1. In Heaven
Os seres humanos são surpreendentes de um certo ponto de vista, primeiro
eles são formados a partir da união de dois corpos e do chamado prazer – é claro
que nem todas as vezes é assim, as vezes apenas um dos envolvidos sente prazer
ou nos casos como a criação artificial – depois crescem na maioria das vezes
cercado de boas expectativas, planos para o futuro e, por que não, algumas brigas
sobre nomes, esportes e preferências de cor. Ele nasce causando dor mas quem o a
sente geralmente não se importa mais com tanto sacrifício e sorri ao ouvir o
primeiro choro. Com o tempo ele vai crescendo, deixando pessoas a sua volta
bancando as idiotas ao presenciar cada pequena evolução, o primeiro dente, a
primeira risada, o engatinhar e os tão ansiados primeiros passos e palavras.
É, os humanos são surpreendentes.
Paro algumas horas do meu dia para somente observá-los, ver como é a vida
através dos seus olhos e expressões, todos os dias é a mesma coisa... alguns nascem,
outros morrem, alguns poucos se apaixonam pra vida toda, muito por um curto
período de tempo e assim segue a vida. Em todo o grande período da minha vida,
desde o momento em que tomei consciência da minha existência, que abri as asas
pela primeira vez, o momento do voo, desde aquele momento eu já sabia para o
que havia sido criada. Sim, sou um anjo.
Mais especificamente um anjo cuja voz faz parte do grande coral, gosto da
minha função e apesar de ser de natureza um pouco indócil para os padrões
humanos me ajusto bem em minha posição; se você está pensando que gosto
porque fui criado para isso eu pergunto: você acha que Lúcifer foi criado para ser
mal, para aterrorizar os humanos e fazê-los descer até o mais baixo nível? Não, ele
e os outros tiveram uma escolha, nós também temos nosso livre-arbítrio, mas te
pergunto novamente uma coisa.
Você pessoalmente escolheria um poder que não pode controlar, uma glória
para o qual não nasceu e não sobreviveria a ela por apenas o prazer de se achar
maior que Alguém que é maior? É, eu também não.
Agora, como eu poderia me descrever? Vou tentar pelos padrões humanos
para melhorar a compreensão, digo tentar porque eu realmente não me importo
com isso então vamos lá. Tenho uma boa estatura, os cabelos compridos e negros
quase sempre presos por pequenos pingos de ouro e pedras azuis, olhos castanho-
2. claro, cílios espessos, uma boca generosa e belas feições. Assim sou eu ou melhor,
assim é como frequentemente me vêem; deixa que eu explico okay?
Alguns humanos em raros momentos de pureza me vêem passeando em
seus sonhos, não só a mim mas também a outros anjos e por vezes temos a sorte de
que essa pessoa seja um artista, então somos descritos da forma como nos vêem
por pinturas, músicas, estórias de ninar e por ai vai. Então é assim que as pessoas
me vêem, poético não é? Pois é.
Mas a história de verdade começa aqui.
Em mais um dia eu me dedicava a observar a rotina de algumas pessoas,
nesse momento acontecia coisas com essas pessoas a quem eu observava, umas
estavam felizes, outras choravam de desesperança, outras eram agredidas e outras
pessoas estavam no estado que alguns chamam de fall in love e viam o mundo de
um modo cor de rosa com nuances de branco. Era divertido observá-los, nós anjos
temos emoções, sabemos também reconhecer sentimentos, pra nós é fácil saber o
exato momento em que um coração se parte e também quando ele volta não só ao
normal mas também com a capacidade de amar mais.
Foi então que decidi fazer mais um dos vôos a terra para observar aquelas
criaturas mais de perto, observei o sonho das crianças, alguns adolescentes e
muitos adultos; em um deles parei mais que um momento para observar. A pessoa
que sonhava enquanto dormia profundamente não tinha consciência que naquele
momento lágrimas copiosas se derramavam sobre seu travesseiro enquanto
imagens de cinco pessoas passavam por seu inconsciente; cinco vozes unidas, as
risadas, a dor logo depois e então eu me vi no meio daquele sonho. Fiquei curiosa
para saber onde ele havia me visto e vasculhei sua mente em busca da ocasião,
sorri ao recordar.
