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Fitossanidade
Lagarta em
soqueira de
algodão na região
de Costa Rica (MT):
alimento é que não
falta no campo.

A crise anunciada
Ariosto Mesquita

38 | Agro DBO – novembro 2013

Ariosto Mesquita

Desconhecimento, descaso e improviso contribuiram para
a disseminação da Helicoverpa armigera por todo o país
Alimentação farta
O desrespeito ao vazio sanitário da soja relatado em vários
pontos do Centro-Oeste pode,
segundo ela, ter agravado o problema. “Além da manutenção
de restos de cultura da safra anterior a antecipação de plantios
com certeza ajudou a promover a
multiplicação do inseto. E não é

Ariosto Mesquita

a revelar ao país o atual ambiente
de desinformação, tensão e medo
no campo neste início da safra de
verão. Já na primeira semana após
o início do plantio de soja – no final de setembro – veio o primeiro
alerta da lavoura, a partir de uma
propriedade em Campo Novo do
Parecis (MT): lagartas em fase madura já atacavam as plântulas.
O fato revelador do descontrole
foi a ocorrência de insetos com pelo
menos 15 dias de idade predando
plantas com cinco dias, ou seja, já
havia comida disponível no campo
antes mesmo do plantio da oleaginosa. “A destruição de restos de
cultura foi a principal coisa que deixamos de fazer a partir da identificação da H. armigera no país. A praga
ficou à vontade no campo. Não houve quebra de ciclo. Ela se manteve o
tempo todo em diversas regiões do
Brasil. Só nos resta agora trabalhar.
A primeira coisa é o monitoramento
para controlar sua fase inicial. Ainda é possível reduzir o problema e o
prejuízo, mas tem de ser uma ação
conjunta, caso contrário não vai
funcionar”, aponta Czepak.

Cecília Czepek:
“Nós dormimos no
ponto. Estávamos
vendo este inseto no
campo faz tempo e
ficamos no achismo”.

Alface atacada
por lagartas no Rio
Grande do Sul: a
H. armigera já foi
vista em 12 estados.

Leandro Valerim

“N

ós erramos! Temos de fazer um
mea culpa”. A declaração feita pela entomologista e professora da
UFG – Universidade Federal de
Goiás, Cecília Czapek, aponta para o quadro de equívocos e despreparo do setor agrícola brasileiro frente à Helicoverpa armigera, já
considerada a praga da safra. “Todos nós – governo, pesquisadores
e o agronegócio brasileiro – dormimos no ponto. Estávamos vendo faz tempo este inseto no campo e ficamos no ‘achismo’, ou seja, apontávamos para uma coisa ou
outra e não fizemos a devida coleta
para identificação. Quando isso finalmente foi feito, a disseminação
da lagarta e a dimensão do problema já eram enormes”, revelou.
A declaração foi feita a uma
tensa e apoplética plateia de pouco mais de 350 pessoas – a maioria
agrônomos e agricultores – no dia
10 de outubro de 2013 em Chapadão do Sul (MS), durante o seminário “Helicoverpa – o que sabemos e o que precisamos saber”. O
evento foi realizado pela Fundação
Chapadão no auditório do CTG –
Centro de Tradições Gaúchas da
cidade, polo de uma das principais
regiões produtoras do Centro-Oeste, envolvendo, além do norte
do Mato Grosso do Sul, o sul dos
estados de Goiás e Mato Grosso.
Cecília Czepak tem crédito de
sobra no meio científico, sobretudo no que se diz respeito à Helicoverpa armigera. É dela – em conjunto com Lúcia Vivan (Fundação
MT) e Crébio José Ávila (Embrapa
Agropecuária Oeste) – o trabalho
a campo de coleta da lagarta nos
estados de Mato Grosso, Goiás
e Bahia que culminou, em março deste ano, com a constatação
da presença da praga no Brasil,
feita pelo taxonomista Vitor Becker. A admissão de culpa feita
pela estudiosa foi o bastante para
desmistificar muito do que vinha
sendo dito sobre a praga e ajudar

só isso: culturas de inverno onde
quase ninguém faz aplicações de
inseticidas, como sorgo e milheto,
provavelmente alimentaram a praga”, afirma. A entomologista tenta
aliviar o peso sobre o produtor e
atenuar uma reclamada lentidão
por parte do Ministério da Agricultura: “o agricultor é o menos
culpado nisso tudo, pois a maioria
não reconhece a praga no campo.
Quando finalmente é identificada,
invariavelmente ele revela que há
muito tempo o inseto era visto em
sua lavoura, mas não sabia do que
se tratava”. Muitos proprietários
rurais reclamam da falta de acesso
às informações objetivas sobre medidas a serem adotadas. “O Ministério da Agricultura providenciou
todas as medidas para o combate à
zea (Helicoverpa zea, espécie diferente, embora do mesmo gênero),
mas, quando houve a identificação
como armigera teve de mudar todo
o foco e hoje temos um enorme
problema nas mãos”, completa.
novembro 2013 – Agro DBO | 39
Fitossanidade
Pesquisador critica a “agenda calendarizada” e defende mudanças
no atual modelo de atendimento ao produtor rural brasileiro

