1. ÁS VEZES ME PERGUNTO Vamos celebrar como idiotas; a cada fevereiro e feriado,
(DadoVilla-Lobos/Renato todos os mortos nas estradas; os mortos por falta de
Russo/Renato Rocha) hospitais. Vamos celebrar nossa justiça, a ganância e a
Às vezes me pergunto difamação. Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos
O que está acontecendo analfabetos; comemorar a água podre, e todos os
O velho virou novo impostos; queimadas, mentiras e seqüestros; nosso castelo
E a gente nem ta vendo. de cartas marcadas; o trabalho escravo, nosso pequeno
universo; todo hipocrisia e toda afetação; todo roubo e
Quem olha até parece toda a indiferença. Vamos celebrar epidemias: é a festa
Que há algo se movendo da torcida campeã.
Nesses ares de mudança
O que é que muda Vamos celebrar a fome; não ter a quem ouvir; não se ter a
Eu não entendo. quem amar. Vamos alimentar o que é maldade; vamos
machucar um coração; vamos celebrar nossa bandeira;
Não tem saída nosso passado de absurdos gloriosos; tudo que é gratuito e
Não tem mistério feio; tudo que é normal. Vamos cantar juntos o hino
Que importa nacional (a lágrima é verdadeira). Vamos celebrar nossa
Quem compõe o mistério. saudade e comemorar a nossa solidão.
Aparece toda hora Vamos festejar a inveja, a intolerância e a incompreensão.
Quem melhore nossa vida Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente, que
Troca o curativo trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem
Mas mexe na ferida. mais direito a nada. Vamos celebrar a aberração de toda a
nossa falta de bom senso; nosso descaso por educação.
Pois é tudo igual Vamos celebrar o horror de tudo isso – com festa, velório
O que muda é o endereço e caixão. Está tudo morto e enterrado, já que também
Se o bar troca de dono podemos celebrar a estupidez de quem cantou esta
Se estipula um novo preço. canção.
Não tem saída Nem mistério Venha, meu coração está com pressa.Quando a esperança
Desse jeito está dispersa, só a verdade me liberta. Chega de maldade
Todo mundo quer ser e ilusão. Venha, o amor tem sempre a porta aberta. E vem
O dono do império. chegando a primavera. Nosso futuro recomeça. Venha,
que o que vem é perfeição.
Parece que com o tempo Renato Russo (Legião Urbana)
Está-se andando pra frente
Mas se olhar pra trás
Não há nada diferente.
SOS, Brasil
Qualquer que seja o rei
Que ocupe o trono Há muito tempo que eu queria te dizer, ouça Vontade de
A história se repete te ver também
E viva o novo dono. Não vale se esconder
Verdades sempre vêm
Não tem saída E as coisas que passei
Nem mistério Já ficaram para trás
Desse jeito Eu tenho que viver.
Eu vou parar no cemitério.
(Música da banda “Os Eles”) A minha ansiedade cada vez aumenta mais
Eu to vendo na cidade, ódio, amor, guerra e paz
DIAS MELHORES Alguém da sua idade no caminho encontrei
Jota Quest (Rogério Flausino) Falando dos atalhos descobertos pelos reis
Vivemos esperando O rei da sua história e até o rei sol
Dias melhores Todos eles dizem que existe uma lei
Dias de paz, dias a mais Mas eles não sabem de uma coisa que eu sei
Dias que não deixaremos pra trás Mas eles não sabem de uma coisa que eu sei.
Vivemos esperando
O dia em que seremos melhores Cachorro magro e criança na rua, corra
Melhores no amor, melhores na dor Pra tentar salvar alguém
Melhores em tudo Mulher bonita e feitiço da lua
Vivemos esperando Seu relax me faz bem
O dia em que seremos para sempre A gente avança e também recua
Vivendo esperando No balanço desse trem
Dias melhores pra sempre. Desempregado a luta continua
PERFEIÇÃO Resistindo esse vai-e-vem.
