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EMPREGABILIDADE DA MULHER NO
        MERCADO ATUAL DE TRABALHO¹
                                             José Augusto Rodrigues Pinto*


   SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Empregabilidade: ligeiro perfil de um
neologismo tecnológico. 3. Requisitos da empregabilidade tecnológica.
4. Perfil do empregado tecnológico. 5. Evolução do perfil social da mu-
lher. 6. Causas do salto do trabalho feminino no século XXI. 7. Discrimi-
nação: conceito e fontes. 8. Conclusões.


1 INTRODUÇÃO

    O universo social se caracteriza por uma incessante mutabilidade,
muito mais intensa do que a do universo simplesmente físico. Isso é
explicado pelo poder da inteligência para reagir ao meio e aos interesses
da convivência, levando o homem a criar novas e diferentes formas de
desenvolvê-la.
    O trabalho sempre foi um fator estimulante de mutações sociais e tal
atributo ganhou invulgar vigor com as rápidas mudanças impostas às
respectivas relações, graças ao enorme potencial de multiplicação de
riqueza e consumo de bens proporcionados pelos novos processos de
produção da Revolução Industrial, atualmente acrescidos dos quase
milagres da cibernética e da automação trazidas pela Revolução
Tecnológica, que projetou a humanidade na era consagrada como a do
conhecimento e a sociedade no estágio evolutivo identificado como pós-
industrial.
    Em paralelo, interligando-se ao avanço da Revolução Industrial inici-
ada no século XVIII, também mudaram as concepções jurídicas sobre os
direitos do homem, como bem evidenciam as Declarações Universais
que se seguiram, em 1793, à Revolução Francesa e, em 1948, à II Guer-
ra Mundial.
    Essas Declarações são autênticas balizas do avanço, nesta ordem,
dos direitos políticos, sociais e fundamentais, em cujo interior o desenho
do ser individual, como foi juridicamente moldado no século XIX, deu

*Desembargador Federal do Trabalho da 5ª Região e Professor Adjunto IV da Faculda-
de de Direito da UFBA. Sócio Honorário do Instituto Goiano de Direito do Trabalho

30
lugar ao do ser social, que emerge com o novo milênio, valorizando mi-
norias sociais, antes desprezadas pelas castas dominantes, e profligando
todas as formas de discriminação e exclusão, antes aceitas como natu-
rais da estrutura social.
    A mulher é um alvo particular dessas ondas de valorização coletiva
destinada a eliminar desigualdades e, conseqüentemente, a entregar à
dignidade a plena regência das relações humanas. Por isso, vimo-la cres-
cer, sem interregnos, tanto como um valor econômico do trabalho quanto
como um valor individual na família e um valor social no concerto das
nações.
    A importância da mulher cresceu com mais vigor, nos últimos cem
anos, justamente nos domínios do trabalho, para o qual voltamos, daqui
por diante, nossa atenção, em vista de se prender a uma das questões
mais aflitivas de nosso iniciante milênio, a empregabilidade.

2 EMPREGABILIDADE: LIGEIRO PERFIL DE UM NEO-
LOGISMO TECNOLÓGICO

    Empregabilidade é uma palavra nova em nosso idioma, tanto que
ainda não se incorporou aos dicionários brasileiros nem também, prova-
velmente, à maioria dos de outros idiomas. Urge, pois, lhe visualizar o
perfil, e o melhor resultado que obteremos, nesse mistér, virá da
perquirição de sua origem. Ela pode ser encontrada em três planos inter-
ligados, abaixo dispostos:

   a) espacial = países europeus mais industrializados;
   b) temporal = anos 80 do século XX;
   c) idiomático = employability.

    Será de grande ajuda, para compreender a origem do nome, a moti-
vação da idéia, que foi, sem a menor dúvida, a precarização do emprego
(um quase-neologismo) produzida pelos novos tipos de alianças da má-
quina com o capital e da máquina com o trabalho na era da automação
tecnológica.
    Firmadas essas primeiras noções conceituais, podemos tentar defi-
nir sistematicamente a empregabilidade, usando três planos lógicos:
    1) analítico:
    A empregabilidade é a aptidão adquirida pelo trabalhador, valendo-se
de um aprendizado contínuo e diversificado, para desenvolver novas ha-
bilidades que o tornem profissionalmente necessário a múltiplas empre-
sas de distintas atividades econômicas;
                                                                     31
2) sintético:
    Empregabilidade é a capacidade de geração permanente de traba-
lho e renda;
    3) doutrinário:
    “Empregabilidade é a condição de ser empregável, isto é, de dar e
conseguir emprego para os seus conhecimentos, habilidades e atitudes
intencionalmente desenvolvidos por meio de educação e treinamento sin-
tonizados com as necessidades do mercado de trabalho.” (Minardelli,
J.A.) “Empregabilidade, o caminho das pedras”, São Paulo, Gente, 1995).

