SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  13
E.E. Profa. Irene Dias Ribeiro. Diana J. Lima Miguel Sirlândia S. Carneiro Jéssica P. da Silva Milene L. Teodoro 3ª D  -  2011
A Jangada de Pedra José Saramago.
Introdução A jangada de pedra", de José Saramago, publicado em 1986, é um romance que relata a história ficcional da separação física entre a Península Ibérica e o resto da Europa, em uma clara metáfora sobre a situação dos países ibéricos, freqüentemente postos de lado e com pouca identificação social, cultural ou econômica com o resto do continente. Trata-se de um livro particularmente atual em tempos de União Européia.  Precedendo este estranho evento natural, sem explicação científica plausível (como muitas outras histórias que Saramago nos conta), outros acontecimentos fantásticos acontecem, unindo os envolvidos (Joana Carda, Joaquim Sassa, José Anaiço, Maria Guavaira, Pedro Orce e Cão) em uma longa jornada em busca de respostas aos acontecimentos, dos quais se sentem culpados.  Belíssima história do mestre José Saramago, com toda sua narrativa característica e poética.
A História Em A Jangada de Pedra, o seu aspecto fantástico-alegórico constrói-se com a intervenção do símbolo canino: Joana Carda traça um risco no chão com uma vara de negrilho e com isso faz com que a Península Ibérica se solte da Europa e comece a vagar pelo Atlântico. No momento do desprendimento da Península, articulam-se outros movimentos: a viagem das personagens Joana Carda, Pedro Orce, Joaquim Saissa, João Anaiço e Maria Guavaira, que acompanhadas de um cão, buscam-se entre si para realizarem, posteriormente, o motivo final do seu encontro, ou seja, a separação da Península. Numa verdadeira aventura humana, reveladora por seus aspectos de significação crítico-histórica e política, o romance desfecha-se com a morte de Pedro Orce e com todas as mulheres em período fértil, grávidas.
Aos primeiros instantes da narrativa, com o traço no chão que logo se abrirá em fenda, começa-se a manifestação, por meio de latidos, de todos os cães de Cerbère, de cães que até então não tinham voz, mas que a partir deste momento passam a possuí-la, desencadeando, assim motivacionalmente, a ação da narrativa. O latido dos cães denota o intuito de substanciar ações e funcionar como ponte para o universo do maravilhoso com todas as suas implicações sócio-políticas daí decorrentes. O símbolo do cão persiste por toda a narrativa fazendo-se notar nos momentos em que novas e importantes ações estão por efabular e, da mesma forma, acompanhando as personagens em suas buscas.
Com a manifestação dos cães e a separação entre a Península Ibérica e a Europa, surge uma nova significação para a figuralidade desse motivo simbólico. A associação do cão, resgatando a sugestão de um mito peruano datado dos primeiros tempos da conquista espanhola. Neste, o estabelecimento dos tempos novos era assinalado pelo triunfo da divindade uraniana, senhora das águas e do fogo do céu, sobre a divindade ctoniana, senhora do fogo interior da terra. Desta forma, a imagem do cão estabelece uma relação de mudança, de reavaliação das instituições pré-construídas, como a escola, a família, a religião. Assim sendo, como muitas vezes é tido como conquistador do fogo, torna-se o símbolo do herói civilizador, já que configura uma renovação das instituições. Há, ainda, nesse simbolismo, a recorrência à figura do cão representada pelos cães de lareira descobertos na Gália em escavações arqueológicas. São peças feitas de argila ou em pedra em forma de chifres e correspondem a numerosas peças semelhantes descobertas na Alemanha e na Europa Ocidental.