Era uma noite de natal onde ele ainda criança fora dormir logo após deixar
os biscoitos e o copo de leite para o Papai Noel – pessoalmente eu achava bonita
essa história de alguém que se dedicava a presentear pessoas do mundo baseado
apenas em suas boas atitudes – primeiro o pequeno estava ansioso para receber
seus presentes, mas depois ficou preocupado se talvez algumas crianças pobres
não recebessem nenhum presente como sabia que acontecia algumas vezes. Fiquei
tão tocada com aquele pensamento que me sentei em sua cama e entrei em seus
sonhos, ainda sorria largo ao lembrar daqueles momentos.
“Alguns anos humanos atrás...
-Olá pequeno... – o cumprimentei em meio a seu sonho onde ele passeava
entregando presentes as crianças mais pobres junto com o Papai Noel. Ao me ver
primeiro o garoto ficou boquiaberto se recuperando em seguida e sorrindo pra mim,
3. vindo em um súbito gesto me abraçar, receber um abraço tão puro como aquele era
quase a mesma coisa que receber um ínfimo sorriso Dele.
-Um anjo... – ele escondeu o rosto entre meus cabelos e respirou fundo, em seus
pensamentos o cheiro que emanou foi de algodão-doce com leves toques de natureza
pura, gostei daquilo também. – você é tão bonita...
-Obrigada pequeno, agora vejo que seu sonho é muito lindo, posso participar?
– pedi e como resposta ele se afastou um pouco e pegando uma caixa pequena
colocou-a na palma da mão esquerda e com a direita segurou em minha mão. Fomos
atrás de Papai Noel enquanto ele distribuía os presentes e mesmo não querendo
perguntar eu queria saber para quem era aquele pequeno presente que ele levava na
mão.
As crianças do sonho tinham seus rostos iluminados tanto ao ver Papai Noel
quanto ao ver um anjo com as brancas asas abertas e andando de mãos dadas com
uma criança envolta em alto grau de pureza. Enfim, aquela noite foi uma das mais
bonitas que presenciei e como presente eu deixei aquele sonho gravado na mente de
todos que participaram daquele sonho, até se o Bom Velhinho realmente existisse o
sonho estaria na mente e no coração dele.”
Como naquela outra vez me sentei em uma ponta da cama e mergulhei em
seu sonho, ele não era um dos mais bonitos ao contrário, nele pingava dor e raiva
em todos os cantos e fiquei a observá-lo atravessar um grande túnel, através dos
olhos dele o fim do túnel se tornava mais distante a cada passo e as forças estavam
acabando. Vi o momento em que ele caiu de joelhos sobre o chão, a dor registrada
em seu rosto com aquele gesto e soube que precisava fazer algo.
Me postei as suas costas e respirando fundo estiquei minhas asas ao
máximo, comecei a movimentá-las formando um vento suave mas ao mesmo
tempo forte, que o impulsionou para frente, assustado ele olhou para trás e tive o
prazer de ver sua expressão passar de aterrorizada para um poderoso
reconhecimento. Se levantando rapidamente para me abraçar seu rosto se mostrou
confuso ao ver uma das minhas mãos estendida em sua direção formulando o sinal
de “pare”.
-Por quê? – ele me perguntou com uma expressão sofrida e abrindo um
sorriso respondi.
-Se vier até mim estará retrocedendo e não é isso que queremos não é? – ele
acenou negativamente, os olhos não se desviando dos meus. – então estarei te
esperando após a luz tudo bem?
-Certeza? – ele perguntou mas seu coração gritava “você me promete?”,
sorri mais e assenti, como prova alcei voo e parei alguns metros a sua frente com
as mãos estendidas.
4. Um sorriso lhe dominou o rosto e ainda lutando contra tudo ele veio em
minha direção, sorri ao senti-lo segurar em minha mão e o resto do caminho fomos
andando de mãos dadas, o deixei aos pés da Luz e entrei nela, não olhei pra trás
porque sabia que ele me seguiria.
Agora eu o via abrir os olhos e se sentar na cama, os lençóis foram chutados
para os pés da cama e as costas repousaram sobre a cabeceira da cama, de repente
soluços invadiram o quarto e lágrimas tão puras quanto antes – quanto no tempo
da infância - foram derramadas; ainda fiquei um tempo o observando e depois
abrindo as asas voltei as alturas.