3 REQUISITOS DA EMPREGABILIDADE TECNOLÓGICA

    Por sua origem, motivação e caracteres umbilicalmente presos à
tecnologia contemporânea, emprestamos a esta aptidão para obter em-
prego a denominação de empregabilidade tecnológica. Observem-se,
então, os requisitos para incorporá-la ao patrimônio profissional do tra-
balhador:
    · Qualificação competitiva, assim entendido o domínio de uma varie-
dade de aptidões que o tornem competitivo diante de seus concorrentes
aos postos de trabalho tecnológico;
    · Imaginação criativa, que o habilite a variar os modos de execução
do trabalho e a se acomodar aos obstáculos que surgem naturalmente
para perturbar a objetividade e perfeição dos resultados;
    · Adaptabilidade a mudanças, que poderíamos colocar, linearmente,
como a negação da rotina, inimiga figadal da moderna concepção de
trabalho;
    · Sensibilidade para agir, assim entendido o senso de oportunidade
para solucionar qualquer problema que entrava o desenvolvimento
satisfatório da atividade laboral;
    · Equilíbrio na auto avaliação de desempenho, ou seja, espírito críti-
co ponderado do valor do próprio trabalho, de modo a não se imaginar o
nec plus ultra entre os seus executores nem se deixar dominar por um
complexo de inferioridade imaginária;
    · Esforço permanente de atualização do conhecimento, indispensá-
vel para quem pretender sobrevida no que hoje se chama exatamente de
setor do conhecimento da economia, fundado nas vertiginosas e diárias
alterações tecnológicas que, além de exigirem permanente reciclagem
do trabalhador, soem exigir incansável revisão analítica dos métodos de
execução do trabalho;
    · Sociabilidade e sintonia com o universo circundante, sabido que a
filosofia toyotista de trabalho, contrariamente à da especialização indivi-
32
dual em tarefas da produção em série concebida pela filosofia anterior do
fordismo, é de trabalho em equipe, cujo pressuposto tem que ser a faci-
lidade de comunicação entre os trabalhadores e o cosmopolitismo do
homem.

4 PERFIL DO EMPREGADO TECNOLÓGICO

    Assim como podemos falar numa empregabilidade tecnológica pode-
mos, logicamente, identificar o que seja um empregado tecnológico, vale
dizer, aquele que absorve em sua formação profissional os requisitos
fundamentais de tal tipo de aptidão para a conquista do emprego. Seu
“retrato falado” é possível com os seguintes traços básicos:
    · segurança profissional baseada na contínua reciclagem do conheci-
mento;
    · eficiência do trabalho, sustentada por uma visão aberta da atividade
econômica e de seu contraponto profissional;
    · competitividade, mantida com a autoconfiança no exercício do tra-
balho;
    · familiaridade com o instrumental tecnológico moderno na maioria
possível de suas versões.

5 EVOLUÇÃO DO PERFIL SOCIAL DA MULHER

    Tudo que vimos até aqui pode servir de premissas da análise central
do estudo proposto, que é a empregabilidade da mulher, especificamen-
te considerada no mercado de trabalho do nosso tempo. A essas pre-
missas somamos uma última, logicamente indispensável, constituída
pela evolução do perfil social feminino, linha de partida necessária para
traçar o perfil específico da empregada tecnológica.
    Mantendo o cunho esquemático que escolhemos para o conjunto da
exposição e atendo-nos, por outro lado, aos quatro séculos de influência
da Revolução Industrial, agora Tecnológica, sobre as relações de traba-
lho, identificamos facilmente, em cada um deles, quatro pontos cardeais
que, juntos, mostram uma trajetória de absoluta continuidade histórica
da mulher na sociedade pretensiosamente auto proclamada de civiliza-
da, a saber:
    No século XVIII:
    1. Subalternidade ao homem;
    2. Absorção pelo trabalho doméstico ou de intuito familiar;
    3. Ausência de escolaridade;
    4. Avaliação social como uma meia-força de trabalho industrial.
                                                                       33
No século XIX:
    1. Primeiras resistências à subalternidade (movimento feminista e
sufragista);
    2. Fixação na maternidade e na atividade familiar participativa;
    3. Escolaridade direcionada às artes, humanismo e prendas do lar;
    4. Inserção tímida no mercado de trabalho industrial de segunda li-
nha.
    No século XX:
    1. Início da emancipação política, jurídica e profissional em face do
homem;
    2. Compartilhamento do trabalho profissional com os encargos do
lar;
    3. Escolaridade direcionada para a formação de profissional de nível
superior;
    4. Inserção ascendente no mercado de trabalho de primeira linha.
    No século XXI:
    1. Completa emancipação, sobretudo econômica, social e jurídica,
em face do homem;
    2. Predomínio do trabalho profissional sobre os encargos do lar;
    3. Formação profissional superior competitiva com a do homem;
    4. Inserção definitiva no mercado de trabalho de primeira linha.
    Os pontos cardeais do estágio mais recente, que corresponde ao
século em curso e certamente terão complementos ainda não inteira-
mente discernidos, encontram fácil constatação nos dados estatísticos
reproduzidos abaixo:

     Participação global no mercado de trabalho, por sexo:²

     · 1960 > Feminina:................................................................30,9%
     · 2000 > Masculina:............................................................... 41%

     Depreciação salarial em relação ao homem:

     · Cargos de qualificação ordinária:.......................................... 30%
     · Cargos de alta qualificação:................................................. 22,8%

     · Responsabilidade pelo sustento familiar................................25%
     · Taxa de fecundidade:
     Pós-guerra de 1945 :..............................................................6,3%
     Início do século XXI :...............................................................2,3%
34
6 CAUSAS DO SALTO DO TRABALHO FEMININO NO
SÉCULO XXI

    O século XXI oferece um panorama de impressionante avanço da
mulher no mercado de trabalho e, ainda mais, na preparação para con-
correr dentro dele. Esse fenômeno, entretanto, vem do século anterior,
cujos dois conflitos mundiais impuseram uma mudança quase cirúrgica
à face e ao organismo da sociedade. De fato, o decidido ingresso da
mulher no mercado de trabalho industrial, tanto quanto sua assunção
unilateral da direção da família, se deveram, maciçamente, à absorção
da energia masculina para os combates fora das fronteiras nacionais
(estatísticas apontam a mobilização, somente pelos Estados Unidos da
América, de onze milhões de soldados para as frentes exteriores no
conflito de 1939/45). Por outro lado, o crescimento do peso econômico
do sustento familiar estimulou no homem aceitar a participação da mu-
lher na composição do respectivo orçamento.
    É evidente a contribuição decisiva dessas circunstâncias históricas
para aprofundar a consciência da igual capacidade dos gêneros para o
trabalho. Do ponto de vista particular da mulher, essas mesmas
circustâncias foram fundamentais para fortalecer a percepção de que a
conquista de espaços dentro do mercado de mão-de-obra, a depender
somente de sua capacidade de conservação e ampliação da liberdade
conquistada ao sexo oposto teria que acontecer, e aconteceu como, um
passo irreprimível. Veja-se, então o conjunto das causas, em resumo:
    · Consolidação da igualdade entre os gêneros.
    · Pressão das dificuldades econômicas sobre a família.
    · Substituição da mão-de-obra masculina nas duas grandes guerras
mundiais (1914/18 e 1939/45).
    · Mudança radical de costumes no pós-guerra de 1945.
    · Vigorosa expansão do setor terciário (serviços), propício à atividade
feminina.
    · Habilitação profissional para ingresso no setor quaternário (do co-
nhecimento) da atividade econômica.
    · Quebra dos tabus sobre a inferioridade orgânica e intelectual para o
trabalho.
    A esses fatores outros aderem trazendo à luz a afinidade da mulher
com o emprego tecnológico. Alguns são decorrentes de sua própria con-
formação orgânica, outros, de sua conformação psíquica e da sedimen-
tação de caracteres que lhe foram impostos pela sociedade,
milenarmente, aproveitados depois da Revolução Industrial. Observando
o mesmo critério esquemático assim os sintetizamos:
                                                                        35
· Dedicação prioritária ao preparo profissional.
     · Habilidade nas ações de trabalho.
     · Capacidade de orientação de outros executores.
     · Receptividade ao trabalho em equipe.
     · Sensibilidade perceptiva e absorvente de mudanças.
     · Capacidade de concentração nas tarefas a realizar.
     · Menor agressividade na competição.
     · Senso de responsabilidade mais refinado.
     · Melhor resposta ao quesito custo/benefício da mão-de-obra.

    Como é possível inferir destas e das anotações dos itens anteriores,
há toda uma série de razões para se entender a posição vantajosa que a
mulher é capaz de assumir na disputa pelo mercado de trabalho, sobre-
tudo nas áreas de liderança e de funções tecnicamente mais sofistica-
das e exigentes de maior concentração e dedicação, como, e.g., as de
pesquisa e ensino, entre outras.
    Cremos ser possível afirmar que, inclusive no Brasil, a presença da
mulher já se tornou majoritária na área da preparação profissional, como
qualquer levantamento estatístico nas universidades patenteará. Entre-
tanto, apesar de tudo isso, também estatisticamente ela ainda experi-
menta desvantagem na ocupação de cargos executivos de ponta e, par-
ticularmente, na valorização do trabalho para efeito remuneratório.
    Trata-se de dados evidentemente desconcertantes, mas seguramen-
te explicáveis pela resistência do preconceito e conseqüente discrimina-
ção, que mostram a força de uma formação machista milenar da socie-
dade humana e, do ponto de vista brasileiro, extremamente peculiar ao
temperamento latino. Dentro do método expositivo adotado, principie-
mos por estabelecer, sinteticamente, conceitos da figura da discrimina-
ção, certamente úteis para localização de suas fontes relacionadas com
a mulher no mercado de trabalho.