Estes cães estão ligados ao fogo e aos ornamentos, dos quais muitas vezes estão acompanhados, relacionam-se todos a um simbolismo solar, ou seja, o fogo , fertilizante.  No final do livro, logo após o enterro do corpo de Pedro Orce, José Anaiço observa, contrariamente à tradição mitológica que envolve a figura do cão, que o animal do morto comporta-se estranhamente: "...Chamaram o cão, que durante todas as horas não se afastou da cova, mas ele não foi, É o costume, disse José Anaiço, os cães resistem a separar-se do dono, às vezes deixam-se morrer. Enganava-se. O cão Ardent olhou José Anaiço, depois afastou-se lentamente, de cabeça baixa. Não o tornaram a ver." (SARAMAGO: 1986, 317)  Dessa forma, a imagem simbólica que aqui transparece, ao mesmo tempo em que ratifica a tradição, expressa a imagem de Pedro Orce por meio de um outro aspecto mítico-simbólico: o cão vivo. O animal não é sacrificado como alguns povos fazem com o cão do morto para acompanhá-lo na outra vida, mas ambos, cão e dono, seguiram sozinhos os seus caminhos, apesar da inicial insistência do cão para revolver a terra da cova. Fica-se, assim, a sugestão da continuidade de Pedro Orce na figura do cão. Outra questão elucidativa refere-se à fecundação das mulheres, a qual virá renovar a face da terra e articulando a função do cão como herói civilizador.
Personagens: Joana Carda: Portuguesa, divorciada, ela morava na região de Ereira.  Joaquim Sassa: Português, trabalhava em um escritório. José Anaiço: Português, ele tem o oficio de professor que fica sendo acompanhado constantemente por uma nuvem de estorninho. Pedro Orce: Espanhol da região de Orce, farmacêutico no vilarejo de Venta Micena. Ele sente a terra tremer enquanto os sismógrafos não conseguem detectar nenhum tremor. Maria Guavaira: Habitante da região rural da Galiza, puxa um fio azul de lã de uma meia que se multiplica exageradamente em comprimento. É este fio, através do cão constante, que traz os outros personagens acima á sua casa.
Sobre o espaço na obra:O espaço dos acontecimentos está circunscrito basicamente dentro da Península Ibérica, ainda que esta esteja em movimento, na sua jornada de afastamento do continente europeu. Em alguns momentos, porém, ela se passa também na Europa, quando do retrato das manifestações de apoio à causa ibérica, bem como as tensões políticas e sociais que lá aconteceram.
Sobre o tempo na obra:A narrativa é construída de forma linear, ou seja, há uma sequência natural do tempo em dias, semanas e meses. Mas em algumas vezes é possível perceber o narrador voltando no tempo.
Sobre o narrador da obra:O narrador saramaguiano tem como característica fundamental a ironia, mas é também poético e filosófico. Particularmente em Jangada de Pedra, em alguns momentos quando parece que o leitor está sendo guiado por um narrador onisciente, que a tudo já conhece por antecipação, logo se depara com um narrador que ainda não conhece os fatos que irão se passar, ou mesmo alguma características das personagens, descobrindo-as ou não, junto com quem lê.
A Linguagem e o Estilo da obra: O Autor se utiliza de períodos e parágrafos muito longos. Há uma total erradicação dos sinais de pontuação ( usando predominantemente a virgula e o ponto). As falas do narrador e personagens são as vezes confundidas, onde o uso do discurso indireto livre é bastante influenciador, a metalinguagem também se faz presente no romance onde se percebe leves doses de ironia.
Conclusão: A JANGADA DE PEDRA é de longe uma leitura obrigatória. É atualissimo, e trata das questões de identidade, coisa que num mundo globalizado como o nosso é mais do que pertinente. No romance em comento Saramago traduz a angústia da segregação do povo lusitano, que dentro de uma  Europa excludente se sente um povo à margem, literalmente no istimo final do velho continente. Surreal, o romance diz do dia em que Portugal sofre uma ruptura, uma trinca e se separa do continente europeu e, à deriva como uma imensa jangada sem rumo o povo lusitana navega por mares nunca dantes navegados, porque navegar é preciso para encontrar-se o "eu" perdido de cada um. No velho continente diz-se que a parte mais ocidental é a ibéria, e aqueles povos são chamados de iberos, não de europeus.