Estava quase chegando ao meu lugar no coral quando ouvi uma voz
melodiosa digna das primeiras fileiras do grande coral, comecei a voar sobre o
primeiro céu procurando o detentor daquele som e entrei por uma janela aberta
em direção ao nascer do sol, o ambiente era composto por uma pequena cama,
mesinha de cabeceira, guarda-roupa e uma grande cama de cachorro.
A voz que cantava pertencia a uma garota que cantarolava uma música.
“You’re my melody... norurl yonju rarke (on & on) norlnna nore neesa
soundtrack.
Irlsin deh mudeh pakyun junnu norurl saranghae norlnna nore”
Fiquei observando e mesmo sem usar minha quase ilimitada inteligência
rapidamente me dei conta de que a garota que cantava aquela música com voz tão
suave era cega, me sentei ao seu lado e passei de leve as mãos sobre os cabelos que
estavam espalhados sobre o travesseiro enquanto o magro corpo se concentrava
envolto em si próprio no meio do pequeno colchão. Pequenas lágrimas escapavam
de seus olhos e abrindo uma das minhas asas a repousei sobre ela, que respirou
fundo, abriu um pequeno sorriso e voltou a cantar.
Fiquei cantando baixinho junto com ela até o sol nascer e quando a grande
bola ascendeu sobre o nascente eu voava em direção ao grande coral para saudar a
Ele como fazíamos todos os dias, após presenciar tanta pureza minha voz estava
contagiada em todas as notas e me sentia mais e mais feliz a medida que O exaltava.
Recebi um sorriso e foi como se meu mundo explodisse, sorri de volta e continuei a
cantar.
Dimensões abaixo...
-Bom dia JunSu. – JaeJong me cumprimentou enquanto me via entrar na
cozinha e ir direto até a geladeira pegar uma garrafa de água.
-Bom dia Jae... – respondi andando pela cozinha e me sentando na cadeira
que estava virada para a mesa em frente as grandes janelas. – bom dia Chunnie.
5. -Bom dia JunSu... – Yoochun me cumprimentou distraindo-se passando
geléia em uma torrada, ainda distraído ele olhou pra mim e sua boca se abriu de
repente. – o que aconteceu com você?
-Comigo? – perguntei sem entender enquanto Chunnie cutucava Jae, que lia
o jornal muito concentrado. – o que tem de errado?
-O que foi Yoochun? – Jae ergueu os olhos do jornal e olhou pra mim após
Yoochun ainda daquele modo esquisito apontar pra mim. – o que tem de errado?
-Você não está vendo? Essa mesma luz eu... – fechando os olhos ele balançou
a cabeça e respirou fundo – desculpem, acho que pirei por um momento.
-Espera... – Jae segurou em seu braço no exato momento em que Chunnie ia
deixando a mesa. – você está falando dessa luz ali?
E apontou mais uma vez pra mim. Agora eu não estava entendendo mais
nada, os dois pareciam dois bobocas olhando e apontando para o meu rosto.
-O que foi gente? – perguntei já aflito e passei a mão pelo rosto tentando ver
o que era. – pelo amor de Deus, o que tem aqui?
-Eu já vi esse tipo de luz antes e foi a muito tempo... – Jae comentou se
aproximando de mim enquanto Chunnie fazia o mesmo.
-Eu também. – parecendo hipnotizado também Chunnie comentou.
-Tá pessoal, se isso é um tipo de brincadeira já perdeu a graça e não estou
gostando nada disso... – falei mais aflito a cada momento.
-Aquele anjo... – os dois falaram juntos e travei olhando para os dois.
-Anjo?
-Sim. – primeiro Jae respondeu olhando fixamente para o meu rosto e
depois Chunnie. – aquele anjo.
-Não me digam... – comecei e os dois olharam pra mim com expectativa no
olhar – que vocês também já viram o anjo?
-Foi a muito tempo, acho que nem era para eu lembrar. – Jae falou se
encolhendo e voltando a se sentar. – mas foi inesquecível de uma forma que ainda
me sinto criança com essas lembranças.
-Aquela foi uma noite inesquecível pra mim... – Chunnie comentou
encostando a cabeça no tampo da mesa.