7 DISCRIMINAÇÃO: CONCEITO E FONTES

   O conceito comum de fonte pode ser aberto em duas vertentes de
alcance precisamente oposto, qualificando-a para lhe dar o respectivo
caráter, que pode ser:

    1. Virtuoso:
    Ato de discernir ou de classificar, individualizando. A virtude, neste
conceito, resulta do propósito da discriminação: individualizar para ana-
lisar e valorizar os dotes de cada um.
36
2. Vicioso:
   Tratamento preferencial dispensado a uns em detrimento de outros.
O vício, neste conceito, resulta de discriminar para perseguir e prejudi-
car o discriminado.

   Ao lado do conceito comum ou simplesmente léxico do substantivo,
ele pode ser elaborado com vistas ao interesse do Direito sob os mais
variados aspectos das relações humanas. Aqui o enunciamos de acordo
com duas outras vertentes, no aspecto das relações de gênero ou, em
dicção mais vulgar, entre os sexos que pode ser:

    1. Legítima:
    É a que estabelece diferença de tratamento fundada em situação de
fato que a justifique, v.g., vedação à mulher de acesso a trabalho moral-
mente ofensivo à sua dignidade.
    2. Ilegítima:
    É a que estabelece diferença de tratamento não-justificável, v.g., a
vedação à mulher de acesso ao trabalho esportivo.

   É facilmente perceptível, pelos conceitos formados, a pluralidade de
fontes que alimentam a discriminação da mulher, predominantemente
fundadas em resíduos de preconceito social, como, por exemplo, a con-
denação da prática esportiva de lutas marciais. Abaixo uma relação ape-
nas exemplificativa e muito distante de esgotar a possibilidade de mui-
tas outras variações:
   · Resíduo estrutural da formação machista da sociedade.
   · Impulso humano natural de dominação.
   · Controle majoritário dos fatores econômicos pelo homem.
   · Deformação cultural atávica.
   · Influência religiosa.
   · Absorção maternal e familiar da mulher.

8 CONCLUSÕES

   Este foi um modesto esboço destinado a estimular a curiosidade dos
que desejam descerrar o véu de uma das mais importantes metamorfo-
ses estruturais da sociedade, a do papel da mulher nas relações huma-
nas, de gênero e de trabalho, arduamente ampliado ao preço de secula-
res sofrimentos e incompreensões, de alguns dos quais soube ela mes-
ma tirar proveito para alçar-se à condição imensamente mais digna em
que se encontra atualmente.
                                                                      37
As conclusões que sugere, ainda com o propósito de compactação
provocativa do aprofundamento, pretendem dar as pistas a serem segui-
das pelos interessados em desenvolvê-lo:
    1. Por milênios de civilização humana, a mulher ocupou, em face do
homem, uma posição de subalternidade muito próxima de um estado de
servidão doméstica.
    2. Essa posição deu lugar a outra, em que a mulher passou a ser
uma espécie de adorno familiar, mas afastada do processo político e
econômico da sociedade, sendo preparada exclusivamente para os en-
cargos da maternidade e do lar, sob severa liderança marital.
    3. Nos seus primórdios, a sociedade industrial usou a mulher como
meia-força de trabalho, no sentido depreciativo de desvalorização da
energia e entrega dos postos mais sacrificados, mal-remunerados e her-
meticamente presos à falta de perspectivas de ascensão profissional e
social.
    4. A expansão da sociedade industrial, os movimentos de emancipa-
ção política e profissional, somados à diferença de rumos da escolarida-
de, iniciaram o processo de inserção feminina no mercado de trabalho.
    5. As grandes transformações econômicas da sociedade industrial
retiraram progressivamente ao homem o papel de provedor único da sub-
sistência familiar, abrindo um correspondente espaço para a participa-
ção feminina no mercado de mão-de-obra, ainda que inicialmente com-
plementar.
    6. As duas guerras mundiais do século XX, mormente a terminada em
1945, proporcionaram um enorme desvio da mão-de-obra masculina para
as frentes de batalha, agravada pela necessidade de um gigantesco so-
bre esforço de produção industrial para fazer frente às perdas de material
e equipamento, forçando substituí-lo pela mulher e abrindo a oportunida-
de prática de verificar a inexistência de diferença de valor do trabalho
entre os gêneros, salvo aquele derivado da falta de qualificação profissi-
onal decorrente da segregação anterior da mulher.
    7. O aprofundamento das dificuldades econômicas dos povos para
manter um status quo superado de economia familiar e a adaptabilidade
da mulher às atividades dos setores terciário (de serviços) e quaternário
(do conhecimento) consolidaram o processo de empregabilidade femini-
na na atualidade.
    8. A discriminação é, hoje, possivelmente, a última barreira a cair,
permitindo a equalização de avaliação e oportunidades entre os gêneros,
quiçá possibilitando um avanço de qualidade que proporcione à mulher
superar o homem em competitividade em certos setores com os quais
mantêm muita afinidade, por força de dotes naturais e maior aplicação

38
no preparo profissional.