Ariosto Mesquita

ta também atacando alface no Rio
Grande do Sul, girassol e crotalária
no Mato Grosso, trigo no Paraná
e melancia em São Paulo. Ao todo
são estimadas em 180 as espécies
hospedeiras e sujeitas ao ataque da
praga, entre plantas cultivadas e nativas. A provável presença e ação da
armigera há mais tempo no país foi
alimentada pela pesquisadora da
UFG com registros fotográficos da
mariposa Helicoverpa em Palmeiras
de Goiás em 29 de março de 2009 e
de imagens de lagartas feitas há oito
anos. “Eu mesmo recebi uma foto
em 2005 e fiquei em dúvida”, confessa. “Todo este episódio vai ficar
como uma lição de vida para nós
agrônomos”, admite.

A pesquisadora também desmistifica as insistentes afirmações
de que a H. armigera tenha surgido
em território baiano durante a safra
2012/13: “A praga não surgiu por
lá e nem é recente. É provável que
esteja no país há bem mais tempo,
não sabemos desde quanto. O episódio da Bahia foi apenas o grito.
Outros estados brasileiros, como
Goiás e Minas Gerais, já sofriam
com infestações, mas pensava-se
tratar da H. zea”. Esta última é conhecida como a lagarta da espiga
do milho; já a H. armigera é polífaga (se alimenta de várias plantas) e
extremamente voraz. A identificação entre as duas é bastante difícil
e só constatada em laboratório. A
Embrapa já registrou ataques da armigera a diversas culturas no Brasil, dentre elas milho, algodão, soja,
feijão comum, feijão caupi, milheto
e sorgo. Também há relatos de infestações em plantios de tomate,
pimentão, café e frutas cítricas. Em
sua apresentação em Chapadão do
Sul, Czepak mostrou fotos da lagar40 | Agro DBO - novembro 2013

Nem restos da
pluma de algodão
escaparam à
voracidade das
lagartas.

Mudanças profundas
Há um ano, a revista Agro DBO
tomava ciência do surgimento de
uma infestação sem precedentes
de lagartas em estados do Sudeste
e Centro-Oeste. Nos meses de novembro e dezembro de 2012, coletou
denúncias de agrônomos e produtores sobre devastação em lavouras.
No início de fevereiro, visitou propriedades em Goiás, Minas Gerais
e Distrito Federal, culminando com
a reportagem de capa “O ataque das
lagartas” (edição de março de 2013).

As revelações da professora
Cecília Czepak encontram eco. No
Mato Grosso, o coordenador da
Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura,
Wanderlei Dias Guerra, é enfático:
“O Brasil todo dormiu no ponto; a
praga vinha se disseminando pelo
país em meio a uma total desatenção do setor, inclusive do próprio
governo, para quem eu trabalho”.
Ele é fiscal federal agropecuário da
Superintendência Federal da Agricultura do Mato Grosso.
Guerra critica também o que
chama de “agronomia calendarizada” e afirma que o atual modelo de
atendimento ao produtor rural tem
de ser revisto: “o agrônomo tem de
parar de receber pacotes tecnológicos das multinacionais e simplesmente empurrar para o agricultor;
está na hora de voltarmos a ter
profissionais que não sejam movidos a presentes e viagens caras”. O
coordenador da comissão do Mapa
é um dos líderes de uma frente de
controle e monitoramento que se
formou no Mato Grosso – principal produtor de grãos do Brasil
– para o combate à H. armigera.
Seu trabalho ganhou notoriedade
este ano durante o 9º Congresso
Brasileiro do Algodão – realizado

Ações propostas pela Embrapa
• Estabelecimento de um consórcio para manejo de Helicoverpa – “Consórcio Manejo
Helicoverpa” (profissionais, produtores, instituições públicas e empresas privadas);

• Planejamento da área de cultivo;
• Monitoramento contínuo de pragas;
• Utilização do controle biológico;
• Registro emergencial e uso de inseticidas químicos e biológicos;
• Disseminação de tecnologia de aplicações de agrotóxicos e bioinseticidas.
O detalhamento do direcionamento proposto pela Embrapa pode ser conferido em documento
acessível através do link www.embrapa.br/alerta-helicoverpa/Manejo-Helicoverpa.pdf
Wanderlei Dias Guerra

Ações sugeridas pelo Mapa
• Uso de cultivares que reduzem a população da praga – baseado

nas opções disponível no mercado e na indicação de empresas de
sementes e instituições de pesquisa e extensão rural;

• Determinação da época de plantio e restrição de cultivos


subsequentes – semeadura de milho, soja e algodão no menor
espaço de tempo possível (janela menor), com o objetivo de reduzir
o período de disponibilidade de alimento para a praga;

• Uso de controle biológico – liberação de insetos parasitoides

e predadores além de fungos, bactérias e vírus que atacam a
Helicoverpa, reduzindo a sua população;