Contenu connexe

Tendances

Capítulo XXIII - MC
Capítulo XXIII - MCCapítulo XXIII - MC
Capítulo XXIII - MC12anogolega
 
Memorial do Convento - Cap. IV
Memorial do Convento - Cap. IVMemorial do Convento - Cap. IV
Memorial do Convento - Cap. IV12º A Golegã
 
Modernismo e Fernando Pessoa
Modernismo e Fernando PessoaModernismo e Fernando Pessoa
Modernismo e Fernando PessoaCarla Luís
 
A sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do ConventoA sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do ConventoJoana Filipa Rodrigues
 
Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)
Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)
Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)Teresa Ferreira
 
Os Maias - Episódio da Corneta do Diabo e Jornal A Trade
Os Maias - Episódio da Corneta do Diabo e  Jornal A TradeOs Maias - Episódio da Corneta do Diabo e  Jornal A Trade
Os Maias - Episódio da Corneta do Diabo e Jornal A TradeOxana Marian
 
Memorial do convento espaço social e a crítica
Memorial do convento   espaço social e a críticaMemorial do convento   espaço social e a crítica
Memorial do convento espaço social e a críticaAntónio Teixeira
 
Corrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os MaiasCorrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os Maiasmauro dinis
 
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos "O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos Catarina Castro
 
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaSebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaAntónio Aragão
 
Ação "Os Maias"
Ação "Os Maias"Ação "Os Maias"
Ação "Os Maias"Marta Jorge
 
Memorial do Convento
Memorial do ConventoMemorial do Convento
Memorial do Conventoguest304ad9
 
Memorial do convento xiv
Memorial do convento xivMemorial do convento xiv
Memorial do convento xiv12anogolega
 
Análise Capitulo XV - Os Maias
Análise Capitulo XV -  Os MaiasAnálise Capitulo XV -  Os Maias
Análise Capitulo XV - Os Maiasmonicasantosilva
 

Tendances (20)

Fernando Pessoa
Fernando PessoaFernando Pessoa
Fernando Pessoa
 
Capítulo XXIII - MC
Capítulo XXIII - MCCapítulo XXIII - MC
Capítulo XXIII - MC
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
Memorial do Convento - Cap. IV
Memorial do Convento - Cap. IVMemorial do Convento - Cap. IV
Memorial do Convento - Cap. IV
 
Os maias
Os maiasOs maias
Os maias
 
Modernismo e Fernando Pessoa
Modernismo e Fernando PessoaModernismo e Fernando Pessoa
Modernismo e Fernando Pessoa
 
Os Maias - Capítulo X
Os Maias - Capítulo XOs Maias - Capítulo X
Os Maias - Capítulo X
 
A sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do ConventoA sátira e a crítica social no Memorial do Convento
A sátira e a crítica social no Memorial do Convento
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)
Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)
Real vs. Ficcional (MEMORIAL DO CONVENTO)
 
Os Maias - Episódio da Corneta do Diabo e Jornal A Trade
Os Maias - Episódio da Corneta do Diabo e  Jornal A TradeOs Maias - Episódio da Corneta do Diabo e  Jornal A Trade
Os Maias - Episódio da Corneta do Diabo e Jornal A Trade
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
Memorial do convento espaço social e a crítica
Memorial do convento   espaço social e a críticaMemorial do convento   espaço social e a crítica
Memorial do convento espaço social e a crítica
 
Corrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os MaiasCorrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os Maias
 
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos "O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Retoma de Conteúdos
 
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaSebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
 
Ação "Os Maias"
Ação "Os Maias"Ação "Os Maias"
Ação "Os Maias"
 
Memorial do Convento
Memorial do ConventoMemorial do Convento
Memorial do Convento
 
Memorial do convento xiv
Memorial do convento xivMemorial do convento xiv
Memorial do convento xiv
 
Análise Capitulo XV - Os Maias
Análise Capitulo XV -  Os MaiasAnálise Capitulo XV -  Os Maias
Análise Capitulo XV - Os Maias
 

Similaire à A Jangada de Pedra 3ª D - 2011

Similaire à A Jangada de Pedra 3ª D - 2011 (20)

Artigo antónio mota
Artigo antónio motaArtigo antónio mota
Artigo antónio mota
 
Texto narrativo
Texto narrativoTexto narrativo
Texto narrativo
 
Divulgação livros
Divulgação livrosDivulgação livros
Divulgação livros
 
Poeira eudes leite
Poeira eudes leitePoeira eudes leite
Poeira eudes leite
 
gato-malhado-sistematizacao-ppt
 gato-malhado-sistematizacao-ppt gato-malhado-sistematizacao-ppt
gato-malhado-sistematizacao-ppt
 
Os Maias
Os MaiasOs Maias
Os Maias
 
Gêneros Literários 2.0
Gêneros Literários 2.0Gêneros Literários 2.0
Gêneros Literários 2.0
 