Notas

¹Palestra proferida no 2º Congresso Internacional Sobre a Mulher, Gênero e Relações
de Trabalho, realizado em Goiânia, GO, de 20 a 22 de agosto de 2007.

²Dados da pesquisa “Evolução da Mulher no Mercado de Trabalho”, de Eliana Renata
Probst, para o Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG), sob orientação do
Mestre Paulo Ramos, professor de Metodologia Científica e Pesquisa.




                                                                               39

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Empregabilidade no feminino

  • 1. EMPREGABILIDADE DA MULHER NO MERCADO ATUAL DE TRABALHO¹ José Augusto Rodrigues Pinto* SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Empregabilidade: ligeiro perfil de um neologismo tecnológico. 3. Requisitos da empregabilidade tecnológica. 4. Perfil do empregado tecnológico. 5. Evolução do perfil social da mu- lher. 6. Causas do salto do trabalho feminino no século XXI. 7. Discrimi- nação: conceito e fontes. 8. Conclusões. 1 INTRODUÇÃO O universo social se caracteriza por uma incessante mutabilidade, muito mais intensa do que a do universo simplesmente físico. Isso é explicado pelo poder da inteligência para reagir ao meio e aos interesses da convivência, levando o homem a criar novas e diferentes formas de desenvolvê-la. O trabalho sempre foi um fator estimulante de mutações sociais e tal atributo ganhou invulgar vigor com as rápidas mudanças impostas às respectivas relações, graças ao enorme potencial de multiplicação de riqueza e consumo de bens proporcionados pelos novos processos de produção da Revolução Industrial, atualmente acrescidos dos quase milagres da cibernética e da automação trazidas pela Revolução Tecnológica, que projetou a humanidade na era consagrada como a do conhecimento e a sociedade no estágio evolutivo identificado como pós- industrial. Em paralelo, interligando-se ao avanço da Revolução Industrial inici- ada no século XVIII, também mudaram as concepções jurídicas sobre os direitos do homem, como bem evidenciam as Declarações Universais que se seguiram, em 1793, à Revolução Francesa e, em 1948, à II Guer- ra Mundial. Essas Declarações são autênticas balizas do avanço, nesta ordem, dos direitos políticos, sociais e fundamentais, em cujo interior o desenho do ser individual, como foi juridicamente moldado no século XIX, deu *Desembargador Federal do Trabalho da 5ª Região e Professor Adjunto IV da Faculda- de de Direito da UFBA. Sócio Honorário do Instituto Goiano de Direito do Trabalho 30
  • 2. lugar ao do ser social, que emerge com o novo milênio, valorizando mi- norias sociais, antes desprezadas pelas castas dominantes, e profligando todas as formas de discriminação e exclusão, antes aceitas como natu- rais da estrutura social. A mulher é um alvo particular dessas ondas de valorização coletiva destinada a eliminar desigualdades e, conseqüentemente, a entregar à dignidade a plena regência das relações humanas. Por isso, vimo-la cres- cer, sem interregnos, tanto como um valor econômico do trabalho quanto como um valor individual na família e um valor social no concerto das nações. A importância da mulher cresceu com mais vigor, nos últimos cem anos, justamente nos domínios do trabalho, para o qual voltamos, daqui por diante, nossa atenção, em vista de se prender a uma das questões mais aflitivas de nosso iniciante milênio, a empregabilidade. 2 EMPREGABILIDADE: LIGEIRO PERFIL DE UM NEO- LOGISMO TECNOLÓGICO Empregabilidade é uma palavra nova em nosso idioma, tanto que ainda não se incorporou aos dicionários brasileiros nem também, prova- velmente, à maioria dos de outros idiomas. Urge, pois, lhe visualizar o perfil, e o melhor resultado que obteremos, nesse mistér, virá da perquirição de sua origem. Ela pode ser encontrada em três planos inter- ligados, abaixo dispostos: a) espacial = países europeus mais industrializados; b) temporal = anos 80 do século XX; c) idiomático = employability. Será de grande ajuda, para compreender a origem do nome, a moti- vação da idéia, que foi, sem a menor dúvida, a precarização do emprego (um quase-neologismo) produzida pelos novos tipos de alianças da má- quina com o capital e da máquina com o trabalho na era da automação tecnológica. Firmadas essas primeiras noções conceituais, podemos tentar defi- nir sistematicamente a empregabilidade, usando três planos lógicos: 1) analítico: A empregabilidade é a aptidão adquirida pelo trabalhador, valendo-se de um aprendizado contínuo e diversificado, para desenvolver novas ha- bilidades que o tornem profissionalmente necessário a múltiplas empre- sas de distintas atividades econômicas; 31
