1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO
DISCIPLINA: PGP 3236-002 – O indivíduo no contexto das organizações
Espiritualidade para céticos
Paixão, verdade cósmica e racionalidade no século XXI
Robert Solomon
Helen Günther, Doutoranda área Gestão do Conhecimento
2. Sobre o autor
14 de setembro 1942 – Detroit, Michigan/EUA
2 de janeiro de 2007 – Suíça.
Mestre (1965) e doutor (1967) em filosofia e psicologia -
na Universidade de Michigan.
Lecionou em Princeton, Pittsburgh e Universidade do Texas.
Foi convidado como visitante na Universidade da Pensilvânia,
Auckland (Nova Zelândia) e, Universidade de Harvard.
Publicou mais de 100 artigos e 30 livros de filosofia e
psicologia.
Procurava uma filosofia pluralista, aproximando o popular e o
acadêmico.
Ensinava com paixão e foi professor premiado.
Trabalhou a ética nos negócios a partir da filosofia.
3. Sobre o livro
Edição americana de 2002 – Oxford University Press
Edição brasileira de 2003 – Civilização Brasileira
319 páginas
Linguagem acessível
É um livro de filosofia escrito de uma maneira simples
Pode demandar leituras complementares, há vários
conceitos aplicados fundamentados em vários autores
e várias correntes teóricas, do ocidente e do oriente.
4. Estrutura do livro
Introdução: no espírito de Hegel
1. Da filosofia ao espírito e à espiritualidade
2. Espiritualidade como paixão
3. Espiritualidade como confiança cósmica
4. Espiritualidade como racionalidade
5. O enfrentamento da tragédia
6. Espiritualidade, fado e fatalismo
7. Ansiar pela morte?
8. O self em transformação: self, alma e espírito
5. Introdução: no espírito de Hegel
Pressupostos:
(1) espiritualidade tem a ver com reflexão (significado da vida)
(2) espiritualidade não entra em conflito, mas em conluio com a ciência
(3) espiritualidade não está de modo algum limitada à religião
Há a necessidade pessoal e coletiva de entender com clareza nosso
lugar no mundo
Naturalizar a espiritualidade, recombiná-la com ciência e natureza.
Não é a mera formulação das perguntas que cria a esfera da
espiritualidade, mas saber que não há respostas definitivas; cada um
encontra a sua resposta.
6. Introdução: no espírito de Hegel
Espiritualidade significa as paixões nobres e reflexivas da vida e uma
vida vivida em conformidade com essas paixões e reflexões.
A espiritualidade abarca o amor, a confiança, a reverência e os
aspectos mais terríveis da vida, a tragédia e a morte.
A espiritualidade naturalizada numa única expressão é: o amor
reflexivo à vida.
A espiritualidade é social e global, uma identificação com os demais e
com o mundo.
A espiritualidade é um processo. O self é um processo, e a
espiritualidade é o processo de transformação (expansão) do self.
7. Capítulo 1. Da filosofia ao espírito e à espiritualidade
O espírito é social. Representa nossa sensação de participar e
pertencer a uma humanidade e um mundo muito maior que o eu.
É um fenômeno humano, parte essencial da natureza humana. Requer
sentimento e pensamento (conceitos). Espiritualidade e inteligência
caminham de mãos dadas.
A espiritualidade não pode envolver somente a humanidade. A
espiritualidade é abrangente, incluindo muito (se não a totalidade) da
Natureza.
8. Capítulo 1. Da filosofia ao espírito e à espiritualidade
A espiritualidade é antes uma maneira de experimentar o mundo, de
viver, de interagir.
Kant: "a ciência é a organização do conhecimento, mas a sabedoria é a
organização da vida". Espiritualidade e sabedoria são em última análise
uma só e mesma coisa.
A espiritualidade requer ação como parte de sua própria essência.
É tanto um modo de fazer quanto um modo de ser, pensar e sentir.
Espiritualidade significa insistir que esta vida, com todas as suas
alegrias e atribulações, é a única em que vale a pena pensar.
O que conta é viver bem: fidelidade aos próprios ideais e fazer o bem.
9. Capítulo 1. Da filosofia ao espírito e à espiritualidade
Vida é tanto insatisfação e sofrimento quanto alegrias e realizações.
