura em relação ao tema, segue a linha semiótica de Pierce, que define o símbolo como um dos tipos de signos cuja relação com o referente é arbitrária e convencional (PIGNATARI, 1992, p. 25).
  • 53. Barros (1992, p. 25) também retoma a semiótica de Peirce ao identificar um outro tipo de figura, o ícone, signo que possui semelhança ou analogia com o seu referente. Para a autora, esse processo no discurso tem a função de ancoragem, de construção do efeito de realidade, para tornar o discurso crível. Na iconização [do discurso], mas também nas demais etapas da figurativização, o enunciador utiliza as figuras do discurso para levar o enunciatário a reconhecer 'imagens do mundo' e, a partir daí, a acreditar na 'verdade' do discurso, graças, em grande parte, ao reconhecimento de figuras do mundo (1999, p. 72). Os ícones, sob esse aspecto, são informações reais sobre espaço, tempo e também sobre o sujeito. Como exemplo na publicidade, podemos citar as campanhas da empresa de cosméticos Natura, cuja estratégia de comunicação consiste em mostrar mulheres "reais" (que não sejam modelos), apresentando, ao lado de suas fotografias, informações como idade e profissão. A empresa, enquanto enunciatária, deseja com isso dar credibilidade aos seus produtos, mostrando mulheres "normais", belas de acordo com a idade que têm. Ampliando ainda mais a contribuição de Peirce para a classificação das figuras com base na sua teoria semiótica, pode-se considerar a presença do índice, o terceiro tipo de signo. O índice "mantém uma relação direta com o seu referente, ou a coisa que produz o signo" (PIGNATARI, 1992, p. 25). Na publicidade, um exemplo de índice é a utilização de aroma de pizza em determinada campanha de outdoor veiculada pela Pizza Hut. A figura do cheiro ilustra o percurso temático do sabor e é índice na medida em que tem relação direta com a pizza que o produziu. Uma outra relação entre tema e figura pode ser percebida na metáfora, conforme a concepção de Courtés (1991, p. 169). Para o autor, existe na metáfora uma relação entre duas figuras que é mediada por outra figura ou por um tema. A metáfora "rosa" para "moça" passa pelo tema "beleza". Já na frase "Cette faucille
  • 54. d'or dans le champ des étoiles"11, a metáfora de "foice" para "lua" reconhece-se pela cor e forma que ambas têm em comum. A figura produto da metáfora, no entanto, vai ilustrar um tema. O tema, ilustrado por uma figura produto de metáfora, pode se encaixar na concepção de Barthes (1975, p. 131) para o mito. Segundo o autor, o mito é um sistema de comunicação, uma mensagem, cuja estrutura pode ser representada da seguinte maneira: significante signficado significante significado MITO Mitos, também, são projeções da alma que emanam da psique inconsciente, e representam sonhos coletivos, aspirações instintivas, sentimentos e padrões de pensamento da humanidade, conforme o pensamento de Jung interpretado por Randazzo (1997, p. 11). Desta forma, tem-se o mito como o tema projetado na discursivização, algo que os consumidores reconhecem e do qual precisam. Considerando o anúncio de produto dietético como exemplo, o tema /boa forma/ pode ser expandido para /beleza/, cujo caráter mitológico é patente. Em relação à imagem de uma fita métrica, o significante seria a foto do objeto e o significado seria o objeto para tirar medidas. Essa combinação de significante-significado, na estrutura mitológica de Barthes, daria origem a um significante fita métrica, que por sua vez teria como significado a /magreza/. O signo oriundo dessa estrutura seria, então, a /boa forma/, a /beleza/. Apesar de cada tipo de figura ser analisada isoladamente, sua apreensão no texto decorre de uma análise em conjunto, da percepção de um percurso figurativo, conforme explica Fiorin: 11 Esta foice de ouro no campo de estrelas.