  • 3. 2) sintético: Empregabilidade é a capacidade de geração permanente de traba- lho e renda; 3) doutrinário: “Empregabilidade é a condição de ser empregável, isto é, de dar e conseguir emprego para os seus conhecimentos, habilidades e atitudes intencionalmente desenvolvidos por meio de educação e treinamento sin- tonizados com as necessidades do mercado de trabalho.” (Minardelli, J.A.) “Empregabilidade, o caminho das pedras”, São Paulo, Gente, 1995). 3 REQUISITOS DA EMPREGABILIDADE TECNOLÓGICA Por sua origem, motivação e caracteres umbilicalmente presos à tecnologia contemporânea, emprestamos a esta aptidão para obter em- prego a denominação de empregabilidade tecnológica. Observem-se, então, os requisitos para incorporá-la ao patrimônio profissional do tra- balhador: · Qualificação competitiva, assim entendido o domínio de uma varie- dade de aptidões que o tornem competitivo diante de seus concorrentes aos postos de trabalho tecnológico; · Imaginação criativa, que o habilite a variar os modos de execução do trabalho e a se acomodar aos obstáculos que surgem naturalmente para perturbar a objetividade e perfeição dos resultados; · Adaptabilidade a mudanças, que poderíamos colocar, linearmente, como a negação da rotina, inimiga figadal da moderna concepção de trabalho; · Sensibilidade para agir, assim entendido o senso de oportunidade para solucionar qualquer problema que entrava o desenvolvimento satisfatório da atividade laboral; · Equilíbrio na auto avaliação de desempenho, ou seja, espírito críti- co ponderado do valor do próprio trabalho, de modo a não se imaginar o nec plus ultra entre os seus executores nem se deixar dominar por um complexo de inferioridade imaginária; · Esforço permanente de atualização do conhecimento, indispensá- vel para quem pretender sobrevida no que hoje se chama exatamente de setor do conhecimento da economia, fundado nas vertiginosas e diárias alterações tecnológicas que, além de exigirem permanente reciclagem do trabalhador, soem exigir incansável revisão analítica dos métodos de execução do trabalho; · Sociabilidade e sintonia com o universo circundante, sabido que a filosofia toyotista de trabalho, contrariamente à da especialização indivi- 32
  • 4. dual em tarefas da produção em série concebida pela filosofia anterior do fordismo, é de trabalho em equipe, cujo pressuposto tem que ser a faci- lidade de comunicação entre os trabalhadores e o cosmopolitismo do homem. 4 PERFIL DO EMPREGADO TECNOLÓGICO Assim como podemos falar numa empregabilidade tecnológica pode- mos, logicamente, identificar o que seja um empregado tecnológico, vale dizer, aquele que absorve em sua formação profissional os requisitos fundamentais de tal tipo de aptidão para a conquista do emprego. Seu “retrato falado” é possível com os seguintes traços básicos: · segurança profissional baseada na contínua reciclagem do conheci- mento; · eficiência do trabalho, sustentada por uma visão aberta da atividade econômica e de seu contraponto profissional; · competitividade, mantida com a autoconfiança no exercício do tra- balho; · familiaridade com o instrumental tecnológico moderno na maioria possível de suas versões. 5 EVOLUÇÃO DO PERFIL SOCIAL DA MULHER Tudo que vimos até aqui pode servir de premissas da análise central do estudo proposto, que é a empregabilidade da mulher, especificamen- te considerada no mercado de trabalho do nosso tempo. A essas pre- missas somamos uma última, logicamente indispensável, constituída pela evolução do perfil social feminino, linha de partida necessária para traçar o perfil específico da empregada tecnológica. Mantendo o cunho esquemático que escolhemos para o conjunto da exposição e atendo-nos, por outro lado, aos quatro séculos de influência da Revolução Industrial, agora Tecnológica, sobre as relações de traba- lho, identificamos facilmente, em cada um deles, quatro pontos cardeais que, juntos, mostram uma trajetória de absoluta continuidade histórica da mulher na sociedade pretensiosamente auto proclamada de civiliza- da, a saber: No século XVIII: 1. Subalternidade ao homem; 2. Absorção pelo trabalho doméstico ou de intuito familiar; 3. Ausência de escolaridade; 4. Avaliação social como uma meia-força de trabalho industrial. 33
  • 5. No século XIX: 1. Primeiras resistências à subalternidade (movimento feminista e sufragista); 2. Fixação na maternidade e na atividade familiar participativa; 3. Escolaridade direcionada às artes, humanismo e prendas do lar; 4. Inserção tímida no mercado de trabalho industrial de segunda li- nha. No século XX: 1. Início da emancipação política, jurídica e profissional em face do homem; 2. Compartilhamento do trabalho profissional com os encargos do lar; 3. Escolaridade direcionada para a formação de profissional de nível superior; 4. Inserção ascendente no mercado de trabalho de primeira linha. No século XXI: 1. Completa emancipação, sobretudo econômica, social e jurídica, em face do homem; 2. Predomínio do trabalho profissional sobre os encargos do lar; 3. Formação profissional superior competitiva com a do homem; 4. Inserção definitiva no mercado de trabalho de primeira linha. Os pontos cardeais do estágio mais recente, que corresponde ao século em curso e certamente terão complementos ainda não inteira- mente discernidos, encontram fácil constatação nos dados estatísticos reproduzidos abaixo: Participação global no mercado de trabalho, por sexo:² · 1960 > Feminina:................................................................30,9% · 2000 > Masculina:............................................................... 41% Depreciação salarial em relação ao homem: · Cargos de qualificação ordinária:.......................................... 30% · Cargos de alta qualificação:................................................. 22,8% · Responsabilidade pelo sustento familiar................................25% · Taxa de fecundidade: Pós-guerra de 1945 :..............................................................6,3% Início do século XXI :...............................................................2,3% 34