O sentido da vida é a própria vida. Não deve ser medido por algo
externo a ela, mas pelo modo como vivemos e apreciamos nossas vidas
em seus próprios termos.
Esses termos incluem nosso lugar no mundo e nossa identidade.
Em lugar do duvidoso propósito de transcender a vida, defendamos o
ideal de transcendermos a nós mesmos na vida.
Espiritualidade significa pensar a própria vida como uma obra de arte
em andamento.
10. Capítulo 2. Espiritualidade como paixão
A vida espiritual é uma vida apaixonada, mas não irracional.
É uma vida definida por emoções, compromissos e buscas apaixonadas.
Uma vida sem paixão seria uma vida que mal valeria a pena viver, a
vida de um zumbi, de um autômato.
O amor é uma das virtudes, é uma das paixões que tornam a vida digna
de ser vivida, é a paixão que amplia o self e nos põe em contato com
um cosmo maior, mais luminoso.
Não é qualquer paixão/emoção que serve. Inveja e ressentimento não
são candidatos à espiritualidade; estão como maiores obstáculos.
11. Capítulo 2. Espiritualidade como paixão
A reverência presume algo maior que nós mesmos.
Uma pessoa que luta com paixão pode ser mais confiável que uma que
luta por um princípio abstrato.
A espiritualidade não é meramente paz de espírito, tranquilidade,
satisfação. É paixão pela vida e pelo mundo. É um movimento e não
um estado.
A reverência requer um papel ativo, não somente a admiração.
Significa assumir responsabilidade, reconhecer as próprias limitações.
A reverência é uma espécie de confiança, uma confiança em nossa
capacidade de usar nossos poderes limitados amplamente.
12. Capítulo 3. Espiritualidade como confiança cósmica
A confiança assemelha-se mais a uma atitude, uma postura em relação
ao mundo. Implica dependência e vulnerabilidade.
A confiança acarreta risco e certa falta de controle.
Envolve a disposição para aceitar as muitas possibilidades da vida.
A confiança básica diz respeito não só à segurança física e à satisfação
de necessidades básicas, mas também à segurança na própria
existência e confiança no lugar que se ocupa no mundo.
O cerne da confiança é o confiar, não o conhecer.
Confiar em face da incerteza e da falta de controle, aceitar o que quer
que aconteça, é confiança autêntica.
13. Capítulo 3. Espiritualidade como confiança cósmica
Insistir em certeza e controle é recusar-se a confiar. Um viciado em
controle é alguém que se recusa a confiar em tudo e em todos.
Confiar no mundo é responsabilizar-se pelo próprio papel (ações,
pensamentos e sentimentos), reconhecendo que nunca se tem o
resultado inteiramente nas mãos.
A espiritualidade é a confiança persistente e a insistência que o mundo
é benigno e a vida tem sentido, que o mundo não é uma ameaça.
14. Capítulo 3. Espiritualidade como confiança cósmica
O ressentimento é oposto à espiritualidade porque recusa a confiança.
A inveja é desejo frustrado. Quer, mesmo que não possa obter. Impede
a visão que nos permite ser gratos pelo que temos, aceitar o que não
temos e reconhecer pela própria possibilidade de estar vivos.
O perdão desempenha um papel marcante na espiritualidade, é o
instrumento mais eficaz para a superação das emoções mais hostis.
É com isso que espiritualidade tem a ver, com seguir adiante,
perdoando o mundo pelos infortúnios que nos inflige. Por isso a
espiritualidade é também chamada de sabedoria.
15. Capítulo 4. Espiritualidade como racionalidade
É importante no autoconhecimento a compreensão e avaliação de
nossas emoções, que são, afinal, o que torna a vida digna de ser vivida.
Uma vida sem emoção, uma vida sem paixão, seria apenas uma
sombra deprimente de vida.
Somos criaturas espirituais quando temos poderes e metas mais
elevados, temos a capacidade de buscar e talvez até descobrir a
verdade definitiva sobre o mundo.
A espiritualidade sempre teve a ver com conhecimento.
A razão não é oposta à espiritualidade. Na maior parte da história
ocidental, andaram de mãos dadas.
16. Capítulo 4. Espiritualidade como racionalidade
Contrapor razão e paixões, justapor racionalidade da razão à
irracionalidade das emoções, é como se razão e emoção ocupassem
esferas distintas da existência humana.