• Adoção de manejo integrado emergencial de pragas – integração de


tecnologias para identificação, monitoramento, estudo de fatores climáticos,
avaliação do desenvolvimento das plantas e observação de danos;

• Utilização de armadilhas, iscas e outros métodos de controle

físico – a utilização de feromônios em armadilhas é a técnica
mais recomendada para monitoramento;

• Respeito ao vazio sanitário – observação irrestrita do período sem


cultivos hospedeiros no campo, determinado pelos órgãos oficiais de
agricultura e de defesa agropecuária dos estados;

• Adoção de áreas de refúgio no plantio – setor de cultivo de


plantas não transgênicas de tecnologia BT junto ao plantio de escala
comercial BT (obedecendo o percentual recomendado e nunca a
mais de 800 metros de distância um do outro ). A medida favorece o
cruzamento entre pragas expostas e não expostas à toxina BT (Bacillus
thuringiensis) evitando a seleção de lagartas resistentes;

• Utilização de rotação de culturas – destruição de

plantas voluntárias e restos culturais.

Infestação de
lagartas em lavoura
de Mato Grosso e
postura de ovos em
soja na safra atual

de 3 a 6 de setembro em Brasília –
ao ser premiado pelo seu trabalho
“Ocorrência de Archytas (Diptera
tachinidae) parasitando lagartas
Helicoverpa armigera (Lepidoptera noctuidae) em Mato Grosso”.
Ele simplesmente descobriu uma
mosca que pode se tornar um dos
principais aliados para o controle
biológico da praga. “Esta mosca do
gênero Archytas coloca ovos sobre
a lagarta e a larva vai se alimentando da Helicoverpa até formarem
uma única pupa. Ao final, da pupa
nasce outra mosca; eu mesmo levei
um susto quando descobri”, garante. Guerra afirma que, dependendo
da quantidade e da ação da mosca, é possível controlar até 40% de
uma população de lagartas. “Isso é
mais do que muitos produtos químicos; é preciso tratar com carinho
este predador da lagarta, que existe em grande quantidade no Mato
Grosso, fazendo dele uma ferramenta para o manejo integrado de
pragas”, defende.
Medo no campo
As Fazendas Reunidas do Grupo Schlatter – duas propriedades
em Goiás, duas no Mato Grosso e
cinco no Mato Grosso do Sul – se
preparam para enfrentar a Helicoverpa armigera pela primeira vez.
“Estamos com medo, pois quem
já passou por isso não consegue
esconder o nervosismo e a apreensão”, admite o agrônomo responsável pelo grupo, André Luis da Silva.
Na verdade, ele já está enfrentando o problema de perto. Em
uma das unidades – Fazenda Nova
França, em Costa Rica (MS), na divisa com o estado de Mato Grosso –
a praga já está presente. Em grande
parte dos 1,5 mil hectares destinados ao plantio de algodão verão, a
praga é vista à vontade se deliciando com a comida farta disponibilizada pelos restos da cultura do algodão da última safra. “No final de
novembro vamos fazer a destruição
química das soqueiras para o plantio em dezembro”, avisa.
novembro 2013 - Agro DBO | 41
Fitossanidade

Ariosto Mesquita

Cientistas alertam: cruzamento entre as espécies H. armigera e
H. zea pode resultar em indivíduos mais agressivos e resistentes.

Área de soja
da fazenda Nova
França, ainda sem
lagartas: limpeza
dos restos da cultura
anterior (no caso,
algodão) ajudou no
controle dos insetos.

A Fundação Chapadão está utilizando a fazenda como campo de
pesquisa. “A propriedade tornou-se
parceira e aproveitamos para montar um trabalho de monitoramento
para avaliar o comportamento da
praga”, explica Denízio Cardoso da
Silva, técnico agrícola da instituição
mantida por produtores rurais e em-

presas agropecuárias da região dos
Chapadões – norte do Mato Grosso
do Sul e sul de Goiás. Nos 3,5 mil
hectares já semeados com soja, o
monitoramento ainda não detectou
a lagarta. “Nós limpamos bem para
tirar restos do algodão cultivado anteriormente, mas sei que vai ser difícil conter a infestação”, avisou. Um
fator agravante, segundo ele, é a demanda maior por inseticidas do que
a oferta existente no mercado: “boa
parte das empresas só disponibilizará produtos a partir de fevereiro;
quem não comprou com antecedência terá muito mais problemas”.
Silva classifica o momento
como de “despreparo sanitário vegetal brasileiro”. Da parte do grupo, houve uma mobilização para
um quadro de alta infestação. De
um máximo de duas aplicações
químicas feitas no último cultivo
de verão, a previsão é que o número suba para cinco neste ciclo
2013/14, tudo em função da lagarta. “Estamos preparados para
o pior; a tensão é muito grande”.
Na atual safra, as nove fazendas do
grupo devem cultivar juntas cerca
de 33 mil hectares de soja e cinco
mil de algodão.