  • 6. 6 CAUSAS DO SALTO DO TRABALHO FEMININO NO SÉCULO XXI O século XXI oferece um panorama de impressionante avanço da mulher no mercado de trabalho e, ainda mais, na preparação para con- correr dentro dele. Esse fenômeno, entretanto, vem do século anterior, cujos dois conflitos mundiais impuseram uma mudança quase cirúrgica à face e ao organismo da sociedade. De fato, o decidido ingresso da mulher no mercado de trabalho industrial, tanto quanto sua assunção unilateral da direção da família, se deveram, maciçamente, à absorção da energia masculina para os combates fora das fronteiras nacionais (estatísticas apontam a mobilização, somente pelos Estados Unidos da América, de onze milhões de soldados para as frentes exteriores no conflito de 1939/45). Por outro lado, o crescimento do peso econômico do sustento familiar estimulou no homem aceitar a participação da mu- lher na composição do respectivo orçamento. É evidente a contribuição decisiva dessas circunstâncias históricas para aprofundar a consciência da igual capacidade dos gêneros para o trabalho. Do ponto de vista particular da mulher, essas mesmas circustâncias foram fundamentais para fortalecer a percepção de que a conquista de espaços dentro do mercado de mão-de-obra, a depender somente de sua capacidade de conservação e ampliação da liberdade conquistada ao sexo oposto teria que acontecer, e aconteceu como, um passo irreprimível. Veja-se, então o conjunto das causas, em resumo: · Consolidação da igualdade entre os gêneros. · Pressão das dificuldades econômicas sobre a família. · Substituição da mão-de-obra masculina nas duas grandes guerras mundiais (1914/18 e 1939/45). · Mudança radical de costumes no pós-guerra de 1945. · Vigorosa expansão do setor terciário (serviços), propício à atividade feminina. · Habilitação profissional para ingresso no setor quaternário (do co- nhecimento) da atividade econômica. · Quebra dos tabus sobre a inferioridade orgânica e intelectual para o trabalho. A esses fatores outros aderem trazendo à luz a afinidade da mulher com o emprego tecnológico. Alguns são decorrentes de sua própria con- formação orgânica, outros, de sua conformação psíquica e da sedimen- tação de caracteres que lhe foram impostos pela sociedade, milenarmente, aproveitados depois da Revolução Industrial. Observando o mesmo critério esquemático assim os sintetizamos: 35
  • 7. · Dedicação prioritária ao preparo profissional. · Habilidade nas ações de trabalho. · Capacidade de orientação de outros executores. · Receptividade ao trabalho em equipe. · Sensibilidade perceptiva e absorvente de mudanças. · Capacidade de concentração nas tarefas a realizar. · Menor agressividade na competição. · Senso de responsabilidade mais refinado. · Melhor resposta ao quesito custo/benefício da mão-de-obra. Como é possível inferir destas e das anotações dos itens anteriores, há toda uma série de razões para se entender a posição vantajosa que a mulher é capaz de assumir na disputa pelo mercado de trabalho, sobre- tudo nas áreas de liderança e de funções tecnicamente mais sofistica- das e exigentes de maior concentração e dedicação, como, e.g., as de pesquisa e ensino, entre outras. Cremos ser possível afirmar que, inclusive no Brasil, a presença da mulher já se tornou majoritária na área da preparação profissional, como qualquer levantamento estatístico nas universidades patenteará. Entre- tanto, apesar de tudo isso, também estatisticamente ela ainda experi- menta desvantagem na ocupação de cargos executivos de ponta e, par- ticularmente, na valorização do trabalho para efeito remuneratório. Trata-se de dados evidentemente desconcertantes, mas seguramen- te explicáveis pela resistência do preconceito e conseqüente discrimina- ção, que mostram a força de uma formação machista milenar da socie- dade humana e, do ponto de vista brasileiro, extremamente peculiar ao temperamento latino. Dentro do método expositivo adotado, principie- mos por estabelecer, sinteticamente, conceitos da figura da discrimina- ção, certamente úteis para localização de suas fontes relacionadas com a mulher no mercado de trabalho. 7 DISCRIMINAÇÃO: CONCEITO E FONTES O conceito comum de fonte pode ser aberto em duas vertentes de alcance precisamente oposto, qualificando-a para lhe dar o respectivo caráter, que pode ser: 1. Virtuoso: Ato de discernir ou de classificar, individualizando. A virtude, neste conceito, resulta do propósito da discriminação: individualizar para ana- lisar e valorizar os dotes de cada um. 36