Vamos celebrar a estupidez humana; a estupidez de todas as nações. Rua é a escola
O meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e Rua pra jogar bola
ladrões. Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e Nua pedindo esmola
televisão. Vamos celebrar nosso governo e nosso estado que não é Agora eu vou contar
nação. Celebrar a juventude Eros e Thanatos, persephone e Hades. O que ninguém nunca ouviu
Vamos celebrar nossa tristeza, vamos celebrar nossa vaidade. O futuro é agora, SOS Brasil.
(Cidade Negra)
2. BALANÇA BRASIL
PACATO CIDADÃO Ah, meu Brasil, a cidade foi pro mar
(Samuel Rosa/ Chico Amaral) Rio de Janeiro Redentor
Pacato cidadão, te chamei a tenção Braços abertos para que chegar.
Não foi a tóa não Eu vi o céu no azul dos olhos da menina
C’est fini la utopia mas a guerra todo dia Peguei a estrada pra Vitória
Dia a dia não Fui rever minha capixaba.
Tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo a luz do Sol Ah, meu Brasil, salvador é logo ali
Apoiado em poesia e em tecnologia Bahia boa tem canoa, mulher boa
Agora à luz do sol E a gente à toa
Pra que tanta leve, tanto tempo pra perder Meu samba reggae arrasou lá no Sergipe
Qualquer coisa que se queira saber querer Em Alagoas, Pajuçara praia linda
Tudo bem, dissipação de vez em quando é bão Oh, meu Nordeste.
Misturar o brasileiro com o alemão
Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios Ah, meu Brasil naquela noite em Pernambuco
Qualquer coisa que se suje tem que limpar Olinda linda Recife
Se você não gosta dele, diga logo a verdade Fazer amor na areia de boa Viagem, no céu
Sem perder a cabeça, sem perder a amizade E a tietagem em Itamaracá
Concertar o rádio e o casamento
Corre a felicidade no asfalto cinzento Ah, meu Brasil, forrobodó na Paraíba
Abolir a escravidão do caboclo brasileiro Meu Rio Grande Natal
Numa mão educação, na outra dinheiro Fole arretado, quadrilha pra todo lado
Pacato cidadão São João cai animado no forró de lá.
da civilização
Balança Brasil
ESMOLA Adoro te ver contente
Uma esmola pelo amor de Deus Balança Brasil
Uma esmola, meu, por caridade O sonho de tanta gente
Uma esmola pro ceguinho, pro menino Balança Brasil
Em toda a esquina tem gente só pedindo Sacode esse meu país
Pra gente ser feliz.
Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente Ah, meu Brasil, São Luis do Maranhão
Uma esmola pro que resta do Brasil Cai no reggae de vez
Pro mendigo, pro indigente Lá o Brasil foi pra Jamaica
No Piauí quase casei em Teresina
Ele que pede, eu que dou, ele só pede Tem a Jorgete, a Lizinete, a Bernadete, a Carolina.
O ano é mil novecentos e noventa e tal
Eu to cansado de dar esmola Ah, meu Brasil, chegando em Belém do Pará
Qualquer lugar que eu passe é isso agora Arrebentei no carimbo, no cirinbó
E no merengue.
Eu to cansado, meu bom de dar esmola No Amazonas, em Goiás, no Mato Grosso
Essa quota miserável de avareza Fui bóia-fria, fui caboclo, vi a fauna
Se o pais não for pra cada um Que colosso.
Pode estar certo não vai ser pra nenhum
Ah, meu Brasil, são Paulo não é só garoa
Não vai não, não vai não, não vai não Meu Rio Grande do Sul
No hospital, no restaurante. Tem a bombacha, o fandango, tem a raça
No sinal, no Morumbi O chimarrão, boa cachaça, Oh meu Paraná.
No Mário Filho, no Mineirão
Menino me vê, começa logo a pedir Ah, meu Brasil, de lá de Santa Catarina
Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí! Voei pra Minas Gerais
(Samuel Rosa, Chico Amaral/SKANK) Mina calada, por demais desconfiada
Mui amada, minha doce namorada.
