O documento descreve o histórico da cirurgia bariátrica e apresenta os resultados de um estudo retrospectivo de 656 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico para obesidade mórbida em Joinville entre 1999-2010. A principal complicação foi fístula em 2,59% dos pacientes e a taxa de mortalidade foi de 1,21%. Os resultados foram semelhantes aos da literatura.
5. Cirurgia Bariátrica
Restritivas:
Balão intragástrico
Gastroplastia vertical com banda
(Cirurgia de Mason)
Banda Gástrica Ajustável
Gastrectomia Vertical
Disabsortivas:
Derivação jejuno-ileal
Mistas:
maior componente restritivo
Bypass gástrico
maior componente disabsortivo
Cirurgia de Scopinaro
Cirurgia de Duodenal Switch
9. Bypass gástrico
Padrão ouro
Eficaz
Reduz 75% do excesso de peso em 18 meses
Re-ganho de 10% no 4º-5º ano pós-operatório
Comorbidades (Buchwald e cols)
Glicemia de jejum e Hb1Ac (83%)
Dislipidemia (87%)
Hipertensão (67,6%)
Apnéia do sono (94%)
10. Obesidade Mórbida:
complicações e óbitos
dos casos operados em
Joinville
Aluísio Stoll
Giovana Gugelmin
Valdir Martins Lampa Júnior
Cassius Frigulha
Rafael Armínio Selbach
11. Introdução
O bypass em Y de Roux é a cirurgia bariátrica mais
comum, sendo considerado como padrão ouro de
tratamento
A cirurgia bariátrica, apesar de complexa, apresenta baixa
morbimortalidade, estando justificada sua realização no
tratamento da obesidade mórbida.
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
12. Objetivo
Avaliar, retrospectivamente, as
complicações e óbitos dos pacientes
portadores de obesidade mórbida
submetidos a tratamento cirúrgico.
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
13. Material e métodos
Análise retrospectiva.
656 pacientes.
Novembro de 1999 a julho de 2010.
Aspectos analisados: sexo, idade, peso pré-
operatório, IMC pré-operatório, tipo do
procedimento, tempo de internação,
complicações pós operatórias e mortalidade.
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
14. Resultados
Epidemiologia
Feminino 530 80,7%
Masculino 126 19,3%
Média Variação Desvio Padrão
Idade (anos) 36,6 16 a 68 10,35
IMC (kg/m²) 42,8 35 a 68 5,48
Tempo internação
(dias)
4,5 1 a 125
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
17. Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
Resultados
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
PANCREATITE
OBSTRUÇÃO NO Y DE ROUX
TEP
FÍSTULA
1
2
3
17
Complicações
18. 0
1
2
3
4
5
6
7
8
Fístula anastomose
gastrojejunal
Fístula do estômago
excluso
Fístula da anastomose Y de
Roux
Suspeita de fístula Sangramento Obstrução do Y de Roux Pancreatite
8
2
1 1
2 2
1
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
Resultados
Reoperação
19. Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
Resultados
6
2
Óbitos
Fístula Tromboembolismo pulmonar
21. Discussão
A principal complicação maior dos pacientes é a
fístula.
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
0.00% 0.50% 1.00% 1.50% 2.00% 2.50% 3.00% 3.50%
Ferraz e col
Nossa casuística
Garrido
Fernandez e col
1.30%
2.59%
2.60%
3.20%
Fístula
•GARRIDO JUNIOR, Arthur B.. Cirurgia em obesos mórbidos: experiência pessoal. Arq Bras Endocrinol Metab, São Paulo, v. 44, n.
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•Fernandez AZ Jr, DeMaria EJ, Tichansky DS, Kellum JM, Wolfe LG, Meador J &Sugerman HJ. Experience with over 3000 open and
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197.[CrossRef][Web of Science][Medline]
•Ferraz, Edmundo Machado; Arruda, Pedro Carlos Loureiro de; Bacelar, Tércio Souto; Ferraz, Álvaro Antonio Bandeira; Albuquerque,
Antonio Cavalcanti de; Leão, Cristiano Souza. Tratamento cirúrgico da obesidade mórbida / Surgical treatment of morbid obesity. Rev. Col.
22. Embolia pulmonar é a principal causa de morte não esperada
no paciente operado por obesidade mórbida.
Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
•Ferraz, Edmundo Machado; Arruda, Pedro Carlos Loureiro de; Bacelar, Tércio Souto; Ferraz, Álvaro Antonio
Bandeira; Albuquerque, Antonio Cavalcanti de; Leão, Cristiano Souza. Tratamento cirúrgico da obesidade mórbida /
Surgical treatment of morbid obesity. Rev. Col. Bras. Cir;30(2):98-105, mar.-abr. 2003.