  • 8. 2. Vicioso: Tratamento preferencial dispensado a uns em detrimento de outros. O vício, neste conceito, resulta de discriminar para perseguir e prejudi- car o discriminado. Ao lado do conceito comum ou simplesmente léxico do substantivo, ele pode ser elaborado com vistas ao interesse do Direito sob os mais variados aspectos das relações humanas. Aqui o enunciamos de acordo com duas outras vertentes, no aspecto das relações de gênero ou, em dicção mais vulgar, entre os sexos que pode ser: 1. Legítima: É a que estabelece diferença de tratamento fundada em situação de fato que a justifique, v.g., vedação à mulher de acesso a trabalho moral- mente ofensivo à sua dignidade. 2. Ilegítima: É a que estabelece diferença de tratamento não-justificável, v.g., a vedação à mulher de acesso ao trabalho esportivo. É facilmente perceptível, pelos conceitos formados, a pluralidade de fontes que alimentam a discriminação da mulher, predominantemente fundadas em resíduos de preconceito social, como, por exemplo, a con- denação da prática esportiva de lutas marciais. Abaixo uma relação ape- nas exemplificativa e muito distante de esgotar a possibilidade de mui- tas outras variações: · Resíduo estrutural da formação machista da sociedade. · Impulso humano natural de dominação. · Controle majoritário dos fatores econômicos pelo homem. · Deformação cultural atávica. · Influência religiosa. · Absorção maternal e familiar da mulher. 8 CONCLUSÕES Este foi um modesto esboço destinado a estimular a curiosidade dos que desejam descerrar o véu de uma das mais importantes metamorfo- ses estruturais da sociedade, a do papel da mulher nas relações huma- nas, de gênero e de trabalho, arduamente ampliado ao preço de secula- res sofrimentos e incompreensões, de alguns dos quais soube ela mes- ma tirar proveito para alçar-se à condição imensamente mais digna em que se encontra atualmente. 37
  • 9. As conclusões que sugere, ainda com o propósito de compactação provocativa do aprofundamento, pretendem dar as pistas a serem segui- das pelos interessados em desenvolvê-lo: 1. Por milênios de civilização humana, a mulher ocupou, em face do homem, uma posição de subalternidade muito próxima de um estado de servidão doméstica. 2. Essa posição deu lugar a outra, em que a mulher passou a ser uma espécie de adorno familiar, mas afastada do processo político e econômico da sociedade, sendo preparada exclusivamente para os en- cargos da maternidade e do lar, sob severa liderança marital. 3. Nos seus primórdios, a sociedade industrial usou a mulher como meia-força de trabalho, no sentido depreciativo de desvalorização da energia e entrega dos postos mais sacrificados, mal-remunerados e her- meticamente presos à falta de perspectivas de ascensão profissional e social. 4. A expansão da sociedade industrial, os movimentos de emancipa- ção política e profissional, somados à diferença de rumos da escolarida- de, iniciaram o processo de inserção feminina no mercado de trabalho. 5. As grandes transformações econômicas da sociedade industrial retiraram progressivamente ao homem o papel de provedor único da sub- sistência familiar, abrindo um correspondente espaço para a participa- ção feminina no mercado de mão-de-obra, ainda que inicialmente com- plementar. 6. As duas guerras mundiais do século XX, mormente a terminada em 1945, proporcionaram um enorme desvio da mão-de-obra masculina para as frentes de batalha, agravada pela necessidade de um gigantesco so- bre esforço de produção industrial para fazer frente às perdas de material e equipamento, forçando substituí-lo pela mulher e abrindo a oportunida- de prática de verificar a inexistência de diferença de valor do trabalho entre os gêneros, salvo aquele derivado da falta de qualificação profissi- onal decorrente da segregação anterior da mulher. 7. O aprofundamento das dificuldades econômicas dos povos para manter um status quo superado de economia familiar e a adaptabilidade da mulher às atividades dos setores terciário (de serviços) e quaternário (do conhecimento) consolidaram o processo de empregabilidade femini- na na atualidade. 8. A discriminação é, hoje, possivelmente, a última barreira a cair, permitindo a equalização de avaliação e oportunidades entre os gêneros, quiçá possibilitando um avanço de qualidade que proporcione à mulher superar o homem em competitividade em certos setores com os quais mantêm muita afinidade, por força de dotes naturais e maior aplicação 38
  • 10. no preparo profissional. Notas ¹Palestra proferida no 2º Congresso Internacional Sobre a Mulher, Gênero e Relações de Trabalho, realizado em Goiânia, GO, de 20 a 22 de agosto de 2007. ²Dados da pesquisa “Evolução da Mulher no Mercado de Trabalho”, de Eliana Renata Probst, para o Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG), sob orientação do Mestre Paulo Ramos, professor de Metodologia Científica e Pesquisa. 39