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E.E. Profa. Irene Dias Ribeiro. Diana J. Lima Miguel Sirlândia S. Carneiro Jéssica P. da Silva Milene L. Teodoro 3ª D  -  2011
A Jangada de Pedra José Saramago.
Introdução A jangada de pedra", de José Saramago, publicado em 1986, é um romance que relata a história ficcional da separação física entre a Península Ibérica e o resto da Europa, em uma clara metáfora sobre a situação dos países ibéricos, freqüentemente postos de lado e com pouca identificação social, cultural ou econômica com o resto do continente. Trata-se de um livro particularmente atual em tempos de União Européia.  Precedendo este estranho evento natural, sem explicação científica plausível (como muitas outras histórias que Saramago nos conta), outros acontecimentos fantásticos acontecem, unindo os envolvidos (Joana Carda, Joaquim Sassa, José Anaiço, Maria Guavaira, Pedro Orce e Cão) em uma longa jornada em busca de respostas aos acontecimentos, dos quais se sentem culpados.  Belíssima história do mestre José Saramago, com toda sua narrativa característica e poética.
A História Em A Jangada de Pedra, o seu aspecto fantástico-alegórico constrói-se com a intervenção do símbolo canino: Joana Carda traça um risco no chão com uma vara de negrilho e com isso faz com que a Península Ibérica se solte da Europa e comece a vagar pelo Atlântico. No momento do desprendimento da Península, articulam-se outros movimentos: a viagem das personagens Joana Carda, Pedro Orce, Joaquim Saissa, João Anaiço e Maria Guavaira, que acompanhadas de um cão, buscam-se entre si para realizarem, posteriormente, o motivo final do seu encontro, ou seja, a separação da Península. Numa verdadeira aventura humana, reveladora por seus aspectos de significação crítico-histórica e política, o romance desfecha-se com a morte de Pedro Orce e com todas as mulheres em período fértil, grávidas.
Aos primeiros instantes da narrativa, com o traço no chão que logo se abrirá em fenda, começa-se a manifestação, por meio de latidos, de todos os cães de Cerbère, de cães que até então não tinham voz, mas que a partir deste momento passam a possuí-la, desencadeando, assim motivacionalmente, a ação da narrativa. O latido dos cães denota o intuito de substanciar ações e funcionar como ponte para o universo do maravilhoso com todas as suas implicações sócio-políticas daí decorrentes. O símbolo do cão persiste por toda a narrativa fazendo-se notar nos momentos em que novas e importantes ações estão por efabular e, da mesma forma, acompanhando as personagens em suas buscas.
Com a manifestação dos cães e a separação entre a Península Ibérica e a Europa, surge uma nova significação para a figuralidade desse motivo simbólico. A associação do cão, resgatando a sugestão de um mito peruano datado dos primeiros tempos da conquista espanhola. Neste, o estabelecimento dos tempos novos era assinalado pelo triunfo da divindade uraniana, senhora das águas e do fogo do céu, sobre a divindade ctoniana, senhora do fogo interior da terra. Desta forma, a imagem do cão estabelece uma relação de mudança, de reavaliação das instituições pré-construídas, como a escola, a família, a religião. Assim sendo, como muitas vezes é tido como conquistador do fogo, torna-se o símbolo do herói civilizador, já que configura uma renovação das instituições. Há, ainda, nesse simbolismo, a recorrência à figura do cão representada pelos cães de lareira descobertos na Gália em escavações arqueológicas. São peças feitas de argila ou em pedra em forma de chifres e correspondem a numerosas peças semelhantes descobertas na Alemanha e na Europa Ocidental.