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•GARRIDO JUNIOR, Arthur B.. Cirurgia em obesos mórbidos: experiência pessoal. Arq Bras Endocrinol Metab, São
0.00% 0.10% 0.20% 0.30% 0.40% 0.50% 0.60% 0.70% 0.80% 0.90% 1.00%
Garrido
Ferraz e col
Nossa casuística
1.00%
0.90%
0.40%
23. Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
0.00% 1.00% 2.00% 3.00% 4.00% 5.00% 6.00% 7.00%
Flum e col
Ferraz e col
Nossa casuística
Nguyen e col
0.33%
1.30%
2.59%
6.60%
Reoperação
•Nguyen NT. Laparoscopic versus open gastric bypass: a randomized study of outcomes, quality of life, and
costs. Ann Surg 2001;234(3):279-89; discussion 289-91.
•Ferraz, Edmundo Machado; Arruda, Pedro Carlos Loureiro de; Bacelar, Tércio Souto; Ferraz, Álvaro Antonio Bandeira;
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•Flum DR, Salem L, Elrod JA, Dellinger EP, Cheadle A & Chan L. Early mortality among Medicare beneficiaries
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24. Obesidade Mórbida: complicações e óbitos dos casos operados em
Joinville
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American Medical Association 2005; 294: 1918–1924.[Abstract/Free Full Text]
• Nguyen NT, Silver M, Robinson M, Needleman B, Hartley G,
•Ferraz, Edmundo Machado; Arruda, Pedro Carlos Loureiro de; Bacelar, Tércio Souto; Ferraz, Álvaro Antonio
Bandeira; Albuquerque, Antonio Cavalcanti de; Leão, Cristiano Souza. Tratamento cirúrgico da obesidade mórbida /
Surgical treatment of morbid obesity. Rev. Col. Bras. Cir;30(2):98-105, mar.-abr. 2003.
0.00% 0.20% 0.40% 0.60% 0.80% 1.00% 1.20% 1.40% 1.60% 1.80%
Ferraz e col
Nossa casuística
Nguyen e col
Zingmond e col
1.75%
1.06%
0.40%
0,18%
Mortalidade
25. Conclusões
Fístula 2,59% dos pacientes - principal complicação.
Óbito 1,21% dos pacientes.
Os pacientes submetidos a cirurgia bariátrica na cidade de
Joinville tiveram um índice de complicações e óbitos
semelhantes a literatura.
Notes de l'éditeur
A cirurgia bariátrica foi inicialmente introduzida na década de 1950 e evoluiu significativamente desde aquele tempo
Alguns procedimentos que eram muito comuns inicialmente foram abandonados, o bypass jejunoileal devido inaceitáveis taxas de complicações,
As indicações de cirurgia bariátrica incluem IMC igual ou maior que 40 Kg/m² ou entre 35 e 40 kg/m² com comorbidades relacionadas à obesidade. Esse critério de seleção foi determinado pelo “National Institutes of Health (NIH) Consensus Development Panel on Gastrointestinal Surgery for Severe Obesity” em 199138.
Alguns pontos devem ser acrescentados a esta indicação: 1) a presença de risco cirúrgico aceitável, 2) esclarecimento do paciente quanto ao seguimento de longo prazo, e manutenção de terapias dietéticas e suplementação vitamínica durante toda a vida, 3) realização do procedimento por cirurgião habilitado,
e 4)possibilidade de avaliação e seguimento com equipe multidisciplinar das áreas clínicas (endocrinologia),nutricional e psiquiátrica
O Conselho Federal de Medicina ( CFM) pela resolução nº 1.942 de 12 de fevereiro de 2010, estabelece normas seguras para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações, procedimentos e equipe41
Nestas resoluções estão descritos os procedimentos da seguinte forma:
Restritivas: Balão considerado terapêutica auxiliar , Mason :com a recomendação que em virtude da limitação de sua eficácia, deve ser reservada para casos excepcionais.
B) Cirurgias Disabsortivas: derivação jejuno-ileal e suas variantes de atuação puramente no intestino delgado, estão proscritas em vista da alta incidência de complicações metabólicas e nutricionais a longo prazo.
C)Mistas
Os procedimentos mais comuns realizados atualmente são o bypass gástrico, a banda gástrica ajustável, a gastrectomia vertical e a derivação biliopancreática.
A cirurgia da banda gástrica foi introduzida na década de 80, sendo realizada com bandas de Marlex e Dacron, que eram colocadas por laparotomia e não eram ajustáveis. Surgiram então as bandas de silicone que eram ajustáveis, e passaram a ser colocadas por laparoscopia45. Nesta cirurgia não é seccionado nem grampeado o estômago, sendo assim o procedimento cirúrgico bariátrico com menor taxa de complicações (12%) e mortalidade de 0,05%21, mas também com menor taxa de sucesso. A resolução de comorbidades também é menor do que no bypass gástrico 8.