-Alguém quer me contar como foi essa noite? – pedi e a cada palavra
completada contada por um e completada pelo outro foi me deixando mais
6. boquiaberto. – então vocês eram duas das crianças daquele sonho... meu Deus, que
coisa louca!
-Nunca contei isso pra ninguém... talvez me achassem louco ou algo do tipo
e naquela época era tudo que precisava pra minha vida acabar de vez. – Chunnie
comentou sorrindo de leve.
-Eu não vivia em uma situação muito boa também. – Jae admitiu sorrindo
menos – o que guardo daquela fase da vida foi aquele sonho, o meu melhor natal.
Passamos a manhã inteira falando sobre aquele estranho e mágico evento
de nossa infância e no final ninguém soube chegar a uma resposta de o porquê
termos participado dos mesmos sonhos. Quase na hora do almoço recebemos um
telefonema do manager da C-Jes pedindo uma reunião urgente e mais que
depressa saímos pra empresa. Chegando lá descobrimos que os advogados da SM
haviam tentando mais uma vez um acordo, visto que era certa a nossa vitória
naquele longo processo, recusamos o pedido e na hora de irmos embora a
recepcionista nos viu e pediu com um discreto aceno que nos aproximássemos.
-Pediram para que eu entregasse esse bilhete para um de vocês, que bom
que os encontrei. – estendendo um envelope pequeno e branco a moça sorriu e
voltou a digitar alguma coisa em seu computador.
Fomos andando em direção ao carro no estacionamento e Jae segurava o
envelope na mão, como era caso de urgência todos viemos no meu carro e
enquanto assumia a direção Chunnie e Jae se sentavam nos outros espaços do
carro.
-O que é isso? – perguntei lançando um breve olhar na direção do envelope
ainda fechado. – vai esperar chegar em casa pra abrir?
-Desculpem, mas minha curiosidade não agüenta tanto. – Chunnie reclamou
sentado no banco de trás e Jae assentiu enquanto revirava o envelope na mão.
-Então vamos ver o que tem... – ao falar ele quebrou o selo que tinha no
envelope e retirou de lá um pequeno bilhete. Jae leu em silêncio e somente quando
Yoochun ameaçou puxar o papel de suas mãos que ele reagiu. – aqui diz; “hyungs,
tudo bem? Por favor, reservem um lugar para nós dois na próxima apresentação de
vocês? Vamos aparecer.”
-Quem mandou? – perguntei e quem me respondeu foi Yoochun.
-Yunho e ChangMin.
Dimensões acima...
7. É irrelevante dizer quantos dias se passaram após aquela noite, mas hoje
alho muito importante ia acontecer. Hoje eu conduziria alguém até as grandes
alturas e nada me pararia porque eu seguia ordens.
Em um voo rápido e certeiro fui atravessando cada dimensão em direção a
terra, atravessava coisas sem nenhuma dificuldade e pousei com graciosidade no
meio de um grande espaço onde uma grande equipe trabalhava em conjunto para
realizar os últimos acertos para o grande projeto. Passeei entre todos eles, olhando
de um lado para o outro e com o passar das horas o trabalho ficou pronto e após
um sinal os portões principais foram abertos e o local começou a encher de
pessoas com alta capacidade de gritos, plaquinhas com nome em neon eram
visíveis em todos os lugares e câmeras de TV passeavam por todos os lugares.
Mais algumas horas e tudo escureceu, vozes foram ouvidas e os gritos
começaram, pelo que os cartazes divulgavam aquela era uma das grandes
apresentações de JYJ. Dominando o palco os três cantavam mais e mais músicas e
assim se passaram as horas que para muitos e muitas não pareceram ter durado
nem cinco minutos, assim que a última canção do setlist foi cantada o local se
encheu com o som de gritos, choro e pedidos de bis. Foi então que o espaço
explodiu em gritos que com certeza a cidade toda pôde ouvir, mais duas pessoas
apareceram para cantar e o palco quase veio a baixo quando esses dois foram
identificados.
E após a primeira música mais e mais foram cantadas e era possível ver
lágrimas em todos os rostos, inclusive nos daqueles que estavam no palco; eu
podia dizer que estava bem no local que ocupava; um pouco acima da cabeça das
pessoas eu estava sob um tipo de elevação e com os joelhos dobrados como se
estivesse sentada eu observava tudo, parei para olhar fixamente quando naquele
enorme mar de rostos identifiquei a dona da voz de madrugadas atrás. Sua
felicidade era tanta que mesmo não podendo sentir as mesmas emoções que ela
acabei tendo uma vaga noção, os cinco cantavam muito bem, tinham quase a
harmonia dos anjos.