Proj letura
Proj leturaProj letura
Proj letura
 
Lendas
LendasLendas
Lendas
 
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães RosaModernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
 
TG
TGTG
TG
 
Eurico o presbítero
Eurico o presbíteroEurico o presbítero
Eurico o presbítero
 
TG
TGTG
TG
 
Gato Malhado: Sistematização
Gato Malhado: SistematizaçãoGato Malhado: Sistematização
Gato Malhado: Sistematização
 
ApresentaçãOcontos Tradic
ApresentaçãOcontos TradicApresentaçãOcontos Tradic
ApresentaçãOcontos Tradic
 
TG
TGTG
TG
 
TG
TGTG
TG
 
TG
TGTG
TG
 
Os Maias
Os MaiasOs Maias
Os Maias
 
Viagens na minha terra.pptx
Viagens na minha terra.pptxViagens na minha terra.pptx
Viagens na minha terra.pptx
 

Plus de Maria Inês de Souza Vitorino Justino

Plus de Maria Inês de Souza Vitorino Justino (20)

Triste fim de policarpo quaresma 3ª a 2015
Triste fim de policarpo quaresma 3ª a   2015Triste fim de policarpo quaresma 3ª a   2015
Triste fim de policarpo quaresma 3ª a 2015
 
Triste fim de policarpo quaresma 3ª a 2015
Triste fim de policarpo quaresma 3ª a   2015Triste fim de policarpo quaresma 3ª a   2015
Triste fim de policarpo quaresma 3ª a 2015
 
Clara dos anjos 3ª a - 2015
Clara dos anjos   3ª a - 2015Clara dos anjos   3ª a - 2015
Clara dos anjos 3ª a - 2015
 
Clara dos anjos 3ª a - 2015
Clara dos anjos   3ª a - 2015Clara dos anjos   3ª a - 2015
Clara dos anjos 3ª a - 2015
 
Triste fim de Policarpo Quaresma 3º A - 2015
Triste fim de Policarpo Quaresma 3º A -  2015Triste fim de Policarpo Quaresma 3º A -  2015
Triste fim de Policarpo Quaresma 3º A - 2015
 
Clara dos Anjos 3º A - 2015
Clara dos Anjos   3º A - 2015Clara dos Anjos   3º A - 2015
Clara dos Anjos 3º A - 2015
 
Slides revolução industrial
Slides revolução industrialSlides revolução industrial
Slides revolução industrial
 
Sociologia sobre a cidade e as serras
Sociologia   sobre a cidade e as serrasSociologia   sobre a cidade e as serras
Sociologia sobre a cidade e as serras
 
Breve histórico
Breve históricoBreve histórico
Breve histórico
 
Apontamentos sobre livros da fuvest
Apontamentos sobre livros da fuvestApontamentos sobre livros da fuvest
Apontamentos sobre livros da fuvest
 
A Cidade e as Serras 3ª B - 2013
A Cidade e as Serras   3ª B - 2013A Cidade e as Serras   3ª B - 2013
A Cidade e as Serras 3ª B - 2013
 
O cortiço 3ª b - 2013
O cortiço   3ª b - 2013O cortiço   3ª b - 2013
O cortiço 3ª b - 2013
 
Memórias de um Sargento de Milícias - 3ª A - 2013
Memórias de um Sargento de Milícias - 3ª A - 2013Memórias de um Sargento de Milícias - 3ª A - 2013
Memórias de um Sargento de Milícias - 3ª A - 2013
 
Viagens na minha Terra - 3ª A - 2013
Viagens na minha Terra - 3ª A -  2013Viagens na minha Terra - 3ª A -  2013
Viagens na minha Terra - 3ª A - 2013
 
Til 3ª C - 2013
Til 3ª C -  2013Til 3ª C -  2013
Til 3ª C - 2013
 
Capitães da Areia 3ª C - 2013
Capitães da Areia   3ª C - 2013Capitães da Areia   3ª C - 2013
Capitães da Areia 3ª C - 2013
 
Vidas secas graciliano ramos (1)
Vidas secas   graciliano ramos (1)Vidas secas   graciliano ramos (1)
Vidas secas graciliano ramos (1)
 