É uma técnica restritiva relativamente nova , cuja sinonímia é gastrectomia em manga ou sleeve gastrectomy. Aproximadamente 60 a 80% do estômago é removido, criando-se um estômago tubular junto à pequena curvatura gástrica com cerca de 100 a 150 ml de capacidade. Originalmente era a parte inicial de um procedimento realizado em duas etapas, seguido de um procedimento disabsortivo como o duodenal-switch. Entretanto muitos pacientes perdiam peso substancialmente, tornando desnecessário o segundo tempo. Nos últimos anos ganhou popularidade como cirurgia bariátrica única, já que apresenta uma boa perda de peso e resolução de comorbidades comparável aos outros procedimentos bariátricos46.
A cirurgia de derivação biliopancreática descrita por Scopinaro em 1979, ainda é uma das mais eficazes em relação à perda de peso47. É realizada uma gastrectomia subtotal, gerando um reservatório gástrico com cerca de 200 a 500 ml e a continuidade do trajeto intestinal é feita através de uma anastomose gastro-ileal em Y de Roux com cerca de 200 cm, tendo um canal comum (absortivo) de 50 cm
Duodenal Switch descrito por Hess e Marceau: O reservatório gástrico (gastrectomia vertical) fica um pouco menor, com cerca de 100 a 150 ml, e é feita uma anastomose duodeno-ileal gerando uma alça alimentar de 150 cm e um canal comum de 100 cm.
A perda do excesso de peso destes dois tipos de cirurgia é maior que nos outros procedimentos bariátricos, sendo o procedimento escolhido em muitos centros para o tratamento de pacientes com IMC acima de 50 kg/m². Também tem excelente resolução das comorbidades, mas lembrando sempre do maior cuidado com a suplementação de vitaminas e minerais, pelo maior risco de desnutrição.
Como este tipo de cirurgia exige mais do ponto de vista técnico do que a banda e o bypass, e geralmente são realizadas em pacientes superobesos, a taxa de mortalidade é maior que nas outras cirurgias mencionadas21.
Também chamado de Derivação gástrica com reconstrução em Y de Roux, apresenta várias modificações das técnicas descritas por Capella51 e Fobi.52 Trata-se da realização de uma pequena bolsa de estômago junto à pequena curvatura gástrica, podendo ou não ter um anel para calibrar a passagem do alimento. O jejuno é seccionado a cerca de 50 a 100 cm adiante do ângulo de Treitz, e sua parte distal é anastomosada com a pequena bolsa gástrica. A parte proximal do jejuno seccionado é anastomosada à alça da qual foi separada a uma distância de 100 a 150 cm da anastomose gastrojejunal, através de um Y de Roux com diferentes comprimentos de alça53.
O bypass em Y de Roux é uma cirurgia bastante eficaz, com perda de aproximadamente 75% do excesso de peso em 18 meses e cerca de 10% de reganho de peso pelo 4º ou 5º ano pós-operatório.
O bypass em Y de Roux é a cirurgia bariátrica mais comum, nos Estados Unidos,[3, 9] sendo considerado o procedimento mais efetivo para o controle da obesidade mórbida e recomendado como padrão ouro de tratamento. [5]
A cirurgia bariátrica, apesar de complexa, apresenta baixa morbimortalidade, estando justificada sua realização no tratamento da obesidade mórbida.
Em nossa casuística a idade variou entre 16 a 68 anos (média de 36,6 anos, desvio padrão de 10,35 anos). O sexo feminino foi predominante com 530 pacientes (80,7%) e 126 pacientes (19,3%) eram do sexo masculino. O índice de massa corporal médio (IMC) foi de 42,8 Kg/m2, variando entre 35 e 68 Kg/m2, desvio padrão de 5,48 Kg/m². (Tabela 1)
O tempo médio de internação foi de 4,5 dias (1 – 125 dias).
A operação mais realizada foi o bypass gástrico em Y de Roux, em 370 pacientes (56,40%), 3 por via laparotômica. A cirurgia de Capella (bypass gástrico em Y de Roux com anel) foi realizada em 236 casos (35,97%), 99 por via laparoscópica. A banda gástrica foi realizada em 19 pacientes (2,89%). A gastrectomia vertical via laparoscópica foi realizada em 16 pacientes (2,43%). A cirurgia de Scopinaro foi realizada em 10 pacientes (1,52 %), 6 por via laparoscópica. O duodenal switch via laparoscópica foi realizado em 5 pacientes (0,76%).
A principal complicação encontrada foi fístula, em 17 pacientes (2,59%). Três (0,4%) pacientes tiveram tromboembolismo pulmonar. Houve necessidade de reoperação em 17 pacientes (2,59%). Dos quais 10 por fístula (8 por fístula da anastomose gastrojejunal e 2 por fístula do estômago excluso), 1 por fístula da anastomose em Y de Roux , 2 por obstrução do Y de Roux, 2 por sangramento, 1 por suspeita de fístula com lavagem da cavidade, 1 por pancreatite
Oito pacientes foram a óbito (1,21%), sendo 2 por embolia pulmonar e os demais por fístula. (Gráfico 2) Dos pacientes que foram a óbito 3 foram submetidos a operação de Capella, 3 ao bypass, 1 a cirurgia de Scopinaro e 1 a gastrectomia vertical. (Gráfico 3)