Foi então que começaram a andar na direção do palco principal, os cinco
vindo de cada ponta dos palcos secundários e rindo um para o outro, houve mais
gritos quando os cinco se encontraram e deram as mãos iniciando uma nova
música. Identifiquei as palavras daquela música, começando a acompanhar com
apenas um mover de lábios. Sorri quando as últimas palavras ficaram ecoando no
local e um pequeno toque vindo de cima me lembrou de meu trabalho; abrindo as
asas me coloquei no caminho para a saída do palco principal e fiquei parada lá com
as asas recolhidas.
Ele vinha ainda de mãos dadas com os outros quatro e o sorriso enorme em
seu rosto era imitado sinceramente pelos outros e então... veio o baque.
8. Coloque a música para tocar “Insa”
De repente ele caiu de joelhos e no susto todos o acompanharam, tentou
respirar, pensar, qualquer coisa... mas a cabeça já estava perdendo o poder sobre o
corpo. os batimentos ficaram fracos, a respiração curta e ao seu redor mãos
preocupadas o sacudiam, pediam espaço, gritavam e não controlavam mais suas
próprias lágrimas.
O tempo parou para muitos naquele momento, foi como os humanos viam
em filmes, a ausência de som além do baque de mãos sobre um peito na tentativa
de reanimar, respiração artificial e o som longínquo de sirenes; depois tudo voltou
em um turbilhão e os sons subiam como se alguém perverso houvesse ligado tudo
no máximo volume.
Houve uma instabilidade e no meio de toda aquela confusão ele se levantou
ainda desorientado, olhou ao redor e não pareceu entender o motivo de tanta
confusão.
Ainda longe dele abri as asas e as movimentei provocando uma brisa que
acabou chamando a atenção dos cinco, todos olharam pra mim e pareceram
congelar; olhei cada um com atenção e já conhecendo Ele não fiquei surpresa ao
reconhecer os cinco daquele sonho de anos humanos atrás. Os cinco olhavam pra
mim que com o bater das asas já começava a levantar alguns centímetros do chão,
forcei meus pés a irem para a frente e recolhendo as asas toquei o chão novamente
estendendo a mão em seguida.
-Vamos? – estendi a mão para ele, que me olhava sem um pingo de medo.
-Por que ele tem que ir agora? – um deles me perguntei e desviei os olhos do
meu alvo para olhar para outro, quem havia falado tinha o rosto sofrido e grossas
lágrimas caiam de seus olhos, em sua expressão e olhos eu via a sincera pergunta e
reconheci a liderança – por que não podemos ficar juntos mais um tempo? Só mais
um pouco?
-Não foi minha escolha. – respondi apenas isso e estendi novamente a mão.
– o tempo dele acabou aqui, procurem entender.
-Entender? – perguntaram os quatro chorando – como podemos entender
que ele está indo embora? Agora que ia ficar tudo bem? Logo agora?
-Você... – olhei para ele que falava comigo ainda parecendo um pouco
perdido – tem certeza que eu preciso ir? Certeza?
-Tenho certeza – estendi novamente a mão e olhando longamente pra mim
por algum tempo ele suspirou e se levantou, dando alguns passos ele finalmente
me alcançou colocando a mão macia sobre a minha.
9. Os quatro ainda nos olhavam com lágrimas cada vez mais copiosas se
derramando, eu nunca havia visto dor tão grande e igual em quatro olhares
diferentes, ainda segurando a mão dele dei um passo atrás e mais outro, ele me
acompanhou. Então foi como se uma parede de vidro se colocasse entre nós e eles,
os sons terrenos sumiram e apenas os sons celestes eram ouvidos agora, senti um
aperto em minha mão e olhei para ele que me fitava agora com um tímido sorriso
pairando nos lábios.
-Então é assim que é estar no céu? Esse doce som?
-Sim – respondi e olhei para os quatro que nos olhavam ainda chorando mas
talvez por um momento até eles tenham ouvido o som dos céus – sempre esse
lindo som.