Já na Fazenda Buritizinho – 700
hectares de cultivo de soja, feijão e
milho –, no município de São João
da Aliança, nordeste de Goiás, o
proprietário José Carlos Maichaki
calcula bater recorde de utilização
de inseticidas para conter a voracidade da praga. “Serão de três a
quatro aplicações a mais, em relação a 2012. Minha previsão é de
até sete na soja, podendo chegar a
12 no feijão”, revela. Até meados de
outubro, a situação ainda era “tranquila” pelo fato de até então não haver plantas novas emergentes. No
entanto, Maichaki não se ilude: “A
Helicoverpa virá de forma pesada
nesta safra e sei que meu custo de
produção deverá aumentar em pelo
menos 10% em função dela”.
O produtor de Goiás admite que
a agricultura brasileira está longe de
ter conhecimento pleno sobre a lagarta e critica a ausência de agroquímicos de controle efetivo: “Vários
produtos estão em falta no mercado,
alguns tiveram disparada nos preços
e outros poucos conseguem agir sobre a praga. Além disso, o governo
federal está demorando muito para
registrar o Benzoato de Emamectina”. Sua importação já foi autori-

Medição com feromônios
Na corrida contra o tempo – e
pelo mercado – começam a ser
adotadas alternativas para monitorar com mais eficiência o nível
de infestação da Helicoverpa armigera nas propriedades rurais.
Uma delas são os feromônios
específicos para esta praga, cuja
importação foi liberada pelo governo federal. Estes instrumentos
químicos – com aplicação para o
inseto na fase adulta (mariposa)
– imitam o odor da lagarta fêmea,
atraindo machos para uma arma-

42 | Agro DBO - novembro 2013

dilha. Dessa forma, dependendo
da população capturada é possível determinar o nível de aplicação de inseticidas na lavoura.
A Embrapa defende o uso
dos feromônios como o principal instrumento de facilitação da
inspeção sistemática da lavoura
dentro do MIP - Manejo Integrado de Pragas, uma vez que o processo de atração até a armadilha
seleciona apenas a Helicoverpa
(ao contrário das armadilhas luminosas que atraem diversos ti-

pos de insetos). De acordo com
alguns pesquisadores, o início de
tratamento – basicamente com
aplicação de inseticidas – deve
começar após a detecção do nível básico de infestação, que é de
três mariposas por metro quadrado de vôo à noite. As armadilhas
são encontradas no mercado. O
custo de cada unidade, utilizada
como padrão pela Fundação Chapadão, pode variar entre R$ 30,00
e R$ 40,00 com vida útil de aproximadamente um mês.
Cecília Czepak

zada, mas o registro no país ainda
dependia, até o fechamento desta
edição, de aprovação conjunta por
parte do Mapa, Ibama (Ministério
do Meio Ambiente) e Anvisa (Ministério da Saúde).
A H. armigera já foi identificada oficialmente ou relatada em
pelo menos 12 estados brasileiros – MG, MS, MT, GO, BA, PR,
DF, MA, TO, SP, RS, PI. No sul do
país, apesar de menos intensas do
que os registros na Bahia, Minas
Gerais e estados do Centro-Oeste,
as infestações incomodam e preocupam. “A gente percebe muita
ansiedade entre os produtores
neste início de safra”, admite o coordenador de Produção de Grãos
do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural,
Nelson Harger. Segundo ele, a Coamo – uma das maiores cooperativas do país – já localizou a praga
em buva no sul de Mato Grosso
do Sul e em palhadas de trigo em
território paranaense, mesmo antes do plantio da safra de verão.

“Nosso receio é o produtor resolver fazer aplicações indiscriminadamente”, ressalta. Há três anos,
segundo ele, a média de aplicações de defensivos em lavouras
do Paraná era de 4,6 intervenções.
“No atual ciclo deve ultrapassar
cinco, no mínimo”, calcula. É quase certo que a circulação da lagarta por áreas agrícolas dos dois
estados brasileiros (PR e MS) que
fazem fronteira com o Paraguai
deve ter sido a gota d’água para a
praga chegar ao país vizinho. Em
outubro, a defesa sanitária vegetal
paraguaia anunciou os primeiros
registros de infestações em lavouras nos departamentos de Canindeyú, Itapúa, San Pedro e Alto
Paraná.
Cruzamento perigoso
Dentre a sucessão de ‘descobertas’ sobre a Helicoverpa, surgem
agora indicativos de que as espécies
armigera e zea estão se cruzando e
possivelmente gerando indivíduos
diferenciados. As suspeitas foram

levantadas quase que ao mesmo
tempo pelo pesquisador da Fundação Chapadão, Germison Vital
Tomquelski e pelo fiscal federal do
Mapa em Campo Grande (MS), Ricardo Hilman. Mas foi o primeiro
(Tomquelski) quem testemunhou
situações a campo indicando cruzamento durante o monitoramento
dos insetos nas divisas entre os estados do Centro-Oeste. “Os feromônios que usamos existem para a
atração dos machos armigera, mas
também estamos encontrando insetos semelhantes à zea nas armadilhas; o produto pode ainda não
estar bem apurado ou estão ocorrendo cruzamentos”, avalia.
Sobre o perfil e comportamento destes possíveis híbridos, o pesquisador prefere não arriscar uma
opinião: “A possibilidade de cruzamentos existe e podem ser gerados
descendentes, mas ainda é difícil
mensurar qual será a implicação disso; em princípio podemos ter indivíduos mais suscetíveis às tecnologias
quanto insetos mais resistentes”.