Estes cães estão ligados ao fogo e aos ornamentos, dos quais muitas vezes estão acompanhados, relacionam-se todos a um simbolismo solar, ou seja, o fogo , fertilizante.  No final do livro, logo após o enterro do corpo de Pedro Orce, José Anaiço observa, contrariamente à tradição mitológica que envolve a figura do cão, que o animal do morto comporta-se estranhamente: "...Chamaram o cão, que durante todas as horas não se afastou da cova, mas ele não foi, É o costume, disse José Anaiço, os cães resistem a separar-se do dono, às vezes deixam-se morrer. Enganava-se. O cão Ardent olhou José Anaiço, depois afastou-se lentamente, de cabeça baixa. Não o tornaram a ver." (SARAMAGO: 1986, 317)  Dessa forma, a imagem simbólica que aqui transparece, ao mesmo tempo em que ratifica a tradição, expressa a imagem de Pedro Orce por meio de um outro aspecto mítico-simbólico: o cão vivo. O animal não é sacrificado como alguns povos fazem com o cão do morto para acompanhá-lo na outra vida, mas ambos, cão e dono, seguiram sozinhos os seus caminhos, apesar da inicial insistência do cão para revolver a terra da cova. Fica-se, assim, a sugestão da continuidade de Pedro Orce na figura do cão. Outra questão elucidativa refere-se à fecundação das mulheres, a qual virá renovar a face da terra e articulando a função do cão como herói civilizador.
Personagens: Joana Carda: Portuguesa, divorciada, ela morava na região de Ereira.  Joaquim Sassa: Português, trabalhava em um escritório. José Anaiço: Português, ele tem o oficio de professor que fica sendo acompanhado constantemente por uma nuvem de estorninho. Pedro Orce: Espanhol da região de Orce, farmacêutico no vilarejo de Venta Micena. Ele sente a terra tremer enquanto os sismógrafos não conseguem detectar nenhum tremor. Maria Guavaira: Habitante da região rural da Galiza, puxa um fio azul de lã de uma meia que se multiplica exageradamente em comprimento. É este fio, através do cão constante, que traz os outros personagens acima á sua casa.
Sobre o espaço na obra:O espaço dos acontecimentos está circunscrito basicamente dentro da Península Ibérica, ainda que esta esteja em movimento, na sua jornada de afastamento do continente europeu. Em alguns momentos, porém, ela se passa também na Europa, quando do retrato das manifestações de apoio à causa ibérica, bem como as tensões políticas e sociais que lá aconteceram.
Sobre o tempo na obra:A narrativa é construída de forma linear, ou seja, há uma sequência natural do tempo em dias, semanas e meses. Mas em algumas vezes é possível perceber o narrador voltando no tempo.
Sobre o narrador da obra:O narrador saramaguiano tem como característica fundamental a ironia, mas é também poético e filosófico. Particularmente em Jangada de Pedra, em alguns momentos quando parece que o leitor está sendo guiado por um narrador onisciente, que a tudo já conhece por antecipação, logo se depara com um narrador que ainda não conhece os fatos que irão se passar, ou mesmo alguma características das personagens, descobrindo-as ou não, junto com quem lê.
A Linguagem e o Estilo da obra: O Autor se utiliza de períodos e parágrafos muito longos. Há uma total erradicação dos sinais de pontuação ( usando predominantemente a virgula e o ponto). As falas do narrador e personagens são as vezes confundidas, onde o uso do discurso indireto livre é bastante influenciador, a metalinguagem também se faz presente no romance onde se percebe leves doses de ironia.
Conclusão: A JANGADA DE PEDRA é de longe uma leitura obrigatória. É atualissimo, e trata das questões de identidade, coisa que num mundo globalizado como o nosso é mais do que pertinente. No romance em comento Saramago traduz a angústia da segregação do povo lusitano, que dentro de uma  Europa excludente se sente um povo à margem, literalmente no istimo final do velho continente. Surreal, o romance diz do dia em que Portugal sofre uma ruptura, uma trinca e se separa do continente europeu e, à deriva como uma imensa jangada sem rumo o povo lusitana navega por mares nunca dantes navegados, porque navegar é preciso para encontrar-se o "eu" perdido de cada um. No velho continente diz-se que a parte mais ocidental é a ibéria, e aqueles povos são chamados de iberos, não de europeus.