Til 3ª C 2013
Til 3ª C 2013Til 3ª C 2013
Til 3ª C 2013
 
Til 3ª A - 2013
Til   3ª A - 2013Til   3ª A - 2013
Til 3ª A - 2013
 
Til 3ª B - 2013
Til  3ª B -  2013Til  3ª B -  2013
Til 3ª B - 2013
 

A Jangada de Pedra 3ª D - 2011

  • 1. E.E. Profa. Irene Dias Ribeiro. Diana J. Lima Miguel Sirlândia S. Carneiro Jéssica P. da Silva Milene L. Teodoro 3ª D - 2011
  • 2. A Jangada de Pedra José Saramago.
  • 3. Introdução A jangada de pedra", de José Saramago, publicado em 1986, é um romance que relata a história ficcional da separação física entre a Península Ibérica e o resto da Europa, em uma clara metáfora sobre a situação dos países ibéricos, freqüentemente postos de lado e com pouca identificação social, cultural ou econômica com o resto do continente. Trata-se de um livro particularmente atual em tempos de União Européia. Precedendo este estranho evento natural, sem explicação científica plausível (como muitas outras histórias que Saramago nos conta), outros acontecimentos fantásticos acontecem, unindo os envolvidos (Joana Carda, Joaquim Sassa, José Anaiço, Maria Guavaira, Pedro Orce e Cão) em uma longa jornada em busca de respostas aos acontecimentos, dos quais se sentem culpados. Belíssima história do mestre José Saramago, com toda sua narrativa característica e poética.
  • 4. A História Em A Jangada de Pedra, o seu aspecto fantástico-alegórico constrói-se com a intervenção do símbolo canino: Joana Carda traça um risco no chão com uma vara de negrilho e com isso faz com que a Península Ibérica se solte da Europa e comece a vagar pelo Atlântico. No momento do desprendimento da Península, articulam-se outros movimentos: a viagem das personagens Joana Carda, Pedro Orce, Joaquim Saissa, João Anaiço e Maria Guavaira, que acompanhadas de um cão, buscam-se entre si para realizarem, posteriormente, o motivo final do seu encontro, ou seja, a separação da Península. Numa verdadeira aventura humana, reveladora por seus aspectos de significação crítico-histórica e política, o romance desfecha-se com a morte de Pedro Orce e com todas as mulheres em período fértil, grávidas.
  • 5. Aos primeiros instantes da narrativa, com o traço no chão que logo se abrirá em fenda, começa-se a manifestação, por meio de latidos, de todos os cães de Cerbère, de cães que até então não tinham voz, mas que a partir deste momento passam a possuí-la, desencadeando, assim motivacionalmente, a ação da narrativa. O latido dos cães denota o intuito de substanciar ações e funcionar como ponte para o universo do maravilhoso com todas as suas implicações sócio-políticas daí decorrentes. O símbolo do cão persiste por toda a narrativa fazendo-se notar nos momentos em que novas e importantes ações estão por efabular e, da mesma forma, acompanhando as personagens em suas buscas.
  • 6. Com a manifestação dos cães e a separação entre a Península Ibérica e a Europa, surge uma nova significação para a figuralidade desse motivo simbólico. A associação do cão, resgatando a sugestão de um mito peruano datado dos primeiros tempos da conquista espanhola. Neste, o estabelecimento dos tempos novos era assinalado pelo triunfo da divindade uraniana, senhora das águas e do fogo do céu, sobre a divindade ctoniana, senhora do fogo interior da terra. Desta forma, a imagem do cão estabelece uma relação de mudança, de reavaliação das instituições pré-construídas, como a escola, a família, a religião. Assim sendo, como muitas vezes é tido como conquistador do fogo, torna-se o símbolo do herói civilizador, já que configura uma renovação das instituições. Há, ainda, nesse simbolismo, a recorrência à figura do cão representada pelos cães de lareira descobertos na Gália em escavações arqueológicas. São peças feitas de argila ou em pedra em forma de chifres e correspondem a numerosas peças semelhantes descobertas na Alemanha e na Europa Ocidental.