Descarte de
frutos em cultivo
de tomate em
Goianópolis (GO):
mesa farta para
a Helicoverpa

novembro 2013 - Agro DBO | 43

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  • 1. Fitossanidade Lagarta em soqueira de algodão na região de Costa Rica (MT): alimento é que não falta no campo. A crise anunciada Ariosto Mesquita 38 | Agro DBO – novembro 2013 Ariosto Mesquita Desconhecimento, descaso e improviso contribuiram para a disseminação da Helicoverpa armigera por todo o país
  • 2. Alimentação farta O desrespeito ao vazio sanitário da soja relatado em vários pontos do Centro-Oeste pode, segundo ela, ter agravado o problema. “Além da manutenção de restos de cultura da safra anterior a antecipação de plantios com certeza ajudou a promover a multiplicação do inseto. E não é Ariosto Mesquita a revelar ao país o atual ambiente de desinformação, tensão e medo no campo neste início da safra de verão. Já na primeira semana após o início do plantio de soja – no final de setembro – veio o primeiro alerta da lavoura, a partir de uma propriedade em Campo Novo do Parecis (MT): lagartas em fase madura já atacavam as plântulas. O fato revelador do descontrole foi a ocorrência de insetos com pelo menos 15 dias de idade predando plantas com cinco dias, ou seja, já havia comida disponível no campo antes mesmo do plantio da oleaginosa. “A destruição de restos de cultura foi a principal coisa que deixamos de fazer a partir da identificação da H. armigera no país. A praga ficou à vontade no campo. Não houve quebra de ciclo. Ela se manteve o tempo todo em diversas regiões do Brasil. Só nos resta agora trabalhar. A primeira coisa é o monitoramento para controlar sua fase inicial. Ainda é possível reduzir o problema e o prejuízo, mas tem de ser uma ação conjunta, caso contrário não vai funcionar”, aponta Czepak. Cecília Czepek: “Nós dormimos no ponto. Estávamos vendo este inseto no campo faz tempo e ficamos no achismo”. Alface atacada por lagartas no Rio Grande do Sul: a H. armigera já foi vista em 12 estados. Leandro Valerim “N ós erramos! Temos de fazer um mea culpa”. A declaração feita pela entomologista e professora da UFG – Universidade Federal de Goiás, Cecília Czapek, aponta para o quadro de equívocos e despreparo do setor agrícola brasileiro frente à Helicoverpa armigera, já considerada a praga da safra. “Todos nós – governo, pesquisadores e o agronegócio brasileiro – dormimos no ponto. Estávamos vendo faz tempo este inseto no campo e ficamos no ‘achismo’, ou seja, apontávamos para uma coisa ou outra e não fizemos a devida coleta para identificação. Quando isso finalmente foi feito, a disseminação da lagarta e a dimensão do problema já eram enormes”, revelou. A declaração foi feita a uma tensa e apoplética plateia de pouco mais de 350 pessoas – a maioria agrônomos e agricultores – no dia 10 de outubro de 2013 em Chapadão do Sul (MS), durante o seminário “Helicoverpa – o que sabemos e o que precisamos saber”. O evento foi realizado pela Fundação Chapadão no auditório do CTG – Centro de Tradições Gaúchas da cidade, polo de uma das principais regiões produtoras do Centro-Oeste, envolvendo, além do norte do Mato Grosso do Sul, o sul dos estados de Goiás e Mato Grosso. Cecília Czepak tem crédito de sobra no meio científico, sobretudo no que se diz respeito à Helicoverpa armigera. É dela – em conjunto com Lúcia Vivan (Fundação MT) e Crébio José Ávila (Embrapa Agropecuária Oeste) – o trabalho a campo de coleta da lagarta nos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia que culminou, em março deste ano, com a constatação da presença da praga no Brasil, feita pelo taxonomista Vitor Becker. A admissão de culpa feita pela estudiosa foi o bastante para desmistificar muito do que vinha sendo dito sobre a praga e ajudar só isso: culturas de inverno onde quase ninguém faz aplicações de inseticidas, como sorgo e milheto, provavelmente alimentaram a praga”, afirma. A entomologista tenta aliviar o peso sobre o produtor e atenuar uma reclamada lentidão por parte do Ministério da Agricultura: “o agricultor é o menos culpado nisso tudo, pois a maioria não reconhece a praga no campo. Quando finalmente é identificada, invariavelmente ele revela que há muito tempo o inseto era visto em sua lavoura, mas não sabia do que se tratava”. Muitos proprietários rurais reclamam da falta de acesso às informações objetivas sobre medidas a serem adotadas. “O Ministério da Agricultura providenciou todas as medidas para o combate à zea (Helicoverpa zea, espécie diferente, embora do mesmo gênero), mas, quando houve a identificação como armigera teve de mudar todo o foco e hoje temos um enorme problema nas mãos”, completa. novembro 2013 – Agro DBO | 39