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A Jangada de Pedra 3ª D - 2011

  • 1. E.E. Profa. Irene Dias Ribeiro. Diana J. Lima Miguel Sirlândia S. Carneiro Jéssica P. da Silva Milene L. Teodoro 3ª D - 2011
  • 2. A Jangada de Pedra José Saramago.
  • 3. Introdução A jangada de pedra", de José Saramago, publicado em 1986, é um romance que relata a história ficcional da separação física entre a Península Ibérica e o resto da Europa, em uma clara metáfora sobre a situação dos países ibéricos, freqüentemente postos de lado e com pouca identificação social, cultural ou econômica com o resto do continente. Trata-se de um livro particularmente atual em tempos de União Européia. Precedendo este estranho evento natural, sem explicação científica plausível (como muitas outras histórias que Saramago nos conta), outros acontecimentos fantásticos acontecem, unindo os envolvidos (Joana Carda, Joaquim Sassa, José Anaiço, Maria Guavaira, Pedro Orce e Cão) em uma longa jornada em busca de respostas aos acontecimentos, dos quais se sentem culpados. Belíssima história do mestre José Saramago, com toda sua narrativa característica e poética.
  • 4. A História Em A Jangada de Pedra, o seu aspecto fantástico-alegórico constrói-se com a intervenção do símbolo canino: Joana Carda traça um risco no chão com uma vara de negrilho e com isso faz com que a Península Ibérica se solte da Europa e comece a vagar pelo Atlântico. No momento do desprendimento da Península, articulam-se outros movimentos: a viagem das personagens Joana Carda, Pedro Orce, Joaquim Saissa, João Anaiço e Maria Guavaira, que acompanhadas de um cão, buscam-se entre si para realizarem, posteriormente, o motivo final do seu encontro, ou seja, a separação da Península. Numa verdadeira aventura humana, reveladora por seus aspectos de significação crítico-histórica e política, o romance desfecha-se com a morte de Pedro Orce e com todas as mulheres em período fértil, grávidas.
  • 5. Aos primeiros instantes da narrativa, com o traço no chão que logo se abrirá em fenda, começa-se a manifestação, por meio de latidos, de todos os cães de Cerbère, de cães que até então não tinham voz, mas que a partir deste momento passam a possuí-la, desencadeando, assim motivacionalmente, a ação da narrativa. O latido dos cães denota o intuito de substanciar ações e funcionar como ponte para o universo do maravilhoso com todas as suas implicações sócio-políticas daí decorrentes. O símbolo do cão persiste por toda a narrativa fazendo-se notar nos momentos em que novas e importantes ações estão por efabular e, da mesma forma, acompanhando as personagens em suas buscas.
  • 6. Com a manifestação dos cães e a separação entre a Península Ibérica e a Europa, surge uma nova significação para a figuralidade desse motivo simbólico. A associação do cão, resgatando a sugestão de um mito peruano datado dos primeiros tempos da conquista espanhola. Neste, o estabelecimento dos tempos novos era assinalado pelo triunfo da divindade uraniana, senhora das águas e do fogo do céu, sobre a divindade ctoniana, senhora do fogo interior da terra. Desta forma, a imagem do cão estabelece uma relação de mudança, de reavaliação das instituições pré-construídas, como a escola, a família, a religião. Assim sendo, como muitas vezes é tido como conquistador do fogo, torna-se o símbolo do herói civilizador, já que configura uma renovação das instituições. Há, ainda, nesse simbolismo, a recorrência à figura do cão representada pelos cães de lareira descobertos na Gália em escavações arqueológicas. São peças feitas de argila ou em pedra em forma de chifres e correspondem a numerosas peças semelhantes descobertas na Alemanha e na Europa Ocidental.