QUE PAÍS É ESTE
(Renato Russo) Ah, meu Brasil, vou pra avenida com vocês
Nas favelas , no Senado Do carnaval eu sou freguês
Sujeira pra todo lado Acho que eu vou morar no Rio de vez.
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação Balança Brasil....
Que país é este Michael Sillivan/ Carlinhos conceição
No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense, Mato Grosso,
nas Geraes e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é este
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios em um leilão
Que país é este
3. QUASE SEM QUERER ÍNDIOS
Letra e música: Renato Russo e Daddo Villa-Lobos (Renato Russo)
Interpretação: Legião Urbana Que me dera, ao menos uma vez,
Tenho andado distraído Ter de volta todo o ouro que entreguei
Impaciente e indeciso A quem conseguiu me convencer
E ainda estou confuso Que era prova de amizade
Só que agora é diferente Se alguém levasse embora até o eu não tinha.
Estou tranqüilo e tão contente. Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Quantas chances desperdicei Que se cortava sempre um pano-de-chão
Quando o que eu mais queria De linho nobre e pura seda.
Era provar pra todo o mundo Quem me dera, ao menos uma vez,
Que eu não precisava Explicar o que ninguém consegue entender:
Provar nada pra ninguém Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Me fiz em mil pedaços Quem me dera, ao menos uma vez,
Pra você juntar Provar que quem tem mais do que precisa ter
E queria sempre achar Quase sempre se convence que não tem o bastante
Explicação pro que eu sentia E fala demais por não ter nada a dizer.
Como um anjo caído Quem me dera, ao menos uma vez
Fiz questão de esquecer Que o mais simples fosse visto como o mais importante,
Que mentir pra si mesmo Mas nos deram espelhos
É sempre a pior mentira. E vimos um mundo doente
Que me dera, ao menos uma vez,
Mas não sou mais Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
Tão criança a ponto de saber tudo E esse mesmo deus foi morto por vocês
Já não me preocupo É só maldade então, deixar um Deus tão triste
Se eu não sei porquê Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Às vezes o que vejo Entenda – assim pude trazer você de volta para mim,
Quase ninguém vê Quando descobri que é sempre só você
E eu sei que você sabe Que me entende do início ao fim
Quase sem querer E é só você que tem a cura para o meu vício
Que eu vejo o mesmo que você. De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo o que ainda não vi.
Tão concreto e tão bonito Quem me dera, ao menos uma vez
O infinito é realmente Acreditar por um instante em tudo que existe
Um dos deuses mais lindos E acreditar que o mundo é perfeito
Sei que às vezes uso E que todas as pessoas são felizes.
Palavras repetidas Quem me dera, ao menos uma vez,
Mas quais são as palavras Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Que nunca são ditas? Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Me disseram que você Quem me dera, ao menos uma vez,
Estava chorando Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
E foi então que percebi Não ser atacado por se inocente.
Como lhe quero tanto Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Já não me preocupo Entenda assim pude trazer você de volta para mim
Se eu não sei porquê Quando descobri que é sempre só você
Às vezes o que eu vejo Que me entende do início ao fim
Quase ninguém vê E é só você que tem a cura para o meu vício
E eu sei que você sabe De insistir nessa saudade que eu sinto
Quase sem querer De tudo que eu ainda não vi.
Que eu quero o mesmo que você. Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui
HERDEIRO DA PAMPA POBRE
(Vaine Darde e Gaúcho da Fronteira)
Que pampa é essa que recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se desta pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matrizes
Passam nas mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas
Se for preciso eu volto a ser caudilho
Por esta pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei do meu pai
Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecido vive o peão sem lei
De pés descalços cabrestiando mágoas
E o que hoje herdo da minha lei xirua
É um desafio que a minha idade afronta
Pois me deixaram com a guaiaca nua
Para pagar uma porção de contas.