  • 7. Estes cães estão ligados ao fogo e aos ornamentos, dos quais muitas vezes estão acompanhados, relacionam-se todos a um simbolismo solar, ou seja, o fogo , fertilizante. No final do livro, logo após o enterro do corpo de Pedro Orce, José Anaiço observa, contrariamente à tradição mitológica que envolve a figura do cão, que o animal do morto comporta-se estranhamente: "...Chamaram o cão, que durante todas as horas não se afastou da cova, mas ele não foi, É o costume, disse José Anaiço, os cães resistem a separar-se do dono, às vezes deixam-se morrer. Enganava-se. O cão Ardent olhou José Anaiço, depois afastou-se lentamente, de cabeça baixa. Não o tornaram a ver." (SARAMAGO: 1986, 317) Dessa forma, a imagem simbólica que aqui transparece, ao mesmo tempo em que ratifica a tradição, expressa a imagem de Pedro Orce por meio de um outro aspecto mítico-simbólico: o cão vivo. O animal não é sacrificado como alguns povos fazem com o cão do morto para acompanhá-lo na outra vida, mas ambos, cão e dono, seguiram sozinhos os seus caminhos, apesar da inicial insistência do cão para revolver a terra da cova. Fica-se, assim, a sugestão da continuidade de Pedro Orce na figura do cão. Outra questão elucidativa refere-se à fecundação das mulheres, a qual virá renovar a face da terra e articulando a função do cão como herói civilizador.
  • 8. Personagens: Joana Carda: Portuguesa, divorciada, ela morava na região de Ereira. Joaquim Sassa: Português, trabalhava em um escritório. José Anaiço: Português, ele tem o oficio de professor que fica sendo acompanhado constantemente por uma nuvem de estorninho. Pedro Orce: Espanhol da região de Orce, farmacêutico no vilarejo de Venta Micena. Ele sente a terra tremer enquanto os sismógrafos não conseguem detectar nenhum tremor. Maria Guavaira: Habitante da região rural da Galiza, puxa um fio azul de lã de uma meia que se multiplica exageradamente em comprimento. É este fio, através do cão constante, que traz os outros personagens acima á sua casa.
  • 9. Sobre o espaço na obra:O espaço dos acontecimentos está circunscrito basicamente dentro da Península Ibérica, ainda que esta esteja em movimento, na sua jornada de afastamento do continente europeu. Em alguns momentos, porém, ela se passa também na Europa, quando do retrato das manifestações de apoio à causa ibérica, bem como as tensões políticas e sociais que lá aconteceram.
  • 10. Sobre o tempo na obra:A narrativa é construída de forma linear, ou seja, há uma sequência natural do tempo em dias, semanas e meses. Mas em algumas vezes é possível perceber o narrador voltando no tempo.
  • 11. Sobre o narrador da obra:O narrador saramaguiano tem como característica fundamental a ironia, mas é também poético e filosófico. Particularmente em Jangada de Pedra, em alguns momentos quando parece que o leitor está sendo guiado por um narrador onisciente, que a tudo já conhece por antecipação, logo se depara com um narrador que ainda não conhece os fatos que irão se passar, ou mesmo alguma características das personagens, descobrindo-as ou não, junto com quem lê.
  • 12. A Linguagem e o Estilo da obra: O Autor se utiliza de períodos e parágrafos muito longos. Há uma total erradicação dos sinais de pontuação ( usando predominantemente a virgula e o ponto). As falas do narrador e personagens são as vezes confundidas, onde o uso do discurso indireto livre é bastante influenciador, a metalinguagem também se faz presente no romance onde se percebe leves doses de ironia.
  • 13. Conclusão: A JANGADA DE PEDRA é de longe uma leitura obrigatória. É atualissimo, e trata das questões de identidade, coisa que num mundo globalizado como o nosso é mais do que pertinente. No romance em comento Saramago traduz a angústia da segregação do povo lusitano, que dentro de uma Europa excludente se sente um povo à margem, literalmente no istimo final do velho continente. Surreal, o romance diz do dia em que Portugal sofre uma ruptura, uma trinca e se separa do continente europeu e, à deriva como uma imensa jangada sem rumo o povo lusitana navega por mares nunca dantes navegados, porque navegar é preciso para encontrar-se o "eu" perdido de cada um. No velho continente diz-se que a parte mais ocidental é a ibéria, e aqueles povos são chamados de iberos, não de europeus.