  • 7. Estes cães estão ligados ao fogo e aos ornamentos, dos quais muitas vezes estão acompanhados, relacionam-se todos a um simbolismo solar, ou seja, o fogo , fertilizante. No final do livro, logo após o enterro do corpo de Pedro Orce, José Anaiço observa, contrariamente à tradição mitológica que envolve a figura do cão, que o animal do morto comporta-se estranhamente: "...Chamaram o cão, que durante todas as horas não se afastou da cova, mas ele não foi, É o costume, disse José Anaiço, os cães resistem a separar-se do dono, às vezes deixam-se morrer. Enganava-se. O cão Ardent olhou José Anaiço, depois afastou-se lentamente, de cabeça baixa. Não o tornaram a ver." (SARAMAGO: 1986, 317) Dessa forma, a imagem simbólica que aqui transparece, ao mesmo tempo em que ratifica a tradição, expressa a imagem de Pedro Orce por meio de um outro aspecto mítico-simbólico: o cão vivo. O animal não é sacrificado como alguns povos fazem com o cão do morto para acompanhá-lo na outra vida, mas ambos, cão e dono, seguiram sozinhos os seus caminhos, apesar da inicial insistência do cão para revolver a terra da cova. Fica-se, assim, a sugestão da continuidade de Pedro Orce na figura do cão. Outra questão elucidativa refere-se à fecundação das mulheres, a qual virá renovar a face da terra e articulando a função do cão como herói civilizador.
  • 8. Personagens: Joana Carda: Portuguesa, divorciada, ela morava na região de Ereira. Joaquim Sassa: Português, trabalhava em um escritório. José Anaiço: Português, ele tem o oficio de professor que fica sendo acompanhado constantemente por uma nuvem de estorninho. Pedro Orce: Espanhol da região de Orce, farmacêutico no vilarejo de Venta Micena. Ele sente a terra tremer enquanto os sismógrafos não conseguem detectar nenhum tremor. Maria Guavaira: Habitante da região rural da Galiza, puxa um fio azul de lã de uma meia que se multiplica exageradamente em comprimento. É este fio, através do cão constante, que traz os outros personagens acima á sua casa.
  • 9. Sobre o espaço na obra:O espaço dos acontecimentos está circunscrito basicamente dentro da Península Ibérica, ainda que esta esteja em movimento, na sua jornada de afastamento do continente europeu. Em alguns momentos, porém, ela se passa também na Europa, quando do retrato das manifestações de apoio à causa ibérica, bem como as tensões políticas e sociais que lá aconteceram.
  • 10. Sobre o tempo na obra:A narrativa é construída de forma linear, ou seja, há uma sequência natural do tempo em dias, semanas e meses. Mas em algumas vezes é possível perceber o narrador voltando no tempo.
  • 11. Sobre o narrador da obra:O narrador saramaguiano tem como característica fundamental a ironia, mas é também poético e filosófico. Particularmente em Jangada de Pedra, em alguns momentos quando parece que o leitor está sendo guiado por um narrador onisciente, que a tudo já conhece por antecipação, logo se depara com um narrador que ainda não conhece os fatos que irão se passar, ou mesmo alguma características das personagens, descobrindo-as ou não, junto com quem lê.
  • 12. A Linguagem e o Estilo da obra: O Autor se utiliza de períodos e parágrafos muito longos. Há uma total erradicação dos sinais de pontuação ( usando predominantemente a virgula e o ponto). As falas do narrador e personagens são as vezes confundidas, onde o uso do discurso indireto livre é bastante influenciador, a metalinguagem também se faz presente no romance onde se percebe leves doses de ironia.
  • 13. Conclusão: A JANGADA DE PEDRA é de longe uma leitura obrigatória. É atualissimo, e trata das questões de identidade, coisa que num mundo globalizado como o nosso é mais do que pertinente. No romance em comento Saramago traduz a angústia da segregação do povo lusitano, que dentro de uma Europa excludente se sente um povo à margem, literalmente no istimo final do velho continente. Surreal, o romance diz do dia em que Portugal sofre uma ruptura, uma trinca e se separa do continente europeu e, à deriva como uma imensa jangada sem rumo o povo lusitana navega por mares nunca dantes navegados, porque navegar é preciso para encontrar-se o "eu" perdido de cada um. No velho continente diz-se que a parte mais ocidental é a ibéria, e aqueles povos são chamados de iberos, não de europeus.