A vida apaixonada, a vida espiritual, não é irracional, sem razões ou
contra a razão. De fato, não só nossas paixões e emoções nos fornecem
razões mas, como sugeri, a vida apaixonada pode ser ela própria a
maneira racional de viver.
A espiritualidade deve ser tanto racional quanto reflexiva.
A espiritualidade é apoiada/moldada pela ciência. Quanto mais
sabemos sobre o mundo, mais podemos apreciá-lo.
17. Capítulo 5. O enfrentamento da tragédia
O sofrimento é inescapável na vida, subjetivo como o é.
A espiritualidade nos fornece inspiração quando nossas vidas vão bem,
mas não é nada se não puder também dar sentido ao que desandou.
O fato bruto da vida humana é que há sofrimentos que não têm
solução e mal que não tem redenção. Assim diz nossa razão.
Quer a vida tenha ou não um sentido, nós fazemos sentido através de
nossos compromissos. É estabelecendo significados na vida que nos
libertamos da falta de sentido do sofrimento.
Os sentidos da vida são os sentidos que estabelecemos. Não há razão
para o sofrimento nem redenção para os males que nos acometem.
18. Capítulo 5. O enfrentamento da tragédia
O sofrimento tem sentido porque a vida tem sentido, é apenas parte
da vida. Sabemos que a vida não é justa.
Somente na filosofia e na teologia afirmamos que há uma explicação
racional para tudo que acontece.
A espiritualidade começa com aceitação da realidade (mesmo trágica).
"É a vontade de Deus" é um resumo de uma filosofia e uma atitude que
se recusa a aceitar a tragédia e insiste na racionalização.
Editamos nossas narrativas em conformidade com nossa noção de
como as coisas deveriam ser. E onde não conseguimos encontrar um
propósito, inventamos o nosso.
19. Capítulo 5. O enfrentamento da tragédia
A ideia de que se poderia simplesmente ter má sorte não nos convém.
A tragédia é real e, por sua própria natureza, não pode ser explicada.
Espiritualmente, envolve o encontrar ou dar sentido ao que não pode
ser explicado.
Como Nietzsche disse, um universo que é explicado mesmo com más
razões é melhor que um sem explicação nenhuma.
Em face da tragédia, porém, mesmo as explicações mais ambiciosas
acabam se revelando não mais que negação, uma recusa a aceitar os
duros fatos da vida.
20. Capítulo 5. O enfrentamento da tragédia
Para questionar o Problema do Mal devemos antes nos lembrar da
contingência de nossa boa sorte e do quanto somos insensatos ao
negar a inevitabilidade do infortúnio e a finitude de nossas vidas.
Em vez de ver doença/disfunção física como algo natural, e inevitável,
tendemos associá-las à culpa.
É isso que fazemos com relação à doença dos demais. Quando
adoecem, nós os culpamos por não terem se cuidado (ou atitude, estilo
de vida, dieta). Recusamo-nos a acreditar que simplesmente adoecem.
O importante não é negar a tragédia, mas abraçá-la como uma parte
essencial da vida que amamos e pela qual deveríamos ser gratos.
21. Capítulo 6. Espiritualidade, fado e fatalismo
Fado é uma espécie de quase-ação que determina efetivamente como
as coisas devem ser.
O fatalismo é uma noção mais abstrata que determina apenas que
algumas questões não poderiam ser diferentes do que vêm a ser.
A espiritualidade permanece atada ao livre-arbítrio e à escolha, e ao
fado e ao fatalismo.
O mandato da espiritualidade pode incluir a confiança de que as coisas
ocorrerão da melhor maneira, mas é também ter a determinação de
fazer com que isso aconteça.
Espiritualidade é fatalismo e ativismo e, nem um dos dois sem o outro.
22. Capítulo 6. Espiritualidade, fado e fatalismo
Nossas vidas e sortes são produto não só de nosso caráter, mas
também do caráter abrangente da cultura e do tempo em que vivemos.
Não somos os únicos autores de nossas vidas ou das circunstâncias de
nossas vidas, há o acaso e a pura sorte (boa ou má).
Caráter é algo dado e que é construído à medida que se vive. Não se
pode achar que se tem controle sobre tudo. É um misto de coisas
postas e coisas construídas ou ocorridas.
A questão é a importância e o significado de ser grato, seja a quem ou
ao que for, pela própria vida.