-É bom aqui, é tão cheio de paz... – agora o sorriso estava maior e seu toque
era mais firme sobre minha mão. Então ele olhou para os quatro atrás do vidro –
eles vão ficar bem?
-Vão, tenha a certeza disso. – respondi e o sofrimento nublou a face dele por
um momento que deu um passo a frente e colocou a mão no vidro, lágrimas saiam
de seus olhos.
-Eu amo vocês – ele disse com a voz quase inaudível e mesmo assim tenho
certeza que eles ouviram. Virando-se pra mim ele me olhou em dúvida – vamos
agora?
-Ainda precisamos fazer uma última coisa, vem comigo. – segurando-lhe a
mão com firmeza o levei até onde a garota estava perto, era possível ver um corpo
frágil recebendo atendimento médico apesar do tumulto lá na frente.
-Ela vem com a gente? – ele perguntou em dúvida e sorri antes de negar
com a cabeça e o impulsionar até o vidro. Me olhando sem entender ele apenas
ficou me olhando. – escreve algo pra ela.
-Mas...
-Você simplesmente vai saber o que tem que escrever. – esclareci pra ele
que respirou e uma nova luz brilhou em seus olhos. Soltando minha mão ele se
dirigiu até o vidro e com a ponta dos dedos começou a escrever algo, escrevia com
rapidez e não podendo conter um sorriso fui até ele e toquei em seu ombro. – com
mais calma, ela precisa captar a mensagem.
-Desculpe – foi o que ele disse continuando a escrever, agora mais devagar.
O espírito da garota observava tudo, cada palavra que ia surgindo através do vidro;
sim ela poderia ser cega no plano físico mas no plano espiritual todos éramos
perfeitos e não havia barreiras de entendimento. Uma canção ia surgindo dali,
palavras de amor e força iam surgindo.
10. Em questão de minutos ele terminou e mesmo sem eu pedir ele me segurou
a mão ficando de pé, andamos até o local de inicio e paramos, falando mais uma vez
“eu amo vocês” ele ficou ao meu lado.
-Diga adeus... – falei pra ele que sorriu um sorriso triste e depois olhou pra
cima ao ouvir o coral cantando, mesmo desconhecendo a forma de sentir dos
humanos eu rapidamente identifiquei a felicidade sem limites passando por sua
face.
-Amo vocês. – ele falou – estarei esperando mas não se apressem, esperem
para ouvir esse som de forma natural e não tentem adiantar, os anos podem passar
mas sempre amarei vocês, sempre.
-Sentiremos saudades... – falou o primeiro.
-Amamos você. – falou o segundo.
-Seremos felizes e permaneceremos juntos por você. – falou o terceiro.
-Um dia nos encontraremos JunSu. – o líder completou e mais uma lágrima
desceu.
Segurei na mão de JunSu e o som celestial se tornou mais forte, mais
presente e então abri minhas asas, a gravidade perdeu seu poder sobre nós e
começamos a subir, o rufar de minha asas agitou o local e quem me viu soube
explicar depois mesmo preferindo não fazê-lo, aquela experiência fora única.
Fomos subindo, passando estágios, atravessando coisas, ultrapassando
dimensões para finalmente estarmos in heaven.
N/A: Com toda a certeza da minha vida essa one foi a coisa mais difícil de
escrever em todo esse pouco tempo que escrevo, nem minha primeira fanfic que
foi escrita num dos tempos em que fui mais feliz teve tanto efeito sobre mim.
Agradeço por vocês não poderem me ver agora porque meu rosto está inchado,
parei diversas vezes pra chorar, aterrorizei a Becka e acabei com minha caixa de
lenços com cheiro de menta. Enfim consegui, não sei ainda qual foi/será a reação
de vocês ao terminar de ler, mas só digo que definitivamente “In Heaven” foi a
coisa mais difícil que escrevi, era uma emoção tão pura, desconhecida que até
agora não sei/consigo explicar; e pensar que metade da ideia veio de um sonho
que tive no domingo...
Meu muito obrigada a quem leu, seja essa semana, esse mês, esse ano ou
nos próximos, apenas meu muito obrigada por ter lido, não sei se pra você vai
significar tanto quanto foi pra mim, mas apenas obrigada.