Este documento discute os fatores psicológicos e culturais que bloqueiam o despertar da consciência ecológica da humanidade. Ele analisa cinco fontes de ilusão cognitiva - incluindo inércia, efeito de ancoragem e disponibilidade - que dificultam a percepção dos problemas ambientais. O texto também sugere formas de superar esses bloqueios, como mudanças de hábitos, ação coletiva e o poder dos bons exemplos.
O caminho da consciencia ecologica. Superando os bloqueios
1. O caminho da consciência ecológica.
Dos bloqueios à ação transformadora
Afonso Murad
ecologiaefe.blogspot.com
2. A questão fundamental
• A destruição da biosfera acontece com uma velocidade
cada vez maior.
• Porque a consciência ecológica não segue na mesma
velocidade? Quais fatores psicológicos e culturais
bloqueiam o despertar da humanidade?
• O tema foi abordado por Jorge Riechmann, “Un mundo
vulnerable”, cap 3.
• Como romper este círculo vicioso? Contribuição de
Riechmann e da Laudato Si.
3. Referências para Riechmann
• Sjöberg, L. “Comportamientos humanos y cambios en el
medio ambiente: perspectivas psicológicas. Revista
Internacional de Ciencias sociales 121 (set 1989).
• Aronson, E. El animal social. Introducción a la psicología
social. 5 ed. Madrid: Alianza editorial, 1990.
• Piatelli, M. Los túneles de la mente. Barcelona: Crítica, 1995.
Ponto de partida: Capella, J.R. Los ciudadanos siervos.
Madrid: Trotta, 1993
4. O núcleo
• A “roda da engrenagem” das sociedades industriais
desconhece a responsabilidade moral.
• Há uma desproporção crescente entre o ser humano e a
tecnosfera, instância autônoma e de grande poder.
• Várias “fontes de ilusão” contribuem para um estado de
indiferença
5. • Difícil perceber a relação entre a ação individual e suas
consequências e resultados..
• Estamos dentro de um labirinto, sem fio condutor que guie
para a saída.
• Apesar disso, temos uns fios para a saída.
7. 1. Anonimato e destrutividade
• Pessoas perdidas no anonimato tendem a atuar de forma
mais agressiva, pois o senso de responsabilidade está
diluído e elas são menos conscientes de si mesmas.
• Há uma relação “entre a mundialização de um capitalismo
ecocida e destruidor dos vínculos sociais e a extensão de
comportamentos anônimos e violentos em todo o
mundo”
• Pessoas bem integradas em redes relacionais tendem a
estabelecer relações cooperativas e de reciprocidade com
seus semelhantes. Isso favorece comportamentos
ecologicamente benignos.
8. 2. Distância entre valores declarados e
comportamento
• As pessoas dizem que querem defender o meio ambiente.
Mas suas ações não correspondem a este desejo. Não há
relação mecânica entre o discurso e a conduta real.
• A consciência ecológica não se transforma de maneira
imediata em ação favorável ao meio ambiente
-> Começar a mudar as condutas das pessoas. E para isso,
premiar as ações positivas e punir as negativas (como acontece
com multas referentes a transgressões sociais e ambientais).
9. 3. Custos pessoais x benefícios sociais
• As infraestruturas estão organizadas de maneira
antiecológica. Comportar-se ecologicamente é quase
heróico.
Como vou ao trabalho de ônibus, se não há transporte para
lá? Para que separar o lixo, se os coletores não existem?
• As “infraestruturas” e os sistemas de incentivos nos
conduzem a atuar mal. Um comportamento favorável ao
meio ambiente acarreta muitos custos pessoais. E os
benefícios não são individuais, e sim coletivos.
10. 4. Limitações dos processos cognitivos
• Na hora de deliberar e atuar, fontes de preconceitos e
distorções estão nos processos reflexivos. Para reduzir os
túneis da mente, temos que tomar consciência deles.
• Para melhorar a qualidade de nossas deliberações e
decisões, e reconstruir contextos para a formação da
consciência moral, deve-se reduzir controladamente e de
forma democrática, “a complexidade excessiva das
modernas sociedades industriais”. Reduzir a complexidade
complexamente, fugindo dos simplismos.
12. Inércia cognitiva
Efeito de ancoragem
Efeito de representatividade
Mecanismo de segregação
Efeito de disponibilidade
Distorções da percepção de probabilidade
Capilismo
13. a. Preguiça ou inércia cognitiva
Tendência a aceitar os marcos dentro das quais
os problemas são apresentados, a esperar
“mais do mesmo” e a ignorar a possibilidade
de mudanças radicais num curto prazo.
14. b. Efeito de ancoragem
• Baseamos nossos juízos em uma opinião pré-concebida.
Ela tem efeito considerável sobre os juízos subsequentes.
• A revisão de um primeiro juízo intuitivo não é anulado
completamente.