23. 7. Ansiar pela morte?
A espiritualidade é antes a aceitação da morte como complementação
da vida, o fecho que dá a uma vida individual seu significado narrativo.
Negar a morte é recusar-se a acreditar que ela acontecerá consigo.
Talvez haja uma vida após a morte. Mas a pergunta Que acontece após
a morte? Não é um substituto para Que é a morte e por que
deveríamos pensar sobre ela? É essa confrontação que conta.
Pensar que a vida após a morte responde à nossa inquietação acerca
da morte nada mais é que uma outra forma de negação.
24. 7. Ansiar pela morte?
O fetichismo (qualquer objeto de excessiva atenção e devoção) da
morte é a glorificação da experiência da morte.
É uma versão extrema mas pervertida da mentalidade guerreira
heroica em que a morte é o momento crucial da vida.
Mas o herói e o guerreiro não pensam na morte como uma experiência
suprema (e não simplesmente a última).
A morte é nada e não há nada que temer.
O medo da morte é uma teia de inquietações e confusões, quanto à
possibilidade de uma vida futura e quanto à vida que é encerrada.
O sentido da morte equivale ao sentido da vida.
25. 7. Ansiar pela morte?
A morte é, sob todos os aspectos, um fenômeno social. Nossas vidas
não apenas estão atadas às de outras pessoas como são definidas em
termos delas.
Em si mesma, a morte é nada e o morrer não merece nenhuma
celebração. Ela é significativa em última instância apenas porque
nossas vidas são significativas e nossa significação está inteiramente
envolta em outras pessoas.
A morte é simplesmente uma parte da vida, e a vida prossegue nos
corações e mentes dos que foram afetados por nós.
26. Capítulo 8. O self em transformação: self, alma e
espírito
A busca do self é uma expressão de nossa busca de sentido.
É o resultado natural da reflexão e da autoconsciência.
A busca de significado não poderia ser mais central ao projeto humano.
O self (ou alma) como foco de sentido é indispensável a qualquer
concepção de espiritualidade.
A espiritualidade é um modo de ser-no-mundo.
Começa com o conhecimento de nosso lugar no mundo.
A noção correta de self aqui é a de identidade pessoal.
27. Capítulo 8. O self em transformação: self, alma e
espírito
Um passo rumo à espiritualidade ocorre quando cessamos de pensar
em nós como seres particulares e passamos a pensar em nós em uma
comunidade de seres especialmente similares.
O self pessoal concreto não deve ser confundido com individualidade.
A noção de self e de identidade pessoal de uma pessoa tem tudo a ver
com seu lugar na família, no grupo, na comunidade.
A concepção rotineira do self é ampliada, abrangendo não só o
indivíduo mas todas as suas relações com os demais (natureza).
Se a mente significa a capacidade de autoconsciência reflexiva, nem
todos os seres humanos pareceriam ter mentes (seria raro).
28. Capítulo 8. O self em transformação: self, alma e
espírito
Em vez de pensar a alma como inserida nas nossas profundezas, por
que não olhar em outra direção e pensá-la como o que transcende a
individualidade e nos une a outras pessoas e ao mundo em geral?
A identidade de uma pessoa é uma construção. Uma crise de
identidade é uma crise social.
O que uma pessoa é, é uma função dos fatos, do que ela pensa sobre si
mesma, do que os outros pensam e de como entendem esses fatos.
29. Capítulo 8. O self em transformação: self, alma e
espírito
Ter alma é experimentar emoções profundas em nossos envolvimentos
íntimos com o mundo. Ter experimentado bastante e ter digerido e
aceitado as experiências boas e ruins é ter alma.
A compaixão é uma consciência aguda de nossa interconexão com os
outros. Até aqueles que têm vidas afortunadas e confortáveis podem
partilhar do sofrimento de outros, pela compreensão apaixonada de
que todos nós partilhamos da vida e de suas dificuldades.
É com o enorme esforço para descobrir ou compreender nossos
melhores selves que a espiritualidade tem a ver.
30. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO
DISCIPLINA: PGP 3236-002 – O indivíduo no contexto das organizações
Espiritualidade para céticos
Paixão, verdade cósmica e racionalidade no século XXI
Robert Solomon
Helen Günther, Doutoranda área Gestão do Conhecimento