  • 3. Fitossanidade Pesquisador critica a “agenda calendarizada” e defende mudanças no atual modelo de atendimento ao produtor rural brasileiro Ariosto Mesquita ta também atacando alface no Rio Grande do Sul, girassol e crotalária no Mato Grosso, trigo no Paraná e melancia em São Paulo. Ao todo são estimadas em 180 as espécies hospedeiras e sujeitas ao ataque da praga, entre plantas cultivadas e nativas. A provável presença e ação da armigera há mais tempo no país foi alimentada pela pesquisadora da UFG com registros fotográficos da mariposa Helicoverpa em Palmeiras de Goiás em 29 de março de 2009 e de imagens de lagartas feitas há oito anos. “Eu mesmo recebi uma foto em 2005 e fiquei em dúvida”, confessa. “Todo este episódio vai ficar como uma lição de vida para nós agrônomos”, admite. A pesquisadora também desmistifica as insistentes afirmações de que a H. armigera tenha surgido em território baiano durante a safra 2012/13: “A praga não surgiu por lá e nem é recente. É provável que esteja no país há bem mais tempo, não sabemos desde quanto. O episódio da Bahia foi apenas o grito. Outros estados brasileiros, como Goiás e Minas Gerais, já sofriam com infestações, mas pensava-se tratar da H. zea”. Esta última é conhecida como a lagarta da espiga do milho; já a H. armigera é polífaga (se alimenta de várias plantas) e extremamente voraz. A identificação entre as duas é bastante difícil e só constatada em laboratório. A Embrapa já registrou ataques da armigera a diversas culturas no Brasil, dentre elas milho, algodão, soja, feijão comum, feijão caupi, milheto e sorgo. Também há relatos de infestações em plantios de tomate, pimentão, café e frutas cítricas. Em sua apresentação em Chapadão do Sul, Czepak mostrou fotos da lagar40 | Agro DBO - novembro 2013 Nem restos da pluma de algodão escaparam à voracidade das lagartas. Mudanças profundas Há um ano, a revista Agro DBO tomava ciência do surgimento de uma infestação sem precedentes de lagartas em estados do Sudeste e Centro-Oeste. Nos meses de novembro e dezembro de 2012, coletou denúncias de agrônomos e produtores sobre devastação em lavouras. No início de fevereiro, visitou propriedades em Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, culminando com a reportagem de capa “O ataque das lagartas” (edição de março de 2013). As revelações da professora Cecília Czepak encontram eco. No Mato Grosso, o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Wanderlei Dias Guerra, é enfático: “O Brasil todo dormiu no ponto; a praga vinha se disseminando pelo país em meio a uma total desatenção do setor, inclusive do próprio governo, para quem eu trabalho”. Ele é fiscal federal agropecuário da Superintendência Federal da Agricultura do Mato Grosso. Guerra critica também o que chama de “agronomia calendarizada” e afirma que o atual modelo de atendimento ao produtor rural tem de ser revisto: “o agrônomo tem de parar de receber pacotes tecnológicos das multinacionais e simplesmente empurrar para o agricultor; está na hora de voltarmos a ter profissionais que não sejam movidos a presentes e viagens caras”. O coordenador da comissão do Mapa é um dos líderes de uma frente de controle e monitoramento que se formou no Mato Grosso – principal produtor de grãos do Brasil – para o combate à H. armigera. Seu trabalho ganhou notoriedade este ano durante o 9º Congresso Brasileiro do Algodão – realizado Ações propostas pela Embrapa • Estabelecimento de um consórcio para manejo de Helicoverpa – “Consórcio Manejo Helicoverpa” (profissionais, produtores, instituições públicas e empresas privadas); • Planejamento da área de cultivo; • Monitoramento contínuo de pragas; • Utilização do controle biológico; • Registro emergencial e uso de inseticidas químicos e biológicos; • Disseminação de tecnologia de aplicações de agrotóxicos e bioinseticidas. O detalhamento do direcionamento proposto pela Embrapa pode ser conferido em documento acessível através do link www.embrapa.br/alerta-helicoverpa/Manejo-Helicoverpa.pdf
  • 4. Wanderlei Dias Guerra Ações sugeridas pelo Mapa • Uso de cultivares que reduzem a população da praga – baseado nas opções disponível no mercado e na indicação de empresas de sementes e instituições de pesquisa e extensão rural; • Determinação da época de plantio e restrição de cultivos subsequentes – semeadura de milho, soja e algodão no menor espaço de tempo possível (janela menor), com o objetivo de reduzir o período de disponibilidade de alimento para a praga; • Uso de controle biológico – liberação de insetos parasitoides e predadores além de fungos, bactérias e vírus que atacam a Helicoverpa, reduzindo a sua população; • Adoção de manejo integrado emergencial de pragas – integração de tecnologias para identificação, monitoramento, estudo de fatores climáticos, avaliação do desenvolvimento das plantas e observação de danos; • Utilização de