• O efeito de ancoragem leva a omitir a informação
conflitiva e ameaçadora.
• Vemos o novo através do prisma do velho, em vez de
enfocá-lo com carácter adicional.
15. c. Efeito de representatividade
• Atribuir importância aos detalhes de um caso, passando
por alto os fatores de caráter geral.
• A maioria é influenciada mais por um exemplo vivo, claro e
pessoal, do que por um material estatístico.
• Tendência a considerar representativo a um caso isolado e
único, e converter um fato particular em categoria.
16. d. Mecanismo de segregação
Isolamos o problema de seu contexto global e
fazemos que ocupe o centro exclusivo de
nossa atenção.
17. e. Efeito de disponibilidade
Tendência a sobrevalorizar tudo o que é
novo e espetacular, devido à ênfase
dispensada pela mídia.
Aceitam-se as circunstâncias triviais,
pois elas estão mais disponíveis.
18. f. Distorções da percepção de
probabilidade
• Tendência de perceber a representação estatística de
males pelo seu lado bom. (Se dissermos que um acidente
nuclear é provável na proporção de 1/50, pensamos que viveremos
ao menos 49 anos sem este risco)
• Abaixo de certos limites, as possibilidades nos parecem
equivalentes. Assim, 8% ou 1% nos soa com o mesmo.
19. g. “Capilismo”
Quando estamos em um grupo coeso com
ideias fortes e claras, é difícil enxergar
algo do outro ponto de vista.
20. 6. Dissonância cognitiva
• Estado de tensão desagradável quando se mantém
simultaneamente duas cognições ou certezas
psicologicamente incompatíveis.
• Busca-se reduzir a tensão, fazendo-as compatíveis... Até
distorce o mundo objetivo para reduzir a dissonância.
• Em vez de acolher uma mensagem inquietante, tende-se a
subestimar e desacreditar de quem a transmite.
• Ou se minimiza a gravidade do dano: “não está tão mal
assim”
22. O que se pode fazer? Simultaneidade
• Transformação interior: abandonar a passividade,
superando o fatalismo tecnológico”. Reagir, abandonar a
atitude resignada.
• Transformação pessoal: mudar o modo de vida.
Transformar a “soberania do consumidor” numa força
política real. Mudanças de hábito de consumo
• Transformação de nossas relações sociais: “optar pela ação
coletiva: organizar-nos para defender valores de justiça,
solidariedade, emancipação e respeito pela natureza;
exigir mais democracia e lutar para conseguí-la. Recolocar
assim “uma lógica da ação coletiva solidária”
23. • Avançar para uma sociedade mais simples e
descentralizada.
• Para isso: inteligência tecnológica + sabedoria
moral.
• Tal processo será com uma descida suave do
planador, uma retirada ordenada, cuidando dos
nossos feridos.
24. • Quando se deseja uma conduta que supõe sacrifício
ou abster-se de um prazer: o incentivo em favor
desta atitude, criada pela legislação ou por política de
preços tem mais probabilidade de dar resultado.
• Proposta: priorizar a modificação de condutas, e
depois as de atitudes (valores).
25. Como envolver as pessoas?
Elas se sentem implicadas emocionalmente nos acontecimentos
mais próximos no tempo e no espaço. O que ajuda:
• Certo consenso social: a situação é realmente crítica e de
emergência;
• Sentimento de responsabilidade pessoal;
• Empatia para com as pessoas diretamente afetadas;
• Convicção de que a própria ação terá efeitos positivos e
tangíveis.
26. O poder dos bons exemplos
• Em situações de incerteza tendemos a fazer como os
demais. Daí o poder dos bons exemplos, tanto para
reforçar a possibilidade de dissentir frente à maioria como
para estimular atitudes e condutas desejáveis
• As atitudes e condutas testemunhais tem uma eficácia
enorme para a mudança social.
27. Desintoxicação
• O ser humano, na moderna sociedade consumista se
assemelha ao dependente de droga. Necessita de uma
cura de desintoxicação.
• Precisa de novas formas de inserção no real e de dar
sentido à sua vida.
• Sair do consumismo exige um processo lento e contínuo.
31. • Apelo à conversão ecológica.
• Atitudes individuais.
• Um novo estilo de vida, alegre e frugal, superando o
consumismo.
• Ações coletivas na sociedade civil.
• Postura das autoridades políticas e do poder econômico
• Uma espiritualidade ecológica.
32. Base para a apresentação e discussão:
Jorge RIECHMANN, Um mundo vulnerable. Ensayos sobre
ecologia, ética e tecnociência. Madrid: Catarata, 2005.
Papa Francisco. Encíclica Laudato Si. Sobre o cuidado da
casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015
Apresentação durante o Congresso Internacional da SOTER de 2017, no GT 12:
Religião, ecologia e cidadania planetária. Texto disponível nos anais da SOTER