armadilhas, iscas e outros métodos de controle físico – a utilização de feromônios em armadilhas é a técnica mais recomendada para monitoramento; • Respeito ao vazio sanitário – observação irrestrita do período sem cultivos hospedeiros no campo, determinado pelos órgãos oficiais de agricultura e de defesa agropecuária dos estados; • Adoção de áreas de refúgio no plantio – setor de cultivo de plantas não transgênicas de tecnologia BT junto ao plantio de escala comercial BT (obedecendo o percentual recomendado e nunca a mais de 800 metros de distância um do outro ). A medida favorece o cruzamento entre pragas expostas e não expostas à toxina BT (Bacillus thuringiensis) evitando a seleção de lagartas resistentes; • Utilização de rotação de culturas – destruição de plantas voluntárias e restos culturais. Infestação de lagartas em lavoura de Mato Grosso e postura de ovos em soja na safra atual de 3 a 6 de setembro em Brasília – ao ser premiado pelo seu trabalho “Ocorrência de Archytas (Diptera tachinidae) parasitando lagartas Helicoverpa armigera (Lepidoptera noctuidae) em Mato Grosso”. Ele simplesmente descobriu uma mosca que pode se tornar um dos principais aliados para o controle biológico da praga. “Esta mosca do gênero Archytas coloca ovos sobre a lagarta e a larva vai se alimentando da Helicoverpa até formarem uma única pupa. Ao final, da pupa nasce outra mosca; eu mesmo levei um susto quando descobri”, garante. Guerra afirma que, dependendo da quantidade e da ação da mosca, é possível controlar até 40% de uma população de lagartas. “Isso é mais do que muitos produtos químicos; é preciso tratar com carinho este predador da lagarta, que existe em grande quantidade no Mato Grosso, fazendo dele uma ferramenta para o manejo integrado de pragas”, defende. Medo no campo As Fazendas Reunidas do Grupo Schlatter – duas propriedades em Goiás, duas no Mato Grosso e cinco no Mato Grosso do Sul – se preparam para enfrentar a Helicoverpa armigera pela primeira vez. “Estamos com medo, pois quem já passou por isso não consegue esconder o nervosismo e a apreensão”, admite o agrônomo responsável pelo grupo, André Luis da Silva. Na verdade, ele já está enfrentando o problema de perto. Em uma das unidades – Fazenda Nova França, em Costa Rica (MS), na divisa com o estado de Mato Grosso – a praga já está presente. Em grande parte dos 1,5 mil hectares destinados ao plantio de algodão verão, a praga é vista à vontade se deliciando com a comida farta disponibilizada pelos restos da cultura do algodão da última safra. “No final de novembro vamos fazer a destruição química das soqueiras para o plantio em dezembro”, avisa. novembro 2013 - Agro DBO | 41
  • 5. Fitossanidade Ariosto Mesquita Cientistas alertam: cruzamento entre as espécies H. armigera e H. zea pode resultar em indivíduos mais agressivos e resistentes. Área de soja da fazenda Nova França, ainda sem lagartas: limpeza dos restos da cultura anterior (no caso, algodão) ajudou no controle dos insetos. A Fundação Chapadão está utilizando a fazenda como campo de pesquisa. “A propriedade tornou-se parceira e aproveitamos para montar um trabalho de monitoramento para avaliar o comportamento da praga”, explica Denízio Cardoso da Silva, técnico agrícola da instituição mantida por produtores rurais e em- presas agropecuárias da região dos Chapadões – norte do Mato Grosso do Sul e sul de Goiás. Nos 3,5 mil hectares já semeados com soja, o monitoramento ainda não detectou a lagarta. “Nós limpamos bem para tirar restos do algodão cultivado anteriormente, mas sei que vai ser difícil conter a infestação”, avisou. Um fator agravante, segundo ele, é a demanda maior por inseticidas do que a oferta existente no mercado: “boa parte das empresas só disponibilizará produtos a partir de fevereiro; quem não comprou com antecedência terá muito mais problemas”. Silva classifica o momento como de “despreparo sanitário vegetal brasileiro”. Da parte do grupo, houve uma mobilização para um quadro de alta infestação. De um máximo de duas aplicações químicas feitas no último cultivo de verão, a previsão é que o número suba para cinco neste ciclo 2013/14, tudo em função da lagarta. “Estamos preparados para o pior; a tensão é muito grande”. Na atual safra, as nove fazendas do grupo devem cultivar juntas cerca de 33 mil hectares de soja e cinco mil de algodão. Já na Fazenda Buritizinho – 700 hectares de cultivo de soja, feijão e milho –, no município de São João da Aliança, nordeste de Goiás, o proprietário José Carlos Maichaki calcula bater recorde de utilização de inseticidas para conter a voracidade da praga. “Serão de três a quatro aplicações a mais, em relação a 2012. Minha previsão é de até sete na soja, podendo chegar a 12 no feijão”, revela. Até meados de outubro, a situação ainda era “tranquila” pelo fato de até então não haver plantas novas emergentes. No entanto, Maichaki não se ilude: “A Helicoverpa virá de forma pesada nesta safra e sei que meu custo de produção deverá aumentar em pelo menos 10% em função dela”. O produtor de Goiás admite que a agricultura brasileira está longe de ter conhecimento pleno sobre a lagarta e critica a ausência de agroquímicos de controle efetivo: “Vários produtos estão em falta no mercado, alguns tiveram disparada nos preços e outros poucos conseguem agir sobre a praga. Além disso, o governo federal está demorando muito para registrar o Benzoato de Emamectina”. Sua importação já foi autori- Medição com feromônios Na corrida contra o tempo – e pelo mercado – começam a ser adotadas alternativas para monitorar com mais eficiência o nível de infestação da Helicoverpa armigera nas propriedades rurais. Uma delas são os feromônios específicos para esta praga, cuja importação foi liberada pelo governo federal. Estes instrumentos químicos – com aplicação para o inseto na fase adulta (mariposa) – imitam o odor da lagarta fêmea, atraindo machos para uma arma- 42 | Agro DBO - novembro 2013 dilha. Dessa forma, dependendo da população capturada é possível determinar o nível de aplicação de inseticidas na lavoura. A Embrapa defende o uso dos feromônios como o principal instrumento de facilitação da inspeção sistemática da lavoura dentro do MIP - Manejo Integrado de Pragas, uma vez que o processo de atração até a armadilha seleciona apenas a Helicoverpa (ao contrário das armadilhas luminosas que atraem diversos ti- pos de insetos). De acordo com alguns pesquisadores, o início de tratamento – basicamente com aplicação de inseticidas – deve começar após a detecção do nível básico de infestação, que é de três mariposas por metro quadrado de vôo à noite. As armadilhas são encontradas no mercado. O custo de cada unidade, utilizada como padrão pela Fundação Chapadão, pode variar entre R$ 30,00 e R$ 40,00 com vida útil de aproximadamente um mês.
  • 6. Cecília Czepak zada, mas o registro no país ainda dependia, até o fechamento desta edição, de aprovação conjunta por parte do Mapa, Ibama (Ministério do Meio Ambiente) e Anvisa (Ministério da Saúde). A H. armigera já foi identificada oficialmente ou relatada em pelo menos 12 estados brasileiros – MG, MS, MT, GO, BA, PR, DF, MA, TO, SP, RS, PI. No sul do país, apesar de menos intensas do que os registros na Bahia, Minas Gerais e estados do Centro-Oeste, as infestações incomodam e preocupam. “A gente percebe muita ansiedade entre os produtores neste início de safra”, admite o coordenador de Produção de Grãos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, Nelson Harger. Segundo ele, a Coamo – uma das maiores cooperativas do país – já localizou a praga em buva no sul de Mato Grosso do Sul e em palhadas de trigo em território paranaense, mesmo antes do plantio da safra de verão. “Nosso receio é o produtor resolver fazer aplicações indiscriminadamente”, ressalta. Há três anos, segundo ele, a média de aplicações de defensivos em lavouras do Paraná era de 4,6 intervenções. “No atual ciclo deve ultrapassar cinco, no mínimo”, calcula. É quase certo que a circulação da lagarta por áreas agrícolas dos dois estados brasileiros (PR e MS) que fazem fronteira com o Paraguai deve ter sido a gota d’água para a praga chegar ao país vizinho. Em outubro, a defesa sanitária vegetal paraguaia anunciou os primeiros registros de infestações em lavouras nos departamentos de Canindeyú, Itapúa, San Pedro e Alto Paraná. Cruzamento perigoso Dentre a sucessão de ‘descobertas’ sobre a Helicoverpa, surgem agora indicativos de que as espécies armigera e zea estão se cruzando e possivelmente gerando indivíduos diferenciados. As suspeitas foram levantadas quase que ao mesmo tempo pelo pesquisador da Fundação Chapadão, Germison Vital Tomquelski e pelo fiscal federal do Mapa em Campo Grande (MS), Ricardo Hilman. Mas foi o primeiro (Tomquelski) quem testemunhou situações a campo indicando cruzamento durante o monitoramento dos insetos nas divisas entre os estados do Centro-Oeste. “Os feromônios que usamos existem para a atração dos machos armigera, mas também estamos encontrando insetos semelhantes à zea nas armadilhas; o produto pode ainda não estar bem apurado ou estão ocorrendo cruzamentos”, avalia. Sobre o perfil e comportamento destes possíveis híbridos, o pesquisador prefere não arriscar uma opinião: “A possibilidade de cruzamentos existe e podem ser gerados descendentes, mas ainda é difícil mensurar qual será a implicação disso; em princípio podemos ter indivíduos mais suscetíveis às tecnologias quanto insetos mais resistentes”. Descarte de frutos em cultivo de tomate em Goianópolis (GO): mesa farta para a Helicoverpa novembro 2013 - Agro DBO | 43